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VOZ NA ADOLESCÊNCIA A adolescência acontece dos 10 aos 19 anos e abrange marcantes transformações biológicas, psicológicas e sociais. A puberdade ocorre nesse período e traz mudanças hormonais, desenvolvimento dos órgãos genitais, aumento da estatura física, pelos púbicos, na face e axilas. Além disso, acontece o crescimento ósseo e muscular, mudanças na pele, alargamento do tórax e desarmonia facial com o crescimento da mandíbula, nariz e boca. Há também o aumento do trato vocal que determina a mudança da voz de forma mais expressiva nos meninos por ação dos hormônios androgênicos. Na infância a língua se encontra em posição alta e anterior, a cavidade oral é pequena e o som produzido é metálico e agudo. Já na puberdade, a língua tem postura mais rebaixada e com maior mobilidade, a cavidade oral se amplia para facilitar os movimentos da laringe e os sons da fala. Na puberdade, a laringe do menino cresce e fica mais evidente. Essas mudanças ocorrem devido a perda da transparência da mucosa da laringe, o aumento da largura e do comprimento do pescoço, rebaixando a posição da laringe para o nível da vértebra C6 nas meninas e C7 nos meninos, aumento do diâmetro anteroposterior da laringe, e o alargamento do trato vocal e do sistema de ressonância. Também o aumento do comprimento das pregas vocais provocam mudanças na frequência fundamental da voz. As meninas apresentam pregas vocais em torno de 12 a 15mm, pregas vocais masculinas de 17 a 23 mm. A epiglote se eleva e achata e o angulo da cartilagem tireoide fica mais fechado, sendo 110 graus nas mulheres e 90 nos homens, tendo mudanças vocais mais expressivas no sexo masculino, que sofre um abaixamento tonal em até uma oitava e nas meninas desde entre 2 a 4 semitons. Essas mudanças não são uniformes, podendo ter duração de meses até 1 ano, dependendo do ambiente, hábitos comportamentais e temperatura climática. As maiores evidências das alterações vocais ocorreram entre os estágios 3 e 4 do desenvolvimento genital, ou seja, foram mais marcantes entre as fases central e final da puberdade. Essas alterações acometem o aparelho fonador, podendo causar disfonia temporária, marcada por rugosidade, instabilidade, com quebra de frequência e sonoridade, podendo apresentar também soprosidade. A instabilidade da frequência é mais marcante nos meninos e a instabilidade de loudness nas meninas. Na voz feminina depende das características do trato vocal e da frequência vocal individual, e na masculina não há algo definido. Com o desenvolvimento puberal estabelecido, podem ocorrer alterações da muda vocal, chamada puberfonia, que é caracterizada pela persistência de voz aguda após a idade esperada, quando a puberdade já chegou ao fim. Ela é um distúrbio psicogênico vocal, referente ao insucesso na mudança para uma modulação mais grave de voz, sem a presença de alterações laríngeas, tendo uma voz inadequada referente ao fisico e ao sexo. As disfonias relacionadas a muda vocal podem ser classificadas em seis tipos: mutação prolongada, mutação precoce, mutação retardada, mutação excessiva, falsete mutacional e mutação incompleta. A disfonia na adolescência de origem funcional ou psicogênica é marcada pelo desajuste muscular do trato vocal que mantém a laringe alta no pescoço, além de poder haver um comportamento psíquico que, inconscientemente, impeça que ocorra a muda vocal. Na puberfonia a voz apresenta a frequência fundamental aguda, emissão de falsete, discreta soprosidade e outros que podem ocasionar lesão secundária do tipo nódulos vocais e fenda glótica, devido a tensão fonatória. A avaliação vocal é perceptivo-auditiva, necessitando da integração de dados de diferentes aspectos para um tratamento direcionado, reduzindo o custo e o tempo de tratamento. A avaliação laríngea deve ser feita através da laringoscopia, também avaliação externa da laringe, mediante visualização e palpação do pescoço em relação ao toque, a simetria e a posição. A avaliação perceptiva auditiva da voz é uma avaliação subjetiva com base no conhecimento do avaliador, nível de experiência, atenção, sensibilidade e habilidade. Para diminuir a subjetividade é interessante adotar um protocolo, para avaliar a partir dos mesmos parâmetros. Ultimamente vem sendo utilizado o CAPE-V ( Consensus Auditory-Perceptual Evaluation of Voice). A análise acústica da voz é um procedimento que consiste na extração e mensuração do sinal vocal quantificado por um sistema de avaliação computadorizado. Os dados extraídos dessa maneira necessitam ser correlacionados com a história clínica do sujeito, com a avaliação perceptivo-auditiva e com os achados laringológicos. As informações se referem às medidas dos padrões da vibração das pregas vocais, da quantidade de ruído existente nos harmônicos de um som, nas formas do trato vocal e variações. A autoavaliação da voz é importante pois envolve o bem estar, avaliação da qualidade de vida e da percepção do indivíduo. É perceptível que quando a ansiedade é maior, também é maior a intensidade do desvio vocal, maior grau de instabilidade e tensão vocal e maior impacto negativo no domínio de protocolos para autoavaliação. A intervenção fonoaudiológica deve ser feita após certificar-se de que a voz está comprometida por disfonia funcional, descartando causas além da psicogênica. Sendo necessário a terapia vocal, que é para recuperação da fisiologia adequada com o objetivo de desativar os ajustes motores deletérios. São utilizados exercícios do método de sons facilitadores, podendo ser associados a manobras de manipulação laríngea. Essa atuação é importante pois facilita a conscientização e propriocepção dos processos e dos órgãos envolvidos na produção da voz e da fala do adolescente.
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