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MÓDULO (I): RECONHECIMENTO DE UM CASO DE INTERESSE 1) Área de concentração em Medicina Veterinária Clínica-médica e cirúrgica de pequenos animais. O caso a ser relatado ocorreu no Hospital Veterinário Santa Inês (HVSI) localizado na Zona Norte da cidade de São Paulo - SP. 2) Natureza do problema Anomalias congênitas do sistema hepatobiliar em pequenos animais. No dia 03/08/2021 um cão (Noah), da raça Biewer, macho, inteiro, de 11 meses de idade, pesando 1,7kg foi atendido na clínica- médica do HVSI. A queixa principal dos tutores era de vômito, mudança de comportamento e incoordenação. No exame físico o cão apresentava-se em alerta e responsivo, temperatura retal de 38,5°C, FC de 120bpm, FR de 20 mpm, mucosas normocoradas, TPC de 2s, pulso femoral normal e sem alterações cardiorrespiratórias dignas de nota; o cão apresentava estatura pequena para a idade e ECC 2/5. O cão mora em um apartamento, sem acesso ao exterior e sem outros contactantes. Vacinação, vermifugação e controle de ectoparasitas atualizados. Tutora menciona que o cão fica muito prostrado após a administração das vacinas/vermifugação/ectoparasitas. Foi coletado sangue para hemograma e bioquímico completo e encaminhado para a realização de US. No hemograma, de diferencial, foi encontrado eritrócitos microcíticos e normôcrômicos. No bioquímico foi encontrado o aumento de ALT/AST, FA, uréia e hipoalbunemia. No exame de US foi encontrado microhepatia e vascularização anômala em fígado. Pelos achados nos exames de sangue e de US foi solicitado a medição dos ácidos biliares pré e pós-prandial, dos quais estavam muito aumentados. O exame dos ácidos biliares aumentado é o exame de eleição para shunt portossitêmico. O cão foi encaminhado para a realização de uma TC de abdômen do qual teve o diagnóstico de shunt portossitêmico congênito extra-hepático gastrofrênico. 3) Suspeita Shunt portossistêmicos congênito extra-hepático gastrofrênico (SPSCEH gastrofrênico). Os desvios portossitêmicos congênitos em cães é uma anomalia vascular muito frequente em raças puras causado por falhas embriogenéticas no desenvolvimento do sistema venoso vitelíneo e cardinal. MÓDULO (II): CONTEXTUALIZAÇÃO COM REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Shunt portossistêmicos congênito extra-hepático gastrofrênico (SPSCEH gastrofrênico) Os shunts portossitêmicos (SPS) são classificados de acordo com a sua origem e localização. Os SPS podem ser de origem congênita ou adquirida e de localização intra ou extra-hepático, a literatura confirma que os SPS são mais frequentes diagnosticados de origem congênita e de localização extra-hepática (RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). RICCIARDI, 2017 afirma que os SPS congênitos em cães de raças pequenas se encontram na parte caudal do fígado, acometendo principalmente raças como: Yorkshire Terrier, Maltês e Poodle, o presente autor ainda mostra que o SPS congênito em cães da raça Yorkshire Terrier é hereditário. JOHNSTON & TOBIAS, 2018 compartilha da mesma afirmação que RICCIARDI, 2017 e acrescenta que cães da raça Yorkshire Terrier possuem a probabilidade de 35,9% de transmitir SPS congênitos em cruzamentos da mesma raça, no entanto, para BERTOLINI, 2019, além da influência genética, pode-se haver influência da localização geográfica do indivíduo no aparecimento SPS congênito. Todos os autores concordam que não há predisposição sexual no desenvolvimento de SPS congênito. Os sinais clínicos nos cães são variados; os animais podem apresentar sintomas logo após o nascimento, no primeiro mês de vida até os dois anos de idades, ou manifestar sintomas aos 10 anos de vida ou ainda serem assintomáticos. Cães com SPS congênito apresentam histórico de atraso no crescimento, estatura menor do que a idade correspondente, perda de peso ou dificuldade no ganho peso e episódios alternados de alterações comportamentais. Os três sistemas mais frequentemente afetados é o sistema nervoso central (SNC), o trato gastrointestinal (TGI) e o urinário. Os sinais clínicos relacionados ao SNC estão associados a encefalopatia hepática (EH) e são muito inespecíficos e variáveis, podendo apresentar: letargia, cansaço, depressão, alterações comportamentais, head preassing, andar em círculos, convulsões e coma; estes sinais clínicos podem piorar após as refeições. Os cães podem apresentar disfunções no trato urinário: estranguria, polaquiúria, hematúria ou disúria secundária à formação de cristais de urato na urina. Os sinais clínicos do TGI esta relacionado a disfunções hepáticas, vômito, diarreia, melena e hiporexia (RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). Alguns animais podem apresentar sialorreia e cegueira repentina (RICCIARDI, 2017). Para BERTOLINI, 2019 as manifestações clínicas mais comuns em cães são as do SNC seguidas do TGI e ainda acrescenta que cães com SPS há diminuição na produção de bílis, resultando na síndrome da má digestão e absorção. O diagnóstico é baseado na história clínica, exame físico, análises laboratoriais e de imagem. Cães com SPS podem apresentar estatura pequena e peso abaixo do ideal, fígado não-palpável, rim proeminente, criptorquidismo, sopro cardíaco e alterações neurológicas (RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). As análises laboratoriais devem ser realizadas em qualquer animal com suspeita clínica de SPS e incluem hemograma, bioquímico, urinálise e perfil de coagulação. Observa-se no hemograma anemia não- regenerativa, microcítica e normocrômica, além de eritrócitos de morfologia em poquilocitose. A leucocitose é um indicador de piora de prognóstico, pois sugere translocação bacteriana e da remoção inadequada das bactérias e de suas endotoxinas do sistema porta hepático (BERTOLINI, 2019). Os testes bioquímicos encontrados em animais com SPS são hipoproteinemia, hipoalbunemia, hipocolesterolemia, hipoglicemia, diminuição da concentração séria de uréia (BUM), aumento na concentração sérica de amônia, aumentos leves a moderados de ALT/AST e FA e aumento dos ácidos biliares. O teste de ácidos biliares é o teste de diagnóstico eletivo para SPS (RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). O diagnóstico por imagem pode ser feito pela ecográfica abdominal, portografica mesentérica intra- operatória, cintigrafia nuclear, angiografia por tomografia computadorizada e ressonância magnética (RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). Para JOHNSTON & TOBIAS, 2018 a ecografia abdominal é um teste diagnóstico útil, acessível e não-invasivo, porém é essencial que o operador tenha experiência, além de ser um método de diagnóstico preferencialmente utilizado para SPS intra-hepáticos do que extra-hepáticos. Dentre todos os testes de imagem, o exame eletivo, após a análise dos ácidos biliares é a utilização da angiografia por tomografia computadorizada (RICCIARDI, 2017). O tratamento de animais diagnosticados com SPS pode ser clínico ou cirúrgico. O tratamento clínico é conservador e tem o intuito de diminuir o transporte de substâncias tóxicas que são absorvidas no TGI. O tratamento cirúrgico tem o objetivo de corrigir parcialmente ou totalmente o shunt RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). O tratamento clínico é baseado na utilização de medicamentos e no ajuste da nutrição do animal. Os medicamentos usualmente administrados é de fluidoterapia, lactulose, antibioticoterapia (Metronidazol, Ampicilina ou Neomicina), hepatoprotetores (d- alfa-tocoferol S-adenosil-L-metionina ou Silibina) e anti-convulsivante se necessário RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). RICCARDI, 2017 acrescenta que cães em coma hepático podem ser tratados com enemas de água morna para lavagem e em seguida o enema de retenção com lactulose, correção eletrólitos e glicemia. Cães que apresentam sinais de hemorragia no TGI ou anemia grave devem receber transfusãosanguínea com concentrado de eritrócitos ou sangue fresco (BERTOLINI, 2019) A nutrição deve ser baseada em ração com proteínas de alta digestibilidade RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). O tratamento cirúrgico tem o intuito de corrigir e redirecionar o fluxo de sangue para o parênquima hepático, os shunt podem ser corrigidos por ligadura de seda, anel constritor ameróide, ligadura com bande celofane, oclusor hidráulico, e embolização por via transjugular (RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019 O tratamento por correção de ligadura de seda é o método de oclusão de shunt que há mais falhas e de maior taxa de mortalidade (RICCIARDI, 2017). O tratamento cirúrgico eletivo para SPS congênito extra-hepático é pela colocação do anel constritor ameróide, da qual 92% dos cães submetidos a essa cirurgia apresentam remissão total dos sintomas de SPS (RICCIARDI, 2017; JOHNSTON & TOBIAS, 2018 e BERTOLINI, 2019). BERTOLINI G. 2019. Anomalies of the portal venous system in dogs and cats as seen on multidetector- row computed tomography: An overview and systematization proposal. Vet Sci. 6(1):10. doi:10.3390/vetsci6010010 JOHNSTON & TOBIAS (2018). Hepatic Vascular Anomalies. In A. C. Berent & K. M. Tobias (Eds.), Veterinary Surgery Small Animal (2nd ed., Vol. 2, pp. 1852–1886). ELSEVIER. RICCIARDI, M. Unusual haemodynamics in two dogs and two cats with portosystemic shunt- implications for distinguishing between congenital and acquired conditions. Open Veterinary Jounal, v. 7, n. 2, p. 86-94, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.4314/ovj.v7i2.2. https://doi.org/10.4314/ovj.v7i2.2 MÓDULO (III): CONTEXTUALIZAÇÃO COM UNIDADES CURRICULARES DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DA ANHEMBI MORUMBI 1) Natureza do caso Shunt portossistêmicos congênito extra-hepático gastrofrênico (SPSCEH gastrofrênico). 2) Contextualização O caso escolhido para a descrição tem aderência às seguintes unidades curriculares do curso de Medicina Veterinária da Anhembi Morumbi: • Processos Biológicos e Processos Biológicos no Organismo Animal • Corpo Animal II • Genética Animal • Função e Disfunção I e II • Clínica de Pequenos Animais I As unidades curriculares citadas acima contribuíram para o entendimento da doença, na qual, o SPSC é um defeito anômalo congênito da anatomia do animal (Corpo Animal II, Genética Animal e Disfunção I e II), as manifestações clínicas da doença são decorrentes da não metabolização de compostos tóxicos, principalmente da amônia (Processos Biológicos, Processos Biológicos no Organismo Animal e Função I e II), a patogenia da doença, sintomas, diagnóstico e alternativas de tratamento foi dada em Clínica de Pequenos Animais I. MÓDELO (IV): CONTEXTUALIZAÇÃO COM A REALIDADE 1) Natureza do caso Shunt portossistêmicos congênito extra-hepático gastrofrênico (SPSCEH gastrofrênico). 2) Contextualização A conduta utilizado como tratamento do caso acima foi pela colocação do anel constritor ameróide. O animal foi anestesiado seguindo o protocolo de MPA de Metadona 0,1 mg/kg IM e Acepromazina 0,01 mg/kg IM, a indução anestésica foi feita com o uso de Propofol 3 mg/kg IV e a manutenção anestésica com Isoflurano. No pós-operatório foi administrado Dipirona 25 mg/kg e Hidrocortisona 25 mg/kg. Para o procedimento cirúrgico o paciente foi posicionado em decúbito dorsal e o acesso cirúrgico foi pela linha alba para laparotomia. Inseriu-se os afastadores para melhor visualização das estruturas, posicionamento do fígado e identificação do vaso anômalo. Após a identificação do shunt, foi colocado gentilmente o anel constritor ameróide no vaso, em seguida, os órgão foram reposicionados e fechamento em sutura de três planos. MÓDELO (V): CRIATIVIDADE 1) Natureza do caso Shunt portossistêmicos congênito extra-hepático gastrofrênico (SPSCEH gastrofrênico). 2) Contextualização O SPSEH é uma doença de sintomas e manifestações clínicas inespecíficas, sendo necessário exames complementares e capacidade profissional adequada para estabelecer o diagnóstico e tratamento adequado. É necessário que o médico veterinário saiba que o SPSEH é uma doença que acomete predominantemente filhotes e, em especial, cães de raças puras, os sintomas mais comuns são aquele que acometem o sistema nervoso, mas também pode acometer o sistema gastrointestinal e urinário; todos os sintomas estão envolvidos com a metabolização deficiente da uréia. O diagnóstico eletivo para o shunt é a medição dos ácidos biliares, mas na rotina pode-se michohepatia no US. É possível o tratamento clínico do paciente, mas a implantação do anel constritor ameróide é o tratamento de escolha mais efetivo e de melhor prognóstico. Não existe prevenção da doença, entretanto alguns trabalhos julgam necessário a retirado da reprodução animais que apresentam SPSEH.
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