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Leitura para bebês Educação Infantil Ementa Curso elaborado por Ana Flavia Alonço Castanho O contato com a literatura oral e escrita pode e deve ocorrer desde muito cedo na vida das crianças por meio da mediação de leitura no cotidiano das creches, berçários e escolas de Educação Infantil – e em casa, nas experiências com leitores, livros e leituras podem ocorrer no âmbito familiar. A escuta de bons textos literários enriquece a experiência estética das crianças, que mesmo antes de aprender a falar, já apreciam a modulação da voz humana, a musicalidade das palavras. Quando o educador lê e conversa sobre os livros com bebês e crianças bem pequenas e compartilha seu encantamento com a leitura, aproxima-os do universo literário e do prazer que envolve o ato de ler. Ao ouvir um adulto ler, torna-se possível um contato com a dimensão da linguagem escrita, que se apresenta em uma cadência própria e fixa e, a depender do livro escolhido, com rimas, repetições e ritmos novos e envolventes para eles. O curso pretende apoiar a instituição de uma prática habitual de leitura e de conversa sobre os livros pelo professor, no dia a dia da educação infantil, a partir da reflexão sobre critérios de escolha de livros interessantes, planejamento das situações de leitura e levantamento de expectativas de aprendizagens para os bebês e crianças bem pequenas, na perspectiva de contribuir para que construam a familiaridade com os livros, o interesse em folheá-los e em ouvir sua leitura de modo que desenvolvam uma progressiva escuta atenta e interessada. Pedagoga, formada pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da USP. Dedica-se, em sua atuação profissional, à formação de professores e à elaboração de materiais curriculares e didáticos, nas áreas da Formação de Leitores e da Didática da Matemática. Leitura para bebês Educação Infantil 1 / 2 Apresentação Etapa 1: Material pós-vídeo OBJETIVOS Instrumentalizar os participantes, para que possam: • Planejar, realizar e acompanhar situações de leitura em voz alta para bebês (0 a 1 ano e 6 meses) e crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses); • Construir um conjunto de critérios para escolher livros interessantes para essas faixas etárias; • Inserir atividades permanentes de leitura no cotidiano da creche, berçário ou escola de Educação Infantil: a leitura pelo professor e as situações em que bebês e crianças bem pequenas exploram os livros livremente; • Possibilitar que bebês e crianças bem pequenas, a partir da participação em atividades permanentes de leitura, desenvolvam o interesse pela escuta da leitura e pela observação dos livros; e • Possibilitar que bebês e crianças bem pequenas avancem na construção de um repertório de livros conhecidos e, dentre esses, de seus livros preferidos. CONTEÚDOS • Atividade permanente de leitura; • Comportamentos leitores; • Leitura como fonte de prazer e entretenimento; • Critérios de escolha de livros; e • Construção de repertório de livros conhecidos O contato com a literatura oral e escrita pode e deve ocorrer desde muito cedo na vida das crianças por meio da leitura. A escuta de bons textos literários enriquece a experiência Leitura para bebês Educação Infantil 2 / 2 estética das crianças, que mesmo antes de aprender a falar, já apreciam a modulação da voz humana e a musicalidade das palavras. Quando o professor lê para os bebês e compartilha seu encantamento com a leitura, aproxima- os do universo literário e do prazer que envolve o ato de ler. Ao ouvir um adulto ler, o bebê entra em contato com a dimensão da linguagem escrita, que se apresenta em uma cadência própria e fixa e, a depender do livro escolhido, com rimas, repetições e ritmos novos e envolventes para eles. O curso pretende apoiar a instituição de uma prática permanente de leitura pelo professor, a partir da reflexão sobre critérios de escolha de livros interessantes, do planejamento das situações de leitura e da observação e do acompanhamento das aprendizagens para os bebês, com relação a essa prática cultural, na perspectiva de desenvolver neles a familiaridade com os livros, o interesse em folheá-los e em escutar sua leitura de forma atenta e interessada. A IMPORTÂNCIA DE LER PARA O BEBÊ DESDE A BARRIGA, reportagem da Revista Crescer A IMPORTÂNCIA DE LER PARA OS BEBÊS, reportagem da Revista Bebê PROJETO DE LEITURA PARA BEBÊS INTERNADOS AJUDA A FORTALECER VÍNCULO DOS RECÉM-NASCIDOS COM SUAS FAMÍLIAS, reportagem da Agência Brasil MUNDOS POSSÍVEIS, artigo de Yolanda Reyes A ARTE DE CONVERSAS COM AS CRIANÇAS SOBRE LEITURAS, artigo de Ana Garralón Textos sobre a importância de ler na gravidez e para recém- nascidos Leitura para bebês Educação Infantil 1 / 8 Por que ler para bebês? Etapa 2: Agora que você já viu o vídeo, vamos avançar nas reflexões sobre esse tema. René Datkine, um importante pesquisador francês do desenvolvimento na primeira infância, explica em qual fase a presença da leitura começa a ser importante na vida do bebê e o porquê disso: “No decorrer do segundo semestre de vida, o reconhecimento da representação de um ponto ou uma imagem, por rudimentar que seja, pressupõe já uma organização diferenciada: quando um bebê acaricia uma imagem, sabe que ela representa algo que não é a coisa em si. Pode apropriar-se da imagem, o que não é possível com o objeto em si nem tão pouco com a representação mental do objeto, submetida ao aleatório do fluxo psíquico. Organiza-se assim outra polifonia. Para evitar que a ausência momentânea da mãe o conduza ao desmoronamento, nasce o fantasma retrospectivo de uma mãe que, até esse momento, havia estado sempre presente. Ao mesmo tempo, o bebê constrói uma história na qual ele representa, com seu desejo, o que a mãe estará fazendo em outro lugar, enquanto desloca uma dessas duas histórias até as representações das representações sobre as quais tem controle. O produto desse deslocamento, cujo tema é aquilo que, supostamente, acontece em outro lugar, vai ao encontro de histórias e canções que refletem, diretamente, a presença e, indiretamente, o sonho da figura materna. Aqui é quando começam a ter lugar as diferenças entre o desenvolvimento psíquico de crianças que desde o início vivem em meios culturais em que predomina a língua narrativa da Material pós-vídeo OBJETIVO DA ETAPA: Compartilhar referencial teórico Leitura para bebês Educação Infantil ficção e aquelas que vivem em condições menos favoráveis; entre as crianças de famílias em que há livros e leitura e aquelas de famílias na qual imperam o imediato da vida e as tensões pouco elaboradas”. Esse trecho apresenta questões que justificam o cuidado de proporcionar aos bebês encontros com os livros e situações em que se lê em voz alta, de forma rotineira e organizada, que merece uma resposta reflexiva e aprofundada. Para respondê-la é necessário tanto estudo quanto observação atenta dos bebês, sua capacidade de aprender e de se relacionar com o mundo. Por isso, agora, recomendamos a leitura da entrevista com o pesquisador colombiano Evélio Cabrejo-Parra, concedida à NOVA ESCOLA. 2 / 8 Leitura na primeira infância é essencial Para a construção do sujeito Pesquisador colombiano radicado na França diz que a leitura na primeira infância é fundamental para a construção do sujeito e explica o que e como ler para crianças desde os primeiros meses de vida Por Elisa Meirelles (Nova Escola) A maior companheira do ser humano, quem sabe a única capaz de acompanhá-lo por toda a vida. Essa é a definição de linguagem elaborada por Evelio CabrejoParra, pesquisador colombiano radicado na França, doutor em Linguística e mestre em Filosofia e Psicologia. Leitura para bebês Educação Infantil 3 / 8 Quando nascemos, a voz é uma velha conhecida: a partir do quarto mês de gestação, a audição do feto passa a ser desenvolvida e ele começa a distinguir vários aspectos acústicos. Ao ler histórias para os pequenos, damos a eles a chance de encontrarem nelas ecos de sentimentos que ainda não conseguem explicar, embora os experimentem com frequência. E assim começa para cada um de nós um mergulho num universo particular. O mundo em que crianças e livros se encontram é o campo de investigação a que Parra, vice-diretor do Departamento de Formação e Pesquisas Linguísticas da Universidade Paris Diderot, na França, se dedica há anos. Nesta entrevista, ele discorre sobre a revolução que a literatura é capaz de fazer na vida da meninada desde os primeiros meses de vida e explica como a linguagem e o pensamento estão intimamente conectados. Suas pesquisas abordam a importância de os bebês escutarem para a construção da linguagem e da relação deles com as pessoas que os cercam. Como é essa relação? EVELIO CABREJO PARRA Quando estudamos os pequenos, é preciso entender as competências naturais que carregam consigo ao nascer, dentre elas, a faculdade da linguagem. O bebê vem ao mundo com uma sensibilidade muito grande à voz humana. Ao ouvir, tenta construir significados. A voz se forma assim. Eu Leitura para bebês Educação Infantil 4 / 8 falo, por exemplo, porque escutei os meus pais quando ainda estava no berço e comecei a roubar algumas coisas da voz deles para construir a minha própria. Por que ler para as crianças contribui para o processo de aquisição da linguagem? CABREJO PARRA Se o adulto fala com elas usando unicamente a linguagem cotidiana, dando ênfase a expressões como “Venha aqui”, “Pegue isso” e “Não toque ali”, estará somente dando ordens, sem deixar espaço para o processo de escutar, que não acontece nessas situações. É durante a leitura que os bebês têm a oportunidade de ouvir e esse tempo é fundamental. Eles se colocam em posição de escuta e podem construir significados à sua maneira: observam o rosto do leitor e a direção do olhar dele e vão aprendendo o que é um livro. Ao mesmo tempo, já possuem um pequeno léxico usado no dia a dia – os verbos ser e estar, por exemplo – e conseguem identificá-lo no texto lido. Descobrem, então, que algo que está neles também está na obra. Assim, começam a compreender os textos de maneira prazerosa, tomam gosto pela leitura e entendem o espaço cultural dos livros no mundo. Na primeira infância, o hábito de ler deve ser integrado às competências naturais que as crianças têm. Assim, elas constroem significados para as coisas. Por que é importante trabalhar com diversos tipos de leitura logo na primeira infância? CABREJO PARRA O falar cotidiano é pobre. Devemos dar aos bebês a chance de desfrutar ao máximo as possibilidades dos textos poéticos e literários. Nossa língua é uma fonte inesgotável de produção de frases e Leitura para bebês Educação Infantil 5 / 8 de encontro de palavras, coisas que só são descobertas pelos pequenos quando temos o hábito de ler muitas histórias para eles. A partir de então, a linguagem começa a se transformar em uma companheira para toda a vida, possivelmente a única que estará sempre à disposição para falar, escutar, sonhar, fantasiar. Por meio dela, é possível colocar dentro de si harmonias e significados diferentes, elaborando um capital psicológico que poderá ser acessado em muitos momentos. Temos dois nascimentos: um biológico e outro psíquico, e a linguagem é a matriz simbólica da construção do sujeito. Como se dá a relação afetiva entre as crianças e as histórias? CABREJO PARRA Os bebês fazem projeções por meio do que escutam: é assim que as obras entram em diálogo com a psique. Elas permitem que, lentamente, eles comecem a entender o que sentem, enviam ecos de questões que ainda não entendem. Na infância, sofremos com conflitos horríveis e fortes, que não entendemos e os adultos ignoram: os ciúmes são imensuráveis, a cólera é tremenda e até perigosa, e a tristeza, terrível. Embora essas sensações estejam incorporadas quando temos pouca idade, elas ainda não estão centradas culturalmente. Então, não temos como pensar nelas. Que características as obras devem ter para proporcionar esse laço de afetividade? CABREJO PARRA Os bons livros para bebês são aqueles que falam com eles, e não sobre eles. É importante, por exemplo, que haja consonância entre a obra e o que estão vivendo. No período de ambivalência, que Leitura para bebês Educação Infantil 6 / 8 vai dos 4 meses ao final do primeiro ano, os pequenos tendem a ter um comportamento nervoso. Nesses momentos, podem ser lidas histórias que falem da questão por meio de metáforas. Assim, eles encontrarão uma representação de sua própria vida interior. O texto vai ajudá-los a se sentir compreendidos. Outra recomendação é não trabalhar com obras muito simples. Melhor optar por aquelas bem construídas, que não se deixam interpretar definitivamente e podem ser retomadas sempre que se quiser viajar de um jeito diferente. Na escola, como organizar uma seleção de obras para ler para a turma? CABREJO PARRA Não é interessante escolher os livros apenas se baseando em critérios adultos. O ideal é deixar que os pequenos também decidam. Por volta de 1 ano, eles mesmos já são capazes de eleger os livros que lhes interessam, primeiramente observando as cores da capa e outras características que mais chamam a atenção e, em segundo lugar, considerando a história em si. Sugiro ao professor a seguinte experiência: organizar uma seleção de bons títulos, colocar todos apoiados em uma parede, em frente ao grupo, e explicar que vai contar a história que cada um escolher. No fim de um programa de leitura estruturado, de três ou quatro semanas, é possível ver cada um segurando um livro, esperando que a história seja lida em sala. Muitas crianças querem ouvir sempre a mesma história. Isso é um problema? CABREJO PARRA Não. Quando elas gostam de um texto, é comum pedirem que ele seja lido um número Leitura para bebês Educação Infantil 7 / 8 incontável de vezes. Saber por que essa identificação ocorre é difícil, mas o mais importante é compreender e considerar que os pequenos necessitam encontrar novamente algo que está dentro de si e imaginá-lo por uma vez mais. É um processo de internalização. Que atitudes um adulto deve ter ao ler uma história? CABREJO PARRA A primeira coisa é ter disponibilidade para amar as obras destinadadas às crianças. Isso pode parecer um pouco romântico, no entanto, durante a leitura de um adulto para uma criança, é preciso haver cumplicidade. Se você não gostar da história lida, não adianta nada. As pessoas generosas são capazes de fazer uma espécie de regressão: permitem que o bebê que foram um dia no passado fale com o outro que está ali diante delas. Isso torna o contato mais profundo entre eles. Também é importante não atormentá-los fornecendo um resumo do texto logo no princípio ou explicar palavra por palavra lida. Se a criança comenta a leitura, é interessante que o leitor faça uma festa, comemore, para que ela se dê conta de que está sendo ouvida de verdade. Por que é interessante os pequenos manusearem os livros mesmo havendo o risco de rasgá-los? CABREJO PARRA Os bebês buscam as obras para tentar lê-las, e não para destruí-las. Eles se interessam ao ver os adultos folheando-as e querem imitar. Os que têm pouca ou nenhuma experiência nessa tarefa rasgam alguns exemplares ou os colocam na boca por não saberem manuseá-los. Apesar disso,aos poucos, podem se transformar em pessoas que vão utilizar gestos compatíveis com o comportamento leitor. O livro é um Leitura para bebês Educação Infantil 8 / 8 objeto que necessita do contato com o ser humano para se transformar em um objeto de cultura. Ao mesmo tempo, uma das funções da leitura na primeira infância é permitir que o bebê ultrapasse o sujeito físico e alcance o cultural. O que acontece quando as crianças chegam à escola sem antes terem tido algum contato com a leitura? CABREJO PARRA Se nunca pegaram um livro nas mãos nem viram um exemplar em casa, elas simplesmente não sabem do que se trata nem como aquilo deve ser usado, para que serve. Ao tentar abri-lo, é comum o educador dizer “Não é assim” e “Não faça isso” por várias vezes. O pequeno percebe, então, que vários colegas sabem o que fazer com o objeto, e ele não. Com esse cenário, o livro pode começar a se transformar em alvo de humilhação e angústia, e ele acaba preferindo fechá- lo. Isso é muito grave porque esses são os meninos e as meninas que muitas vezes acabam abandonando a escola sem aprender a ler e escrever. Como evitar problemas como esse e fomentar a leitura desde cedo? CABREJO PARRA O caso da Colômbia, por exemplo, é muito interessante. O governo tem dado prioridade à primeira infância, o correspondente aos quatro primeiros anos da vida escolar, e dedica bastante foco à leitura. Acredito que deveria haver um movimento como esse em todos os países. Isso ajudaria a criar um espaço para os bebês nas bibliotecas públicas, algo muito importante, por exemplo, para as famílias que não dispõem de condições financeiras para comprar livros. Leitura para bebês Educação Infantil 1 / 2 Como bebês e crianças pequenas se apropriam dos livros Etapa 3: Agora, depois de assistir o vídeo, faça a leitura do texto contido neste link. Aproveite e veja o documentário a seguir, realizado durante as atividades do Projeto Entorno de Incentivo à Leitura, realizado pela Fundação Victor Civita, em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo no período de 2006 a 2009, e como política pública da Secretaria de Educação do Município de São Paulo nos anos de 2010 e 2011. Nesse período, propostas de leitura debatidas no projeto foram colocadas em prática por mais de 900 escolas de educação infantil. O vídeo apresenta um documentário do Projeto Entorno, com foco nas atividades habituais de leitura realizadas com bebês e crianças bem pequenas. Material pós-vídeo OBJETIVO DA ETAPA: Compartilhar referencial teórico Leitura para bebês Educação Infantil 2 / 2 Para encerrar etapa, sugiro a leitura do trecho do livro Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira e Seymour, uma Apresentação, do escritor norte-americano J.D. Salinger. “Certa noite, faz uns vinte anos, durante um surto de caxumba em nossa imensa família, minha irmã caçula, Franny, foi transferida com berço e tudo para o quarto obviamente não contaminado que eu repartia com meu irmão mais velho, Seymour. Eu tinha quinze anos; Seymour, dezessete. Por volta das duas da madrugada, fui acordado pelo choro insistente da nova companheira de quarto. Continuei deitado por alguns minutos, sem me mexer, ouvindo o berreiro, até que escutei ou senti que Seymour se movia na cama ao lado. Naquela época, mantínhamos uma lanterna na mesinha-de-cabeceira entre os dois para alguma emergência que, tanto quanto me recordo, jamais ocorreu. Seymour acendeu-a e levantou da cama. “Mamãe falou que a mamadeira está no fogão”, avisei a ele. “Já dei para ela agorinha mesmo”, disse Seymour. “Não está com fome.” Caminhou no escuro até a estante e varreu lentamente as prateleiras, para um lado e para o outro, com a luz da lanterna. Sentei- me na cama. “O que é que você vai fazer?”, perguntei. “Acho que ler alguma coisa para ela”, respondeu Seymour, pegando um livro. “Ah, essa não”, eu disse, “ela tem dez meses!”. “Eu sei, mas os bebês têm ouvidos. Podem ouvir.” A história que Seymour leu para Franny naquela noite, à luz da lanterna, era uma de suas prediletas, um conto taoísta. Até hoje Franny jura que se lembra de Seymour lendo para ela”. Leitura para bebês Educação Infantil 1 / 6 Situações de leitura para bebês e crianças bem pequenas Etapa 4: A seguir, você encontra um trecho do livro Lire dês livres à dês bébés (Leitura de livros para bebês, em tradução livre), de Dominique Rateau. BRINCAR COM OS LIVROS, BRINCAR COM AS PALAVRAS “O livro quando apresentado por um adulto, que o considere interessante, pode sem dúvida desempenhar um papel essencial na história de uma criança e na história de sua linguagem. O livro por si só não desempenhará nenhum papel em particular. O livro é um objeto, um objeto portador de imagens. As imagens são uma representação. Isso poderá ser uma descoberta formidável para uma criança bem pequena! Na idade em que começa a nomear os objetos, na idade em que ela está ávida de palavras, descobre uma nova forma de representação. Tomemos como exemplo “mesa”, ela descobrirá que mesa é o objeto que encontra e pode tocar na cozinha, na sala de jantar, mas que descobrirá também nos livros, através dos diferentes estilos de Material pós-vídeo OBJETIVO DA ETAPA: Como planejar situações de leitura para bebês e crianças bem pequenas Leitura para bebês Educação Infantil 2 / 6 ilustração: uma mesa de Claude Ponti é diferente de uma mesa desenhada por Gabrielle Vincent ou de uma representada por Anne Bozellec, e são todas sempre “mesa”. O objeto que o bebê já tocou, já reteve em suas mãos, vai ser reencontrado lá, numa folha de papel, cartão ou tecido. O objeto é nomeado pelo adulto. A criança vai poder nomear, vai fazê-lo “não com um objetivo utilitário, para obter qualquer coisa, como nos diz Daniele Bouvet, vai denominá-lo para prolongar essa experiência de atenção que é por si só fonte de grande prazer”. Esforço intenso para uma criança tão pequena, mas “esforço que é um jogo na medida em que não pode ser concebido sem o prazer que o engendra”1. Este jogo é um reencontro que revela a capacidade de se maravilhar da qual René Diatkine fala nos seguintes termos: “coloquemos a disposição das crianças livros, histórias poéticas e as pessoas mais sérias irão se encantar com o encantamento das crianças. Este é o caminho mais seguro para que elas compreendam o mundo e tenham o desejo de transformá-lo.” 2 Se a tendência natural é de ler aos pequeninos, a esses bebes que recém começam a ter acesso aos livros de imagens, percebe-se rapidamente que os livros imagens podem ser completadas por álbuns ilustrados que permitem o acesso a uma narrativa 1 Daniele Bouvet, “A palavra da criança surda”. 2 Plaquette, “Leia comigo, diz o bebê”. Leitura para bebês Educação Infantil 3 / 6 e até mesmo a uma dupla narrativa: narrativa em texto, narrativa em imagens. Mesmo que o conteúdo ultrapasse a capacidade de compreensão do pequeno, ele escuta animado. Rene Diatkine fala do “prazer das sonoridades, do prazer do envolvimento que eles mesmos procuram”. Um bebê a quem nós apresentamos um livro, um belo livro, um livro que nós amamos, manifesta sua emoção. O livro é portador de certa forma de linguagem que corresponde a narrativa. Nos álbuns, nós propomos às crianças o acesso a uma forma paralela à linguagem oral que é “dizer” com a linguagem que se escreve. A criança vai descobrir as histórias lidas e relidas. E as vai reencontrar sempre iguais, reassegurantes. A permanência da história tranquiliza. O livro que é lido na creche pela auxiliar de puericultura, ou em casa pelos pais, é sempre o mesmo. Com os livros, a criança vai igualmente descobrir, de modo natural, a função da escritacomo forma de memorização e de comunicação à distância. A leitura em voz alta pode não ser para a criança bem pequena, de início, mais que uma melodia, um ritmo assimilável a uma cantiga: será o momento vivido com um adulto atencioso, um momento entre parênteses, um momento de gratuidade e de trocas num espaço de jogo e de poesia. Com um livro, nós convidamos a criança a encontrar a expressão do pensamento de uma outra pessoa, ausente. Nele se oferece o olhar de um artista sobre o mundo. Este livro, que nós escolhemos porque nós mesmos somos sensíveis à escrita desse autor, porque Leitura para bebês Educação Infantil 4 / 6 nós amamos sua forma de dizer, e vamos usar, sem perceber, durante algum tempo, seu vocabulário, sua gramática. Nós teremos vontade de penetrar no universo que este ilustrador exprimiu... Com os livros, nós tomamos emprestado o talento de um artista para permitir à criança um novo olhar sobre sua vida. E isso de um modo completamente diferente que falar de sua vida cotidiana. Em torno dos livros, adultos e crianças compartilham suas capacidades de sonhar, de pensar, de imaginar. Isso é importante, porque além de permitir trabalhar a realidade ambiente, torna possível passar ao imaginário. “O encontro com adultos leitores permite às crianças descobrirem uma atividade psíquica que não conhecem mas que torna-se imediatamente delas, à condição de não procuremos tornar útil esse momento, ao verificar a compreensão de cada palavra ou em tentar tirar uma lição de moral do que foi lido”, escreveu René Diatkine. Mas que livros? Quais histórias? É preciso encontrar as boas histórias, aquelas que amamos ler, aquelas que ajudam a dar sentido à vida. É preciso encontrar essas obras de arte. Nós não vamos jamais terminar de aprender sobre a linguagem em todas as suas formas. E o que aprendemos consideramos como parte de nossa personalidade. Quando se é criança, a melhor forma de descobrir a narração, de descobrir a escrita, é de estar em relação com livros e com pessoas que amam ler suas histórias, com pessoas que escolhem esses belos livros e que nós temos vontade de compartilhar do encantamento de sua leitura. Leitura para bebês Educação Infantil 5 / 6 Os livros veiculam histórias nas quais são colocadas questões que as crianças se fazem, que a humanidade inteira se faz: Quem eu sou? De onde eu venho? O que é o mundo? O que é a morte? E o amor, e o ódio? E as sombras? E o brilho das estrelas e do sol? A tristeza, a solidão, a pobreza? E o bom humor, a alegria? De tudo isso falam os livros. É por isso que eles nos interessam. Eu tenho a hipótese, como Pascale Mignon, que é por isso que eles encantam as crianças. Michel Defourny supõe que quando lemos em voz alta uma história para uma criança, “nós inventamos uma música particular que corresponde a que nós pessoalmente retiramos do livro.” Nós propomos um conjunto de palavras, de emoções, de ritmos onde cada um escolhe o que lhe faz sentido, o que lhe interessa, o que encontra eco em si. Os livros nos oferecem novas questões, novas respostas, novas visões, novos pensamentos. Ao abrir um livro na companhia de uma criança, nós aceitamos, ou melhor, nós encontramos prazer em compartilhar com ela esse estado de “não saber” com relação às questões fundamentais que se coloca a humanidade. O adulto não está na posição de ensinar; ele aceita estar na busca de aprender. O que nós abrimos é esse campo possível de questionamentos. Nós nos colocamos, junto com a criança, numa outra forma de relação com o mundo que é a de contemplar suas questões vitais. Com os livros e as histórias lidas em voz alta, nós propomos um encontro com uma dupla temporalidade: o tempo no qual nós lemos cruza o tempo da narrativa. Eu posso ler em cinco minutos Leitura para bebês Educação Infantil 6 / 6 uma história de toda uma vida! A criança acede, deste modo, a uma consciência do tempo. A narrativa lhe permite organizá-la. Tradução livre de Ana Flavia Castanho CAMPO DE EXPERIÊNCIAS “ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO” OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DO CAMPO DE EXPERIÊNCIA “ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO” A BNCC e a leitura para as crianças Leitura para bebês Educação Infantil 1 / 6 Critérios para escolher bons livros Etapa 5: Como você viu, a escolha de bons livros é um ponto fundamental no planejamento de situações de leitura. Para aprofundarmos o que foi discutido no vídeo, convidamos você a fazer a leitura do texto “Como selecionar bons livros de literatura infantil?”, do Itaú Social. Você pode ler o material na íntegra aqui. Material pós-vídeo OBJETIVO DA ETAPA: Oferecer elementos para a construção de um acervo variado e de qualidade para a Educação Infantil Antes de pensar os critérios que definem um livro de qualidade, vamos refletir sobre a importância dessa reflexão: Por que pensar na qualidade dos livros infantis? • Não é verdade que “para criança qualquer leitura é válida”; não se trata de proibir o contato com livros que achamos de qualidade duvidosa, mas é preciso que as crianças tenham acesso a bons livros para se desenvolverem como leitores. • Queremos formar leitores que tenham experiências transformadoras com a literatura; que tenham a possibilidade de pensar em suas vidas e de suas comunidades. • A produção editorial vem crescendo substancialmente nos últimos anos. Leitura para bebês Educação Infantil 2 / 6 • Com a convicção de que as crianças merecem bons livros, apresentamos algumas ideias–bússolas, vindas dos especialistas da área: – Kátia Lomba Brakling, na Matriz de Critérios para seleção de Livros de literatura, do Itaú Social; – Equipe de Resenhadoras da Seção de Bibliografia Brasileira de Literatura infantil e juvenil da Biblioteca Monteiro Lobato, coordenada por Silvia Oberg (até 2009); – Collectivus de Leitura em A Mediação de Leitura na Formação de Leitores – pesquisa teórico- metodológica para a Formação de Mediadores de Leitura; e – Luiz Brás no texto: Literatura Infantil: só para menores? Livros adequados às crianças: • Se entendermos que as crianças são inteligentes, capazes de descoberta e construtoras de significados múltiplos, consideraremos que elas precisam de livros que explorem sua capacidade investigativa, sua sensibilidade, criatividade e imaginação. • Obras que marcam presença na produção editorial por temas inovadores ou por discutirem de forma competente e com qualidade literária uma problemática importante da atualidade, • Obras que não veiculem discriminações ou preconceitos de qualquer espécie, mas que Leitura para bebês Educação Infantil 3 / 6 apresentem situações nas quais esses aspectos sejam problematizados de modo a provocar reflexões críticas por parte dos leitores. • Que o conteúdo não esteja ancorado em estereótipos não problematizados, ou para os quais não se criou um espaço para reflexão crítica no texto e sua trama. • Livros que não subestimem a capacidade intelectual da criança. Nem superestimem, pois isso também não seria respeitá-la em sua fase de desenvolvimento. Livros de Qualidade literária: • Obra não seja espaço de didatização simples de conteúdos escolares, pois a literatura de qualidade não visa apresentar regras de comportamento, letras do alfabeto, ou apresentar explicitamente mensagens de natureza ecológico-ambientais. Ao contrário, cria um espaço para a reflexão crítica dos problemas, sentimentos, emoções, situações vivenciadas no cotidiano das pessoas. • Que o conteúdo não seja apresentado de modo que se perceba uma intenção moralizadora no texto, por meio de “lições” óbvias e apresentadas explicitamente, sem criarum espaço para a reflexão necessária à compreensão crítica do leitor • Michèle Petit em Conferência na Feira do Livro de Buenos Aires em 2015 pontuou que a literatura infantil e juvenil de qualidade “não é utilidade, e sim uma qualidade de presença no mundo”. Para ela, os livros devem ser preservados de objetivação e dotados de interioridade e singularidade. Não somente porque Leitura para bebês Educação Infantil 4 / 6 serão mais eficientes na familiarização com eles, mas porque é vital uma possibilidade de se relacionar musicalmente com o que está aí. • Uso de uma linguagem literária, ou seja, que apresenta ritmo, figuras de linguagem, a conotação como recurso linguístico, entre outros elementos que confiram ao texto valor estético. • Os livros infantis são obras de arte e, portanto, a qualidade das ilustrações é um aspecto muito importante para a constituição de um bom livro. Não podem ser estereotipadas (como um sol com uma carinha sorrindo) nem óbvias na sua relação com o texto. • Que as ilustrações também não sejam estereotipadas, de maneira a “repetirem” o que foi anunciado no texto, em especial se elas vierem depois dele, o que inviabiliza qualquer exercício de antecipação e inferência de possíveis conteúdos da obra, capacidades imprescindíveis ao leitor competente. Ao contrário, que apresentem novas informações, que ofereçam nuances diferenciadas do conteúdo temático, aproveitando espaços deixados no texto verbal com interpretações relevantes do ilustrador, criando, assim, um espaço de participação do leitor na construção dos sentidos. • A qualidade do projeto gráfico: como as composições gráficas se adéquam ao projeto estético e se relacionam com a narrativa literária. Leitura para bebês Educação Infantil 5 / 6 Luiz Brás em seu texto “Literatura infantil: só para menores?” apresenta os 10 mandamentos da literatura infantil: 1. Evitar a infantilização da linguagem e das imagens; 2. Não ser professoral nem moralista; 3. Evitar os estereótipos e os clichês literários e visuais; 4. Não subestimar a inteligência do leitor; 5. Questionar os preconceitos e as verdades prontas; 6. Não fugir dos temas proibidos; 7. Investir nas sutilezas e no vocabulário mais elaborado; 8. Propor experiências literárias e visuais enriquecedoras; 9. Saborear a boa literatura infantil brasileira e estrangeira; 10. Conviver prazerosamente com as crianças. Resumindo, o livro de qualidade literária para crianças: • Acredita e explora a capacidade criativa da criança leitora. • É pensado como obra de arte; explora diferentes linguagens. • Não tem propósitos pedagógicos, informativos ou moralistas. E, como selecionar um acervo para as sessões de mediação de leitura? • Um acervo diversificado, em termos de formatos, gêneros, tamanhos, autores, temas, tempo de edição, cores, diagramações, tem mais chances de atingir diferentes crianças. Leitura para bebês Educação Infantil 6 / 6 • Apresentar diferentes gêneros e autores amplia o contato com a rica produção literária. • Sobre a quantidade de livros, o ideal é pensar pelo menos dois livros por criança. Assim a quantidade de livros será o dobro da quantidade de crianças. • No decorrer das mediações, um olhar atento às necessidades e desejos das crianças vai percebendo as escolhas, as preferências, os interesses, os modos de ler, as brincadeiras que as crianças fazem com os livros. Essas observações te ajudarão na seleção. • A partir da observação das crianças você vai ver que há livros que nunca podem faltar. É legal também sempre introduzir novidades. LIVROS INFANTIS QUE DISPARAM BOAS CONVERSAS EM SALA DE AULA, reportagem de NOVA ESCOLA OS 30 MELHORES LIVROS INFANTIS DE 2018, lista elaborada pela revista Crescer Sugestões de acervo para as crianças Leitura para bebês Educação Infantil 1 / 6 Planejamento de uma situação de leitura Etapa 6: Como você já viu no vídeo, a ideia é que nesta etapa você aprenda a construir um planejamento de situações de leitura a partir das relações estabelecidas com os campos de experiência e os objetivos de desenvolvimento apresentados na BNCC. Por isso, abaixo, você vai encontrar um modelo de planejamento para você se inspirar e levar para a sala de aula. Material pós-vídeo OBJETIVO DA ETAPA: Como caminhar do planejamento à prática e sua reflexão ATIVIDADE PERMANENTE Justificativa Ler para bebês é uma prática que se justifica por muitas razões: Primeiro, porque ao ouvir um adulto ler, o bebê entra em contato com uma outra dimensão da linguagem: o fluxo da fala que “diz” linguagem escrita, apresenta uma cadência própria e, a depender do livro escolhido, rimas, repetições e ritmos novos. Segundo, porque ao ouvir um adulto ler, o bebê também entra em contato com o prazer que o adulto demonstra ao ler, as emoções que sente e expressa, nos tons de surpresa, graça e encantamento que ficam patentes na leitura. Leitura para bebês Educação Infantil 2 / 6 Assim, o adulto leitor é um intérprete em muitos níveis: interpreta o texto, apresentando o bebê à linguagem escrita e interpreta também o que se pode obter do texto, apresentando o bebê ao prazer de ler. Terceiro, quando garantimos que a leitura faça parte da vida do bebê por meio da leitura que o professor faz na escola (CEI, Creche), e tenha nela um sentido de prazer e encantamento, criamos as bases para que as crianças ali atendidas possam se desenvolver plenamente como leitoras, ao longo da vida escolar, nos contrapondo a uma divisão entre leitores e não leitores que costuma espelhar uma diferença social entre os que têm a oportunidade de conviver com livros e leitores e aqueles que não a têm. Mas para que essa prática possa se revestir dos sentidos apontados acima na vida dos bebês é fundamental, que ela seja um hábito, faça parte da sua rotina na escola. Só assim será possível que os bebês desenvolvam familiaridade com os livros, compreendam o que torna esse objeto especial, diferente dos outros que o cercam, desenvolvam um laço afetivo com eles, se interessando em folheá-los e em ouvir sua leitura e possam manter a atenção em escutar a leitura por períodos cada vez maiores. Objetivos e conteúdos - Possibilitar que as crianças, desde bebês, possam participar de rodas de leitura, ter contato com histórias belamente escritas e ilustradas e, assim, criar o hábito de escutar a leitura em voz alta Leitura para bebês Educação Infantil 3 / 6 realizada pelo professor. - Apresentar e disponibilizar livros para que as crianças possam explorá-los, folheando-os e, percebendo neles a fonte daquilo que é lido pelo professor. - Possibilitar que as crianças, desde cedo, familiarizem-se com a linguagem escrita: seu ritmo, sua permanência. - Possibilitar que as crianças iniciem a construção de seu repertório literário. Público: Crianças de 0 a 3 anos de idade. Prazo e estrutura: Como a leitura para bebês é uma atividade permanente de formação de leitores, o ideal é que ela faça parte da rotina dos bebês durante todo o ano. Para desenvolvê-la será necessário selecionar bons livros de literatura infantil, conforme discutimos na etapa anterior. Desenvolvimento: 1ª etapa: Organização da roda de leitura e apresentação do livro (ou: Antes da Leitura) Convide os bebês para escutar a história, criando um clima de cumplicidade e expectativa para escutá-la. Ajude-os a se posicionar em roda. Com o livro em mãos, mostre a capa e leia o título da história. Conte brevemente porque escolheu este livro para ler para Leitura para bebês Educação Infantil 4 / 6 eles. É importante fazer uma breve apresentação do livro, folhandoas páginas e mostrando as ilustrações e antecipando as possibilidades que título e ilustrações apresentam para o enredo contribui para diminuir a ansiedade, despertar o interesse e criar uma maior tolerância para escutar a leitura da história. 2ª etapa: Leitura da história (ou: durante a leitura) Leia demonstrando entusiasmo pela história e interpretando as emoções despertadas por ela. Faça pequenas pausas, antes de virar cada página, para mostrar brevemente as ilustrações para os bebês. Acolha comentários, balbucios e gestos, nomeando descobertas e interesses demonstrados pelos pequenos, ao longo da leitura, e retorne a ela, retomando a leitura ou fazendo convites como “vamos ver o que acontece agora?” ou “acho que esse personagem vai aparecer outra vez no livro, vou continuar a ler” ou outros convites delicados que reconheçam o movimento das crianças como leitoras e as convidem para a continuidade da leitura. Não simplifique a história nem pule ou inclua partes: o objetivo é que os bebês conheçam um bom exemplo de linguagem escrita, com seu fluxo, entonação, ritmo característicos. Quando se simplifica, inclui-se elementos novos – como nomes para os personagens, diminutivos que não estavam no texto, etc. - ou pula-se partes, rouba- se da linguagem escrita essas características, aproximando-a da linguagem oral. Além disso, essas ações comunicam a concepção de que os bebês não Leitura para bebês Educação Infantil 5 / 6 podem entender um texto literário como tal, que é preciso “facilitar” essa compreensão. O que não é verdade, primeiro porque toda obra literária permite múltiplas releituras, exatamente porque permite muitos níveis de compreensão; e, segundo, porque o que é determinante para a compreensão da história é a atuação do professor enquanto leitor, que permite que as crianças tenham acesso ao teor emocional da história, se envolvam com seus personagens etc. 3ª etapa: Espaço de intercâmbio entre as crianças (ou: depois da leitura) Terminada a leitura, converse com elas sobre a história, suas aventuras e emoções, tornando a folhear o livro a fim de que as crianças vejam as ilustrações. Agora é o momento de relembrar em voz alta os balbucios, palavras e gestos dos bebês: comente o que chamou a atenção deles, mostre que outros colegas também gostaram disso e que outros preferiram outras partes da história. Convide-os a explorar o livro junto com você. Evite propor atividades não literárias em torno da leitura do livro, como, por exemplo, ler uma história em que há um jogo de bola e jogar bola, depois desenhar a bola, pintar a bola, fazer uma bola com recorte de jornal, etc. As atividades em torno do livro devem ter a mesma natureza daquelas que leitores reais fazem uso quando leem, como compartilhar o efeito que uma leitura produz, compartilhar e comparar partes preferidas da história, ter sua própria lista de autores e livros preferidos... Tudo isso pode ser feito desde o início da vida dos bebês Leitura para bebês Educação Infantil 6 / 6 na escola, desde que eles tenham como mediador um professor que atue como modelo de leitor e reconheça, valide e nomeie nas ações das crianças os seus comportamentos leitores nascentes, apresentados por meio de gestos, balbucios, palavras... Material adaptado do planejamento original realizado por ocasião do Projeto Entorno, realizado pela Fundação Victor Civita. Leitura para bebês Educação Infantil 1 / 2 Para continuar estudando... Etapa 9: Livros e sites de referência Deixem que leiam, Geneviève Patte (Ed. Rocco, 2012) Por que ler: É uma obra fundamental para refletirmos sobre os critérios de escolha de livros da literatura infantil, como o que caracteriza um bom livro ilustrado, como escolher um bom livro de aventuras, o que faz de um clássico, um clássico etc. É uma leitura que nos torna melhores formadores de leitores. Andar entre livros, Teresa Colomer (Ed. Global, 2010) Por que ler: Oferece aos professores reflexões importantíssimas sobre o trabalho com a leitura na escola e, para o percurso de estudo proposto nesse curso, apresenta uma contribuição fundamental: a observação de como o trabalho com a leitura, na primeira infância dialoga com processos-chave do desenvolvimento infantil. Vale a pena estudar o capítulo 2! En torno a la cultura escrita, Margaret Meek (Ed. Fondo de Cultura Economica, 2004) Por que ler: Essa obra é um clássico sobre a relação das crianças com a cultura escrita e a ação do professor como um leitor modelo, que abre as portas desse mundo para ela. Trata-se de uma boa leitura, então, para quem quiser se aprofundar nas discussões em torno do tema da leitura para bebês. Los libros, eso es bueno para los bebés, Marie Bonnafé. Eeditora Oceano Travesía, 2008 Por que ler: para a autora, os bebês nascem com necessidades primárias de alimentação, afeto, sonho e também de relatos. O livro todo é dedicado à aproximação cultural na primeira infância e à questão da leitura para bebês. Leitura para bebês Educação Infantil 2 / 2 Sites WWW.NOVAESCOLA.ORG.BR Por que ler: Você vai encontrar uma série de propostas interessantes de leitura para bebês que vão, certamente, alimentar seu trabalho com eles. Escolhemos algumas dessas propostas para apresentar a você durante o curso, mas vale a pena que você mesmo faça suas buscas. WWW.ITAU.COM.BR/CRIANCA Por que ler: Conheça mais sobre a iniciativa do Itaú e encontre dicas para realizar trocas de livros e sugestões de atividades ao ar livre, jogos de tabuleiro e outras brincadeiras para o momento de leitura. WWW.REVISTAEMILIA.COM.BR Por que ler: Você encontrará artigos de autores e estudiosos que pensam a leitura, hoje. WWW.ESPANTAPAJAROS.COM Por que ler: Apesar deste site estar em espanhol, optamos por indicá-lo, aqui, devido as propostas de formação de leitores que apresenta e dos artigos sobre formação de leitores que disponibiliza. É um material muito interessante para o professor. WWW.ITAUSOCIAL.ORG.BR Por que ler: Neste site, você conhece mais sobre as iniciativas e programas desenvolvidos pela Fundação Itaú Social, além de materiais e publicações de referência, como os resultados da pesquisa “Impacto da leitura feita pelo adulto para o desenvolvimento da criança na primeira infância”