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➔ Crimes de perigo Não existe crime, sem que haja, além de uma ação ou omissão, um resultado, isto é, uma alteração do mundo externo afetando as condições de existência ou segurança de um bem ou interesse penalmente tutelado. A toda ação penalmente relevante corresponde um efeito objetivo, seja ou não perceptível pelos sentidos, todo crime produz uma situação de fato, seja de dano (real, concreto, efetivo), seja de perigo (possibilidade de dano, dano potencial). Conceito de perigo: Rocco “Perigo é a modificação do mundo exterior voluntariamente causada ou não impedida (ação ou omissão), contendo a potencialidade (idoneidade, capacidade) de produzir a perda ou diminuição de um bem, ou sacrifício ou a restrição de um interesse (dano)”. Da Periclitação da vida e da saúde Crimes de perigo são os que se consumam com a mera exposição do bem jurídico penalmente tutelado a uma situação de perigo, ou seja, basta a probabilidade de dano. Subdividem-se em: a) Crimes perigo abstrato: são os que se consumam, automaticamente, com a mera prática da conduta. Não se exige a comprovação da produção da situação de perigo. Ao contrário, há presunção absoluta de que determinadas condutas acarretam perigo a bens jurídicos (Ex: Tráfico de drogas). b) Crimes de perigo concreto: são aqueles que consumam a efetiva comprovação, no caso concreto, da ocorrência da situação de perigo, art. 132 (Ex: crime de perigo de vida) c) Crimes de perigo individual: são os que atingem uma pessoa determinada ou então um número determinado de pessoas, tal como no perigo de contágio venéreo (arts. 130 a 136 do CP) d) Crimes de perigo comum ou coletivo: são os que alcançam um número indeterminado de pessoas, como no caso da explosão criminosa estão previstos nos arts. 250 a 259 do CP- Capítulo I/ Título VIII da Parte Especial. e) Crimes de perigo atual: são aqueles em que o perigo está ocorrendo como no abandono de incapaz, art. 133 do CP. f) Crimes de perigo iminente: são aqueles em que o perigo está na iminência de ocorrer g) Crimes de perigo futuro ou imediato: são delitos em que a situação de perigo decorrente da conduta se projeta para o futuro. ➔ Omissão de socorro (art. 135) Art. 135 do CP: Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública Tipifica-se o crime quando o agente não faz o que pode e deve fazer, que lhe é juridicamente ordenado. Um dever moral de solidariedade humana, o dever de amparar aqueles que necessitam de socorro em dever legal geral. Há os crimes omissivos próprios: Há os crimes omissivos impróprios: Objetividade Jurídica Protege-se com o dispositivo a vida e a saúde da pessoa através da segurança individual. Pune-se o desrespeito ao dever de solidariedade humana Sujeitos do delito Sujeito ativo: pode ser qualquer pessoa, não requerendo nenhuma condição especial. Não existindo vínculo anterior entre os sujeitos, mas havendo vinculação anterior poderá existir um crime mais grave, como por exemplo pais e filhos, curador e interdito, o crime será de abandono de incapaz (art. 133 do CP) ou de abandono material (art. 244 do CP). - Deve o agente estar no lugar e no momento em que o periclitante precisa de socorro. Obs: o autor não pode ter causado a situação de perigo, se causou dolosamente não pode se pretender que preste socorro. A primeira conduta presente no tipo é deixar de prestar assistência, portanto dever pessoal e direto. Assistência é toda forma de auxílio ou socorro adequado. Nesse caso o socorro depende da possibilidade e capacidade individual, sempre que não ocorrer risco pessoal. Praticam aqueles que recusam transportar pessoa ferida. Se o socorro pode ser pessoal, não pode buscar autoridade. Não pedir autoridade competente: indireto o pedido deve ser imediato e necessário, não se trata de alternativa da primeira figura típica, o comportamento do agente é ditado pelas circunstâncias. A assistência indireta é subsidiária e somente pode ser utilizada quando a direta não puder ser prestada sem risco pessoal, ou quando o socorro da autoridade puder ser prestado com maior eficácia. Obs: autoridade pública é aquela que seja COMPETENTE para intervir. Risco pessoal: -Não é qualquer risco que teria o condão de afastar a responsabilidade penal, somente aquele sério, efetivo, concreto e principalmente que produza risco a integridade física ou saúde do omitente. Quando presente o risco pessoal, o sujeito deve pedir socorro à autoridade pública, porque esta tem o dever legal de enfrentar o perigo (art. 13, §2°, a, e art. 24 §1° do CP). A lei dispõe unicamente acerca do risco pessoal, relativo à integridade física da pessoa humana, e não a riscos patrimoniais ou morais. -A lei é clara quando presente o risco pessoal, o sujeito deve pedir socorro a autoridade pública, tal pedido há de ser imediato. Se não o fizer comete crime em apreço, não por deixar de prestar socorro mas sim em razão de não pedir socorro da autoridade pública competente. Assim, havendo risco será atípica a conduta. -O risco pode ocorrer para pedir ajuda à autoridade pública e neste caso exclui o delito. -Se houver risco para terceiro poderá configurar estado de necessidade (art. 24 do CP). Omissão médica → responde por omissão de socorro o médico que deixar de atender uma vítima necessitada em situações como: quando exige depósito prévio em dinheiro por parte de pessoa pobre; quando diz estar de folga; quando alega não poder prestar socorro pelo fato da vítima não estar associada a nenhum plano de saúde; quando negar o atendimento sustentando ausência de vaga hospitalar e etc. O mesmo se aplica a enfermeira, também comete omissão de socorro a secretária do hospital que recusa o pronto atendimento médico com a alegação de necessidade de prévio preenchimento de ficha pessoal, uma vez que ela não possui capacidade técnica para aferir a necessidade ou não de imediata análise clínica pelo profissional da medicina. Sujeito passivo: Somente pessoas taxativamente indicadas pelo art. 135 do CP podem ser vítimas do crime de omissão de socorro, são elas: Criança abandonada: pessoa com idade inferior a 12 anos, que foi intencionalmente deixada em algum lugar por quem deveria exercer sua vigilância, e por esse motivo não pode prover sua subsistência. Criança extraviada: é a pessoa com idade inferior a 12 anos que está perdida, isto é, não sabe retornar por contra própria ao local em que reside ou possa encontrar resguardo e proteção. Pessoa inválida e ao desamparo: invalidez é a característica inerente à pessoa que não pode, por conta própria, praticar os atos cotidianos de um ser humano. Pode advir de problema físico ou mental, mas não basta a invalidez. Exige-se ainda esteja a pessoa ao desamparo, isto é, incapacitada para se livrar por si só da situação de perigo. Pessoa ferida ao desamparo: é aquela que sofreu lesão corporal, não necessariamente grave, acidentalmente ou provocada por terceira pessoa. Mas não basta que esteja ferida, é imprescindível que também se encontre em desamparo, ou seja, impossibilitada de afastar o perigo por suas próprias forças. Pessoa em grave e iminente perigo: o perigo deve ser sério e fundado, apto a causar um mal relevante em curto espaço de tempo, não é necessário seja a vítima inválida, nem qu esteja ferida. A lei exige tão somente a presença do grave e iminente perigo, pouco importando tenha essa situação sido provocada por terceiro, pela natureza ou até mesmo pela própria vítima. -Omissão de socorro e resistência da vítima → Subsiste o crime de omissão de socorro quando a vítima se recusa a assistência de terceiro, desaparecerá o delito, todavia, quando a resistência da vítima impossibilitar a prestação do socorro. Nas hipóteses de (criança abandonada, criança extraviada, pessoa inválida e pessoa ferida, ambas ao desamparo) o crime de omissão de socorro classifica-se como → PERIGO ABSTRATO OU PRESUMIDO,se o agente deixa de prestar assistência presume-se de forma absoluta a ocorrência do perigo, não se admitindo prova em contrário. Na hipótese de (pessoa em grave e iminente perigo) o crime é o de → PERIGO CONCRETO, deve-se comprovar a situação perigosa legalmente exigida, bem como a relação de causalidade entre ela e a omissão de socorro. -Omissão de socorro e vítima idosa → em caso de omissão de socorro envolvendo vítima idosa (idade igual ou superior a 60 anos) é aplicado o crime tipificado no art. 97 da Lei 10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO) -Omissão de socorro e morte instantânea → Não há crime de omissão de socorro quando alguém deixa de prestar assistência a pessoa manifestamente morta. O crime de omissão de socorro pode ser cometido de duas maneiras diversas: a) Falta de assistência imediata: o agente pode prestar socorro, sem risco pessoal, mas deliberadamente não o faz b) Falta de assistência mediata: sujeito não pode prestar pessoalmente o socorro, mas também não solicita o auxílio de autoridade pública. OBS: não se diz por autoridade pública como qualquer funcionário público, mas sim como aquele em que a lei confere atribuições e poderes para socorrer uma pessoa em perigo. Elementos subjetivos -O elemento subjetivo deste crime é o dolo de perigo, direto ou eventual representado pela vontade de omitir com a consciência do perigo, isto é, o dolo deve abranger a consciência da concreta situação de perigo em que a vítima se encontra. -Pode o dolo ser eventual com o agente assumindo o risco de manter o estado de perigo preexistente. -Não se admite modalidade culposa. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se a omissão de socorro no lugar e no momento em que a atividade devida tinha de ser realizada. Não se admite a tentativa, visto que se trata de um crime omissivo puro ou próprio, ou o agente age e presta socorro não havendo nenhum ilícito a ser punido, ou deixa passar o momento em que deveria prestar socorro e o crime está consumado. É um crime unissubsistente (não há a possibilidade de fração de tarefas) que não admite fracionamento. Causas de aumento de pena: A pena prevista no caput do art. 135 (detenção, de um a seis meses, ou multa) é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (previstas no art. 129 §2° do CP), e triplicada, se resulta a morte. A omissão de socorro é punida a título de dolo, e os resultados agravadores a título de culpa. Majorantes (Art. 135, parágrafo único, CP) Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Caso seja resultado lesão leve: a majorante fica absorvida pela própria omissão de socorro, o agente responde apenas por omissão de socorro. Não há crime de omissão de socorro qualificado, na realidade, eventual resultado decorrente da omissão como lesão ou morte, constitui circunstância de aumento de pena, isto é majorante, é necessário existir uma precisão terminológica. Não havendo vínculo entre a omissão do agente e a lesão grave ou morte, isto é, mesmo que o agente prestasse socorro a vítima era teria aquela lesão ou viria a morrer o agente responderá apenas por omissão de socorro na sua forma simples. Omissão de socorro e o Código Brasileiro de Trânsito (Lei n° 9.503/1997) Art. 302 §1°, III e art. 303 §1° da Lei n° 9.503/1997 → Matar ou lesionar culposamente alguém, na direção de veículo automotor, e não prestar socorro. É autorizada a conclusão de que o delito de omissão de socorro não poderá ser imputado ao condutor de veículo automotor que culposamente tenha provocado a morte ou lesões corporais em alguém. O condutor responderá por crime de lesão corporal culposa ou homicídio culposo na direção de veículo automotor, com a pena AGRAVADA pela omissão de socorro. Art. 304 da Lei n° 9.503/1997 → Envolvimento no acidente, sem culpa, e deixar de prestar imediato socorro. O art. 304 faz menção ao condutor do veículo que, na ocasião do acidente, deixa de prestar socorro imediato à vítima, infere-se que esse dispositivo será aplicado unicamente ao condutor do veículo que , agindo sem culpa, se envolva no acidente e não socorra imediatamente a vítima. Obs: nota-se que o crime descrito no art. supracitado é expressamente subsidiário, em seu parágrafo único estabelece que o crime ainda subsiste quando a omissão do condutor do veículo for suprida por terceiros, bem como quando se tratar de morte instantânea ou com ferimentos leves. É válido ressaltar que ferimentos leves é óbvio que não se pode falar em omissão de socorro quando a vítima for socorrida por terceiros, pois em tal hipótese o ofendido está protegido do perigo que justifica a punição do omitente. De igual modo, não há crime quando a omissão se der em face da manifesta morte ou instantânea, pois não existirá razão para legitimar a exigência da prestação de socorro. Art. 135 do CP → Terceira pessoa (na direção de veículo automotor ou não), sem envolvimento no acidente, que deixar de prestar socorro à vítima. Pena e ação penal Alternativamente detenção de 1 a 6 meses ou multa podendo ser majorada de metade se ocorrer lesão grave e triplicada se sobrevier a morte. Ação Penal Pública Incondicionada
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