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METABOLISMO DO ETANOL Desenvolvimento de esteatose hepática alcoólica e de cirrose, hipoglicemia, hiperuricemia, produção de radicais livres, envelhecimento e o uso de dissulfiram no tratamento da dependência do etanol. C A I O C A S T R O Q U E I R O Z @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z U N I A T E N A S - M G B I O Q U Í M I C A Metabolismo do Etanol A metabolização do etanol no organismo humano compreende várias vias, muitas das quais contribuem para sua toxidade. A via hepática primária possui como produtos o acetaldeído e o dinucleotídeo de nicotinamida e adenina reduzido (NADH). Assim, o etanol é metabolizado primeiramente no fígado em acetaldeído, no citosol dos hepatócitos, por meio da enzima álcool desidrogenase (ADH) - substância tóxica, causadora de lesão hepática. O acetaldeído gerado é subsequentemente metabolizado em acetato, na mitocôndria, por intermédio da enzima acetaldeído desidrogenase (ALDH), produzindo água e dióxido de carbono, além de energia. Outrossim, a demasiada quantidade de NADH também inibe a oxidação de ácidos graxos, haja vista que o propósito da metabolização de ácidos graxos é a geração de NADH para a produção de ATP pela fosforilação oxidativa. Porém, as necessidades de NADH pelo indivíduo que consome álcool são suprimidas pelo metabolismo do etanol. Desse modo, o excesso de NADH sinaliza que as condições estão em conformidade para a síntese de ácidos graxos. Como consequência, há um acúmulo de triglicerídeos no fígado, gerando uma esteatose hepática. Esse acúmulo pode ser reversível com a diminuição do consumo de álcool e uma alimentação balanceada. Desse modo, o consumo de álcool pode levar ao acúmulo de NADH. Essa alta concentração de NADH inibe a gliconeogênese, pois impede a conversão do lactato a piruvato, predominando a reação inversa, gerando acúmulo de lactato. Isso, por sua vez, pode resultar em sinais clínicos de hipoglicemia e acidose láctica. Sistema mitocondrial de oxidação do etanol Nesse mecanismo, a hemeproteína citocromo P-450 que atua no retículo endoplasmático liso converte o etanol em acetaldeído. Nessa via, há o intenso consumo de NADPH e O2 (podendo levar o etilista crônico à hipóxia), além da produção de H2O e radicais livres (uso de NADPH, substância envolvida com a retenção de radicais livres no organismo. C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z Essa via ocorre em indivíduos com alto cossumo de álcool e sua degradação provoca um aumento nos níveis séricos de acetaldeído e de acetato. As mitocôndrias hepáticas podem converter o acetato em acetil- CoA, em uma reação que necessita de ATP. Acetato + coenzima A + ATP → acetil- CoA + AMP + PPi PPi → 2 Pi Formação de corpos cetônicos, agravando a acidose metabólica gerada pelo acúmulo de lactato. A ineficiência do processamento de acetato no fígado aumenta a concentração de acetaldeído, substância reativa (ligações com grupamentos proteicos, comprometendo sua função) tóxica (morte celular). Todavia, o processamento do acetil- CoA é interrompido no ciclo de Krebs, visto que o NADH inibe duas enzimas reguladoras. Esse acúmulo de acetil- CoA gera consequências negativas para o organismo, tais como: Outra ação do citocromo P-450 é a inativação de alguns fármacos analgésicos (como o paracetamol), barbitúricos, etc. Além disso, o citocromo P-450 é responsável pela metabolização de diversos antibióticos. Dessa maneira, fármacos como o metronidazol (antiprotozoário), penicilina (ampicilina) e vários antibióticos algumas cefalosporinas, entre elas a cefalexina, a cefadroxila e a cefradina são capazes de promover efeito “antabuse” (desconforto abdominal, rubor, vômitos e cefaléia). Catalase Oxidação do NADPH através da NADPH-oxidase: .H2O2 Catalase, promove a oxidação do etanol. A catalase, nos peroxissomos utiliza o peróxido de hidrogênio como um substrato, é de menor importância, metabolizando não mais do que 5% do etanol no fígado. Assim, no processo oxidativo do etanol via catalase: C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z Bioquímica do Etanol 1ª e 2ª via Após a ingestão de etanol, cerca de 10-20% do total é absorvido no estômago e 80% primeiras porções do intestino delgado. Somente de 2 a 10% do etanol absorvido é eliminado via rins e pulmões (BAFÔMETRO) Ingesta crônica: 80g/dia (1/4 de garrafa de cachaça - 50-60% de álcool) O restante é oxidado, principalmente no fígado. O fígado metaboliza o álcool, mas não é o único órgão lesionado por seu consumo. O processo de metabolização do etanol produz duas toxinas: o acetaldeído e radicais livres (peróxido de hidrogênio, superóxido e óxido nítrico), são duas moléculas que potencializam o nível de intoxicação neurológico, renal, cardíaco e intestinal. Cerca de 80% da metabolização do etanol é feito pela ADH, no citoplasma. Quando o limiar de ingesta do etanol é superado, é ativada a metabolização dentro do REL pelo grupamento de enzimas citocromo P450 (superóxido dismutase, enzimas peroxidases), enzimas que convertem o etanol em acetaldeído, reações de óxido-redução. C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z Assim, o álcool perde hidrogênios, que são levados para a molécula NAD+, sendo reduzido à NADH. A carência de NAD+ (oxidado) diminui a capacidade mitocondrial no ciclo de Krebs e gliconeogênese, por isso, o indivíduo precisa ativar vias metabólicas anaeróbicas. Portanto, a metabolização do álcool é feita, primariamente, no citoplasma. Ultrapassando o limiar da metabolização basal, o metabolismo microssomal é acionado. Os microssomas são estruturas dentro do REL que possuem enzimas que atuam nesse processo. A via microssomal gera produtos reativos de oxigênio. A imagem acima mostra a metabolização do etanol em acetaldeído por reações químicas estruturais, com utilização da NADPH oxidase e superóxido dismutase, de modo que a molécula de hidrogênio será convertido em superóxido e, por fim, em peróxido de hidrogênio. Porém, os subprodutos superóxidos e peróxidos de hidrogênio são reativos de oxigênio (moléculas instáveis que possuem em sua última camada eletrônica um elétron desemparelhado https://www.sarah.br/consultas/primeira-consulta/ https://www.sarah.br/consultas/primeira-consulta/ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z o que dificulta a ligação simples e estável. O acúmulo dessas moléculas dentro das células gera instabilidade nos ribossomos, mitocôndrias, REG e REL, podendo causar necrose e apoptose celular. Quando o indivíduo consome bebidas alcoólicas, o etanol aumenta a metabolização dos hepatócitos (NADPH e superóxido dismutase levam a produção dos reativos de oxigênio - superóxido e peróxido de hidrogênio). As substâncias tóxicas instáveis, geram vias paralelas. Uma dessas vias é o estímulo do fator transcricional NF- kappaB , o qual regula a transcrição de genes relacionado com o processo inflamatório. Logo, os radicais livres estimulam positivamente o NF-kb, aumentando a produção de TNF-ɑ (citocina pró-inflamatória que induz a via do ácido araquidônico para a produção de prostaglandinas - moléculas vasodilatadoras que aumentam o processo inflamatório), causando inflamação, processos de necrose e apoptose. Outrossim, o corpo estimula mecanismos anti-inflamatórios com o objetivo de equilibrar as atividades. O TGF-β é uma citocina anti- inflamatória que induz a produção de colágeno. No caso de etilistas crônicos, o processo inflamatório ao longo do tempo causa uma inflamação no fígado com deposição de colágeno, de modo que o tecido hepático vai sendo, aos poucos, substituído por tecido conjuntivo fibroso à base de colágeno, gerando uma fibrose (cirrose). Uma célula, quando recebe um efeito agressor, pode sofrer modificações, como edema de RE, modificações nos agregados de cromatina e alterações ribossomais. Quando o efeito agressor é removido, a célula consegue se regenerare produzir novas organelas (lesão reversível). As agressões que causam esse tipo de mecanismos são: hepatite alcoólica aguda e esteatose. O excesso no consumo de etanol → produção e aumento de acetaldeído → gasto excessivo de NAD+ → Inibição do ciclo de Krebs → Pausa na produção de energia → Acúmulo de acetil-CoA → conversão em ácido graxo e colesterol → aumento do colesterol sérico e esteatose hepática. C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z Resumindo a 1ª e a 2ª via Alto consumo de NAD+ para a produção de acetaldeído → Acúmulo de NADH → Ciclo da glicose-alanina (gliconeogênese: músculo → glutamato → alanina → fígado → piruvato → energia). Porém, da fase de piruvato até a glicose, utiliza-se NAD+. A pessoa que bebe álcool e não se alimenta, evolui para um quadro de hipoglicemia. Acúmulo de NADH → Ciclo de Cori → transformação do piruvato em lactato → enzima lactato desidrogenase, coenzima NADH → NADH oxidado a NAD e piruvato reduzido a lactato → saldo de 2 ATPs → acúmulo de lactato no organismo → urina → ductos para a excreção de ácido úrico → mecanismos de competição entre o ácido úrico e o lactato → saturação de urato → desenvolvimento da hiperuricemia → gota O consumo excessivo de etanol, por inibir o ciclo de Krebs e a gliconeogênese, potencializa a cetogênese.Hipoglicemia e cetogênese podem fazer o paciente evoluir para um coma hipoglicêmico. https://www.sarah.br/consultas/primeira-consulta/ https://www.sarah.br/consultas/primeira-consulta/ O álcool pode ser metabolizado no peroxissomo, em vista do excesso de peróxido de hidrogênio (substrato para a catalase). A catalase é uma enzima produzida pelo peroxissomo que degrada o peróxido de hidrogênio. O excesso de radicais livres produzidos estimulam vias pró- oxidação que ocasionam na inflamação de tecidos, gerando necrose. O álcool ingerido de forma crônica inibe a ação de ribossomas (instabilidade de retículo ribossomo, mitocôndria), diminuindo a síntese proteica. O etilista crônico produz radicais livres. O organismo possui proteínas antioxidantes chamadas glutationas que realizam a degradação dos radicais livres. Se a síntese proteica do paciente está reduzida, a produção dessas proteínas fica deficiente. Assim, o potencial antioxidante do paciente está alto, potencializando os efeitos de lesão celular. C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z Os radicais livres ficam acumulados dentro das mitocôndrias. O acúmulo de radicais livres intramitocondrial altera a estabilidade da membrana da matriz, liberando produtos intramitocondriais para o citoplasma. Um desses produtos, é o citocromo C, uma proteína quimiosmótica que participa do processo de fosforilação oxidativa. Quando o citocromo C sai da mitocôndria ele ativa a proteína procaspase-9, ativando a cascata das caspases há a inibição de mecanismos intranucleares que inibem a atividade da cromatina, causando a morte celular (apoptose). Portanto, o álcool, por causa da produção de radicais livres, estimula necrose (efeito pró- inflamatório) e apoptose (instabilidade de membrana, saída de citocromo C que estimula vias apoptóticas). Bioquímica do Etanol - 3ª via e envelhecimento Necrose - de fora para dentro. Mecanismos externos que agridem a célula, degradando-a. Apoptose - de dentro para fora - Via de sinalização, suicídio celular. https://www.sarah.br/consultas/primeira-consulta/ Efeitos adversos do uso do álcool O alcoolismo agudo atinge, principalmente, o SNC (Sistema Nervoso Central), sendo depressivo e afetando as estruturas subcorticais que modulam a atividade cortical cerebral. Consequentemente, há estimulação cortical promovendo atividade motora e comportamento intelectual desordenados. Com níveis sanguíneos progressivamente mais altos, os neurônios corticais e depois os centros medulares inferiores são deprimidos, incluindo os que regulam a respiração. Pode ocorrer parada respiratória. O alcoolismo crônico afeta não somente o fígado e o estômago, mas virtualmente todos os outros órgãos e tecidos também. Os alcoólatras crônicos sofrem de morbidade significativa e têm uma duração de vida mais curta, relacionada principalmente ao dano no fígado, trato gastrointestinal, SNC, sistema cardiovascular e pâncreas. Os efeitos adversos do uso do álcool podem ser divididos em agudos e crônicos. Hepatopatias alcoólicas ESTÁGIO 1: Esteatose Hepática - O consumo de álcool, em poucos dias, faz com que as células hepáticas aumentem o seu ívem lipídico (aumento da síntese de triglicerídeos) ESTÁGIO 2: Hepatite alcoólica - Caracteriza-se por necrose aguda das células hepáticas, tida como perda relativamente brusca de reserva hepática e pode desencadear um quadro de insuficiência hepática. Se não for tratada, pode evoluir para a cirrose. ESTÁGIO 3: Cirrose - são produzidas estruturas fibrosas e tecido cicatricial ao redor das células mortas, comprometendo as funções bioquímicas do fígado. O fígado cirrótico é capaz de converter a amônia em ureia, e ocorre elevação dos níveis sanguíneos de amônia, a qual é tóxica para o sistema nervoso e pode causar coma e morte. A cirrose hepática surge em cerca de 25% dos alcoólicos, e cerca de 75% de todos os casos de cirrose hepática resultam do alcoolismo. C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z Efeitos adversos do uso do álcool Hiperuricemia A ingestão de álcool aumenta a uricemia por incrementar a degradação do ATP em adenosina monofosfato (AMP), que é rapidamente convertido em ácido úrico. Por outro lado, a desidratação e a acidose metabólica, relacionadas com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, reduzem a excreção renal de ácido úrico, contribuindo para a hiperuricemia. C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z Dissulfiram Os estudos clínicos mostram que o dissulfiram (DSF) aumenta os níveis de dopamina no sistema nervoso central (SNC) pelo bloqueio da dopamina beta hidroxilase. Dessa forma, o aumento da dopamina no SNC diminui a fissura em pacientes com sintomas de abstinência pelo álcool. O DSF é um inibidor irreversível da enzima ALDH que, ao ser inibida, promove o acúmulo de acetaldeído, ocasionando a reação etanol- dissulfiram (RED) quando há ingestão concomitante de álcool e DSF. Com isso, o acetaldeído acumulado causa sudorese, rubor facial e dores de cabeça logo após a ingestão de bebidas alcoólicas ou o contato com o álcool por qualquer outra via de exposição. Assim, a associação do uso do álcool com esses sintomas citados, desmotivam o consumo da bebida alcoólica durante o tratamento com o DSF. A vitamina A (retinol) é convertida em ácido retinoico, uma importante molécula sinalizadora para o crescimento e o desenvolvimento dos vertebrados, pelas mesmas desidrogenases que metabolizam o etanol. Em consequência, essa ativação não ocorre na presença de etanol, que atua como inibidor competitivo. Acredita-se que essas perturbações na via de sinalização do ácido retinoico sejam responsáveis, pelo menos em parte, pela síndrome alcoólica fetal – a qual é marcada por microcefalia, retardo no crescimento, anormalidades faciais no recém- nascido, e redução das funções mentais à medida que acriança cresce – bem como pelo desenvolvimento de uma variedade de tipos de câncer. Aplicação Clínica C A I O C A S T R O Q U E I R O Z / @ C A I O C A S T R O Q U E I R O Z A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 2 bilhões de pessoas de todo o mundo consumam bebidas alcoólicas, Cerca de 76,3 milhões apresentam doenças associadas ao consumo de álcool - (World Health Organization, 2011). Neste contexto, dentro das várias patologias associadas ao consumo excessivo e crónico do álcool, uma das doenças mais relevante é a doença hepática alcoólica (DHA), que é considerada uma das principais causas de mortalidade em todo o mundo.
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