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Farmacologia Geral 15-08-18 Absorção I - Absorver significa chegar ao sangue, passar do local onde o medicamento foi administrado para a circulação sanguínea. - Não há absorção quando é feita administração intravenosa, pois a substância está sendo lançada diretamente da circulação sanguínea. - A via intravenosa só é utilizada a níveis de emergência ou quando a substância não permite a administração por outra via. ↳ Isso ocorre porque há grande dificuldade de reverter uma administração intravenosa, já que a absorção é imediata e a distribuição para o organismo é muito rápida. • Capilares Capilares contínuos - Não existe espaço entre as células endoteliais que revestem esse capilar. - Há grande dificuldade de passagem de substância por esses capilares, passando apenas moléculas bem pequenas e apolares. Droga: Parte do vegetal/mineral/animal de onde se extrai o princípio ativo. Fármaco: Substância que tem atividade no organismo seja ela terapêutica ou não. Medicamento: Substância unida com excipientes, inertes que não contribuem para a atividade da substância. A membrana das células possui parte polar e parte apolar, sendo a apolar (lipídica) a mais abundante. Por esse motivo, substâncias apolares têm mais afinidade pela membrana e, portanto, passam mais facilmente por ela. ↳ Se houver transportadores, a passagem da substância não depende do seu tamanho ou polaridade. - Esses capilares estão presentes em regiões muito delicadas do organismo, principalmente na região cerebral. ↳ As meninges formam a barreira hematoencefálica, protegendo-o de substâncias que cheguem à periferia. ↳ Na barreira hematoencefálica há também pericitos, que interagem com as células epiteliais e formam uma camada protetora adicional. Capilares fenestrados - Suas células são ligeiramente espaçadas, um pouco mais permeáveis do que os capilares contínuos. - O espaçamento é chamado fenestra ou poro de passagem. ↳ Pode ocorrer a passagem paracelular, onde as substâncias passam entre as células. ↳ Ainda assim a substância deve ser pequena para passar. - É o tipo de capilar que forma os capilares glomerulares dos rins. ↳ Ex.: A albumina não passa por esses capilares. Encontrando-se albumina na urina é um indicativo de lesão renal. Capilar sinusoide - Capilar mais permissivo, onde praticamente não há comunicação entre as células endoteliais pois o espaço entre elas é grande. - Permite passagem de proteínas e moléculas de grande porte. ↳ Presente principalmente no fígado por conta das substâncias grandes que ele produz. • Translocação molecular Difusão simples - A substância passa pela membrana celular e para isso precisa ser apolar (compatível com a membrana) e de tamanho pequeno. Difusão por aquaporinas - Aquaporinas são poros próprios para água, que passam por ele para entrar e sair da célula. Combinação com transportador - O transporte da substância é feito por uma proteína transportadora. Pinocitose - Processo onde a célula engloba moléculas de interesse formando uma vesícula que é puxada para o citoplasma. Coeficiente de partição óleo/água - É calculado colocando uma substância em um meio de duas fases. - Através de decantação são coletadas fases de uma substância e é feita uma razão entre as quantidades encontradas. ↳ Quanto maior a concentração da substância na parte oleosa, mais apolar ela é e quanto maior a concentração da substância na parte aquosa, mais polar ela é. - A membrana celular possui exterior apolar e interior polar, por isso o ideal é que o coeficiente de partição seja por volta de 0,7 (70% de comportamento apolar e 30% de comportamento polar). ↳ Assim, a molécula se dissolve em regiões polares, mas também é Fármacos são mais comumente absorvidos por difusão simples e combinação com transportador. Fonte: Biologia Net compatível com a membrana, atravessando-a mais facilmente. - Moléculas com CpO/A de 0,7 atingem grandes concentrações extracelulares, e passam facilmente pela membrana alcançando o ambiente intracelular. ↳ A variação de concentração é bem elevada, mostrando que a substância permeou e será facilmente absorvida. - Moléculas com CpO/A acima de 0,7 atravessam com dificuldade a membrana, fazendo com que a variação de concentração seja muito pequena, o que leva a uma baixa absorção. - Algumas substâncias precisam ter essa característica de baixa absorção, pois sua ação é local e não é interessante que ela seja absorvida e se distribua pelo organismo. • pH e ionização Exemplo: Ácido: Carboxila (mais ácido) COOH COO- (menos ácido) Exemplo: - O medicamento Berutec, usado para tratamento da asma é utilizado no nebulizador por via inalatória tópica. Dessa forma, ele não se distribui pelo organismo. - O Salbutamol, em comprimido, também é utilizado no tratamento da asma, porém é administrado por via oral. Por isso, ele é absorvido e vai para a corrente sanguínea, o que pode levar a maiores efeitos adversos. Mais bem absorvido em ambientes mais ácidos, onde se torna mais apolar como a membrana. Perde próton e ganha carga negativa em ambientes básicos Base: Amônio (mais ácido)NH3+ NH2 (menos ácido) - O H+ está ligado às moléculas, tornando essas duas substâncias protonadas (COOH e NH3+). - A diferença é que o ácido protonado não tem carga e a base protonada apresenta carga positiva. - Com o aumento de pH do meio, temos carboxilato e amina. - Em ambientes mais básicos, o ácido ganha carga negativa (COO-) e a base perde a carga positiva (NH2). - Para o ácido, ambientes mais ácidos favorecem a absorção nas células. ↳ Em ambientes mais ácidos um ácido não possui carga, não está ionizado, portanto se torna mais apolar, como a membrana. - Para uma base, ambientes menos ácidos (mais básicos) favorecem sua absorção; ↳ Perde a carga positiva, e se torna não ionizado e mais apolar como a membrana. 1) pKa - Log da constante de acidez - Dependendo do pH do meio, moléculas podem se desassociar. - O pKa é o pH onde uma substância está 50% inteira e 50% dissociada. ↳ Matematicamente, pKa significa – log de Ka, onde a = grau de dissociação. Mais bem absorvido em ambientes mais básicos, onde se torna mais apolar como a membrana. Perde próton e perde a carga positiva, tornando-se neutra em ambientes básicos. Exemplo: Ácido Clorídrico: HCl H+ + Cl- Ácido Acético H3CCOOH H3CCOO- + H+ - Tomando o exemplo do ácido acético: - Em um determinado pH uma substância está 100% inteira (não ionizada). - Com o aumento de pH, a quantidade da substância inteira diminui e a dissociada aumenta. - A partir daí a concentração da substância inteira é menor do que a dissociada. - Ao final, toda a substância estará ionizada. a = 40% a = 100% - Em uma solução aquosa temos o ácido clorídrico 100% dissociado “dividido” em H+ + Cl-. - O ácido acético em solução aquosa está 40% dissociado e 70% não dissociado. - Essa concentração depende do pH do meio. ↳ Quanto maior o pH (mais básico), maior a concentração dissociada e menor a inteira. ↳ Quanto menor o pH (mais ácido), maior a concentração inteira e menor a dissociada. Ka = [H3CCOO-] [H+] [H3CCOOH] ↳ OBS.: Os 100% iniciais e finais são uma extrapolação. Os níveis nunca chegam a 100%, apenas aproximadamente disso. Exemplos: a) O ácido acético é mais absorvido no estômago ou no intestino? Estômago: pH 2,0 Intestino: pH 8,0 Ácido acético (H3CCOOH): pKa 4,3 - Para ser mais bem absorvido, o ácido acético deve estar não ionizado. - Por ser ácido, ele não está ionizado de início e fica ionizado quando dissocia. - A partir de 4,3 a quantidade da substância ionizada excede a de não ionizado. - No estômago, a quantidadede ácido acético não ionizado será maior do que no intestino. - Ele será mais absorvido no estômago. b) O paracetamol é mais absorvido no estômago ou no intestino? Estômago: pH 2,0 Intestino: pH 8,0 Paracetamol (ácido): pKa 8,5 - Para o paracetamol ser mais bem absorvido precisa estar não ionizado. - Por ser ácido, o paracetamol não está ionizado de início e fica ionizado quando dissocia. - Depois de 8,5 a quantidade de paracetamol ionizado excede a de não ionizado. - Ainda que no intestino a concentração ionizada não chegue ainda a 50%, no estômago há maior quantidade de paracetamol não ionizado. - O paracetamol será mais bem absorvido no estômago. H3COOH H3COO- H+ paracetamol não ionizado paracetamol ionizado c) A anilina é mais absorvida no estômago ou no intestino? Estômago: pH 2,0 Intestino: pH 8,0 Anilina (básica): pKa 11,7 - Para ser mais absorvida, a anilina deve estar não ionizada. - A anilina por ser básica inicia ionizada e a concentração não ionizada aumenta ao longo do pH. - Em 11,7 a quantidade não ionizada excede a concentração ionizada. - No pH intestinal, mesmo que ainda haja mais anilina ionizada do que não ionizada, a concentração não ionizada é maior. - A anilina será mais bem absorvida no intestino. d) A anfetamina é mais absorvida no estômago ou no intestino? Estômago: pH 2,0 Intestino: pH 8,0 Anfetamina (base): pKa 3,4 - A anfetamina para ser mais absorvida precisa estar não ionizada. - Por ser uma base, a anfetamina inicia ionizada e muda para não ionizada conforme o aumento do pH. - Em 3,4 a quantidade não ionizada excede a ionizada. - No pH 8 a quantidade não ionizada é maior do que no pH 2 do estômago. - A anfetamina será mais absorvida no intestino. anilina ionizada anilina não ionizada anfetamina ionizada anfetamina não ionizada 2) Partição de pH e retenção de íons - Nos rins, as substâncias são filtradas pelos capilares glomerulares para ser eliminada pela urina. - Nesse momento, para ser eliminada, é interessante que a substância não passe pela membrana, pois as substâncias que passam pelos capilares são reabsorvidas. - Para a eliminação, é necessário que a substância fique retida no filtro e assim vá para a urina. ↳ Quando uma substância que deveria ser eliminada é reabsorvida, ela pode chegar em concentrações tóxicas no organismos após se combinar com uma dose seguinte (no caso de medicamentos). - Substâncias ionizadas ficam retidas pelos capilares glomerulares e são eliminadas pela urina, enquanto as não ionizadas passam pelos capilares e são reabsorvidas. Alteração na eliminação de substâncias - Para melhorar a eliminação de uma substância na urina é possível acidificá-la usando cloreto de amônio ou alcalinizá-la utilizando bicarbonato de sódio. - Essas substâncias não se distribuem pelo organismo, mas se encaminham diretamente para a urina, alterando seu pH. - A acidificação da urina aumenta a excreção de bases. - A alcalinização da urina aumenta a excreção de ácido. Acetazolamida - Em alguns casos é utilizada a acetazolamida, substância que inibe a enzima anidrase carbônio, e dessa forma alcaliniza a urina. - Porém, a acetazolamida, diferente do bicarbonato, age no corpo inteiro alcalinizando todo o organismo, podendo causar alcalose metabólica. ↳ A acetazolamida traz muitos efeitos adversos, diferente do bicarbonato que age diretamente na urina e portanto causa menos efeitos adversos. - A acetazolamida é usada em colírios para o tratamento de glaucoma, onde auxilia na drenagem de líquido para diminuir a pressão intraocular. ↳ Aplicada nos olhos a distribuição sistêmica é muito pequena. Exemplos: e) O ácido acético é facilmente eliminado na urina? Ácido acético: pKa 4,3 Urina: pH 6,0 - Para a eliminação na urina é necessário que a ácido acético esteja no estado ionizado para que não passe pelos capilares glomerulares. - Por ser um ácido, o ácido acético inicia não ionizado e após o pH 4,3 a concentração ionizada é maior do que a concentração não ionizada. - No pH 6, a concentração predominante do ácido acético é ionizada. - O ácido acético é facilmente eliminado na urina. f) O paracetamol é facilmente eliminado na urina? Como melhorar sua eliminação? Paracetamol (ácido): pKa 8,5 Urina: pH 6,0 - Para a eliminação na urina é necessário que a substância esteja na forma ionizada, que fica retida pelos capilares glomerulares. - Por ser um ácido, o paracetamol inicia não ionizado e a partir do pH 8,5, a forma ionizada excede a forma não ionizada. - No pH 6, predomina a forma não ionizada, que passa pelos capilares glomerulares e é reabsorvida. O paracetamol não é facilmente eliminado na urina. g) Baseado no exercício anterior, o que fazer com a urina de um paciente intoxicado com paracetamol. Administração de bicarbonato de sódio a fim de alcalinizar a urina e trazê-la para um pH mais alto, onde há maior concentração do paracetamol ionizado. H3COOH H3COO- H+ paracetamol não ionizado paracetamol ionizado h) A anilina é facilmente eliminada pela urina? Anilina (base): pKa 11,7 Urina: pH 6,0 - Para ser eliminada pela urina, a substância deve estar na forma ionizada, que não passa pelos capilares glomerulares. - Por ser uma base a anilina inicia ionizada e até 11,7 essa é a forma mais abundante. - No pH da urina predomina a forma ionizada. - A anilina é facilmente eliminada na urina. i) A anfetamina é facilmente eliminada pela urina? Anfetamina (base): pKa 3,4 Urina: pH 6,0 - Para ser eliminada na urina uma substância deve estar na forma ionizada, que não passa pelos capilares glomerulares. - Por ser uma base, a anfetamina inicia ionizada até o pH 3,4, quando a forma não ionizada é a mais predominante. - No pH da urina, a forma predominante da anfetamina é a não ionizada, que passa pelos capilares glomerulares. - A anfetamina não é facilmente eliminada pela urina. j) Baseado no exercício anterior, o que fazer com a urina do paciente que está intoxicado por anfetamina. O cloreto de amônio deve ser administrado para que a urina seja acidificada, para diminuir seu pH para um número mais próximo do pKa da anfetamina, onde a quantidade da forma ionizada será maior. anilina ionizada anilina não ionizada anfetamina ionizada anfetamina não ionizada k) Qual substância é mais eliminada na urina? Como aumentar a eliminação. Ácido 1: pKa 3,0 Ácido 2: pKa 10,0 Base: pKa 6,0 Urina: pH 6,0 - Por ser um ácido, o ácido 1 inicia não ionizado e a partir do pH 3,0 tem concentração ionizada que excede a concentração não ionizada, por isso é bem eliminado na urina. - Por ser um ácido, o ácido 2 inicia não ionizado e a partir do pH 10 tem a concentração ionizada que excede a concentração não ionizada, sendo mal eliminado na urina. - Por ser uma base, a substância inicia ionizada e no pH 6,0 tem a concentração não ionizada semelhante à concentração concentração ionizada, sendo medianamente eliminada pela urina. - O ácido 1 é o mais eliminado pela urina. - A eliminação do ácido 2 pode ser melhorada alcalinizando a urina. - A eliminação da base pode ser melhorada acidificando a urina. l) Qual substância é a mais absorvida no estômago (pH = 2,0)? Ácido 1: pKa 2,5 Ácido 2: pKa 6,0 Ácido 3: pKa 9,5 - O ácido 1 inicia no estado não ionizado e a partir do pH 2,5 a concentração ionizada excede a ionizada. No estômago o ácido 1 encontra-se mais não ionizado do que ionizado. O ácido 1 é bem absorvido no estômago. - O ácido 2 inicia no estado não ionizado e a partir do pH 6 a concentração ionizada excede a ionizada. No estômago, o ácido 2 encontra-se mais não ionizado do que ionizado. O ácido é bem absorvido no estômago, melhor do que o ácido1. - O ácido 3 inicia no estado não ionizado e a partir do pH 9,5 a concentração ionizada excede a não ionizada . No estômago, o ácido 3 encontra-se mais não ionizado do que ionizado. O ácido é bem absorvido no estômago, mais do que o ácido e 2. m) Qual substância é a mais absorvida no intestino (pH = 8,0)? Base 1: pKa 2,5 Base 2: pKa 6,0 Base 3: pKa 9,5 - Para ser absorvido no intestino, a substância deve estar na forma não ionizada no pH intestinal (8,0). - A base 1 inicia no estado ionizado e a partir do pH 2,5 a concentração não ionizada excede a ionizada. No intestino, a base 1 apresenta-se em maior quantidade na forma não ionizada. A base 1 é bem absorvida no intestino. - A base 2 inicia no estado ionizado e a partir do pH 6 a concentração não ionizada excede a ionizada. No intestino a base 2 apresenta-se em maior quantidade na forma ionizada. A base 2 é bem absorvida no intestino, mas é menos absorvida do que a base 1, - A base 3 inicia no estado ionizado até 9,5, onde a concentração não ionizada excede a ionizada. No intestino, a base 3 apresenta-se em maior quantidade na forma ionizada. A base 3 não é bem absorvida no intestino.
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