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__________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com Turma: A1/B1 e C1 Sala: B.2.3 Lição nº 9 e 10 Tema: Modalidades Sumário: Registos e regras registais O Registo Predial encontra-se organizado em conservatórias do Registo Predial, à frente das quais se encontra o Conservador do Registo Predial. A cada conservatória corresponde uma circunscrição territorial dentro da qual tem competência em exclusivo para a prática dos actos registais. Todos os registos relativos a prédios situados na área territorial da Conservatória devem ser feitos nela, artigo 26.º e seguintes do Código de Registo Predial. 1. Objecto do registo O registo tem por objecto factos jurídicos (compra e venda, a permuta, a sucessão, etc.) e não situações jurídicas (direitos), artigo 2.º do CRP. Inscrevem-se factos para, desta forma, dar a conhecer aos interessados a situação jurídica dos prédios. É verdade que nem todos os factos sujeitos a registo produzem eficácia real, artigo 2.º al) t. do CRP, e que o Registo Predial publicita efeitos que não são reais, embora estejam sempre conexos com a situação. 2. Título para registo Para que seja promovido registo, o facto a registar tem de estar titulado em documento escrito, artigo 95.º do CRP. Quando tal não suceda os interessados no registo têm de titular por escrito o facto, ainda que a forma escrita seja indiferente para a sua validade ou eficácia. É o que se passa nomeadamente com o registo da usucapião, a qual deve ser justificada notarialmente ou declarada judicialmente para efeitos de registo e, com o registo da posse, artigo 1295.º, n,º 2 do CC. 3. Legitimidade para registar A legitimidade para registar pertence, em primeiro lugar, às partes do negócio jurídico. A legitimidade não se confina, todavia, às partes a que respeita o facto a __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com registar, artigo 87.º do CRP, estende-a aos interessados (interessado é aquele cuja posição jurídica pode ser afectada pela falta de registo, exemplo os credores. Além dos credores qualquer pessoa que para registar um facto que lhe respeita tenha de fazer outra inscrição prévia tem legitimidade para registar o facto de que depende o seu registo). 4. Legitimação registal Diferente da legitimidade para registo, a legitimação registal prende-se com a regra, segundo a qual, só pode ser titulado um facto jurídico se o disponente tiver prévia inscrição registal a seu favor, artigo 13.º, n.º 1 do CRP, são disso exemplo as situações em que se necessita de escritura pública para os factos jurídicos constitutivos, modificativos, translativos e extintivos de direitos reais sobre imóveis. Esta regra aparece mitigada nos casos contemplados no artigo 86.º da LSMRP. 5. Ausência de uma obrigação de registar (obrigatoriedade indirecta) Embora exista uma previsão nos artigos 2.º e 3.º do CRP, a verdade é que o Registo Predial, ou seja, a inscrição registal de factos sujeitos a registo não é obrigatória em Angola à luz do presente CRP. Esta falta de obrigatoriedade do registo pode ser explicada pelo acolhimento do princípio da consensualidade, artigo 408.º, n.º 1 do CC. 6. Função O registo destina-se essencialmente a dar publicidade à situação dos prédios, tendo em vista a segurança do comércio jurídico imobiliário, artigo 1.º do Código do Registo Predial. O registo predial incide sobre factos relacionados com coisas imóveis, artigo 2.º do Código do Registo Predial. Quanto às coisas móveis, a regra é a ausência do registo. No entanto, há serviços de registo de factos jurídicos relactivos a certas coisas móveis, ditas registáveis: automóveis, aeronaves e navios. Sem oferecer segurança absoluta, o registo presume que o imóvel, se já pertenceu à pessoa em cujo nome está registado, ainda lhe pertence, artigo 8.º do CRP. 7. Características O registo é um sistema público e real. Público porque está a cargo de serviços públicos, as conservatórias de Registo Predial, que dependem de um serviço central, integrado na orgânica do Ministério da Justiça. Real, porque os actos __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com sujeitos a registo respeitam a prédios e não a pessoas titulares dos direitos reais que tenham por objecto. 8. Actos registais Os actos de registo podem agrupar-se em dois grupos que são: quanto ao conteúdo e função e quanto à eficácia. Quanto ao conteúdo e função temos: a) Descrição: tem por fim a identificação física, económica e fiscal do prédio a que respeitam os factos inscritos, artigo 147.º do Código do Registo Predial. Trata-se de determinar a localização física do prédio, onde se situa, qual a sua área, a sua conformação (rústico, urbano ou misto) e a situação matricial, artigo 85.º da Lei da Simplificação e Modernização do Registo Predial. De cada prédio é feita uma descrição distinta, artigo 148.º do Código do Registo Predial. Nenhum acto registal, nomeadamente, inscrição ou averbamento é feito sem que a descrição do prédio esteja lançada, artigo 174.º, n.º2 do Código do Registo Predial; b) Inscrição: visa definir a situação jurídica dos prédios, mediante extracto dos factos sujeitos a registo referentes a cada um deles, artigo 174.º, n.º1.º do CRP. É este acto a que normalmente se alude quando se menciona o registo. Os factos sujeitos a registo encontramos nos artigos 2.º e 3.º do CRP. A inscrição pode ser definitiva ou provisória; c) Averbamento: tanto a descrição predial como a inscrição registal podem ser completadas, actualizadas ou rectificadas, ou seja, permite alterar, complementar ou rectificar os elementos duma descrição e inscrição, artigo 157.º e 193.º, n.º 1 do Código do Registo Predial. Quanto à eficácia, o registo pode ser: a) Definitivo: constitui o registo final do facto. Satisfaz os requisitos legais e, por isso, produz, sem reservas, a sua eficácia; b) Provisório: tem lugar quando o facto a registar é insuficiente para produzir a alteração da situação jurídica do prédio, ou seja, ocorre quando alguma circunstância impede que o registo seja definitivo; c) Por dúvidas: tem lugar quando algum motivo, que não constitui fundamento de recusa, artigo 69.º, n.º 2 do Código do Registo Predial, impede o conservador __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com de lavrar o registo como foi pedido, artigo 244.º e 177.º, n.º 2 do Código do Registo Predial. O registo converte-se em registo definitivo quando as dúvidas sejam removidas; d) Por natureza: assenta em diversas razões legalmente consideradas, artigo 179.º do Código do Registo Predial. Para poder ser convertido em registo definitivo é necessário que se verifique um novo facto que afaste a causa da provisoriedade. 9. Princípios do Registo Predial O Registo Predial estrutura-se com base em princípios que são: 9.1. Princípio da instância: a iniciativa dos actos registais pertence aos interessados no registo. O conservador não lança os registos oficiosamente. Salvo nos casos legalmente previstos de registo oficioso vide artigo 167.º do CRP e 163.º da LSMRP, o registo efectua-se a pedido dos interessados, artigo 4.º do CRP e 90.º da LSMRP, ou seja, o registo é um serviço público, mas depende da actuação dos particulares, a quem cabe o impulso inicial.O pedido de registo deve ser apresentado no modelo oficial aprovado e deve ser entregue com os documentos que titulam o facto a registar; 9.2. Princípio da legalidade: está subjacente ao artigo 5.º do CRP e comporta duas modalidades: o controlo formal (neste, o conservador controla unicamente o respeito pela regra da forma legal e a legitimidade das partes, sem entrar na apreciação de outros aspectos da validade do facto a registar) da legalidade e o controlo substancial (cabe ao conservador mais do que a apreciação do respeito pela forma legal e a legitimidade das partes, um verdadeiro controlo de validade do acto sujeito a registo). 9.3. Princípio do trato sucessivo, também denominado trato contínuo: vem previsto no artigo 13.º do CRP, tendo o Registo Predial por finalidade dar a conhecer aos interessados a situação jurídica do prédio, deve patentear toda sequência dos factos jurídicos que respeitam a cada prédio descrito. Assegura uma cadeia ininterrupta de inscrições de alienações ou onerações referentes a certa coisa, oferece-nos a história da sua situação jurídica e proíbe que seja lavrado registo quando o trato sucessivo estiver interrompido (cada adquirente só pode inscrever o seu direito se o receber de quem anteriormente já figurava no registo). __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com Com a inexistência de um dever de registar, o alcance deste princípio encontra-se enfraquecido, pois, caso o facto sujeito a registo não seja registado, o Registo Predial fica incompleto e, com isso, desconforme à realidade substantiva. Este princípio tem o conservador como destinatário e não os participantes que requerem o registo. Por isso, a violação do mesmo é da responsabilidade do conservador, que o deve respeitar, artigo 13.º, n.º 1 do CRP. 9.4. Princípio da prioridade: prevalece o direito primeiramente inscrito sobre os que, em relação aos mesmos bens, lhe seguirem. É uma aplicação da velha máxima romana prior in tempore, potior in iure, artigo 9.º do Código do Registo Predial. Quanto ao registo provisório, depois de convertido em definitivo, conserva a prioridade que tinha enquanto registo provisório, artigo 9.º do Código do Registo Predial. A redacção do preceito afigura-se à primeira vista deficiente, porquanto o registo tem por objecto factos e não direitos. Tecnicamente, este princípio consagra a prevalência entre direitos compatíveis, que vale, antes de mais, para os direitos reais que se constituam com o registo, nomeadamente, a hipoteca, artigo 687.º do CC e 6.º, n.º 2 do CRP. Como nenhum outro direito de gozo, garantia ou aquisição se constitui com o registo e tem a sua oponibilidade a terceiros dependente do registo do correspondente facto aquisitivo, diz-se que a amplitude deste preceito é bem menor do que aparenta. Para além dos casos em que o registo é constitutivo de direitos reais, o que em Angola só acontece com a hipoteca, este princípio vale também para os direitos cuja oponibilidade possa segundo a lei ficar dependente do registo, exemplo dos direitos reais de gozo, artigo 407.º, n.º 1 do CC, ou outros direitos reais que se refiram a um prédio (direitos reais de gozo, penhora, arresto, arrolamento). Por último, tendo em conta a importância que a prevalência tem para o exercício do direito a que se reporta o registo, caso o registo seja inicialmente recusado e o interessado haja recorrido da decisão do conservador, vindo o recurso a ser procedente, a data do registo é a data do pedido inicialmente recusado, não a data da procedência do recurso. __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com 10. Efeitos Os efeitos do registo têm na sua base a fé pública registal que se traduz na confiança que os particulares têm em o registo corresponder à realidade substancial da situação jurídica dos prédios. O registo definitivo, para proporcionar essa confiança, oferece duas presunções registais: a de que o direito existe; e a de que pertence a quem está inscrito como seu titular. São presunções ius tantum. Quando a aquisição do direito ocorre por força do registo, chamada de aquisição tabular, teremos uma presunção inilidível, ou seja, iuris et de iure. Esta sucede quando o direito real é inoponível a terceiro que, de boa-fé, registou a sua aquisição a título oneroso antes do registo da acção de declaração de invalidade substantiva, artigo 291.º do CC, ou de nulidade registal, artigo 83.º e 84.º do CRP. Os seus efeitos são: a) Presuntivo: funda-se no artigo 8.º do CRP. É uma presunção ilidível ou iuris tantum, por conseguinte, susceptível de ser afastada mediante prova em contrário, artigo 350.º do CC. A presunção abrange elementos da inscrição registal, mas não os da respectiva descrição. Esta presunção pode colidir com a presunção fundada na posse, artigo 1268.º, n.º 1 do CRP. Neste caso, o titular inscrito terá de levar acabo a actividade probatória tendente a demonstrar a titularidade substantiva do direito em causa. b) Enunciativo: é a função do registo que se limita a dar publicidade-notícia dos factos registados (na voz de Menezes Cordeiro, é o suplemento de publicidade que o registo dá ao direito). Diz respeito às situações em que o registo predial não desempenha qualquer função de publicidade dos actos registados, que não precisem dessa publicidade. Esses casos em que os actos de registo não desempenham qualquer função de publicidade são os que estão descritos no n.º 2 do artigo 7.º do CRP e complementarmente o registo da posse. Em regra este registo é indiferente para a validade e eficácia do direito, é o caso do registo da usucapião, artigo 7.º, n.º 2, al. a) do CRP e outros exemplos como o registo de aquisição de servidão aparente e o registo de mera posse. Outrossim, este registo pode determinar consequências jurídicas de outra ordem: o registo de mera posse projecta-se no prazo de aquisição por usucapião, artigo 2.º, n.º 1, al. f) do CRP e 1295.º do CC. __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com Como consequência dessa irrelevância, o terceiro de boa-fé não pode invocar a situação registal para beneficiar do efeito atributivo do registo predial. Face a este regime, qualquer que seja o artigo, nomeadamente, artigo 7.º, n.1 e 85.º do CRP, ou 291.º do CC, o terceiro não fica protegido se o titular do direito real tiver adquirido esse correspondente direito pelos pressupostos da usucapião. c) Consolidativo ou confirmativo: está implicitamente consagrado no artigo 7.º, n.º 1 do CRP, é o registo que consolida ou confirma a posição jurídica de quem registou a sua aquisição (posição precária, quando se adquire um bem e não se regista; aquisição a non domino, artigo 408.º, n.º 1, e 879.º, al. a) o risco corrido por aquele que tem uma posição precária é afastado se registar a sua aquisição antes do outro adquirente, por isso fala-se de registo consolidativo ou confirmativo, artigo 7.º, n.º 1 do CRP. Este é o efeito regra do registo predial em Angola. O registo em Angola não tem efeito constitutivo. Assim, o registo do facto aquisitivo assume uma particular importância, uma vez que o registo do facto aquisitivo a favor do adquirente consolida o direito na sua esfera jurídica, pondo-o a alvo de um eventual ou potencial aquisição tabular de terceiro. d) Constitutivo: é o registo que interfere com a eficácia inter partes dos factos jurídicos registos.Assume em Angola um regime excepcional. A ausência de um efeito de transmissão na publicidade registal em Angola, implica que o registo não assuma o papel tão relevante que goza nas ordens onde é consagrado. Constitui exemplo a hipoteca, cuja eficácia inter partes depende da realização do registo, artigo 6.º, n.º 2, do CRP e 687.º do CC. O regime consagrado nesses artigos diz respeito ao processo constitutivo da hipoteca, um direito real de garantia, não configurando uma simples condição de oponibilidade contra terceiros. e) Atributivo ou aquisição tabular: é o registo que protege a aquisição de um direito a nom domino face à lei substantiva. Ocorre nas hipóteses previstas nos artigos 291.º do CC e 7.º, n.º 1 do CRP. Porquanto, a ordem substantiva prevalece sobre a ordem registal, o titular do direito real pode pedir e obter o cancelamento do registo predial do não titular, que vê, assim, a sua posição ser destruída. A necessidade de atribuir fé pública ao registo predial levou o legislador a proteger o terceiro de boa-fé que adquire a titular aparente com base na pré- existência de uma situação registal que não se revele em conformidade com a __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com realidade substantiva. Nestes casos em que o registo assume realmente esse efeito reconhecidamente aquisitivo de direitos, fala-se, e bem, no efeito registal, ou de forma mais resumida, mas esclarecedora pelo seu significado, em aquisição tabular1 (aquisição pelo registo). A aquisição tabular é de facto um efeito da publicidade registal, mais precisamente um efeito da presunção da titularidade do direito que lhe está subjacente e é dela inseparável. A lei pretende que os interessados possam confiar na situação jurídica do prédio patenteada pelo registo predial (fé pública registal), e para tanto, protege em alguns casos, o adquirente do titular aparente que consta do registo como tal. A aquisição tabular a que corresponde a protecção do registo por efeito atributivo do registo predial ou aquisição tabular dá-se relativamente a terceiros de boa-fé que tenham adquirido a título oneroso de titulares aparentes e que tenham registado o respectivo facto. A aquisição tabular pode ocorrer em três diferentes situações, a que correspondem respectivamente os artigos 7.º, n.º 1 e 85.º do CRP e o artigo 291.º do CC. 11. Os artigos 408.º, n.º 1, do Código Civil e 7.º, n.º 1 do Código do Registo Predial Estabelece que, o terceiro que celebrou com o segundo negócio de disposição com o titular inscrito adquire o direito real contando que esteja de boa-fé, haja celebrado um negócio oneroso e registe a sua aquisição antes do registo do primeiro negócio fica protegido, ainda que o negócio jurídico celebrado seja inválido. Em face do que dispõe o n.º 1 do artigo 7.º do CRP, a modalidade de aquisição tabular aí consagrada é apenas possível pelo facto de no registo predial não constar o primeiro negócio jurídico, e por essa razão esse mesmo primeiro negócio jurídico se encontra incompleto. Importa sublinhar que se, entretanto, o primeiro negócio vier a ser registado primeiro que o segundo, é evidente que esse primeiro negócio fica completo, e a aquisição tabular não procede. É que neste o regime do primeiro negócio tem efeito consolidativo e este inviabiliza o efeito do segundo negócio jurídico, afastando a protecção tabular do terceiro de boa-fé. 1 É a protecção registal contra o titular do direito real na ordem substantiva. Essa protecção tem por fundamento a fé pública registal. Beneficia apenas o terceiro para efeitos do registo predial. __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com Requisitos de aplicação do artigo 7.º do CRP. Como vimos este preceito não tem por escopo fazer depender a oponibilidade do direito real da prévia inscrição registal da aquisição a favor do seu titular. O seu objectivo é antes proteger o terceiro que, confiando na aparência de uma situação registal desconforme à realidade substantiva, celebra um negócio jurídico inválido com o titular inscrito e regista a sua aquisição. Primeiro requisito: o preceito abrange apenas os casos de registo incompleto2, nos quais um terceiro adquire um direito num negócio jurídico inválido, concretamente nulo, por falta de legitimidade do seu disponente, e regista o facto. Sem registo do correspondente facto aquisitivo, o terceiro não obtém protecção. Segundo requisito: o terceiro3, para ser protegido, tem que inscrever o facto aquisitivo do seu direito. Caso o titular do direito real na ordem substantiva registe a sua aquisição antes do terceiro, este não beneficiará da protecção registal prevista no artigo 7.º,n.º 1 do CRP. Terceiro requisito: nem todo terceiro nestas condições recebe protecção da ordem registal. Para além dos requisitos enunciados (a pré-existência de um registo incompleto desconforme com a realidade substantiva e o registo do facto aquisitivo do terceiro antes do registo do facto aquisitivo do titular do direito real) torna-se ainda necessário que o terceiro esteja de boa-fé e o facto aquisitivo seja oneroso. Em suma, requisitos da protecção tabular do terceiro nos termos do artigo 7.º, n.º 1 do CRP são: Pré-existência de um registo incompleto desconforme com a realidade substantiva; Acto de disposição praticado com base na situação registal desconforme; 2 O Registo diz-se incompleto quando um facto que a ele estava sujeito não foi registado. O registo fica então desactualizado, não exprimindo a eficácia jurídica que não foi levado a registo. Um registo predial incompleto publicita uma realidade (registal) não conforme à realidade substantiva. 3 Terceiro para efeito de Registo Predial: Concepção ampla de terceiro: todos aqueles que tenham adquirido e conservado direitos sobre os imóveis, que seriam lesados se o acto não registado produzisse efeitos a respeito deles (Guilherme Moreira). Concepção restrita: terceiro para efeito de registo são aqueles que adquirem de autor comum direito incompatível (Manuel de Andrade). __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com Boa-fé do terceiro, artigo 291.º, n.º 3 do CC; Carácter oneroso do negócio jurídico de disposição; Que o terceiro registe a sua aquisição antes do registo do facto aquisitivo do titular do direito real na ordem substantiva. Os artigos 291.º, do Código Civil e 7.º, n.º 2 do Código do Registo Predial O artigo 291.º do CC protege outro subadquirente, afastando-se também ele claramente do âmbito de aplicação do espírito e da letra do texto do n.º 1 do artigo 7.º do CRP. Assim, esse subadquirente adquire a sua posição jurídica real com base num negócio jurídico inválido, nulo ou anulável, e já não num registo nulo, e porque é esse o regime do artigo 291.º, então podemos também neste caso diferenciar o seu regime, o seu âmbito de aplicação do artigo 7.º, n.º 1 e o artigo 85.º do CRP. O artigo 291.º é um preceito atinente à aquisição tabular, pressupondo, por isso, a pré-existência de um registo desconforme à realidade substantiva por invalidade do negócio jurídico registado. O fundamento da protecção é o mesmo das outras hipóteses legais: a fé pública. Este artigo protege o subadquirente com a invalidade substantiva e nisto distingue- se quer do artigo7.º quer do 85.º do CRP que protege o terceiro subadquirente que adquiriu o seu direito com base no registo nulo. O artigo 291.º tem por escopo definir a protecção do terceiro de boa-fé que adquire a sua posição com base num registo desconforme por invalidade substantiva do negócio jurídico registado. Os requisitos de aplicação deste artigo são: a) Supõe uma situação registal desconforme com a realidade substantiva, por força da inscrição de um negócio jurídico inválido, nulo ou anulável, ou seja, a pré-existência de um registo desconforme por invalidade substantiva do negócio registado (a invalidade substantiva respeita ao negócio jurídico registado e não ao próprio registo. A nulidade do registo predial obedece a um regime específico e consta do artigo 83.º do CRP. A invalidade do negócio jurídico não é causa da nulidade do registo predial respectivo. São actos distintos, cada um deles submetido ao seu regime jurídico próprio de invalidade); __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com b) Deve haver um acto de disposição do direito a que se reporta o facto registado. O titular inscrito praticou um acto de disposição negocial do seu direito a favor de terceiro. Esse acto de disposição está ferido de ilegitimidade, causando, deste modo, a nulidade do negócio jurídico celebrado e, com isso, a não produção da eficácia real no plano substantivo (por força do princípio da causalidade vigente na ordem jurídica angolana). c) O terceiro só recebe protecção em caso de boa-fé. O n.º 3 do artigo 291.º define a boa-fé neste caso. d) Só o adquirente em negócio oneroso vem a ser protegido por este preceito. Usando o argumento a contrário, a aquisição a título gratuito não permite ao terceiro beneficiar da protecção registal. e) O terceiro tem de registar a sua aquisição antes do registo da acção de declaração de nulidade ou anulação do negócio jurídico. A protecção registal só é conferida quando o terceiro inscreve o seu facto aquisitivo antes do registo da reacção judicial à celebração do negócio inválido. f) Artigo 291.º, n.º 2 do CC. Quer dizer, se acção de declaração de nulidade ou de anulação do negócio jurídico inválido for proposta e registada nos três anos subsequente à celebração, os efeitos da invalidade produzem-se, arrastando consigo a nulidade dos negócios jurídicos subsequentes. Este preceito consagra, assim, um período de tempo, três anos, durante os quais os efeitos da invalidade negocial prevalecem mesmo contra o terceiro de boa-fé que adquiriu onerosamente a sua posição. O prazo de três anos conta-se da data da celebração do primeiro negócio inválido, aquele justamente que afecta a legitimidade negocial dos sucessivos disponentes, e não de cada um dos subsequentes negócios que venham a ser posteriormente celebrados. Decorridos os três anos a que faz menção o n.º 2, do artigo 291.º, o terceiro que reúna cumulativamente os restantes requisitos fica protegido contra o titular do direito real na ordem substantiva. Isto quer dizer, que adquire tabularmente o direito real a que se reporta o seu registo. É um dos efeitos atributivos previstos na ordem jurídica angolana. No seu conjunto, todos esses artigos, atribuem protecção a um terceiro de boa-fé em função da fé pública registal. Assim sendo, ao princípio da publicidade em direitos reais, pode vir a ser associado um efeito atributivo, como forma de tutelar __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com terceiros que, estando de boa-fé, celebraram um negócio jurídico com aquele a quem a ordem jurídica confere uma presunção de titularidade. 12. Artigo 85.º do Código do Registo Predial Ao contrário do artigo 7.º, n.º 1, protege um subadquirente que adquiriu o seu direito com base num registo nulo, nos termos do artigo 83.º do CRP. O artigo 85.º do CRP, diferentemente do que preceitua o artigo 7.º, n.º1, estipula expressamente cinco requisitos, que concorrendo cumulativamente atribui ipso facto protecção registal ao terceiro que adquiriu um direito objectivo de disposição. No entanto, o artigo 85.º do CRP só tem aplicação nos casos em que o acto de disposição fundado no registo nulo é inválido, por falta de titularidade do direito real com base no qual esse acto é celebrado. Se o titular inscrito é o titular do direito real na ordem substantiva e o acto de disposição a favor do terceiro é válido, sendo apenas o registo nulo, o artigo 85.º nada acrescenta, uma vez que o terceiro não foi prejudicado com a declaração de nulidade do registo. Por isso, apenas quando o registo nulo induz uma desconformidade com a ordem substantiva tem lugar a aplicação deste preceito. Outrossim, o artigo 85.º do CRP só actua contra o titular do direito real que não tenha registo do facto aquisitivo do seu direito. Se este registo existe, o preceito também não tem aplicação. O efeito atributivo do registo predial não prevalece sobre o efeito consolidativo, que é definitivo. Se o titular do direito real na ordem substantiva regista o facto aquisitivo, consolida definitivamente a sua aquisição e fica protegido contra uma eventual aquisição tabular de terceiro. De outra forma, não se poderia falar nunca de efeito consolidativo do registo predial e este admitiria um grau de insegurança e incerteza que não se enquadra com a sua teologia, artigo 1.º do CRP. Por isso, o efeito atributivo só se compatibiliza com o efeito consolidativo quando o titular do direito real na ordem substantiva não tem registo a seu favor. O primeiro requisito para deste preceito é a pré-existência de um registo nulo nos casos declarados no artigo 83.º. O segundo requisito consiste no acto de disposição fundado no registo nulo. O titular inscrito dispõe do seu pseudo direito a favor de um terceiro com base no registo nulo. O terceiro requisito é a boa-fé do terceiro. Contrariamente ao 7.º, n.º1 do CRP, o artigo 85.º é expresso relativamente à exigência de boa-fé. Esta é de entender em sentido ético, de acordo como disposto no artigo 291.º, n.º 3 do CC. O quarto requisito é a onerosidade da aquisição do terceiro. O quinto requisito, o registo do facto aquisitivo do terceiro __________________________________ UnIA Universidade Independente de Angola Universidade Independente de Angola – Faculdade de Direito Rua da Missão, Email: iusfancony@gmail.com tem de preceder o registo da acção de declaração de nulidade do registo ou registo da acção de declaração de nulidade do acto de disposição fundado no registo nulo.
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