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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS CURSO DE PSICOLOGIA NOTA DE AULA - AV2 Disciplina: Processos Psicológicos Básicos I: Sensação, percepção, emoção e memória. Professor(a): Mariana Alencar Alcântara de Brito. Alunos(as): Deborah Alves, Flora Dimitria, João Henrique Lima Farias, Laís Vidal, Maryane Ellen Medeiros, Victória Diniz dos Santos. Ivo Suzin e o Alzheimer Objetivos Podemos afirmar que nossas memórias são responsáveis por quem somos, do que gostamos, o que já vivemos e quem amamos. Entretanto, diversas patologias são capazes de afetar essa parte do nosso ser, podendo alterar completamente a personalidade de uma pessoa ou remover pontos importantes na formação do caráter de cada um de nós. O objetivo deste trabalho é relatar um caso onde houve uma perda de memória e, posteriormente, uma superação desta dificuldade. Escolhemos relatar o caso de Ivo Suzin, de 58 anos, que aos 52 foi diagnosticado com Alzheimer. Durante o desenvolvimento, planejamos relatar quem é Ivo Suzin, como a doença que o assola se desenvolve no ser humano, trazer detalhes de seu estado antes e depois do início do tratamento com óleo de cannabis e, além disso, apresentar a superação de todas as dificuldades enfrentadas pelo paciente, inclusive a perda de memória. Metodologia Após a escolha do caso, realizamos a pesquisa bibliográfica sobre memória, Alzheimer, o uso da Cannabis medicinal e o próprio Ivo Suzin, em especial no seu Instagram, onde seu filho desenvolveu uma espécie de diário de caso para o pai, expondo vídeos, sua história antes do Alzheimer e seu atual cotidiano, além de uma organização sem fins lucrativos na busca pelo acesso democrático à cannabis medicinal. Apresentação e aprofundamento no caso do seu Ivo Começamos a abordar o caso de Ivo Suzin, de 58 anos, ou “seu Ivo” como é chamado carinhosamente, falando sobre seu quadro de Alzheimer, que tornava muito turbulenta a vida dele e de sua família. Sua esposa e filho relataram muitas dificuldades para cuidar de um homem adulto que, num outro momento de sua vida, foi uma pessoa doce e gentil mas, após o diagnóstico de Alzheimer aos 52 anos, quanto mais o tempo passava mais debilitante se tornava sua condição. O mal de Alzheimer será propriamente trabalhado com mais detalhes posteriormente neste trabalho, mas, num primeiro momento, trazemos a apresentação do caso isoladamente. O seu Ivo se tornou agressivo, desorientado, instável e uma pessoa totalmente dependente e difícil de ser cuidada, conforme seu quadro se agravava. Chegou a perder completamente sua identidade, de acordo com a sua esposa, Solange. Seu filho e esposa chegam a afirmar que o que aconteceu com Ivo é quando o corpo está ali, mas a mente foi embora. Em gravações, é possível observar o que é relatado sobre Ivo se tornar agressivo e precisar de ser quase forçado a fazer necessidades básicas por não compreender que precisa fazê-las. Ele distribui chutes, tapas e empurrões em sua família debaixo do chuveiro e precisa ter as mãos seguradas, como mostram alguns vídeos. Devido a Alzheimer, seu Ivo tomava muitos medicamentos laboratoriais. Ele tinha o sono prejudicado e o humor muito instável. Segundo o relato da família, a quantidade de medicamentos o deixava cada vez mais dopado e já não tinha mais reações e eles temiam que isso o levasse futuramente a ficar acamado, pois ele já não estava mais andando. Ele não se alimentava sozinho, era necessário colocar a comida na boca dele e ele não sabia que deveria mastigar, a cada refeição era necessário ensiná-lo a comer novamente. Devido a agressividade, a família do seu Ivo chegou a pensar que teria que recorrer a internação, pois ele ficava sozinho com a esposa em casa e já havia chegado ao ponto de tentar enforcá-la. Ele já havia se tornado um risco dentro de casa, pelas agressões repentinas. A família de Ivo se mostrava muito preocupada com relação às medicações farmacológicas prescritas pelos médicos, uma vez que não viam melhora no quadro dele e, em vez disso, observavam impotentes a debilitação progressiva do senhor. Entretanto, os médicos, de acordo com os relatos da família, não encontraram soluções diferentes a não ser mudar a medicação ou ajustar a dosagem. Esse tom inflexível que estava sendo ineficaz para a condição de Ivo fazia com que a família ficasse cada vez mais frustrada com o tratamento, que já durava mais de 5 anos assim. Um tratamento alimentar havia sido o tratamento mais alternativo que eles conseguiram alcançar antes da grande guinada que a condição do seu Ivo teve, mas foi nesse que houve a maior decaída em que o organismo do seu Ivo já não respondia às tentativas e então foi necessário abrir mão de deixá-lo dopado, e a convivência chegou ao ápice da dificuldade. O medo que a família tinha era de o seu Ivo perder sua atividade e precisar ser acamado, de fato. E com a intervenção farmacológica, a palavra dos médicos era que não era possível impedir o avanço da condição, no máximo adia-la. E, mais cedo ou mais tarde, o seu Ivo iria acabar ficando acamado. Foi nesse momento que, buscando qualidade de vida para todos da família, o filho, Filipe Suzin, foi o responsável por pesquisar e estudar para que fosse encontrado um método alternativo de intervenção, que fez com que a família voltasse a ver o seu Ivo sorrindo, andando, comendo e dormindo normalmente de novo. E, não obstante, mostrando resultados na regressão do Alzheimer de forma tão rápida que parecia milagrosa, com o óleo de cannabis. Memória e Esquecimento - Entendendo o Alzheimer Neste espaço, gostaríamos de enfatizar alguns pontos importantes sobre o Alzheimer. Entretanto, para isso, é necessário entender alguns conceitos a respeito do funcionamento da memória com o intuito de promover um melhor entendimento sobre essa doença neurodegenerativa. Podemos entender a memória como o processo de codificação, conservação e recuperação de informações, inicialmente analisada a partir desses três sistemas distintos, sendo eles: memória sensorial, na qual as informações são gravadas por um intervalo de tempo muito curto, se não processados, os dados podem se perder, se processados, passam para a memória de curto prazo; memória de curto prazo, também conhecida como memória de trabalho, é o primeiro “nível” de retenção de dados com sentido, sendo essas informações reduzidas às suas partes importantes; memória de longo prazo, dividida em de procedimentos e declarativa, sendo essa última subdividida em semântica e episódica. As falhas na memória levam a esquecimentos que comprometem o armazenamento das informações . Essas falhas podem ocasionar situações nocivas ao bem estar e à saúde. Porém, também deve-se levar em consideração que a falha de memória é essencial para lembrar informações importantes, uma vez que o fato de esquecermos detalhes irrelevantes de determinadas situações nos permite ter uma visão mais geral e usar nossa capacidade de armazenamento de maneira mais econômica. Mas quais os motivos de ocorrerem essas falhas de memória? Chamamos de declínio a perda de informações ocasionadas pela falta de utilização, como quando estudamos para uma prova e semanas depois não lembramos mais do conteúdo visto. Aos casos em que uma informação interrompe a recordação de outras informações, damos o nome de interferência. Pode ser proativa, quando o dado aprendido anteriormente impede a recordação de material mais novo, ou retroativa, quando se há dificuldade de recordar informações mais antigas devido à apresentação posterior a um material diferente. Disfunções de memória - o Alzheimer Reconhecida como uma grave disfunção, em seu início leva à esquecimentos simples e vai se tornando cada vez mais profunda, afetando mesmo as tarefas mais simples do cotidiano de seus portadores, como tomar banho. Ao comparar as imagens dos cérebros de duas pessoas, uma com e outra sem a doença de Alzheimer, é possível visualizar que, à medida que a doençaavança, a cognição relacionada à memória é cada vez mais afetada. Suas causas não são completamente compreendidas. No entanto, o defeito na produção da proteína beta-amiloide, indispensável para o bom funcionamento das células nervosas, tem sido fortemente indicada como uma das possíveis justificativas. Outro ponto de atenção é que o cérebro de pessoas com Alzheimer apresentam placas e emaranhados de células nervosas são encontrados em cérebros ditos normais. Apesar de apresentar maior incidência na população com mais de 80 anos, há a ocorrência do chamado mal de Alzheimer prematuro, o qual acomete pessoas com idade significativamente inferior, podendo até atingir indivíduos com cerca de 20 anos de idade. Os sintomas, mesmo com início leve, seguem se desenvolvendo gradualmente e de forma irreversível, levando à perda das habilidades de comunicação e à degeneração física, acarretando a morte do indivíduo. Os sinais iniciais do Alzheimer se apresentam na memória episódica e à medida que evolui a memória semântica também passa a ser afetada. Embora sem cura, é possível, através de tratamentos, tornar a progressão da doença mais lenta. O uso de medicamentos, como o Aricept (donepezil), é a forma terapêutica mais comum. No entanto, outras possibilidades de intervenção foram aprofundadas, como o uso da Memantina, primeiro fármaco aprovado para tratar os sintomas de casos moderados aos severos e o uso de fármacos contra o diabetes, devido à sua correlação com o Alzheimer. Porém, além do uso de medicações, outras técnicas de tratamento não farmacológicas vêm sendo aprofundadas, como uma alternativa menos agressiva ao organismo dos pacientes, como uma busca pela melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Dentre os tratamentos possíveis, a reabilitação cognitiva e multidisciplinar foi identificada como um dos principais caminhos alternativos, mas procedimentos como a arteterapia também foram citados como casos de sucesso. Síntese da intervenção e superação O uso terapêutico da Cannabis é estudado pela ciência e utilizado em vários países no tratamento de inúmeras doenças, como câncer, depressão, ansiedade, esclerose múltipla, fibromialgia, alzheimer, epilepsias e dores neuropáticas, proporcionando aos pacientes a manutenção da saúde e incremento da qualidade de vida. No Brasil, a planta é proibida pela Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas) e seu uso medicinal passou a ser debatido no ano de 2014, tendo em vista o caso de uma encomenda internacional contendo óleo de Cannabis rico em canabidiol (CBD), apreendida pela alfândega. A encomenda tinha destino a uma mulher que importava o óleo ilegalmente há algum tempo, pois era o único produto capaz de controlar as crises epiléticas que sua filha sofria. A menina foi a primeira paciente no Brasil a fazer uso legal de Cannabis, após obter autorização judicial para importar o óleo. A regulamentação do uso medicinal da Cannabis, promovida pela Anvisa ocorreu em 2015, no entanto com algumas limitações. O CBD passou a ser classificado como substância controlada e definiram-se critérios para a importação de produtos à base de CBD e também de outros canabinóides, por pessoa física, ou associações de pacientes, mediante prescrição médica. Atualmente, a situação da Cannabis medicinal se encontra da seguinte forma: a prescrição médica é legal, porém antiética, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM). O uso de medicamentos registrados na Anvisa é permitido, no entanto, não há registros de nenhum medicamento à base desses canabinóides. É permitida a importação de produtos à base de THC e CBD, por pessoas físicas e para uso próprio, com função terapêutica mediante prescrição médica. A Cannabis possui pelo menos 113 tipos de canabinoides. O THC (tetrahidrocanabinol) e o CBD (canabidiol), o CBG (cannabigerol) e o CBN (canabinol) são os canabinóides mais conhecidos e diversos estudos têm sido conduzidos a partir deles. Vários grupos de pesquisa têm encontrado efeitos clínicos importantes com a utilização destes canabinoides tais como: alívio da dor, diminuição da inflamação, efeito neuroprotetor, vasoprotetor e tratamento da insônia. No entanto, apesar dos avanços nas pesquisas, tendo em vista as questões que permeiam a Cannabis, sendo elas sociais e culturais, este uso se torna dificultoso, tanto pelo valor que se é gasto, quanto pelas questões sociais que envolvem este assunto. Uma das doenças que, ultimamente, tem sido alvo de estudos por conta do aumento da expectativa de vida, é o Alzheimer. Vários estudos comprovam que apesar de apresentar certa eficácia questionável, o tratamento com a Cannabis medicinal pode ser muito proveitoso e de sucesso para os pacientes que sofrem com doença de Alzheimer (DA). No sistema nervoso são encontrados dois tipos de receptores canabinóides: o CB1 (receptores canabinóides tipo 1), no SNC (sistema nervoso central) e esta localização destes receptores sugere que há um envolvimento deste sistema na modulação da memória, emoção, dor e movimento, e o CB2 (receptores canabinóides tipo 2), que constitui o principal receptor nos tecidos periféricos, as principais funções descritas para este receptor até o momento estão relacionadas ao processo inflamatório, modulação da liberação de citocinas e diferenciação de células neuronais e não neuronais. O CBD e o THC são os principais canabinóides estudados, na questão do Alzheimer O CBD demonstra um efeito protetor, sua eficácia como agente neuroprotetor, anti-inflamatório e antioxidante já foi estudada e comprovada. O THC deriva em parte da ativação dos receptores CB1, estes são encontrados com abundância no sistema nervoso central, como citado acima. O tratamento baseado em fitocanabinoides em uma combinação de CBD e THC produziu em humanos efeito neuroprotetor, estes efeitos foram mediados pela ativação dos receptores CB1 e CB2. Do ponto de vista clínico, embora nenhum estudo relate que a Cannabis possa modificar, retardar ou curar a DA, várias publicações relatam que os canabinóides podem melhorar os sintomas neuropsiquiátricos relacionados a DA, tais como: agitação, perda de peso e alterações do sono. O início do tratamento com o óleo da cannabis foi ideia de seu filho Filipe, que sofre há anos com leucemia e utiliza do mesmo produto para amenizar as reações à quimioterapia. Após diversas idas em diferentes médicos, sem sucesso ao encontrar um disposto a receitar a cannabis, Filipe encontra uma ONG em sua cidade que realiza acompanhamento com pacientes assolados por diversas enfermidades e que as tratam com a cannabis. Após o contato com essa organização, que disponibilizou o óleo para a família, iniciou-se uma batalha judicial para legalizar o uso e também conseguir o aval para realizar sua própria plantação e fazer o óleo em casa, que tem um custo mais baixo do que seguir adquirindo já produzido. Com o acompanhamento de um médico indicado pela própria instituição, atualmente o seu Ivo, que antes utilizava diversos remédios em doses altíssimas, só faz o uso do óleo da cannabis, sem nenhum outro medicamento. A família relata que apenas 3 dias após o início do tratamento com o óleo full spectrum da cannabis foi possível notar uma melhora no quadro de seu Ivo. O óleo utilizado pelo mesmo contém todas as propriedades da cannabis, como o tetrahidrocanabinol (THC), o principal componente psicoativo, responsável pela “brisa”, o canabidiol (CBD), conhecido pela sua utilidade terapêutica e poucos sintomas adversos, e o canabicromeno (CBC), que tem propriedades anti-inflamatórias, fungicidas e bactericidas. Com o início do tratamento, foi possível voltar a identificar o homem carinhoso, gentil e brincalhão que o paciente uma vez fora antes de ser assolado pelo Mal de Alzheimer. Em vídeos, seu filho documenta a nova rotina alimentar, além de sorrisos e brincadeiras que, por 5 anos, eram impensáveis. Sua esposa relata que seu Ivo voltou a dormir durante toda a noite, abandonou os comportamentosagressivos e, mesmo sendo uma pessoa extremamente ativa, agora consegue descansar durante a tarde, hábito há muito tempo perdido. Sem as agressões, a família sente-se mais relaxada com seu Ivo, que agora consegue brincar com sua neta e colocá-la no colo, abraçar sua esposa e seus filhos e não demanda tanta atenção como antes. Sua família diz que agora consegue olhar nos olhos do paciente e reconhecer novamente quem ele era, cheio de alegria e carinho para dar. Além de todas essas melhorias físicas, psicológicas e comportamentais, é de extrema importância relatar a superação de sua perda de memória. Por anos, Ivo não era capaz de reconhecer seus filhos e sua esposa, além de não lembrar como ou porque precisava realizar as atividades básicas, como comer e realizar higiene pessoal. Em um vídeo emocionante, seu filho Filipe relata que, após apenas alguns meses de tratamento com o óleo de canabidiol, Ivo foi capaz de reconhecê-lo como seu filho e dizer que o ama. Sua esposa afirma ter reencontrado seu amor, que agora a reconhece e a trata com carinho e atenção. Entretanto, vale ressaltar que não houve uma regressão total de todos os sintomas do paciente. As células cerebrais não têm a capacidade de se regenerar, e como o tratamento demorou anos para ser administrado, existem danos que são irreparáveis. Referências Bibliográficas CANABINOIDES como uma nova opção terapêutica nas doenças de Parkinson e de Alzheimer: uma revisão de literatura. Bras Neuro, [S. l.], v. 55, p. 17-32, jun. 2019. CARVALHO, Paula Danielle Palheta; MAGALHÃES, Celina Maria Colino; PEDROSO, Janari da Silva. Tratamentos não farmacológicos que melhoram a qualidade de vida de idosos com doença de Alzheimer: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 65, p. 334-339, 2016. ENTRE a criminalidade e a constitucionalidade: o cultivo e produção de cannabis para ins terapêuticos. Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, [S. l.], p. 1676-3661, set. 2016. FALCO, Anna De et al. Doença de Alzheimer: hipóteses etiológicas e perspectivas de tratamento. Química Nova, v. 39, p. 63-80, 2016. KOLLER, Silvia. PSICO. 1. ed. Porto Alegre - RS: AMGH EDITORA, 2012. cap. 6, p. 149-172. POSSÍVEL utilização de canabinoides na Doença de Alzheimer: uma revisão. FAG Journal of Health, [S. l.], p. 195-199, 27 jun. 2021. STERNBERG, Robert. Psicologia Cognitiva. 5. ed. São Paulo - SP: Cengage Learning, 2010. cap. 5, p. 153-188.
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