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Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 1 A Pessoa jurídica, quando de responsabilidade limitada, se beneficia de um manto nos bens dos sócios. ® Manto= cortina protetora. Entretanto, ocorre situações que tal benefício é utilizado para o mal (fraude, por exemplo). Para isso, há a possibilidade do “descortinamento”, ou seja, erguer o manto. Fala-se então, na desconsideração da personalidade jurídica. Desconsidera-se que a PJ tem existência distinta de seus membros. O que é, então, a desconsideração da PJ? A PJ é autônoma em relação aos sócios. A desconsideração, temporariamente, desconsidera, suspende essa autonomia para atingir bens particulares dos sócios. É remédio para a disfuncionalidade da pessoa jurídica. Importante: Não confundir com despersonalização, pois a PJ continua existindo. ® É intervenção de terceiro porque provoca o ingresso de terceiro em juízo. ® É disposto no art. 50 do CC e Art. 28 do CDC. O CPC não cuidou dos casos, só regulamentou as questões processuais. Desconsideração em Sentido Estrito: ® Desconsidera a existência da PJ e entra no patrimônio dos sócios para quitar dívidas da PJ. Não pode ser de ofício. Depende de requerimento da parte ou do MP. ® Art. 133 do CPC. ® E, o MP só intervém nos casos do art. 178, CPC. Hipóteses de cabimento: 1. Art. 50 do CC; 2. Art. 28 do CDC; 3. Desconsideração Inversa. ¨ Desconsideração Inversa da Personalidade Jurídica – art. 133, §2º. Aqui ocorre o inverso: atinge o patrimônio da sociedade para quitar dívidas da pessoa física. Cabe a desconsideração inversa, quando cônjuge ou companheiro desvia bens para a PJ por ele controlada, ou controlada por pessoa interposta, para subtrair do outro cônjuge ou companheiro direitos oriundos da sociedade afetiva. ® Quando o sócio já era também responsável pela dívida, não há desconsideração. Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 2 ® Pode atingir sócio da PJ ou PJ do mesmo grupo societário. A petição inicial é contra uma pessoa natural, e posteriormente, pede-se a desconsideração. Importante: há também a hipótese direta (clássica), que a PI é contra a PJ e, posteriormente, pede-se a desconsideração com vistas a atingir o patrimônio dos sócios. ¨ Cabimento: art. 134 do CPC. Cabe em todas as fases do processo de conhecimento, de cumprimento de sentença e de execução de título extrajudicial. ® Cabe nos juizados especiais cíveis, vide art. 1062 do CPC. ® Pode ocorrer em grau recursal. O relator do recurso, por exemplo, pode resolver a questão da desconsideração. ® No cumprimento de sentença. ® Na execução de título extrajudicial. ® Pode ocorrer também em fase recursal. Art. 134, §2º: Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da PJ for requerida na Petição Inicial. Ou seja, se for requerida na PI, chama-se somente desconsideração da PJ. Incidente é quando é solicitado depois do início do processo. ® O pedido de desconsideração no curso do processo é uma questão incidental. Dessa forma, existe o processo e existe o incidente, como coisas distintas. ® O que será aplicado ao incidente não necessariamente será aplicado ao processo. A citação do sócio ocorre na desconsideração direta e da pessoa jurídica na desconsideração inversa. Importante: No que se refere à intervenção de terceiros, é importante ter em mente que terceiros são todos aqueles que não figuraram na petição inicial. Assim, se a desconsideração for pedida já na petição inicial, os sócios não serão terceiros, mas réus, integrando a relação processual desde o início. Nesse caso, não se trata de modalidade de intervenção de terceiros. Somente será intervenção de 3º o INCIDENTE de DPJ, pois nesse caso é que vai surgir o 3º para ingressar no processo. ® Somente é admitida no curso do processo (ou diretamente na PI), sendo que não se admite como ação autônoma. A instauração do incidente suspenderá o processo, vide art. 134, §3º. Importante: Suspende o processo, salvo quando é requerida na petição inicial, que não será o caso de intervenção de terceiros neste caso. A suspensão do processo, no caso de instauração do incidente, ocorre em relação aos terceiros, ou seja, a execução contra a empresa W, que estava no processo desde o início, seguirá seu curso. Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 3 Quanto à suspensão em relação a terceiros, considere a seguinte situação: Luiza deixou a sociedade da empresa W há mais de dez anos, mas, por algum motivo, seu nome ainda consta no quadro societário. Se o processo não fosse suspenso em relação a terceiros – que se justifica para que lhes seja garantido o direito à defesa e ao contraditório – Luiza, eventualmente, poderia ter seus bens penhorados, mesmo não fazendo mais parte da empresa há anos, sem ter a oportunidade de apresentar defesa. ® Com a suspensão do processo, porém, os sócios podem se defender e o juiz poderá decidir pela instauração do incidente ou não. Enunciado n. 110 da II Jornada de DPC do CJF: A instauração do incidente de desconsideração de personalidade da pessoa jurídica não suspenderá a tramitação do processo de execução e do cumprimento de sentença em face dos executados originários. Obs.: a suspensão ocorre para terceiros não serem atingidos enquanto não lhes for garantido o exercício da defesa. Art. 134, §4º: O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica. ® Amplia o objeto litigioso, devendo demonstrar o preenchimento dos requisitos. É uma nova demanda (incidental) no decorrer de processo em curso, por isso tem que ter partes, causa de pedir e pedido. ® Os pressupostos legais específicos citados no § 4º, dizem respeito ao Direito Civil, Direito Empresarial, Direito Ambiental, Direito Tributário, Direito Trabalhista, porque essas regras são de direito material e as que o Código regula são de direito formal, procedimental (as “regras do jogo”). O terceiro é citado porque é nova ação. Ele se manifesta em 15 dias úteis. Poderá produzir provas. Art. 135, CPC. A conduta ilícita é descrita no requerimento. Art. 136, CPC: Concluída a instrução, se necessário, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. ® A decisão interlocutória cabe agravo de instrumento. Art. 1015, IV, CPC. ® A ação principal continuará correndo (prosseguirá), porque essa desconsideração não tem que atingi- la. A instauração é encaminhada ao distribuidor para anotações. Se for decisão do relator cabe Agravo Interno (decisão monocrática, art. 136, § único). Trata-se de decisão unipessoal. ® Se for decisão em sentença cabe Apelação, art. 1009 do CPC. ® Caso o pedido da DPJ seja na PI. Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 4 Não quer dizer que a PJ para de existir, é só naquele processo. Mas naquele processo faz coisa julgada, cabendo Ação Rescisória contra a decisão. Art. 137 do CPC. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente. Segundo o artigo 137, se a decisão interlocutória reconhecer que há a possibilidade de desconsideração, o que acontecerá com eventual transferência patrimonial que tenha sido feita? O bem poderá continuar em nome do sócio ou da pessoa jurídica, mas, pelo fato de o bem estar com eles, a decisão declara que não existe a barreira da alegação de não poderem ser atingidos por haver personalidade jurídica diversa e que, portanto, qualquer transação que tenha havido é ineficaz em relação ao credor que requereu a desconsideração. Observe que se trata de um efeito declaratórioe não desconstrutivo, pois essa alienação, oneração, é simplesmente ineficaz para quem requereu a desconsideração que foi reconhecida.
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