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GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC cefaleias ✦ Prevalência elevada ao longo da vida (pelo menos um episódio: masculino 94% e feminino 99%). ✦ 3ª queixa mais frequente em ambulatórios gerais. ✦ Motivo mais frequente de procura por neurologista. ✦ 4,5 – 9% dos atendimentos em unidades de emergência, 4º motivo mais frequente. ✦ Sintoma frequente. ✦ É importante reconhecer condições graves de base. ✦ Causada por inflamação ou tração nas estruturas sensíveis à dor. ✦ Relação íntima com o nervo trigêmeo. ✦ Acomete 90% da população. ✦ Pode ser incapacitante. ✦ Acometimento maior dos indivíduos em idade produtiva (perda de produtividade). ✦ Relacionada a custos elevados de tratamento, investigação e hospitalização. E DE ONDE VEM A DOR? ✦ O parênquima cerebral não dói, o que dói são as estruturas que estão associadas. Vejamos abaixo a sensibilidade à dor das estruturas da cabeça. CEFALEIA PRIMÁRIA X SECUNDÁRIA ✦ As cefaleias primárias são doenças cujo sintoma principal, porém não único, são episódios recorrentes de dor de cabeça. A cefaleia é a própria doença (ex., enxaqueca, cefaleia do tipo tensional e cefaleia em salvas). ✦ As cefaleias secundárias são o sintoma de uma doença subjacente, neurológica ou sistêmica (ex., meningite, arbovirose, tumor cerebral, HSA, aneurisma, etc.). O diagnóstico diferencial entre cefaleia primaria ou secundária é essencial. A causa da cefaleia secundária habitualmente deve ser investigada por meio de exames subsidiários. PRIMÁRIA: TIPO TENSIONAL ✦ Esta é a cefaleia primária mais frequente, com uma prevalência estimada entre 40-70% da população. O pico ocorre na quarta década de vida. ✦ No QUADRO CLÍNICO podemos observar dor de leve a moderada intensidade, de caráter opressivo, quase sempre bilateral. A duração da dor varia de 30 minutos a 7 dias. Surge, principalmente, no final da tarde após um dia extenuante no trabalho. Ao contrário da enxaqueca, a dor não tem característica pulsátil e não costuma ser agravada por esforço físico ou impedir as atividades do paciente. Normalmente não há sintomas associados. TRATAMENTO ✦ Geralmente não é necessário tratamento, até porque a maioria dos pacientes nem procuram ajuda médica. Nos casos de dor intensa, pode ser utilizado paracetamol com ou sem acompanhamento de cafeína, ou dipirona, ou diclofenaco de potássio ou até mesmo ibuprofeno (analgésico comum ou AINEs). ✦ OBS: Quando a frequência de episódios de cefaleia tensional é muito elevada (mais de 15 dias por mês), podemos classificá-la como cefaleia tensional crônica. Para estes pacientes, devemos iniciar tratamento profilático com antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina. PRIMÁRIA: ENXAQUECA/MIGRÂNEA ✦ A enxaqueca, ou migrânea, é uma das causas mais comuns de cefaleia recorrente (atrás, apenas, da cefaleia tensional). ✦ O paciente típico com enxaqueca é uma mulher, entre 30- 50 anos, cujo quadro iniciou-se na infância ou adolescência, havendo um familiar próximo acometido em 60-80% dos casos. ✦ Tem como mecanismo fisiopatogênico uma dilatação das artérias cranianas, o que justifica a melhora com a adoção de procedimentos que diminuem o aporte de sangue para o segmento cefálico. FATORES DESENCADEANTES ✦ São muitos os chamados “gatilhos”: mudanças climáticas, estresse, esforço físico, calor, odores, alimentos, jejum, bebidas alcoólicas, fases do ciclo hormonal (período pré-menstrual). ✦ As crises migranosas são predominantemente marcadas por limitação das atividades habituais (estudo, trabalho, outras), náusea e fotofobia. QUADRO CLÍNICO ✦ A enxaqueca caracteriza-se por crises recorrentes, podendo ter (não é obrigatório, sendo até que é incomum ter essas 5 fases) até cinco fases distintas: GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ❯❯ PRÓDROMO (Sintomas premonitórios): em cerca de 60% das crises, pode surgir irritação, fadiga, dificuldade de concentração, sono agitado, avidez por doces e mal-estar, dentre outros, precedendo a dor em até 2 dias. ❯❯ AURA: em cerca de 20% das crises, temos a enxaqueca com aura, caracterizada pela presença de sinais e sintomas neurológicos focais, como escotomas cintilantes (zigue- zagues brilhantes em “espectro de fortificação”), escurecimento da visão, dormência ou parestesias (periorais, nas mãos ou nos pés), que podem surgir antes, durante (mais frequentemente) ou logo após a cefaleia. A aura pode acompanhar a cefaleia ou precedê-la em até uma hora. ❯❯ DOR: a cefaleia é de forte intensidade, pulsátil ou latejante, geralmente unilateral e na região frontotemporal. A dor tem duração entre 4 e 72 horas e pode ser agravada pela atividade física ou mesmo pelo movimento da cabeça. Costuma melhorar quando o paciente permanece em repouso num ambiente silencioso e pouco iluminado. Geralmente a dor muda de lado de uma crise para outra (pode acontecer). ❯❯ SINTOMAS ASSOCIADOS: náuseas, vômitos, fonofobia, fotofobia, osmofobia, etc. O sintoma mais comum é a náusea (87% dos casos). ❯❯ PÓSDROMO: é a fase da exaustão. Os pacientes podem ficar horas ou dias cansados e astênicos, precisando de um período de repouso para seu completo restabelecimento. DIAGNÓSTICO ✦ Ocorrência de pelo menos 5 episódios de cefaleia com duração de 4 a 72 horas e que apresentem as seguintes características: 1) Cefaleia com pelo menos 2 das seguintes características: unilateral, pulsátil, intensidade moderada a severa e piora com atividade física diária. 2) Presença de náusea, vômitos, fotofobia ou fonofobia (importante para diferenciar da cefaleia tensional). 3) História e exame físico não sugestivos de outras doenças orgânicas que possam causar cefaleia (em resumo, sem “sinais de alarme”). TRATAMENTO ✦ ABORTIVO (abortar crise): → Triptanos (drogas de escolha): são agonistas seletivos dos receptores serotonérgicos 5-HT1, levando à vasoconstrição preferencial dos vasos cerebrais e meníngeos. → Analgésico comum, AINEs e até mesmo opioides em determinados casos. ✦ PROFLÁTICO - A principal indicação de tratamento preventivo para as crises de migrânea é a presença de 3 ou mais crises/mês. → Betabloqueadores; → Antidepressivos; → Anticonvulsivantes; → Bloqueadores dos canais de cálcio. PRIMÁRIA: CEFALEIA EM SALVAS - AUTONÔMICA ✦ “Cefaleias Trigêmino-Autonômicas”, que tem a cefaleia em salvas como sua principal representante. ✦ O paciente típico é um homem de meia-idade comumente etilista ou tabagista. A história familiar positiva é rara. O principal fator desencadeante da dor é a ingestão alcoólica, o que ocorre em até 70% dos indivíduos. Os episódios acontecem mais comumente à noite, acordando o paciente dentro das duas primeiras horas de sono. QUADRO CLÍNICO ✦ Os episódios de dor são quase sempre unilaterais localizados na região periorbitária, de grande intensidade (uma das dores mais fortes que se conhece), geralmente descritos como “facadas” e de curta duração (15-180 minutos). Preste bastante atenção a essa curiosa característica: os episódios podem se repetir quase diariamente durante até 10 semanas, geralmente no mesmo horário, sendo seguidos por um longo período assintomático (até 1 ano) e o posterior retorno das crises. Ou seja, é como se tivéssemos períodos de exacerbação e remissão! Durante a “exacerbação” da cefaleia em salvas ocorre uma crise por dia ou a cada dois dias, mas existem relatos de pacientes com até 8 crises/dia! ✦ Alguns pacientes chegam a bater a cabeça na parede e mesmo ameaçar o suicídio, devido à intensidade da dor! GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC TRATAMENTO ✦ ABORTIVO → Oxigênio a 100% (máscara não reinalante), 10 a 12 litros/min, durante 15 a 20 minutos, com o paciente sentado e inclinado para frente (vai causar vasoconstricção cerebral e abortar a cefaleia em salvas). ✦ PROFILÁTICO: podemos usar a carbamazepina e o valproato de sódio. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC SECUNDÁRIAS ✦ Critérios: 1) condiçãoem questão sabidamente seja capaz de causar cefaleia; 2) relação temporal com a condição subjacente. MNEMÔNICO DE QUANDO PENSAR EM CEFALEIA SECUNDÁRIA QUANDO SOLICITAR EXAMES DE IMAGEM? ✦ Cefaleia em “Thunderclap” (“cefaleia em trovoada”, é aquela cefaleia de início súbito e que atinge o máximo de intensidade de dor em poucos segundos). ✦ Sinais ou sintomas neurológicos focais. ✦ Início da dor associado a esforço, tosse ou atividade sexual (tem relação com manobra de valsalva). ✦ Iniciar após os 40 anos. ✦ Mudanças significativas no padrão, frequência ou gravidade. ✦ Dor refratária. CAUSAS COMUM DE CEFALEIA EM TROVOADA HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA ✦ 85% dos casos ocorre por ruptura de aneurisma. ✦ 10% por hemorragia perimesencefálica não- aneurismática. ✦ 5% por malformação arteriovenosa e outras. ✦ 50 – 70% se manifesta como uma cefaleia isolada. ✦ 1/3 dos pacientes tem perda de consciência. ✦ 6 – 9% apresenta crise epiléptica. ✦ 10 – 43% apresenta cefaleia sentinela (isto é, cefaleia que precede o evento súbito de rompimento do aneurisma). ✦ Apresentação típica, que inclui um início súbito de cefaleia severa (frequentemente descrita como o "pior da vida"), podendo ter náuseas, vômitos, dor cervical, fotofobia e perda de consciência em geral transitória. HSA – EXAMES COMPLEMENTARES ✦ Na emergência o primeiro exame que a gente vai pedir suspeitando de uma cefaleia secundária e pensando na HSA é uma TC de crânio que tem sensibilidade de 100% até 12h de sintoma. Caso a TC não apresente nada, não vamos parar por aí, vamos fazer a punção lombar do LCR + espectofotometria que tem sensibilidade de 95% após 12h... a gente vai fazer o estudo do líquor pensando que a gente vai encontrar sangue/hemácias. ✦ A RNM é feita quando o paciente tiver internado, não fazemos de cara na emergência... podemos fazer a RNM e estudos dos vasos para complementar a investigação. ✦ Na HSA a gente tem o desenho dos sulcos com densidade de sangue. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC MENINGITE ✦ A tríade clássica é composta por: cefaleia, febre e rigidez nucal. ✦ A punção lombar é mandatória (exceto se o paciente tiver alguma contraindicação). ✦ Antibioticoterapia empírica (não vamos esperar os resultados dos exames para tratar, a gente começa a tratar empiricamente... geralmente aciclovir + ATB para pegar vírus e bactéria). ✦ Atenção em buscar contactantes para fazer a profilaxia. TUMORES INTRACRANIANOS ✦ Geralmente é uma cefaleia de intensidade progressiva, não é súbito (exceto se houver algum sangramento). ✦ Ocasionalmente cursa com o despertar do paciente e metástases são mais comuns de causar esse tipo de cefaleia secundária. ✦ Já existem avanços no tratamento, principalmente pensando na neurocirurgia. ✦ Geralmente tem sintoma focal do local que o tumor está instalado. ✦ Pode ser uma síndrome paraneoplásica o fator causal... você vai pesquisar o tumor na área que está tendo o sintoma focal e não encontra nada, então pode ser uma manifestação a distancia configurando-se uma síndrome paraneoplásica. TROMBOSE VENOSA CEREBRAL ✦ Dor que piora com tosse, espirro, manobra de valsalva, em decúbito e ao acordar. Essas manobras que aumentam a pressão interna, aumenta por consequência o retorno venoso e por isso piora a dor. ✦ Alterações de nível de consciência, crises, papiledema, déficits focais (10 – 15%). ✦ A TC de crânio tem sensibilidade de 75% se exame neurológico normal. ✦ TC alterada em até 95% dos pacientes com déficits focais. ✦ No caso de uma TC normal, podemos pedir um estudo do LCR com pressão de abertura. ✦ RNM e estudo de vasos pode ser realizado depois quando o paciente tiver internado. DISSECÇÃO DE ARTÉRIAS CERVICAIS ✦ 60 – 95% apresentam cefaleia e 20% cefaleia do tipo “em trovoada”. ✦ A cefaleia geralmente é ipsilateral à dissecção. ✦ Pode irradiar para região nucal, temporal, auricular e mandibular. ✦ Pode ter amaurose fugaz, síndrome de horner, tinnitus pulsátil, diplopia e outros. CAUSAS MENOS COMUNS ✦ Associada a crise hipertensiva e PRES (Síndrome de encefalopatia posterior reversível). ✦ Hipertensão liquórica. ✦ AVCi. ✦ Apoplexia pituitária. ✦ Síndrome de vasoconstricção cerebral reversível (Sd de Call Fleming). ✦ Thunderclap primária. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC FLUXOGRAMA DE CONDUTA NA EMERGÊNCIA
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