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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3 2 AS PRIMEIRAS RELAÇÕES ............................................................................ 4 2 LACTAÇÃO ...................................................................................................... 6 3 A RELAÇÃO ENTRE MÃE-BEBÊ ................................................................... 19 3.1 Os cuidados imediatos prestados ao recém-nascido e a promoção do vínculo mãe-bebê .............................................................................................. 21 3.2 Dados da pesquisa................................................................................... 24 3.3 Resultados e Análise dos Relatos ............................................................ 26 4 MÃES DE RECÉM-NASCIDOS INTERNADOS NA UTI NEONATAL ............. 36 4.1 Breve histórico das práticas de cuidados neonatais................................. 37 4.2 O vínculo mãe-bebê numa UTI neonatal .................................................. 40 4.3 A interação mãe-bebê em situações de nascimento de risco .................. 44 5 O CUIDADO COM AS MÃES NO PÓS-PARTO ............................................. 51 6 AS NECESSIDADES BÁSICAS DO BEBÊ ..................................................... 55 7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................... 60 3 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 2 AS PRIMEIRAS RELAÇÕES O psicanalista inglês e teórico das relações objetais, Winnicott, em 1963, descreveu o desenvolvimento emocional primitivo em termos da jornada da dependência à independência, propondo três categorias: dependência absoluta, dependência relativa e autonomia relativa. Segundo ele, é na fase de dependência absoluta que a mãe desenvolve o que chamou de preocupação materna primária (Winnicott, 1956). Este estado especial da mãe faz com que ela seja capaz de compreender o bebê por meio de uma surpreendente capacidade de identificação, constituindo-se com ele em uma unidade. A mãe, então, auxilia-o a se integrar. Diz o autor que, se na fase de dependência absoluta, não há uma mãe capaz de se conectar com seu bebê, este fica num estado de não-integração, tornando-se apenas um corpo com partes soltas. De acordo com as ideias acerca do desenvolvimento propostas por Winnicott, é aqui que ocorrem as falhas primitivas no desenvolvimento, acarretando o surgimento de patologias mentais. O que garante o desenvolvimento emocional e o equilíbrio diante das privações e perdas é o ambiente favorável, aquele em que as privações e perdas não predominam, apesar de existirem, propiciando ao bebê a experiência da onipotência. Ao vivenciar a ilusão de onipotência possibilitada pelo ambiente suficientemente bom, o bebê cria e recria o objeto, em um processo gradual no seu psiquismo, que lhe serve de apoio na memória (Winnicott, 1963a/1983a). Bowlby (1969), por sua vez, descreveu a importância das primeiras relações para o desenvolvimento, formulando, desse modo, a teoria do apego, quando descreve as relações do bebê com sua mãe ou cuidador desde o nascimento até os seis anos de idade. Defende que o ser humano herda um potencial para desenvolver determinados tipos de sistemas comportamentais, como sugar, sorrir, chorar, seguir com os olhos. A conduta instintiva é o resultado do controle desses sistemas comportamentais integrados, que funcionam num determinado ambiente de adaptabilidade evolutiva, em especial, de sua interação com a principal figura deste ambiente, a mãe. Nesta perspectiva, o vínculo da criança com a mãe, 5 chamado por ele, de apego, tem uma função biológica que lhe é específica e é o produto da atividade destes sistemas comportamentais que têm a proximidade com a mãe como resultado previsível. Portanto, ao longo do desenvolvimento, a criança passa a revelar um comportamento de apego que é facilmente observado e que evidencia a formação de uma relação afetiva com as principais figuras deste ambiente. Nessa formulação, não há referência a necessidades fisiológicas e impulsos, sustenta-se ainda que o ato de nutrir desempenha um papel apenas secundário no desenvolvimento desses sistemas comportamentais. Desta forma, torna-se claro que, para Bowlby, a formação do apego não é uma consequência da satisfação das necessidades fisiológicas básicas como postula Freud. Esta descrição coincide com as formulações de Spitz acerca da síndrome de hospitalismo, ou seja, é necessária a existência de uma relação de afeto e de apego como fator primário para um adequado desenvolvimento (BOWLBY, 1969). A maioria dos teóricos das relações objetais, em seus estudos sobre interação mãe-bebê, examinou fatores referentes ao papel da mãe neste processo, enquanto menos atenção foi dada às contribuições da criança. Não há dúvida de que a mãe possui, sim, a tarefa de se ligar ao bebê e auxiliá-lo em seu desenvolvimento. Porém, sabemos, hoje, com o respaldo de pesquisadores contemporâneos, que ao bebê também cabe esta tarefa e que este possui recursos para enfrentar tal empreitada. Esta interação, portanto, segue um modelo bidirecional, em que não apenas o comportamento do bebê é moldado pelo comportamento da mãe, mas também o da mãe o é pelo comportamento do bebê (SCHERMANN, 2001b). BRUM & SCHERMANN (2004), nos lembram que diversos pesquisadores afirmam a impresisonante capacidade dos bebês recém-nascido de responderem ás interações: Autores e pesquisadores contemporâneos, como Brazelton (1988), Schermann (1994), Schaffer (1996), Wendland-Carro et al. (1999), Klaus & Kennell (2000), Claussen & Crittenden (2000) e Schermann (2001b), abordam o quanto os bebês recém-nascidos apresentam uma 6 impressionante capacidade de responder às interações já nos primeiros minutos. Iniciam a vida capazes de fazer discriminações importantes e de localizar objetos por meio de várias indicações perceptivas. São capazes de realizá-las pelo olhar, de identificar a voz do pai e da mãe. A criança com quatro semanas já se comporta diferentemente com sua mãe, seu pai e com estranhos. Expressões emocionais, rapidez de movimentos, responsividade, tensões e brincadeiras são estes e muitos outros atributos que diferenciam as pessoas e ajudam a produzir estilos distintos de interações (SCHAFFER, 1996). Portanto, a compreensão predominante é que a qualidade da interação inicial mãe-bebê é um importante fator mediador entre os eventos perinatais e o desenvolvimento sociocognitivo da criança (SCHERMANN, 2001a). 2 LACTAÇÃO Fonte: https://lifewell.pt https://lifewell.pt/ 7 De acordo com os estudos realizados por BOSI & MACHADO(2005), são muito antigos os problemas relacionados à alimentação infantil, acreditando-se que o aleitamento artificial sempre tenha existido. Isso se deve à grande quantidade de crianças abandonadas em instituições de caridade, já há séculos, durante tempos economicamente difíceis, como se verifica na Antiguidade, em Roma. Em várias ocasiões, foram encontrados recipientes ao lado de corpos de lactentes em escavações arqueológicas (séc. V e VII), sugerindo-se que os gregos recebiam alimentos de outras fontes além do leite materno, por meio de vasilhas de barro encontradas em tumbas de recém-nascidos daquela época. Não é nenhum absurdo deduzir, a partir desses achados, que os problemas relacionados à amamentação sejam tão antigos quanto o próprio ato de amamentar. Entre os povos gregos e romanos, havia o hábito de utilizar as amas-de- leite para amamentar os seus recém-nascidos, não sendo tão frequente a amamentação ao peito da própria mãe, porém, Hipócrates foi um dos primeiros a reconhecer e escrever sobre os benefícios da amamentação, evidenciando a maior mortalidade entre aqueles bebês que não amamentavam no peito. Posteriormente, Sorano se interessou pelos aspectos cor, odor, sabor e densidade do leite humano, e Galeno foi o primeiro a considerar que a alimentação deveria ser feita sob a supervisão de um médico (VINAGRE; DINIZ, 2001). Segundo algumas pesquisas, alguns povos primitivos esvaziavam as mamas (desprezando o leite) durante muitos dias antes de colocar o bebê ao peito, com tempos limitados e rituais variando de tribos para tribos. Outros líquidos eram providenciados na forma de chás de ervas: alguns um pouco fortes, outros com um baixo valor nutricional (LAWRENCE, 1994, BADINTER, 1985; SILVA, 1997; NAKANO, 1987). O Código de Hammurabi (cerca de 1800 a. C), da antiga Babilônia, continha regulamentações sobre a prática do desmame, isto é, amamentar qualquer criança de outras mulheres, sempre na forma de aluguel (amas-de-leite). Nos tempos espartanos, a mulher, quando esposa do rei, tinha como exigência que amamentasse o filho mais velho; enquanto as plebeias amamentavam todas as crianças (MACHADO, 1999). 8 O grande médico grego, Hipócrates, considerado o “pai da medicina”, reconhecendo a importância da amamentação, declarando que: “somente o leite da própria mãe é benéfico, o de outras é perigoso”. Publicações europeias do final do período medieval e início da era moderna exaltavam a importância do aleitamento materno para a infância. (BOSI e MACHADO, 2005) Em 1472, pediatras descreviam as características de uma boa ama-de-leite e aconselhavam a amamentação em casos de soluços, diarreia ou vômitos. Em 1584, o pediatra Thomas Muffett escreveu sobre a utilização do leite materno como remédio e terapia para homens e mulheres em “idade avançada ou com doenças graves” (LAWRENCE, 1994:7). Há informações de que no período entre 1500 a 1700, as mulheres inglesas saudáveis não amamentavam seus filhos. Embora o aleitamento materno fosse reconhecido como um regulador de nova gravidez, essas mulheres preferiam dar à luz de 12 a 20 bebês, do que amamentá-los. Elas tinham a noção de que a amamentação era responsável pela espoliação de seu corpo e as tornavam velhas antes do tempo. Com isso, o desmame era iniciado precocemente, sendo utilizados cereais ou massas oferecidos em colher (LAWRENCE, 1985; PALMER, 1988). SENA (1997) recorda que as normas médicas e religiosas iam de encontro a esse propósito, pois proibia-se a relação sexual durante o período de amamentação, que deveria ser de 18 a 24 meses, por entenderem que isso tornaria o leite humano mais fraco e com risco de envenenamento em caso de nova gravidez. O conhecimento médico vigente na época também considerava que o colostro era um leite ruim e que não deveria ser oferecido à criança. As crianças eram alimentadas à base de leite de animais e de um alimento chamado “panado”, feito à base de pão (farinha) e água. Na época, havia um disposto na Constituição francesa de 1873, que visava a proteger crianças nascidas de famílias ditas indigentes: amas-de-leite não poderiam amamentar mais do que 2 crianças além da própria e, cada criança deveria ter um berço, a fim de que não corresse o risco de ser levado à cama pela mãe e morresse sufocado durante o sono. (PALMER, 1988; LAWRENCE, 1994; SENA,1997). 9 De acordo com diários de chefes de família da grande burguesia parlamentar, as mães do século XVI amamentavam seus filhos e somente no final deste século ao início do séc. XVII, a moda de enviar os filhos para casa de uma ama conquistou as famílias de uma maneira irreversível. BOSI & MACHADO (2005) nos informa que foi no século XVIII, que o envio das crianças para casa de amas se estendeu por todas as camadas da sociedade urbana. Ocorreu nesse período um aumento crescente de mortes infantis, associadas às doenças adquiridas pelas amas-de-leite. Suas enfermidades contaminavam os bebês e muitas dessas amas, com receio de que estivessem “repassando afeto” aos bebês, passaram a oferecer o leite de vaca em pequenos chifres furados (precursores das mamadeiras) porque, segundo um preconceito firmemente arraigado na mentalidade popular, acreditava-se que sugando o leite, suga-se também o caráter e as paixões de quem amamenta. Esse procedimento passaria a ter enormes riscos à saúde das crianças, pois além da oferta num recipiente não estéril, as mulheres desconheciam a quantidade exata de água que deve ser misturada ao leite, além da contaminação dessa água (BADINTER, 1985:124). No Brasil, existem relatos dos séculos XVI e XVII, pouco precisos e muito contraditórios, ao tratar dos antigos tupinambás. Contudo, esses documentos são muito valiosos quando reatam a história da influência europeia sobre as sociedades indígenas, radicadas no litoral do Brasil. Havia uma observação da cultura indígena no Brasil colonial, mas os viajantes adotavam uma visão típica da tradição cristã, estando pouco preocupados com os habitantes do Novo Mundo; viam os tupinambás pelo viés europeu. “A cultura indígena foi descrita a partir do paradigma teológico e do princípio de que os brancos eram eleitos de Deus, e por isso superiores aos povos do novo continente” (RAMINELLI, 1979:11). Os filhos das indígenas eram amamentados durante um ano e meio e, neste período, eram transportados em pedaços de pano conhecidos por typoia ou typyia. Mesmo se as mulheres tivessem que trabalhar nas roças, não largavam dos filhos: carregavam as crianças nas costas ou encaixavam-nas nos quadris. As indígenas nutriam e defendiam seus filhos 10 de todos os perigos. Se soubessem que o bebê tinha mamado em outra mulher, não sossegavam enquanto a criança não colocasse para fora todo o leite estranho (RAMINELLI, 1997). Com a chegada dos portugueses, muitas doenças foram aparecendo nas tribos, contaminando os índios que não possuíam qualquer imunidade. Esse fato acabou produzindo uma multidão de órfãos desamparados, o que findou por levar os jesuítas a criar instituições destinadas a abrigar legiões de indiozinhos sem pai (BOSI & MACHADO, 2005). PRIORI (1997) acrescenta que, no século XVII, o abandono de crianças passou a ser percebido entre a população de origem portuguesa. Ao longo do século XVIII, a população dos principais centros portuários aumentou significativamente, dobrando ou quadruplicando as modestas cifras do início do século. Durante esse período, verificava-se que o abandono de crianças raramente acontecia no meio rural e, quando as mães recebiam os filhos enjeitados, eram consideradas como mães de aluguel. Essas mulheres eram contratadas pela Câmara ou Santa Casa (entidades que abrigavam filhos de enjeitados da época), deveriam ser livres ou escravas e durante um contrato, assinavam o termo de compromisso junto ao senhor responsável pelas Instituições de assistência(PRIORI, 1997; RAMINELLI, 1997). Quando a razão da acolhida correspondia a um interesse meramente financeiro, a estada na residência das amas quase sempre colocava em risco a vida dos bebês, pois, aos recém-nascidos era oferecida alimentação. Quando havia caso de extrema necessidade, a legislação portuguesa previa a utilização de métodos específicos. “Aconselhava o uso de bom mel, ao qual se ajuntará um tanto de água. Os caldos quentes, leite de vaca ou mesmo água morna com açúcar também podiam ser administrados aos pequerruchos. Para tanto, havia um rol de instrumentos recomendados, quase todos com péssimos resultados para a saúde do abandonado. Normalmente se recorria a panos de linho poído que de hora em hora podiam ser metidos na boca, ou então colheres de pau, de marfim ou de prata; outros preferiam bonecas feitas de algodão, ou de esponjas, forradas de pano de linho macio, as quais devem ser molhadas no leite repetidas vezes, e chegar à boca das crianças” (VENÂNCIO, 1997:196). 11 Os profissionais responsáveis pela assistência também recomendavam a utilização de práticas modernas para alimentar as crianças, como o emprego de mamadeiras de vidro e pequenos bules que tinham um bico de borracha adaptado à ponta de saída. VENÂNCIO (1997) afirma que muitos médicos da época, no entanto, atribuíam as doenças comuns à infância aos contatos dos instrumentos citados com os miasmas atmosféricos e diziam: “para isto, basta lembrarmos que na criação por meio das colheres, perde o leite, mormente no inverno, aquela temperatura que lhe é própria, que o ar pode alterar e decompor” (FRANCO, 1859:20 apud VENÂNCIO, 1997: 196). Relatavam também os riscos provocados pelo uso de bonecas: “…esse método, se bem que tenha a vantagem da secreção da saliva, cai nos outros defeitos da lactação por meio das colheres; acrescentando, que se pode embaraçar a livre entrada do ar para os pulmões, e causar a sufocação” (VENÂNCIO, 1997: 196 apud FRANCO, 1859:20). Em 1790 o médico Dr. Francisco Mello Franco aconselhava que fossem evitadas sopas feitas de carne, do seu arroz, e em geral de toda comida animal, porque subministram humores tendentes ou à inflamação ou à podridão, são demasiadamente nutrientes (VENÂNCIO, 1997) Era rotina nos hospitais a utilização de medidas antimiasmáticas recomendadas pelos médicos europeus da época. Os administradores hospitalares passaram a utilizar regras ao selecionar as mulheres que adotariam bebês, evitando entregar a quem não tivesse leite ou a homens sem escravas-amas, mas havia fraudes, tanto no Brasil como em Portugal, por mulheres que se diziam recém- paridas e outras pediam emprestado crianças gordas e com boa saúde e apresentavam como seus próprios filhos (BUDIN, 1900; PRIORI, 1997). Na residência onde essas crianças moravam, era comum receberem alimentação artificial, não receberem afeto, nem as atenções necessárias. Outras amas, quando ficavam impacientes com o comportamento das crianças, passaram a dar aguardente misturada ao leite para acalmá-las, o que fez com que fosse 12 necessária a adoção de medidas rígidas, como a elaboração de lei prevendo trinta dias de prisão para quem utilizasse tal prática de alimentação. Nos séculos XVII e XVIII, a sociedade admitia a morte de bebês como fato corriqueiro, inevitável, quando cerca de 25% morriam antes de completar o primeiro ano de vida. Segundo a crença da época, quando a criança morria transformava-se em anjo, o que contribuía para que as famílias suportassem a dor da perda e encarassem a morte de seus filhos como uma verdadeira benção do Céu (COSTA, 1985; PRIORI, 1997; VENÂNCIO, 1997). Há relatos que no interior da Província do Ceará a morte do recém- nascido “era recebida com tiros e foguetes, comida, bebida e música - uma festa em que se dançava para o anjinho” (VENÂNCIO, 1997:208). Esses rituais eram marcados por antigas tradições africanas e as autoridades religiosas escandalizavam-se diante daquilo que consideravam uma grosseira deturpação dos ensinamentos cristãos (COSTA, 1985; SENA, 1997; PRIORI, 1997). Em Salvador, o período de aumento dessas ocorrências (1790-1812) coincidiu com a grande subida dos preços dos bens de subsistência, tendo a farinha de mandioca aumentado de 10 para 23 réis o litro. Sendo esse alimento amplamente utilizado na alimentação das crianças, justifica-se o aumento da mortalidade infantil. Quem não tinha condições de ser alimentado pela mãe-de- leite acabava sempre falecendo (MACHADO, 1999). Verificou-se que a taxa de mortalidade infantil provocada pela alimentação artificial, no referido período, atingiu o impressionante número de 906/1000, ou seja, mais de 90% das crianças assistidas faleceram. No Rio de Janeiro, o aleitamento artificial também encontrou adeptos entre os administradores da Casa da Roda e sendo relatado que, em 1831, das 325 que deram entrada na instituição e ficavam internadas por um período de 12 meses, apenas 22 sobreviveram (COSTA, 1983; PRIORI, 1997). As crianças enjeitadas negras e mestiças, pertencentes às camadas mais pobres e marginalizadas da sociedade brasileira, curiosamente faleciam em uma proporção inferior aos brancos. Em Salvador, de 1758 a 1762, os índices de 13 mortalidade foram de 626 em mil entre os brancos e apenas 555 mil entre os negros. Concomitante a essa crescente mortalidade, verificava-se a negação da maternidade entre a sociedade burguesa, através da gravidez indesejada, ou o abandono das crianças pelas mulheres escravas, por falta de condições para criá- las. Isso levou à prática de mães mercenárias e mães escravas de aluguel, que empregavam desastrosas técnicas de alimentação artificial, levando milhares de bebês à morte (MACHADO, 1999). Durante o século XVIII, os médicos e administradores deram pouca atenção ao tema, talvez porque essas mortes fossem consideradas como aspecto positivo durante o período colonial. No entanto, a partir de 1800, o número de crianças encaminhadas às amas através da Direção Mundial das Amas-de-leite declinou substancialmente (BADINTER, 1985). A implantação das faculdades e academias de medicina, durante o século XIX, trouxeram vários projetos destinados a combater as altas taxas de mortalidade dos expostos. VENÂNCIO (1997) cita que os índices de mortalidade infantil eram assustadores e que os médicos e administradores sempre reforçavam o argumento de que as mulheres seriam as grandes responsáveis e que o descaso das amas- de- leite que acolhiam as crianças na Casa da Roda, consistia nos verdadeiros motivos da morte em massa. “Confinado ordinariamente a escravas, ou a outras mulheres, cujos hábitos e posições nem sempre as colocam ao abrigo dos vícios, e que além disso um leite sem princípios nutritivos suficientes, ou o que é ainda pior, que sofreram ou sofrem de escrófulas, sífilis, boubas e outros incômodos, não só não cuidam das crianças com atenção precisa, como ainda infiltram o germe das enfermidades de que padecem, dando em resultado uma série não interrompida de sofrimentos e perigos, logo que se manifesta a evolução dentária causando-lhes frequentes vezes a morte no meio de horríveis sofrimento.” (VENÂNCIO, 1997:217). A mudança do comportamento materno no século XIX é caracterizado através da disposição em aleitar o filho, excluindo qualquer outra criança. Além disso, a mulher passa a dedicar a vida ao filho, procurando mudar os hábitos 14 alimentares desde a gravidez, consumindo alimentos mais leves, à base de legumes, frutas e laticínios, e prolongando essa dieta após o parto, pois conhecia a relação essencial entre a alimentação, a qualidade e a quantidade de seu leite e, portanto, a saúde de seu bebê (BADINTER, 1985). Quanto as mulheres que não podiam amamentar e que tinham recursos, eram orientadas a contratar uma ama-de-leite em domicílio, fiscalizando todos os cuidados proporcionadosao bebê. No entanto, Badinter afirmar que essa conduta só deveria ser adotada em casos excepcionais. “Essa conduta só deveria ser adotada em casos desesperados e que a babá- uma segunda mãe, seria o personagem central da família burguesa, que logo adquire autoridade sobre a mãe ignorante. Pensava-se àquela época que o simples fato de contrariá-la, poderia azedar o leite e preferia- se calar a arriscar a saúde do bebê” (BADINTER, 1985:230). As amas-de-leite, no entanto, “simulavam ser boas mães” e apropriavam- se das crianças, estimulando-as a permanecer a maior parte do tempo com elas. Essa prática tinha como finalidade criar um vínculo mais forte entre a criança e as amas de leite, proporcionando uma condição de “apropriação do bebê”, evitando a substituição ou demissão por parte das mulheres burguesas. O sistema de amas- de-leite resistiu até o final do século XIX. Depois disso, o aleitamento artificial, sob forma de mamadeira com leite de vaca, possibilitado pelo progresso de esterilização, substituiu a amamentação mercenária. (LAWRENCE, 1994; SILVA, 1997; SENA, 1997). Ainda durante o século XIX, uma grande quantidade de pesquisas orientadas por médicos, visava um substituto para o leite materno a ser utilizado durante o período de desmame. Segundo algumas literaturas da época, diferentes opções foram consideradas: leite de vaca, adicionando-se açúcar e água; adição de creme e água limonada para aumentar o pH do leite, favorecendo uma melhor digestão do leite pelo trato intestinal. Com essas e outras descobertas, os profissionais de saúde consideravam estar proporcionando uma melhor nutrição para as crianças (CORADINI & FREDERIQ,1981; LAWRENCE, 1994; SENA, 1997). 15 Um comerciante suíço, chamado Henri Nestlé, combinou açúcar e trigo com leite de vaca, alimentada na grama dos Alpes. Ele direcionou muito de seus esforços promocionais para mães. Considerava estar atuando junto àquela que seria seu melhor marketing: “mães farão a publicidade para mim” (GOLDEMBERG,1988:56). Muitas das companhias de alimentos, no entanto, realizavam as campanhas publicitárias em jornais médicos ou paramédicos. As indústrias faziam a propaganda fortemente nos profissionais médicos que prescreviam as fórmulas para as mães, público-alvo. Pouca ou nenhuma recomendação era feita, alertando para o fato de que os produtos poderiam ser preparados com água contaminada. Em 1888, o subcomitê da Associação Médica Americana não pôde chegar a um consenso sobre o melhor leite substituto e a competição entre o marketing das indústrias foi bastante evidente no final do século XIX. As propagandas descreviam os produtos como “cientificamente preparados”, entretanto as avaliações nunca eram provadas com documentação científica (CORADINI & FREDERIQ,1981; COSTA, 1985; GOLDEMBERG, 1988). APLLE (1987) e WALKER (1993) descrevem que a comercialização e a “medicalização” nos cuidados da criança com o estabelecimento da alimentação artificial, não só foi aceita por muitas mães, como também passou a ser uma prática de alimentação “natural” e necessária. As soluções dos problemas da alimentação da criança passam a ser vistas pelas mães através do marketing desempenhado pelas indústrias. No conjunto da propaganda, era reforçada a importância do aleitamento materno, citando, no entanto, os estimulantes da lactação como “Lactífero”, “Galactogeno” e outros. Posteriormente, foram recomendados “Farinha Láctea, Maizena Dureya e Ovolmatine”, para caracterizar esses produtos na falta do leite materno, associado à concepção de a criança saudável ser essencialmente gorda, verificado na época pelos frequentes concursos de “robustez infantil”. GOLDEMBERG (1989) cita que havia uma supervalorização dos “substitutivos do leite materno, ressaltando-se a equivalência perfeita do produto, a 16 facilidade do produto e a recomendação de eminentes pediatras. A partir de 1922 observa-se uma crescente veiculação de propagandas de leite em pó” (1989:108). O “Lacto Mellin” era indicado para os casos excepcionais, contrapondo-se o consumo à utilização de leite de vaca, e eram recomendado as crianças delicadas que se criam só com a mamadeira ou cujas mães não podem aleitar seus filhos (GOLDEMBERG, 1989:108). A revista A Cigarra, numa edição de 1933, noticiou a fabricação, no Brasil, dos leite em pó pela “Indústria Nacional de Alimentos Infantis” (Nestlé), que enfatizava que a produção do leite no Brasil proporcionaria um produto mais barato e com a vantagem de ser “meio gordo”, substituindo com maior benefício, caso o leite materno “faltasse”. (FREDERICQ,1981; GOLDEMBERG, 1989). Houve um grande aumento na produção da Nestlé nos anos 40, que destacava nas suas propagandas a facilidade do preparo, conservação das propriedades do leite fresco e digestão do produto, esquecendo-se de esclarecer que, durante o preparo, poderia haver contaminação, expondo principalmente as crianças que possuem condições de vida precária; passa a ser reforçada a importância de generalizar a utilização das fórmulas para todas as crianças, como alimento opcional. (CORADINI & FREDERICQ,1981; GOLDEMBERG, 1989). No final dos anos 40, iniciando os anos 50, os produtos são apresentados como uma opção para facilitar a tarefa dos médicos que passam a prescrever indiscriminadamente os produtos às mães, como a forma mais prática e viável para seus filhos, pois asseguravam um “produto confiável”. A partir de então surge a utilização de leites em pó, desde o momento da secção do cordão umbilical, exaltando-se a composição do produto que teria toda a segurança na substituição do leite materno. Outros produtos foram complementares ao leite em pó como auxiliares no preparo da mamadeira (Mucilon, Nidex etc), “traduzindo um deslocamento flagrante do eixo da propaganda de alimentos infantis, originalmente centrado no aleitamento natural” (GOLDEMBER, 1985:119). 17 Durante anos, foi utilizada a prática de fornecimento de produtos lácteos aos profissionais de saúde (médicos e nutricionistas, em especial), que eram considerados seletivos ao fornecimento de mensagens dirigidas às mães. Outras estratégias de propaganda eram utilizadas, tais como: “Serviços assistenciais dos hospitais-escola; das reuniões científicas; cursos de atualização e congressos, com o patrocínio e divulgação dessas indústrias; da manutenção de um serviço próprio de divulgação científica, além da contribuição para o sustento de revistas científicas, com a publicação sistemática de anúncios”. (GOLDEMBERG ,1989:122). A partir do momento em que essas estratégias eram utilizadas e aceitas pelo público, a indústria incutia nos profissionais de saúde, especialmente os médicos, um sentimento de gratidão pela forma com que eram tratados individualmente. Através desses meios táticos, a indústria da propaganda promovia uma marca, e seus produtos eram associados à existência da ciência. Segundo GOLDEMBERG (1989:123): “Não se trata de desconsiderar o valor do leite artificial como um avanço técnico e científico no desenvolvimento de medidas alternativas para o aleitamento natural, nos restritos casos de sua indicação formal. O problema reside, antes de mais nada, na veiculação de certas ideias a partir das técnicas promocionais que fundamentavam e propiciavam o uso indiscriminado dessa medida alternativa. ” Paralelamente a essa influência da indústria junto aos profissionais de saúde, havia um vazio do ensino médico, que abordava o alimento artificial com um superdimensionamento em relação ao aleitamento natural. Diante do desconhecimento a respeito da lactação e da importância do controle médico da alimentação infantil, configura-se um momento propício à propagação de ideias distorcidas, impedindo inclusive, a percepção, por parte dos profissionais, do seu envolvimento frente à disseminação do leite artificial (MULLER,1974; FREDERICQ,1981; BOSI, 1988; GOLDEMBERG, 1989). A partir da disponibilidade do leite em pó no mercado, as mães passam a ter que escolher entre amamentar seus filhos no seio ou na mamadeira. 18 Consequentemente, houve uma mudança do comportamento dessas mulheres, fato evidenciado pela perda da autoconfiança, conforme descreve FREDERICQ (1981: 144): “Anteriormente, todas as mulheres seguiam a tradição de suas avós e de suas mães, amamentando seus filhos. Atualmente, a situação é bem diferente, uma única empresa virtualmente monopoliza, no Brasil, o mercado de leite em pó modificado para o uso infantil: a Nestlé. É esta a principal empresa envolvida no lucrativo negócio de vender leite ‘maternizado’ a mulheres que, quase sempre, têm todas as condições necessárias para alimentar seus filhos de maneira natural e autônoma”. Assim como em todos os países de economia capitalista, no Brasil, nas diversas camadas sociais, há uma diminuição do aleitamento tradicional ao seio. Como consequência, houve um aumento nas taxas de morbidade e de mortalidade, principalmente nas crianças alimentadas de maneira exclusivamente artificial, comprovados em estudos realizados na época (MULLER, 1974; FREDERICQ, 1981). O propósito dessa abordagem histórica e cultural, não é outra se não rememorar a evolução de alguns aspectos específicos que contribuíram para a prática da amamentação, e refletir sobre as inúmeras estratégias utilizadas em diferentes épocas da humanidade, que repercutiram na tomada de decisão das mulheres em oferecer o leite materno como alimento exclusivo para seus filhos. Dentro da perspectiva de que essas mulheres recebem influência de diversos segmentos, mas são elas que, de fato, decidem amamentar seus filhos, abordaremos os aspectos relacionados ao vínculo estabelecido entre mãe e filho. 19 3 A RELAÇÃO ENTRE MÃE-BEBÊ Fonte: https://mdemulher.abril.com.br O vínculo entre mãe e o bebê tem uma relação muito interessante com a amamentação. Todavia, atualmente, inúmeras mulheres concebem o ato de amamentar como algo de interesse exclusivo do filho, alegando que, através dessa prática estão transmitindo afeto, oferecendo saúde ao bebê, fazendo “sua obrigação”. É aceito e defendido pela maioria que no período dos doze primeiros meses de vida, quase todos os bebês desenvolvem um forte vínculo com a figura materna. Há no bebê uma propensão inata para relacionar-se com o seio humano, para suga- lo e possuí-lo oralmente. No devido tempo, o bebê aprende que ligado ao seio está uma criatura humana, a mãe e, portanto, relaciona-se também com ela. Estabelece um comportamento de apego que é considerado uma classe de 20 comportamento social de importância equivalente à do comportamento de acasalamento e do parental” (BOWLBY, 1993; BUSNEL, 1997) Conforme acredita-se, os próprios sistemas comportamentais se desenvolvem no bebê como resultado de sua interação com o seu meio ambiente de adaptabilidade e, em especial, de sua interação com a figura principal nesse meio ambiente, que é a mãe. O primeiro espelho da criança é o rosto da mãe, que muitas vezes expressa esse olhar como um “namoro do bebê”. No desenvolvimento saudável, ao olhar para a mãe a criança se vê e fortalece o sentimento de ser. A princípio não há uma diferenciação entre a mãe representando o ambiente e o bebê. O que se vê é um par lactante-lactente (WINNICOTT, 1993; BOWBLY, 1993, PEDROZO, 1993). Os psicanalistas defendem que sob o predomínio dos impulsos orais, o seio é percebido como fonte da própria vida. A proximidade física e mental proporcionada pela amamentação, restaura a unidade perdida e a segurança transmitida pela mãe e, muitos bebês estabelecem essa percepção, através de sorriso ou o choro. Mãe e filho se comunicam até o final do primeiro ano de vida num nível afetivo, no qual o bebê, através da descarga de tensão-choro e gritos, pede ajuda. (BOWLBY, 1990; PEDROZO, 1993; WINNICOTT, 1993) Após o parto a mãe precisa passar por um processo gradual de separação e renúncia do sentimento de que o bebê ainda se confunde com ela: conquistas e realizações dele se confundem à segurança transmitida pela mãe. Como o bebê não possui nenhuma imagem do mundo, os estímulos precisam ser transformados em experiências significativas, a fim de que ele possa construir coerentemente essa imagem. Dessa construção depende a reciprocidade entre mãe e filho, que permitirá que a percepção seja gradativamente aprendida, coordenada e sintetizada, resultando no estabelecimento de relações objetais. (KAHRBEK,1993) Durante os primeiros meses, o bebê é conservado e se desenvolve na proximidade da mãe em virtude das ações da própria; contudo, seja por iniciativa da mãe ou do bebê, a proximidade é sempre mantida. Algumas mulheres, no entanto, entendem essa necessidade de contato permanente, como um “risco” de estar “mimando” ao bebê e evitam o contato mais frequente com o filho. 21 Segundo BOWBLY (1990:214), “só em sociedades humanas economicamente mais desenvolvidas e, em especial, nas ocidentais, os bebês estão comumente fora de contato com a mãe durante muitas horas por dia e, com frequência, também durante a noite”. 3.1 Os cuidados imediatos prestados ao recém-nascido e a promoção do vínculo mãe-bebê De acordo com os estudos realizados por Cruz et al. (2007), o contato imediato entre mãe e filho tem importância prioritária na visão humanizada de cuidados ao bebê ainda na sala de parto. A fim de se evitar separações desnecessárias entre o binômio, o que poderia prejudicar o aleitamento materno e a aproximação ao bebê, é importante reduzir ao estritamente necessário os procedimentos realizados no pós-parto imediato, quando se tratar de um bebê de baixo risco. A maneira como o bebê nasce, seja com suavidade, sofrimento, violência, tranquilidade ou paciência, terá implicações diretas na efetividade do vínculo com sua mãe. Por conta disso, foi desenvolvida uma filosofia de assistência ao parto, denominada humanização do parto e nascimento, cuja preocupação essencial é acolher bem o recém-nascido (RN), suavizando o impacto da diferença entre o mundo intra e extrauterino (CRUZ et al., 2007). É preconizado o emprego de uma luz difusa na sala de parto, silêncio, ambiente menos frio e tranquilo, uma música suave e o contato corporal imediato entre a mãe e o RN. Este deve ser colocado sobre o ventre da mãe logo após o nascimento, sendo acariciado por ela e somente após alguns minutos corta-se o cordão umbilical (MONTAGU, 1988). Neste sentido, autores afirmam que em condições satisfatórias para a mãe e o bebê, logo após o parto, deve-se estimular o contato físico entre ambos e a sucção precoce por contribuírem para o estabelecimento ou continuidade do vínculo além de favorecer a contratilidade uterina e auxiliar no processo de amamentação. 22 A humanização do atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde é uma das metas do Ministério da Saúde. O Programa de Humanização do Pré-Natal e do Nascimento (PHPN) estabeleceu os princípios da atenção a ser prestada nos diferentes níveis de atenção à saúde pública e garantiu à mulher o direito de dar à luz recebendo uma assistência humanizada e de boa qualidade. Na década de 90, no Rio de Janeiro, a secretaria municipal iniciou a implantação da Política de Humanização do Parto e Nascimento tendo como uma das estratégias a hierarquização da assistência ao parto, com a inclusão da assistência aos partos de baixo risco por enfermeiras obstétricas conforme o exemplo de alguns países europeus (DIAS & DOMINGUES, 2005). Conforme apresentando por Cruz et al. (2005), num estudo realizado no centro obstétrico de uma instituição pública no município do Rio de Janeiro, que adota os princípios da humanização no atendimento à mulher no pré-natal e nascimento, foi observado que os cuidados prestados aoRN imediatamente após o parto são essenciais para a adaptação do bebê diminuindo a morbimortalidade neonatal. O delicado momento de transição do meio intra para o extrauterino é marcado por inúmeras mudanças para a criança. O meio intrauterino proporciona um ambiente de aconchego, de temperatura e luminosidade constantes, os ruídos são ouvidos suavemente, não necessitando de esforço para realizar as funções vitais. Com o nascimento o bebê vai se adaptando gradualmente ao meio extrauterino superando as dificuldades inerentes ao seu desenvolvimento. A primeira hora de vida de um bebê é um período denominado de inatividade alerta do RN que dura em média quarenta minutos. Esses momentos iniciais são uma fase sensível, precursora de apego e a primeira oportunidade de a mãe ser sensibilizada pelo seu bebê, nesse contexto destaca-se a importância que a realização de procedimentos assume na sala de parto. O profissional de saúde envolvido no nascimento é uma figura facilitadora ou não deste processo, possibilitando a aproximação precoce entre a mãe e seu filho para que o vínculo se estabeleça. Nesta concepção, as ações dos profissionais de saúde no pós-parto 23 imediato em relação aos cuidados prestados ao recém-nascido podem interferir negativamente na aproximação precoce entre a mãe e o bebê (ZVEITER, 1986). Nos modelos tecnocrático e humanista de assistência ao parto e nascimento, adotam-se procedimentos distintos para assistir à parturiente e o RN. O modelo tecnocrático emprega os recursos tecnológicos disponíveis, valoriza a hierarquia, a burocracia e visualizam o corpo como uma máquina. No modelo humanista de assistência o corpo é percebido como um organismo havendo união entre o corpo e a mente. Existe a conexão do paciente aos seus aspectos múltiplos (família, sociedade, saúde) e aos profissionais, valorizando-se a consideração, bondade e respeito (Davis-Floyd, 2001) Segundo Montagu (1988), os cuidados imediatos podem ser efetivados de diferentes formas de acordo com o tipo de modelo de assistência adotado. Após o nascimento, sempre que for possível, o bebê deverá ser encaminhado para sua mãe. A secção do cordão umbilical imediatamente após o nascimento ocasiona a separação do binômio e impede o contato e aproximação precoce de ambos. No modelo de assistência humanizada observa-se que apesar da secção do cordão umbilical ser um cuidado imediato, desde que mãe e bebê estejam em boas condições, não necessita ser realizado logo após o nascimento, podendo-se preservar o contato precoce entre a mãe e o RN. No modelo medicalizado no momento em que o bebê nasce, geralmente, o cordão umbilical é cortado, ergue-se a criança para mostrá-la à mãe e ela é levada para o berço aquecido, não havendo qualquer tipo de aproximação e interação entre o binômio, sendo impossibilitados de dar seguimento ao vínculo precoce que se estabelece logo após o nascimento. (LACAVA, 2002) Em relação à manutenção da temperatura corpórea no modelo humanista prioriza-se o aquecimento do RN, no contato pele a pele com a mãe em um quarto aquecido e, se necessário, cobri-lo com um cobertor, na assistência intervencionista é preconizado que a perda calórica é minimizada secando-se rapidamente a pele e o cabelo do RN colocando-o em ambiente aquecido (WHALEY & WONG, 1999). Maldonado (1990), por sua vez, afirma que outro tipo de contato importante que se estabelece entre a mãe e o RN é o visual. Um estudo demonstrou a 24 existência de movimentos oculares de bebês de zero a seis meses verificando-se a existência de uma fixação rudimentar desde o primeiro dia de vida que se estabilizava em torno do quinto dia. Quando mãe é a pessoa que está mais em contato com o bebê e que também lhe oferece outras estimulações, o primeiro objeto atraente que surge no campo visual do RN é o rosto da mãe. Os cuidados maternos formam a base da vida emocional e de relacionamento do RN. Montagu (1988) esclarece que a vertente humanizadora de assistência ao parto e nascimento preconiza que os profissionais devem estimular a aproximação entre a mãe e o bebê no pós-parto imediato, em contato pele a pele. Os cuidados podem ser prestados mantendo-se e respeitando este momento de interação para que se favoreça o estabelecimento precoce do vínculo. A importância da proximidade e do toque entre o binômio é relatada mencionando pesquisas que evidenciam as vantagens no estado de saúde, atenção e responsividade dos filhos que foram carregados no colo em comparação com os que não o foram. É relatado que os bebês acariciados pela mãe logo após o nascimento apresentavam uma incidência menor de resfriados, gripes, vômitos, diarreias em relação aos que foram desprovidos desse ato (Montagu, 1988). Segundo Cruz et al. (2007), a existência de um período sensível, imediatamente após o parto, foi evidenciada em estudo. Durante esta fase, um contato intenso e ininterrupto da mãe com o seu bebê proporciona a receptividade mais precoce da mãe e sua adaptação, dando prosseguimento ao vínculo que começou a ser estabelecido já na vida intrauterina. Outros benefícios deste contato inicial incluem o fato de a amamentação ocorrer mais cedo e o estreitamento da atração emocional. 3.2 Dados da pesquisa O estudo citado acima foi apoiado por uma pesquisa, aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, tendo-se solicitado 25 autorização à chefia da unidade para a entrada em campo (Processo CEP n. 1106/2005). Encontramos em Cruz et al (2007) a informação de que foram selecionados num primeiro momento os prontuários das puérperas de parto normal, cujos bebês tiveram APGAR entre 8-10, caracterizando um RN de baixo risco, de mães multíparas, em função de sua vivência com a parturição e o nascimento. Foram abordadas as mulheres no dia seguinte ao parto, questionando-as quanto ao interesse em participar da pesquisa. Àquelas que concordaram foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e realizado uma entrevista semiestruturada, com auxílio de um gravador, tendo quatro questões abertas: Fale-me sobre o momento do seu parto; Após o nascimento o que foi feito com o RN; O que significou para você os cuidados prestados ao RN no momento do parto; Os cuidados prestados ao RN no momento do parto interferiram na sua aproximação a ele? (Cruz et al., 2007) Segundo a autora, o instrumento foi testado, previamente, para verificar possíveis incorreções e falhas na técnica da entrevista, por duas das pesquisadoras que, após os ajustes necessários procederam à coleta em local reservado. Duas das pesquisadoras, na ocasião das entrevistas, desenvolviam práticas assistenciais na maternidade em que ocorreu o estudo, o que facilitou a aproximação às depoentes. Alguns dados foram levantados de seus prontuários como nível de escolaridade, idade, paridade, procedência e número de consultas de pré-natal permitindo delinear o seu perfil. No grupo investigado três mulheres tinham idade inferior a 19 anos, para que fossem incluídas na pesquisa solicitou-se autorização a um responsável e que ambos assinassem o Termo de Consentimento. Durante as entrevistas notamos que as mães verbalizavam com dificuldade sua percepção do momento do parto e aproximação ao recém-nascido. Mostravam-se tímidas e expressavam-se com poucas palavras, embora estimuladas a falar pelas pesquisadoras durante os relatos. Foram realizadas 25 entrevistas em função da 26 saturação dos depoimentos. Para preservar o anonimato das mulheres as entrevistas foram numeradas sequencialmente (CRUZ et al., 2007). As entrevistas foram transcritas e analisadas, com a técnica de análise de conteúdo, procedendo-se uma análise temática com os seguintes passos: pré- análise; exploração do material e tratamento dos resultados; interferência e interpretação (BARDIN, 1977). Cruz et al. (2007) nosinforma o protocolo adotado. Segundo as autoras, ocorreu a seleção dos documentos importantes para análise (pré-análise). As transcrições foram submetidas à leitura e releitura e, tendo-se definido as unidades de registro no texto, marcando o início e o final de cada uma delas no texto analisado (exploração do material). Identificamos e nomeamos os temas, ou unidades de significação, associados ao objeto de estudo (tratamento dos resultados). Em seguida foram qualificados os temas, bem como, definidos e nomeadas as categorias, que consiste em agrupar os temas em conjuntos maiores do que o próprio tema e atribuir nomes para as categorias definidas em função do que os temas expressam (tratamento dos resultados, interferência e interpretação). A partir da análise dos relatos emergiram as categorias: 1- O significado do momento do parto (56 unidades de registro e 23,5%), 2- Os cuidados prestados ao RN sob a ótica da mãe (62 unidades de registro e 26,1%) e 3A interferência dos cuidados prestados ao RN na aproximação mãe-bebê (120 unidades de registro e 50,3%) (interpretação dos achados). No momento, apresentamos a análise de duas categorias. (Cruz et al., 2007) 3.3 Resultados e Análise dos Relatos O perfil das entrevistadas era o seguinte: quanto à idade 10 mulheres tinham entre quinze e vinte anos, sete entre vinte e um e vinte e cinco e oito acima de vinte e cinco anos; em relação ao nível de escolaridade três mães eram analfabetas, 13 tinham o ensino fundamental incompleto, sete o ensino fundamental completo e duas o ensino médio; quanto à realização de consultas de pré-natal 15 mulheres tiveram de zero a três consultas, oito de quatro a seis consultas e duas mais de seis consultas; em relação ao número de gestações 19 mães tiveram duas ou três e seis de quatro a seis gestações. (Cruz et al., 2007) 27 Na análise dos relatos emergiram três categorias, dentre elas: Os cuidados prestados ao RN sob a ótica da mãe e A interferência dos cuidados prestados ao RN na aproximação mãe-bebê, descritas a seguir. Fonte: https://brasil.babycenter.com Conforme mencionamos anteriormente, a instituição onde a investigação ocorreu adota os dois modelos de assistência ao parto (tecnocrático e humanista). A equipe que atua no serviço é composta por médicos, enfermeiras obstétricas, neonatologistas e auxiliares de enfermagem. Como o número de profissionais ainda é insuficiente (duas enfermeiras para cada turno de 12 horas), nem todas as entrevistadas foram assistidas no mesmo modelo de assistência como pudemos perceber em seus relatos. Por este motivo, as puérperas referiram que imediatamente após o nascimento seus bebês foram levados a outro local para a realização de cuidados. Vale destacar que em seus depoimentos as mães revelaram desconhecer o que seria feito com seus bebês. Essa prática, ainda 28 presente, gerava nas mulheres ansiedade e expectativa como podemos observar nos seguintes relatos, apresentados na obra de Cruz et al. (2007): Ah... logo pegaram ela pra limpa e demoraram muito tempo pra coloca ela perto de mim aí eu fiquei até preocupada (Puérpera 15). Foram limpar, né? Levaram para o lado... eu fiquei com medo, a gente fica com medo de troca de bebê...(Puérpera 03). Quando analisados esses trechos de depoimentos foi possível notar que na prestação de assistência ao parto e nascimento houve priorização do modelo tecnocrático, com a separação entre a mãe e o bebê para realizar cuidados ao recém-nascido. No entanto, este tempo em que o bebê esteve separado, se constituía em um período sensível propício para a aproximação precoce e efetiva entre ambos. O período sensível no RN está presente na primeira hora após o nascimento por um período de 45 a 60 minutos, no qual enxerga e orienta a cabeça na direção das vozes das pessoas. Assim, os minutos iniciais de vida extrauterina são, portanto, ideais para o bebê estabelecer contato com os pais. Em condições satisfatórias para a mãe e bebê, autores lembram a importância de se proporcionar o contato físico entre ambos e a sucção precoce que contribuem para o estabelecimento ou continuidade do vínculo e estimulam o aleitamento (LACAVA, GOLDMAN, VIEIRA, 2002). Os relatos dos depoimentos das puérperas entrevistadas revelam que existe uma relação entre o tipo de cuidado prestado à mulher e RN e a aproximação precoce, destacando-se a importância da assistência humanizada no parto e nascimento que prioriza o contato inicial de toque e aconchego entre ambos, conforme salientam os relatos: Assim que ela nasceu veio pra cima de mim, achei muito gostoso... e com certeza une mais os dois, mãe e filho (Puérpera 21). Eu tive mais carinho assim... já estava amando a minha filha, então dali eu passei a amar mais ainda (Puérpera 14). (Cruz et al., 2007) As respostas das mulheres revelaram que a oportunidade de desfrutar imediatamente após o parto o contato com seus filhos faz com que se sintam plenas 29 e realizadas, em condições de proporcionar amor e aconchego, o que favorece a união de ambos. O contato epidérmico entre mãe e bebê é muito importante, pois é através dele que o bebê começa a se integrar com o mundo e se preparar para experiências até então desconhecidas. É este contato corporal que constitui a origem principal do bem-estar, segurança e afetividade, dando ao bebê a capacidade de procurar novas vivências. Em estudo realizado com mães adolescentes foi verificada a importância de favorecer o contato e aproximação entre ambos, logo após o nascimento, para que se estabeleça o vínculo tendo-se constatado em todas as observações realizadas na sala de parto (Oliveira; Madeira, 2002). Entretanto, as mulheres assistidas no modelo tecnocrático, verbalizaram sua satisfação e confiança, conforme podemos observar nos seus relatos: Levaram pra cuidar dela e depois trouxeram para eu ficar perto dela [...] até que eu gostei estava preocupada para ver se não afetou nada (Puérpera 04). Levaram ele, limparam, cuidaram dele [..]) significou que ele está bem né?, eles cuidaram direito (Puérpera 20). Levaram pra limpar... significou muita coisa, achei legal como trataram dela. Foram bastante cuidadoso (Puérpera 06). (Cruz et al., 2007) Segundo Cruz et al. (2007), os depoimentos comprovam uma grande preocupação das mães com a saúde e integridade física de seus filhos, visualizando nos cuidados prestados a garantia de sua preservação. No caso específico da Puérpera 04, que apresentou ameaças de abortamento durante a gestação, sua preocupação estava relacionada com o nível de comprometimento desses episódios na saúde do bebê. Outras mulheres, entretanto, expressaram um enorme desejo de ficar com seus bebês antes de qualquer tipo de intervenção. Desta forma valorizaram a importância da aproximação e do toque logo após o nascimento, conforme preconiza a assistência humanizada do parto, para que pudessem manifestar toda a sua emoção pelo contato, olhar e aconchego. Cortando o cordão ele já estava no meu colo [...] Ah, foi maravilhoso porque é o momento mais esperado da mãe, o neném no colo (Puérpera 08). 30 Botaram ela “pra mim” segurar, pra mim ver ela. Eu fiquei contente, abracei ela. É muito bom ter esse contato logo assim de cara (Puérpera 11). É o primeiro contato que a gente tem com o bebê, o primeiro toque, pele a pele... (Puérpera 19). (Cruz et al., 2007) Estas descrições revelam o desejo e a necessidade de sentir seus bebês logo após o nascimento, para que possam estabelecer contato físico, pele a pele e assim transmitirem carinho e amor já que aguardaram, ansiosamente, por este momento no processo de gestar. Manter mãe e bebê juntos logo após o nascimento favorece o estímulo da operação de mecanismos sensoriais, hormonais, fisiológicos, imunológicos e comportamentais conhecidos, que provavelmente unem os pais aos bebês (ROCHA; SIMPIONATO; MELLO,2003). A sequência de interações entre a mãe e o bebê, durante este período, liga-os um ao outro e assegura o desenvolvimento posterior do apego. Na experiência do parto humanizado de mães adolescentes foi observado que o corpo do bebê junto ao corpo da mãe parece ser uma só pessoa em seu primeiro contato, parecendo que agiam sincronicamente, que respiravam numa cadência harmônica, olhavam-se, conheceram-se pelo toque, cheiro e entregavam-se passivamente um ao outro sendo dissipado naquele encontro toda turbulência do momento do parto pelo prazer de estarem juntos (OLIVEIRA; MADEIRA, 2002). Outro fator tão essencial para o estímulo da interação, e consequente aproximação entre ambos, é permitir que haja contato do bebê com o seio materno. Mesmo que ele não seja amamentado, neste momento é válido que sinta o cheiro, ou consiga lamber o mamilo de sua mãe. Para que ocorra a amamentação nos primeiros momentos da vida extrauterina, os profissionais necessitam criar condições que estimulem os sentidos do bebê, pois ele sabe como buscar e encontrar os seios de sua mãe quase que imediatamente (ODENT, 2002). Segundo as considerações feitas por Cruz et al. (2007), os RNs deste estudo nasceram em boas condições de vitalidade (APGAR 8-10) e poderiam permanecer com suas mães, conforme as recomendações do programa de humanização do parto. Entretanto, em estudo realizado num Centro de Parto Normal, que adota as recomendações do Ministério da Saúde, verificou-se que 6% 31 dos RNs (em 100 nascimentos) apresentaram quadro de desconforto respiratório e foram transferidos para UTI neonatal, denotando a importância da capacitação dos profissionais de saúde para o atendimento dos RNs. Fonte: https://www.cleverfreitas.com.br Os cuidados prestados ao bebê na ocasião do parto e as sensações provenientes desse momento têm um significado importante para as mães. A aproximação (ou não) de ambos no pós-parto imediato fica na dependência da conduta do profissional que assiste a mulher no processo de parturição, de suas crenças e valores, como também da política institucional vigente conforme os relatos clarificam: Primeiro colocaram em cima de mim pra abraçar e beijar, depois foram cuidar dele, a limpeza da criança, os cuidados. (Puérpera 05). Cortando o cordão ele já estava no meu colo. (Puérpera 08) Levaram pra limpar. Me mostraram e levaram, não colocaram em cima de mim, não (Puérpera 15). (Cruz et al., 2007) 32 Embora os RNs fossem de baixo risco e tivessem nascido em boas condições, os relatos citados evidenciam que esta aproximação inicial entre mãe- bebê fica condicionada ao profissional que a assiste nesta ocasião. Vale lembrar, no entanto, que as mulheres tiveram seus filhos numa instituição que vem adotando a política de humanização do parto e nascimento, entretanto a mudança de paradigma, crenças e práticas envolve uma série de fatores. Discutindo a implantação da política de humanização do parto e nascimento é referido que esta modalidade de assistência é influenciada pelo modelo organizacional, do envolvimento e aderência dos gerentes à proposta e da capacitação e sensibilidade dos profissionais, sendo, em última instância, atrelada à subjetividade do relacionamento pessoal entre a mulher e o profissional de saúde (CRUZ et al., 2007). O modelo tradicional de assistência ao parto e nascimento, entretanto, desperta nas mães os sentimentos mais diversificados, gerando incertezas e medos: Queria amamentar, cuidar... fiquei muito ansiosa (Puérpera 09). Foram limpar...levaram pro lado e eu fiquei olhando sempre porque a gente fica com medo de troca de bebê. Fiquei contando os dedos... eu fiquei com medo...(Puérpera 03). Logo pegaram ela pra limpar e demoraram muito tempo pra colocar ela perto de mim... foi ruim porque eu fiquei preocupada, queria vê- la...(Puérpera 18). (Cruz et al., 2007) Os relatos acima evidenciam o receio dessas mães com a troca de bebês, fato que muito preocupa as mulheres pela ocorrência em algumas instituições em nosso país, como, também, a vontade de estar com seus filhos e constatar, pelo toque e olhar, que eram perfeitos, saudáveis vivenciando de forma plena aquele momento tão esperado. As mulheres assistidas segundo a proposta do parto humanizado conseguem expressar o significado deste momento, conforme os na obra de Cruz eta al. (2007): 33 Esse contato logo assim de cara facilita porque aí ela já começa a me conhecer... desde pequenininha, desde a hora que nasce (Puérpera 11). ... ele ficou um pouquinho comigo... é importante, foi muito bom... porque ele sente o nosso cheiro, o cheiro da mãe que ele já conhece já (Puérpera 20). ... ele ficou um pouco comigo... foi muito bom, senti o calorzinho do meu filho...é bom porque o neném já conhece, já fica conhecendo o calorzinho da mãe...(Puérpera 16). Em seus relatos as mães explicitam sua emoção em relação ao momento do parto e o contato precoce ao seu filho. O tipo de assistência recebida transparece em suas falas e nas sensações descritas denotando o significado deste momento para a promoção da aproximação entre a mãe e o bebê. Em estudo relatado por Corrêa (2004), que avaliou a relação entre a mãe e o bebê no pós-parto evidenciou-se que o contato pele a pele entre ambos, de forma contínua por pelo menos 20 minutos, a partir do nascimento e o estímulo ao aleitamento espontâneo na primeira hora de vida do RN gera nas mulheres uma emoção que interfere no vínculo da relação mãe-bebê. É verdade que nem todas as mães percebem este momento com esta conotação. Além de verbalizarem desconhecer a importância desse contato inicial para a promoção da aproximação precoce a seus bebês, mostram-se indiferentes às modalidades de assistência ao parto e nascimento não conseguindo visualizar a distinção entre os modelos (tecnocrático ou humanista) e a relação destes para a mãe e o bebê, conforme os relatos clarificam: Não acho que isso interfere, para mim é tudo a mesma coisa, sendo meu filho...(Puérpera 01). ... ele foi levado...precisava ser limpo... acho que influencia mas não é tão importante assim não (Puérpera 10). Acho que não interfere porque ele precisava ser limpo, de cuidados... se eu estiver olhando não me importo que levem não (Puérpera 03). É acho que até tem influência, ...acho que não sei explicar. (Puérpera 24). Não! Acho que não tem nada a ver (Puérpera 06). (Cruz et al., 2007) De acordo com estes relatos, é evidente que essas mães desconhecem as ações preconizadas pelo Ministério da Saúde para o parto de baixo risco. Esta constatação, todavia, pode estar relacionada a diversos fatores, dentre eles a falta de esclarecimentos acerca de seus direitos enquanto mulher e mãe de um RN de 34 baixo risco; o número insuficiente de consultas de pré-natal realizadas (15 mulheres tiveram de zero a três consultas) ocasião em que seriam orientadas em relação às condutas no parto e rotinas da instituição; o perfil sóciodemográfico das mesmas (baixa escolaridade e nível socioeconômico) que contribui para agravar suas limitações e modelam seu comportamento aceitando as determinações sem questionar. Temos consciência de que a associação desses fatores acaba contribuindo, de maneira significativa, para a exclusão social dessas mulheres, que não reivindicam seus direitos e aceitam com passividade as determinações das instituições de saúde. Um estudo realizado num centro obstétrico de Santa Catarina constatou que, em sua maioria, as mulheres desconhecem as ações preconizadas pelo Ministério da Saúde, ficando satisfeitas com o atendimento que recebem (REIS & PATRÍCIO, 2005). Os autores acreditam que caso as mulheres fossem cientes de seus direitos, talvez fossem mais exigentes, atuantes e menos dominadas. Para o Ministério da Saúde o início de todo o processo do nascer saudável está na assistência ao pré-natalocasião em que os profissionais de saúde devem esclarecer a gestante e sua família sobre o processo de gestar e parir, numa concepção humanizada de assistência. Ressaltando a importância da mulher e seu acompanhante serem preparados para o momento do parto e poderem vivenciá-los com mais tranquilidade e participação, sendo o nascimento visualizado como um momento da família. Os resultados do estudo, em relação aos cuidados imediatos prestados ao RN, por ocasião do parto, revelam que para algumas mães o fato desses cuidados serem prestados fora do seu campo visual gerava-lhes a sensação de preocupação com o RN, afastamento do filho, ansiedade e medo pela separação. Para essas mulheres o modelo de assistência medicalizado, que prioriza basicamente a manutenção da integridade física do RN no pós-parto imediato, remete-lhes à sensação de opressão por serem privadas do contato precoce ao seu concepto (Cruz et al., 2007) Outras mulheres, entretanto, eram indiferentes ao fato de o bebê ser afastado para receber os primeiros cuidados e valorizavam esta forma de 35 assistência intervencionista, em função da preocupação com a saúde de seus filhos. Acreditam que esses cuidados são vitais para garantir a integridade física da criança, sendo parte das funções dos profissionais de saúde e que não devem interferir em seu trabalho. A partir de suas descrições, ficou evidente que o parto institucionalizado está arraigado em suas falas como uma prática culturalmente construída. Um fato preocupante que o estudo revelou foi o número reduzido de consultas do pré-natal que a maioria das mães havia comparecido, cerca de três consultas. Considerando a recomendação do Ministério da Saúde no Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento (BRASIL, 2000), que preconiza a realização de no mínimo seis consultas de pré-natal durante o processo de gestação, podemos afirmar que estas mulheres tiveram um acompanhamento insuficiente, com prejuízo no seguimento de sua gestação e, consequentemente, nas orientações pertinentes para a ocasião. Em sendo gestantes de baixo risco teriam sido orientadas quanto ao direito de ter um contato precoce com o seu filho, nascendo em boas condições de vitalidade, desde o momento do parto e a importância dessa prática para a aproximação de ambos, conforme recomenda o Manual do Ministério da Saúde. Este resultado está em consonância com um estudo que avaliou a implantação do Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento. Apenas 20% das mulheres inscritas realizam as seis consultas do pré- natal, apenas 7% realizam as seis consultas e todos os exames básicos e apenas um pequeno grupo de mulheres recebia a assistência adequada considerando todos os aspectos pontuados no programa (SERRUYA et al., 2004). A análise dos relatos, de acordo com Cruz et al. (2007), evidenciou que a mulher-mãe vivencia as sensações do processo de gestar e parturição de maneira única e particular. Cabe aos profissionais de saúde, portanto, uma atuação sensível, harmônica e integrada compreendendo toda singularidade que o momento comporta. É importante que suas ações estejam em conformidade com a proposta 36 da humanização da assistência, sendo facilitadores da aproximação entre a mulher e seu concepto, contribuindo, então, para o contato precoce e apego entre a mãe e o RN. Cruz et al. (2007), conclui sua obra com a seguinte afirmação: Acreditamos que a prática dos profissionais de saúde que assistem à mulher no momento do parto e, ainda hoje, separam mãe e RN de baixo risco, com medidas extremamente intervencionistas, devam ser repensadas. Torna-se imprescindível que esses trabalhadores revisem suas condutas, muitas vezes rotineiras, a despeito de estudos que comprovam o contrário. Entretanto, cabe considerar que a transformação do modelo assistencial hegemônico vigente não se consolida rapidamente e requer uma mudança de paradigma, crenças, atitudes e práticas. 4 MÃES DE RECÉM-NASCIDOS INTERNADOS NA UTI NEONATAL Fonte: http://www.rondonia.ro.gov.br http://www.rondonia.ro.gov.br/ 37 4.1 Breve histórico das práticas de cuidados neonatais Nas décadas de 1950 e 1960, havia nas maternidades e nos berçários, a preocupação com a proteção de pacientes contra os perigos reais de doenças contagiosas, o que resultou em políticas extremas de isolamento e separação. O medo da disseminação de infecções foi responsável pela separação física entre as áreas obstétricas e pediátricas nos hospitais. Além da diarreia, a infecção respiratória era presente nas maternidades e nas unidades infantis hospitalares, por serem contagiosos. Como resultado, as maternidades hospitalares reuniam os bebês a termo em grandes enfermarias a portas fechadas, e a presença de pais e familiares era excluída (KLAUS; KENNELL, 2000) As regras rígidas da enfermaria de recém-nascidos foram mantidas até o começo da década de 1970, quando tiveram início os cuidados centrados na família, no que diz respeito ao parto. Foram, então, abertos os portões das unidades obstétricas, e os pais e outros membros próximos à família receberam a permissão para visitar o recém-nascido no quarto da mãe. Na década de 1980, as mães foram estimuladas a ficar com seus filhos por períodos prolongados, enquanto que nos anos 90, novas unidades obstétricas foram construídas e a mãe e o bebê passaram a dividir o mesmo quarto (KLAUS & KENNELL,2000). Dois estudos foram fundamentais para que as portas das Unidades de Terapias Intensivas Neonatais (UTIN) se abrissem para a entrada dos pais e familiares. O primeiro foi realizado na Universidade de Stanford na Califórnia (KLAUS et al., 1970): os pesquisadores estudaram, por dois anos, 44 mães, permitindo que entrassem na enfermaria logo após o nascimento dos seus filhos para que pudessem pegá-los e alimentá-los enquanto ainda se encontravam em incubadoras. Para avaliar a ameaça de infecções, foram feitas culturas semanais nos bebês. Os resultados não mostraram aumento em bactérias perigosas, mesmo com as visitas das mães. Em 1982 foi realizado outro estudo, também por Klaus e Kennell, no Hospital da Universidade de Cleveland. Permitiu-se a um grupo de mães que entrasse nas UTIs para pegar e cuidar seus bebês. As crianças desse grupo tiveram um escore mais alto no teste de StanfordBinet (que avalia o QI dos bebês), quando 38 comparadas com as crianças do grupo controle, no qual as mães não tiveram contato precoce com seus filhos. Kleinman (1992), em seu trabalho “The epidemiology of low birthweight”, refere sobre as medidas precisas que são feitas rotineiramente por ocasião do nascimento. Uma das formas de classificação é feita com os dados sobre peso ao nascer. A medida é composta por um acordo entre idade gestacional e crescimento intrauterino. A classificação usada sobre peso divide-se em: baixo peso ao nascer (abaixo de 2.500 gramas), esta categoria é por sua vez dividida em: muito baixo peso ao nascer (menos de 1.500 gramas) e moderado baixo peso ao nascer (de 1.500 a 2.499 gramas). No outro extremo da escala, estão os bebês com alto peso ao nascer (4.500 gramas ou mais). Esta subdivisão tem sido usada para identificar de forma mais precisa os bebês com riscos mais sérios. Em relação à idade gestacional, distingue- se pré-termo (gestação com menos de 37 semanas), a termo (gestação de 38 semanas a 42 semanas) e pós-termo (gestação com mais de 42 semanas). Nos últimos 20 anos, o Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) tem mostrado mudanças significativas do perfil epidemiológico da mortalidade de crianças no primeiro ano de vida em Porto Alegre. Ao se compararem os dados da mortalidade infantil no município referentes a 1980 e 1999, observa-se uma queda no CMI de 37,24 para 12,19 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos. Isso representa um decréscimo de, aproximadamente, 67%. Em relação aos óbitos neonatais(de 0 a 27 dias de vida) de 1980 para 1999, houve uma queda de 20,00 para 7,12 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos. Quanto ao coeficiente de mortalidade pós-natal (de 28 a 364 dias de vida), observa-se um declínio no mesmo período de 16,46 para 5,07 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos, destes óbitos 61,2% foram entre o primeiro e o terceiro mês de vida (SINASC, 1999) Entre as afecções do período perinatal, os transtornos relacionados à prematuridade, ao baixo peso ao nascer e à síndrome da angústia respiratória do recém-nascido foram os principais responsáveis pelos óbitos ocorridos no primeiro ano de vida (quase 70% dos óbitos ocorreram nos primeiros seis dias de vida). Dos 23.854 nascidos vivos, em Porto Alegre, no ano de 1999, 8,1% eram prematuros e 9,5% com baixo peso ao nascer (SINASC,1999). 39 McCormick (1992) e Bee (1997) expõem sobre a queda da mortalidade infantil como um todo nos Estados Unidos. De 1950 a 1980, houve um decréscimo de 29,2 por 1.000 nascidos vivos, complementando que muito destas mudanças tem ocorrido entre mortes no período neonatal. Crianças de baixo peso ao nascer são aproximadamente 50% mais propensas a terem sérios problemas de desenvolvimento do que outras doenças. Crianças de muito baixo peso ao nascer (quase todas prétermo) são de grande risco para mortalidade e morbidade. (KLEINMAN, 1992) De 1960 a 1987, baixo peso ao nascer baixou em média para 0,8% ao ano entre brancos e 0,3% ao ano entre negros, nos Estados Unidos. O declínio também tem sido grande em relação à mortalidade das crianças nascidas com baixo peso. A sobrevivência de crianças nascidas abaixo de 1.500 gramas mais que dobrou, tanto para negros quanto para brancos. A diminuição dos números da mortalidade infantil e neonatal torna claro o aumento da sobrevivência de crianças de alto risco, que são aquelas com baixo peso ou com muito baixo peso ao nascer, o que é amplamente atribuído aos avanços da tecnologia e à maior capacidade que temos acerca de informações científicas sobre os cuidados necessários para os bebês que necessitam de internação em UTIN. O cuidado intensivo neonatal continua a ser efetivo no aumento da sobrevivência de crianças de alto risco (BRAZELTON, 1988; MCCORMICK, 1992; KLEINMAN, 1992; SINASC,1999). Desta forma, os autores predizem que este aumento de sobrevivência, especificamente em relação aos bebês com muito baixo peso ao nascer, poderia ter um pequeno, mas perceptível impacto na prevalência de deficiências no desenvolvimento neurológico e mental de crianças (MCCORMICK,1992 e KLEINMAN,1992). McCormick (1992) coloca em pauta os limites dos efeitos da tecnologia neonatal, alertando que os resultados de vários estudos começam a sugerir que a 40 sobrevivência abaixo de 500 gramas e 23 semanas de gestação é extremamente rara, em parte porque podemos estar nos aproximando de limites biológicos. Segundo Brum e Schermann (2004), nos informam: Passos consideráveis têm sido dados no sentido da melhora tanto da média de sobrevivência quanto da qualidade de vida de bebês prematuros muito pequenos, quando todas as técnicas modernas são empregadas. Os avanços nos cuidados obstétricos e neonatais e na tecnologia levaram, gradualmente, a uma melhora considerável na qualidade de sobrevivência para até mesmo os bebês de muito baixo peso (BRUM & SCHERMANN, 2004) 4.2 O vínculo mãe-bebê numa UTI neonatal Como já foi bastante enfatizado no capítulo anterior, quando a mãe se vincula com seu filho, ela estabelece um compromisso emocional com a criança, o qual pode ser a força fundamental que estimula a mãe a cuidar do filho. Sem este compromisso por parte de quem cuida do bebê, as probabilidades de ele crescer e desenvolver-se adequadamente são menores. A ausência deste compromisso pode gerar perturbações de vinculação, e esta perturbação pode constituir-se em uma das circunstâncias que leva a criança a ser maltratada e a não se desenvolver adequadamente (KANG, 1982). Existem evidências consideráveis de que, no momento do nascimento e durante meses a fio, as necessidades maternas de contato mãe-filho excedem as do bebê. A necessidade de contato íntimo materno é muito maior e consideravelmente mais prolongada, servindo não só a importantes funções psicológicas como a muitas de natureza fisiológica do período puerperal (MONTAGU , 1988). De acordo com Belli (1995), há, todavia, ocasiões, que este vínculo mãe- filho é prejudicado, interrompido abruptamente, principalmente quando a sobrevivência do neonato está em risco. Isso ocorre em situações de parto prematuro ou de nascimento de bebê de alto risco, que precisa permanecer na Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTI neonatal), longe do contato com a mãe. 41 Inúmeros problemas podem emergir dessa situação, tais como: privação da manutenção do vínculo mãe-filho; preocupação das mães pela recuperação e sobrevivência do filho; sentimento de culpa derivado desta situação e outros, como os fatores socioeconômicos, que podem influenciar a estabilidade familiar. REICHLE (1975) lembra que a simples menção dos termos cuidados intensivos ou estado crítico traz à mente situações negativas. A intervenção em UTI significa normalmente para o paciente e seus familiares uma piora das condições físicas, colocando o paciente em proximidade com a morte. Para ZIEGEL; CRANLEY (1985b), a primeira visita à UTI neonatal pode ser deprimente para os pais. O recém-nascido tem, com frequência, pelo menos uma infusão endovenosa, fios ligados para monitorização, sonda endotraqueal acoplada a um respirador e, na maioria das vezes, permanece confinado em incubadora. Esses autores, afirmam que os pais necessitam receber apoio do médico e do enfermeiro e uma explicação realista do prognóstico, para que possam compreender a doença do seu bebê e o porquê de todo o equipamento existente para os cuidados que ele está recebendo. Essas autoras ainda acrescentam que: Quando nasce uma criança sadia, o desapontamento em relação ao sexo e a aparência geral é prontamente superado. Contudo, se for um filho prematuro, doente, com anomalias, ou se a criança morre, a família passa por um período de tristeza profunda e permanece em crise por algum tempo. (Ziegel; Cranley, 1985) RAMOS; MORAES (1970) e IRWIN; LLOYD-STILL (1987) indicam que parte importante do tratamento da criança é reduzir a ansiedade dos pais por meio do oferecimento de apoio, para ajudá-los na expressão de seus sentimentos. Se a mãe ou o pai experimentam um relacionamento positivo com um profissional no hospital, seu nível de ansiedade diminui e sua percepção da situação torna-se mais positiva. Ainda em relação a assistência à família de recém-nascido de alto risco, uma equipe hospitalar deverá - mesmo dentro das circunstâncias especiais de cuidados intensivos - facilitar ao máximo as possibilidades de contato entre a mãe 42 e o bebê. Para isso, a mãe deverá ter livre acesso à unidade neonatal podendo tocar e acariciar o filho, mesmo sem poder pegá-lo no colo quando ainda está em estado grave. Considerando que, não obstante o aparato tecnológico que envolve uma UTI neonatal, as mães têm condições e o direito de participar da assistência de seus filhos (BELLI; TSUNECHIRO. 1989, 1992). Esta crença também é enfatizada por ZIEGEL; CRANLEY (1985a), ao afirmarem que os pais devem ser considerados como membros da equipe de assistência e não como visitantes. A presença do familiar deve ser vista com naturalidade, e não como um elemento ainda estranho no ambiente hospitalar. A família não deve mais ser vista como "visitante", mas como integrante do processo de cuidar. Os familiares fazem parte do mundo da vida daquela criança e aos profissionais cabe a sensibilidade de compreendê-los nessa perspectiva. O cuidado centrado na família tem sido descrito na literatura como uma abordagem de parceria para
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