Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PSICOLOGIA SOCIAL DO TRABALHO AULA 06 – O trabalho na sociedade contemporânea Vídeo – Café Filosófico: A nova composição do trabalho com Giuseppe Cocco (50m29s) https://www.youtube.com/watch?v=HdGW-dzNKjk *** O QUE FUNDA A DISCUSSÃO CONTEMPORÂNEA SOBRE O TRABALHO? - A reestruturação produtiva pode ser definida como a transformação do modelo de acumulação taylorista-fordista no contexto do estado-nação para a acumulação flexível no contexto da globalização. - Há o surgimento de uma nova forma de produção de subjetividade derivado dos processos de transformação do mundo do trabalho e dos novos regimes de verdade que as legitimam. ELEMENTOS QUE CARACTERIZAM A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA - Globalização – a reestruturação é dependente de uma nova distribuição internacional do trabalho. Principais características da globalização contemporânea: - A globalização dos mercados financeiros; - A internacionalização de estratégias comerciais, em particular o seu compromisso para com a competição como fonte de criação de riquezas. - A difusão de tecnologias e do conhecimento em nível mundial. - A transformação dos padrões de consumo definidos a partir de mercados mundiais homogeneizados culturalmente. - O papel diminuto de governos nacionais em planejar as regras de governo global. - Políticas Neoliberais – o mercado é tomado como força reguladora privilegiada. - Sader as define como um modelo hegemônico que nasce da crítica do Estado Social e do esgotamento do fordismo como modo de regulação. Ele visa a: - A ruptura da estrutura sindical; - Submissão das políticas sociais à lógica do mercado; - Restauração da taxa “natural” de desemprego. COMO O NEOLIBERALISMO LÊ A CONTEMPORANEIDADE - O triunfo dos princípios neoliberais, após a queda do muro de Berlin, fez com que a discussão contemporânea das possibilidades de organização da sociedade deixasse de ser entre um mundo socialista e um mundo capitalista, tal como se configurava a centralidade das utopias no século XIX e na maior parte do século XX, mas sim entre o bom (justo) e o mau (injusto) capitalismo. - O crescimento econômico mostra uma curva oscilatória, as desigualdades sociais, por sua vez, mostram uma curva ascendente nos últimos 20 anos. DESREGULAMENTAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO E LAÇO SOCIAL - A faceta perversa das transformações contemporâneas é visível através do aumento da população excluída do mercado formal de trabalho e da miséria produzida pelas formas precárias de sobrevivência; - O crescimento da produtividade não tem levado a uma maior distribuição de renda (Hobsbawm, 1996) ou à melhora das condições de vida das populações, pelo contrário, tem aumentado a concentração de renda (Singer, 1998); https://www.youtube.com/watch?v=HdGW-dzNKjk - A transformação do papel do Estado na regulação dos mercados e das relações de trabalho traz como consequência a perda de garantias sociais e direitos trabalhistas conquistados através da negociação coletiva e da representatividade sindical que caracterizam o período do capitalismo dirigido (Singer, 1998, p. 158) e garantiram a manutenção do pacto social (Haloani, 1994). REALIDADE PRESENTE - A forma clássica do trabalho como emprego se transformou radicalmente. De uma situação de salários fixos, contratos de duração indeterminada com possibilidades de progressão funcional e negociação coletiva; chegamos hoje a uma infinidade de novas relações de trabalho, tais como contratos flexíveis, temporários, com variação de remuneração e trabalho no domicílio, negociação individual, alternância de períodos de desemprego e trabalho temporário, subcontratação e terceirização; - Este destino também é apontado por Castel (1998) ao afirmar que a quebra do laço social ameaça a sociedade fundada no salário. O tema da “invalidação social” é apostado por Castel como a nova questão social. Ele pergunta: “O que é possível fazer para recolocar no jogo social essas populações invalidadas pela conjuntura e para acabar com uma hemorragia de desfiliação que ameaça deixar exangue todo o corpo social” (Castel, 1998, p.34). REALIDADE BRASILEIRA - No Brasil as transformações contemporâneas do trabalho acirraram uma divisão estrutural que tem suas raízes na escravidão. Podemos afirmar que os supranumerários nunca deixaram de existir e seu número tende a aumentar. No entanto, as consequências negativas da reestruturação produtiva são agravadas pela existência do subemprego estrutural, por uma maior concentração de renda e pela ausência de políticas públicas sociais eficazes. TAYLORISMO-FORDISMO, ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL E MODOS DE SUBJETIVAÇÃO - O taylorismo e o fordismo impuseram um modo de subjetivação marcado por processos disciplinares vinculados a uma forma particular de organização do trabalho, a de um código moral e a um modelo de comportamento que se estendiam da fábrica e do sindicato para a família, para a escola e, mesmo, para a forma particular de urbanização dos bairros operários. - As transformações da contemporaneidade das formas de gestão produzem modificações importantes nas macropolíticas que caracterizam os locais de trabalho. Segundo Laranjeira (1997, p. 92), as novas formas de uso e de gestão da força de trabalho implicam em trabalho em equipe e circuitos de controle de qualidade, com ênfase na cooperação, na multifuncionalidade e na polivalência. CONSEQUÊNCIAS NA PRODUÇÃO SUBJETIVA - O novo modelo que surge devido às pressões externas (tanto do capital financeiro – investidores e acionistas institucionais – como da competição internacional e das demandas do mercado consumidor), pressupõe que as empresas realizem o enxugamento (downsizing) e a reestruturação organizacional, privilegiando a flexibilidade na produção e a necessidade de novas habilidades por parte dos trabalhadores; -As consequências para os trabalhadores em geral, desde os trabalhadores da produção até os cargos gerenciais, é um aumento violento na segurança relacionada ao emprego. AS NOVAS FORMAS DE GESTÃO DOS TRABALHADORES CENTRAIS (QUE FICAM NAS EMPRESAS) INCLUEM, SEGUNDO CAPELLI (1997): - Empowerment – transferência do poder de decisão para os trabalhadores e aumentando a responsabilidade sobre os erros; - Trabalho em equipes semi-autônomas, eliminando a função dos supervisores através da internalização (autocontrole) das metas e dos objetivos da empresa; - Multifuncionalidade e rotação de tarefas, quebrando a monotonia do trabalho taylorizado, resultando no aumento das exigências. EFEITOS SOBRE A SUBJETIVAÇÃO - O novo modelo identificado por Capelli teria como consequência social, principalmente a insegurança. Esta é uma consequência importante para o estudo dos processos de subjetivação, pois um mínimo de segurança é necessário para a construção dos projetos de vida. - Segundo Capelli, no capitalismo flexível quebrou-se o pacto social entre as empresas, o Estado e os trabalhadores, que caracterizou o Fordismo nos Estados Unidos e que permitiu ao trabalhador (blue collar) planejar seu futuro em busca de uma vida melhor si e para seus filhos e a garantia de uma aposentadoria digna. PRODUÇÃO SUBJETIVA E EFEITOS SOBRE A SAÚDE - No Brasil, embora as estatísticas sejam pouco confiáveis e inexista um sistema de vigilância eficaz com relação aos riscos e às patologias associadas ao trabalho (Nardi, 1999), alguns estudos de cunho qualitativo apontam para os efeitos da crise recessiva (resultado das políticas econômicas de cunho neoliberal) e do desemprego associado à reestruturação produtiva em alguns setores. Edith Seligmann-S ilva (1994, p. 261-265), por exemplo, aponta para as consequências da atual conjuntura em relação aos trabalhadores que se mantêm empregados. São elas: 1) maximização de produtividade com utilização de estratégias psicológicas de manipulação dos sentimentos de medo do desempregoe de sobrevivência da empresa, deteriorando as relações entre colegas de trabalho e gerando uma paranoia constante; 2) deterioração das condições gerais de vida pelo arrocho salarial e desregulamentação das relações de trabalho, com perda dos direitos conquistados.
Compartilhar