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2021/2 CHESR ART Abordagem de tosse na urgência pediátrica Caso clínico 01 Cauã 4 anos e 2 meses, tosse há 6 dias. Mãe (Marisa) relata início de tosse seca há 6 dias, afirma persistência do quadro durante todo o dia com piora durante a noite, afirma uso de xarope fitoterápico sem melhora, afirma ter percebido criança mais ofegante, cansado, com respiração mais curta. Afirma episódio único de vômito após tosse. Afirma coriza. Nega febre e dor de cabeça. Mãe afirma recorrência do quadro, afirma trazer filho a instituição com frequência com quadro similar, afirma uso de antibiótico e predsin, afirma presença de “chiado” relatada em outros atendimentos, relata ocorrência dos sintomas de acordo com mudança climática. Relata dificuldades durante alimentação, filho está comendo menos em decorrência da tosse, mas apetite está mantido, nega perda de peso. Relata que filho sente-se cansado em brincadeiras. Afirma ouvir a criança roncar. Nega alergias medicamentosas, afirma alergia a ácaros, nega uso de medicação. Cartão de vacinação em dia. Parto normal, á termo, sem intercorrências. Histórico paterno de doença do trato respiratório e materno de rinite. Exame físico: Criança alerta, ativo, hidratado, pele seca apresenta fala monosilábica, entrercortada por falta de ar. Tº 36,5. Presença de sibilo difuso, com tempo expiratório prolongado, presença de utilização da musculatura abdominal e tiragem subcostal. Saturação 96%, FR = 49. ACV sem alterações, estável. Abdome tenso. Desenvolvimento adequado para idade. Hipótese diagnóstica Asma. Comentário: O quadro conta com um HFAM positiva, a recorrência do quadro, ausculta de sibilo anterior, limitação de atividade física e se vê que é um menino mal manejado, usa constantemente corticoide oral e antibiótico, sem nunca fazer uma profilaxia, fechando um quadro de broncoespasmo agudo, já tem um histórico de quadro de broncoespasmo, mas também poderia abrir um quadro nesta idade. Neste momento pode-se falar com a mãe que parece que ele é alérgico, pode ser que ele tenha uma tendência a asma, vamos ver a resposta ao tratamento. Não tem necessidade de fazer exame complementar, não define diagnóstico, só se faz se há dúvida no dx, caso contrário não vai fazer. Raio X com hipertransparência, retificação dos arcos costais, aumento do arco intercostal, hiperinsuflação. Pode estar relacionado a quadro de obstrução de V.A distal levando ao aprisionamento aéreo, a ausculta de sibilo mostra que a criança está prendendo o ar, o ar entra e tem dificuldade pra sair, devido a broncoconstrição da musculatura lisa distal do brônquio. Todos os sintomas vão ser expiratórios, aumento do tempo expiratório, aumento do trabalho expiratório, utilizando musculatura abdominal e a medida que vai se aprisionando o ar e não há abertura da V.A há redução das trocas gasosas com queda da saturação, então a gravidade vai depender do grau da obstrução e do quanto eu to aprisionando ar ali. O raio X poderia estar normal e poderia estar todo infiltrado com espessamento, sem a presença de pneumonia. Dra. Mª Fernanda FAME Pediatria 2021/2 CHESR ART Abordagem terapêutica: • Oxigênio - Cateter nasal de 1-6 L, FiO2 24 a 44%, desde que confortável para a criança. - Máscara de reservatório não reinalante - 10-15 L, FiO2 100%, pelo mínimo de tempo possível. - Máscara de Venturi - FiO2 24-70% - trocar a medida que o paciente melhora. • Medicação - Salbutamol (β2 de curta duração) de ataque. • Crianças menores (lactente) 2 jatos, crianças maiores 4 jatos, podendo extrapolar até 10 jatos. • Salbutamol 4 jatos 3x de 20 em 20 minutos, para cada jato contar 15 segundos, usar com espaçador. • Avaliar pct a cada dose. • O uso de Salbutamol de hora em hora pode causar Hipopotassemia. - ou Nebulização com Atrovent - se não tiver outro recurso ou pct grave sem drive respiratório usar Berotec em alto fluxo para ganhar tempo. - Brometo de Ipatrópio - caso não melhore, repetir ataque com ipatrópio + Nebulização com Atrovent, manter de hora em hora, efeito só até a 3ª hora. - Predsin - corticoide oral → xarope - Tentar espaçar inalações - hora em hora, duas em duas horas, três em três horas até 4 em 4 horas. - Quando espaçado de 4 em 4 horas, sem queda de saturação e sem esforço, pode liberar para casa. Como está o esforço? Utilizando musculatura abdominal, intercostal ou batimento de haletas? Como está a saturação? Como está o estado de consciência, como está a fala ou choro? Crise leve Dra. Mª Fernanda FAME Pediatria 2021/2 CHESR ART • Crise leve: pct que chegou sibilando, mas não tem esforço respiratório importante, saturação de oxigênio acima de 90%, pct sem alteração de consciência, sem alteração de fala nem de choro. • Fazer O2 se necessário - manter St O2 > 92. • Fazer ataque → se não melhorar entrar com corticoide sistêmico e tentar espaçar a dose de ataque. • Broncodilatador de curta se não melhorou corticoide. Crise moderada • Crise moderada: pct com fala entrecortada, StO2 = 90%. • Conduta: Ataque e corticoide sistêmico na 1ª hora. • Broncodilator de curta + corticoide na 1ª hora, se não melhorar ipatrópio. Dra. Mª Fernanda FAME Pediatria 2021/2 CHESR ART Crise grave • Crise grave: StO2 < 90%, superficializando respiração, muito sinal de esforço, tiragem intercostal, batimento de paleta, letárgico, não consegue mais falar, fala mais débil. • Conduta: O2, ataque, corticoide na primeira hora e ipatrópio. • Ataque com ipatrórpio + β2 + corticoide na 1ª hora + sulfato de magnésio se não melhorar. Doses • Orientações p/ uso de bombinha - Tampar base do nariz e queixo. - Cç > 7 a pode usar peça bucal → 5-10 inspirações profundas a cada jato. - Cç sentada, agitar, acoplar ao espaçador e apertar → forma fumaça no espaçador. - Segurar de forma firme e esperar 15 segundos e pedir cç para fazer inspiração profunda. - Espaçador → seleção de partículas para deposição pulmonar distal, adulto não usa. - Dica p/ ver se acabou a medicação → colocar na água, se boiar acabou o remédio. - Limpeza → molho em bacia com água e detergente por 15-20 min, deixar secar e guardar. • Espaçou de 4/4 horas → agora ta sem esforço, ta saturando bem, ta chiando um pouco a tosse pode persistir de leve, mas já tem condição de ir para casa, manter Aerolin de 4/4 horas, manter corticoide oral de 3-5 dias e procurar pediatra. Dra. Mª Fernanda FAME Pediatria 2021/2 CHESR ART Fluxograma Dra. Mª Fernanda FAME Pediatria 2021/2 CHESR ART Caso clínico 02 Enzo 11 meses, tosse há 04 dias. Mãe (Marta) relata que a uma semana criança vai apresentando sintomas gripais, coriza e espirros. Afirma ronco, congestão nasal e secreção nasal transparente. Relata que há 04 dias tem apresentado tosse seca evoluindo para produtiva, afirma piora durante o período noturno, apresenta também cansaço nos últimos 02 dias. Afirma febre não termometrada. Melhora do quadro com lavagem com soro e nebulização, porém piora nos últimos dias. Em uso de sulfato ferroso e vitamina D, vacinação em dia. Relata que irmã mais velha apresentou quadro gripal na semana anterior, com melhora espontânea em 03 dias. Irmã e mãe portadoras de rinite. Exame físico: Criança ativa alerta, chorando forte, afebril. Ausculta difusa de sibilo, estertores, roncos de projeção. Utilização da musculatória abdominal, tempo expiratório prolongado, discreta tiragem subcostal, StO2 = 94 % e FR=52. ACV sem alterações. Comentário: Idade compatível, abaixo dos 02 anos quando pensarmos em quadro respiratório baixo, temos que pensar em bronquiolite e sabemos que abaixo dos 02 anos 80% dos quadros são virais, a criança e a irmã apresentaram pródromos gripais e ouve-se sibilos na ausculta. A broquiolite viral aguda é o 1º episódio de broncoespasmo na criança, pode se tratar de uma exarcebação de asma ou mesmo diagnóstico diferencial, no entanto, o primeiro episódio de broncoespasmo acompanhadode pródromos gripais com essa ausculta a primeira hipótese é bronquiolite. É uma inflamação da via aérea distal também, o diagnóstico sindrômico é uma obstrução de via aérea inferior. La na asma temos um sibilo seco e uma constrição muscular, aqui tem inflamação. Exames complementares: Hiperinsuflação, uai mas sibila e tem hiperinsuflação, então é a mesma coisa da asma? Podia ter um raio X normal? Sim. Podia vir um raio X infiltrado? Sim. Ele vai te ajudar? Não. Vai mudar sua conduta? Não. Então precisamos dele? Não. Mas o fato é, estou aprisionando ar do mesmo jeito, tenho uma obstrução de via aérea inferior do mesmo jeito. Mas aqui é diferente, não tem alteração da musculatura, aqui vai ser um acúmulo de edema e secreção, uma impactação mucoide, com isso vai diminuindo a luz do brônquio e vai gerar a hiperinsuflação. Mas vemos que a musculatura do brônquio não altera. Ah, mas esse menino, a irmão tem asma e ele tem a pele muito seca, parece que tem uma dermatite atópica, será que se esse vírus entrar em contato com ele, ele pode reagir? Pode, em algumas crianças podemos ter alguns componentes nos lactentes sibilantes. Dra. Mª Fernanda FAME Pediatria 2021/2 CHESR ART Classificação: Chegou um pct no seu consultório tá chiando, tá com utilização de musculatura abdominal, mas satura bem, mama bem, não tem alteração de choro, bronquiolite leve. Chegou um pct com choro mais curto, a saturação já tá caindo, já tem tiragem intercostal ou já está evoluindo para batimento de haleta já é moderado a grave, para sabermos o manejo. Vamos avaliar a ingesta oral, a FR, o padrão respiratório, saturação e comportamento. Tratamento • Suporte → doença viral autolimitada, pode prolongar por até 3 a 4 semanas. - Oxigênio se necessário, se for uma criança muito pequena, muito prostradinha, usar o Hood. - Dieta 0 - Hidratação venosa - Corticoide → não altera evolução da doença, gravidade, indicação de internação, nem tempo de permanência hospitalar e período de melhora. - Broncodilatador β2→ não trata bronquite viral, existe evidência para deixar na prescrição → histórico familiar ou pessoal de atopia → prova terapêutica → se não responder, retirar. - Solução salina hipertônica (3-5%) →não altera evolução da doença, gravidade, indicação de internação, nem tempo de permanência hospitalar e período de melhora. Prevenção A bronquiolite pode ser causada por qualquer vírus, mas temos uma incidência grande de vírus sincicial respiratório. Então prevenimos com cuidados, evitar frequentar lugares cheios com RN, higiene, lavagem de mãos. Para crianças pré-maturas, com doenças pulmonares, cardíacas então essas crianças até completarem 02 anos - quando estão mais susceptíveis a infecções virais, quando estão criando imunidade e quando a via aérea tem um calibre muito peculiar, que reduz a luz com qualquer catarro. Usamos pra essas crianças um anticorpo monoclonal contra o vírus sincicial respiratório, Palivizumabe. Dose 1 a 5 doses: 15 mg/kg IM 30/30 dias Sazonalidade do vírus sincicial respiratório (VSR) e períodos de aplicação do Palivizumabe no Brasil, por regiões geográficas. Dra. Mª Fernanda FAME Pediatria 2021/2 CHESR ART Hood: Manejar até conseguir desmamar do oxigênio e o ideal é chegar na menor FiO2 que mantenha a saturação desejada. Dra. Mª Fernanda FAME Pediatria
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