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Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 1 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Úlcera de Origem não Vascular Alberto Eduardo Cox Cardoso INTRODUÇÃO Durante o tratamento da úlceras vasculares será inevitável o aparecimento de úlceras de etiologia não vascular, quando o angiologiasta e o cirgião vascular devem estar atento para os diagnóstico diferenciais para oferecer o tratamento adequado em cada situação. Neste capítulo serão apresentado estas úlceras (quadro), com sua definição, agente etiológico, quadro clínico e tratamento. Quadro - Classificação das úlceras de etiologia não vascular 1. Provocadas por protozoários 1.1. Leishmaniose tegumentar americana 2. Provocadas por bactérias: 2.1. Ectimas 2.2. Micobacterioses atípicas 2.3. Tuberculose (cutânea indurativa de Bazin) 2.4. Hanseníase 2.5. Úlcera tropical 3. Provocadas por fungos: 3.1. Esporotricose 3.2. Paracoccidioidomicose 4. Provocadas por animais peçonhentos: 4.1. Loxocelismo 4.2. Ofidismo 5. Úlceras de origem hematológica: 5.1. Anemia falciforme Leishmaniose tegumentar americana Definição: zoonose que afeta vários animais ocasionalmente parasitando o homem. Agente etiológico: são protozoários do gênero Leishmania que são transmitidos de animais para os homens por fêmeas de flebotomideos infectados. As formas flageladas denominadas promastigotas são encontrados no tubo digestivo do mosquito e nos meios de cultura e a não flagelados ou amastigotas são encontrados nos tecidos de outros animais vertebrados. As espécies encontradas no Brasil são a Leishmania amazonensis na região amazônica, a Leishmania (Viania) guyanensis encontradas ao norte da bacia amazônica e a Leishmania (Viania) brasiliensis distribuída por todo o País.1, 2 Quadro clínico: a úlcera típica da leishmaniose é arredondada com as bordas elevadas e infiltradas (em moldura de quadro) fundo granuloso de cor vermelha-viva, recoberta ou não por exsudato seroso, sero-sanguinolento ou sero-purulento. Podem ocorrer lesões ulcero-crostosas, ulcero-vegetantes ou ectimatoides. Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 2 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 1 - Lesão ulcerada na perna com os bordos elevados e o fundo granuloso recoberto por secreção sero- purulenta com restos de medicamento (úlcera leshmaniótica). Figura 2 - Lesão ulcerada com secreção sero-sanguinolenta localizada no terço médio da perna (úlcera leshmaniótica). Figura 3 - Típica úlcera leshmaniótica localizada na face medial do tornozelo direito (úlcera leshmaniótica). Diagnóstico laboratorial: nas lesões recentes o parasita pode ser encontrado em esfregaço corada pelo Leishman ou Giemsa e nos tecidos no exame anátomo-patológico corado pelo Hematoxila-eosina ou Giemsa. A intradermorreação de Montenegro é positivo em 90% dos casos. A imunofluorescencia indireta é positiva em 75% dos doentes, porém não é específica.2 Tratamento: é realizado com antimoniais, deles o mais empregado é o N-metil-glucamina (Glucantime®) encontrado em ampolas de 5 ml com 1,5 g do sal (425 mg de sb pentavalente). Deve ser administrado na dose de 15 mg/sb/kg dia, por via intramuscular profunda, ou por via endovenosa, gota a gota, diluído em 10 ml de soro glicosado a 25%. Também podem ser utilizados a anfotemicina B (Fungison® 50 mg/frasco) e o isotionato de pentamidina (Pentacarinat® 300 mg por ampola). Ectima Definição: lesões úlcero-crostosas localizadas mais freqüentemente nas pernas, causadas por cocos gram-positivos. Agente etiológico: Streptococcus Ò-hemolítico e/ou Staphylococcus aureus. Quadro clínico: inicia-se com vesícula ou vésico-pústula que ulcera e é recoberta por crosta seca, espessa e aderente, mais comum em crianças. Como complicação pode ocorrer glomerulo-nefrite. Figura 4 - Lesões eritemato-úlcero-crostosas localizadas na face anterior das coxas (úlcera ectímica). Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 3 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 5 - Lesão eritematosa-hiperpigmentada com ulcerações algumas com crostas e outras com o fundo granuloso recoberto por secreção sero-purulenta (úlcera ectímica). Figura 6 - Lesão ulcerada no tornozelo e lesão pustulosa no dorso do pé esquerdo (úlcera por microbactérias atípicas) Tratamento: compressas anti-sépticas (permaganato de potássio, água d’Alibour) pomadas antibióticas (neomicina mupirocina), antibióticos orais, cefalosporina, amoxacilina, eritromicina, penicilina G, penicilina benzatina, sulfametoxazol-trimetoprima. Microbactérias atípicas ou ambientais Definições: as microbactérias atípicas ou ambientais ou oportunistas são bacilos alcool- ácido-reistentes (BAAR) e têm características culturais e sorológicas diferentes dos bacilos da tuberculose. Agente etiológico: entre os mais comuns têm- se o complexo Mycobacterium avium intra - cellulare, M. fortuitum, M. chelonae, M. scrofulaceum, M. marinum e M. ulcerans.2 Quadro clínico: as lesões cutâneas podem ser papulosas, nodulares, ulceradas, ulcero- crostosa ou verrucosas que surgem após a inoculação das micobacterias através de um trauma. O Mycobacterium ulcerans causa necrose do tecido celular subcutâneo e depois ulceração. Figura 7 - Lesões ulceradas com o fundo granuloso recoberto por secreção sero-purulenta na face antero- medial do antebraço direito. Figura 8 - Lesão eritematosa-nodulo-ulcerada no dorso de mão (úlcera por microbactérias atípicas). Diagnóstico laboratorial: é feito bacteriologicamente através do exame direto corado pelo método de Ziehl Neelsen e de cultura para determinar a espécie. O PCR e um método promissor utilizado no diagnóstico das microbacterioses. Tratamento: deve levar em consideração o agente etiológico e as principais condições predisponentes. Pode utilizar-se isoniazida , etambutol e rifampicina. Também são usadas eritromicina, doxociclina, sulfametoxazol isolado ou associado a trimetoprima. Tuberculose cutânea Definição: doença infecto -contagiosa que ocorre devido a colonização da pele por bacilos. Agente etiológico: bacilos alcool-ácidos- resistentes como o Mycobacterium tuberculosis, M. bovis.2 Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 4 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Quadro Clínico: as lesões cutâneas podem ser causadas pela colonização dos bacilos na pele; tuberculoses propriamente ditas ou devido a hipersensibilidade a um foco ativo da doença localizado em outro parte do corpo, tubercúlides. Dentre as diversas formas de tuberculose cutânea e tubercúlides, o eritema indurado de Bazin, cuja classificação é controversa pois hora é estudado como tuberculose propriamente dita e hora como tuberculide é caracterizado pela presença de nódulos eritematosos, alguns ulcerados localizados preferencialmente na parte posterior das pernas e coxas. Figura 9 - Lesão ulcerada com o fundo granuloso recoberto por secreção serosa na face antero-lateral da perna esquerda (tuberculose cutânea). Figura 10 -Lesão ulcerada recoberto por secreção sero- purulenta com halo hiperpiguimentado localizada, na face antero medial do terço inferior da perna direita (tuberculose cutânea). Figura 11 - Lesões ulceradas com bordos eritemato- violáceas na face posterior da perna. Diagnóstico laboratorial: bacterioscopia com a presença de BAAR, cultura, inoculação em cobaia, histopatologia, reação a tuberculina e Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 5 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro mais recentemente a reação da cadeia de polimerase (PCR). Tratamento: primeira fase: duração de dois meses, rifampicina 600 mg/dia, isoniazida 400 mg/dia, pirazinamida 2 g/dia; segunda fase: duração 4 meses, rifampicina 600 mg/dia, isoniazida 400 mg. Hanseníase Definição: doença infecto-contagiosa crônica causada por uma bactéria alcool-ácido- resistente, Mycobacterium leprae, transmitida pelo contato com doentes baciliferos.2 Agente etiológico: Mycobacterium leprae bacilo gram-positivo alcool-ácido-resistente, isto é, cora-se pela fucsina ácida e não se descora pelos ácidos e alcoois. È um parasita intra-celular com um tropismo pelas células de Schwann e do sistema reticulo-endotelial. È um bastonete reto ou ligeiramente encurvado, medindo 1,5 m de cumprimento por 0,25 a 0,3 m de diâmetro que tende a se agrupar formando globias. Quadro clínico: suas manifestações clínicas envolvem a pele e o sistema nervoso periférico. Normalmente não ocorrem ulceras, porém, nos estados reacionais elas podem ser encontradas. As reações são episódios agudos ou sub-agudos, cutâneos ou extra -cutâneos que interrompem a evolução crônica da doença. Podem ocorrer em todas as formas clínicas, excentuando-se o grupo indeterminado. Há 2 tipos de reações. A do tipo I ou reversa que ocorre em pacientes tuberculóides e dimorfos. São pacientes que possuem algum grau de imunidade celular. Reação tipo II ou eritema nodoso hansênico. Ocorrem em pacientes dimorfos avançados ou virchowianos, Nestes casos a imunidade célular não existe. Reações tipo I – as lesões pré-existentes tornam-se eritematosas, edematosas, e novas podem surgir. Nos casos tuberculóides o estado geral e os nervos são menos comprometidos que nos casos dimorfos. Pode ocorrer ulceração . Reações tipo II – freqüentemente o estado geral é comprometido e surgem nódulos eritematosos dolorosos na pele que podem ulcerar (eritema nodoso necrotizante). Figura 12 - Doente de hanseníase virchowiana, com vários hansenomas nos membros inferiores e lesões ulceradas. Tratamento: além do tratamento poliquimioterápico que é utilizado para os casos paucibacilares e multibacilares, nas reações tipo I utiliza-se prednisona 20 a 60 mg por dia, dependendo da intensidade do quadro. Nas ulcerações antissépticos como permaganato de potássio 1.1000, cremes e/ou pomadas com antibióticos. Nas reações tipo II a talidomida é a medicação de escolha na dose de 100 a 400 mg por dia, porém, não deve ser utilizada em mulheres gestantes ou que tenham possibilidade de engravidar. A prednisona pode ser utilizada como nas reações do tipo I. Clofazimina de 100 a 300 mg/dia. O tratamento das lesões ulceradas é semelhante as do tipo I . Úlcera tropical Definição: são lesões ulcerosas localizadas principalmente nos membros inferiores. Ocorrem em países tropicais e subtropicais. As pessoas afetadas são subnutridas e vivem em más condições de higiene.2 Agente Etiológico: várias bactérias são isoladas das úlceras tropicais como a Borrelia Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 6 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro vicenti, o Fusobacterium fusiformis, estafilococos plasmocoagulase positivos, estreptococos hemolíticos, bacilos coli e proteus. Quadro clínico: lesões úlceradas de aproximadamente 10 cm de diâmetro, únicas ou múltiplas com bordas bem marcadas, fundo gelatinoso e exalando odor fétido, localizadas geralmente nas pernas. Figura 13 - Lesão ulcerada com as bordas eritemato- violáceas, solapadas, fundo granuloso recoberto por secreção sero-purulenta. Figura 14 - Lesões ulceradas localizadas na região plantar e face medial do pé direito. Tratamento: penicilina 1.000.000 U associada a estreptomicina 1,0 g por dia durante 7 a 10 dias. Também podem ser utilizados tetraciclinas ou eritromicina 2 g por dia durante 7 a 10 dias. Topicamente usa -se neomicina, garamicina ou mupirocim. É importante a melhoria do estado geral do paciente. Esporotricose Definição: micose profunda de evolução subaguda ou crônica que afeta o homem e outros animais. Agente etiológico: Sporotrix schenckii fungo dimórfico que existe como saprofita na natureza e encontrado no solo. É inoculado através de ferimentos com materiais contaminados. Ocasionalmente mordedura de animais e picada de insetos servem como transportadores da doença.3 Quadro clínico: É polimorfo e as lesões são cutâneas e excepcionalmente afetam outros órgãos. Dentre as lesões ulceradas temos o cancro esporotricótico que é o local da inoculação da doença. A partir deste local pode surgir nódulos, gomas que podem ulcerar, com a disposição das contas de um rosário. Mais raramente surge ulceração que pode ser única ou múltipla. As bordas são irregulares. Figura 15 - Lesão ulcerada com bordas infiltradas localizada no dorso do terceiro pododáctilo e pé esquerdo (esporotricose). Figura 16 - Lesões nódulo-ulceradas seguindo o trajeto dos vasos linfáticos no membro superior direito do paciente (esporotricose). Diagnóstico laboratorial: a) cultura em meio de Sabouraud, após 3 à 5 dias da semeadura do pús da lesão surgem culturas castanho Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 7 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro negro; b) exame direto com anticorpos fluorescentes; c) exame histopatológico, granulomas com supuração central e reação plasmohistiocitária na periferia. Utilizando-se as colorações de PAS, Gomori, imunoperoxidase ou ferro coloidal o fungo pode ser visualizado; d) reação de esporotriquina, inoculação do antígeno e leitura após 48 horas. Tratamento: Solução saturada de iodeto de potássio. Início do tratamento com 0,5 a 1 g/dia no adulto, podendo atingir 4 a 6 g/dia. Outros drogas podem ser utilizadas como itraconazol, fluconazol, fluocitosina. Paracoccidroidomicose Definição: também denominada de blastomicose sul americana, é uma doença subaguda ou crônica de origem micótica. Agente etiológico: Paracoccidioides brasiliensis. É um fungo saprofita do solo e que possui dimorfismo influenciado pela temperatura. Quadro clínico: pode causar lesões mucosas, cutâneas e vicerais. As lesões cutâneas são polimorfas e surgem em qualquer área da pele. As lesões ulceradas podem mostrar um pontuado hemorrágico que é sugestivo da moléstia.2,6 Figura 17 - Lesões ulceradas, ulcero-crostosa de vários diâmetros, localizadas no braço direito no tórax, pescoço e face (paracoccidromicose). Figura 18 - Lesão ulcerada de fundo granuloso, recoberta por crostas em algumas áreas, atingindo o supercílio esquerdo, regiões frontal e parietais. Duas lesões de menor tamanho no nariz (paracoccidromicose). Diagnóstico: através do exame micológico direto com a identificaçãodo fungo com gemulação única ou múltipla. No exame histopatológico corado pelo H.E. ou com colorações especiais como P.A.S. ou Gomori. Tratamento: Sulfametoxazol com trimetoprima 800/160mg cada 12 horas durante 1 mês e depois 400/80mg por tempo indeterminado. Anfotericina B – Indicação eletiva nas formas graves. Imidazólicos: ketoconazol, itraconazol e fluconazol. Loxoscelismo Definição: é processado por picada de aranha. Agente etiológico: Aranhas do gênero Loxoceles (aranha marrom) que possuem veneno proteolítico e hemolítico.4 Quadro clínico: Após a picada que muitas vezes passa desapercebida, surge entre 12 e 24 horas placa edematosa, vesicobolhosa e equimoses. Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 8 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Pode ocorrer necrose, que, com a eliminação do esfacelo forma uma úlcera de bordas elevadas simulando uma úlcera leishmaniótica. Figura 19 - Lesão ulcerada com bordas bem delimitadas e área necrótica central, localizada na coxa esquerda (loxoscelismo). Figura 20 - Lesão ulcerada com bordas bem delimitadas e área necrótica central, localizada na nuca (loxoscelismo). Tratamento: Em casos graves pode ser usado soro antiaracnídico de 5 à 10 ampolas. A sulfona pode ser utilizada na dose de 100 mg ao dia. Ofidismo Definição: Acidentes provocados por picada de serpente. Dentre os acidentes serão estudados neste item os que provocam ulcerações na pele.4 Agente Etiológico: sSerpentes pertencentes a dois gêneros são causadoras das lesões, Bothrops e Lachesis. O primeiro é responsável por 85% dos envenenamentos. São as jararacas distribuídas por todo o país. Quadro clínico: o veneno botrópico tem atividade proteolítica e coagulante, provocando edema, equimose, bolha e necrose. O acidente laquético provoca lesões muito semelhantes ao botrópico, porém é bem mais raro. Figura 21 - Lesão ulcero necrótica com exposição de tendões e ossos no pé esquerdo provocada por veneno botrópico (ofidismo). Tratamento: O tratamento específico é feito utilizando-se o soro botrópico de 4 a 12 ampolas por via endovenosa de preferência até três horas após a picada. No acidente laquético soro antilaquético de 10 a 20 ampolas. Quando ocorre a necrose é feita a limpeza cirúrgica e o uso de antissépticos e pomadas com antibióticos. Anemia falciforme Definição: é uma alteração hereditária causada pelas propriedades anormais dos eritrócitos falciformes em decorrência da hemoglobina falciforme mutante (HBS).5 Quadro clínico: na anemia falciforme em homozigotos, 15-75% dos pacientes podem desenvolver úlcera de perna. Quase sempre são bilaterais. É três vezes maior no sexo masculino. Úlcera de Origem não Vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 9 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 22 - Três lesões ulceradas recobertas por secreção amarelada localizadas na face medial da do tornozelo (anemia falciforme). Figura 23 - Lesão ulcerada, crostosa na face medial do tornozelo (anemia falciforme). Figura 24 - Três lesões ulceradas recobertas por secreção amarelada localizadas na face lateral do tornozelo esquerdo (anemia falciforme). As úlceras ocorrem próximas aos tornozelos, têm as margens bem definidas, são redondas ou ovais, superficiais ou profundas e deixam uma cicatriz atrófica hipopigmentada brilhante com halo hiperpgmentado. O diagnóstico diferencial deve ser feito com a úlcera da leishmaniose tegumentar, ectimas e úlcera tropical. Tratamento: faz-se a remoção dos tecidos necróticos, curativos secos ou úmidos e eventualmente aplicação da bota de Unna. O repouso elevação do membro facilita a cicatrização. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conhecimento das úlceras de etiologia não vascular para o angiologiasta e para o cirurgião vascular é fundamental no diagnóstico diferencial das úlceras para o correta condução do doente. Devendo sempre ser lembrada na vigencia de úlceras que não tem características das úlceras de origem vascular que é o dia-a-dia destes especialistas. REFERÊNCIAS 1. Sampaio RNR. Leishmaniose tegumentar americana ou leishmaniose cutâneo-mucosa. In: Diógenes MJN, Guilhon RMP, Gonçalves HS, Neves RG, editores. Atlas de dermatopatologia tropical. Fortaleza: Inova; 1997. p. 55-59. 2. Sampaio SAP, Rivitti EA, editores. Dermatologia. 2ª ed. São Paulo: Artes médicas; 2000. 3. Campbell I. Esoporotricose. In: Zaitz AD, Campbell I, Marques AS, Ruiz LRB, Souza MV, editores. Compêndio de micologia médica. Rio de Janeiro: Medsi; 1998. p. 123-137. 4. Haddad Jr V. Animais peçonhentos e dermatologia. In: Diógenes MJN, Guilhon RMP, Gonçalves HS, Neves RG, editores. Atlas de dermatopatologia tropical. Fortaleza: Inova; 1997. p.93-94. 5. Embury SH. Anemia falciforme e hemoglobinopatias associadas. In: Bennett JC, Plum F, editores. Cecil tratado de medicina interna. 20ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1997. p. 976- 988. 6. Sampaio SAP. Paracoccidioidomicose. In: Talhari S, Neves RG, editores. Dermatologia tropical. São Paulo: Medsi; 1995. p. 147-165. Versão preliminar Úlcera de origem não vascular Alberto Cardoso 16/05/2003 Página 10 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Agradecimentos: O Autor agradece ao Prof. Dr. Evandro Rivitti, do Departamento de dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e ao Prof. Vidal Haddad Junior do Departamento de dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu, pela cessão de algumas fotos que ilustram este capitulo Versão prévia publicada: Nenhuma Conflito de interesse: Nenhum declarado. Fontes de fomento: Nenhuma declarada. Data da última modificação: 15 de agosto de 2000. Como citar este capítulo: Cardoso AEC. Úlceras de origem não vascular. In: Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www.lava.med.br/livro Sobre o autor: Alberto Eduardo Cox Cardoso Professor Titular da Disciplina de Dermatologia da Fundação Universitária de Ciências da Saúde de Alagoas / Escola de Ciências Médicas de Alagoas, Maceió, Brasil. Endereço para correspondência: Rua Moreiira e Silva, 469 57021-500 Maceió, AL. Correio eletrônico: albertocardoso@medicodermatologista.com.br
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