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Professor: André Studart Leitão Aula 8 Lançamento, Deveres Instrumentais, Prescrição e Decadência Direito Previdenciário - Custeio Coordenação: Dr. Wagner Ballera 01 "Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).” www.r2direito.com.br 1. Lançamento A ocorrência do fato gerador provoca o nascimento da obrigação principal tributária. Cria-se, daí, a relação jurídica entre o credor e o devedor, da qual emergem o direito de o credor exigir a prestação a que o devedor está adstrito e o dever deste de cumpri-la. Todavia, em regra, a simples ocorrência do fato gerador, com o conseqüente nascimento da obrigação tributária, não é capaz de exigir do sujeito passivo a efetivação de seu dever obrigacional, consistente no pagamento do débito. Impõe-se, ainda, a prática de um ato administrativo específico que se traduz na declaração da existência, quantificação e exigência da prestação previdenciária. Esse ato é denominado de lançamento e está previsto no art. 142 do CTN. Pela sistemática do CTN, a obrigação tributária é a relação jurídica que nasce com a ocorrência do fato gerador (art. 113, § 1º, do CTN). De outro lado, o crédito tributário decorre da obrigação tributária (art. 139 do CTN), sendo constituído pelo lançamento (art. 142 do CTN). Segundo ALBERTO XAVIER, a distinção entre obrigação tributária e crédito tributário exprime a consagração pelo direito positivo brasileiro da concepção de lançamento como título abstrato dotado de eficácia preclusiva, separando com expressões próprias, relação subjacente e relação abstrata e impedindo a confusão entre ambas as situações jurídicas. Com isso, o renomado jurista conclui que "obrigação" e "crédito" não são realidades distintas. Muito ao contrário, este é a própria obrigação, uma vez objeto de lançamento, ou seja, é a obrigação tributária titulada. Disso resulta que a obrigação não perece com a constituição do crédito, subsistindo como relação jurídica subjacente, e somente se extinguindo após a extinção da situação jurídica abstrata, conforme preceitua o art. 113, § 1º do CTN. Seguindo a teoria dos graus sucessivos de eficácia de ALBERTO XAVIER, o lançamento acrescenta atendibilidade à obrigação tributária, na medida em que, após a sua ocorrência, o sujeito passivo está habilitado a efetuar o pagamento do tributo, e o sujeito ativo, a recebê-lo. Opera-se, com ele, a formalização e a determinação do quantum debetur. Sucede que, pelo modelo pátrio, existem tributos em que o pagamento antecede o próprio lançamento, o qual, às vezes, sequer adquire existência concreta. Nesses casos, a atendibilidade não decorre do lançamento, mas do fato gerador, isto é, ocorrido o fato, o sujeito passivo já está habilitado a efetuar o pagamento da dívida, e o sujeito ativo, a recebê-lo. Veja-se que o lançamento apresenta-se como ato nitidamente complementar. Porém, nem sempre adquire existência positiva concreta, como acontece nos tributos sujeitos à modalidade por homologação, quando se expira o prazo de homologação sem qualquer pronunciamento da Fazenda Pública. Até então se viu que o lançamento visa a conferir atendibilidade à obrigação tributária. Contudo, dependendo dos graus de atuação do contribuinte, pode-se falar em três modalidades de lançamento: a) o lançamento de ofício; b) o lançamento por declaração; e, c) o lançamento por homologação. Interessa-nos, no presente estudo, o lançamento por homologação e o lançamento de ofício, por se tratarem das modalidades presentes na disciplina das contribuições previdenciárias. Examinemos, pois, tais espécies, começando por aquela. Inicialmente, é preciso salientar a inexistência no direito brasileiro do "autolançamento". Conquanto Lançamento, Deveres Instrumentais, Prescrição e Decadência 02 termo corrente na doutrina e jurisprudência pátrias, essa expressão revela forte equívoco terminológico. E isso porque o lançamento é sempre ato privativo da autoridade administrativa, conforme disposto no art. 142, parágrafo único do CTN. O ato do particular limita-se ao pagamento do tributo, que poderá ser perfeito ou não, a depender da realidade devida. O lançamento por homologação consiste numa conduta comissiva ou omissiva de aceitação do valor pago pelo devedor. Qualquer ato contrário que leve à não homologação pela autoridade do montante recolhido implica a alteração substancial do instituto, quando, então, o lançamento por homologação converte-se em lançamento de ofício. As situações que irão ensejar o lançamento de ofício encontram-se previstas no art. 149 do CTN, cabendo a nós enfatizar as hipóteses constantes dos incisos V e VI, imprescindíveis para o atingimento do desiderato proposto. O inciso V cuida do lançamento de ofício, na função de substituto do lançamento por homologação. Cabe uma observação preliminar: quando o contribuinte se abstém por completo do dever legal de antecipar o pagamento, não há como se falar de lançamento por homologação, pois não há o que homologar, sendo certo que a homologação não pode operar no vazio. Segundo nos parece, o lançamento por homologação somente tem lugar quando haja prévio pagamento (total ou parcial) pelo contribuinte. Desse modo, a sua conversão em lançamento de ofício apenas é possível quando haja a inexatidão do pagamento (pagamento a menor). Ausente o pagamento (omissão total), não é de se falar em conversão do lançamento por homologação em lançamento de ofício, pois aquele inexiste; apenas cabe, diretamente, o lançamento de ofício. O inciso VI tem lugar nos casos de transgressão dos deveres instrumentais. Dispõe o § 3º do art. 113 do CTN que a obrigação acessória, pelo simples fato de sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente a prestação pecuniária. 2. A constituição do crédito previdenciário Acima, analisamos as três modalidades de lançamento, conferindo maior ênfase aos lançamentos por homologação e de ofício. O destaque justifica-se, porque, na Seguridade Social, normalmente, tem-se o lançamento por homologação e, apenas eventualmente, o lançamento de ofício. De efeito, no que diz respeito às contribuições devidas à Seguridade Social, é o contribuinte ou o responsável tributário que, por conta própria, e independentemente de qualquer provocação administrativa, comparece no vencimento e quita a obrigação através do pagamento do débito, cujos valores serão ulteriormente verificados pelo Fisco. Caso haja manifestação positiva expressa da Fazenda, opera-se a homologação total do pagamento. Presente o silêncio do Fisco, também se opera a homologação do montante recolhido, ainda que parcial, com a conseqüente extinção do crédito tributário em sua totalidade, inclusive no que diz respeito à parcela não satisfeita, por força da decadência. De acordo com o § 7º do art. 33 da Lei n. 8.212/91, com redação dada pela Lei n. 9.528/97, o crédito da Seguridade Social é constituído por meio de notificação de débito, auto de infração, confissão ou documento declaratório de valores devidos e não recolhidos apresentado pelo contribuinte. A Notificação Fiscal de Lançamento de Débito (NFLD) deve ser efetivada nos casos de mora no recolhimento das contribuições ou de pagamento de benefício reembolsado. Consiste no documento pelo qual a fiscalização cientifica o devedor da existência do débito em atraso, sendo via apta à concretização do lançamento de ofício. Dela deve constar a discriminação precisa e clara dos fatos geradores, das "Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A violação do direito autoral é crime punido com prisãoe multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).” www.r2direito.com.br contribuições devidas e dos períodos a que se referem. Após o recebimento da notificação, instaura-se o processo fiscal de cobrança, e o suposto devedor terá o prazo de quinze dias para efetuar o pagamento, formalizar acordo para parcelamento ou apresentar defesa administrativa. Transcorrido o prazo quinzenal sem a manifestação do sujeito passivo, será automaticamente declarada a sua revelia, e considerado, de plano, procedente o lançamento. Outro modo de constituição do crédito previdenciário é o auto de infração, que tem lugar em caso de ofensa a algum dever instrumental. Também se trata de hipótese de lançamento de ofício, haja vista a sua perfeita subsunção ao comando previsto no art. 149, VI, do CTN. Recebido o auto de infração, o autuado terá o prazo de quinze dias, a contar da ciência, para opor defesa ou efetuar o pagamento da multa com redução de cinqüenta por cento. Ausente o recolhimento da multa, a autoridade fiscal julgará o feito. Após a decisão, será oportunizado ao sucumbente o direito ao recurso. Nesse instante, prevê a legislação nova possibilidade de o autuado efetuar o recolhimento do débito, agora com redução de vinte e cinco por cento, até a data limite do prazo, ato que de igual modo gerará a extinção do crédito tributário. Até agora, examinamos duas hipóteses de constituição do crédito previdenciário plenamente compatíveis com o CTN, por se enquadrarem na definição jurídica de lançamento traçada por este diploma legal. Tanto a notificação de débito quanto o auto de infração constituem exemplos de lançamento de ofício. Todavia, a Lei n. 9.528/97, ao acrescentar o parágrafo 7º ao art. 33 da Lei n. 8.212/91, criou outras duas formas de constituição do crédito: a confissão e o documento declaratório de valores devidos e não recolhidos. No que diz respeito à terminologia, pensamos ser plenamente dispensável a lei mencionar, como veículo de constituição do crédito, o documento declaratório de valores devidos, afinal o mesmo nada mais é senão uma espécie de "confissão documental". Se o sujeito declara o débito, logicamente, confessa-o, assumindo, perante o Fisco, a condição de devedor. Não obstante a inclusão da confissão como hipótese de constituição do crédito previdenciário propicie uma atuação mais eficiente da Administração Fazendária, destoa por completo da sistemática do CTN. Daí se questiona: haveria inconstitucionalidade dessas disposições? A razão dessa indagação está em que o art. 146, III, "b", da Carta da República delega ao legislador complementar a missão de estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre "crédito". E parece-nos fora de dúvida que, dentre as normas gerais sobre o crédito tributário, figura a listagem dos casos que irão ensejar a sua constituição. Pelo CTN, presente a confissão ou o documento declaratório de dívida (confissão documental), deveria a autoridade administrativa, após o análise da exatidão do montante confessado, proceder ao lançamento de ofício, oportunidade em que o crédito estaria devidamente formalizado, com a conseqüente geração do efeito da atendibilidade. É certo que o modelo traçado pela lei ordinária melhor se amolda à realidade atual, dispensando a burocracia administrativa e agilizando a satisfação creditícia. Sem embargo, questões práticas esbarram em determinadas formalidades imprescindíveis para a sustentação da ordem jurídica. Se as disposições constantes do CTN estão ultrapassadas, que sejam feitas as alterações legislativas, e não conspurcada a sistematicidade do ordenamento. Entretanto, é preciso ressaltar que a novel sistemática de constituição do crédito foi amplamente chancelada pela jurisprudência pátria, que se firmou no sentido de que a declaração do valor pago já importa na formalização do crédito, sem a necessidade de lançamento. "Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).” www.r2direito.com.br 03 04 3. Deveres instrumentais O § 2º do art. 113 do CTN preceitua que a obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. A seguir, o § 3º do mesmo dispositivo determina que a obrigação acessória, pelo simples fato de sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente a penalidade pecuniária. As obrigações acessórias substanciam deveres positivos (fazer) e negativos (não-fazer), sendo destituídas de valor patrimonial, em razão de seu caráter não pecuniário. Advirta-se, nesse contexto, que, quando a penalidade pecuniária ganha corpo, já não mais se tratará de obrigação acessória, tendo em vista a alteração substancial do instituto. Importante atentar, ainda, para o fato de que, a despeito da elástica definição de "legislação tributária" constante do art. 96 do CTN, esses deveres instrumentais precisam decorrer de lei em sentido estrito (lei em sentido formal e material). E isso porque ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, a teor da Constituição da República (art. 5º, II). A grande maioria dos deveres instrumentais previdenciários da empresa, seguindo o preceito magno insculpido no inciso II do art. 5º da Constituição Federal, está inserida no art. 32 da Lei n. 8.212/91. Referida listagem não é exaustiva, havendo outras obrigações acessórias com fundamento no mesmo diploma legal, a exemplo das previstas nos arts. 52 e 91. 4. Decadência e prescrição das contribuições de seguridade social O exercício de um direito não pode ficar pendente indefinidamente, sob pena de gerar instabilidade social. Exige-se, pois, como medida necessária à segurança jurídica, que o decurso do tempo tenha influência tanto na aquisição, como na extinção de direitos. No presente estudo, examinaremos a fluência temporal como causa extintiva de direitos no âmbito previdenciário, mais especificamente, no custeio do Sistema de Seguridade Social. Falar-se-á da decadência e prescrição das contribuições previdenciárias. Porém, antes de adentrarmos na temática proposta, uma questão prejudicial se impõe: a constitucionalidade dos arts. 45 e 46 do plano de custeio da previdência social, Lei n. 8.212/91. O art. 146, III, "b", da Constituição Federal dispõe caber à lei complementar o estabelecimento de normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre prescrição e decadência. Todavia, o constituinte não desceu a minúcias quanto ao que caracterizaria "normas gerais de prescrição e decadência", remanescendo dúvidas no que diz respeito à respectiva delimitação conceitual. O que seriam afinal normas gerais de prescrição e decadência? Caso se considere a fixação de prazos como norma geral, então, os arts. 45 e 46 da Lei n. 8212/91 estariam eivados de inconstitucionalidade, por trazerem disposições diversas das constantes do CTN. Nesse sentido, há o entendimento majoritário dos Tribunais Regionais Federais. Sem embargo da natureza tributária das contribuições sociais, parece-nos ausente o vício de inconstitucionalidade. A definição uniforme de prazos não é uma exigência razoável, devendo-se atentar, antes de tudo, para as especificidades (mormente as econômicas) próprias de cada sistema. Além disso, considerando como norma geral a fixação de prazos, exaure-se praticamente o conteúdo material do instituto, afinal quais pontos seriam passíveis de regulação pela leide tributação? Dizendo mais claramente, o que poderiam ser normas específicas sobre prescrição e decadência, senão o estabelecimento "Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).” www.r2direito.com.br dos respectivos prazos? Isso não significa dizer que a previsão do prazo previsto no CTN é despicienda. Pode, sim, ter aplicação, só que apenas subsidiária. Caso a lei de tributação não preveja o prazo, aplica-se o CTN. Essa conclusão resulta, inclusive, do disposto no parágrafo 4º do art. 150 deste Código, referente aos tributos sujeitos ao lançamento por homologação, quando se verifica a expressão "se a lei não fixar prazo". Destarte, as normas gerais estão limitadas às seguintes questões: a) método de contagem do prazo prescricional; b) disposições sobre a interrupção e suspensão; e, c) regras de reinício do curso do prazo. Não há, por conseqüência, qualquer inconstitucionalidade nos arts. 45 e 46 da Lei n. 8.213/91. De acordo com o art. 45 do plano de custeio, o direito de a Seguridade Social apurar e constituir seus créditos extingue-se após 10 (dez) anos. O prazo decenal refere-se ao prazo que tem a Seguridade Social de lançar seu crédito, ou seja, de formalizá-lo, conferindo-lhe existência e definindo-lhe suas dimensões valorativas. Os termos iniciais desse prazo encontram-se fixados nos incisos do art. 45 e correspondem: a) ao primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o crédito poderia ter sido constituído; e, b) à data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, a constituição de crédito anteriormente efetuada. Contudo, não se pode olvidar de que as contribuições previdenciárias estão sujeitas ao lançamento por homologação, e de que o art. 150, § 4º do CTN prevê regra específica para os tributos sujeitos a essa modalidade de lançamento, quando presente a satisfação parcial do débito. O que se homologa não é o lançamento, mas o pagamento (ainda que parcial), provocando-se a extinção total do crédito tributário, exceção feita às hipóteses dolosas consignadas no parágrafo 4º do art. 150 do CTN. Se o Poder Público permanecer inerte durante o período legal, contado do fato gerador, o pagamento a menor, na prática, equivalerá a um pagamento total, haja vista a extinção do crédito tributário remanescente pela decadência. Por outro lado, inexistindo antecipação do pagamento (omissão total do pagamento), o termo a quo será o primeiro dia do exercício seguinte ao da ocorrência do fato gerador (art. 173, I, CTN). Essas regras foram alteradas pelo Superior Tribunal de Justiça, cuja 1ª Seção criou, a partir da aplicação concorrente dos arts. 173 e art. 150, § 4º do CTN, a teoria dos cinco mais cinco. Com a devida vênia a esta Egrégia Corte, essa interpretação contraria os ditames legais. Isso porque os arts. 173 e 150, § 4º do CTN referem-se, respectivamente, a uma regra geral e a uma regra especial, não sendo devida a sua aplicação conjunta. Essa questão continua sendo alvo de controvérsia na 1ª Seção do STJ, que também já decidiu nos seguintes termos: a) não havendo antecipação do pagamento, o termo inicial é o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorreu o fato gerador, consoante a Súmula 219 do extinto Tribunal Federal de Recursos; b) havendo antecipação parcial do pagamento, o termo inicial é a data da ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º do CTN). Assevere-se, finalmente, que a decadência, em regra, não admite suspensão ou interrupção durante seu curso. A única exceção refere-se à hipótese constante do inciso II do art. 173 do CTN (ou inciso II do art. 45 da Lei n. 8212/91). A justificativa desta ressalva está em que se já houve o fato gerador, e o prazo anterior é descontado, trata-se, induvidosamente, de interrupção da decadência. O parágrafo primeiro do art. 45 da Lei n. 8.212/91 determina que, "para comprovar o exercício de atividade remunerada, com vistas à concessão de benefícios, será exigido do contribuinte individual, a qualquer tempo, o recolhimento das correspondentes contribuições." "Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).” www.r2direito.com.br 05 06 Entrementes, os valores cobrados não ostentam natureza tributária, por não serem prestações compulsórias. Dessa forma, o indivíduo pode abster de efetivar o pagamento, sem que isso provoque a sua inscrição em dívida ativa e sua posterior execução forçada. Em verdade, apesar de topicamente transparecer hipótese de perpetuidade decadencial, o parágrafo 1º do art. 45 da Lei n. 8212/91 traz um favor legal, conforme inclusive já decidiu a 1ª Seção do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. A situação, segundo nos parece, é uma decorrência do princípio da exceção de contrato não cumprido, previsto no art. 476 do Código Civil. Se o particular não cumpriu a sua obrigação de verter as contribuições, não há como exigir do sistema previdenciário o implemento de sua obrigação, que é conceder as prestações (benefício e serviços). Trata-se, pois, de uma figura jurídica inominada, caracterizada pelos seguintes aspectos: a) não pode ser exigida unilateralmente pela Fazenda Pública, o que afasta o seu caráter tributário e indenizatório; b) está condicionada à comprovação do exercício de atividade laboral; e, c) tem a finalidade específica de obtenção de benefício previdenciário. É medida que se impõe, haja vista a necessidade de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema, sendo certo que a concessão gratuita da prestação previdenciária significaria forte incentivo às práticas de sonegação e elisão fiscais; e ninguém pode beneficiar-se de sua própria torpeza. De acordo com o art. 156, V, do CTN, a prescrição extingue o crédito tributário. Disso resulta que este instituto, no direito tributário, apresenta traços característicos diversos daqueles do direito privado, na medida em que deixa de fulminar não apenas o direito de ação, para extinguir o próprio direito do crédito. Importantes conseqüências daí sobrevêm. Em primeiro lugar, se há a extinção do crédito tributário, o seu pagamento é indevido, ensejando, consequentemente, em favor do interessando, o direito à repetição, nos termos do art. 165, I, do CTN. Ademais, com a extinção da relação de direito material, cessa a causa jurídica que fundamentaria a cobrança do crédito, podendo, então, o magistrado reconhecer de ofício a dívida prescrita. Desse modo, é de se concluir que a diferença fundamental entre a prescrição e a decadência no direito tributário não se baseia nas conseqüências jurídicas de efetivação, pois ambas geram a extinção do direito ao crédito. A real distinção está na fase do processo de positivação em que cada instituto se opera. Enquanto a decadência opera na fase de constituição administrativa do crédito, a prescrição opera no momento do exercício do direito de ação. O termo a quo da prescrição é o momento da constituição definitiva do crédito, somente podendo considerá-la definitiva, conforme entendimento dos Tribunais Superiores, após a notificação do contribuinte acerca da decisão proferida no processo administrativo fiscal, consideradas eventuais defesas e recursos. O art. 46 da Lei n. 8.212/91 estabelece prazo decenal para a cobrança dos créditos constituídos da Seguridade Social, aqui se repetindo as mesmas considerações empreendidasà decadência no que diz respeito à constitucionalidade desse prazo. A prescrição, diferentemente da decadência, admite suspensão e interrupção. Na suspensão, o termo anteriormente decorrido é computado. Já a interrupção implica reinício da contagem de todo o prazo, desprezando-se o período anterior. Assevere-se, porém, que o reinício da recontagem não depende apenas da ocorrência da hipótese interruptiva, mas da verificação de requisito imprescindível para o seu curso: a inércia do credor. Assim, para o reinício da contagem, urge que o ente credor proceda com negligência, mantendo-se inerte na promoção de atos de impulsão processual. De acordo com o art. 174, I, do CTN, são hipóteses de interrupção do prazo prescricional: a) o "Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, assim como a inclusão em qualquer sistema de processamento de dados. A violação do direito autoral é crime punido com prisão e multa (art. 184 do Código Penal), sem prejuízo da busca e apreensão do material e indenizações patrimoniais e morais cabíveis (arts. 101 a 110 da lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais).” www.r2direito.com.br despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; b) o protesto judicial; c) qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; d) qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor. A suspensão da prescrição não encontra tratamento normativo expresso. Entrementes, as suas hipóteses decorrem, por dedução lógica, da suspensão da exigibilidade do crédito tributário, afinal se o crédito não é exigível, não há como se admitir a fluência do prazo prescricional. E, nos termos do art. 151 do CTN, suspendem a exigibilidade do crédito e, consequentemente, a prescrição previdenciária: a) a moratória; b) o depósito do seu montante integral; c) as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; d) a concessão de medida liminar em mandado de segurança; e) a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; e, f) o parcelamento. 5. Bibliografia AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2000. BALERA, Wagner. Decadência e prescrição das contribuições de Seguridade Social. In: Contribuições sociais: questões polêmicas. Coord. Valdir de Oliveira Rocha. São Paulo: Dialética, 1996. __________. 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