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GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC lúpus eritematoso sistêmico CONCEITOS ✦ Doença inflamatória crônica que ocorre em surtos e remissões, afeta a pele, rins, articulações, pulmões, SNC, membranas serosas (praticamente todos os órgãos e tecidos). ✦ Tem como principal característica a produção de autoanticorpos (tem um forte braço na resposta humoral). ✦ O padrão inicial (5 – 7 anos) de acometimento é o que tende a prevalecer (o que acontece no padrão inicial da doença, tende a se perpetuar nas crises, ou seja, a apresentar durante as crises os mesmos componentes sintomáticos da primeira crise). EPIDEMIOLOGIA ✦ Mulheres jovens em idade fértil (20 – 30 anos) – essa relação com a mulher tem forte relação com o estrogênio, pois acredita-se que o estrogênio é imunoestimulante de linfócitos B... pacientes que fazem uso de ACO ou TRH possuem risco elevado para LES. ✦ 9-10 mulheres para 1 homem (quando acomete homem, costuma ser barril). ✦ Mortalidade e prevalência maior em não brancos. ✦ Outras doenças podem favorecer o aparecimento de LES: PTI (púrpura trombocitopênica idiopática), púrpura trombocitopênica trombótica, SAF (Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo), lúpus discoides, lúpus cutâneo subagudo... FATORES DE RISCO ✦ Tabagismo; ✦ Deficiência seletiva de IgaA; ✦ Deficiência homozigótica de C1q, C15, C4; ✦ Exposição solar (os raios ultravioletas tipo B exercem efeito imunogênico nos queratinócitos cutâneo). ATIVAÇÃO ✦ Estamos falando de um mecanismo de estresse físico ou fisiológico que corrobora para “ativação” da doença em pessoas predispostas: ✦ Gestação; ✦ Infecções; ✦ Cirurgias; ✦ Estresse. FISIOPATOLOGIA ✦ Em estudo realizado, perceberam que 88% dos pacientes tinham pelo menos 1 anticorpo positivo antes do diagnóstico (anticorpos entre FAN, antifosfolípides, anti Ro e anti La). ETIOLOGIA ✦ Predisposição genética (genes HLA DR3 e DR4 – DQW1, DQW2). ✦ Deficiência do complemento (deficiência dos componentes iniciais da cascata do complemento - C1q, C2 e C4). ✦ Fatores ambientais (exposição solar e uso de determinados medicamentos). ✦ Infecções – EBV e CMV. ✦ Estrógeno estimula linfócitos B e T, aumenta expressão do HLA e das moléculas de adesão (se associando ao desenvolvimento de LES). ✦ Redução das células Treg e ativação da via Th17. ✦ Tem uma resposta mediada por INF-alfa. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ✦ O LES pode começar de forma aguda (fulminante) ou insidiosa, mas é, por definição, uma doença crônica, remitente e recidivante. Pele e articulações são os locais mais acometidos. ✦ Deve-se ter em mente que tudo pode ser LES porque as manifestações clínicas são diversas, tudo pode acontecer no LES. SINTOMAS SISTÊMICOS ✦ Fadiga, mialgia, febre (36%), perda ponderal (21%), ganho de peso (hipoalbuminemia). ARTICULAR ✦ Manifestação inicial mais comum. ✦ Costuma ser migratória, simétrica e raramente deformante (como você ver na imagem abaixo, fica GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC parecendo o sinal de pescoço de cisne da AR, mas quando você faz o RX, não é compatível com AR... veja que nem tem erosões, algo muito característico de AR) – é a artropatia de Jaccoud (artropatia que provoca graves deformidades principalmente das articulações das mãos). MUCOCUTÂNEO ✦ Corresponde a 73% das manifestações do início do quadro. ✦ Rash em asa de borboleta (rash malar), lesões discoides, alopecia, úlceras orais e indolores. ✦ Fenômeno de Raynaud. RENAL ✦ Os glomérulos são os principais alvos renais do lúpus. Clinicamente, qualquer uma das síndromes glomerulares conhecidas pode aparecer, incluindo hematúria isolada, cilindrúria, proteinúria isolada, síndrome nefrítica, glomerulonefrite rapidamente progressiva e síndrome nefrótica. A deposição dos imunocomplexos DNA/anti-DNA é a base fisiopatológica da nefrite lúpica! ✦ 50% dos pacientes com LES e alteração renal são assintomáticos, só descobrindo acometimento renal por exame laboratorial. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ✦ A classificação da nefrite é feita por meio de biópsia, sendo que a partir da classe IV a gente tem perda de função renal. Além disso, a classe IV é a mais vista e a mais grave. ✦ OBS: pacientes podem receber transplante desde que tenham no mínimo 6 meses de remissão da doença. PULMONAR ✦ Pleurite e derrame pleural (manifestações pulmonares mais comuns), pneumonite, hipertensão portal e TEP. GASTROINTESTINAL ✦ Muito raro de acontecer, mas pode ter pancreatite lúpica e vasculite mesentérica. CARDÍACO ✦ Pericardite, endocardite de Libbma-Sacks, BAV no LES neonatal. HEMATOLÓGICO ✦ Linfadenomegalia, esplenomegalia e hepatomegalia. ✦ Pancitopenia e trombofilias. ✦ OBS: Se tratando te alterações hematológicas, abre-se um leque de diagnósticos diferenciais para doenças hematológicos (linfoma e leucemia principalmente). IMUNOLÓGICO ✦ Produção de anticorpos. SNC ✦ Distúrbio cognitivo, psicose, convulsão, mielite transversa, AVC, por TEP, neuropática periférica OFTALMO ✦ Ceratoconjutivite sicca. DIAGNÓSTICO EXAME FÍSICO – O QUE PESQUISAR EXAMES LABORATORIAIS ✦ Os principais exames laboratoriais são esses aí. O complemento que a gente pede é usado tanto para diagnóstico quanto para atividade da doença... espera-se que com o tratamento, suba os níveis do complemento. ✦ Nessa investigação de anemia hemolítica, o aparecimento de hemácias esquizócito geralmente afasta a origem de autoimune da anemia, então esquizócito não é característico de doença autoimune. ✦ Doppler para pacientes com edema assimétrico (lembrar que trombose é possível no LES). ✦ OBS: A gente faz a anamnese completa de novo se vier um paciente com um FAN positivo ao seu consultório, até porque diversas doenças, inclusive não reumatológicas podem positivar o FAN. Então se chegou com o FAN positivo aleatoriamente, devemos investigar muito bem na anamnese para ver o que pode ter levado a isso. QUAIS ANTICORPOS SOLICITAR ✦ O anticorpo Anti-Sm é o mais especifico de LES (se eu espero um positivo no LES, é esse). ✦ AntidsDNA (positivo na nefrite) e anti P (positivo na doença central e psicose) tem relação com atividade da doença. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC ✦ Esses são os critérios para o diagnóstico de LES, sendo que a biópsia é a única forma de sozinha estabelecer o diagnóstico de LES. ✦ Existem outros critérios para o diagnóstico com diferentes graus de sensibilidade e especificidade (como mostrado abaixo). Mas o SLICC é o mais utilizado. ✦ Lembrar que os critérios ajudam, mas não excluem e nem confirmam diagnóstico. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ✦ Doenças infecciosas (Ex., endocardite). ✦ Doenças hematológicas linfoproliferativas – linfoma e leucemia. ✦ Doenças autoinflamatórias – Febre familiar do mediterrâneo. ✦ Artrite reumatoide. ✦ Síndrome de Sjogren. ✦ Lúpus cutâneo. ✦ PTT/shu. ✦ Anemia hemolítica autoimune. ✦ SAF primária. --- ATENÇÃO: nem tudo é LUPUS! TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO ✦ Educação sobre a doença. ✦ Apoio psicológico. ✦ Atividade física. ✦ Evitar tabagismo (fator de risco lembra?). ✦ Controle rigoroso de fatores de risco cardiovascular – meta da PA é 130x80. ✦ Dieta rica em cálcio + vitamina D (precisa dessa reposição porque você vai meter corticoide no paciente). ✦ Fotoproteção (uso de protetor solar). ✦ Avaliação conjunta de fertilidade/anticoncepção. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ✦ Lembrar que se o paciente abre uma crise com nefrite, alteração do SNC ou periférico, ou anemia hemolítica refratária, a gente tem que entrar com uma dose de ataque por 3 dias de 1000 mg de corticoide. ✦ Azatioprina é medicamento que pode ser utilizado para tratamento de manutenção. SEGUIMENTO → Exames laboratoriais e consultas frequentes; → Avaliar risco cardiovascular e HAS; → Avaliar OP e efeitos colaterais medicamentosos;→ Risco alto de óbito por infecções (50% - ficar de olho); → Aumento de 10 mg de prednisona aumenta em 10x o risco de infecção (cuidado!). GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC SÍNDROME DO ANTICOPO ANTIGOSFOLÍPIDE ✦ É uma doença multissistêmica autoimune adquirida, associada a tromboses arteriais e venosas recorrentes e/ou morbidade gestacional, com persistência de anticorpos antifosfolipides. ✦ 50% dos pacientes que possuem SAF possuem LES, sendo a SAF algo secundário a LES. ✦ Antifosfolípides estão presentes em 30 – 40% dos pacientes com LES (sem necessariamente fechar o diagnóstico para SAF). ✦ SAF primária é a causa mais comum de trombofilia adquirida e responde por 15-20% das TVPs, 1/3 dos AVCs em < 50 anos e 10-15% das perdas fetais recorrentes. QUADRO CLÍNICO TVP: MANIFESTÇÃO MAIS COMUM ✦ Complica com TEP em 1/3 dos casos. ✦ Pode se associar com trombose venosa renal, oclusão venosa retiniana, Budd chiari, TVC. TROMBOSE ARTERIAL ✦ Cerebrovascular (AVC), pele (úlcera e livedo), cardíaco (IAM), renal (microangiopatia trombótica), TGI (isquemia mesentérica), oftalmo (envolvimento de artéria retiniana). ✦ Esses pacientes apresentam livedo reticular sem presença de alteração da perfusão. MORBIDADE GESTACIONAL ✦ Acontece mais especificamente no 2º trimestre (50% dos casos). ✦ Associação com pré-eclâmpsia, RCIU, síndrome HELLP e parto prematuro. GABRIEL S. MIRANDA – MEDICINA FTC CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL ✦ Distúrbios gerais da coagulação. ✦ Neoplasias. ✦ Síndrome nefrótica. ✦ Peri parto. ✦ Endocardite infecciosa. ✦ Embolia de colesterol. ✦ Fibrilação atrial. ✦ Vasculites. ✦ Doença de Behcet. ✦ Hepatopatias – alargam TTPA. ✦ Antifosfolipides – idosos (3%), sífilis, HIV e infecções. SAF: TRATAMENTO ANTICOAGULAÇÃO ✦ INR 2-3 se evento venoso / 3-4 se evento arterial (o que é almejado). ✦ AVC: AAS 300 mg → se novo evento associar a Marevan e INR 2-3. ✦ Gestação: AAS 100 mg + enoxaparina plena (dosando fator anti XA), SAF OBSTÉTRICA ✦ AAS 100 mg antes da gestação. ✦ AAS 100 mg + enoxaparina profilática na gestação → Manter por 8 semanas no pós parto. ✦ OBS: LES + antifosfolípides + assintomáticos → AAS 100 mg + HCQ 400 mg.
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