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AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO TEA: VIAJANDO NO MUNDO AUTISTA AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO TEA: VIAJANDO NO MUNDO AUTISTA .01 1 COMPREENDENDO O TEA E OS PRINCIPAIS SINTOMAS Nos últimos anos temos visto um aumento nas discussões a respeito do autismo, mas infelizmente a maioria das pessoas ainda desconhece esse transtorno e a sua relevância. Você saberia explicar o que é o autismo? Então participe da nossa pesquisa! Basta ler o QR Code ao lado e responder O autismo atualmente é chamado de TEA e significa Transtorno do Espectro Autista. Essa visão do autismo como um espectro é razoavelmente recente, pois apenas em 2013 que o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (classificação de transtornos mentais e critérios Organização Ana Clarisse Alencar Barbosa Marcelo Martins Valéria Becher Trentin Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfi ca e Revisão UNIASSELVI Autoras Luciana Fonfoka Karen Sartori AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO associados elaborado para facilitar o estabelecimento de diagnósticos mais confiáveis), o DSM-5 (em sua quinta edição) definiu o conceito do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ass im, d i s túrb ios que antes eram v is tos como independentes como o Autismo Infanti l Precoce, Autismo Infanti l , Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico, Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação, Síndrome de Asperger, Transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação – TID-SOE passaram a ser analisadas como um transtorno único podendo ser afetados em diferentes graus de comprometimento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002). O termo espectro foi definido por conta da variabilidade dos sintomas, que estão relacionados à gravidade, ao nível de desenvolvimento e à idade. O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é um transtorno do desenvolvimento neurológico, caracterizado por déficit de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos e/ou interesses repetitivos ou restritos. É considerado um dos problemas de saúde mental que mais prejudicam o desenvolvimento infantil. O transtorno do espectro autista caracteriza-se por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social , em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação social, o diagnóstico do transtorno do espectro autista requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Considerando que os sintomas mudam com o desenvolvimento, podendo ser mascarados por mecanismos compensatórios, os critérios diagnósticos podem ser preenchidos com base em informações retrospectivas, embora a apresentação atual deva causar prejuízo significativo (ARAUJO; LOTUFO NETO, 2014, p. 31). O autismo é um transtorno invasivo e sem cura. É possível “transitar” no espectro, principalmente quando a intervenção é precoce assim alterando o prognóstico e suavizando os sintomas. O autismo também se manifesta de forma diferente, podendo aparecer os sintomas logo que a criança nasce ou então levar anos para fechar o diagnóstico, principalmente nos casos leves, onde os pais, médicos não percebem os sintomas como sendo TEA. Segundo o Manual de Orientação do TEA do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento (PSBP, 2019, p. 1) “os sintomas do TEA só são consistentemente identificados entre os 12 e 24 meses de idade”. E no Brasil o diagnóstico do TEA ocorre por volta dos 4 ou 5 anos de idade, o que é lamentável diante da possibilidade de evolução dessas AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO crianças se estimuladas precocemente, já que se sabe que é na primeira infância que a plasticidade neural maior. Plasticidade neural refere-se à capacidade do cérebro de mudar, se adaptar e desenvolver novas conexões sinápticas entre os neurônios (ANDRADE, 2020, s.p.). Alguns estudiosos têm até mesmo sugerido que a intervenção precoce e intensiva tem o potencial de impedir a manifestação completa do TEA, por coincidir com um período do desenvolvimento em que o cérebro é altamente plástico e maleável (DEPARTAMENTO CIENTÍFICO DE PEDIATRIA DO DESENVOLVIMENTO E COMPORTAMENTO, 2019, p. 2). Embora seja um espectro, existem alguns marcadores importantes no primeiro ano de vida que incluem anormalidades no controle motor, atraso no desenvolvimento motor, sensibilidade diminuída a recompensas sociais e dificuldade no controle da atenção. Segundo o Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento (2019, p. 2) são sintomas no 1º ano de vida: - perder habilidades já adquiridas, como balbucio ou gesto dêitico de alcançar, contato ocular ou sorriso social; - não se voltar para sons, ruídos e vozes no ambiente; - não apresentar; - sorriso social; - baixo contato ocular e deficiência no olhar sustentado; - baixa atenção à face humana (preferência por objetos); - demonstrar maior interesse por objetos do que por pessoas; - não seguir objetos e pessoas próximos em movimento;- apresentar pouca ou nenhuma vocalização; - não aceitar o toque; - não responder ao nome; - imitação pobre; - baixa frequência de sorriso e reciprocidade social, bem como restrito; - engajamento social (pouca iniciativa e baixa disponibilidade de resposta); - interesses não usuais, como fixação em estímulos sensório-viso-motores; - incômodo incomum com sons altos; - distúrbio de sono moderado ou grave; - irritabilidade no colo e pouca responsividade no momento da amamentação. Lembrando que são sinais e que nenhuma criança com TEA é igual a outra, pois dentro desse espectro não existe regra, nem uniformidade, cada autista é único. O Departamento Cient í f ico de Pediatr ia do Desenvolvimento e Comportamento (2019) organizou um quadro com os principais sinais de risco para TEA em crianças de 6, 9 e 12 meses (Quadro 1). Quando a habilidade de orientação social não está desenvolvida ou há falhas, a criança tem dificuldades em processar os estímulos sociais cotidianos, como a expressão facial, falar e gesticular (OZONOFF et al., 2008). É importante destacar que estudos mostram que as falhas nas habilidades de orientação social em crianças com TEA são mais evidentes para o processamento de estímulos sociais do que para os estímulos não sociais (DAWSON et al., 2004). AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO QUADRO 1 – SINAIS DE RISCO PARA TEA EM CRIANÇAS DOS 6, 9 E 12 MESES FONTE: Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento (2019) Por isso a dificuldade em interpretar as interações sociais, como os cumprimentos, certas insinuações, sarcasmo, metáforas, podem não identificar o tom de voz e expressões faciais que são capazes de mudar o significado do que alguém está dizendo. Em consequência, muitos interpretam as coisas literalmente ao “pé da letra”, por exemplo, quando dizemos: “Vai chover canivetes”! Cabe aqui alertar que não podemos achar que obviamente uma pessoa autista não vai entender uma conversa que tenha alguma insinuação, sarcasmo... porque alguns aprendem a identificar esses sinais através das terapias. 1.1 TEORIA DA MENTE E AS DIFICULDADES DOS AUTISTAS Você já ouviu falar na Teoria da Mente? Qual sua relação com o TEA? Vamos já compreender! AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Segundo o Guia de Manejo Comportamental de crianças com TEA em Condição de Inclusão Escolar (2014), os estudos mais recentes incluem a dificuldade dos autistas nas habilidades de Teoria da Mente. A Teoriada Mente se refere à capacidade de colocar-se no lugar do outro; fazer suposições sobre o que os outros pensam ou sentem; ser capaz de prever o que os outros dirão, farão, como se comportarão. Pessoas com TEA têm dificuldades em representar assuntos do ponto de vista de outras pessoas e em se colocar no lugar do outro (GAIATO, 2020). Por apresentarem prejuízos relacionados à teoria da mente, essas crianças costumam apresentar dificuldades em: - apontar coisas para outros; - estabelecer contato visual; - seguir o olhar de outro indivíduo quando ele fala sobre algum objeto que estão olhando; - usar gestos de maneira social; - entender emoções em rostos alheios; - usar variação normal de expressões emocionais no próprio rosto; - mostrar interesses em outras crianças; - saber como envolver-se com outras crianças; - manter-se calma quando se sente frustrada; - entender que alguém pode ajudá-la; - entender como os outros se sentem em algumas situações (GUIA DE MANEJO COMPORTAMENTAL DE CRIANÇAS COM TEA, 2014, p. 23). Quando a Teoria da Mente está comprometida, as relações interpessoais e a aprendizagem poderão ser prejudicadas, pois estas interferem na comunicação, compreensão e na interpretação, no entendimento de símbolos e comportamentos sociais, assim como na interpretação de instruções dadas. Você conhece o teste Sally e Anne? Não? Então vamos conhecer agora! O teste Sally e Anne (Figura 1) criado por Baron-Cohen foi um dos primeiros experimentos para compreender a Teoria da Mente no ano de 1985. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO FIGURA 1 – O TESTE SALLY E FONTE: https://www.scielo.br/j/prc/a/YSj4qypT88q7CSqhN5cmH4m/?lang=pt. Acesso em: 21 jun. 2021. O autor e seus colaboradores compararam crianças autistas e com deficiência intelectual com crianças típicas. Atualmente, é aplicada em crianças a partir dos 4 anos para verificar se a criança apresenta alguma dificuldade nesta habilidade social (LACERDA, 2020). Que tal aplicar o teste Sally e Anne com seu (sua) filho(a), alunos(as)...? Não precisa ser autista, pode ser feito também com crianças típicas. O professor Dr. Lucelmo Lacerda ensina a fazer o teste e fala de sua importância. Vamos aprender? O link do vídeo está abaixo da imagem: AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=F7QdIG3JQ6M. Acesso em: 21 jun. 2021. FONTE: https://www.youtube.com/ watch?v=OjZWcVDpKVU. Acesso em: 21 jun. 2021. Para seguir com nossas discussões com relação à habilidade de orientação social, convidamos você para assistir Marcos Petry. Você já ouvir falar em Marcos Petry? Agora que você conhece mais sobre o autismo, nos diga qual das crianças abaixo está dentro do espectro? É um autista de alta funcionalidade que compartilha suas experiências em um canal do YouTube chamado Diário de um Autista. Em uma entrevista com Mayra Gaito, neurocientista ele descreve exatamente o que d iscut imos ac ima sobre a dif iculdade em interpretar os sinais sociais . É uma conversa muito interessante. Vamos assistir? AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO FIGURA 2 – QUAL É A CRIANÇA COM TEA? FONTE: As autoras FIGURA 2 – QUAL É A CRIANÇA COM TEA? Você até pode ter acertado, o menino autista é o que está no meio. O Lucca tem 3 anos e meio, é meu filho e é grau moderado, segundo o DSM-5 é nível 2 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Mas mesmo que tenha acertado, autismo não tem cara, não tem nenhuma característica física que o identifique dentro do espectro. Mais adiante vou falar mais a respeito da minha experiência com o Lucca. [...] O autismo não tem “cara”, forma física, sinais na pele ou no rosto da criança e não aparece em exames de imagem ou de sangue. Esta condição só pode ser identificada por meio de observação do comportamento da criança e por informações coletadas por meio de relatos de seus cuidadores, até que se preencham os critérios necessários para se confirmá-lo ou descartá-lo (ALEXANDRE, 2017, p. 9). 1.2 UM CÉREBRO ABERRANTE Você já parou para pensar como é o cérebro do autista? Vamos adiante! AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Segundo Mundy (2003 apud ROGERS; DAWSON 2014), o autismo afeta especificamente os circuitos cerebrais sociocomunicativos, deixando as demais áreas do cérebro relativamente preservadas. Portanto, é fundamental conhecermos o funcionamento da “rede social” do cérebro para o planejamento de intervenções adequadas, como destacam os autores. Através da Figura 3, pode-se observar as estruturas da rede social do cérebro que estão envolvidas no processamento de informações social, emocional e comportamental. FIGURA 3 – CIRCUITOS DO CÉREBRO SOCIAL FONTE: Rogers e Dawson (2014) “A ativação cerebral ocorre nestas áreas como resposta a estímulos sociais; lesões nestas áreas resultam em alterações nos comportamentos sociais” (ROGERS; DAWSON, 2014, p. 5). As principais áreas cerebrais da “rede sócia” do cérebro incluem as partes do lobo temporal (giro fusiforme e sulco temporal superior), a amígdala e partes do córtex pré-frontal. Conforme Rogers e Dawson (2014), tanto o giro fusiforme que é especializado na percepção e reconhecimento de rostos, como o sulco temporal superior – STS – que é especializado na percepção de movimentos (“movimento biológico”) são fundamentais para a detecção e interpretação das informações sociais, como exemplo, as expressões faciais. A amígdala é responsável pela atribuição de valores emocionais a vários estímulos, tanto positivos, como as recompensas, como negativos, como o medo, o castigo. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Imagine como é que uma criança se comportaria se a todos os estímulos que a rodeassem fossem atribuídos os mesmos valores emocionais ou se a estímulos invulgares fossem atribuídos valores. Em vez de focar a atenção em coisas importantes no ambiente (como, por exemplo, outras pessoas), a atenção da criança poderia vaguear ou ficar presa em estímulos irrelevantes (como um barulho de fundo ou um bocado de cotão no tapete). Esta diminuição da atenção em aspectos-chave do ambiente social é muitas vezes observada em crianças com autismo. A dificuldade em atribuir um valor negativo a determinados estímulos (como o medo) ajuda a explicar porque é que algumas crianças com autismo têm uma aparente falta de consciência do perigo (ROGERS; DAWSON, 2014, p. 5). O cérebro humano está programado para observar, dar atenção e responder a outros rostos. Nesse processo é possível avaliar a fixação do olhar, a atenção conjunta e a percepção da emoção. Quando uma criança olha para outra pessoa, prestando atenção nela e na sua voz e sente uma emoção positiva (alegria, paz...), ativa o giro fusiforme, o STS e a amígdala. E quando a “rede social” não funciona corretamente, as pessoas se tornam insensíveis às necessidades dos outros e voltam-se apenas a seus interesses e necessidades. Essa falha é uma das características encontradas nas pessoas com TEA (ROGERS; DAWSON, 2014). Com relação à fixação do olhar, desde bebê se percebe a sensibilidade ao contato visual e à direção do olhar. Tal sensibilidade pode estar relacionada com as áreas cerebrais fusiformes e mais tarde a ativação do STS. Quanto à atenção conjunta desde os primeiros meses, o bebê demonstra sensibilidade à atenção conjunta marcado por padrões oculares que na fase adulta envolve o STS e a parte dorsal do córtex medial pré-frontal (ROGERS; DAWSON, 2014). A percepção da emoção (tanto visual como auditiva) também já é notada nos bebês desde os 7 meses tanto para emoções positivas, como para negativas, com diferentes reações. As regiões cerebrais que fazem parte desse processo compreendem a amígdala dentro do lobo temporal. Desde que nascem, os bebês são sensíveis aos estímulos sociais e emocionais. Estudossugerem que a “preferência por estímulos sociais e a atenção automática aos mesmos são propriedades básicas do cérebro humano” (ROGERS; DAWSON, 2014, p. 8). O cérebro infantil é muito sensível ao mundo social e rapidamente aprende sobre as pessoas. No caso das crianças autistas, estas são menos sensíveis a estímulos sociais, com dificuldades para iniciar uma interação social. Apresentam hiperfoco em objetos e tendem a brincar da mesma forma, com jogos AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO repetitivos. Preferem brincar com objetos sozinhos do que com pessoas e isso pode estar associado com a ausência de redes neuronais ou sistemas de atenção orientados para os eventos sociais. E o que significa hiperfoco dentro do TEA? Para ajudar a entender o hiperfoco, analise a imagem a seguir (Figura 4). FIGURA 4 – HUMOR AZUL: O LADO ENGRAÇADO DO AUTISMO FONTE: Tramonte (2015) No mínimo, interessante não é verdade? Enquanto a maioria das pessoas iria desenhar todos os objetos que estavam sobre a mesa, o autista se detém naquilo que mais lhe chama atenção, normalmente no centro da imagem. Essa figura acima faz parte do livro "Humor Azul - o lado engraçado do autismo" e foi escrito e ilustrado por Rodrigo Tramonte, de Florianópolis, SC, cartunista, caricaturista e autista com diagnóstico tardio. É formado em Artes Plásticas e Pós-Graduado em Produção Multimídia. E a Figura 5 é a foto da capa do seu livro, ótima sugestão de leitura! AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Sinopse: O livro Humor Azul procura mostrar o lado engraçado e irreverente dos autistas através dos desenhos do cartunista Rodrigo Tramonte (também autista), e das aventuras e desventuras do Zé Azul e de seus companheiros. Os “normais” certamente descobrirão que são muito mais parecidos com os autistas do que pensavam. FIGURA 5 – CAPA DO LIVRO HUMOR AZUL FONTE: TRAMONTE (2015) Vamos voltar ao hiperfoco para não perder o foco! Você também tem algum hiperfoco? O hiperfoco pode ser definido como uma forma intensa de concentração em um mesmo assunto, tópico ou tarefa e é bastante frequente em pessoas autistas, sendo um padrão de comportamento restrito e repetitivo. No entanto, pessoas fora do espectro também podem ter hiperfoco. Vejamos alguns exemplos: músicas, livros, filmes, um personagem, letras, números, figuras geométricas, dinossauros entre outras infinitas possibilidades. O cérebro no autismo é hiperexcitado, então o hiperfoco pode ser um porto-seguro durante situações desconfortáveis ou momentos de ociosidade. Porém, o hiperfoco precisa ser explorado corretamente, ampliando seu repertório de jogo, de interesse, possibilitando novas oportunidades de aprendizagem. Segundo Kerches (2019), o hiperfoco pode inclusive ajudar a desenvolver novas habilidades, pode ainda se tornar a própria profissão da pessoa, aumentando também a autoestima (KERCHES, 2019). A partir do exposto até aqui, podemos compreender o porquê chamamos o cérebro do autista de aberrante (no título desse capítulo). O cérebro das pessoas com TEA é muito excitado, não tem um mecanismo de filtragem e tudo acontece de uma vez, desorganizando os pensamentos e desviando a atenção. Se você quiser saber mais sobre o assunto, não pode perder o Psiquiatra Infantil, Dr. Caio Abujadi, explicando como funciona o cérebro dos autistas, suas especificidades e particularidades com uma linguagem muito clara e objetiva. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Vamos assistir o Dr. Caio?! Segue o link do YouTube: FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=t7i5LzSuCCY&t=87s. Acesso em: 21 jun. 2021. 1.2.1 O tamanho da Cabeça maior que a média Muitas bebês com TEA apresentam um padrão irregular no crescimento da cabeça. Conforme Rogers e Dawson (2014), as crianças que desenvolvem autismo mais tarde têm a cabeça com um tamanho normal ao nascimento, porém, por volta dos 4 meses de idade ocorre um crescimento acelerado da cabeça. Segundo o estudo publicado pelo American Journal of Medical Genetics, no ano de 2000 cerca de 23% dos participantes com autismo apresentavam um tamanho de cabeça maior que o normal (GALET, 2020). Uma cabeça grande reflete um cérebro também grande. O crescimento do cérebro ocorre com a adição de massa cinzenta (os neurônios), de massa branca (que envolve a camada de mielina que contorna e isola os neurônios) e de células gliais, que fazem parte da estrutura celular subjacente ao cérebro (ROGERS; DAWSON, 2014, p. 10). Um estudo de 2018 realizado pelo Dr. Alysson R. Muotri, professor dos Departamentos de Pediatria e Medicina Celular e Molecular da Universidade da Califórnia, em San Diego, também apresentou informações a respeito do tamanho do cérebro dos autistas, afirmando que 20 a 30% dos autistas possuem o volume cerebral maior que a média. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO É importante ter em mente que um tamanho da cabeça maior que a média ou um surto de crescimento na circunferência da cabeça não é um sintoma de autismo. Existe uma associação entre o tamanho da cabeça e o TEA, mas isso não significa que todos com uma cabeça maior estão no espectro. Também não significa que todo mundo com autismo tenha uma cabeça maior (GALET, 2020, p. 43). Em outro estudo de 2007, publicado no Journal of Child Neurology, também descobriram que a circunferência da cabeça de crianças com TEA aumentou mais rapidamente entre sete e dez meses do que seus pares neurotípicos. A taxa de crescimento da cabeça também superou o crescimento geral da criança neste período (GALET, 2020). Vamos conhecer esse estudo? Nosso cérebro é fantástico! O link é esse abaixo: FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=9Ou2APMeKr0. Acesso em: 21 jun. 2021. E você também sabia que a circunferência da cabeça do bebê é medida a cada consulta com o pediatra no primeiro ano de vida? Quem já é mãe sabe dessa informação. Quando o bebê nasce, ele já ganha no hospital a Caderneta de Saúde da Criança que é um documento importante para acompanhar a saúde, o crescimento e o desenvolvimento da criança, do nascimento até os 9 anos. Entre outros acompanhamentos e controle, o pediatra examina a forma da cabeça, mede o perímetro cefálico e registra o seu valor no Gráfico de Perímetro Cefálico encontrado na caderneta para avaliar se o crescimento está normal. Quer conhecer a Caderneta de Saúde? Ela traz muitas informações importantes para a criança e seus pais/responsáveis. Basta ler o QR Code ao lado: AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO 1.3 PREVALÊNCIA DO TEA Inicialmente precisamos entender: o que é a prevalência? Prevalência é um termo científico de estimar o número de pessoas em uma população que apresenta uma doença em relação a todas as pessoas da população. A prevalência é normalmente mostrada como uma porcentagem (por exemplo, 1%) ou uma proporção (por exemplo, 1 em 100) (CDC, 2021). E quando pensamos em prevalência, precisamos buscar fontes confiáveis como o CDC. E por que dessa escolha? O CDC é Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (Centers for Disease Control and Prevention), uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que tem sede em Geórgia, e tem o objetivo de proteger o país das ameaças à saúde e à segurança, tanto no exterior quanto em território americano, conduzindo pesquisas e compartilhando informações. O CDC vem rastreando há mais de duas décadas a quantidade e as características de crianças com TEA no território americano. “Mesmo que não seja brasileiro, o Brasil ainda usa os estudos do CDC como base, por não ter pesquisas concretas sobre a prevalência no país” (FUNDAÇÃO JOSÉ LUIZ EGYDIO SETÚBAL, 2021). Nesse contexto, buscando o último relatório dessa rede de monitoramentodo CDC percebe-se que o diagnóstico de autismo continua aumentando, com abrangência em todas as classes, raças e etnias. Neste relatório publicado em 2020, cerca de 1 em 54 crianças foi identificada com TEA (Gráfico 1). O aumento é de 10% em relação ao número anterior, de 2014, que era de 1 para 59 (CDC, 2021). Você deve estar se perguntando: quantos autistas deve ter no Brasil? Infelizmente o nosso país como tantos outros não tem números atuais de prevalência. O único estudo estatístico brasileiro de prevalência de autismo foi uma pesquisa-piloto de 2011 (com dados coletados em 2007), realizada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie na cidade de Atibaia (SP), sendo que a pesquisa foi feita apenas em um bairro de 20 mil habitantes da cidade com resultado de 27,2 por 10.000 (ou 1 criança com autismo a cada 367) (TISMOO, 2021). AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO FONTE: Paiva Junior (2021) GRÁFICO 1 – PREVALÊNCIA DE AUTISMO NOS EUA (2020) E no mundo? A ONU afirma haver cerca de 70 milhões de autistas no mundo - sendo mais comum em meninos do que em meninas. No Brasil, embora não tenha estatísticas oficiais, estima-se que 2 milhões de pessoas estejam no espectro autista (STOCK, 2018). Para conhecer melhor sobre a prevalência de autistas no mundo, vejamos o mapa feito pela Spectrum News. No mapa também é possível ver o Brasil. Só ler o QR Code a seguir: FONTE: https://tismoo.us/ciencia/quantos-autistas-ha-no-mundo/. Acesso em: 21 jun. 2021. FIGURA 6 – MAPA MUNDIAL DA PREVALÊNCIA DE AUTISMO AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Ao clicar num ponto do mapa, os dados básicos do estudo são mostrados, como prevalência, ano, país e região, além de um link para o estudo publicado, para quem quiser ler a pesquisa toda e aprofundar-se (TISMOO, 2021). Então, os casos de autismo estão aumentando? Possivelmente não, mas o número de diagnóstico sim. Conforme a psiquiatra infantil Dra. Gledis Lisiane Motta (2020), o TEA é um transtorno gené tico altamente herdá vel e doenças genéticas nã o aumentam a prevalê ncia tã o rapidamente. Esse aumento pode ter relação ao fato de muitas crianças serem diagnosticadas erroneamente, ficando dentro de outros transtornos. Outro aspecto tem relação com as mudanças na definição clínica de TEA, que pode incluir mais pessoas do que as definições anteriores, pois atualmente as crianças são diagnosticadas no Transtorno do Espectro Autista, que é mais amplo envolvendo vários distúrbios e atrasos do desenvolvimento. Ex is te mais conhecimento sobre esse transtorno favorecendo aos médicos a fazerem um diagnóstico precoce e assim identif icar pessoas com TEA que não entraram nas estatísticas. Também, houve a ampliação dos critérios diagnósticos e do desenvolvimento de instrumentos de rastreamento e diagnóstico com propriedades psicométricas mais adequadas (PSBP, 2019). Importante destacar com relação à prevalência é que o autismo não discrimina, ele acontece em todos os grupos raciais e étnicos. No entanto, o diagnóstico e o tratamento acontecem mais nas famílias com um melhor poder aquisitivo. Em se tratando de diagnóstico precoce, que possibilita um melhor prognóstico de evolução dentro do espectro, a situação é mais crítica ainda, porque além dos pais não terem condições financeiras, muitos médicos ainda não se sentem seguros para fechar o diagnóstico antes dos 3 anos de idade e assim, essas pessoas ficam de fora das estatísticas (PAIVA JUNIOR, 2021). AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Também é preciso ressaltar que na mesma pesquisa divulgada, em 2020, pelo CTC, a proporção de autismo em meninos não é igual a de meninas. Existem mais meninos conforme as estatísticas, numa proporção de 4 meninos para cada menina (Figura 7) ou seja, há quatro meninos autistas para cada menina autista. Em 2007, a ONU declarou o dia 2 de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo e a cor escolhida foi azul, justamente por haver mais meninos autistas do que meninas. E o símbolo é um quebra-cabeça representando sua diversidade e complexidade. O dia 18 de junho é o Dia do Orgulho Autista e tem como símbolo o infinito nas cores do espectro do arco-íris, considerando o autismo como identidade, ou seja, uma característica do indivíduo. FONTE: As autoras FIGURA 7 – PROPORÇÃO DE MENINOS AUTISTAS EM RELAÇÃO ÀS MENINAS (4:1) E por que existem mais meninos autistas do que meninas? AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Existem muitas teorias, mas a mais recente acredita que diagnosticar autismo em meninos seja mais fácil. Isso pode ter relação com a própria forma como o autismo é tradicionalmente definido, bem como os instrumentos de diagnóstico padronizados e a metodologia de pesquisa que dificultam o diagnóstico em meninas/mulheres. A maior parte das pesquisas usa resultados diagnósticos já existentes, onde o número de pessoas do sexo masculino é bem maior e não tem grupos controle comparativos de ambos os sexos (FUNDAÇÃO JOSÉ LUIZ EGYDIO SETÚBAL, 2021). 1.4 TEA EM MENINAS E A SUTILEZA DOS SINAIS O TEA em meninas costuma apresentar dois quadros: um mais grave, que acaba sendo identificado mais facilmente, ainda na infância uma vez que já se percebem sintomas mais expressivas, como, por exemplo, as estereotipias e atraso de linguagem e um quadro mais leve, com sintomas mais sutis, passando completamente despercebidas pela família ou acabam sendo diagnosticadas erroneamente como outros problemas de saúde mental, como o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), entre outros (INSTITUTO NEUROSABER, 2020). Conforme o Instituto Neurosaber (2020), os sintomas do autismo em meninas muitas vezes passam despercebidos, vistos como naturais. Dentre eles, pode-se apontar alguns aspectos: – São retraídas. – Tendem a ser mais passivas nas relações sociais. – Tendem a ser mais comportadas. – Tendem a ser mais deprimidas. – Procuram não se envolver tanto em situações que vivenciam. – Tendem a ser aficionadas em temas específicos (mas que não estão ligados à tecnologia ou ao ramo das exatas). – Tendem a se esforçar mais para se adequarem aos padrões. – Tendem a ser menos isoladas que os meninos. Estudo feito no Reino Unido indica que 23% das mulheres hospital izadas com quadro de anorexia se encaixavam nos critérios diagnósticos para o Transtorno do Espectro Autista. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Os sintomas do autismo em meninas são muito semelhantes aos meninos. Porém, as meninas/mulheres apresentam uma maior capacidade de camuflar ou esconder seus sintomas, por exemplo: elas se esforçam para se envolverem em jogos imaginativos e “fingirem” desde pequenas; apresentam mais palavras do vocabulário relacionadas a emoções; possuem um maior desejo de interação social, onde imitam os outros; têm uma tendência a esconderem as dificuldades, com estratégias de enfrentamentos – mantendo pelo menos 1 ou 2 amigos próximos; possuem interesses restritos associados a pessoas (famosas) ou animais (GREEN et al., 2019). Camuflagem é a diferença entre como as pessoas parecem em contextos sociais e o que está acontecendo com elas no interior. Se, por exemplo, alguém tem traços de autismo intenso, mas tende a não demonstrá-los em seu comportamento, a disparidade significa que ela está se camuflando, diz Meng-Chuan Lai, professor assistente de psiquiatria da Universidade de Toronto, no Canadá, que trabalhou no estudo (RUSSO, 2018). Nesse contexto então, a camuflagem é qualquer esforço para mascarar uma característica do autismo, que pode ser para disfarçar comportamentos repetitivos e estereotipados, falar sobre interesses restritos com hiperfoco na busca pelo comportamento dito neurotípico (que não exibetraços de autismo ou de outra condição neurológica atípica). Como já vimos, entre as crianças, o autismo é mais comum em meninos do que em meninas. No entanto, um estudo no ano de 2013 (Banco de dados altamente respeitado do National Institutes of Health) com quase 2.500 crianças autistas sugere que muitas vezes não é diagnosticado em meninas. Isso poderia explicar porque o autismo parece ser mais comum em meninos (ALMEIDA, 2020). Embora tanto homens quanto mulheres autistas possam camuflar seus sintomas, as mulheres são mais eficientes, reforçando o porquê de elas terem menos probabilidade de serem diagnosticadas como autistas. As mulheres ainda nos dias de hoje continuam sendo criadas para serem boas mães e esposas. Esse é um padrão socialmente construído em uma cultura machista onde as mulheres são exigidas desde pequenas a serem mais sociáveis, complacentes, a se esforçarem para se adaptar e agradar. Já os homens normalmente são criados sem essa exigência, são mais livres e o incentivo é para fazerem o que quiserem. Por terem essa liberdade, eles exibem mais livremente seus traços autistas enquanto as meninas tendem a suprimi-los, explica Abby Sesterka, pesquisadora do AutismMQ, um grupo que investiga a condição na Macquarie University, em Sydney, na Austrália (WENZEL; LISBOA, 2021). AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO A sutileza dos sinais nas meninas dificulta o diagnóstico precoce, escapando da atenção dos médicos. “Os meninos com autismo podem ser hiperativos ou parecerem comportar-se mal, as meninas geralmente parecem ansiosas ou deprimidas” (RUSSO, 2018, s.p.). Também é importante ressaltar que a camuflagem é mais comum entre mulheres com alto quociente de inteligência (QI) e com sintomas menos graves. Percebe-se que as meninas/mulheres acabam sendo diagnosticadas significativamente mais tarde do que os meninos/homens, o que traz prejuízos nas suas relações sociais, como estudo, trabalho, namoro. Ter a consciência de que é diferente perante os padrões da sociedade cria nas meninas/ mulheres autistas o sentimento de que não “se encaixam” nesse mundo, gerando frustração, baixa autoestima, depressão e demais problemas de saúde mental. Há uma crescente preocupação de que autistas do sexo feminino não estão sendo diagnosticadas ou que isso esteja acontecendo muito tarde e ainda que tenham recebido diagnósticos equivocados anteriores alertam as pesquisadoras da Universidade de Londres e do King’s College (WENZEL; LISBOA, 2021). Cabe ressaltar que o protocolo Autism Diagnostic Observation Schedule - ADOS, que significa Protocolo de Observação para Diagnóstico de Autismo pode deixar de fora muitas meninas com autismo porque foram elaborados para identificar o TEA em meninos, diz a pesquisadora Allison Ratto (2018), professora assistente do Centro de Distúrbios do Espectro do Autismo do Sistema Nacional de Saúde Infantil em Washington, DC (RUSSO, 2018). Vejamos um exemplo: Na triagem de testes para interesses restritos, os médicos podem não reconhecer os interesses restritos que as meninas com autismo têm. Conforme Russo (2018), sabe-se que a maioria dos meninos com autismo têm hiperfoco por dinossauros, carros, rodas (girar rodinhas), figuras geométricas, letras, números. . . já as meninas autistas gostam muito de animais, bonecas, celebridades. . . ou seja, interesses muito comuns a seus pares típicos, mais socialmente aceitáveis e nessa sutiliza de sinais acabam passando despercebidas enquanto TEA. “Podemos precisar repensar nossas medidas”, afirma Ratto (apud RUSSO, 2018, s.p.), “e talvez usá-las em combinação com outras medidas”. O autor ainda reforça que caracterizar a camuflagem com precisão é prioridade e que deve ser feita antes mesmo de criar melhores ferramentas de triagem. O diagnóstico precoce de uma garota com TEA contempla, além da investigação de seu comportamento, a análise minuciosa de quadros de ansiedade e estresse no contexto das interações sociais, por exemplo. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Já que estamos falando do TEA em meninas, você lembra do discurso emocionante da ativista Greta Thunberg na abertura do Encontro de Cúpula sobre Ação Climática? Greta é uma jovem sueca, de 16 anos e é autista. Foi eleita personalidade do ano de 2019 pela Time. É inspiradora e faz nós revermos nosso papel enquanto cidadãos responsáveis e comprometidos com as questões ambientais. E também a refletir sobre os desafios e o potencial que têm os autistas. Greta tem facilidade para falar em público, mas será que também consegue iniciar e dar sequência a uma conversa? “Bater um papo” com um colega da turma? Porque em um discurso não há essa exigência, que justamente é o “cerne” do autismo. Vamos ver/rever o discurso da ativista Greta Thunberg? Basta ler o QR Code a seguir: FONTE: https://news.un.org/pt/story/2019/12/1697531. Acesso em: 21 jun. 2021 FIGURA 8 – GRETA THUNBERG NO ENCONTRO DE CÚPULA 1.4.1 O Autocusto da Camufl agem A maioria das pessoas faz algum tipo de ajuste para se adaptar às normas sociais, porém, a camuflagem exige um esforço intenso, constante e elaborado. Conforme Russo (2018), a capacidade de camuflar pode auxiliar mulheres autistas a fazer e manter seus relacionamentos e trabalho, mas esses ganhos geralmente têm um alto custo, incluindo exaustão física e extrema ansiedade. Sentem-se muito esgotadas, tanto emocionalmente como fisicamente. Russo (2018) ressalta que algumas pessoas camuflam seus sinais de autista, representando tantos papéis ao longo da vida que acabam perdendo de vista sua verdadeira identidade, já não sabendo mais quem são. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Cabe aqui uma ponderação com relação ao diagnóstico precoce, pois a maioria das mulheres diagnosticadas tardiamente descrevem que a falta de um diagnóstico desde criança prejudicou muito suas relações interpessoais, aceitação e inclusão . Poderiam ter sido melhor compreendidas por sua família, na escola e no trabalho. E também poderiam ter recebido terapias, tratamento de acordo com seu perfil neuroatípico. Lawrence diz que se ela tivesse sido diagnosticada quando criança, sua mãe poderia tê-la entendido melhor. Ela também podia ter evitado uma longa história de depressão e automutilação. “Um dos principais motivos de eu ter seguido esse caminho foi porque eu sabia que era diferente, mas não sabia por quê - fui maltratada na escola”, diz ela (RUSSO, 2018, s.p.). Nesse contexto, também é importante ressaltar que a “ingenuidade social” de muitas mulheres autistas com o desejo de serem aceitas acabam sendo expostas a um maior risco de relacionamentos abusivos, tanto físico como sexual. As mulheres autistas estão em maior risco quanto à saúde física e mental. Portanto, cuidem das nossas meninas! E para você entender mais o mundo feminino autista, seguem duas sugestões de leituras: Passarinha e A Diferença Invisível (Figuras 9 e 10), com suas respectivas sinopses. FONTE: As autoras FIGURA 9 – SINOPSE DO LIVRO: PASSARINHA FIGURA 10 – SINOPSE DO LIVRO: A DIFERENÇA INVISÍVEL AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO 1.5 DE REPENTE ELE PAROU DE FALAR: ENTENDA O AUTISMO REGRESSIVO Você já ouviu falar em Autismo Regressivo? Quer conhecer mais sobre a poda neural? Esse mecanismo é fundamental para entender sobre o autismo regressivo. A neurocientista Mayra Gaiato contribui com nossa explicação. Vamos lá?! Um terço dos casos de autismo é chamado de Autismo Regressivo e está relacionado em grande parte a uma prévia programação genética que gera consequências no momento em que acontece a poda neural na primeira infância, por volta dos 18 meses (MATTOS, 2021). Até essa idade as crianças apresentam um desenvolvimento neuropsicomotor e social aparentemente normal, mas depois começam a regredir, a perder as habilidades já adquiridas.A poda neural reestrutura o cérebro e nos autistas a poda acontece de forma diferente, ineficiente alterando alguns circuitos cerebrais. Em razão disso, as crianças autistas podem regredir antes dos três anos. Essa poda neural é ineficiente porque é menor do que deveria ser e cancela sinapses que eram necessárias, deixando o cérebro com mais sinapses do que um cérebro neurotípico (isso é, sem TEA). E o resultado é que o que deveria ser comunicação vira ruído (GAIATO, 2021). Importante saber que ao longo do nosso desenvolvimento neurológico vão acontecendo outras podas. Mas a poda do autismo só pode acontecer por volta dos dois anos, pois é uma poda nas áreas de linguagem, social, de interesses restritos. Conforme a psicóloga Mayra Gaiato (2021), especializada em Autismo Infantil, o critério para ser autismo é que os sintomas comecem antes dos 3 anos de idade, é assim que está definido no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Temos outras podas ao longo da vida, mas que não influenciam em nada no comportamento autístico. Então a gente não poder ter autismo depois, não pode acontecer poda de autismo depois. Isso não existe! Se acontecer, será outro transtorno (GAIATO, 2021, s.p.). Com relação ao autismo regressivo, os tipos de perdas podem ocorrer da seguinte forma: apenas na área da fala; apenas na área de habilidades sociais, tais como imitação, gestos, apontar, sorriso recíproco, contato visual, jogo, imaginação, ou em ambas as áreas juntas (OZONONOFF et al., 2005). As perdas em ambas as áreas é o tipo de regressão mais frequentemente encontrado, sendo que não necessariamente precisam acontecer juntas (LORD et al., 2003). Os autores ainda ressaltam que a perda da fala é mais identificada pelos pais, causando preocupação, embora o comprometimento das interações sociais seja mais global e comum de acontecer. Para corroborar com os estudos sobre o cérebro do autista, o neurocientista e professor do Departamento de Psicologia Experimental do IPUSP, Marcelo Fernandes da Costa (2019) ressalta que a variedade de sintomas no TEA pode ter relação com a forma como o cérebro se desenvolve e com os neurônios e conexões a mais que atrapalham o funcionamento sistema nervoso central (Figura 11). FONTE: https://www.napolipost.com/autismo-scuola-inclusiva/. Acesso em: 22 jun. 2021. FIGURA 11 – DIFERENÇA DE CÉREBRO ENTRE UMA CRIANÇA TÍPICA E UM AUTISTA Diante de tudo o que já vimos até aqui, não resta dúvida do motivo da escolha do nome “espectro” diante de tanta variabilidade e particularidade de cada caso. 1.6 POSSÍVEIS ETIOLOGIAS DO TEA A causa específica do TEA permanece elusiva, porém, existem fortes evidências que levam à uma combinação de fatores genéticos e fatores ambientais. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Os pais de uma criança com transtornos do espectro autista, por exemplo, têm risco de 50 a 100 vezes mais de ter outro filho dentro do espectro. Estudos comparando gêmeos idênticos e gêmeos fraternos mostraram que a taxa de concordância do TEA é significativamente maior entre os idênticos do que entre os fraternos, indicando assim um forte componente genético na etiologia do autismo. Importante ressaltar que há fortes evidências de que vacinas não causam autismo, mesmo porque o estudo que apontou essa associação foi refutado porque seu autor falsificou os dados. Apesar de claramente importantes , os fatores genét icos não atuam sozinhos, sendo sua ação influenciada ou catalisada por fatores de risco ambiental, incluindo, entre outros, a idade avançada dos pais no momento da concepção, a negligência extrema dos cuidados da criança, a exposição a certas medicações durante o período pré-natal, o nascimento prematuro e baixo peso ao nascer (DEPARTAMENTO CIENTÍFICO DE PEDIATRIA DO DESENVOLVIMENTO E COMPORTAMENTO, 2019, p. 3). Segundo estudos de Lord et al. (2020) apresentado na Revista Médica Nature Reviews Disease Primers, as possíveis etiologias do TEA são: bebês prematuros, diabete gestacional, ter muitos filhos, mães maduras, pais maduros, já ter filho com TEA, obesidade materna ou ganhar muito peso na gestação (Gráfico 1). FONTE: Lord et al. (2020) GRÁFICO 1 – POSSÍVEIS ETIOLOGIAS DO TEA PUBLICADAS NA REVISTA MÉDICA NATURE Nesse estudo de Lord et al. (2020), também aparece que o ácido fólico protege, contrariando algumas hipóteses levantadas anteriormente. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Para Taylor et al. (2021), o risco do autismo é muito mais genético e em torno de 97% com herdabilidade de 81%, conferindo apenas 1% a 3% aos fatores ambientais. 1.7 DIAGNÓSTICO E NEUROPLASTICIDADE: A IMPORTÂNCIA DA PRECOCIDADE Desde que o autismo foi descrito nos anos 1940, o diagnóstico continua clínico. Embora o indivíduo possa passar por uma avaliação de um psicólogo ou terapeuta, apenas médicos podem fechar o diagnóstico do TEA. Um neurologista ou psiquiatra é quem são os médicos habilitados para fazer o diagnóstico. Eles examinam a criança e avaliam sua história de vida à procura de indícios de atraso no desenvolvimento da capacidade de interagir socialmente, de se comunicar e de atrasos no desenvolvimento, de acordo com o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, da Associação Psiquiátrica Americana, e na Classificação Internacional de Doenças, da OMS (GAIATO, 2021, s.p.). Os sintomas que caracterizam o TEA se manifestam de maneira heterogênea com diferentes níveis de gravidade. Podemos encontrar, por exemplo, autistas verbais e outros que não falam; autistas que não fazem contato social e outros que sim, embora a intensidade possa ser menor; também existe dentro do espectro pessoas com deficiência intelectual e outras com quociente intelectual dentro da variação média normal e até acima (BEJEROT, 2007). Assim, como já dito no início do nosso curso: Não existe nenhum autista igual ao outro. Cada autista é único. O diagnóstico de TEA pode ser demorado e complexo, principalmente no nível 1 (leve). Não há exames específicos para sua identificação. Porém, durante a investigação para diagnóstico, alguns exames (de audição, de visão, de imagem e de mapeamento genético) poderão ser solicitados para descartar outros problemas ou doenças. Para um diagnóstico seguro de TEA, o médico deverá seguir critérios definidos internacionalmente, com avaliação completa e uso de escalas validadas. Existem alguns testes disponíveis para verificar os sinais de risco para autismo, mas nunca substitui uma consulta com um médico especializado. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Um dos testes usado pelos especialistas é o M-CHAT e M-CHAT-R (sigla de Modified Checklist for Autism in Toddlers que, em português, é Lista de Verificação Modificada para Autismo em Crianças) que está disponível na internet (PSBP, 2019). Que tal dar uma espiadinha no teste M-CHAT? Basta ler o QR Code ao lado: Lembrando que as informações sobre o diagnóstico do TEA não dispensam a consulta a um médico especialista para o diagnóstico. Apesar do aumento das discussões em torno do TEA e do número de diagnósticos, o que observamos é que o diagnóstico precoce ainda está aquém do desejável. Existe ainda uma demora no fechamento do diagnóstico e, com isso, um atraso no início do tratamento, o que é lamentável, uma vez que as crianças acabam perdendo uma janela de oportunidade de evolução que não terão igual na fase adulta (GAIATO, 2020). A psiquiatra infantil Lisiane Motta (2020) aborda com o psicólogo Thiago Lopes as dificuldades para fechar o diagnóstico de autismo. IMPERDÍVEL! Só entrar no link ao lado: FONTE: https://www.youtube.com/ watch?v=JJGVNz334SE. Acesso em: 21 jun. 2021. Desde que o bebê nasce, o médico pediatra é o profissional da saúde que acompanha o desenvolvimento da criança.Segundo estudos de Flores e Smeha (2013), infelizmente alguns pediatras e neuropediatras não estão muito preparados para identificar os sinais de risco do TEA. Muitos desses médicos ainda permanecem com aquela visão do autista clássico. Muitos pediatras ainda não conseguem perceber os sinais de alerta quando se trata de autismo. Às vezes, os pais relatam algum comportamento que consideram estranho na criança numa determinada faixa etária, como, por exemplo, o atraso para falar, se comunicar. Mas daí o médico diz: ‘Espera mais um pouco, é normal’. E com isso o diagnóstico demora e só é feito quando a criança tem cerca de 4 ou 5 anos de idade (GIKOVATE, 2021, s.p.). AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO É necessário mais estudo e ofertas de congressos e simpósios para os médicos discutirem sobre o TEA. Conforme Zorzetto (2011), o diagnóstico de autismo só acontece por volta dos 5 ou 6 anos de idade da criança, fase que a plasticidade neural já não é tão eficiente. “Precisamos melhorar a capacitação dos pediatras para que identifiquem os sinais o mais cedo possível” (ZORZETTO, 2011, p. 20). Atente para a constatação preocupante de Flores e Smeha (2013, p. 153): “O mais intrigante nesse relato é que os pais ou outras pessoas percebem que algo não está bem com a criança, mas o médico não. Inclusive, nada é feito até que apareçam maiores déficits, como atraso na fala ou falta de interação social. Decerto isso acontece devido à credibilidade dos pais quanto ao saber médico, que dificulta suas percepções. Entretanto, isso é algo que foi construído historicamente, o que faz com que os pais se calem”. A partir do exposto, fica evidente que é preciso muita atenção quando verificamos atrasos no desenvolvimento de uma criança. Essa fala de que “cada criança tem seu tempo” pode ser muito perigosa, porque existem os marcos do desenvolvimento e se esse atraso está muito longe dos parâmetros, precisa de uma investigação maior, não de uma espera. A crença de familiares e profissionais de saúde de que “vamos aguardar o tempo da criança”, mesmo quando ela apresenta atrasos evidentes, é um dos fatores que interferem diretamente na detecção precoce (PSBP, 2019, p. 4). Se o atraso foi identificado, as intervenções já devem ser iniciadas, mesmo sem diagnóstico, para não perdermos a neuroplasticidade tão importante nessa fase da vida de uma criança. Você já ouviu falar em neuroplasticidade, também chamada de plasticidade cerebral/neural/neuronal? Segundo Robert Lent (2015, p. 112), a neuroplasticidade é a “propriedade do sistema nervoso de alterar a sua função ou a sua estrutura em resposta às influências ambientais que o atingem”. Então a neuroplasticidade é a fantástica capacidade que o cérebro tem de mudar ou de se adaptar por meio de alterações fisiológicas resultantes da interação ambiental. É um processo dinâmico que “permite uma adaptação a diferentes experiências e que contribui para a aprendizagem ou o ‘reaprender” (CASTRO, 2021, s.p.). AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO Conforme Rogers e Dawson (2014), os primeiros anos de vida de uma criança correspondem a um período de grande neuroplasticidade e, com isso, as crianças apresentam uma rápida capacidade de aprendizagem. Neuroplasticidade refere-se à capacidade do cérebro de mudar, se adaptar e desenvolver novas conexões sinápticas entre os neurônios. Entretanto, apesar de ser possível a criação de novas conexões neuronais em indivíduos adultos, o cérebro é mais plástico até a idade de cinco anos (ANDRADE, 2020, s.p.). Para entendermos melhor a plasticidade cerebral, convidamos você a assistir a neuropediatra Liubiana Arantes do Instituto Farol. Só ler o QR CODE a seguir: FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=oTeze6D_BE4. Acesso em: 21 jun. 2021. É fundamental que crianças que apresentam atrasos no desenvolvimento, se encontrando fora dos marcos do desenvolvimento infantil recebam tratamento com terapias adequadas, independente de terem fechado diagnóstico de TEA para assim aproveitar esse período onde os resultados são mais rápidos e no caso de autismo, minimizar os prejuízos do transtorno (ROGERS; DAWSON, 2014). Quer saber quais são os marcos do desenvolvimento infantil? Na caderneta de saúde da criança apresentada na página 14 você consegue ver esses marcos e analisar se há atrasos a serem investigados. Também segue uma sugestão de aplicativo (APP) bem bacana para os pais, cuidadores e professores. É o KINEDU (Figura 12). É só baixar gratuitamente o APP no seu celular ou tablet e criar a sua conta. Ele ajuda a entender o desenvolvimento do bebê, os seus principais marcos do desenvolvimento e propõe atividades levando em consideração esses marcos. AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO FONTE: http://www.julianagoes.com.br/app-para-bebe/. Acesso em: 21 jun. 2021. FIGURA 12 – APLICATIVO KINEDU PARA ACOMPANHAR O DESENVOLVIMENTO INFANTIL Também é possível fazer uma avaliação gratuita da criança através de APP. Essa avaliação foi desenvolvida em parceria com a Universidade de Stanford, contendo os principais marcos de cada área de desenvolvimento (física, cognitiva, linguística e socioafetiva) (GOES, 2021). A partir do exposto, é necessário que os pais, cuidadores, professores e médicos estejam atentos para os sinais de risco do TEA. Já vimos os principais sinais do TEA no início do nosso curso, mas não custa nada reforçar. “Alterações nos domínios da comunicação social e l inguagem e comportamentos repetitivos entre 12 e 24 meses têm sido propostos como marcadores de identificação precoce para o autismo” (PSBP, 2019, p. 4). Na busca pelo diagnóstico precoce, uma pesquisa conduzida por Warren Jones da Escola de Medicina da Emory University em Atlanta, nos Estados Unidos, sugere que o autismo pode ser identificado em bebês com até 2 meses de vida (INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 2020). Esse estudo analisou o olhar das crianças, desde o nascimento até os três anos de idade, em direção aos rostos de outras pessoas. Usaram uma tecnologia de rastreamento visual para medir a forma como os bebês olhavam e respondiam a estímulos sociais. Eles descobriram que as crianças que foram diagnosticadas mais tarde com autismo tinham um contato visual pobre, reduzido (um dos sinais de risco do TEA). “[...] Foi a primeira vez que foi possível detectar alguns sinais de autismo nos primeiros meses de vida" (INSTITUTO NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 2020, s.p). AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO A ferramenta de triagem recebeu o nome de teste GeoPref. Quer conhecer melhor a pesquisa? Basta ler o QR Code a seguir: Estamos chegando no final dessa primeira etapa e esperamos que estejam gostando. É muito importante conhecer sobre o TEA, entender sobre as “nuances” que envolvem esse espectro para poder ajudar a acabar com o preconceito. Tramonte (2015) nos ajuda nessa reflexão (Figura 13). Vem com a gente! #Chegadeachismo! Apesar de estudos e pesquisas, o diagnóstico do TEA ainda é considerado essencialmente clínico e só pode ser dado por um médico especializado em desenvolvimento neuropsicomotor, ou seja, um psiquiatra infantil ou o neuropediatra, que fará a avaliação em conformidade com os critérios estabelecidos pelo DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria), que será abordado na próxima etapa do nosso curso (Etapa 2). N ã o p o d e m o s e s q u e c e r q u e o T E A é u m t ra n s t o r n o d o neurodesenvolvimento, afetando as pessoas de diferentes formas na área da sociabilização, comunicação e comportamento, podendo ser tão sútil que seus sintomas “fogem aos olhos” dos médicos ou tão grave que a pessoa não consegue desenvolver suas habilidades sociais, vive em um isolamento social com forte inflexibilidade de comportamento. AUTISMO E TECNOLOGIA:DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO FIGURA 13 – CHEGA DE ACHISMO. LIVRO HUMOR AZUL FONTE: Tramonte (2015) AUTISMO E TECNOLOGIA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO REFERÊNCIAS ALEXANDRE, C. G. Diagnóstico Psicopedagógico com uma criança autista: o papel da ludicidade. UEP, 2017. Disponível em: http://dspace. bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/15235/1/PDF%20-%20 Celiene%20Gomes%20Alexandre.pdf. Acesso em: 10 março 2021. ALMEIDA, M. S. R. Diagnóstico de autismo em mulheres adultas. 2020. Instituto Inclusão Brasil. Disponível em: https://institutoinclusaobrasil.com. br/diagnostico-on-line-de-autistas-adultos/. Acesso em: 21 jun. 2021. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Disponível em: http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/ Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf. Acesso em: 22 jun. 2021. ANDRADE, E. Plasticidade Cerebral e Autismo. 2020. 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