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Monografia Euclides Hermes Tomo

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
Euclides Hermes Jaime Fernando Tomo 
 
 
 
ANÁLISE DO REGIME DE TRANSMISSÃO DO DUAT NA LEI Nº 19/97, DE 01 DE 
OUTUBRO – LEI DE TERRAS 
 
 
Monografia submetida à Faculdade de 
Direito – Universidade Católica de 
Moçambique, como requisito parcial para 
obtenção do grau de licenciatura em 
Direito. 
 
Supervisor: Ma. Coutinho Quanhiua 
 
 
Nampula 
2018 
Euclides Hermes Jaime Fernando Tomo 
 
 
 
 
 
ANÁLISE DO REGIME DE TRANSMISSÃO DO DUAT NA LEI Nº 19/97, DE 01 DE 
OUTUBRO – LEI DE TERRAS 
 
 
 
 
Monografia submetida à Faculdade de 
Direito – Universidade Católica de 
Moçambique, como requisito parcial para 
obtenção do grau de licenciatura em 
Direito. 
 
 
 
 
 
Nampula 
2018 
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
Euclides Hermes Jaime Fernando Tomo 
 
 
 
 
ANÁLISE DO REGIME DE TRANSMISSÃO DO DUAT NA LEI Nº 19/97, DE 01 DE 
OUTUBRO – LEI DE TERRAS 
 
 
___________________________, _____ de ________ de _____ 
RESULTADO 
_____________________________________________________ 
Membros do Júri 
Presidente:______________________________________________________________ 
Supervisor:______________________________________________________________ 
Examinador:_____________________________________________________________ 
Estudante:_______________________________________________________________ 
 
I 
 
Termo de autenticidade 
 
 
 
 
Eu, Euclides Hermes Jaime Fernando Tomo, estudante finalista desta instituição de ensino 
superior, declaro por minha honra que esta monografia é resultado da minha investigação 
pessoal e das orientações do meu tutor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas 
estão devidamente mencionadas no texto, e na bibliografia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por ser verdade, subscrevo-me 
_____________________________________ 
Euclides Hermes Tomo 
 
 
 
 
II 
 
 
Agradecimentos 
 
Em primeiro lugar agradeço ao nosso senhor, Deus todo-poderoso, que me tem iluminado e 
abençoado, pela vida, saúde e sucessos. 
 
Agradecimentos especiais vão ao Ma. Coutinho Quanhiua, pelo rigor e paciência que teve na 
valiosa orientação e assistência, que sem dúvida foi fundamental para elaboração deste 
trabalho de final do curso. Paralelamente a ele, outro agrado é merecido a todos os docentes 
da UCM Faculdade de Direito de Nampula que leccionaram as cadeiras nas turmas em que 
passei. 
 
Agradeço à minha mãe, Helena de Lurdes Jaime Ualaque, aos meus irmãos, Hélio, 
Hermenegildo, Ivan e Edmundo, e à minha noiva, Adriana Guirrugo, que estiveram presentes 
em todos os momentos que precisei, dando-me apoio para que eu pudesse formar-me, 
realizando assim um sonho de vida. 
 
Aos meus amigos, familiares e colegas de faculdade, em especial Octávio Roseiro, Hamido 
Tarmamad, Alter Xavier e Hassamo dos Santos pela compreensão, companhia e amizade 
durante esta longa jornada. 
 
 
 
 
 
 
III 
 
 
 
Dedicatória 
 
Dedico este trabalho ao meu falecido pai, Lacerda Fernando Tomo, e minha mãe, pois a eles 
devo a minha vida assim como a minha formação, aos meus irmãos, amigos e familiares que 
me acompanharam, ajudaram e suportaram durante esses quatro anos de formação e aos 
docentes da UCM – Faculdade de Direito de Nampula. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
«Encontrou-se, em boa política, o 
segredo de fazer morrer de fome aqueles 
que, cultivando a terra, fazem viver os 
outros». 
Voltaire 
 
V 
 
Abreviaturas 
 
ART. 
 
 
Artigo; 
Act. Actualizada; 
CC Código Civil Moçambicano; 
C.COM Código Comercial Moçambicano; 
CRM Constituição da República de Moçambique 
de 2004; 
CRP Constituição da República Portuguesa de 
2005; 
Ed. Edição; 
Et al E outros; 
FADIR-UCM Faculdade de Direito da Universidade 
Católica de Moçambique; 
Ha 
ICB 
LT 
Ob. Cit. 
Hectares 
Infra-estruturas, construções e benfeitorias 
Lei de Terras 
Obra citada; 
P. Página; 
PNT 
Rev. 
Política Nacional de Terras 
Revista; 
Reimpr. Reimprimida; 
RLT Regulamento da Lei de Terras 
VI 
 
RSU 
Vol. 
Regulamento do Solo Urbano 
Volume; 
ss. Seguintes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VII 
 
Resumo 
A análise do regime de transmissão do Duat na Lei Nº 19/97, de 01 de Outubro– Lei de Terras 
faz-se necessária pois é uma questão que desperta alguma polémica e vários transtornos 
socias, económicos e jurídicos, quer pela sua complexidade, quer pela sua morosidade e 
ambiguidade em algumas questões. Daí faz-se necessário um estudo sobre a transmissão do 
DUAT (Direito de Uso e Aproveitamento da Terra), tanto inter-vivos, como por mortis causa, 
visando descobrir quais são os problemas existentes no actual modelo legislativo. Assim, é 
com a ambição de querer melhorar a situação legal dessa figura jurídica, que surge o presente 
artigo, e nele propõe-se uma inovação do procedimento administrativo relativo às formas de 
transmissão do DUAT, sugere-se a criação de um regulamento específico, para além dos já 
existentes Regulamento da Lei de Terras, aprovado pelo Decreto 66/98, de 8 de Dezembro 
(RLT), e o Regulamento do Solo Urbano, aprovado pelo Decreto 60/2006, de 26 de 
Dezembro (RSU), sobre esta figura jurídica, e também de um orgão ou entidade autónoma, 
cuja única função será regular o processo de transmissão do DUAT, pois enquanto tal não 
suceder os conflitos e ilegalidades que têm ocorrido actualmente ainda continuarão se 
verificando. Além disso propõe-se a criação de um mercado de acções que visem a 
oficialização da transmissão onerosa dos DUATs, pretendendo-se deste modo obter retorno 
financeiro para os cofres públicos relativos aos negócios de terras que vem ocorrendo 
clandestinamente. Deste modo, na elaboração deste artigo científico, fez-se uso dos métodos 
do método sistêmico, método este que procura compreender a complexidade da realidade, 
bem como suas transformações, através dos processos sistêmicos e do feedback que acontece 
permanentemente entre o sistema e seu meio externo, sendo os tipos de pesquisa a 
bibliográfica e a descritiva. 
 
Palavras-chave: DUAT, transmissão, terra. 
 
 
 
 
 
VIII 
 
Abstract 
The analysis of the regime of transmission of DUAT in the Law no. 19/97, of October 1
st
 – 
Lands Law, it is made necessary because it is a subject that provokes some controversy and 
several social, economic and juridical conflicts, as for its complexity, as for its slowness and 
ambiguity in some subjects. Then it is done necessary a study on the transmission of DUAT 
(Direito de Uso e Aproveitamento da Terra), as for inter-alive, as for mortis-causa, seeking to 
discover which are the existent problems in the current legislative model. So, it is with the 
ambition of wanting to improve the legal situation of that juridical figure, that the present 
article appears, and it intends an innovation of the administrative procedure relative to the 
forms of transmission of DUAT, it suggests the creation of a specific regulation, besides the 
already existent Regulation of the Law of Lands, approved for the Ordinance 66/98, of 
December 8
th
 (RLT), and the Regulation of the Urban Soil, approved for the Ordinance 
60/2006, of December 26 (RSU), on this juridical figure, and also the creation of an 
autonomous organ or entity, whose only function will be to regulate the process of 
transmission of DUAT, because if don‟t, such conflicts and illegalities that have been 
happening now, they will still continue happening. Besides that, we intend the creation of a 
market of actions that seeks the officialization of the onerous transmission of DUATs, being 
intended this way to obtain financial return for the relative public treasury to the lands 
businesses that it is happeningsecretly. In that order, for the elaboration of this scientific 
article, it was used the systemic method, method this that tries to understand the complexity 
of the reality, as well as their transformations, through the systemic processes and of the 
feedback that happens permanently between the system and it external middle, being the 
research types the bibliographical and the descriptive ones. 
 
Key-words: DUAT, transmission, land. 
 
 
 
 
 
IX 
 
ÍNDICE 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12 
CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 14 
1. Referencial teórico: do conceito do DUAT....................................................................... 14 
1.1. Características próprias do DUAT ............................................................................. 15 
1.2. Regime jurídico do DUAT ............................................................................................ 15 
1.3. Sujeitos do DUAT ......................................................................................................... 15 
1.4. Do Âmbito ................................................................................................................. 16 
1.5. A Comparação entre a posse e Propriedade nos Direitos Reais e no DUAT ............ 16 
1.6. Antecedentes no Direito Colonial .............................................................................. 16 
1.7. O regime da terra na Constituição e a consequente implicação no tratamento da 
transmissibilidade do DUAT ................................................................................................ 19 
1.8. A transmissão da terra no âmbito da Lei nº 6/79, de 3 de Julho – Lei de Terras de 
1979 e respectivo regulamento ............................................................................................. 21 
1.9. A transmissão do DUAT na Lei nº 19/97, de 1 de Outubro – Lei de Terras de 1997 e 
respectivos regulamentos ...................................................................................................... 23 
1.9.1. Transmissão “mortis causa”.................................................................................... 26 
1.9.2. Transmissão “inter vivos” ....................................................................................... 27 
1.9.2.1. Transmissão de Prédios rústicos .......................................................................... 27 
1.9.2.2. Transmissão de prédios urbanos .......................................................................... 27 
1.9.3. Por desmembramento de áreas das comunidades ................................................... 27 
1.9.4. Por acessão .............................................................................................................. 28 
1.9.5. Por transmissão de infra-estruturas, construções e benfeitorias .............................. 28 
CAPÍTULO II ........................................................................................................................... 29 
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 29 
2.1. Tipo e Natureza de Pesquisa ...................................................................................... 29 
2.2. Tipo de pesquisa ........................................................................................................ 30 
X 
 
2.3. Técnica de colecta de dados ....................................................................................... 30 
2.4. Pesquisa quanto aos objectivos .................................................................................. 31 
2.5. Quanto à abordagem do problema ............................................................................. 31 
CAPÍTULO III ......................................................................................................................... 32 
3. Apresentação e análise de dados ....................................................................................... 32 
3.1. Efectividade da Política Nacional de Terras .............................................................. 32 
3.2. Outros dados relevantes ............................................................................................. 34 
CAPÍTULO IV ......................................................................................................................... 36 
4. Discussão dos resultados a luz do quadro teórico ............................................................. 36 
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 43 
RECOMENDAÇÕES ............................................................................................................... 44 
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................... 47 
XI 
 
12 
 
INTRODUÇÃO 
Segundo Lakatos & Marconi
1
 o tema “é o assunto que se deseja provar ou desenvolver, surge 
de uma dificuldade de natureza prática enfrentada pelo autor, desafios encontrados na 
literatura de outros trabalhos ou de teorias”. Portanto, o tema apresentado nesta monografia 
encontra-se assim delimitado: Análise do Regime de Transmissão do DUAT na Lei Nº 
19/97, de 01 de Outubro – Lei de Terras. 
A Análise do regime de transmissão do DUAT na Lei nº 19/97, de 01 de Outubro – Lei de 
Terras faz-se necessária pois é uma questão que desperta alguma polémica e vários 
transtornos socias, económicos e jurídicos, quer pela sua complexidade, quer pela sua 
morosidade e ambiguidade em algumas questões. 
Hodiernamente são comuns os conflitos entre privados relacionados à terra, muitos deles 
devido a transmissões irregulares de DUAT. Assim, como tal problema tem origem? 
Apercebe-se certa fragilidade no sistema jurídico de transmissão de DUAT, e tal deve-se à 
normativização desse instituto jurídico, por datar de anos atrás (década de 90), e a sua 
actualização faz-se pertinente, pois como está limita o investimento privado e condiciona-o, 
diminuindo o crescimento económico do país. 
Sendo a transmissibilidade do DUAT fonte potencial de conflitos, se ela não estiver adequada 
à situação política, económica e social do país e não estiver devidamente regulamentada, esse 
potencial pode levar a grandes convulsões. 
Sendo o quadro jurídico e institucional do acesso à terra complexo, será que a transmissão do 
Duat, como a lei afirma dever se operar, é compatível com o que realmente ocorre na prática e 
responde aos anseios da sociedade? O quadro jurídico e institucional do acesso à terra é 
complexo, ultrapassado e representa um desafio na sua implementação. 
Verifica-se que quando as pessoas realizam a transmissão onerosa do DUAT, passam a 
usufruir da terra como se o DUAT houvesse sido transferido, daí o escopo principal desta 
monografia seja analisar legalmente a viabilidade de se simplificarem os procedimentos 
administrativos e requisitos da transmissão entre vivos da terra, com vista a estimular o 
desenvolvimento económico e social, através duma apreciação de como o processo de 
 
1
 LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade, Fundamentos de metodologia científica, 6ª. ed., 
Atlas, São Paulo, 2007, p. 102. 
13 
 
transmissão do DUAT é previsto na lei e efectivado na prática, pois se verifica que os 
procedimentos para a realização de transferência de um DUAT são complexos, obsoletos e 
morosos. 
Assim, analisar-se-á a efectivação da legislação referente à transmissão do DUAT inter-vivos 
e mortis causa, destrinçando as vantagens emergentes de uma nova normatização deste 
instituto, e sugerir-se-ão formas desimplificação e melhoramento do processo de transmissão 
do DUAT. 
Para a realização desta monografia fez-se uso do método sistêmico, método este que procura 
compreender a complexidade da realidade, bem como suas transformações, através dos 
processos sistêmicos e do efeito retroactivo que acontece permanentemente entre o sistema e 
seu meio externo, sendo o tipo de pesquisa a qualitativa; quanto aos procedimentos de recolha 
de dados a pesquisa bibliográfica (aquela feita a partir do levantamento de referências teóricas 
já analisadas)
2
; quanto à abordagem a pesquisa descritiva (descreve os factos e fenómenos de 
determinada realidade)
3
. 
Quanto aos métodos de análise e interpretação de dados, fez-se uso do método dedutivo. 
Quanto à estrutura, a monografia apresenta para além dos elementos pré-textuais, quatro 
capítulos, nomeadamente: Capítulo I: Referencial teórico; Capítulo II: Procedimentos 
metodológicos; Capítulo III: Apresentação e análise dos resultados; Capítulo IV: Discussão 
dos resultados à luz do quadro teórico, e culminando com a apresentação da conclusão, 
recomendações e bibliografia consultada para a sua realização. 
 
 
 
 
 
 
 
2
 FONSECA, J. J. S., Metodologia da pesquisa científica, UEC, Brasil, 2002, p. 32. 
3
 TRIVIÑOS, A. N. S., Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação, Atlas, 
Brasil, 1987, p. 112. 
14 
 
CAPÍTULO I 
1. Referencial teórico: do conceito do DUAT 
O DUAT (Direito do Uso e Aproveitamento de Terra)
4
 é o “direito que as pessoas singulares 
ou colectivas e as comunidades locais adquirem sobre a terra, com as exigências e limitações 
na presente lei”. Trata-se de uma noção legal que consiste na afectação de uma parcela de 
terra a alguém para dela fazer uso e fruição, em exclusivo, perpétua ou temporariamente. 
Assim, dizemos perpétua em consonância com o facto de a própria Lei 19/97, de 01 de 
Outubro o estabelecer no art. 17º, nº 2. Com efeito, o artigo 25º, deste mesmo diploma, fixa 
que a atribuição do DUAT poderá ser definitiva ou temporária. 
Na República de Moçambique a terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida, ou por 
qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada
5
. Como meio universal de criação da 
riqueza e do bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo povo 
moçambicano. 
As condições de uso e aproveitamento da terra são determinadas pelo Estado. O direito de uso 
e aproveitamento da terra é conferido às pessoas singulares ou colectivas tendo em conta o 
seu fim social. 
Na titularização do direito de uso e aproveitamento da terra o Estado reconhece e protege os 
direitos adquiridos por herança ou ocupação, salvo havendo reserva legal ou se a terra tiver 
sido legalmente atribuída à outra pessoa ou entidade
6
. Contudo, a terra é uma potencial 
origem de conflitos, se a sua aquisição e transmissão não estiver adequada à situação 
económica, política e social do país e não estiver devidamente regulamentada, esse potencial 
pode levar a grandes convulsões. 
Os dispositivos legais relativos à possibilidade, termos e condições para a transmissão de 
direitos sobre a terra, que constitui tema desta apresentação, são, pois, de grande relevância, 
apresentando-se a seguir alguns aspectos desta problemática, com base na legislação de terras 
em vigor em Moçambique e a experiência da sua aplicação ao longo destes anos. 
 
 
4
 http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Cidadao/Informacao/Direito-do-Uso-e-Aproveitamento-de-Terra 
5
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 19/97, de 01 de Outubro, cria a Lei De Terras, Art. 3º. 
6
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 19/97, de 01 de Outubro, cria a Lei De Terras, Art. 12º, alíneas a) e b). 
http://www.portaldogoverno.gov.mz/por/Cidadao/Informacao/Direito-do-Uso-e-Aproveitamento-de-Terra
15 
 
1.1. Características próprias do DUAT 
São características próprias do DUAT: 
 A inerência, que é a ligação entre titular e DUAT; 
 A absolutidade, que traduz se no facto de o titular de acesso e aproveitamento de terra 
ter o direito de opor o seu direito aos terceiros; 
 A prevalência, que quer dizer que o direito de uso e aproveitamento adquire-se, por 
acto administrativo ou ocupação nos termos do art. 12º da Lei n.º 19/ 97, de 01 de 
Outubro (Lei da Terra). 
1.2. Regime jurídico do DUAT 
Como qualquer outro direito, o DUAT possui um regime jurídico próprio que importa aqui 
apresentar. Este direito não se encontra consagrado no nosso Código Civil. Assim, o seu 
regime jurídico localiza-se na própria Lei de Terra (LT) e no respectivo Regulamento (RLT). 
Pelo que, na presente monografia o seu estudo e no que concerne à matéria que deve ser 
tratada, baseia-se nestes dois diplomas. O DUAT é regido pelos seguintes diplomas legais: 
 Constituição da República (CRM), art. 82º e art. 111º; 
 Decreto nº 10/95, de 17 de Outubro, que aprova a Política Nacional de Terras; 
 Lei nº 19/97, de 01 de Outubro, Lei de Terra; 
 Decreto nº 66/98, de 08 de Dezembro, aprova o Regulamento da Lei de Terra; 
 Decreto nº 1/2003, de 18 de Fevereiro, que altera a redacção do art. 20º do 
Regulamento da Lei de Terra. 
1.3. Sujeitos do DUAT 
Dos Sujeitos do DUAT, nos termos da LT e do respectivo regulamento, podem ser 
adquirentes ou sujeitos do DUAT, as pessoas nacionais singulares – homens e mulheres -, ou 
colectivas e as comunidades locais, as pessoas estrangeiras que residem há mais de 05 (cinco) 
anos em Moçambique e as pessoas colectivas estrangeiras constituídas ou registadas no país, 
desde que umas e outras tenham um projecto de investimento devidamente aprovado
7
. 
 
7
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 19/97, de 01 de Outubro, cria a Lei De Terras, artigo 12º, alíneas a) e 
b), conjugado com artigo 9º e 10º do RLT. 
16 
 
1.4. Do Âmbito 
O DUAT compreende, para além das situações jurídicas activas previstas no art. 13º, nº 1, 
alíneas, a) e b), com os limites previstos no artigo 14º, todos do RLT, os poderes de uso e 
fruição da parcela, podendo assim, o titular construir ou fazer plantações naquela mesma 
parcela. 
1.5. A Comparação entre a posse e Propriedade nos Direitos Reais e no DUAT 
A posse nos Direitos Reais consiste no poder que se manifesta quando alguém actua por 
forma correspondente aos exercícios do Direito de propriedade ou de outro direito. Contudo, 
no DUAT, a posse sobre a terra não se circunscreve a esta do mesmo modo que ocorre nos 
Direitos Reais, porque nestes a posse atinge qualquer coisa corpórea enquanto que, no DUAT, 
em regra, a posse é mais ampla. 
A propriedade nos Direitos Reais constitui um direito real máximo ou maior, mediante o qual 
é assegurada a certa pessoa, com exclusividade, a generalidade dos poderes de 
aproveitamento global das utilidades de certa coisa, em contraposição ao DUAT, que é um 
direito real menor ou limitado, na medida em que a propriedade da terra pertence ao Estado. 
Porém, a doutrina e o direito comparado não fixam o conceito do Direito de propriedade, se 
não por via descritiva. É dai que entende-se, conforme o artigo 1302º CC, que o proprietário 
goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe 
pertencem, dentro dos limites da lei, conteúdo este que além de ser taxativamente legal é 
igualmente fixado pelas partes, facto que no Direito de Uso e Aproveitamento da Terra tal não 
se verifica. 
1.6. Antecedentes no Direito Colonial 
O direito colonial, ao contrário do que se possa pensar, concedeu menos espaço para a 
apropriação privada da terra, existia, assim, uma notória preocupação com a salvaguarda do 
valor da terra, realçando-se a previsão do desenvolvimento de regimes e institutos que 
promovessem o seu uso e aproveitamento, em detrimento do seu abandono ou apropriaçãopara fins de especulação
8
. 
A sua análise na presente monografia prende-se, principalmente, ao interesse de demonstrar, 
primeiro, que nem o princípio de sua propriedade privada sobre a terra era entendido como 
regra e, segundo, que há aspectos contidos no regime de terra colonial que nos poderão ajudar 
 
8
 SERRA, Carlos Manuel; CARRILHO, João, Dinâmica da Ocupação e Uso da Terra em Moçambique, 
Escolar Editora, Maputo, 2013, p. 52. 
17 
 
a melhorar o actual quadro jurídico da terra. Para tal, focaremos no Regulamento da 
Ocupação e Concessões de Terras nas Províncias Ultramarinas, promulgado pelo Decreto nº 
43.894, de 6 de Setembro de 1961, que vigorou praticamente até ao final do período colonial. 
Deste modo, uma vez salvaguardado um conjunto de terrenos como domínio público do 
Estado (e que, por natureza, não eram concedíveis, tendo recebido, no regime de 1961, a 
designação de reservas totais ou parciais
9
), a regra foi classificar os demais terrenos em 
categorias distintas, consoante os fins principais para os quais erm ou seriam ocupados. 
Assim, o regime de 1961 previu três classes: 1ª classe (terrenos abrangidos pelas povoações 
classificadas, incluindo respectivos subúrbios); 2ª classe (terrenos demarcados para a 
atribuição conjunta a populações, a fim de serem por elas ocupados e utilizados, de acordo 
com os respectivos usos e costumes); e 3ª classe (terrenos vagos não contemplados na 1ª e 2ª 
classes)
10
. 
Ainda segundo o regime de terras de 1961, os terrenos que tivessem sido classificados como 
de 2ª classe só poderiam passar para outra classe através do diploma legislativo, devidamente 
fundamentado, no que diz respeito às razões da mudança, «designadamente quanto aos efeitos 
desta na vida das populações a que os terrenos estavam atribuídos»
11
. 
No concernente aos regimes de disposição de terrenos vagos a favor de particulares, o 
legislador colonial privilegiou a venda, o aforamento e o arrendamento
12
. As duas últimas 
modalidades tinham em comum o facto de o Estado manter sobre os mesmos a propriedade da 
terra, ficando os beneficiários vinculados à obrigação de cumprirem os planos de exploração e 
demais obrigações legal e contratualmente definidas (obrigação de pagamento do foro ou da 
renda, conforme os casos). 
O aforamento, também denominado enfiteuse ou aprazamento, era o «desmembramento do 
direito de propriedade em dois domínios (conteúdo directo e útil), dando lugar ao pagamento 
de um foro pelo enfiteuta, titular do domínio útil (que podia usar e fruir o prédio como seu, 
constituindo sobre ele direitos de superfície e servidões ao senhorio (titular do domínio 
 
9
 O art. 14º do Decreto nº 43.894, de 6 de Setembro de 1961, que prevê as reservas totais (nas quais não era 
permitido qualquer uso ou ocupação por entidades públicas ou particulares, salvo os necessários à conservação 
das reservas ou à exploração para efeitos científicos ou turísticos) e as reservas parciais (em que era permitido o 
uso ou ocupação para os fins visados na sua constituição), o equivalente, no actual quadro jurídico, às zonas de 
protecção total e parcial, respectivamente. Veja-se ainda os arts. 6º,7º e 8º da LT 1997. 
10
 REPÚBLICA PORTUGUESA, Decreto nº 43.894, de 6 de Setembro de 1961, que aprova o Regulamento da 
Ocupação e concessões de Terras nas Províncias Ultramarinas, art. 42º. 
11
 Idem, art. 43º. 
12
 Ibidem, art. 125º e seguintes. 
18 
 
directo)»
13
. No caso do aforamento , só após a certificação gradual da capacidade para investir 
e utilizar devidamente a terra (demonstrando estar o terreno completamente aproveitado e 
haver no mesmo as construções consideradas indispensáveis ao perfeito funcionamento da 
exploração), o foro poderia ser remido
14
 a requerimento do interessado, salvo as excepções 
definidas no próprio regime, sendo atribuído o direito de propriedade
15
. Este direito era 
conferido ao enfiteuta ou foreiro ao fim de quarenta anos de duração e tinha o preço de vinte 
foros. O aforamento possuía natureza perpétua, sem prejuízo da remissão do foro
16
. 
O arrendamento é um contrato de locação de coisa imóvel «pelo qual alguém se obriga a 
proporcionar a outrem o gozo temporário de coisa imóvel mediante retribuição (renda)
17
». No 
caso de prédios rústicos, permitia-se o arrendamento parcial, sendo o total proibido
18
. Este 
contrato possuia, portanto, natureza temporária
19
. O arrendamento poderia dar lugar a uma 
concessão por aforamento ou a venda, antes do respectivo termo, desde que fosse comprovado 
o devido aproveitamento
20
. 
Assim, o legislador previu a venda no caso de terrenos de 1ª classe ocupados por prédios 
urbanos ou adquiridos para construção deles; o aforamento para os casos de terrenos de 1ª 
classe e os de 3ª classe destinados a fins agrícolas, agro-pecuários, industriais ou silvicultura; 
o arrendamento para o caso de terrenos de 3ª classe destinados à exploração de gado ou 
respectivas industrias ou para exploração florestal. 
A legislação de terras de 1961 exclui dos negócios de alienação ou concessão os terrenos que 
só possam ser ocupados por licença especial, os terrenos que estejam abrangidos por uma 
reserva total e os terrenos de 2ª classe, ou seja, os que fossem demarcados para atribuição 
conjunta a populações, a fim de serem por elas ocupados e utilizados, de acordo com os 
respectivos usos e costumes. Neste último caso, abriu-se uma excepção, podendo tais terrenos 
 
13
 PRATA, Ana, Dicionário Jurídico, Edição Almedina, Coimbra, Março de 2005, pp. 67 e 495. Cf. os arts. 
1491º e seguintes do CC. 
14
 Por remissão do foro entende-se «direito atribuído ao enfiteuta de fazer extinguir o domínio directo, ao fim de 
certo período de duração da enfiteuse, pelo pagamento ao titular daquele de uma contraprestação ou preço 
adequado». In, PRATA, Ana, ob. cit., p. 1053. 
15
 REPÚBLICA PORTUGUESA, Decreto nº 43.894, de 6 de Setembro de 1961, que aprova o Regulamento da 
Ocupação e concessões de Terras nas Províncias Ultramarinas, art. 107º e seguintes. 
16
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código Civil, arts. 1515º e 1512º nº 1. 
17
 PRATA, Ana, ob. Cit., p. 124. 
18
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Código Civil, art. 1078º. 
19
 Veja-se no art. 1065º do CC. Tinham a duração mínima de seis anos e, caso visassem fins silvícolas, tinham a 
duração máxima de noventa e nove anos. 
20
 REPÚBLICA PORTUGUESA, Decreto nº 43.894, de 6 de Setembro de 1961, que aprova o Regulamento da 
Ocupação e concessões de Terras nas Províncias Ultramarinas, art. 135º. 
19 
 
ser concedidos aos vizinhos da respectiva regedoria, no caso de o governador autorizar, 
mediante requerimento do regedor subscrito pelos respectivos conselheiros, que eles se 
tornassem individualmente apropriáveis, com vista à instalação de povoações e culturas, 
desde que com carácter estável. 
Finalmente, importa fazer menção à transmissão de direitos sobre a terra, à partida apenas 
permitida para as relações entre vizinhos das regedorias, com os condicionalismos previstos 
no regime em análise. Estabeleceu-se igulamente uma proibição geral de constituir penhoras 
ou hipotecas sobre prédios rústicos e urbanos dos vizinhos das regedorias. A consequência 
para os contratos de alienação, troca, hipoteca, arrendamento ou qualquer outra forma de 
cedência era a nulidade de pleno direito, incorrendo os concessionários ainda na sanção de 
perda a favor do Estado dos respectivos direitos sobre os terrenos concedidos, bem como 
sobre quaisquer benfeitorias introduzidas pelos adquirentes
21
. 
1.7. O regime da terra na Constituição e a consequente implicação no tratamento 
da transmissibilidade do DUAT 
A CRM de 1975 estipulou um princípio que prevaleceu até a actualidade e que influenciou 
fortemente a percepçãoque se tem sobre a transmissibilidade dos DUATs – «a terra e os 
recursos minerais do solo e subsolo, nas águas territoriais e na plataforma continental de 
Moçambique, são propriedade do Estado. O Estado determina as condições do seu 
aproveitamento e uso»
22
. Em relação às figuras existentes no direito colonial, apenas 
substituiu a concessão (presente na Lei de Terras de 1979 e 1997, ainda que sob designação 
diferente), todas as demais foram extintas por se revelarem contrárias à natureza e fins do 
Estado revolucionário, sendo consideradas como instrumentos de exploração ou especulação 
colonial. Nas palavras de Tomás Bernardino, como consequência do novo regime de 
propriedade da terra, «os particulares passaram a ter acesso à utilização e fruição dos 
benefícios que a terra dá, mas foi-lhes retirado o poder de disposição sobre a terra»
23
. 
 
21
 SERRA, Carlos Manuel; CARRILHO, João, ob. cit., p. 54. 
22
 Art. 8º da CRM. 
23
 BERNARDINO, Tomás, Transmissibilidade do DUAT (palestra), in Conferência Comemorativa dos 10 anos 
da Lei de Terras, realizada em Maputo, de 17 a 19 de Outubro de 1997, p. 136. 
20 
 
Veja-se que a questão da valorização da terra pode ser lida à luz da norma que estabeleceu 
que «o Estado promove a planificação da economia, com vista a garantir o aproveitamento 
correcto das riquezas do País e a sua utilização em benefício do povo moçambicano»
24
. 
A Constituição de 1990, não obstante ter sido aprovada em momento de profundas 
transformações poíticas e económicas, marcando formalmente a passagem do Estado Popular 
(de orientação socialista) para o Estado democrático (de cariz capitalista), não pôs em causa o 
princípio da propriedade estadual sobre a terra e, consequentemente, o entendimento de que 
esta não poderia ser objecto de venda, hipoteca, penhora ou qualquer outra forma de 
alienação
25
, tendo principalmente presente o facto de a nacionalização da terra ser considerada 
uma das conquistas fundamentais da Independência. No tocante ao valor da terra, esta 
Constituição proclamou que «o direito de uso e aproveitamento da terra é conferido às 
pessoas singulares ou colectivas tendo em conta o seu fim social»
26
. Por seu turno, o 
legislador vincou o entendimento de que a LT deverá estabelecer os termos que regem a 
criação de direitos sobre a terra, sempre em benefício dos seus utilizadores e produtores 
directos, proibindo-se o exercício de tais direitos com a pretensão de se criarem situações de 
favorecimento económico ou privilégio em detrimento da maioria dos cidadãos
27
. Com esta 
norma, o legislador constituinte pretendeu, formalmente, denegar espaço de actuação a 
eventuais especuladores no domínio fundiário. 
A CRM de 2004 reiterou o disposto na sua antecessora, no tocante à terra, designadamente na 
manutenção do princípio da terra como propriedade do Estado e na proibição geral de venda, 
hipoteca, penhora e qualquer outra forma de alienação
28
. Contempla igualmente o princípio de 
valorização da terra, na medida em que se determina que «o direito de uso e aproveitamento 
da terra é conferido às pessoas singulares ou colectivas tendo em conta o seu fim social ou 
económico»
29
. Veja-se que, em relação à norma correspondente na Constituiçao de 1990, 
acrescentou-se o fim económico, reforçando-se, portanto, a dimensão do valor da terra. Este 
 
24
 REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República Popular de Moçambique, de 1975, 
art. 9º. 
25
 REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República Popular de Moçambique, de 1990, 
art. 47º, nºs 1 e 2. 
26
 Idem, art. 47º, nº 2. 
27
 Ibidem, art. 47º, nº 3. 
28
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, aprovada a 16 de Novembro 
de 2004, art. 109º. 
29
 Idem, art. 110º. 
21 
 
está reconhecido na norma que estipula que, como «meio universal de criação da riqueza e do 
bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de todo o povo moçambicano»
30
. 
Muito provavelmente como sinal da nova conjuntura político-económica, constatou-se o 
desaparecimento da norma prevista na Constituição de 1990 que vinculava a atribuição de 
direitos sobre a terra à produção de benefícios aos seus utilizadores e produtores directos, 
proibindo-se a geração de situações de favorecimento ou privilegiamento a partir da 
especulação fundiária
31
. 
Todas as tentativas subsequentes de lançar o debate político sobre a privatização da terra 
redundaram em fracasso, tendo a principal ocorrido em 2001, quando o então Ministro da 
Agricultura, Hélder Muteia, afirmou categoricamente que era importante equacionar este 
assunto, facto que poderá estar por detrás do seu desaparecimento da arena política
32
. 
No contexto do debate sobre a revisão da Constituição, a Frelimo fez uma declaração pública, 
na defesa da propriedade estatal sobre a terra. Este assunto é, portanto, considerado sagrado 
para o bloco que detém o poder na Frelimo
33
, e, por arrasto, também o é a questão do mercado 
de títulos. De facto, conforme o entendimento de João Mosca, a libertação da terra foi e é uma 
das bandeiras da Frelimo, significando país, pátria e independência, e colocar em cheque este 
princípio pode ser politicamente problemático
34
. 
1.8. A transmissão da terra no âmbito da Lei nº 6/79, de 3 de Julho – Lei de 
Terras de 1979 e respectivo regulamento 
Transmissão é «o fenómeno jurídico pelo qual um direito subjectivo – ou uma vinculação 
jurídica – passa da esfera jurídica dum titular para a esfera jurídica de outro»
35
. 
A Lei de Terras de 1979 (Lei nº 6/79, de 3 de Julho) inspirou-se fortemente na Contituição de 
1975 e no período revolucionário que se vivia no País. Deste modo, o seu preâmbulo é muito 
expressivo ao dizer que, 
 
30
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República de Moçambique, aprovada a 16 de Novembro 
de 2004, art. 109º. 
31
 REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República Popular de Moçambique, de 1990, 
art. 46º, nº 3. 
32
 Entrevista concedida ao jornal Domingo a 8 de Julho de 2001. 
33
 HANLON, Joseph, Debate sobre a Terra em Moçambique, Trabalho de investigação encomendado por 
Oxfam GB – Regional Management Center for Southern Africa, 12 de Julho de 2002, p. 15. 
34
 MOSCA, João, Políticas Agrárias de (em) Moçambique (1975-2009), Escolar Editora, Maputo, 2011, p. 206. 
35
 MENDES, Castro, Direito Civil, Teoria geral, 1976/1979. 
22 
 
«durante o processo da edificação da nova sociedade nas zonas libertadas, tornou-se claro que a 
independência política não teria um sentido real para o Povo, não seria uma verdadeira independência 
se a terra continuasse nas mãos de um punhado de latinfundários estrangeiros ou nacionais (...) [e que] 
depois da usurpação e espoliação das melhores terras, feita ao longo de quinhentos anos pelo 
colonialismo português, arrancar a terra à sujeição e exploração estrangeira devolvendo-a ao Povo 
Moçambicano, era uma exigência do processo histórico, condição de uma independência real e 
efectiva». 
Daí que a LT de 1979 tenha reiterado o disposto no artigo 8 da Constituição de 1975 sobre a 
propriedade estatal da terra
36
, enaltecendo, no Preâmbulo, o entendimento de que, «porque o 
Estado de operários e camponeses é o único proprietário da terra, toda a terra moçambicana 
fica integrada no fundo estatal». Consequentemente, o legislador estatuiu que «na República 
Popular de Moçambique a terra não pode ser vendida ou por qualquer outra forma alienada 
nem arrendada
37
, hipotecada ou penhorada»
38
. A questão do valor da terra como factor de 
desenvolvimento foi contemplada ao se proclamar que «o trabalho da terra como meio 
universal de criação da riqueza e bem-estar social é direito de todo Povo Moçambicano»
39
. 
Portanto,a transmissão de direitos de uso e aproveitamento da terra foi fortemente restringida, 
estabelecendo-se tão-somente a possibilidade de transmissão mortis causa: «o direito de uso e 
aproveitamento da terra só pode transmitir-se por morte do titular do cônjuge e herdeiros, nos 
termos da lei civil». Esta norma foi objecto de desenvolvimento no Regulamento da Lei de 
Terras de 1979, aprovado pelo Decreto nº 16/87, de 15 de Julho. 
Quanto à transmissão inter vivos, esta Lei previu que os titulares de DUAT pudessem 
transmitir, entre vivos, as infra-estruturas, construções e benfeitorias nela existentes, desde 
que obtida previamente autorização da entidade competente, tendo o Estado direito de 
preferência. O legislador condicionou igualmente, em relação à terra sobre a qual tivessem 
sido erguidas aquelas infra-estruturas, construções e benfeitorias, a um novo procedimento de 
licenciamento de DUAT. Tendo presente as barreiras jurídico-legais e os condicionalismos 
administrativos/burocráticos, tratava-se, portanto, de um regime fortemente desfavorável à 
transmissão de DUATs
40
. 
 
36
 REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 6/79, de 3 de Julho, aprova a Lei de Terras de 1979, 
art. 1º, nº 1. 
37
 Note que a LT de 1979 proibiu o arrendamento de terras, o que não veio a acontecer nos textos legais 
posteriores – As Constituições de 1990 e 2004, bem como a LT de 1997. 
38
 REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 6/79, de 3 de Julho, aprova a Lei de Terras de 1979, 
art. 1º, nº 2. 
39
 Idem, art. 1º, nº 3. 
40
 SERRA, Carlos Manuel; CARRILHO, João, ob. cit., p. 59. 
23 
 
1.9. A transmissão do DUAT na Lei nº 19/97, de 1 de Outubro – Lei de Terras de 
1997 e respectivos regulamentos 
A actual Lei de Terras (Lei nº 19/97, de 1 de Outubro) foi aprovada na sequência de um rico, 
profundo e parcitipativo processo legislativo que ficará para a história do direito 
moçambicano. Buscou-se, a partir da experiência das virtudes e das desvantagens da 
legislação de terras anterior, numa conjuntura político-económica muito diferente daquela que 
caracterizou o período revolucionário, elaborar um instrumento que garantisse o respeito 
pelos direitos dos cidadãos sobre a terra, sendo que para muitos esta é o principal recurso de 
sobrevivência, bem como garantia de investimento privado, nacional e estrangeiro
41
. 
Constatou-se no Preâmbulo: 
«O desafio que o país enfrenta para o seu desenvolvimento, bem como a experiência na aplicação da 
Lei nº 6/79, de 3 de Julho (...) mostram a necessidade da sua revisão, de forma a adequá-la à nova 
conjuntura política, económica e social e garantir o acesso e segurança de posse da terra, tanto dos 
camponeses moçambicanos, como dos investidores nacionais e estrangeiros (...), [visando] incentivar o 
uso e o aproveitamento da terra, de modo a que esse recurso, o mais importante de que o país dispõe, 
seja valorizado e contribua para o desenvolvimento da economia nacional». 
Na vereda da Constituição de 1990, a Lei de Terras de 1997 sublinhou o princípio da 
propriedade estatal sobre a terra
42
, proibindo, deste modo, a respectiva venda ou, por qualquer 
outra forma, alienação, hipoteca ou penhora. Contudo, nota-se que desapareceu a alusão à 
proibição de arrendamento, por razões que desconhecemos, ficando por clarificar se estará, 
implicitamente, integrada na categoria geral de alienação. O entendimento oficial presiste no 
contrário à admissibilidade do contrato de arrendamento como um dos negócios de terra 
legalmente admissíveis. 
Tal como na LT de 1979, a nova Lei reconheceu, tão-somente, a existência de direitos de uso 
e aproveitamento da terra (vulgo DUAT), cuja atribuição poderá realizar-se em qualquer uma 
das três modalidades previstas, o que significou uma clara inovação do direito moçambicano: 
(i) ocupação por pessoas singulares e pelas comunidades locais, segundo as normas e práticas 
costumeiras que não contrariem a Constituição; (ii) ocupação por pessoas singulares 
nacionais, que de boa fé, estejam a utilizar a terra há pelo menos dez anos; (iii) e autorização 
de pedido apresentado por pessoas singulares ou colectivas
43
. 
 
41
 SERRA, Carlos Manuel; CARRILHO, João, ob. cit., p. 59. 
42
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 19/97, de 01 de Outubro, cria a Lei De Terras, art. 3º, com a epígrafe 
„„Princípio Geral‟‟, segundo o qual «a terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida ou, por outra forma 
alienada, hipotecada ou penhorada». 
43
 Idem, art. 12º. 
24 
 
No concernemte à transmissão de DUATs, a nova LT manteve o disposto da sua antecessora, 
com pequenas modificações. Neste sentido, foi estabelecida como regra geral o entendimento 
de que «os titulares do direito de uso e aproveitamento da terra podem transmitir, entre vivos, 
as infra-estruturas, construções e benfeitorias nela existentes, mediante escritura pública 
precedida de autorização da entidade estatal competente», devendo a transmissão ser averbada 
no próprio título
44
. 
Trata-se, assim, de um posicionamento legal igualmente contrário à transmissibilidade do 
DUAT, regra que só conhece duas excepções legais
45
: a primeira, no seguimento do disposto 
na Constituição de 1990, preceitua que o direito de uso e aproveitamento da terra pode ser 
transmitido por herança, sem distinção de sexo (é a chamada transmissão mortis causa); a 
segunda excepção decorre da transmissão de prédios urbanos, na qual a transmissão do 
DUAT é automática, isto é, ocorrendo juntamente com a transmissão do imóvel
46
. 
A luz da nova LT, o titular do DUAT pode, no entanto, constituir hipoteca sobre os bens 
imóveis e as benfeitorias que, devidamente autorizado, edificou no terreno ou sobre os quais 
legalmente tenha adquirido o direito de propriedade
47
. 
O Regulamento da Lei de Terras, aprovado pelo Decreto nº 66/98, de 8 de Dezembro, e 
referente aos prédios rústicos (solo rural), tratou as transmissões de DUATs na linha da Lei de 
Terras de 1997, determinando que «a compra e venda de infra-estruturas, construções e 
benfeitorias existentes em prédios rústicos, não implicam a transmissão automática do direito 
de uso e aproveitamento da terra, a qual está dependente de aprovação dada pela mesma 
entidade que tiver autorizado o pedido»
48
. Sendo assim, ao contrário do que se verifica em 
relação ao solo urbano
49
, não há qualquer transmissão automática de DUAT no contrato de 
compra e venda de infra-estruturas, construções e benfeitorias existentes nos prédios rústicos, 
obrigando o interessado a iniciar, junto dos serviços de cadastro, o respectivo pedido de 
 
44
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 19/97, de 01 de Outubro, cria a Lei De Terras, art. 16º, nºs 2 e 3. 
45
 CALENGO, André, A Natureza Jurídica do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra, in, Aspectos 
Jurídicos, Económicos e Sociais do Uso e Aproveitamento da Terra (Coordenação de Gilles Cistac e Eduardo 
Chiziane), Imprensa Universitária, UEM, Maputo, 2003, p. 17. Ver ainda CALENGO, André Jaime, Lei de 
Terras Comentada e Anotada, Centro de Formação Jurídica e Judiciária, Maputo, 2005, p. 140. 
46
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 19/97, de 01 de Outubro, cria a Lei De Terras, art. 4º. 
47
 Idem, art. 16º, nº 5. 
48
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto nº. 66/98, de 08 de Dezembro, aprova o Regulamento da Lei de 
Terras, art. 15º, nº 2. 
49
 Relativamente aos prédios urbanos, veja-se o art. 16º do Decreto 66/98 de 08 de Dezembro, que sublinhou a 
dispensa de prévia autorização do Estado na transmissão de prédios urbanos. 
25 
 
transimssão de DUAT, o qual deverá ser acompanhado dos comprovativos de pagamento das 
taxas anuais e do cumprimento do plano de exploração
50
. 
Todavia, André Calengo argue que, relativamente aos prédios urbanos, só haverá transmissão 
automáticado DUAT em caso de transmissão de prédio urbano, não de construções e 
benfeitorias, pois neste caso a respectiva transmissão não implica a transmissão automática do 
DUAT, havendo obrigatoriedade de autorização da entidade competente
51
. 
Finalmente, aluda-se ao Regulamento de Solo Urbano (RSU), aprovado pelo Decreto nº 
60/2006, de 26 de Dezembro, por possuir igualmente uma referência à transmissão de 
DUATs, vincando o disposto na Lei de Terras e no Regulamento do Solo Urbano, 
determinando que esta operação se faz automática coma transmissão do prédio urbano
52
. O 
Regulamento do Solo Urbano foi, no entanto, muito longe, no concernente à definição de 
formas de aquisição de DUAT, extravasando a própria LT ao prever figuras como a hasta 
pública e a negociação particular
53
, o que faz levantar sérias reservas em termo de 
constitucionalidade (pondo em causa o princípio da hierarquia dos actos normativos) e 
legalidade da normas em causa (ao desviar-se do disposto na Lei de Terras, relativamente às 
formas de aquisição do DUAT)
54
. 
O RLT prevê, ainda, a figura do contrato de cessão de exploração, condicionando-o, 
igualmente, à obtenção de aprovação prévia da entidade que autorizou o pedido de 
autorização ou reconhecimento de DUAT
55
. 
«É importante observar que, embora a própria terra não possa ser vendida, hipotecada ou 
alienada, os edifícios e outras benfeitorias implantadas sobre a mesma poderão ser 
hipotecados ou alienados pela pessoa detentora dos direitos da terra subjacente»
56
, isso não 
 
50
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto nº. 66/98, de 08 de Dezembro, aprova o Regulamento da Lei de 
Terras, art. 15º, nº 2, segunda parte. 
51
 CALENGO, André Jaime, Lei de Terras Comentada e Anotada, Ob. Cit., p. 143. 
52
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto nº 60/2006, de 26 de Dezembro, aprova o Regulamento de Solo 
Urbano, art. 35º. 
53
 Idem, arts. 27º e 28º. Veja-se em relação a este assunto CALDEIRA, José, A Tranmissibilidade do Direito de 
Uso e Aproveitamento da Terra (palestra), in Conferência Comemorativa dos 10 Anos da Lei de Terras, 
realizada em Maputo, de 17 a 19 de Outubro de 1997, pp. 125-126. 
54
 CALENGO, André, O debate actual sobre a terra em Moçambique – Notas introdutórias (palestra), in 
Conferência Comemorativa dos 10 Anos da Lei de Terras, realizada em Maputo, de 17 a 19 de Outubro de 1997, 
p. 25. 
55
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto nº. 66/98, de 08 de Dezembro, aprova o Regulamento da Lei de 
Terras, art. 15º, nº 4. 
56
 Associação de Comércio e Indústria, Quadro Legal para a Obtenção de Direitos sobre a Terra nas Zonas 
Rurais em Moçambique, 3ª ed., Moçambique, 2012, p. 60. 
26 
 
fere o princípio da intransmissibilidade relativa da terra, segundo o qual «as pessoas às quais 
o estado reconhece ou atribui direitos sobre a terra e outros recursos naturais não podem, em 
vida, passar esses mesmos direitos a terceiros, seja por via onerosa ou não, a menos que 
tenham sido previamente autorizados para o efeito, pela mesma entidade que reconheceu ou 
atribuiu o direito»
57
. 
A Lei de Terras e respectivo Regulamento, aprovado pelo Decreto 66/98 de 08 de Dezembro 
(RLT), bem como o Regulamento do Solo Urbano, aprovado pelo Decreto 60/2006 de 26 de 
Dezembro (RSU), contêm os princípios e regras fundamentais relativas à transmissibilidade 
de direitos sobre a terra. Com base nestes diplomas legais, na legislação de direito civil e 
demais legislação em vigor no País, existem as seguintes formas de transmissão de direitos 
sobre a terra: transmissão “mortis causa”; transmissão “inter vivos”; transmissão de prédios 
urbanos; desmembramento de áreas das comunidades; acessão; transmissão de infra-
estruturas, construções e benfeitorias (ICB) e o caso das licenças especiais. 
1.9.1. Transmissão “mortis causa” 
Esta encontra-se prevista no artigo 16º da Lei de Terras, e lhe são aplicadas as normas de 
direito sucessório em vigor no País, constantes dos artigos 2024º e seguintes do Código Civil 
e não carece duma autorização oficial. A Lei de Terras fez referência expressa à transmissão 
por herança tanto as mulheres como aos homens, atendendo que ao longo do país existem 
costumes que podem excluir um ou outro sexo, sendo as mulheres as principais afectadas
58
. 
Esta transmissão pode dar-se tanto na sucessão legítima, como na testamentária. No caso de 
haver mais de um herdeiro relativamente ao DUAT, o direito dos mesmos será exercido sob a 
forma de co-titularidade, nos termos do art. 10º/2 da Lei de Terras e art. 12º do Regulamento 
da mesma lei. 
Um DUAT obtido pela autorização dum pedido pode ser transferido aos herdeiros do titular 
original mediante apresentação de comprovativo da qualidade de herdeiros, através da 
respectiva certidão ou sentença de habilitação herdeiros. Os herdeiros devem fazer o registo 
 
57
 CAZORLA, María José, CHIZIANE, Eduardo (Coords.), Direito Da Terra E Questões Agrárias, Uma 
Aproximação Entre Espanha E Moçambique, Escolar Editora, Maputo, 2014, p. 41. 
58
 Associação de Comércio e Indústria, ob. Cit., p. 60. 
27 
 
junto da Conservatória de Registo Predial, e depois o DUAT é reemitido no nome dos 
herdeiros
59
. 
1.9.2. Transmissão “inter vivos” 
A lei permite a transmissão de edifícios, benfeitorias e infra-estruturas por negócios entre 
vivos. Neste caso, os requisitos serão diversos consoante estejamos perante prédios rústicos 
ou prédios urbanos. 
1.9.2.1. Transmissão de Prédios rústicos 
«No caso dum prédio rústico a transmissão de infra-estruturas, construções e benfeitorias não 
implica a transmissão automática do DUAT. Para o DUAT ser transferido juntamente com as 
construções, a transmissão deve ser aprovada pela entidade que autorizou o DUAT. As partes 
que pretendem efectuar a transmissão devem primeiro pedir a aprovação através dos SPGC 
[Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro], que depois canalizarão o pedido para a 
entidade competente. Será necessário provar que o plano de exploração foi implementado e 
que os pagamentos anuais da taxa de terra estão em dia. Depois de ter recebida a aprovação, o 
requerente deve celebrar uma escritura pública da compra e venda junto do notário. A 
escritura está sujeita ao pagamento de taxas e impostos, como imposto de selo»
60
. 
«Quando a comunidade for parte de uma destas transações, exige-se o seu consentimento 
expresso»
61
. 
1.9.2.2. Transmissão de prédios urbanos 
Esta não precisa de autorização do Estado. Apesar de não resultar da lei, a dispensa de 
autorização estatal só se aplica às situações de edifícios já concluídos, caso contrário 
estaremos diante de transmissão de infra-estruturas, construções e benfeitorias, prevista no art. 
16º, nº 2 da LT, em que aquela autorização é necessária. 
1.9.3. Por desmembramento de áreas das comunidades 
As comunidades locais, que ocupem a terra segundo as práticas costumeiras, adquirem o 
direito de uso e aproveitamento dessa terra
62
. De acordo com o art.13º, nº 5 da LT e art.15º, nº 
1 do RLT, é lícito o desmembramento de áreas da comunidade, emitindo-se títulos 
 
59
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Decreto nº. 66/98, de 08 de Dezembro, aprova o Regulamento da Lei de 
Terras, art. 20º, nº 2, com a redacção introduzida pelo Decreto n.º 1/2003, de 18 de Fevereiro. 
60
 Associação de Comércio e Indústria, ob.cit., p. 61. 
61
 QUADROS, Maria da Conceição de, Manual de direito da Terra, Centro de Formação Jurídica e Judiciária, 
Maputo, 2004, pág. 108. 
62
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei 19/97, de 01 de Outubro, cria a Lei De Terras, art. 12º, alínea a). 
28 
 
individualizados para os membros da comunidade. Assim, esta é uma forma de transmissão 
de direitos sobre a terra, a qual tem como únicas restrições a necessidade de consulta em 
conformidade coma legislação sobre terras e a proibição de serem abrangidas áreas de uso 
comum. 
1.9.4. Por acessão 
Esta forma de transmissão de direitos sobre a terra
63
 é pouco tratada na doutrina. De facto, 
mesmo em situação em que não existe propriedade privada da terra, é possível que por força 
da natureza ou da acção do homem, as infra-estruturas, construções ou benfeitorias de alguém 
se unam ou confundam com a terra ou ICB de outrem, sem possibilidade de separação ou de 
cuja separação resulte prejuízo para as partes. Por exemplo, se atribuir-se a alguém o DUAT 
sobre um terreno sobre o qual já recaía um outro DUAT e este erga uma infra-estrutura ou 
edifício. Nesse caso teria que recorrer-se às regras e soluções sobre a acessão previstas nos 
arts. 1327º e seguintes do Código Civil, podendo ter que haver lugar à transmissão do DUAT, 
em particular nos casos de união ou confusão casual ou de boa-fé. 
1.9.5. Por transmissão de infra-estruturas, construções e benfeitorias 
A legislação em vigor, no tocante à transmissão entre vivos de benfeitorias, construções e 
infra-estruturas, tem se revelado com uma série de lacunas, tornando o processo moroso, não 
uniforme, complexo e pouco transparente, o que dificulta o desenvolvimento, particularmente 
o do empresariado, havendo inúmeros casos de transmissões irregulares de terra em 
Moçambique. Por não estarem claramente definidos os critérios para a autorização da 
transmissão pela entidade estatal competente, os interessados ficam sujeitos a uma larga 
margem de discricionariedade e de incerteza, que pode levar a aproveitamentos ilícitos. 
Os problemas emergentes relacionam-se com o facto de não estar claro se a construção de 
uma dependência, de uma parte de um edifício, de uma estrada, de um muro, etc., é suficiente 
para a obtenção da autorização da sua transmissão. 
 
 
 
 
 
63
 Acessão: meio de aquisição de propriedade, com tudo aquilo que a ela se incorpora, seja móvel ou imóvel. 
29 
 
CAPÍTULO II 
2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
Neste capítulo apresenta-se a descrição dos aspectos metodológicos da pesquisa, onde 
podemos encontrar, elementos como a estratégia usada na pesquisa, o método ou métodos 
usados na materialização da pesquisa, a amostragem e as técnicas usadas para a recolha dos 
dados. Como definição, metodologia é a descrição detalhada dos caminhos utilizados para 
alcançar os objectivos, implicando na definição do tipo de pesquisa a realizar, técnicas a 
utilizar, instrumentos de colecta, organização, tratamento e análise dos dados. Assim, nesta 
monografia a metodologia a ser seguida é a de revisão da literatura e de diplomas legais. 
Para a realização desta monografia fez-se uso do método sistêmico, método este que procura 
compreender a complexidade da realidade, bem como suas transformações, através dos 
processos sistêmicos e do efeito retroactivo que acontece permanentemente entre o sistema e 
seu meio externo, sendo os tipos de pesquisa a bibliográfica (aquela feita a partir do 
levantamento de referências teóricas já analisadas)
64
 e a descritiva (descreve os factos e 
fenómenos de determinada realidade)
65
. 
2.1. Tipo e Natureza de Pesquisa 
A pesquisa usada foi a exploratória que tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer 
e modificar conceitos e ideias, com vista na formulação de problemas mais preciosos ou 
hipótese pesquisáveis para pesquisas posteriores
66
. 
Quanto à natureza, optou-se numa pesquisa qualitativa que possibilita mergulhar na 
complexidade dos acontecimentos reais e indagar não apenas o óbvio, mas também as 
contradições, conflitos e as resistências, a partir da interpretação dos dados no contexto da sua 
produção. Este tipo de abordagem, de cunho qualitativo, trabalha os dados buscando seu 
significado, tendo como base a percepção do fenómeno dentro do seu contexto. O uso da 
descrição qualitativa procura captar não só a aparência do fenómeno como também suas 
 
64
 FONSECA, J. J. S., Metodologia da pesquisa científica, UEC, Brasil, 2002, p. 32. 
65
 TRIVIÑOS, A. N. S., Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação, Atlas, 
Brasil, 1987, p. 112. 
66
 OLIVEIRA, Maxwell Ferreira de, Metodologia científica: um manual para a realização de pesquisas em 
Administração,UFG, Catalão, 2011, p. 20. 
30 
 
essências, procurando explicar sua origem, relações e mudanças, e tentando intuir as 
consequências
67
. 
Quanto ao ponto de vista dos procedimentos técnicos, a pesquisa foi bibliográfica, por ser 
elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos 
periódicos e materiais disponibilizados na Internet, para sustentar as ideias recolhidas e fazer 
a apresentação das alternativas para a solução do problema levantado. Importa aqui ilustrar 
que para a sua elaboração, apoiamo-nos no método dedutivo, pois apresentam-se teorias e leis 
sobre uma realidade (da análise da transmissão do DUAT, na Lei de Terras), e o pesquisador 
como elemento-chave apenas vai descrever e interpretar o fenómeno. Este método trata de 
sair das questões gerais às particulares, pois a partir das teorias e leis já existentes sobre o 
tema, determinamos a situação particular do mesmo. 
2.2. Tipo de pesquisa 
Na presente monografia atendendo ao foco do estudo a ser desenvolvido, i.e., ao objecto de 
análise, a presente pesquisa apresenta-se de carácter qualitativo, feita através de uma análise 
documental, baseada no critério de viabilidade e de interesse jurídico. Assim se verifica 
porque o objecto de estudo aqui não pode ser mensurável, tendo este um carácter exploratório. 
O exposto irá abordar sobre questões legais, as insuficiências patentes na LT e seus 
regulamentos, bem como o seu impacto para o âmbito do Direito e também no âmbito 
financeiro para o nosso Estado, apresentando-se possíveis soluções para os problemas 
existentes. 
2.3. Técnica de colecta de dados 
As técnicas de coleta de dados são um conjunto de regras ou processos utilizados por uma 
ciência, ou seja, corresponde à parte prática da coleta de dados. Durante a coleta de dados, 
diferentes técnicas podem ser empregadas, sendo mais utilizados: a entrevista, o questionário, 
a observação e a pesquisa documental
68
. 
Esta pesquisa teve como técnica de colecta de dados, análise documental que foi feita em 
torno da doutrina, até então existente, mas para tal efectivação em concreto, foram feitas 
também consultas em dispositivos legais, nomeadamente, na Lei de Terras, seus regulamentos 
e demais disposições normativas relacionadas ao tema. 
 
67
 OLIVEIRA, Maxwell Ferreira de, ob. cit., p. 24. 
68
 OLIVEIRA, Maxwell Ferreira de, idem, p. 35. 
31 
 
A pesquisa documental é muito semelhante à pesquisa bibliográfica. A diferença essencial 
entre ambas está na natureza das fontes: enquanto a bibliográfica se utiliza fundamentalmente 
das contribuições de diversos autores, a documental vale-se de materiais que não receberam, 
ainda, um tratamento analítico, podendo ser reelaboradas de acordo com os objectos da 
pesquisa
69
. 
Segundo Lakatos e Marconi, a pesquisa documental é a colecta de dados em fontes primárias, 
como documentos escritos ou não, pertencentes a arquivos públicos; arquivos particulares de 
instituições e domicílios, e fontes estatísticas
70
. 
Quanto aos métodos usados na elaboração desta, optou-se pelo método dedutivo. Este método 
pressupõe que só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocínio dedutivo 
tem o objectivo de explicar o conteúdo das premissas. Por intermédio de uma cadeia de 
raciocínio em ordem descendente, de análise do geral para o particular, chega a uma 
conclusão. Usa o silogismo, construção lógica para, a partir de duas premissas, retirar uma 
terceiralogicamente decorrente das duas primeiras, denominada de conclusão
71
. 
O método hipotético-dedutivo foi aplicado na elaboração das hipóteses e na medida que se 
testou a predição da ocorrência do fenómeno abrangido pelas mesmas. O método histórico 
serviu para pesquisa dos traços possíveis da génese dos tratamento da terra pelo Estado e os 
seus respectivos antecedentes. 
2.4. Pesquisa quanto aos objectivos 
Quanto aos objectivos a presente pesquisa será qualitativa, pois este método possibilitara a 
recolha de inúmeras bibliografias que versam sobre o tema aqui discutido e todos os possíveis 
traços que abordam sobre ele. 
2.5. Quanto à abordagem do problema 
Quanto à abordagem do problema a nossa pesquisa é qualitativa, pese embora em alguns 
momentos possua um conteúdo altamente descritivo e pode lançar mão de dados quantitativos 
incorporados em suas análises. 
 
 
69
 GIL, A. C., Métodos e técnicas de pesquisa social, Atlas, 5ª ed., São Paulo, 1999, p. 32. 
70
 LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade, Fundamentos metodologia científica, Atlas, 4ª ed., 
São Paulo, 2001, p. 55. 
71
 ______, Fundamentos de metodologia científica, Atlas, 6ª ed., São Paulo, 2007, p. 54 
32 
 
CAPÍTULO III 
3. Apresentação e análise de dados 
A análise e interpretação de dados, diz respeito à parte onde tem espaço para discussão e 
detalhe de toda colecta de dados feita mediante os caminhos usados para sua concretização. 
Neste tópico, serão descritos todos os resultados encontrados na pesquisa empírica
72
. 
3.1. Efectividade da Política Nacional de Terras 
Através da Resolução nº 10/95, de 17 de Outubro, o Governo de Moçambique aprovou a 
Política Nacional de Terras (PNT) e respectivas Estratégias de Implementação que fixou os 
principíos gerais de orientação da legislação sobre a terra que viria a ser posteriormente 
adoptada. Ela foi aprovada no contexto do pós-guerra, tendo como principal preocupação 
(manifesta na fundamentação do diploma que a aprovou) a reconstrução nacional, a promoção 
do investimento e do desenvolvimento, a reintegração dos deslocados e a salvaguarda dos 
direitos ancestrais sobre a terra. 
A PNT dedicou, no capítulo da respectiva estratégia de implementação, um espaço importante 
à transferência de direitos, tendo lançado as grandes linhas de uma reforma que não veio a 
acontecer, muito em parte porque não estavam reunidas as condições, principalmente 
políticas, para a institucionalização de um mercado de títulos sobre a terra. No tocante à 
revisão da LT de 1979, previu-se como um dos aspectoss a considerar «a provisão de um 
sistema de transferência dos direitos de uso e proveitamento da terra»
73
. Ora, estabeleceu-se 
que esta transferência deveria respeitar a classificação de áreas de uso de terras definida então 
pelo Ministério de Agricultura e Pescas
74
, assente em quatro tipos diferentes de áreas
75
, 
propondo-se, para cada caso, um regime especial de transmissibilidade: 
i. Tipo A – Áreas com densa ocupação e utilização e com vários utilizadores, com 
maior acesso ao mercado (onde predominam o uso urbano e o sector empresarial 
rural), tendo como maior problema a capacidade limitada de ampliação de tais 
recursos. Segundo a PNT, deveriam regular-se os mecanismos que permitiriam «a 
transferência onerosa de títulos de uso e aproveitamento da terra entre seus 
 
72
 OLIVEIRA, Maxwell Ferreira de, ob. cit., p. 60. 
73
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução nº 10/95, de 17 de Outubro, aprova a Política Nacional de 
Terras, ponto 56 (i) b). 
74
 Idem, ponto 59, segundo o qual «esta classificação deverá acompanhar a dinâmica do uso da terra para 
diversos fins e ajustar-se às mudanças que venham a ocorrer com o processo de desenvolvimento do país. Isto 
permitirá que terras de um determinado tipo possam passar de uma categoria para outra». 
75
 Ibidem, ponto 57. 
33 
 
titulares, tanto entre nacionais como de estrangeiros para nacionais, sempre que 
investimentos tiverem sido feitos no terreno»
76
. Foi igualmente estipulado que 
deveriam ser regulamentados os tamanhos mínimos dos terrenos, de acordo com as 
respectivas finalidades, havendo que se introduzir mecanismos que impedissem a 
especulação ou acumulação de terra e que apoiassem o camponês familiar e o 
pequeno produtor
77
. 
ii. Tipo B – Áreas com ocupação e utilização pouco densa, normalmente ocupadas e 
pelo sector familiar/artesanal, tendo acesso limitado ao mercado. Segundo a PNT, 
o maior problema que enfrentam os ocupantes destas áreas consistia em garantir o 
acesso e a segurança de posse e/ou uso futuro, devendo prevalecer, quanto à 
transmissão de DUATs, o direito consuetudinário. Previu-se igualmente que o 
acesso do investidor a tais áreas deveria ser negociado e acordado com a 
comunidade, com apoio dos órgãos estaduais competentes, nos seus diversos 
níveis
78
. 
iii. Tipo C – Áreas protegidas ou a proteger, relativamente às quais o uso e 
aproveitamento está, à partida, proibido. Nos termos da PNT, devido ao respectivo 
estatuto de protecção, a transferência de títulos deveria ser proibida, com excepção 
de áreas que fossem identificadas para a implementação de projectos previstos nos 
planos directores do Governo. 
iv. Tipo D – Áreas que não tenham sido ocupadas e exploradas, dado o respectivo 
grau de inacessibilidade, estando dependentes da capacidade de investimento 
público ou privado. Relativamente a estas áreas, a PNT previu que deveria ser 
plenamente admissível realizar operações de transferência de DUATs, havendo 
necessidade de instituir incentivos fiscais e de mercado para atrair investimentos. 
Contudo, conforme apresentado em seguida, esta previsão não teve seguimento em termos 
legislativos, tendo ficado de fora da nova Lei de Terras de 1997. 
A PNT tem como princípios fundamentais, dentre vários, a manutenção da terra como 
propriedade do Estado, princípio consagrado na Constituição da República; a garantia de 
 
76
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução nº 10/95, de 17 de Outubro, aprova a Política Nacional de 
Terras, ponto 60. 
77
 Idem. 
78
 Ibidem, ponto 61. 
34 
 
acesso e uso da terra à população, bem como aos investidores; a promoção do investimento 
privado nacional e estrangeiro, sem prejudicar a população residente e assegurando benefícios 
para esta e para o erário público nacional; a definição e regulamentação de princípios básicos 
orientadores para a transferência dos direitos de uso e aproveitamento da terra, entre cidadãos 
ou empresas nacionais, sempre que tiverem sido feitos investimentos no terreno. O 
documento sintetiza do seguinte modo os princípios mencionados: «assegurar os direitos do 
povo moçambicano sobre a terra e outros recursos naturais, assim como promover o 
investimento e o uso sustentável e equitativo destes recursos». 
Neste contexto, reconhecem-se os direitos costumeiros de acesso e gestão das terras das 
populações rurais residentes, promovendo justiça social e económica no campo. 
3.2. Outros dados relevantes 
Contudo, não basta a existência normativa desses princípios, o importante é ver a sua 
efectivação prática, e aí nota-se a já mencionada morosidade e complexidade na tramitação de 
DUAT, especificamente na transmissão, facto que contribui sobremaneira para o fraco 
desenvolvimento do país. 
Outro dado interessante é a necessidade de clarificação da transmissibilidade das Licenças 
especiais no âmbito da Legislação sobre terras, pois no art. 9º da LT argue-se que «nas zonas 
de protecção total e parcial não podem ser adquiridos direitos de uso e aproveitamento da 
terra, podendo, no entanto, ser emitidas licenças especiais para o exercício de actividades 
determinadas». Ao analisar-se este artigo com atenção, notar-se-á uma lacuna jurídica, poisa 
LT não se refere, nem proíbe, a transmissão das licenças especiais, pelo que se deve entender 
que a mesma é permitida. Na ausência de normas sobre a matéria, parece que se terá que 
recorrer à analogia com as disposições sobre a transmissão do DUAT. 
Assim os principais problemas encontrados são: 
 Transmissibilidade limitada de DUATs. Os Procedimentos para a realização de 
transmissão de um DUAT são complexos e morosos; 
 A transmissão de DUATs que envolve edificios/infraestruturas urbanos e rurais tem 
um tratamento diferente perante a Lei, mesmo quando no segundo caso se trate de 
pequenas áreas; 
35 
 
 A ausência de um processo simplificado de transmissão entre vivos de DUATs nas 
áreas rurais desencoraja o investimento privado; 
 Ambiguidade do termo “benfeitorias” no contexto de transmissão de DUATs. 
 Um grande valor que engrossaria o erário sob forma de impostos sobre transações 
relativas à transmissão de DUATs é perdido, pois verificam-se transmissões onerosas 
de terrenos ou parcelas de terrenos, de indivíduos que tenham o DUAT sobre eles, sem 
que o Estado se beneficie. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
CAPÍTULO IV 
4. Discussão dos resultados a luz do quadro teórico 
Sendo a terra algo precioso e indispensável para o bem dos cidadãos, a sua aquisição, em 
conformidade com a lei, já devia ser facilitada pelo Estado através das autoridades locais no 
que tange à administração municipal para com os cidadãos nacionais. 
O que se verifica no nosso país, é que apesar de o Estado ser dono da terra, não facilita aos 
seus cidadãos a sua aquisição, pelo contrário, os estrangeiros são os que facilmente adquirem 
a terra, principalmente os que vêm com o objectivo de desenvolverem as suas actividades 
económicas como parceiros do Estado, senão do governo do dia. E, aos moçambicanos 
reserva-se a maratona de pedido de DUAT cujo processo burocrático incita o recurso à 
aquisição por vias ilegais violando dessa maneira o artigo 3º da Lei de terras. 
O processo de aquisição de DUAT é exaustivo. O despacho dos pedidos de direitos uso e 
aproveitamento de terra, para a habitação, pode durar mais de dois anos por motivos pouco 
esclarecidos, de modo que é mais fácil conseguir uma parcela de terra para habitação com 
recurso a compra do que seguir os procedimentos normais embora isso, por sua vez tenha 
consequências desagradáveis para os visados. 
No princípio da década de noventa, João Carrilho chamou a atenção para o facto de o 
mercado de terras constituir uma realidade bastante activa em Moçambique, no qual se 
vendem, alugam ou alienam terras ou transmitem direitos sobre as mesmas terras, contra o 
disposto na legislação e á margem de qualquer tipo de controlo oficial por parte do Estado, 
defendendo este especialista que, na revisão legislativa, se ponderasse seriamente a sua 
oficialização, tendo presente as diversas vantagens, designadamente: a possibilidade de um 
aumento das receitas do Estado, a potencial descentralização efectiva na promoção do 
desenvolvimento, o incentivo à utilização efectiva e mais eficiente do respectivo 
„proprietário‟ e a possibilidade de uma distribuição mais equitativa da terra, especialmente 
fora das áreas de ocupação densa
79
. 
 
79
 CARRILHO, João, O Debate Actual sobre a Questão das Terras Rurais em Moçambique, in, EXTRA – 
Revista para o Desenvolvimento e Extensão Rural, Edição Especial, Centro de Formação Agrária e de 
Desenvolvimento Rural – Ministério da Agricultura, Maputo, Junho de 1992, pp. 33-34. Joao Carrilho enumera, 
como desvantagens da oficialização do mercado de terras, «a possibilidade de criação de maior desemprego nas 
37 
 
Carrilho coloca ainda a questão do mercado de títulos como estando intrinsecamente 
relacionada com a propriedade da terra. Em documento consultado, intitulado „Síntese do 
Grupo de Trabalho de Reflexão sobre o Regime Jurídico da Propriedade de Terras‟, datado de 
2001, encontramos a seguinte constatação: 
«O panorama que se vive na prática é de uma tendência de cada vez mais se multiplicarem as situações 
de transmissões do direito de uso e aproveitamento da terra extra-legais constituindo na prática um 
verdadeiro costume contra legem. Nesta circunstância é aconselhável que as entidades competentes por 
legislar procedam a uma ponderação e actuem no sentido de legislar aquilo que está a ser a prática 
reiterada da comunidade»
80
. 
Basicamente, estamos diante de uma situação em que a LT não encontra correspondência na 
realidade prática, no que diz respeito à transmissão de direitos de uso e aproveitamento da 
terra, revelando-se completamente desajustada das dinâmicas de mercado de terras que, ainda 
que não tenha sido em momento algum institucionalizado, constitui uma prática. Há 
efectivamente um défice em termos da sua implementação, agudizado pela inêrcia ou 
passividade das autoridades em relação aos casos publicamente reportados de venda ou 
qualquer outra forma de alienação de terras, quer na imprensa, quer nos inúmeros estudos e 
relatórios publicados, quer ainda nos debates e reuniões que se têm vindo a realizar nos 
últimos anos. Constata-se ainda a existência de imensos anúncios reportando a venda de 
„terrenos‟, „propriedades‟ ou „talhões‟, directamente ou por intermédio de empresas 
imobiliárias em vários meios de comunicação, principalmente jornais e nas redes sociais. 
Nalguns casos faz-se menção de algumas benfeitorias, noutros somente se alude à terra 
enquanto recurso dotado de valor económico. 
O negócio de compra e venda de terra é uma realidade. É um negócio rentável, gera milhões e 
milhões para os singulares que se envolvem nele. O inquietante é que as autoridades 
municipais sabem desse cenário, mas nada fazem para reverter a situação. A justificação disso 
é que eles também são acusados de praticarem e facilitarem essas práticas ilícitas, contudo tal 
não se pode provar, não passando de especulações até prova em contrário. 
Daí, que muitos recorrem a formas de transmissão que nem sempre obedecem à lei, que em 
muitos casos originam os conflitos que podem chegar aos tribunais para dirimi-los. 
A aprovação de legislação fixando critérios mais objectivos de autorização poderia prevenir 
esta situação inoportuna. Por exemplo, poder-se-ia estabelecer que, para efeitos específicos de 
 
áreas de mais densa ocupação» bem como os problemas advindos da «falta de planeamento do uso da terra com 
o detalhe suficiente para prevenir ter que se comprar terra vendida no dia anterior, a preço real mais elevado». 
80
 Idem. 
38 
 
transmissão de benfeitorias, construções e infraestruturas, considerar-se-ia haver cumprimento 
do plano de exploração, sempre que aquelas se inserissem no plano de exploração aprovado e 
que correspondam pelo menos, certo número de vezes ao valor da taxa anual do direito de uso 
e aproveitamento da terra, em vigor no momento em que se requer a transmissão e aplicável à 
parcela de terra onde estão inseridos os bens a transmitir. 
Caso a transmissão fosse requerida por pessoa que seja membro de uma comunidade local, a 
transmissão seria paralela a um processo de desmembramento e, de forma a garantir que a 
porção de terra ocupada pelas comunidades locais não fosse toda transmitida através de 
desmembramentos para transmissão de benfeitorias, construções ou infraestruturas pelos seus 
membros, mesmo que sob autorização da comunidade local em causa, cada membro da 
comunidade só poderia desmembrar até certa percentagem da parcela que lhe cabe. 
A comunidade local poderia exigir que o desmembramento, em apreciação de cada caso em 
concreto, seja inferior à percentagem referida, desde que justifique que a parcela restante

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