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Dermatologia pequenos animais

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dermatologia pequenos animais
clinica de pequenos I (UFU)
DERMATITES BACTERIANAS
As dermatites bacterianas são infecções de pele causadas por bactérias, elas podem ocorrer na forma superficial acometendo apenas a epiderme e o epitélio folicular. Ou profunda quando invade outros tecidos como a derme e o subcutâneo, neste caso são mais graves e podem causar celulite e o tratamento é mais prolongado. Na clínica de pequenos as dermatites superficiais são mais frequentes. A flora bacteriana é essencial para a proteção da pele, ela fica em harmonia com o hospedeiro, mas o desequilíbrio desta flora pode acarretar em infecções por outras bactérias.
· Fatores predisponentes
Alguns distúrbios podem favorecer alterações da pele e predispor doenças bacterianas.
· Distúrbios de queratinização (hiperqueratose);
· Alergias (uma das causas mais comuns);
· Parasitas;
· Leveduroses; 
· Microsporíase;
· Endocrinopatias; 
· Anormalidades nos hormônios gonadais; 
· Displasias foliculares;
· Manejo higiênico e sanitário inadequado;
· Terapia imunossupressora.
A causa é sempre importante, e deve ser descoberta sempre que possível, pois se não for removida causará recidivas.
· Agente etiológico
No passado, acreditava-se que a principal bactéria responsável pelas dermatites era Staphylococcus intermedius, porém acredita-se que essa categorização foi feita por falta de classificação específica. Atualmente sabe-se que o agente etiológico mais frequente na clínica de pequenos é o Staphylococcus pseudointermedius. É uma bactéria coco, gram positivo e coagulase positivo, normalmente a pele consegue se proteger desta bactéria e a microbiota residente será importante para auxiliar nesta proteção. Quando há algum distúrbio causado por algum fator predisponente ocorre a fixação destas bactérias.
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· Dermatites superficiais
Impetigo: É caracterizado por pústulas subcorneais (acúmulo de secreção recoberta por pele, é facilmente rompida) que acometem a pele, sem envolver o folículo piloso, ocorrendo em áreas glabras (sem pelo). Quando as pústulas se rompem formam os colarinhos epidérmicos que são constituídos de crostas que ficam em torno da lesão, e é mais frequentemente visto que a pústula. A crosta possui cor de mel sendo chamada de melicérica, essa coloração ocorre devido a coloração do conteúdo da pústula. Geralmente ocorre em cães antes da puberdade (<6 meses), muito comum em animais jovens que vivem na rua. Não é contagioso, e o prurido é discreto, é mais comum em jovens parasitados por ectoparasitas ou parasitas intestinais, que habitam ambientes sujos, mal nutridos, é mais frequente na região abdominal em áreas glabras.
 Foliculite bacteriana: Ocorre uma pústula inflamatória no folículo piloso, ela fica retida dentro do folículo e o pelo emerge por ela. Normalmente é visto apenas crostas e colarinhos epidérmicos, similar a uma alopecia circular, também são observados caspa, os pelos tendem a cair deixando áreas alopécicas (similar a ruídos de traça, sendo chamado de “aspecto ruído de traças”), as áreas com alopecia podem ficar com o centro hiperpigmentado, geralmente apresenta prurido (50% dos casos). Pode ser causada por trauma, pelos sujos, parasitas (Demodicose, casada pelo parasita Demodex spp. que fica dentro do pelo, pode ser diagnosticado pelo raspado cutâneo), fatores hormonais, seborreia, alergias e irritantes. 
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 Piodermite mucocutânea: Afeta regiões de transição entre mucosa e pele (perilabial, periocular, perivulvar), pode ocorrer por atrito que causa lesão. Observa-se uma área com tumefação e eritrema simétrico, eroderitematosa (erosões avermelhadas), pústulas, crostas, fístulas, podem ocorrer inúmeras recidivas. Em casos crônicos, com múltiplas recidivas observa-se discromia ou hiperpigmentação, com dor local. Raças como Pastor Alemão e Cocker Spaniel são predispostas, deve-se realizar diagnóstico diferencial para doenças auto-imunes que podem causar lesões similares.
Piodermite esfoliativa: É menos frequente e raças como Pastor Shetland, Boorder Collie, Collie e Pastor Astraliano. Ocorre, supostamente causada por uma toxina esfoliativa produzida pela bactéria, mas não é totalmente elucidado. Está relacionado a dermatoses crônicas, ocorre em áreas glabras, principalmente em região axilar e inguinal, e é mais comum em idosos. Pode estar associado a excesso de umidade local, formam lesões em alvo, circulares, são maiores que os colarinhos epidérmicos, também formam alguns colarinhos, o centro pode ser hiperpigmentado.
 Foliculite piotraumática/Dermatite úmida aguda: Tem um surgimento e progressão abrupto, normalmente ocorre quando o animal sente dor ou outro estímulo e lambe, coça e morde. É predisposto por doenças ortopédicas e outras causas de dor frequente, ou doenças que causam prurido constante como DAPP. Caracteriza-se por lesões com alopecias, exulceradas, úmida, amareladas, com contornos definidos e uma região central com grande quantidade de material proteináceo. É frequente na região da bochecha e pescoço, causa muita dor e pode ser necessário anestesiar o animal para realizar o exame e tratamento. As raças predispostas são Rottweller, Chowchow, Golden, Labrador, Pastor Alemão, São Bernardo, SRD, normalmente são animais de pelos densos com grande quantidade de subpelos.
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· Dermatites profundas
As piodermites profundas são causadas quando as piodermites superficiais invadem os tecidos profundos podendo romper o folículo piloso chamada furunculose. São classificadas como localizadas (geralmente causadas por trauma), generalizada (sistêmica, normalmente causada por parasitas, alterações hormonais, erupção por drogas, seborreia e alergia). Podem ser predispostas por uso ineficiente de antibióticos (descobrir qual bactéria causadora para encontrar o antibiótico mais específico e eficaz), imunossupressão, uso excessivo de corticoides. A celulite ocorre caso a dermatite atinja o tecido subcutâneo e gorduroso.
Os principais sinais observados são: alopecia, edema, formações vesicobolhosas de coloração eritematovioláceo (vermelho/arroxeado) e até enegrecido. Formam-se fístulas e nódulos com exsudação serossanguinolentas, purulentas, piossanguinolenta ou de aspecto hemorrágico. Também podem surgirem crostas hemáticas (sangue + secreção purulenta), úlceras teciduais, atrofias e cicatrizes. As principais raças predispostas são Pit Bull e Bull Terrier que são propensos a inflamações profundas, extensas e dolorosas.
 Piodermite nasal: Ocorre na ponte nasal, ao redor dos olhos, causa prurido e dor, a pelagem fica rarefeita, na ponte nasal é a mais atingida, e a radiação solar em animais de pelagem clara principalmente e traumatismo predispõe o surgimento. As principais raças predispostas incluem Pitt Bull, Border Collie, Bull Terrier, Pastor Alemão e Dog Argentino. É necessário fazer o diferencial para furunculose eosinofílica nasal, doenças auto-imunes (frequentemente causam lesão em região de face) e dermatite actínica (é uma lesão pré-neoplásica, comum em animais de pele clara e termina em carcinoma)
Piodermite mentoniana: É um distúrbio inflamatório crônico que ocorre no queixo e lábios, é mais frequente em animais de pelo curto e jovens (tendem a ser hiperativos, se esfregando nos objetos). Está relacionada ao trauma e o pelo curto confere menor proteção a pele com inflamação bacteriana secundária. Normalmente causa eritema, pápula, nódulos (ocorre em inflamações intensas onde os nódulos surgem drenando e contendo o exsudato), crostas hemáticas ou melicéricas, edema, podem ocorrer formações vesicobolhosas de cor eritemato-violáceo (bolhas sanguinolentas que drenam o exsudato, e podem se romper). As raças mais propensas são Pitt Bull, Buldogue inglês e francês, Doberman, Pug, Rotweiller, Weimaraner.
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Piodermite interdigital: Como o próprio nome sugere ela ocorre entre os dedos,causa edema, eritema difusa, também forma vesículas ou cistos de coloração similar aos demais, fístulas que drenam o exsudato que pode ser piossanguinolento, serossanguinolento ou hemorrágico. Formam-se crostas e colarinhos hemáticos ou melicélicos, podem ocorrer lesões granulomatsas em casos crônicos, causa dor e normalmente ocorre inúmeras recidivas. É necessário avaliar o local onde o animal vive, se a região fica úmida ou outras causas, pode causar claudicação também.
· Tratamento
A anamnese e exame físico extensos são essenciais para entender a causa das dermatites, que sempre possuem uma causa base, pois se não retirar o estímulo causador vão ocorre recidivas. É necessário saber se a ferida surgiu antes do prurido, ou se o prurido causou a ferida, alguma doença base como doenças renais, problemas endócrinos, imunes e outros podem ser a causa. Avaliar também o estado geral do paciente, tempo de evolução da doença, se já houveram recidivas ou tratamentos anteriores (foi responsivo ao tratamento?), manejo e ambiente que o animal vive também influenciam e podem ser causas base. 
O exame físico deve ser feito observando possível doença sistêmica, caracterizando as lesões e os locais onde ocorrem. Os exames complementares são essenciais para fechar o diagnóstico, os principais utilizados na clínica são: raspado de pele (mais frequente), citologia (pode ser utilizado uma pústula íntegra coletando material interno, caso a pústula tenha rompido pode tentar tirar a crosta e coletar material abaixo). O cultivo e antibiograma são usados para especificar o agente causador, evitando tratamentos indiscriminados buscando evitar resistência bacteriana. A biópsia não é muito realizada em dermatites bacterianas, mas pode ser usado para diferenciar de doenças autoimunes ou neoplasias. 
Os tratamentos dermatológicos normalmente são prolongados e deve ser seguido corretamente. Sendo essenciais tratar ou remover a causa base como umidade, ambiente abrasivo e outras possíveis causas citadas. Em casos menos graves são utilizados antibióticos e antissépticos tópicos que podem ser usados como pomada, creme, loção, spray e shampoo. O shampoo é mais usado para evitar lambeduras e ingestão, também é ideal para tratamentos generalizados, pode ser usado a cada 3 dias ou uma vez por semana, deve deixa-lo agir entre 10-15 minutos sem que o animal 
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lamba o local, pode ser necessário utilizar o colar elisabetano ou roupa em alguns casos para evitar lambedura. O tratamento tópico pode ser realizado com formulações à base de:
· Ácido fusídico 1% (pomadas/sprays);
· Mucopirocina 2% (pomadas/sprays);
· Rifamicina (pomadas/sprays);
· Bacitracina (250-500 UI/g) (pomadas/sprays);
· Ciprofloxacina 0,35% (pomadas/sprays);
· Clidamicina 2-3% (pomadas/sprays);
· Gentamicina 0,3% (pomadas/sprays);
· Neomicina 0,5-1% (pomadas/sprays);
· Clorexidine 2-4% (banho, resseca a pele e pode piorar casos de alergia, é importante hidratar a pele para evitar lesões);
· Permaganato de potássio 1:10000-1:14000 (normalmente é diluído 0,1g em 1-4 litros de água para realizar pedilúvios, resseca a pele e pode piorar casos de alergia, é importante hidratar a pele para evitar lesões);
· Sabonete igarsan ou triclosan 0,5-1% (banho);
· Peróxido de benzoila 2,5-5% (banho, possui ação em folículo piloso, é muito usado em casos de Demodex spp. associado).
	Antimicrobiano
	Dose (mg/Kg) e Intervalo (horas)
	Classe
	Amoxicilina+ácido clavulânico
	20-25mg/kg a cada 12 horas
	Aminopenicilina/inibidor beta lactâmico
	Cefalexina
	20-30mg/kg a cada 12 horas
	Cefalosporina 1G
	Cefovecina (ideal para felinos, evita o estresse de várias doses)
	8mg/kg a cada 14 dias
	Cefalosporina 3G
	Cefadroxila
	22mg/kg a cada 12 horas
	Cefalosporina 1G
	Ceftiofur
	6mg/kg a cada 24 horas
	Cefalosporina 1G
	Ciprofloxacina
	5-15mg/kg a cada 12 horas
	Quinolona
	Clindamicina
	5,5-11mg/kg a cada 12-24 horas
	Lincosamina
	Doxiciclina
	5-10mg/kg a cada 12-24 horas
	Tetraciclina
	Enrofloxacina
	5-10mg/kg a cada 12-24 horas
	Quinolona
	
	Tratamento sistêmico
	
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Observações: As duas primeiras são as mais usadas (Amoxicilina+ácido clavulânico e Cefalexina), a Cefovecina pode ser uma opção melhor para felinos, pois evita múltiplas doses durante o dia evitando estresse. A Ciprofloxacina, Clindamicina e Doxiciclina são usadas em caso de resistência aos medicamentos de eleição. A Enrofloxacina produz bons resultados, mas existem inúmeros relatos em relação a resistência bacteriana. É necessário realizar o antibiograma, sempre optando pelo antibiótico mais fraco, mas ainda eficaz.
O tempo de uso é definido baseado no acompanhamento, mas normalmente são entre três semanas (superficiais) e seis semanas (profundas) de banhos, manter o tratamento mesmo após cura clínica entre 7-10 dias para as dermatites superficiais e entre 14-21 dias para as profundas. É possível manter uma periocidade de banhos em animais recidivantes quando não se descobre a causa, como na dermatite atópica. Quando o antibiograma apresenta resistência a meticilina/oxacilina normalmente há resistência a beta-lactâmicos em geral. Podem ser vistas bactérias multirresistentes que apresentam resistência a beta-lactâmicos e outras classes. 
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DOENÇAS FÚNGICAS
Dermatofitoses: As dermatofitoses são causadas por uma microbiota de fungos não pertencentes a pele, diferentemente das dermatites bacterianas. São micoses superficiais, altamente contagiosas, zoonóticas, que crescem em tecidos queratinizados como unhas e pelos. Os dermatófitos podem ser encontrados na matéria orgânica (geofílicos), nos animais (zoofílicos) ou nos seres humanos (antropofílicos). Em cães e gatos os principais agentes causadores são, em ordem decrescente de ocorrência: 
· Mycrosporum canis (zoofílico): São os principais causadores, de cerca de 98% dos casos em felinos, sendo que muitos felinos podem ser portadores assintomáticos. A forma de transmissão é através de escamações, pelos e utensílios contaminados.
· Microsporum gypseum (geofílico): Já possui 3 subespécies identificadas, e é a segunda maior causa de dermatofitose, normalmente visto em animais que tem acesso a ambientes externos com presença de matéria orgânica. Observa-se lesões em patas e focinhos mais frequentemente que são áreas que entram em maior contato com o solo.
· Tricophyton mentagrophytes (zoofílico): É a terceira causa mais frequente, mas ocorre mais raramente em felinos, é mais comum em cães, e seus reservatórios são os coelhos e roedores.
As dermatofitoses são mais frequentes em animais jovens (65,8% em animais com até um ano) e idosos imunocomprometidos. Locais com superpopulação são fatores predisponentes, assim como ambientes com inúmeros felinos que podem ser assintomáticos. As raças mais predispostas são Yorkshire e Persas, e quando ocorrem seus casos são mais graves. Os sinais clínicos levam entre uma e três semanas para surgirem, após a exposição. Os principais sinais clínicos são:
· Alopecia circular e descamação com crostas;
· Lesões circunscritas, focais ou multifocais, podendo estar generalizado;
· Perda de pelos, pelos quebradiços (possibilidade de realizar tricograma como exame complementar);
· Pápulas;
· Eritema;
· Hiperpigmentação;
· Prurido moderado em cerca de 50% dos cães e 11% dos felinos;
· Crescimento centrífugo (ele cresce para a região externa, portanto deve-se coletar material nas extremidades da lesão, pois no centro pode não haver mais fungos);
· Possui forma anular ou numular (de anel ou moeda).
Pode ocorrer de forma concomitante infecção bacteriana secundária formando o chamado complexo Quérion. O Quérion é um conjunto de lesões inflamatórias causada por dermatófitos associados a infecção bacteriana secundária, principalmente por S. pseudointermedius. Neste caso ocorre uma lesão profunda, e formações papulonodulares especialmente em região de membros e face de cães, é raro em felinos.O principal diagnóstico diferencial é tumor, e a biópsia pode ser realizada para diferenciar, onde é possível identificar o dermatófito e as bactérias no caso do Quérion. Pode ocorrer formação de pústulas características de dermatites bacterianas indicando a infecção bacteriana secundária. Caso a lesão esteja presente na região da cauda é necessário realizar o diagnóstico diferencial para Hiperplasia do órgão supracaudal, que causa uma inflamação na cauda que pode se assemelhar ao Quérion quando ocorre nesta região.
Em felinos os sinais clínicos são similares, alopecias circulares, eritema, escamas e crostas, pelos quebradiços e desgastados. Em felinos pode ocorrer uma complicação chamada Micetoma ou Pseudomicetoma que é causado pelo dermatófito que gera uma micose profunda. É mais frequentemente causada pelo agente M. canis, e é mais comum em gatos Persas, forma-se um nódulo firme que pode ulcerar ou fistular no tronco ou base da cauda.
A dermatofitose subclínica também é frequente, principalmente em felinos, principalmente em adultos que normalmente apresentam apenas uma discreta descamação com presença de alguns pelos quebradiços. Pode, ainda, não apresentar nenhum sintoma, mas ainda permanecerem como reservatório disseminando a doença. A resposta imune vai depender das células efetoras (macrófagos, neutrófilos e citocinas interferon gama, principalmente), mas normalmente é uma doença auto-limitante. O tratamento é feito para evitar disseminação da doença e devem ser realizados os diferenciais antes, os principais são:
· Foliculite estafilocócica;
· Demodicose localizada;
· Dermatite nodular para os Quérions;
· Neoplasias cutâneas para os Quérions;
· Furunculose estafilocócica para os Quérions;
· Dermatite acral para os Quérions.
É importante conhecer o histórico do paciente como medicações já utilizada, contatos anteriores com outros animais/ambientes, locais de alimentação e higienização, origem do animal, causas de imunossupressão, mudança de ambiente, doenças sistêmicas primária (sempre procurar causas de imunossupressão em animais mais velhos). O melhor exame para diagnosticar as dermatofitoses é a Lâmpada de Wood.
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· Exames complementares
Lâmpada de Wood, entre os agentes mais comuns a lâmpada só reage em casos de Microsporum canis.
Microscópio direto de pelos ou escamas (tricograma), deve ser feito nas bordas da lesão ou onde foi indicado pela lâmpada. Utiliza-se uma lâmina com óleo mineral ou KOH 10-20% com aquecimento de 15 minutos para clarificar o pelo. É possível observar os esporos circundando os pelos e a presença de hifas nas hastes destes pelos.
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Cultura fúngica em meio DTM: Coleta-se o material da lesão e coloca na placa do teste. O pH do material irá mudar, é necessário esperar entre 2-14 dias. A coloração inicial amarela passa para vermelho devido as mudanças no pH. O resultado positivo é sugestivo de dermatofitose, mas não é totalmente garantido, sendo necessário realizar a cultura fúngica.
Cultura fúngica: É necessário realizar a coleta da região que ascende na lâmpada de Wood ou da borda da lesão, pode ser usado fita adesiva para coletar. Pode também ser usado escovas de dente estéreis ou um pedaço de carpete, em animais assintomáticos ou pós-tratamento pode ser usado em todo o corpo entre 2-3 minutos. O material deve ser vedado e encaminhado para o laboratório, o cultivo pode demorar até 10 dias para começar a formar colônias, e entre 20-30 dias para um diagnóstico definitivo. O tratamento normalmente não pode esperar tanto tempo, portanto é necessário iniciar a terapia, pelo menos tópica, e sistêmica, se necessário, e após o resultado da cultura avaliar novamente o tratamento. Este é o padrão ouro e permite descobrir a espécie específica causadora.
Biópsia e citologia: Em casos de Quérion ou micetoma pode ser solicitado biópsia e citologia para diferenciar de outras causas de formações nodulares. É necessário realizar coloração especial com PAS, Gomori ou Grocott que são específicas para fungos. A citologia aspirativa deve ser feita com o conteúdo do nódulo, se for o caso. Pode ser enviado parte do tecido para cultura fúngica e realizar mais de um exame garantindo um resultado mais preciso.
· Tratamento
O tratamento pode não ser necessário, pois é uma doença auto-limitante que pode durar aproximadamente quatro meses. Os pacientes com quadros generalizados sempre devem ser tratados e a descontaminação do ambiente deve ser realizada removendo qualquer resquício de unha, pelos ou fômites que sejam fontes de contaminação. É necessário buscar uma causa base para evitar recidivas, o tratamento tópico sempre deve ser realizado para evitar contaminações e auxiliar na cura e conforto do animal, já o tratamento sistêmico deve ser avaliado. 
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O tratamento sistêmico com antifúngicos é utilizado em cães e gatos quando há lesões múltiplas e generalizadas e em casos de onicomicose (micose presente na unha). O tratamento sistêmico deve ser mantido por 30 a 45 dias e pode ser utilizado:
· Itraconazol (5-10mg/kg/SID): É o medicamento de eleição para felinos FIV positivo, pois é mais seguro, prático e eficaz, porém é mais caro. É uma droga que age por mais tempo no tecido queratinizado, pode ser administrado por pulsoterapia, com 2 doses por semana e o efeito permanece durante a semana. Pode ser administrado em uma dose menor reduzindo um pouco dos custos e a administração por pulsoterapia reduz o estresse, principalmente em felinos.
· Terbinafina (10-20mg/kg/SID).
· Griseofulvina (25-50mg/kg/SID de micropartícula ou 5-10mg/kg/SID de ultrapartícula): É contraindicado para felinos com FIV devido a predisposição de problemas na medula óssea.
· Cetoconazol (5-10mg/kg/SID): Está em desuso, pois causa lesões hepáticas importantes, com icterícia e outros sinais, por vezes pode ser utilizado por seu preço acessível.
*Para encerrar o tratamento são necessárias duas culturas negativas com intervalo de 2 a 4 semanas após a cura clínica. *
O tratamento tópico deve ser sempre realizado, e antes de inicia-lo deve ser feito tricotomia ao redor da lesão, pode ser necessário fazer uma pequena tosa em animais de pelo longo. Em seguida é feita a desinfecção para eliminar os esporos infectantes, por fim pode ser aplicado cremes e loções e/ou banhos com princípio ativo:
· Cetoconazol 2% (cremes e loções): Aplicar nas lesões e nas bordas, cerca de 6cm, os banhos normalmente são preferíveis para evitar lambedura.
· Clortrimazol 1% (cremes e loções): Aplicar nas lesões e nas bordas, cerca de 6cm, os banhos normalmente são preferíveis para evitar lambedura.
· Miconazol 2% (cremes e loções): Aplicar nas lesões e nas bordas, cerca de 6cm, os banhos normalmente são preferíveis para evitar lambedura.
· Miconazol 2% + Clorexidine 2-3% (shampoos): É o tratamento preferencial, deve ser realizado entre 1 a 2 vezes por semana durante todo o tratamento.
· Cetoconazol 2% (shampoos): Pode ser utilizado, principalmente pelo preço mais acessível, mas pode demorar para observar-se a melhora clínica, realizar entre 1 a 2 vezes por semana durante todo o tratamento.
Como dito, a desinfecção ambiental deve ser realizada para evitar novas contaminações, além disso, é necessário instruir o tutor a utilizar luvas ao manusear o animal para evitar infecção do tutor. A desinfecção pode ser realizada com água sanitária ou formalina 1%, ambas são 100% eficaz contra estes fungos. Também é necessário orientar o tutor a descartas ou higienizar todas as camas, coleiras, escovas e brinquedos do animal. A desinfecção deve ser feita também na cama, tapetes, piso, mobília, e é necessário
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remover pelos e outras fontes de contaminação entre 3 a 4 vezes por semana. Caso tenha ar condicionado e condutos de ar devem ser higienizados, pois são importantes fontes de contaminação. Por fim, recomenda-se lavara mão sempre que manejar o animal e desinfetar todos os materiais da clínica incluindo estetoscópio e outros equipamentos utilizados no exame físico.
Malasseziose (Dermatite por Malassezia): É causada principalmente pelo fungo Malassezia pachydermatis, porém existem outras 12 espécies, sendo que 5 afetam pequenos animais, que podem agir sozinhas ou concomitantemente. É difícil diferenciar o gênero específico, elas são patógenos oportunistas que estão presentes na microbiota regular e causam doença quando há predisposição.
O aumento do sebo ou cerume (na orelha pode causar otite), acúmulo de umidade e rompimento da barreira epidérmica são fatores predisponentes. Alterações no microclima da superfície cutânea também podem predispor o desenvolvimento da malassezia, podendo envolver doenças primárias alérgicas ou bacterianas. Normalmente está associada a uma doença primária, não sendo observada como doença primária, apenas secundária. Diversas doenças podem predispor ao surgimento de malasseziose:
· Dermatite atópica;
· Alergias alimentares;
· Disqueratoses;
· Endocrinopatias;
· Dobras cutâneas;
· Tratamento prolongado com corticoesteroides e/ou antibióticos;
· Doenças parasitárias.
No Brasil, as raças mais acometidas são Cocker Spaniel American, Poodle e Teckel, mas pode ser pois são as raças mais atendidas no território brasileiro. A literatura internacional cita mais raças predispostas como West Highland, White Terriers, Basset Hound, Cocker Spaniel Americano, Setter Inglês, Shihtzu, Boxer, Dachshund, Poodle e Australian Silky Terriers. As raças de felinos mais acometidas são Devon Rex e Sphynx, principalmente.
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Os sinais clínicos incluem prurido de leve a intenso que pode ser causado pela malassezia ou uma reação alérgica primária, eritema, alopecia, escamas querato-sebáceas, oleosidade aumentada causando odor rançoso, hiperpigmentação (indica cronicidade, cogitar alergias primárias), liquenificação (também crônico). Em casos de otite externa pode observar-se eritema, cerume acastanhado, e paroníquia (as unhas ficam amarronzadas), alopecias regionais ou generalizadas, e escoriações causadas pelo prurido. Normalmente acomete regiões cervical ventral, axilar, inguinal, perilabial, face medial dos membros, espaços interdigitais e pavilhões auriculares, em locais úmidos, com pouca ventilação como orelhas, principalmente se forem caídas, e dobras. Animais braquiocefálicos são predispostos a obstrução do ducto nasolacrimal que deixa a região de face úmida e predispõe a malasseziose. Na citologia de pele é possível observar os fungos.
Nas otites causadas por malasseziose observa-se coloração escurecida do cerume e, em casos crônicos, queratose, nestes casos sugere-se alergias como causas primárias, principalmente atópica. É necessário fazer o diagnóstico diferencial para outras doenças que podem causar prurido e seborreia como sarna otodécida, piodermite superficial, dermatofitose, ectoparasitas e alérgopatias (principal causa de prurido na clínica de pequenos). 
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O diagnóstico definitivo é feito através da citologia, realizando o raspado de pele seca, com fita adesiva, cotonete ou esfregaço por impressão em lâmina de vidro aquecida, swabs em dobras. Utiliza-se a coloração de Panoti rápido, e pode ser realizado o cultivo que demora entre 24-48 horas, mas não é muito realizado. Na citologia os esporos são visualizados similares a pegadas de sapatos.
Para realizar o tratamento é necessário investigar e tratar também a causa primária, para o tratamento da malassezia pode ser realizado terapia tópica (infecções localizadas) ou sistêmica (generalizadas):
· Shampoos (preferencial): Os princípios ativos usados nos shampoos utilizados para tratar malasseziose são Miconazol 2%, Clorexidine 2% ou 3%, Peróxido de Benzoila 2-3,5%, Sulfeto de Selênio 2,5% (contraindicado para felinos) Os banhos devem ser feitos entre 1-2 vezes por semana, deixando o produto agir durante 10 minutos. Em casos recorrentes podem ser realizados banhos frequentes como prevenção.
· Pomadas e loções (pouco usados): Os princípios ativos usados nas loções e pomadas utilizadas para tratar malasseziose são Miconazol, Clotrimazol ou Cetoconazol. São menos usadas para evitar lambeduras.
· Itraconazol (Sistêmico): É o antifúngico de eleição para pequenos animais, administrado na dose 5mg/kg/SID durante 21-28 dias, 2 vezes na semana (pulsoterapia). Em felinos o tratamento alternado pode ser usado, tratando uma semana e pulando outra.
· Cetoconazol (Sistêmico): É menos usado devido a sua hepatotoxicidade, e é altamente absorvido junto a alimentos, sua dose é de 5-10mg/kg/SID entre 21 a 28 dias.
· Fluxconazol (Sistêmico): É um fármaco mais caro, mas é recomendado para animais hepatopatas, principalmente felinos, pois possui excreção totalmente renal. Sua dose é de 2,25-5mg/kg/BID durante 21 a 28 dias.
· Terbinafina (Sistêmico): Possui uma ampla margem de segurança em sua dose para mamíferos, administra-se 30mg/kg/SID durante 21 a 28 dias.
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DOENÇAS PARASITÁRIAS
Demodicidose canina: Causada pelo ectoparasita Demodex canis, que é um ácaro resistente que parasita os folículos pilosos e glândulas sebáceas, mais frequente em animais jovens, causa alopecias, pápulas, inflamação na pele (eritema), pode estar difundida em todo corpo. Normalmente é transmitido nas primeiras horas do nascimento para os filhotes, e se manifesta em casos de imunossupressão que normalmente está associada a hipofunção linfocitária temporária, possui influência genética e imune (acometendo mais jovens e idosos). Se observado em adultos deve-se buscar uma causa base para imunossupressão.
Pode ser classificada como localizada (presente em até 5 áreas, normalmente em região cervical, cefálica e membros torácicos), ou generalizada (prognóstico desfavorável). Recomenda-se a castração de animais com este ácaro devido ao componente genético que é indesejável e pode causar problemas futuros aos filhotes. Os sinais clínicos incluem lesões alopécicas, eritemato-descamitivas, formação de pápulas e pústulas foliculares (foliculite), hiperpigmentação, comedões e normalmente está associada a infecção bacteriana secundária. As raças brasileiras predispostas são Terriers, Boxer, Cocker, Teckel, Lhasa Apso e Pit Bull.
· Exames complementares
Para diagnóstico definitivo deve ser realizado o raspado cutâneo, sendo que este ácaro habita o folículo piloso necessitando de um raspado cutâneo profundo (pinçar a pele do animal para coletar o material com o ácaro). Também é possível coletar os pelos de áreas afetadas usando fitas de acetato (transparentes) também pinçando. Outra espécie de Demodex pode estar associada como o Demodex injai, mas é menos comum e ele causa uma aparência untuosa nos pelos, principalmente na região tronco-dorsal, face e membros, é mais frequente na raça Terrier.
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· Tratamento
Pode ser usado o tratamento tópico com enxagues semanais contendo amitraz diluindo 4ml para 1 litro de água, concentração de 0,05%, não pode ser ingerido nem entrar em contato com mucosas, pois é muito tóxico. O animal deve ser mantido em local sombreado e arejado, pode apresentar alguns efeitos adversos como hiperglicemia, êmese, diarreia, hipotensão, sedação, úlcera de córnea se entrar em contato com os olhos.
Como tratamento sistêmico pode ser utilizado a Ivermectina (0,3-0,6mg/kg, diariamente, VO, aumentando gradualmente a dose). Pode causar neurotoxicidade principalmente em raças sensíveis como Collie, Pastor de Shetland, Border Collie, Sheepdog, Bearded Collie, Pastor Australiano, Whipepet, Afgan Hound e cruzamentos. Alguns animais podem apresentar predisposição genética mesmo não fazendo parte destas raças. Entre 4-12 horas após a administração oral o animal pode apresentar midríase, letargia, vômito, tremores e cegueira temporária que podem progredir rapidamentepara convulsões, estupor, coma, insuficiência respiratória e morte.
A Moxidectina (0,3-0,5mg/kg/dia/VO, aumento gradual de dose, ou 0,5 mg/kg/VO a cada 72 horas) pode ser utilizada como tratamento sistêmico ou tópico (imidacloprida+moxidectina). É mais tolerada por raças sensíveis, mas pode gerar efeitos adversos em altas doses. Doramectina (0,6 mg/kg/SC, semanalmente, ou 0,6mg/kg/VO, a cada 3 dias), efeitos adversos não são muito observados. Milbemicina oxima (1-2mg/kg/VO/por dia), pode ser associado com outros antiparasitários e as doses mais altas podem ser tóxicas. As isoxazolinas como o Fluralaner (Bravecto), pode ser quantificado no plasma com uma única administração, sua absorção aumenta quando administrado junto com alimentos. Possui eliminação hepática e pode ser utilizada a cada 3 meses por VO ou transdermal. O Afoxolaner (Nexgard) também é uma isoxazolinas que atinge sua concentração máxima rapidamente entre 2-4 horas, possui eliminação biliar e renal, pode ser administrado a partir das 8 semanas. Deve-se ter cautela em cães que já apresentam convulsões, pode ser administrado a cada 30 dias. Outras isoxazolinas que podem ser usadas são: Sarolaner (Simparic) administrar a partir de 8 semanas, mensalmente, Lorilaner (Credeli), é administrado por VO, 20mg/kg, 3 doses, com intervalo mensal.
Após instituir o tratamento deve ser monitorado mensalmente buscando alterações clínicas e realizando raspados cutâneos. Geralmente a cura clínica ocorre entre 8 semanas, após a cura clínica deve ser mantida a terapia por mais 4 semanas. Devem ser realizados dois raspados com intervalo de 2 semanas que devem resultar em negativo. Pode apresentar recidivas em até 10% dos casos, recomenda-se manter o controle durante 1 ano para evita-las.
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Demodicidose felina: Causada pelo Demodex cati, similar a demodicidose canina, acomete principalmente região cefálica e cervical. O ácaro habita o folículo e possui um formato alongado, pode atingir a derme e meatos acústicos em casos de otite. Também ocorre em momentos de imunossupressão. Normalmente não causa prurido, apenas quando a infecção bacteriana secundária.
 Outro parasita que foi relatado como causador de demodicidose felina é o Demodex gatoi, que é um parasita menor, arredondado, que habita o extrato córneo (na superfície da epiderme e não no folículo piloso), possui alta infectividade e causa prurido intenso.Demodex felis
· Tratamento
· Enxofre 2-4%: Tratamento tópico feito com banhos de esponja, com intervalos de 3-7 dias durante 4-8 semanas, não pode ser ingerido.Demodex gatoi
· Ivermectina (0,3mg/kg/VO): Tratamento sistêmico utilizado semanalmente durante 4 semanas, mas não é recomendado em felinos.
· Doramectina (0,3mg/kg/SC): Tratamento sistêmico utilizado semanalmente durante 2-3 semanas, mas também não é recomendado para felinos.
· Amitraz: Realiza-se banhos semanais diluindo 1ml para 1 litro de água (0,0125%), cuidado com a toxicidade.
· Moxidectina/imidaclopride: Tratamento tópico utilizado com aplicações semanais localmente.
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Escabiose canina: principal característica é o prurido intenso, sendo contagiosa e zoonótica, as fêmeas do parasita escavam a pele do animal para colocar seus ovos. Pode afetar pavilhões auriculares, articulações do joelho e cotovelo, abdome, causa lesões com pápulas, e com formação de crostas. Realiza-se o raspado cutâneo profundo para visualizar o parasita. Não é indicado o uso de corticoides, pois não há boa resposta e não é necessário. Frequentemente é causado pelo Sarcoptes scabiei canis. Os sinais clínicos mais frequentes são lesões pápulo eritematosas, crostas, escamas, rarefação dos pelos, alopecia, hiperquetose, liquenificação e hipertermia. O diagnóstico definitivo é realizado pelo raspado cutâneo profundo e visualização do parasita.
A terapia é similar a Demodicidose podendo ser utilizado banhos tópicos com Amitraz, Ivermectina, Selamectina, Moxidectina ou Isoxazolinas.
 Escabiose felina: É causada pelo parasita Notoedres cati e causa sinais clínicos como formação de pápulas, deposição densa de crostas amarelo acinzentadas, liquinificação, geralmente acomete região da borda do pavilhão auricular, região cefálica, cervical e extremidades. O diagnóstico também é realizado através do raspado cutâneo e visualização do parasita. 
A terapia deve ser feita com todos os contactantes de forma tópica com amitraz 0,025% ou sistêmica com ivermectina, selamectina, moxidectina, doramectina, isoxazolinas.
 
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Otocaríase: O Otodectes cynotis é um parasita zoonótico que causa otite externa principalmente nos ramos horizontal e vertical dos condutos auditivos provocando uma secreção otológica escura. O diagnóstico é realizado pela otoscopia, citologia do cerumem e reflexo otopedal (mexe na orelha e o animal tenta coçar apresentando o reflexo com a perna). A terapia deve ser realizada após uma limpeza adequada e pode ser realizada com amitraz (1ml para 3ml de óleo mineral) aplicando entre 2-4 gotas em cada conduto auditivo, diariamente durante 3 semanas. O Diazinon também possui aplicação tópica e deve ser utilizado 2 vezes ao dia durante 21 dias.
O Fipronil em solução a 10% pode ser utilizado aplicando 2 gotas nos condutos, com uma única aplicação ou 2 aplicações com intervalo de 30 dias. A Imidacloprida 10%+Moxidectina 1% pode ser utilizada com apenas uma aplicação. A terapia sistêmica pode ser realizada com Ivermectina (0,2-0,4mg/kg/VO) semanalmente durante 3-4 semanas, também pode ser usado a via subcutânea realizado 2 aplicações com intervalo de 14 dias. A Selamectina (tópico, 6mg/kg) aplicando 2 vezes com intervalo de 30 dias, o Tiabendazol é de uso humano apresentado como loção e pode ser usado topicamente entre 2-4 gotas em cada conduto a cada 24 horas durante 21 dias. 
 Queiletielose: Em felinos é causada pelo parasita Cheyletiella blackey e em caninos pelo Cheyletiella yasguri. São frequentemente descritas similar a caspas, mas caminham de forma rapida, é uma zoonose que acomete normalmente felinos jovens e sobrevivem na camada queratínica. Não cavam galerias e não envolvem os folículos pilosos, seu ciclo (ovo- larva-ninfa-adulto) dura em torno de 3 semanas e a infecção ocorre quando há presença de ovos com o ambiente principalmente em locais onde os animais tem contato íntimo. Causa prurido variável, podem ocorrer reações de hipersensibilidade ao ácaro, descamação (escamas furfuráceas ou lamináceas principalmente em região de dorso). O diagnóstico é realizado pela inspeção direta com lupa, uso de pentes para coletar material e fita adesiva.
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A terapia pode ser realizada com Fipronil de uso tópico, mensalmente, ivermectina por via oral, entre 0,2-0,3mg/kg, semanalmente entre 6-8 semanas, ou via subcutânea a cada 2 semanas. Ou Selamectina de uso tópico, mensalmente, podem ser associados banhos de peróxido de benzoila semanalmente.
 Linxacariose: Causada pelo parasita Lynxacarus radovsky que é um ácaro que se fixa no pelo, em felinos de pelagem clara formam pontos escuros. Não apresenta muitos sintomas, e é transmitido por contato direto, sendo zoonótica. Seu diagnóstico é feito pela observação na lupa ou otoscópio. Apresenta este aspecto “salpicado”, prurido variável, pelo facilmente epilável, alopecias, escoriações, escamas furfuráceas e tricobenzoares. A terapia pode ser realizada com ivermectina (0,3mg/kg), fipronil ou afoxolaner.
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HIPERSENSIBILIDADE E ALERGIAS
Urticária e angioedema: a urticária é uma reação restrita a região de derme, já o angiodema atinge o subcutâneo aumentando sua gravidade. O surgimento é agudo e é mais comum em cães, podendo ou não estar associado com prurido. O uso de drogas como aspirina e sulfonamida, alimentos, vacinas, ferroadas de insetos, transfusões, contato com plantas, atopias, pressão(pode ser causada por prurido), alterações no clima, na maioria das vezes não é possível determinar a causa base apenas supor baseado na anamnese. Se as reações alérgicas já são conhecidas é mais fácil tratar administrando anti histamínicos, por exemplo. 
As urticárias normalmente são normotérmicas (não há reação inflamatória), se observa aumento de volume na área e cede a pressão, os pelos ficam eriçados, pode ocorrer na forma aguda ou crônica, diferenciar da piodermite onde há formação de pustulas. O angioedema forma um aumento claro de volume e edema, principalmente em face, pálpebra e regiões cervicais, o angiodema pode ser uma situação emergencial, pois pode ocorrer na glote causando asfixia. O diagnóstico é feio através da anamnese e exame físico, muitas vezes não é possível determinar a causa base.
O tratamento é feito através da eliminação da causa, normalmente são utilizados glicocorticoides como terapia medicamentosa nestes casos, como dexametasona (0,5mg/kg/SC ou IV), hidrocortisona (50mg/kg/IV) ou prednisolona (1-2mg/kg/VO). Caso ocorra edema de glote administrar adrenalina (0,01mg/kg/IM usando 1mg/ml dissolução 1:1000, a dose máxima deve ser 0,3mg para um paciente de 40kg), caso o tratamento seja feito rapidamente não ocorrerá edema de glote, que é a maioria dos casos. Sempre deve ser administrado anti-histamínico prevenindo a piora, como difenidramina (1-2mg/kg/IM) ou prometazina (0,4mg/kg/IM). O prognóstico em casos agudos é bom quando o tratamento é iniciado rapidamente, normalmente não há edema de glote facilitando o tratamento. Mas os casos crônicos são desafiadores, nestes casos a causa alergênica se mantém e é difícil retirá-la, pois normalmente não sabe-se qual a causa. Se o animal apresentar edema de glote é necessário realizar traqueostomia para permitir respiração, administrar adrenalina quando há dificuldade respiratória, é importante manter todos os pacientes em avaliação caso surja o edema.
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As dermatites alérgicas representam as maiores casuísticas da dermatologia de pequenos e são a maior causa de prurido na rotina. As principais são DAPP (dermatite alérgica a picada de pulgas), alimentar e atopias, podem estar associadas e/ou acompanhadas de doenças bacterianas e fúngicas. O prurido é principal sintoma, ocorrendo coceira desagradável causada por agentes irritantes ou doenças que levam o indivíduo a coçar causando escoriações, inflamações, degradação cutânea e infecções secundárias. Em sua forma crônica a pele torna-se liquenificada, descamada, hiperpigmentada, podem surgir infecções bacterianas secundárias e por leveduras.
Os principais sinais de prurido são: autotraumatismo, lambedura, avulsão do pelo, mordiscamento, alterações de cor (a saliva tinge o pelo de castanho avermelhado). Ele varia de intensidade, distribuição, gravidade e quantificação (utiliza-se escalas para quantificar e avaliar a progressão da doença).
As dermatopatias alérgicas normalmente estão associadas a dermatites bacterianas, leveduras e otites (causada por bactérias, fungos ou parasitas), elas não predispõe o surgimento de parasitas, mas podem estar associadas. Os diagnósticos diferenciais incluem outras causas de prurido como dermatites bacterianas, fúngicas ou parasitárias. Se estas dermatites estiverem presentes e forem tratadas, mas o prurido permanece deve-se considerar as causas alérgicas. Normalmente em processos alérgicos a lesão 
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surge após o prurido, em doenças bacterianas e leveriduriformes normalmente a lesão surge antes do prurido. 
· DAPP: É uma reação alérgica causada pela saliva da pulga, que podem não ser vistas no exame físico, mas não deve ser descartado apenas por isso. Se inicia normalmente entre um e quatro anos de idade, é uma lesão clássica que afeta principalmente as regiões indicadas na imagem. Em casos crônicos o prurido pode estar reduzido de intensidade devido a uma certa resistência que pode ser adquirida.
Em felinos as lesões são mais disseminadas, cometendo principalmente pescoço, dorso e região lombo-sacral. É possível observar alopecia simétrica bi ou unilateral, também podem estar associados com um complexo granuloma eosinofílico, principalmente no abdômen, dermatite miliar e lesões de auto-traumatismo. O diagnóstico é feito baseado no exame físico, histórico, presença de pulgas ou fezes e o 
diagnóstico terapêutico (fazer o controle de pulgas e ectoparasitas). É possível confirmar se o material encontrado é fezes de pulgas através de um algodão umidecido que deve ser passado na região, se ele diluir e ficar com aspecto acastanhado ou avermelhado indica que são fezes.
O diagnóstico terapêutico é o mais usado, onde é feito o controle de ectoparasita preferencialmente com medicamentos que possuam efeito residual, mantendo o paciente protegido por mais tempo. O controle deve ser feito nos animais e ambiente através de inseticidas, sprays, talcos, pulverização, shampoos (menos inficados, pois possuem um menor tempo de ação). Os colares anti-pulgas são os de efeito mais prolongado como a Progran e Capstes (agem no ciclo do ectoparasita impedindo sua replicação), pode ser usado também Frontline, Bravecto, Simparic, Nexgard ou Isoxazalinas.
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· Dermatite alimentar ou trofoalérgica: É uma reação causada por algum componente de algum alimento fornecido, os sinais surgem abaixo de um ano até os quatro anos de idade. Em alguns casos, os pacientes apresentam prurido intenso prejudicando sua qualidade de vida, é importante tratar esse prurido com corticoides, em casos de inflamações pronunciadas, e manter a busca pelo diagnóstico final. 
Estas alergias são causadas por glicoproteínas presentes em alguns alimentos sendo que os mais comuns para cães são leite, alimentos enlatados, trigo, carne bovina, arroz e frango. As rações comerciais variam seus componentes e muitas vezes são contaminadas por outros ingredientes e todos podem causar alergias. Portanto é comum observar animais que sempre se alimentaram de uma ração passarem a apresentar reações a ela. Rações hipoalérgicas também podem causar alergias, o diagnóstico é realizado pela exclusão. As raças predispostas são Poodle, Pinscher e Pastor alemão, mas outras raças podem apresentar, principalmente raças de pelo longo. A reação pode surgir após certo tempo, imediatamente ou horas após a ingestão. 
O diagnóstico é feito observando os sinais e sintomas, e por exclusão dos possíveis alérgenos. Procure mudanças de alimentação, quais proteínas o animal foi exposto para excluir e adicionar outras proteínas menos frequentes. Para o tratamento é necessário escolher alimentos novos para substituir possíveis alérgenos, por exemplo, substituir o arroz por batata e usar proteínas diferentes da bovino, frango ou peixe, podem ser substituídas por coelhos, rãs e até mesmo cavalo. É recomendado cozinhar os alimentos em água mineral, livre de aditivos, 
não fornecer petiscos, não adicionar temperos, conservantes ou corantes. É importante conversar com o tutor para garantir que a dieta seja seguida, evitar que o animal se alimente com comida de outros animais ou que alguém da casa forneça alimentos proibidos.
Para fornecer uma dieta adequada utiliza-se três partes de carboidratos e uma de proteínas, calculando quanto deve ser fornecido de acordo com o peso. Esta dieta deve ser seguida entre 10-13 semanas para avaliar se deve ser trocada ou mantida, caso o animal fique com fezes ressecadas ou com dificuldade para defecar pode ser utilizado um fio de óleo vegetal nos alimentos. A avaliação deve ser feita constantemente e o corticoide pode ser administrado para interromper um prurido intenso. Nada fora da dieta deve ser fornecido, pois pode causar interferências e alergias afetando o tratamento. 
Pode se utilizar rações comerciais hipoalergênicas, mas é importante se atentar a aditivos, conservantes e corantes. É difícil encontrar o alérgeno e é necessário realizaressas exclusões até que o paciente deixe de apresentar prurido. É importante tentar tirar a causa da alergia, porque evita que o animal precise se 
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manter em um tratamento frequente predispondo a outras doenças. O paciente pode se manter apresentando prurido, mesmo que seja em menor escala, o que indica que o paciente pode ser atópico associado.
As dietas hipoalergênicas caseiras normalmente utilizam carneiro, peixe, coelho, batata no lugar do arroz, água mineral para cozinhar e em alguns casos pode usar suplemento vitamínico e mineral (em pó). Na dieta caseira em longo prazo é necessário instituir a suplementação vitamínica e mineral, porém nas semanas de diagnóstico esses suplementos são evitados para não interferirem nesse diagnóstico.
Quando o paciente começar a melhorar é adicionado um alimento simples de cada vez e testar por 10 a 14 dias, se o paciente voltar o prurido retirar totalmente o alimento da dieta, se o paciente se adaptar bem pode adicionar esse alimento a lista. Granulomas eosinofílicos
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· Dermatite atópica: possui o pior prognóstico, o paciente possui alergias a componentes ambientais que são mais difíceis de definir a origem. Inicia principalmente em animais de 6 meses a 3 anos, porém pode acontecer em qualquer idade. Após excluir as demais causas a atopia é a provável causa, ela é causada por fatores hereditários e ambientais. Esse é o pior prognóstico, pois a causa da alergia provavelmente não vai ser identificada. Nessa doença os anticorpos do animal reagem a alérgenos ambientais causando essas reações de hipersensibilidade. Acredita-se que são animais que já possuem uma deficiência da barreira cutânea que aumenta a perda de água transepidérmica e aumenta a penetração transcutânea de substâncias exógenas como alérgenos e microrganismos. Também existe uma teoria que acredita que a alergia é a responsável pela deficiência da barreira cutânea.
Os alérgenos mais comuns são poeira, ácaros, pólen, fungos, lã, paina, perfumes, produtos de limpeza e vários outros. Em gatos as atopias causam o padrão lesional similar aos demais que são alopecias simétricas, complexos granuloma eosinofílico (placa eosinofílica, úlcera eosinofílica e granuloma) e a dermatite miliar. Muitas vezes o paciente chega apenas com otite, já com pele espessada, liquenificada, com secreção, eritematosa, associado com malassezia ou doenças bacterianas. As raças mais afetadas no mundo são os Terriers, Retriever, Boxer, Dálmatas, Sharpei, Bichon Frisé. Já no Brasil é mais visto nos Lhasa Apso, Shih Tzu, Beagle e Poodles.
O diagnóstico é feito pelo descarte de todas as outras causas de prurido e a atopia é a última causa que ainda pode estar causando prurido. Pode ser realizados testes intradérmicos ou sorológicos para descobrir o alérgeno que pode ser mais de um, eles identificam o antígeno que causa a alergia, eles só são feitos para se realizar imunoterapia como tratamento, mas não é muito usado por ser caro.
Não existe cura apenas controle, o tratamento deve ser específico para cada animal, deve evitar os alérgenos quando possível, restauração da barreira cutânea (hidratação), tratamento tópico e sistêmico, dessensibilização (imunoterapia). O tratamento é dividido em crise aguda (eritema, inflamação e outros), crise crônica (tem liquenificação, hiperpigmentação, descamação e outros). As doenças bacterianas e fúngicas associadas devem ser tratadas, o tratamento da atopia é realizado com corticosteroides e ciclosporina (mais cara e segura, demora até 4 semanas para iniciar sua ação, e portanto deve ser associado com o corticoide inicialmene). 
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O tratamento com corticoide e ciclosporina é usado para retirar o paciente da crise, porém é necessário um tratamento de manutenção para não ter recidivas.
· Corticoides: Antes devem ser tratadas as infecções secundárias primariamente, os fármacos de escolha são prednisolona (0,5 à 1,0mg/kg durante 10 dias, reduzir a dose), para gatos é recomendado acetato de metil prednisolona (4mg/kg, máximo três vezes ao ano).
· Ciclosporina (5mg/kg para cães, 7,5mg/kg para gatos): demora 4 semanas para iniciar sua ação.
· Antipruriginosos: auxiliam para redução de uso de corticoides, são os anti-histamínicos (baixo efeito nesses casos), apoquel e cytopoint (são mais usados, porém são caros e devem ser usados em longo prazo).
· Antihisamínicos: Hidroxizine 2,2mg/kg TID VO; Cetirizina 10mg/kg (SID<15kg, BID>15kg) VO; Cletimasina 0,05mg a 0,1mg/kg BID VO; Clorfeniramina 2mg/kg BID VO (recomendado para felinos).
· Apoquel/Oclacitinib (0,4 à 0,6mg/kg/BID durante 14 dias, depois mudar para SID): Age inibindo as enzimas Janus Quinase (JAK) impedindo citocinas dependentes destas enzimas, sua ação se inicia 4 horas após a administração.
· Lokivetmab/Cytopoint: Anticorpo específico para neutralizar IL 31 canina, envolvida na transmissão do impulso de coceira para o cérebro. Inicia sua ação com 24 horas e age por 4 a 8 semanas, dose mínima de 2mg/kg.
· Hidrocortisona 1% (Corshamp): 2 vezes por semana.
· Manter a barreira cutânea (hidratação).
· Umectantes/Hidratantes: Ureia 2 a 10%, propilenoglicol 2 a 10%, ácido lático 0,5 a 2%, Glicerina 2 a 10%, óleo de amendôas 0,5 a 5%, silicone volátil 2 a 10%, hidroviton 1 a 5%, Extrato de germe de trigo 0,5 a 1,5%.
· Emolientes: Extrato glicólico de Aloe e Vera 2 a 6%, óleo de abacate 2 a 10%, óleo de girassol 1 a 3%, óleo de macadâmia 0,5 a 5%, manteiga de Karité 1 a 3%.
· Evitar infecções secundárias: pode ser necessário manter os banhos períodos com shampoos específicos (miconazol+clorexidine ou com corticoides).
· Shampoos: Creme hidratante (Hidrapet), Allerderm Spot On, Allermyl Glyco, Dermogen Shampoo, Douxo. 
· Ácidos graxos: ômega 3 e 6. 
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OTITES
As otites correspondem de 10 a 20% dos casos da dermatologia de pequenos animais, durante a anamnese é importante questionar sobre possíveis contatos (possíveis parasitas e outras doenças contagiosas), como o manejo é feito (orelhas úmidas predispõem a otites). A orelha externa corresponde ao pavilhão auricular da face externa da membra timpânica e é a região mais acometida.
Tímpano de um animal saudável: comum um pouco de cerúmen. 
· Anamnese/Exame físico específico:
· Balançar a cabeça do animal;
· Observar dores fétidos;
· Prurido? As otites podem ser doenças concomitantes a reações alérgicas como DAPP, hipersensibilidade alimentar ou dermatite atópica, portanto, pode ser observado o prurido.
· Observar sinais de dor; 
· Secreções;
· Problemas de audição;
· Dermatopatias concomitantes. Sinais de cronicidade, já em estágio estenosante.
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Otohematoma: é um hematoma que surge no pavilhão auricular, é mais comum em cães ocasionado devido ao auto-traumatismo (prurido) que rompe vasos que ficam entre a derme e a cartilagem levando a saída de sangue e aumento de volume da região. A correção é feita cirurgicamente e causa muita dor, caso não realize a cirurgia a orelha pode ficar deformada, porém não atrapalha a qualidade de vida do animal. O otohematoma é tratado ao se tratar a causa base, a otite. Animais que ficam com a cabeça pendida para um lado é um sinal característico de otite em orelha média e interna, esse sinal é chamado de head tilt.
As otites são classificadas de acordo com sua causa, origem e patologia em:
· Otites bacterianas;
· Otites fúngicas;
· Otites parasitárias;
· Otites ceruminosas;
· Otites Eczematosas;
· Otites estenosantes.
Otites externas: Nesse caso ocorre inflamação do conduto auditivo (orelha externa), ela pode ocorrer de forma aguda ou crônica. Existem causas que predispõem a doença, assim como causas que induzem (doenças primárias) e causas que perpetuam a doença e impedem sua resolução.
 Infestação de carrapatos predispõe a otites.
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· Exame físico específico:
· Inspeção direta: observar o aspecto dos pavilhões, presença de eritemas, edemas ou otohematomas (fazer comparações bilaterais).
· Palpação: observar a textura se está homogênea por todo pavilhão auricular, a cartilagem deve ser flexível e delgada, observar se a mobilidade está adequada.
· Inspeção indireta: com auxílio do otoscopio traciona a orelha do animal para observar a membrana timpânica.
· Exames complementares:
· Citologia: usado para visualização de bactérias e malassezia.
· Exame de cerume para visualizar ácaros, não há necessidade de corar a lâmina.
· Cultivo e antibiograma caso suspeite de otite bacteriana, não realizar antibioticoterapia sem esses passos.
· Radiografias são usadas para visualizar otites da orelha média e interna.
· Biópsia e histopatologia para pesquisar possíveis pólipos e massas.
 Sarcoptes scabiei
Otodectes cynotis
Principais ácaros que acometem pequenos animais.
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 Observe a malassezia presente no cerume, similar a pegadas. Não há necessidade de corar a lâmina.
Coleta de material para observar Malassezia.
Otite ceruminosa: É caracterizada pelo excesso na produção de cerúmen que predispõe a proliferação de malassezia, pode causar prurido, eritema e edema. As principais raças acometidas são os labradores, Cocker Americano, Cocker Inglês, Golden Retriever, Sharpei e Persa. Os ácaros Otodectes cynotis podem causar otite ceruminosa e consequente prurido, cerúmen escurecido, lesões auto-traumáticas e reflexo otopodal (fricciona o pavilhão auricular e observa se o animal apresenta algum reflexo para coçar).
· Tratamento:
· Limpeza: são usados ceruminolíticos durante 3 a 7 dias para manter a ação do produto, manter durante 1-2x por semana durante toda a vida dos animais que possuem seborreia primária como causa do excesso de cerúmen o que vai prevenir também proliferação de malasseziose por essa causa. Podem ser usados produtos com base de ácido salicílico, ácido lático e trietanolamina.
· Tratamento para malasseziose: é necessário tratar a malasseziose concomitante e manter os ceruminolíticos nesses animais que produzem excesso. Caso o tutor concorde pode optar por manipular o medicamento para limpeza e então pode se incrementar o corticoide para o uso tópico durante as limpezas que vai auxiliar na 
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resolução da inflamação e evita que o paciente tenha reação crônica e eventual estenose.
· Não arrancar pelo do conduto auditivo desse animal, pois pode gerar inflamações locais que predispõem as otites.
· Não usar álcool para limpara o pavilhão auricular, pois ele resseca essa região.
Otite eczematosa: O conduto auditivo fica com aspecto eczematoso com eritema e excesso de cerúmen, pode evoluir da otite ceruminosa, caso não tratada. Muitas vezes é secundária a alergia e forma o chamado aspecto “sagu”, o conduto fica cheio de pontinhos. 
· Tratamento:
· Limpeza similar à otite ceruminosa;
· Tratamento da malasseziose;
· Identificar causa alérgica primária, normalmente a otite é um sinal de alguma alergia, nesse caso pode estar associada a prurido e alopecias pelo corpo (DAPP, hipersensibilidade alimentar ou dermatite atópica);
· Uso de corticoides tópicos no conduto auditivo para redução de prurido;
· Associação com antissépticos caso haja proliferações bacterianas concomitantes;
· Tratamento sistêmico, com base na causa da alergia.
Otite bacteriana: Observar presença de pus no conduto auditivo que pode estar associado a um odor forte, eritema e excesso de cerúmen. Muitas vezes é secundária a otite ceruminosa e/ou eczematosa, e é dolorida sendo difícil a realização da otoscopia. 
· Anestesia para lavar e realizar inspeção completa em casos de muita dor (o paciente não vai deixar realizar o exame e o tratamento por causa da dor);
· Possui alto risco de causar otite média com a ruptura do tímpano, um sinal comum é o head tilt;
· Formação de pólipos, mais comum em Poodle e Cocker, dificulta a limpeza da orelha e predispõe a otite média ou interna, é muito dolorido e pode ocasionar um quadro sistêmico. É necessário o tratamento cirúrgico;
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· O tipo da bactéria interfere no prognóstico e tratamento: bacilos normalmente são pseudômonos (difícil tratamento, altamente resistente a tratamento com quinolonas, normalmente respondem bem ao tratamento com enrofloxacina), tratamento de cocos é mais fácil;
· O acúmulo de pus pode causar estenose e consequente surgimento de fístulas.
O diagnóstico definitivo pode ser realizado através dos exames:
· Citologia;
· Cultivo e antibiograma para realizar um tratamento realmente efetivo e observar possíveis resistências bacterianas.
· Tratamento:
· Baseado no cultivo e antibiograma;
· Antibióticos e corticosteroides tópicos, pode usar produtos manipulados caso não tenha comercial, atentar se o medicamento é de veículo otológico;
· Terapia sistêmica associada em casos de processos alérgicos concomitantes.
· Lavagem ótica da orelha externa:
· Anestesia geral;
· Realizar otoscopia em busca de pólipos, massas e outros;
· Instilar solução fisiológica com PVP – 1:20, de temperatura morna;
· Sonda uretral 6 para instilar, evitar colocar pressão que pode causar rompimento do tímpano;
· Sonda uretral 8 para aspirar;
· Continuar até o líquido sair completamente limpo;
· Administrar o tratamento.
Otite hiperplásica: É uma fase já crônica da otite ceruminosa ou purulenta, causa estenose da luz do conduto, mas ainda com passagem. Normalmente causa edema, eritema, dor e é difícil de realizar a otoscopia, é necessário anestesia para avaliação.
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Otite estenosante: Ocorre à estenose completa da luz do conduto auditivo, causa também edema, eritema, dor, pode causar fístulas, é a fase onde termina as otites crônicas. Pode ocorrer calcificação da cartilagem e a resolução é cirúrgica com a retirada da orelha. O tratamento é realizado para tentar reverter a estenose:
· Prednisona 2mg/kg/SID;
· Ciclosporina 5-10mg/kg/SID;
· Podendo usá-las em associação;
· Avaliação após 30 dias, caso tenha resolvido tratar a otite, se não resolver o tratamento deve ser cirúrgico.
	Nome comercial
	Laboratório
	Composição
	Otospan
	Auvipec
	Polimixina-B + Sulfato de Neomicina + Hidrocortisona
	Aurivet
	Avipec
	Clortrimazol + Gentamicina + Betametasona + Benzocaína
	Otoguard
	Cepav
	Ceroconazol + Tobramicina + Dexametasona + Lidocaína
	Otogen
	Ouro fino
	Gentamicina + Betametasona + Miconazol
	Auritop
	Ouro fino
	Ciprofloxacina + Cetocanazole + Fluocinolona + Lidocaína
	Otodex
	SDS
	Enrofloxacina + Clotrimidazol + Betametasona
· Tratamento por 21-30 dias;
· Tratamento com ceruminolíticos são para vida inteira caso o paciente possua como causa base a secreção excessiva de cerúmen, ou antes, do tratamento tópico para garantir a efetividade do tratamento.
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DESORDERNS IMUNOLÓGICAS
Complexo pênfigo: Podem ser observados diversas formas de complexos pênfigo, é uma doença auto-imune responsável por 0,6% dos distúrbios cutâneos. Machos de 4-6 anos possuem maior predisposição de apresentar este distúrbio. Ele pode se apresentar como superficial que é o caso do pênfigo foliáceo (mais comum) e o eritematoso, ou profundo como o pênfigo vulgar, vegetante ou paraneoplásico (causada por lesões neoplásicas), estas formas formam bolhas mais resistentes e profundas que se rompem gerando úlceras dolorosas. 
Ocorre formação de auto-anticorpos anti desmogleína 1 e desmogleína 3 que promovem adesão das células uma na outra. Assim, ocorre perda da coesão celular causando acantólise, e as peles se soltam formando bolhas. No histopatológico observa-se perda de coesão celular com células separadas formando vesículas intraepiteliais caracterizando a acantólise e dentro das vesículas observa-se células acantolíticas. Na imunofluorescência direta com IgG observa-se a demarcaçãodos anticorpos. Em cães ocorre principalmente em machos, de 4-6, das raças de pelame longo como Cocker, Akita, Pastor alemão, labrador e Colie. Em felinos é mais frequente em fêmeas de 5 anos, SRD de pelame curto. 
1. Pênfigo foliáceo: Ocorre principalmente na face em regiões de plano nasal, periocular e orelha, patas e coxins, geralmente não afeta mucosas. Formam pústulas com erosões e crostas, de prurido variável.
2. Pênfigo eritematoso: Localizadas na face e pina das orelhas, formam pústulas, erosões e crostas. Também pode ocorrer despigmentação, eritema e erosão, com ulceração do plano nasal e focinho dorsal. 
3. Pênfigo vulgar: Lesões localizadas principalmente em cabeça, plano nasal, pavilhão auricular, junções mucocutâneas, cavida oral, lábios, língua, palato gengiva, pode afetar patas, unhas coxins, genitália e borda anal. Ocorrem erosões, úlceras, formação de crostas, vesículas que podem se romper e são mais resistentes e dolorosas quando se rompem, eritema, alopecia e despigmentação. É mais frequente em Pastor Alemão, Collie, Border Collie e Spaniels.
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4. Pênfigo paraneoplásico: Ocorre secundário a neoplasias, geralmente em região de pele e mucosas. Normalmente são visualizadas erosões e úlceras com presença concomitante da neoplasia. 
O diagnóstico é feito baseado no histórico e exame físico, mas definitivamente é feito pelo histopatológico, se coletar a pústula intactas são observados acantócitos e células acantóliticas, não é patognomônico, mas se observar vários acantócitos com histórico similar é o mais provável diagnóstico. A coleta deve ser feita em região onde tenha pústulas intactas, mas não é fácil encontrar pústulas intactas, pode internar o animal esperando a pústula surgir, pois dessa forma é mais fidedigno. O sinal de Nikolsky (passa a mão pela lesão e a pele sai similar a quando a pele descama após muitas horas de sol direto, com diferença de que abaixo da descamação a pele não estará integra) é um indicativo observado no exame físico. O histopatológico deve ser feito sem o uso de corticóide que pode mascarar o exame, a biópsia deve incluir um terço da erosão/úlcera e dois terços da pele/mucosa perilesional, mas o ideal é a vesícula intacta. O ideal é coletar entre 5-6 amostras e será observado acantólise suprabasal dos queratinócitos na epideme e/ou mucosas. 
Não há cura e o tratamento é feito por toda a vida, e é difícil, mas visa melhorar a qualidade de vida do animal. São usados imunossupressores e a prednisolona (3mg/kg/SID ou BID/VO) é o medicamente de ataque de escolha devido a sua ação rápida e efetiva. Após retirar o animal da crise pode ser associado até substituir por outros fármacos, como a Ciclosporina que demora até 4 semanas para exercer efeitos. Associá-la com o corticoide e quando ela começar a ser efetiva retira-se o corticóide. Podem ser usados como substitutos de ação mais lenta, com menores efeitos adversos:
· Azatioprina (1-2mg/kg/SID/VO), recomendado para cães;
· Ciclosporina (5mg/kg/SID ou BID/VO);
· Clorambucil (0,1-0,2mg/kg/SID/VO);
· Micofenolato (20-40mg/kg);
· Proteger o animal do sol (o sol piora a lesão).
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Lupus eritematoso discóide: Esta é a forma do lupus que não é sistêmica, apenas localizada no tecido epitelial. Normalmente ocorre primeiramente limitada à face e as lesões podem se agravar com exposição ao sol. É mais frequente em macho entre 2 e 5 anos e nas raças Collie, Shetland, Sheepdog, Pastor Alemão, Husky Siberiano, Pointer Alemão, Pitbull, Teckel, Cocker Spaniel e Weimaraner. Observa-se despigmentação, eritema, descamação do nariz, erosão, ulceração e formação de crostas, perda do sulcamento normal do focinho, pode ocorrer em região de espelho nasal, ponte nasal, periocular, pavilhões auriculares, membros (mais raro), lábios, mento e coxim.
O diagnóstico é feito baseado no histórico e exame físico, e o diagnóstico definitivo é feito pela biópsia cutânea realizadas em áreas com início de despigmentação principalmente em regiões mucocutâneas como narinas e lábios.
Diferentemente do lupus sistêmico, o lupus discóide quase sempre testa negativo para Anticorpo antinuclear (ANA) e células lúpus-eritematoso (L.E.). O tratamento é realizado evitando luz solar, utilizando glicocorticóides de preferência tópicos inicialmente ou Tacrolimus 0,1% topicamente. Caso não seja controlado pode ser instituido o tratamento sistêmico, inicialmente com glicocorticoides sistêmicos (prednisolona), após retirar o paciente da crise tentar manter com corticóide tópico. Se necessário podem ser instituídos imunossupressores de ação lenta como a Ciclosporina.
Autor (a): Daniela Fonte Boa Melo;
Instagram: @danielaf.b.m.

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