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HIPERTIREOIDISMO Tireotoxicose: síndrome de excesso de hormônios tireoidianos nos tecidos (independente da etiologia – tireoide, exógena ou ectópica) Hipertireoidismo: uma das etiologias da tireotoxicose; produção excessiva dos hormônios tireoidianos, sendo a causa proveniente da tireoide • A causa mais comum de hipertireoidismo é a doença de graves TIREOTOXICOSE DECORRENTE DO HIPERTIREOIDISMO Doença de Graves Síndrome caracterizada por hipertireoidismo, oftalmopatia infiltrativa, dermopatia infiltrativa e as vezes acropaquia. • Bócio e excesso de H.T. são predominantes • Geralmente inclui duas categorias de manifestações clínicas: as específicas da Doença, que são decorrentes da autoimunidade, e as provocadas pelo hipertireoidismo Patogênese: é uma das doenças autoimunes mais frequentes em nosso meio • A produção de anticorpos é dependente das células T e vários epítopos no domínio extracelular do receptor de TSH (TSHR) são reconhecidos como antígenos, induzindo a formação de IgG. • Insultos locais que levam a ativação de linfócitos T: infeccões virais ou traumas locais • Insultos a distância (trazem linfócitos T já ativados para a tireoide) • Caracterizada pela presença de anticorpos contra o receptor de TSH (TRAb; geralmente do tipo positivo, que é um agonista) • O TRAb mimetiza a ação do TSH, ligando-se ao receptor de TSH → ativação da proteína G (Gs-alfa) → sistema adenilciclase → produção de AMP cíclico → estímulo da produção de hormônio tireoidiano → hiperplasia e hipertrofia das células foliculares da tireoide (unidade funcional da célula) • Os efeitos do TRAb não são bloqueados por concentrações elevadas de hormônio tireoidiano (feedback ausente) → estimulação hormonal contínua • Concentrações elevadas de TRAB podem ser observadas em 99% dos pacientes na fase ativa da doença (marcador patognomônico) • Predomínio nas mulheres (10x mais) assim como outras doenças autoimunes • O tabagismo tem sido relacionado ao aparecimento da oftalmopatia de Graves • Iodo deficiências → suplementação com iodo pode precipitar doenças autoimunes, como a doença de Graves e com mais frequência a tireoidite de Hashimoto • Doença de Graves: representa 70 a 80% dos portadores de hipertireoidismo • Incidência anual em mulheres: 0,5/1000 • Maior risco entre 40 e 60 anos Manifestações extratireóideas • A oftalmopatia de Graves evidenciada pela clínica ocorre em 50% dos pacientes, podendo ocorrer antes, ao mesmo tempo ou após a instalação do hipertireoidismo ➢ Manifestação auto imune ➢ Deposição de imunocomplexos antitireoglobulina nos músculos extraoculares. ➢ Fases iniciais da doença existe uma infiltração dos tecidos adiposo, muscular e conjuntivo da órbita por linfócitos T, mastócitos, macrófagos e plasmócitos. ➢ Acredita-se que os linfócitos T ativados dirigidos contra as células foliculares tireoidianas reconheçam e se liguem a antígenos semelhantes presentes nos tecidos orbitários. ➢ Macrófagos e células dendríticas iniciam a resposta imunológica que é propagada pelo recrutamento de células T sensibilizadas. ➢ Liberação de diversos mediadores inflamatórios (IFN gama, TNF, IL1) que estimulam os fibroblastos a produzirem glicosaminoglicanos, que, com sua característica hidrofílica, atraem água para os tecidos adiposo, conjuntivo e muscular resultando em edema, e por conseguinte, fibrose de toda a periórbita, com hipertrofia dos músculos extraoculares, principalmente dos retos medial e inferior e da gordura orbitária, resultando em aumento do volume orbitário, manifestado primariamente como proptose ➢ O tratamento é baseado na fase na qual a doença se encontra (aguda ou crônica). Na fase aguda o tratamento anti-inflamatório de escolha é a corticoterapia por via oral ou endovenosa. Associada à corticoterapia se empregam a radioterapia ➢ Nos casos de urgência em que há risco de perda da visão, por exposição da córnea ou por neuropatia óptica compressiva, o tratamento cirúrgico deve ser indicado na fase inativa da orbitopatia de Graves. Este tratamento é constituído pela descompressão orbitária, tratamento do estrabismo, correção da retração palpebral e blefaroplastia estética, nesta ordem • Dermopatia, ou mixedema pré-tibial: infiltrado de linfócitos T na derme → esses liberam citocinas → essas citocinas estimulam a produção de glicosaminoglicanos e ácido hialurônico (hidrofóbicos → resultando em edema) ➢ Localização principal: área pré-tibial e dorso dos pés (traumas comuns) ➢ Lesão: espessamento da pele com pápulas ou placas elevadas ➢ Geralmente os pacientes com dermopatia também apresentam oftalmopatia e níveis altíssimos de TRAb • Baqueteamento e Osteorpratia dos dedos das mãos e dos pés: 2% dos casos Quadro clínico: a intensidade, a duração do hipertireoidismo e a idade do paciente determinam a apresentação clínica • Está associado a manifestações adrenérgicas: nervosismo, palpitações e tremores de extremidade • 90% dos pacientes com Graves exibem bócio difuso, de consistência firme e elástica de tamanho variado. Vascularização aumentada → frêmito na superfície da tireoide • Ação dos H.T nos órgãos-alvo aumentada (++ metabolismo e ++ termogênese): intolerância ao calor, sudorese e perda de peso • Aumento da fome, mas perda de peso devido o ++ do metabolismo (em 20% dos pacientes observa-se aumento do peso devido a ingesta calórica muito elevada) • Sistema cardiovascular: taquicardia, inotropismo ++, aumento da condução, aumento da demanda por O2 e risco de isquemia ➢ A incidência de arritmia e fibrilação atrial estão diretamente relacionados com valores baixos de TSH (principalmente em idosos) ➢ Hipertireoidismo grave e de longa data: hipertrofia miocárdica, diminuição da resistência periférica por vasodilatação, hipertensão sistólica por aumento da contratilidade e até IC. ➢ Pacientes com arritmia atrial: mais associados a fenômenos tromboembólicos → aumento da mortalidade em idosos e cardiopatas ➢ Pacientes com fibrilação atrial e cardiopatia: anticoagular até a resolução do hipertireoidismo • Sistema respiratório: dispneia aos esforços, diminuição da complacência pulmonar e até comprometimento cardiovascular • Sistema gastrointestinal: hiperdefecação (++ peristaltismo), sendo rara a diarreia ou má absorção. ➢ Fígado: aumento de alanina e aspartato aminotransferase. A disfunção hepática grave e a icterícia ocorrem na vigência de crise tireotóxica. • Sistema genitourinário: hipermenorreia; amenorreia está associada ao hipertireoidismo grave ➢ Os níveis de SHBG estão elevados → elevação dos níveis de testosterona total e estradiol • Sistema hematopoiético: cerca de 20% dos pacientes com tireotoxicose apresentam anemia • Sistema endócrino: o hipertireoidismo pode piorar a intolerância a glicose em pacientes diabéticos insulino-dependentes → aumenta a necessidade de insulina Diagnóstico: é clínico; Bócio + hipertireoidismo + oftalmopatia → doença de Graves • Todos os pacientes apresentam baixa no TSH + níveis elevados de T4 • Medida do TSH é um excelente parâmetro de triagem • Se TSH baixo e T4 normal → dosar T3 (10% dos pacientes apresentam somente elevação de T3 no início da doença) • A detecção de TRAb nos pacientes com Graves chega a 99%, mas sua aplicação diagnóstico é limitada apenas quando há dúvida no diagnóstico etiológico ➢ A medida para TRAb no 3º trimestre tem importância em mulheres grávidas com histórico passado ou presente de Graves → avaliar risco de disfunção tireóidea fetal ou neonatal ➢ O TRAb pode atravessar a barreira placentária, estimulando ou inibindo a tireoide fetal → hiper ou hipo transitório. • O mapeamento da tireoide é feito com Tecnécio ou com Iodo • A USG é pedida quando se há dúvidas quanto a presença de nódulos ➢ Determinaçãodo tamanho e as características nodulares ➢ Na presença de nódulo → mapeamento e captação (determinar se o nódulo é quente (captante de íodo → hipertireoidismo como etiologia do Grave) ou frio (tireotoxicose sem hipertireoidismo) ➢ Na USG quando há Graves: tireoide aumentada difusamente, com parênquima heterogêneo e hipoecoico e com vascularização difusa aumentada • 75% dos pacientes com Graves apresentam anticorpos antitireoperoxidase (anti- TPO) Tratamento: o tratamento dirigido à produção auto-imune de anticorpos estimuladores da tireoide não tem sucesso. Inclusive há relatos de surgimento de hipertireoidismo auto- imune em pacientes submetidos a imunosupressão. A terapia é direcionada à tireoide ou às manifestações da produção excessiva de HT. • Sintomas adrenérgicos típicos da tireotoxicose: repouso + Betabloqueador ➢ Propranolol, 20-80mg de 8/12 horas. ▪ Diminui a conversão de T4 em T3 em doses acima de 80mg/dia ➢ Atenolol: 20 a 100mg 1 vez ao dia ▪ Mais cardiosseletiva (taquicardia melhora, mas os demais sintomas adrenérgicos não diminuem – nervosismo e tremores) ➢ BCC: utilizados para controle da taquicardia ➢ BB devem ser evitados em asmáticos e insuficientes cardíacos • Drogas antitireóideias: tionamidas (metimazol e propiltiouracil [PPU]) são as drogas de escolha para tratamento de Graves no Brasil ➢ Tionamidas: agem inibindo a tireoperoxidase → menor organificação do I- na glândula tireoide → menor produção dos hormônios ▪ O PPU é o único que bloqueia a enzima 5’-desiodase que converte T4 em T3 na periferia ▪ Efeito benéfico em pacientes com crise tireotóxica ➢ Possuem efeitos imunossupressores desejáveis no tratamento de Graves → diminuição dos títulos de TRAb, de moléculas imune importantes (moléculas de adesão, receptores para IL2 e 6), bem como diminui o infiltrado linfocitário tireoidiano ➢ 30-40% dos pacientes tratados apresentam remissão do hipertireoidismo ➢ Aspectos favoráveis ao uso das drogas: sexo feminino, idade (adulto jovem), bócio pequeno, hipertireoidismo leve e valores baixos de TRAb. ➢ Aspectos desfavoráveis: oftalmopatia, bócio volumoso e paciente jovem • Radioiodoterapia: recurso seguro, eficiente e com relação custo-benefício muito boa. ➢ Pode ser utilizada como tratamento inicial ou como definitivo da doença de Graves após recidiva ou falha no tratamento medicamentoso. ➢ Evitar tratamento em crianças < 7 anos, grávidas, lactentes, pacientes com CA da tireoide ou com nódulos tireoidianos de citologia suspeita. ▪ Não é teratogênico, mas pode levar ao hipo congênito ➢ A radiação do I(131) → intenso processo inflamatório local → destruição tecidual → fibrose → diminuição da produção dos HT até o hipo. ▪ AINE são suficientes para obter analgesia ➢ A oftalmopatia de Graves pode exacerbar0se após o radioiodo: especial em fumantes pela maior exposição a antígenos liberados no processo inflamatório ➢ Não é recomendada a administração de drogas antitireoidianas imediatamente antes ou após a radioterapia: pode reduzir sua eficiência terapêutica ▪ Tireotoxicose leve/moderada: podem receber a radioiodoterapia sem necessitar de tratamento prévio com drogas ANTI-TRD ▪ Tireotoxicose grave ou idosos ou portadores de DCV: utilizar a droga anti-TRD, suspendendo 7 dias antes da terapia e voltando com 5 a 7 dias depois. ➢ Objetivo ideal: eutireoidismo ▪ Raramente alcança-se ▪ Geralmente as doses de I (131) utilizadas para minimizar o surgimento de hipo tem resultado em insucesso terapêutico ou hiper subclínico persistente • Cirurgia: indicada na doença de Graves em indivíduos com contraindicações medicamentosas (reações adversas graves) e na impossibilidade de radioiodoterapia (gravidez, coexistência de nódulo tireoidiano de natureza indeterminada, bócio muito volumoso ou com sintomas compressivos, presença de exoftalmopatia grave e pacientes que desejam engravidar nos próximos 6 meses) ➢ Ideal → tireoidectomia total em eutireoidismo, evitando o risco de crise tireotóxica por manipulação cirúrgica. ▪ Indicado para evitar qualquer recidiva; hipotireoidismo é esperado em 100% dos casos pós cirurgia ▪ Anti-TRD + Iodeto de Potássio 7 a 10 dias antes da cirurgia → diminuir a vascularização da glândula, diminuindo o risco de hemorragia. ▪ Preparo do paciente: drogas ANTI-TRD ou propranolol quando não possível ➢ Complicações pós-cirurgicas: Lesão do nervo recorrente laríngeo, hipoparatireoidismo permanente e hematoma ▪ 25% das cirurgias complicam com hipocalcemia transitória → suplementação oral de cálcio Bócio multinodular tóxico Segunda causa mais frequente de hipertireoidismo Fatores etiológicos contribuem para a formação do bócio multinodular autônomo e, eventualmente, tóxico: a heterogeneidade funcional inerente dos nódulos tireóideos, futores de crescimento, agentes bociogênicos e exposição a excesso de iodo • A tireotoxicose pode ser precipitada pelo aumento de oferta de Iodo ao paciente com bócio multinodular ➢ Uso de amiodarona ou suplementação com iodo • Predominância de manifestações cardíacas: fibrilação atrial • Acomete indivíduos mais idosos, com história de bócio de longa duração ➢ Bócio tende a ser volumoso e pode provocar sintomas compressivos • Não tem origem autoimune, logo, não se associa a oftalmopatia ou dermopatia Quadro clínico • Instalação insidiosa dos sintomas e sinais de tíreotoxicose, com predomínio de manifestações cardíacas: taquicardia sinusal, arritmias, ICC • Presença de bócio volumoso ao EF Diagnóstico laboratorial • Os exames laboratoriais revelam nível sérico de TSH suprimido, com níveis normais de T3 e T4, caracterizando hipertireoidismo subclínico ou níveis séricos T3 e T4 aumentados, com hipertireoidismo evidente • USG: avalia tamanho e características dos nódulos ➢ O mapa e a captação devem ser feitos ▪ Se o nódulo for captante (quente – reter íodo): não há indicação de punção pois a chance de malignidade é baixa Tratamento • Tionamidas: promovem o eutireoidismo antes da radioiodoterapia ou cirurgia, que são as modalidades terapêuticas preferenciais • Radioiodoterapia: antes é necessário um pré-tratamento com metimazol para que se chegue a um eutireoidismo ➢ O I(131) é o isótopo de escolha para o tratamento com radioiodoterapia ➢ Geralmente são requeridas doses elevadas de íodo para o sucesso terapêutico, pois o bócio é geralmente volumoso. ➢ Pode ser utilizado o TSH recombinante para estimular a captação de radioiodo e redução da dose fornecida de íodo • Cirurgia: quando o bócio multinodular tem grande volume e provoca sintomas compressivos a tireoidectomia pode ser indicada ➢ A remoção total é preconizada ➢ A parcial pode ser feita quando a modularidade é unilateral Adenoma tóxico 3ª causa de hipertireoidismo a causar tireotoxicose • Sua maior incidência geográfica tem relação com a deficiência de iodo • Atinge mais mulheres que homens; acima de 30 anos • Causados por alterações monoclonais de tireócitos → apresentam aumentam da captação de iodo → mais síntese de H.T. • Podem ser causados por mutações somáticas ativadoras do TSHR ou, mais raramente, mutações somáticas ativadoras da subunidade alfa da proteína G Diagnóstico • De 3 a 4 cm os adenomas tóxicos já são palpáveis e apresentam produção hormonal suficiente para causar manifestações clínicas da tireotoxicose • Sintomas: insidiosos (comparado a doença de Graves) • Predomínio de sintomas cardiovasculares • Não é autoimune: não tem oftalmopatia nem dermopatia • Eixo H.H. conservado: produção autônoma do adenoma tóxico de H.T. especialmente T3, inibe a secreção de TSH ➢ Na presença de TSH baixo/suprimido → cintilografia ➢ Na cintilografia o adenoma surge como área quente → mais captante que o tecido tireoidiano normal Tratamento • Radioiodoterapia ou a cirurgia • As tionamidas levam o paciente ao eutireoidismo,mas com a descontinuidade, o hipertireoidismo retorna. Tumores trofoblásticos A mola hidatiforme e o coriocarcinoma são causas raras de hipertireoidismo. Elas constituem a neoplasia maligna trofoblástica gestacional, produzindo grandes quantidades de gonadotrofina coriônica (hCG). Pela sua semelhança com o TSH e pela alta concentração, o hCG se liga ao TSHR das células tireoidianas, produzindo o hipertireoidismo. A remoção cirúrgica da mola ou a quimioterapia apropriada do coriocarcinoma curam o hipertireoidismo.
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