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SOCIEDADE, CULTURA 
E CONTEMPORANEIDADE
SOCIEDADE, CULTURA 
E CONTEMPORANEIDADE
Copyright © UVA 2021
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer 
meio sem a prévia autorização desta instituição.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico 
da Língua Portuguesa.
AUTORIA DO CONTEÚDO
Camila Pigozzo
Cristiana Lopes 
Leticia Borges
Luiz Guilherme Moreira
Margot Barcia 
Michele Vieira
CURADORIA DO CONTEÚDO
Katia Puente 
REVISÃO
Janaina Senna 
Janaina Vieira 
Lydianna Lima
PROJETO GRÁFICO
UVA
DIAGRAMAÇÃO
UVA
SUMÁRIO
Apresentação
Autores
6
8
Direitos humanos, afirmações identitárias e o legado 
sociocultural de matriz africana e de matriz indígena no 
Brasil
33
• Direitos humanos e afirmações identitárias
• A expressão da diversidade cultural indígena e os movimentos identi-
tários indígenas na formação da identidade nacional 
 • A diáspora negra na formação cultural brasileira e a politização do 
conceito de raça 
UNIDADE 2
11
• Cultura e Identidade: categoria conceitual que se afirma para a 
compreensão da diversidade
• Conflitos de identidade: processo etnocêntrico e intolerância
• Diversidade: o desafio contemporâneo da coexistência plural
Identidade cultural, diversidade e coexistência plural 
UNIDADE 1
SUMÁRIO
Desenvolvimento científico/tecnológico e o mundo do
trabalho
93
• Desenvolvimento tecnocientífico e reconfigurações no ambiente de
Trabalho
• Desemprego tecnológico, eliminação e criação de profissões
• Máquinas ou humanos: reflexões sobre o grau de importância do ser
humano frente à evolução da Inteligência Artificial 
UNIDADE 4
66
• Aspectos históricos da Educação Ambiental
• Marcos teóricos referenciais: as grandes conferências
• Ética e valores, da teoria à prática: reduzindo os impactos ambientais 
Histórico e marcos da Educação ambiental
UNIDADE 3
6
Quando ouvimos falar em sociedade, cultura, ciência, meio ambiente e tecnologia somos 
levados a pensar como esses temas podem contribuir para nossa formação profissional.
Então considere os seguintes pontos:
O que podemos afirmar é que a contemporaneidade nos coloca diante de muitos desa-
fios e precisamos de certas habilidades que são chave no mundo de hoje. Elas podem, 
inclusive, representar um diferencial no mundo do trabalho:
• Ter empatia.
• Estar predisposto a ouvir outros tão diferentes de nós.
• Respeitar e colaborar para objetivos comuns.
• Ser imparcial e solidário.
• Ter autocrítica.
• Desenvolver uma atitude afirmativa diante dos obstáculos.
• Em síntese, ativar nossa capacidade de compreensão cultural e tornar a socieda-
de em que vivemos e trabalhamos menos intolerante com o outro.
Um ponto de partida para essas habilidades é exercitar o nosso olhar diante das ques-
tões culturais que se apresentam diariamente. Desenvolver uma atitude sobre a di-
ferença que permita colaborar para um mundo mais sustentável, fraterno, humano e 
menos excludente.
A nossa Constituição Federal de 1988, em seus artigos 205 e 206, destaca inclusive 
que devemos desenvolver, também por meio da educação, competências que tornem o 
sujeito capaz de lidar com tais problemas, conviver com a pluralidade de ideias, promo-
ver e incentivar sua colaboração com a sociedade e fornecer meios para o exercício da 
cidadania, qualificação para o trabalho e desenvolvimento pessoal.
APRESENTAÇÃO
7
A disciplina Sociedade, Cultura e Contemporaneidade foi desenvolvida com esse obje-
tivo. Queremos conectar você com assuntos que fazem parte do seu cotidiano. Afinal, 
além de desenvolver nossas habilidades para lidar com novos dados, tecnologias, resol-
ver situações complexas e exercer liderança, não podemos deixar de exercitar outras 
ferramentas que possibilitem a cada um de nós estabelecer da melhor forma possível 
nossas interações humanas.
Ao longo dessa jornada de aprendizagem vamos, juntos, explorar temas para provocar o 
pensamento e contribuir para o seu posicionamento pessoal perante a vida.
Assim, convidamos para uma experiência imersiva e provocativa, de forma dialógica, 
interativa e direta com temas-chave do mundo global: direitos humanos e inclusão, mul-
ticulturalismo, relações interétnicas, meio ambiente e sustentabilidade. 
É isso que vamos estudar no decorrer das unidades. Vamos lá?
8
AUTORES
CAMILA PIGOZZO
Bióloga. Doutora em Ciências pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS 
(BA), mestre em Ecologia e Biomonitoramento e bacharel em Ciências Biológicas pela Uni-
versidade Federal da Bahia – UFBA. Docente e coordenadora dos cursos de licenciatura e 
bacharelado em Ciências Biológicas do Centro Universitário Jorge Amado – Unijorge. Na 
pesquisa, atua em temas relacionados ao meio ambiente, especialmente Ecologia.
CRISTIANA LOPES
Graduação em Filosofia e Serviço Social. Mestrado em Filosofia pela Universidade Fede-
ral da Bahia – UFBA (2010). Especialização em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Exten-
são em Educação pela Universidade do Estado da Bahia – Uneb em 2006. Atualmente, é 
editora do Cabine Cultural (www.cabineculutral.com), canal de crítica de arte; assistente 
social perita do Tribunal de Justiça da Bahia; professora do Centro Universitário Jorge 
Amado – Unijorge nos cursos de Psicologia, Serviço Social, Pedagogia, Administração, 
Redes e Recursos Humanos; professora de Direitos Humanos e Economia Solidária na 
Associação Sons do Silêncio – AESOS, que trabalha com inclusão, sobretudo de surdos, 
no Projeto Libras para Todos. Fez mestrado sanduíche entre a Universidade de São Paulo 
– USP e a Universidade Federal da Bahia – UFBA por meio do programa de cooperação 
acadêmica – Procad, também participou do Projeto BNB/PNUD, com experiência nas 
áreas de gestão de participação comunitária, educação popular, projetos sociais, planeja-
mento e capacitação em oficinas de intervenção. É também professora-tutora habilitada 
pelo Programa de Formação de Tutores da Universidade Veiga de Almeida – UVA-RJ e 
pelo Curso de Formação de Tutores da Universidade Federal da Bahia – UFBA
9
LUIZ GUILHERME MOREIRA
MARGOT BÁRCIA
LETICIA BORGES
Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense – UFF (2015), mestre em His-
tória Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (2010), graduado e licen-
ciado em História pela UFRJ (2001). Professor da rede municipal de Armação dos Búzios 
e Cabo Frio. Professor da Universidade Veiga de Almeida – UVA e do Instituto ProMinas/
Cândido Mendes, onde ministra os encontros presenciais de Metodologia Científica do 
curso de pós-graduação lato-sensu, modalidade EAD, atuando também como professor 
orientador de TCCs. Em 2010, recebeu menção honrosa no Concurso de Monografias 
promovido pelo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro por sua dissertação de mes-
trado. Neste mesmo ano publicou Os índios na história da Aldeia de São Pedro de Cabo 
Frio - séculos XVII-XIX, em coautoria com Janderson Bax Carneiro. Em 2012, lançou o 
Atlas histórico e geográfico escolar de São Pedro da Aldeia, em coautoria com Maria Ca-
tarina da Silva Azevedo. Em 2013, lançou o documentário A pesca artesanal em Armação 
dos Búzios (Iphan/Secretaria de Educação de Armação dos Búzios). Em 2016, foi um dos 
organizadores do livro Cabo Frio 400 anos (1615-2015), publicado pelo Instituto Brasileiro 
de Museus — Ibram). 
Doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mes-
tre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Graduada em 
Comunicação Social - Jornalismo (UFRJ) e em Pedagogia pela Universidade do Grande 
Rio. Leciona em cursos de graduação e pós-graduação, nas modalidades presencial e a 
distância, nas áreas de Comunicação e Educação. Autora de material didático para edu-
cação à distância. Experiência em coordenação pedagógica de cursos e em programas 
de formação de professores.
Doutoranda em Direito pela Universidade Veiga de Almeida – UVA, mestra em Direito pela 
Universidade Gama Filho – UGF. Professora auxiliar de Direito Internacionale Direitos 
Humanos na UVA, professora auxiliar de Direito Civil e História do Direito na Universidade 
Estácio de Sá – Unesa. Palestrante na área de direitos humanos. 
10
KATIA PUENTE
MICHELE VIEIRA
Doutoranda Psicanálise,Saúde e Sociedade UVA/RJ. Mestre em Sociologia - UFRJ (1996). 
Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (Bacharelado 
-1991 Licenciatura - 1996). Professora Adjunta Universidade Veiga de Almeida. Professor 
DOC I Sociologia Seeduc-RJ . Professor Pós-Graduação Especialização Tecnologia e Mí-
dias UVA-RJ. Supervisora Acadêmica Prograd. Autora e tutora de disciplina EaD UVA/
Ilumno (Graduação - Sociologia Geral e Sociologia da Educação; Pós-Graduação Lato 
Sensu Educação e Tecnologia - Cultura, Tecnologia e Trabalho). Co-autora disciplina gra-
duação Ead Antropologia e Educação. Autora Curso Avaliação de Aprendizagem em Ead 
para Professor (Ilumno Brasil). Co-autora e tutora do curso Formação de Tutores Ead 
UVA (Epic-Canvas).Grupos de Pesquisa: Inovação na Gestão Educacional - UVA-RJ/ Uni-
sinos, Currículo, Tecnologias Educacionais e Formação Docente UVA-RJ e O diagnóstico 
em psicanálise e suas contribuições para a prática clínica UVA/FUNADESP. Áreas de 
Concentração: Ensino superior. Formação Docente e EAD. Avaliação. Tecnologia Educa-
cional. Ativismo e Juventude.
Doutora e mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesqui-
sadora do Laboratório de Pesquisa em Culturas e Tecnologias da Comunicação (Labcult). 
Possui graduação em Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade) pela Pontifícia 
Universidade Católica do Rio de Janeiro (1999), graduação em História pela Universidade 
Gama Filho (2005) e especialização em História Contemporânea pela Universidade Cân-
dido Mendes (2006). Foi jornalista de 1997 a 2003 e assistente de pesquisa do CPDOC da 
Fundação Getúlio Vargas (2003-2004). Atualmente é professora dos cursos de Publicida-
de e Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), das Faculdades 
Integradas Hélio Alonso (Facha) e da Universidade Veiga de Almeida (UVA).
Identidade cultural, diversidade e 
coexistência plural 
UNIDADE 1
12
Esta unidade mostrará que o conceito de “cultura” é dinâmico, portanto, está sempre 
sendo (re)construído. Dessa maneira, os problemas e as questões relevantes da contem-
poraneidade interferem no modo como se dá esse processo, em especial os oriundos da 
globalização, que resultou em um (re)desenhar das fronteiras socioeconômicas. A cons-
trução da identidade é fundamental para o posicionamento de qualquer agente social no 
mundo contemporâneo. O que lhe permite construir memórias e narrativas individuais 
e coletivas, percebendo o seu pertencimento ou não a um universo cultural, dando luz 
à diversidade cultural. Ao mesmo tempo, ao se estabelecer essas barreiras culturais, 
muitos conflitos podem ocorrer por conta da intolerância causada pelo etnocentrismo. 
Como saída para esse problema, temos que buscar uma coexistência plural, respeitando 
a diversidade cultural.
INTRODUÇÃO
Nesta unidade você será capaz de:
• Reconhecer as instituições sociopolíticas enquanto territórios de intercâmbio, 
cruzamentos, conflitos e coexistência da diversidade cultural, atendendo ao de-
safio contemporâneo da coexistência das diferenças.
OBJETIVO
13
Cultura e Identidade: categoria conceitual 
que se afirma para a compreensão da 
diversidade 
A cultura, inicialmente, pode ser definida como o modo pelo qual as diferentes socieda-
des entendem o mundo em que vivem e agem dentro dele. Dessa maneira, está condicio-
nada a uma temporalidade, no nosso caso, à contemporaneidade, sendo, portanto, um 
processo histórico. Como é uma expressão humana, a cultura só surge quando a própria 
humanidade aparece. 
Cultura é um tema chave para compreender os fenômenos sociais e distingue o que é 
natural do que é cultural. Veja a diferença.
• Natural: O natural é tudo que diz respeito às leis biológicas, que transcende as nor-
mas, os hábitos e costumes, e que não é peculiar a nenhum grupo social humano 
particular, portanto, é universal.
• Cultural: Já o cultural é tudo que depende da tradição social, de comportamento 
aprendido, que é particular a determinada sociedade e depende de suas regras.
Para compreender a diversidade cultural, não é necessário viajar a terras distantes, es-
trangeiras. Na nossa civilização, encontramos costumes culturais bem diferentes entre 
si. Por exemplo, no Brasil, em áreas rurais, é mais comum dormir e acordar cedo, a noite 
é reservada ao descanso. Já as grandes cidades funcionam 24 horas por dia, a noite é 
cheia de atrações, de baladas frequentadas principalmente pelos jovens.
Tudo isso é cultura?
Para o antropólogo, a resposta é sim, uma vez que cultura é tudo aquilo capaz de superar 
a dependência do homem em relação aos fatores ambientais. Assim, a luta do homem 
desde sua origem é diferenciar, na construção de sua existência, o que é natural do que é 
cultural. Veja a explicação de Laraia (2013):
A grande qualidade da espécie humana foi a de romper com suas pró-
prias limitações: um animal frágil, provido de insignificante força física, 
dominou toda a natureza e se transformou no mais terrível dos predado-
res. Sem asas, dominou os ares; sem guelras ou membranas próprias, 
14
conquistou os mares. Tudo isto porque difere dos outros animais por ser 
o único que possui cultura. (LARAIA, Roque Barros de. Cultura: um con-
ceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2013, p. 24)
A cultura se classifica em material (objetos, ferramentas, instrumentos) e imaterial (o 
que não é concreto, ou seja, valores, costumes), cada uma compreende bens e produtos 
construídos pelo homem ao longo de sua história. 
Há também inúmeros outros bens para a cultura imaterial, que inclui:
• Conhecimento: O saber acumulado através de gerações
• Normas: São as regras, convenções, que definem o modo de agir dos indivíduos 
em certas situações.
• Valores: Elementos abstratos consagrados por um indivíduo, grupo ou sociedade, 
que orientam suas ações. Exemplos: liberdade, sucesso, eficiência, igualdade, pro-
gresso.
• Crenças: Atitude de aceitação de uma proposição por parte dos indivíduos que 
fundamenta sua ação. Podem ser pessoais, públicas, declaradas, supersticiosas, 
extravagantes etc.
• Padrões de conduta, hábitos e costumes: Face um dado problema, alguns povos 
desenvolvem e transmitem às gerações seguintes formas peculiares para lidar com 
cada situação. Se os resultados forem positivos, passam a ser repetidas. Assim, são 
adotadas pelo grupo e se tornam padrões de ação. Por exemplo, qualquer morador 
de uma grande cidade sabe que, ao chegar diante de um prédio com botões na 
porta, estará diante de um interfone e deve tocá-lo para entrar no local. Talvez um 
membro de uma outra cultura fique em frente ao edifício durante horas até alguém 
lhe explicar o que já é padrão para nós.
• Mecanismos que estabelecem uma divisão de funções e posições sociais 
definidas: Todos os grupos estabelecem relações sociais e definem posições 
para seus membros. Mas isso pode variar. Por exemplo, em nossa sociedade, tra-
dicionalmente (ou seja, culturalmente) o papel de provedor da família sempre foi 
do homem – pai de família – e a mulher estava destinada a cuidar do lar (“dona 
de casa”). No entanto, as mudanças em algumas sociedades contemporâneas 
geram e ampliam outra divisão de funções, com a mulher se transformando em 
“chefe de família”, mantendo financeiramente a casa. Estamos diante de outro me-
canismo cultural. Atualmente, alguns homens casados não trabalham, ou apenas 
atuam em meio período, e realizam as atividades domésticas antes destinadas 
especificamente às mulheres.
15
Para o senso comum, cultura é entendida como:
Domínio artístico, sofisticação, sabedoria. Ex.:“Os africanos não têm a cultura dos euro-
peus.”; Domínio intelectual, grau de instrução, volume de informação, quantidade de títu-
los acadêmicos, inteligência. Ex.:“Maria não tem cultura,mas João é culto.” “Analfabeto 
não tem cultura”; Civilização. Ex.:“A cultura inglesa é mais civilizada do que a cultura dos 
índios Yanomami”; Sinônimo de estética e entretenimento. Ex.:“Nesta seção do jornal, 
você verá os eventos culturais da semana: teatro, cinema, exposições, shows.”
A cultura, portanto, é um elemento altamente complexo, rico e, acima de tudo, único 
(particular).
O processo de globalização aproximou inúmeras sociedades e culturas, 
portanto identidades culturais diversas.
Apesar disso, não se pode negligenciar que a cultura também deve ser vista na relação 
com outras culturas, sempre, visto que seus formuladores, os inúmeros povos, estão 
sempre em um processo de interação. Tal procedimento é fundamental. É o que nos 
permitirá questionar a realidade de nossa própria sociedade, com seus valores, hábitos, 
atitudes, conflitos, tensões etc., que, à primeira vista, nos parecem ser “naturais” e “nor-
mais”, quando na verdade estão longe de serem.
No seio dessa preocupação em estudar as diversas culturas, surgiu também a neces-
sidade de compará-las. Para isso, buscou-se dois caminhos: Hierarquizar as culturas 
x Negar a hierarquização. Muitas pesquisas e trabalhos optaram por trilhar o primeiro 
caminho. Tentava-se enquadrar as culturas num processo linear e teleológico.. Todavia, 
Para refletir
Agora que você já conhece qual é o conceito antropológico de cultura, é impor-
tante não confundir com o conceito que o senso comum atribui à cultura. E por 
que? Para o senso comum, cultura é entendida como: conhecimento empírico, 
ou seja, adquirido pela observação dos fatos, pelas experiências, vivências, que 
é passado de geração a geração. Ou seja, é o modo de pensar da maioria das 
pessoas, e não está fundamentado em leis e teorias científicas, que precisam 
ser comprovadas para serem aceitas como verdadeiras. E não podemos tomar 
decisões seja na vida pessoal ou profissional com base no senso comum.
16
esse modelo recebeu inúmeras críticas de intelectuais que escolheram o segundo cami-
nho. Afirmavam que o processo de classificação/hierarquização cultural não poderia ser 
aplicado a todas as sociedades ocidentais e tampouco a todas as sociedades humanas. 
Se, portanto, comparar as culturas tendo como norte aquele primeiro caminho é proble-
mático, o segundo também se apresenta arriscado. Uma vez que quando se procede 
na comparação de culturas, sempre a fazemos pelo olhar de nossa cultura, ou seja, do 
ponto de onde se observa. Portanto, eivado de classificações e conceitos da cultura do 
observador. Tudo passa a ser relativo. Porém, mesmo esse relativismo carrega em si um 
problema, pois as interconexões culturais dos diferentes povos foram, são e serão feitas 
por meio de relações de poder que são desiguais e, portanto, hierarquizantes. Nem sem-
pre é fácil analisar as culturas tendo isso em mente.
O mesmo problema se apresenta quando analisamos o interior de uma cultura nacio-
nal, uma vez que as sociedades nacionais são divididas em diferentes classes e grupos 
sociais, regiões, religiões etc., que também carregam em si relações de poder que são 
desiguais e hierarquizantes, assim como as relações internacionais.
Um outro aspecto importante nesse estudo é a identidade cultural.
O conceito de identidade começou a adentrar com mais ênfase nas ciências sociais na 
contemporaneidade quando se procurava analisar alguns problemas oriundos da globa-
lização. Com ele vieram alguns adjetivos, como identidade cultural, identidade nacional, 
identidade étnica, identidade social etc.
No que nos interessa aqui, iremos enfatizar a identidade cultural. Já estudamos o que é 
cultura, nos resta entender o que é identidade e como ela se constrói.
Para uma primeira aproximação, podemos pensar em nossa Carteira de Identidade, 
documento oficial que identifica o cidadão no Brasil. Nela temos uma série de dados 
Para refletir
Todos temos uma identidade. Se lhe perguntarem qual ou quais são as caracte-
rísticas que temos e que nos são fundamentais para a construção de nossa(s) 
identidade(s), saberemos responder. Mas, será que sabemos exatamente o que 
é identidade? Como ela é construída?
17
como nome, filiação, data de nascimento, naturalidade etc. Todas essas informações 
irão acompanhar o indivíduo por toda a sua vida, sendo, portanto, fixos. Mas, será que a 
identidade é realmente fixa? Valeria por toda uma vida?
Podemos começar a tentar responder essa resposta nos apropriando da ideia do senso 
comum, que define a identidade a partir da percepção de um indivíduo de que ao longo 
do tempo mantém algumas características. De modo a se tornar único e por oposição 
diferente dos demais. Tal como o exemplo acima.
Mas, em se tratando de identidade cultural na contemporaneidade (o tema de nossa 
disciplina), temos que levar em consideração outros elementos que são capitais como a 
maneira pela qual o indivíduo/grupo representa o seu passado, as condutas, os atos que 
praticou e como planeja seu futuro. Quando esse processo ocorre de modo compartilha-
do, ou seja, quando um determinado grupo de pessoas mantém essas mesmas caracte-
rísticas ao longo de um tempo, passamos a ter não mais uma identidade individual, mas 
uma identidade cultural.
Tal questionamento levaria ao abandono de uma visão a respeito da identidade (incluindo 
as identidades étnica e cultural) calcada numa racionalidade do sujeito que opera e constrói 
a sua identidade. Todavia, essa crítica esbarra em dois problemas em relação ao conceito:
1. Surgiu em um contexto que fora superado, mas, no entanto, não se criou nenhum 
outro conceito que pudesse ser usado em sua substituição.
Um dos teóricos mais importantes a respeito da identidade é Stuart Hall. Ele 
queria conceituar o termo “hibridização”. Como os demais, estava preocupado 
com as questões oriundas da globalização, mais precisamente com a chama-
da descolonização ou movimentos pós-coloniais, quando as antigas colônias 
europeias, localizadas sobretudo nos continentes africanos e asiáticos, consti-
tuíram-se como nações independentes no pós-guerra.
O autor sublinhou que as ciências sociais e humanas têm revisto o conceito 
de identidade colocando em xeque a ideia de que ela seria “integral, originária 
e unificada”.
Importante
18
2. Diz respeito à impossibilidade de “enquadrar” a ação do indivíduo dentro dos li-
mites da identidade, não havendo um ajuste de suas ações a uma totalidade a qual 
pertence. Mas, entender que as ações por vezes são realizadas fora de uma expec-
tativa relacionada à identidade a que pertence, sendo paradoxal.
Deste segundo ponto emerge uma série de questões apontadas pelo autor, uma das 
quais a substituição do conceito de “identidade” por “identificação”. A identificação pos-
sui uma série de elementos herdados da psicologia freudiana, como a idealização e a 
ambivalência.
• Idealização: porque é fundada na fantasia, no inconsciente, numa projeção que 
se daria de forma cristalina entre o “outro” que não o “eu”, que na verdade não cor-
responde à realidade.
• Ambivalência: porque os laços, ou seja, as características usadas para a constru-
ção da identidade podem ser apropriadas dos polos opostos.
No mundo globalizado, a formação das identidades culturais, sobretudo as ligadas a gru-
pos que foram forçados a migrarem de suas regiões de origem, utilizam a história como 
uma ferramenta que lhes confere uma unidade. Todavia, o que temos que ter em mente 
é que o analista social não pode ver essa instrumentalização do passado de modo que 
torne este grupo engessado naquela temporalidade. Ou seja, os membros do grupo não 
estão preocupados em perceber como o grupo é, mas o que se tornou, como está sendo 
representado e como essa representação afeta o grupo.
Tal mecanismo leva a rever um conceito importante para a identidade e que também 
está ligado a temporalidades pretéritas, a noção de tradição. Ela deixa de ser vista como 
algo que perdura no tempo para ser encarada como algo que se (re)itera, que se (trans)
forma.De tal modo que preservar essa tradição não significa voltar às raízes, mas enten-
der como essa tradição inventada (fantasiada, ficcional) foi construída.
Em outras linhas, não se busca viajar ao passado para pegar essa tradição materializada 
e trazê-la para o presente, tal como se fosse um objeto concreto. Mas ir além. Procurar 
entender como essa tradição pretérita foi manipulada, lapidada, lasqueada, envernizada 
etc. até chegar ao presente.
19
Para Stuart Hall as identidades culturais seriam pontos de encontros entre um discurso 
que nos obriga a nos situarmos em um lugar social, que possui um significado próprio, 
e a própria subjetividade do ator social. Quando um ator atribui-se ou a ele é atribuído 
uma identidade cultural assume uma determinada posição social, que não deixa de ser 
uma representação construída não pelo que ela é, mas por aquilo que não é. Deste modo 
as identidades culturais não podem nunca ser iguais já que eivada de subjetividade e do 
lugar que o sujeito ocupa. Além mais como os sujeitos ocupam vários lugares sociais 
possuem várias identidades, que podem ser ambíguas e contraditórias. Como também 
depende das subjetividades, que sempre se apresentam mutáveis, dos autores, elas são 
temporárias.
Nesse processo de construção da identidade cultural a memória é fundamental. Mas, 
assim como a identidade, seu conceito apresenta uma série de características que preci-
sam ser mais bem detalhadas.
Paul Ricouer (1913-2005): filósofo francês.
Um dos estudos mais importantes a respeito da memória e como ela influência 
não apenas as narrativas culturais, mas a própria identidade cultural foi o realizado 
por Paul Ricoeur (2005). Para o autor, a memória individual e a memória coletiva 
Importante
Essa construção da identidade cultural é realizada dentro de instituições e gru-
pos que possuem interesses específicos, não apenas em seu seio, mas na re-
lação com outros grupos. Portanto, é uma construção repleta de relações de 
poder externas e internas. Sua finalidade principal é demarcar de forma clara 
a pertença e, por conseguinte, a exclusão do “outro”. Não estando no centro de 
suas preocupações estabelecer uma unidade em seu interior. Assim, a homo-
geneidade desse grupo está longe de ser natural e de existir de fato. Caracteri-
za-se por uma invenção, por uma ficção, quando se define que determinadas 
características daquele grupo serão as fundamentais para a construção de 
suas identidades e não outras.
Importante
20
A memória é um termo polissêmico, portanto, com vários significados, que opera ter-
mos ambíguos, como nos lembra Margarida de Souza Neves. A autora destacou que 
o conceito trabalha com “o tempo lembrado e o tempo da lembrança; o individual e o 
coletivo; o registro e a invenção; o material e o simbólico; a rememoração e o esqueci-
mento; as paixões e os interesses; a informação e o ocultamento; a razão e a emoção 
[...]” (2009, p. 22).
Nossos pais, por exemplo, nos trazem vivências que estão em nossa memória, mas de 
certo modo “adormecidas”. Grupos sociais também podem ter papel similar. Eles evo-
cam experiências, que poderíamos chamar de história ou de narrativa cultural, que não 
foram vividas por nós, mas nos reconhecemos naquelas pessoas que as vivenciaram e 
as construíram.
Os próximos seriam espaços de mediação entre o coletivo e o individual, que permi-
tem que haja entendimento entre ambos e assimilação ou negação dos caracteres cole-
tivos no indivíduo e vice-versa. Atuam como filtros dos elementos que saem da memória 
coletiva e entram ou são barrados na memória individual e vice-versa. Como a memória 
opera muitas vezes por informações que foram vivenciadas por outrem, como vimos, 
estes próximos são fundamentais, uma vez que são eles que trazem essas informações 
para os atores. No entanto, sua importância não resulta apenas no fato de nos apresen-
tar informações desconhecidas. Eles muitas vezes nos fazem lembrar de memórias que 
foram por nós esquecidas. 
são frutos de um mundo em comum. A memória individual busca na memória co-
letiva a legitimação de seu discurso pelo fato de se expressar em uma linguagem 
que é coletiva, a cultura. Ao mesmo tempo, a individualidade e o coletivo possuem 
uma relação muito íntima, não apenas porque o coletivo é um conjunto de indi-
víduos, mas porque a memória coletiva se expressa por um daqueles indivíduos 
que compõem o coletivo. Mas para além da relação entre a memória coletiva e a 
individual, haveria um terceiro elemento a que chamou de os próximos.
21
Conflitos de identidade: processo 
etnocêntrico e intolerância
Vamos refletir um pouco sobre esse tema?
Com a intensificação do processo de globalização, as diversas culturas existentes no 
mundo passaram a ter mais contato. Em resposta a esse movimento tivemos dois pro-
cessos. Um primeiro, o processo de “hibridismo cultural”. E, o segundo, em que os con-
flitos e as tensões tornam-se mais claros, calcado no etnocentrismo e na intolerância 
para com o “outro”, ou seja, aquele que não compartilha de sua cultura e em sua grande 
maioria acabam gerando conflitos, muitos dos quais violentos.
Aqui vamos discutir alguns pontos que dizem respeito aos conceitos de etnocentrismo e 
intolerância, de modo que possam ser úteis quando, nas aulas e unidades, estudarmos 
alguns dos conflitos de identidade culturais existentes na contemporaneidade e como 
poderemos superá-los.
O conceito de etnocentrismo talvez seja o mais fácil de trabalhar dentre os que foram 
apresentados e os que ainda veremos ao longo deste curso. Poderíamos rapidamente 
começar a defini-lo buscando o significado etimológico da palavra Etnocentrismo.
O passo inicial seria desmembrá-lo em dois termos (CUNHA, 2012, p. 274 e 142):
• Etno - Segundo Antônio Geraldo da Cunha, “etn(o)” provem do grego étnhos que 
significa raça, povo. A ideia foi apropriada pela linguagem científica internacional a 
partir do século XX.
• Centro - O conceito “centro” originou-se do latim centrum, que por sua vez teria 
surgido do grego kéntron, tendo sido apropriado pela geometria para designar o 
“ponto para onde convergem as coisas”.
Assim facilmente veríamos que Etnocentrismo foi um conceito criado pelas ciências so-
ciais e humanas para dizer que a cultura de um determinado povo seria central, o ponto 
de partida. Todavia, não basta dizer que a cultura é uma chave de entendimento de um 
povo, de uma sociedade.
22
Mas de que cultura estamos falando? De quem analisa ou de quem é 
analisado?
Rapidamente, não hesitaríamos em responder que dos dois, tanto do analista quanto do 
analisado. O analista pode ter uma visão etnocêntrica da cultura que observa. Por sua 
vez, o analisado também pode ter um olhar etnocêntrico ao se deparar com outras cultu-
ras, como denunciaria o analista não etnocêntrico.
Tal fato enseja alguns problemas, mas o fundamental é pontuar que ambos partem da 
questão central do conceito, ou seja, da visão de determinado povo de que sua cultura 
é a mais importante, correta, perfeita, excelente e normal. De modo que quem não lê o 
mundo por essa cultura estaria em um grau de humanidade menor ou não estaria nem 
mesmo nesta categoria. Mas a questão não é tão simplória assim.
A visão etnocêntrica acarreta, portanto, em um posicionamento em relação às demais 
culturas em que os seus referenciais culturais são centrais. Ao pensar e refletir sobre as 
demais culturas, levamos nossa maneira de entender o mundo para outras sociedades. 
O que mostra a imensa dificuldade de lidar com a diferença e o diferente e pensar a seu 
respeito. Mas, o problema não se restringe à esfera do pensamento da abstração, ele 
também se materializa quando se precisa estabelecer relações sociais com indivíduos 
de outras culturas. Nessa relação acabamos por estranhar, apresentar hostilidades e até 
ter medo do outro pelo simples fato de ser diferente.
Portanto, longe de ser apenas uma questão abstrata, entendida como não sendo algo 
prático e palpável, o etnocentrismo se apresenta de formaobjetiva, mesmo que no cam-
po dos sentimentos, que não deixam de ser abstrações, mas que se expressam em ações 
concretas. Cabe sublinhar que ao estudar a história da humanidade a questão do etno-
centrismo aparece de forma constante, assim como em nosso cotidiano mais elementar.
Dessa maneira, o que temos que salientar, se realmente quisermos construir um mundo 
“solidário” e “democrático em sua plenitude”, mais justo e menos excludente, é que há a 
necessidade de se entender como se expressam esses etnocentrismos, qual a sua ra-
zão, como atuam nas emoções, nos sentimentos das pessoas etc.
23
Cabe ainda dizer que esta representação fica à mercê de uma lógica ideológica e de 
contextos que não estão ligados à cultura representada. Passam a ser instrumentos que 
podem ser manipulados de modo ambíguo, podendo ser positivada ou negativada, como 
é feita na maior parte das vezes.
Alguns autores pontuam que o primeiro passo para o início da globalização teria aconte-
cido ainda na Idade Moderna (1453-1789), na chamada Era dos Descobrimentos, cujos 
movimentos mais importantes foram a descoberta da América por Cristóvão Colombo 
(1492), a chegada de Vasco da Gama às Índias (1498) e a descoberta do Brasil por Pedro 
Álvares Cabral (1500). Esses acontecimentos levaram os europeus a travarem contatos 
com uma imensa gama de culturas diferentes. Assim, muitos pensadores da Moder-
nidade, que ficaram conhecidos como Renascentistas, naturalmente com os olhos da 
Modernidade, logo começaram a tentar entender aquelas inúmeras culturas.
Uma saída possível é romper com o silêncio do “outro” quando o tratamos de 
modo etnocêntrico. Dito de outra forma, geralmente, quando abordamos o “ou-
tro” o fazemos por meio de uma representação criada por nós mesmos, e não 
a empreendida pelo “outro”. Negamos assim o caráter humano de fala do “ou-
tro”, já que o consideramos incapazes de se expressarem e formularem uma 
visão de mundo. Nessa representação que fazemos, não há nenhuma barreira, 
nenhum limite, tudo é possível de acordo com a intenção que se tem ao criar 
aquela representação.
Exemplo
É preciso lembrar que o etnocentrismo não ocorre apenas nas relações de cul-
turas externas, também pode se expressar em relações dentro de uma mesma 
cultura com grupos/classes sociais diferentes. Desta feita se faz uma repre-
sentação estereotipada a respeito de determinados grupos/classes sociais que 
em nosso cotidiano mais comezinho apresentam diferenças que resultam em 
conflitos, tais como mulheres, velhos, homossexuais, negros, pessoas que pra-
ticam determinadas religiões etc.
Importante
24
Nesse movimento, com intensidade bem menor que o da Globalização, houve alteração 
das fronteiras, contato com outros povos e culturas, desenvolvimento de tecnologias que 
diminuíram as distâncias espaciais e de comunicação. Mas, para o que nos interessa 
aqui, o europeu se relacionou com os “outros” vendo-se obrigado a pensar a diferença. 
O momento foi crucial porque nascia de modo bem embrionário a necessidade de se 
formular um pensamento a respeito das diferenças, embora ainda de um jeito muito in-
formal e sem rigores conceituais.
Essa época, que também ficou conhecida como a era da “Descoberta do Homem e do 
Mundo”, deve-se destacar igualmente que não foi importante apenas porque o homem 
europeu conheceu e se deparou com outras culturas.
Mas, porque ao olhar os “outros” obrigava-se a olhar para dentro, o que o levou a desco-
brir a si mesmo e a questionar alguns de seus valores e atitudes.
Mais um passo de expansão e domínio da cultura europeia ocidental frente às demais ex-
pressões culturais fora dado, o que para diversos autores também se insere no processo 
de globalização.
O choque cultural propiciado pelo “outro” novamente veio à tona. No entanto, já não era 
mais calcado em uma visão de mundo religiosa, mas científica, na qual o cientificismo 
deveria explicar o mundo. Surgia a Antropologia, com a preocupação de compreender e 
elucidar o funcionamento das diferentes culturas.
Para refletir
O discurso sobre o “outro”, na verdade, começará a ganhar corpo em outro mo-
mento importante para os europeus, quando houve uma reestruturação das suas 
áreas coloniais. Dessa forma, se a época dos descobrimentos, na Modernidade, 
inaugurou o colonialismo, o século XIX, na contemporaneidade, com a suprema-
cia dos países capitalistas industriais, daria início a outro tipo de contato que ficou 
conhecido como Neocolonialismo ou Imperialismo. Foi o momento em que de-
terminadas áreas do globo ainda não tocadas ou tocadas de forma muito super-
ficial por aquele primeiro processo de dominação, o colonialismo, passaram a ser 
controladas pelos países europeus, sobretudo na África e na Ásia.
25
Questão esta que tinha a preocupação de hierarquizar as culturas. No bojo desse proces-
so, surgiu o conceito de Evolucionismo Social. O termo “Evolucionismo” havia sido cunha-
do naquele mesmo século pelo cientista natural Charles Darwin e tentava explicar por 
meio de uma metodologia científica a origem e a evolução das espécies, que, em suma, 
poderia ser resumida ao fato de que somente as espécies mais bem adaptadas ao meio 
ambiente evoluem e por conta disso se perpetuam no tempo conseguindo se reproduzir 
e transmitir as suas características para as futuras gerações.
A ideia do evolucionismo foi levada para a Antropologia que acabou por formular a ideia 
de que a cultura europeia ocidental era mais desenvolvida, mais civilizada que as demais. 
A noção de progresso passou a guiar as análises antropológicas e as sociedades foram 
classificadas de acordo com o seu grau de evolução.
Alguns antropólogos evolucionistas observavam o caminho que levou as sociedades do 
primitivismo à civilização. Para isso identificavam em seu seio a existência de estruturas 
políticas formais. A humanidade teria percorrido um caminho de sociedades sem Estado, 
portanto sem política, até o aparecimento de sociedades possuidoras de Estados comple-
xos, centralizados, hierarquizados e ordenados, tal qual os europeus do século XIX. Mas, as 
sociedades primitivas, na infância da humanidade, não teriam desaparecido nos oitocentos, 
elas estariam naquelas áreas coloniais (África e Ásia), onde uma série de características 
negativas, aos olhos dos europeus, lhes eram atribuídas como a barbárie, o paganismo, o 
atraso, a ignorância (falta de ciência) etc. Como dever civilizacional, cabia aos países euro-
peus civilizados, na fase madura da humanidade, o ônus de “salvá-las” do atraso, levando à 
civilização. Tal visão caracteriza um olhar etnocêntrico, uma vez que estabelece como fator 
mais importante da cultura o elemento político, que seria universal e não particular.
Apesar dos problemas etnocêntricos apontados, Everardo Rocha (1984) observa um 
ponto positivo a respeito dessa visão evolucionista. Essa antropologia do século XIX, 
no que pese ter tachado o “outro” de primitivo, reconheceu que o mesmo fazia parte da 
natureza humana, tal qual o europeu.
Uma das formas de expressão do etnocentrismo é a intolerância. Essa, por sua vez, nada 
mais é do que a não aceitação de qualquer elemento ou contato com o “outro”.
Movimentos de intolerância podem ocorrer nas mais variadas escalas, seja por exem-
plo pelo genocídio de um povo (localizado dentro ou fora das fronteiras do Estado-
-nação a que pertenço) ou na perseguição ao meu vizinho que professa uma religião 
diferente da minha.
A resposta dada pelos que sofrem a intolerância também se apresenta diversa. Pode re-
sultar ainda em mais violência, desde a simbólica até a física, ou no silêncio total da vítima.
26
Diversidade: o desafio contemporâneo da 
coexistência plural
Vamos iniciar este tópico enfatizando que nós que vivemos em uma sociedade contem-
porânea temos um desafio, qual seja: a construção de uma sociedade na qual possa 
existir e se manifestar de modo pacífico as diferentes expressões culturais. Para isso, al-
gumas barreiras devem ser vencidas, como o etnocentrismo que se manifestana intole-
rância, como visto na aula passada. Desse modo cabe à sociedade desenvolver políticas 
públicas que atuem na questão apontada.
Porém, para pensar essas questões alguns pontos têm que ser revistos e derrubados. 
Um dos quais é a herança que ainda temos hoje da importância do tempo, ou melhor, 
da história, como uma linha evolutiva teleológica. Como vimos na aula passada, era por 
meio do tempo que se poderia visualizar o desenvolvimento dos povos/culturas na esca-
la civilizacional.
Ao abandonarmos essa noção, podemos entender que cada uma das sociedades e de 
suas culturas são uma expressão do particular. O fato abre espaço para a relativização 
das sociedades/culturas, na medida em que cada uma caminharia por trilhas que lhes 
seriam próprias e únicas. Desse modo, por exemplo, pode-se entender que ao contrário 
da noção de tempo linear, baseado em causas e consequências que possuímos, diversas 
sociedades produziram, produzem e produzirão outras relações com o tempo.
Algumas de modo circular, em que características vão e vem de forma natural. Ou-
tras trabalham com o tempo espelhado, ou seja, um tempo “perfeito” anterior a esse 
vivido, que deve servir de espelho (modelo) e, portanto, sempre sendo reproduzido.
O processo é muito difícil e por vezes impossível de ser compreendido. Afinal, estamos 
acostumados com esse tempo linear e que não tem volta, o que torna bastante difícil 
visualizar um tempo circular em que as coisas se repetirão.
A questão abre uma discussão: como lidar com essas diferenças? As análises e as ferra-
mentas analíticas precisam dar conta dessa complexidade de sociedades/culturas. No-
vos conceitos precisam ser formulados, velhos conceitos precisam ser esquecidos ou 
(re)formados. É esse processo que permitirá um novo olhar para o “outro”, para que se 
possa entendê-lo por ele mesmo, e não explicá-lo por nós. De tal modo que não se bus-
27
cam mais leis gerais, mas sim interpretar a maneira pela qual as inúmeras sociedades 
procuraram viver suas vidas, ou seja, produziram suas próprias culturas.
Conhecer essas culturas é fundamental porque são experiências sociais e culturais do 
vivido que podem servir de modelos alternativos à nossa própria sociedade e cultura. 
O “outro” então ganha um novo patamar. Deixa de ser o que precisa ser “educado”, 
“civilizado” para ser o que pode nos ensinar a construir uma sociedade melhor. Deve-
-se destacar aqui que também está por se (re)fundar o conceito de cultura. Ou seja, a 
abertura para que o “outro” também seja produtor de cultura, a criação de sentidos e 
significados criados pelos homens para os seus atos, desde os mais simples e banais 
aos mais complexos.
Esses significados aprisionam seus produtores de modo que orientam as suas ações. 
É por meio da análise desses significados que se pode extrair dados sobre determinada 
sociedade, que evidenciaram quem ela é, o que pensa, o que faz.
Esses ensinamentos são importantíssimos para que se possa na con-
temporaneidade construir sociedades que respeitem a diversidade cul-
tural com a implementação de uma coexistência plural. 
Para isso, devemos levar essa visão para diversos níveis de escala. Sejam as internacio-
nais, as interétnicas, na relação com o colega de trabalho, com o vizinho etc. O que co-
mumente não é feito! Tal mecanismo permitirá que os indivíduos pertencentes à “minha” 
sociedade ou às “outras” sociedades reconheçam que as diferenças entre ambos são 
escolhas, dentre infinitas possibilidades, e que respeitá-las é um ato de generosidade e 
de humanidade. Só assim se poderá romper a visão hierarquizante das culturas pertinen-
tes, a visão etnocêntrica.
Todavia, para que se construa um mundo mais plural, há a necessidade de se desenvol-
ver políticas públicas que tenham esse objetivo. Elas não pairam no ar, no etéreo, são 
formuladas por indivíduos, que estão inseridos nessas mesmas sociedades nas quais as 
políticas irão atuar. Desta feita, é desnecessário sublinhar que todas as características da 
sociedade contemporânea, mesmo aquelas que se queira combater, estarão presentes 
nas referidas políticas. 
Nesse sentido, a diversidade cultural entra na ordem do dia no mundo contemporâneo. 
28
Mas levar em consideração que a diversidade cultural deve ser um bem universal, ou 
seja, algo buscado por todos enseja a manutenção do mesmo problema presente na 
globalização, qual seja: como lidar com a relação entre o global e o fragmentado?
No seio dessa discussão uma questão a ser observada é que algumas conotações que 
nos parecem universais, tais como muitas das combatidas pelos que lutam a favor da 
diversidade cultural, surgiram dentro de expressões culturais ocidentais, portanto de cul-
turas fragmentadas que se tornaram globais, porém calcadas no etnocentrismo. Desse 
modo, até que ponto “direitos humanos”, “democracia”, “desenvolvimento material”, “de-
senvolvimento tecnológico”, “cientificismo”, “competição”, “racionalidade”, “empreendedo-
rismo”, “mercado” etc. devem ser valores globais?
Tais valores não evidenciariam relações de poder de quem os define? Não seriam uma 
expressão da capacidade das sociedades ocidentais em definir o que é desejável para as 
demais culturas, impondo um etnocentrismo disfarçado e solapando as diferenças cul-
turais? Essa imposição de valores globais não caracterizaria um monopólio cultural? Não 
seria um meio de (re)produção das elites globais? Tais questionamentos foram feitos de 
forma brilhante pelo antropólogo Gustavo Lins Ribeiro (2009).
Para refletir
Walter Mignolo (2000) destacou que esse fenômeno pode ser chamado de “di-
versalidade”, ou seja, um projeto universal de respeito às diversidades que se 
apresenta como uma alternativa contrária ao movimento de homogeneidade 
cultural que expressaria os interesses das classes globais hegemônicas. A “di-
versalidade” seria a compreensão de que a diversidade cultural é a chave para 
a criatividade, a busca de uma sociedade cosmopolita crítica que procura dialo-
gar com o particular e o global, e não a adoção de um modelo que se pretende 
único para toda a humanidade.
29
Todavia, dentro desse quadro há uma tensão fruto de sua ambiguidade, visto ser muito 
difícil (re)conciliar valores globais com os particulares, devido aos diferentes processos 
históricos e culturais existentes. O discurso de solidariedade faz com que esse particula-
rismo seja o mais facilmente aplicável, tanto para quem defende o processo de globali-
zação como para quem luta contra ele. São adotados por instituições de alcance global, 
que podem ser divididas em duas esferas. Por isso a busca pela valorização da empatia 
e do respeito a um mundo cada vez mais multicultural.
Resgatando a questão proposta, em relação ao modo de lidar com o global e o 
fragmentado, Ribeiro (2009) aponta que a melhor saída seria o que chamou de 
“particularismo cosmopolita”. Um discurso que traz em si as questões globais 
e que tem a pretensão de ser incorporado pelas outras culturas. A ideia “cos-
mopolita” se insere no que foi dito acima, um conceito europeu que se pretende 
universal, enfatiza um conjunto ou uma determinada característica que extra-
pola as fronteiras nacionais e se impõe ao globo. Encara a diferença cultural de 
forma positiva e luta para que essas diferentes sociedades consigam estabele-
cer diálogos e trocas de modo igualitário, criando solidariedade entre os povos.
Importante
Para ampliar o seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 1, 
disponível na midiateca.
MIDIATECA
30
Hoje nas redes sociais observamos cada vez mais a necessidade de empatia 
e valorização da diversidade cultural. Isso reduziria uma cultura do ódio que se 
propaga nesses espaços, do desrespeito, da falta de ética e cidadania. Ser um 
sujeito global, não é só ser capaz de ter acesso ao avanço científico e tecno-
lógico presente num mundo que se socializa cada vez mais de forma digital. 
Demanda de cada um de nós dialogar com a cultura e coexistência plural.
NA PRÁTICA
31
Resumo daUnidade 1
No primeiro momento trabalhamos os aspectos da cultura e da identidade cultural 
e seus desdobramentos impulsionados pela sociedade cada vez mais globalizada. 
Em seguida, trabalhamos os conflitos provocados pela intolerância e etnocentrismo. 
Por fim, discutimos os desafios de viver a diversidade na sociedade contemporânea.
Trabalhamos os conceitos de cultura, identidade cultural, memória e narra-
tiva cultural e etnocentrismo, diversidade cultural
CONCEITO
32
Referências 
CHICARINO, Tathiana (Org.) Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson Prentice 
Hall, 2014.
DAMATTA, Roberto. Você tem cultura? Artigo publicado no Jornal da Embratel, RJ, 1981.
DAMATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Prefácio do 
livro de mesmo nome, 2007.
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade?. In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade 
e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 103-133.
NEVES, Margarida de Souza. Nos compassos do tempo. A história e a cultura da memó-
ria. In: SOIHET, Rachel; ALMEIDA, Maria Regina Celestino de; AZEVEDO, Cecília; GONTI-
JO, Rebeca (Orgs.). Mitos, projetos e práticas políticas - Memória e Historiografia. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p. 21-33.
RIBEIRO, Gustavo Lins. Diversidade Cultural enquanto Discurso Global. In: Avá, 2009, nº 15. 
RICOEUR, Paul. A memória. A história. O esquecimento. Campinas: Unicamp, 2005.
ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984.
Direitos humanos, afirmações 
identitárias e o legado sociocultu-
ral de matriz africana e de matriz 
indígena no Brasil
UNIDADE 2
34
Nesta unidade vamos estudar como podemos pensar os direitos humanos, as afirma-
ções identitárias contemporâneas e como se expressa a diversidade cultural dos inú-
meros povos indígenas existentes no Brasil. Também abordaremos a importância da 
diáspora negra africana que, entre outras coisas, foi fundamental por “fundar” as religiões 
híbridas no Brasil, comumente chamadas de afro-brasileiras, que são obrigadas, cada 
vez com mais frequência, a lidarem com a intolerância por parte de outras práticas reli-
giosas. Todo esse processo, fruto do legado sociocultural das matrizes culturais indíge-
nas e afro-brasileiras, é fundamental para a (re)construção da identidade brasileira e das 
suas identidades regionais.
INTRODUÇÃO
Nesta unidade você será capaz de:
• Reconhecer o legado sociocultural de matriz africana e indígena na composi-
ção identitária nacional e regional, em uma perspectiva de afirmação política, 
questionamento dos estereótipos no convívio social a fim de quebrar padrões 
de pensamento e julgamento do outro.
OBJETIVO
35
Direitos humanos e afirmações identitárias
A formação da democracia e da cidadania, por meio da efetivação dos 
direitos humanos é o único objeto capaz de efetivar as garantias mínimas 
dos direitos essenciais aos homens.
A cidadania deve ser compreendida como um conceito dinâmico, pois se renova e se 
altera de forma constante diante das transformações sociais, dos contextos históricos 
e das mudanças de paradigmas ideológicos. Essas alterações são fundamentais para a 
compreensão da cidadania, pois cidadão é o indivíduo que vive de acordo com um con-
junto de normas jurídicas pertencentes a uma comunidade, politicamente e socialmente 
organizada na forma de Estado, em que o exercício dos direitos e deveres civis, políticos 
e sociais estão estabelecidos na Carta Magna de seu país.
A cidadania brasileira é concedida à pessoa nascida em território brasileiro ou que solici-
ta a sua naturalização, no caso de estrangeiros.
Para refletir
Exercer a cidadania é ter consciência dos binômios formados pelos direitos e 
obrigações, garantindo que esses sejam efetivados sempre de forma interli-
gada a fim de contribuir para uma sociedade mais equilibrada e justa. Exercer 
a cidadania é, então, estar em pleno gozo dos direitos constitucionais, sendo 
preparado para isso o cidadão por meio da educação.
Art. 12 CRFB/88: São brasileiros:
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangei-
ros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;
Ampliando o foco
36
A cidadania deve ser entendida como um processo contínuo, uma construção coletiva, 
propiciadora da concretização dos direitos humanos. Sua conceituação perpassa tanto 
a situação de fato explicitada no artigo transcrito acima, como a prática da tomada de 
consciência de seus direitos e a realização dos deveres. Isso implica no efetivo exercício 
dos direitos civis, políticos e socioeconômicos, bem como na participação do bem-estar 
da sociedade. A cidadania, portanto, deve ser entendida como processo contínuo, uma 
construção coletiva, significando a concretização dos direitos humanos.
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que 
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que 
sejam registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na 
República Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada esta, optem, 
em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira;
d) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que ve-
nham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, 
pela nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional de 
Revisão nº 3, de 1994)
e) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que 
sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na 
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida 
a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Cons-
titucional nº 54, de 2007)
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos 
originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano inin-
terrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Fede-
rativa do Brasil há mais de trinta anos ininterruptos e sem condenação penal, 
desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federa-
tiva do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, 
desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
37
DEVERES DO CIDADÃO
1. Votar para escolher os governantes.
2. Cumprir as leis.
3. Educar e proteger seus semelhantes.
4. Proteger a natureza.
5. Proteger o patrimônio público e social do país.
DIREITOS DO CIDADÃO
1. Direito à saúde, educação, moradia, trabalho, previdência social e lazer.
2. O cidadão é livre para escrever e dizer o que pensa de forma não anônima.
3. Liberdade religiosa e de fé, bem como sua manifestação.
4. Liberdade de trabalho, ofício ou profissão, mas a lei pode pedir estudo e formação 
específica.
5. Liberdade patrimonial, onde cada pessoa administra seus bens da forma que 
desejar.
6. Liberdade plena de ir e vir em tempo de paz.
Ser cidadão implica não se deixar oprimir nem subjugar, mas enfrentar o desafio que for 
para defender e exercer seus direitos humanos, valores, princípios e normas que definem 
o respeito à vida e à dignidade.
E a democracia? Pode ser conceituada como o regime político em que a soberania é 
exercida pelo povo.
A palavra “democracia” tem origem no grego demokratía, que é composta por demos, 
que significa “povo” e kratos, que significa “poder”. Nesse sistema político, o poder é exer-
cido pelo povo por meio do sufrágio universal.
Compreender a união da democracia com os direito humanos é também entender a 
ligação daquela com a igualdade e liberdade, pois, desde a Grécia Clássica, a igualdade 
é um dos pilares da democracia, que pode ser traduzida no princípio da isonomia. Nas 
modernas constituições democráticas, esse princípio aparece embasando os direitoshumanos, como na Constituição Federal Brasileira de 1988:
artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natu-
reza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país 
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e 
à propriedade.
38
Esse princípio impede que, no Brasil, alguns atos abomináveis retornem e se instalem 
no seio da sociedade, tais como a escravidão, a discriminação racial, religiosa, ideológi-
ca, por conta da posição social ou, ainda, a aplicação de direitos por razões de ordem 
pessoal. Também é a base precípua, que garante a igualdade jurídica, de sufrágio e de 
acesso às oportunidades.
Contudo, a realidade mostra que, por conta das desigualdades sociais e econômicas, 
muitos cidadãos encontram-se alijados dos instrumentos necessários para usufruir ple-
namente de seus direitos, situação esta que é alterada com a educação do povo.
O segundo desdobramento da democracia é o princípio da liberdade, que 
constitui na verdade o fundamento e o fim desse sistema político. 
Os direitos de liberdade são objetivos e devem ser compreendidos de maneira ampla. 
Eles garantem desde o livre exercício das atividades físicas, intelectuais e morais, até a 
inviolabilidade do domicílio e da propriedade. Entretanto, possuem em seu âmago uma 
parcela de subjetividade, quando ocorre tutela à livre manifestação do pensamento, à 
livre locomoção, à liberdade de crença e de religião, bem como à liberdade sexual.
 
Destaca-se que, no tocante à liberdade de pensamento e de crença, ela se configura 
como um direito absoluto. Essas categorias, mesmo que sujeitas à opressão governa-
mental, não podem ser impostas, pois vivem e se desenvolvem no mundo do interno e 
pessoal. Nos demais casos, a liberdade é sempre relativa, pois encontra-se disciplinada 
e condicionada pelo Estado por meio de seu ordenamento jurídico.
Constituição do Brasil compromete-se, nos artigos 1º, 2º e 3º, com a observância da 
democracia em seu território e com a realização de seus elementos; no art. 4º, com o 
respeito aos princípios democráticos e de direitos humanos no âmbito internacional e, no 
art. 5ºe nos seguintes, define o conteúdo dos direitos e as garantias fundamentais o que 
deixa claro serem a democracia, a cidadania e os direitos humanos elementos indubitá-
veis do Estado brasileiro.
39
Uma dos formas de garantir os direitos é estabelecer marcos legais que protejam os 
direitos de todos, principalmente das minorias sociais e culturais.
Discriminações baseadas em caráter racial com distinção de cor, de raça, de sexo, de idio-
ma e de religião, assolaram a humanidade e causaram feridas em todas as sociedades. 
Os direitos humanos podem ser divididos em duas categorias:
Direitos individuais: têm como sujeito ativo um indivíduo humano.
Direitos coletivos: são aqueles que envolvem a coletividade como um todo, uma 
sociedade.
2.1 Direitos individuais homogêneos: sendo os de origem, como previstos no 
art. 81, parágrafo único, III, do Código de Defesa do Consumidor.
2.2. Direitos difusos: são aqueles transindividuais de natureza indivisível, de que 
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato, 
conforme o art. 81, parágrafo único, I do Código de Defesa do Consumidor.
Importante
Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia 
e a Intolerância Correlatas.
Esta convenção visa proteger todas as minorias de todas as formas de intolerância.
A conferência de Durban visa estimular intercâmbios entre os Estados mem-
bros, as instituições especializadas e as organizações não governamentais 
com o desenvolvimento de programas de ações para a prevenção, a educação 
e reparações, cooperações e o reforço dos mecanismos de colaborações com 
o objetivo de efetivar a luta contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia 
e a intolerância associada.
Ampliando o foco
40
Por isso na atualidade, na sociedade global, em especial na brasileira, devemos lutar 
contra o racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância correlatas e impedir 
uma nova onda de violações maciça dos direitos humanos.
Por sua diversidade, a cultura brasileira é constantemente lembrada e (re)afirmada por 
nós brasileiros, como por outras nações, como uma das mais ricas do mundo. Isso se 
deve ao nosso processo de formação histórico e ao seu corolário, ou seja, ao proces-
so de hibridização que ocorreu ao longo daquele processo de várias culturas, dentre as 
quais se destacam três grandes vertentes: a indígena, a portuguesa e a africana. No en-
tanto, com bastante frequência, essa positividade se dá apenas no campo do discurso. 
Na prática, seja pela ausência e/ou pela incompetência das políticas públicas, desenvolvi-
das pelas diversas esferas do poder público, seja o municipal, Estadual ou federal, ou até 
mesmo por ignorância e pelo desleixo de entidades privadas e de indivíduos isoladamen-
te, essa visão não se dá de forma objetiva. Manifestações culturais, que fogem do padrão 
hegemônico (branco, ocidental, jovem, masculino e cristão), são comumente vistas de 
modo intolerante pela sociedade como um todo, gerando conflitos simbólicos e físicos. 
No Brasil, um dos pontos de partida para superar essa intolerância é conhecer a expres-
são de nossa diversidade cultural.
Deveres dos Estados-membros:
• Impedir manifestações de racismo, discriminação racial e xenofobia, espe-
cialmente em relação a migrantes, refugiados e requerentes de asilo.
• Promover uma maior participação e oportunidades para as pessoas de ori-
gem africana e asiática, os povos indígenas e os indivíduos pertencentes a 
minorias étnicas, religiosas e linguísticas.
• Garantir que a discriminação não contamine de forma aberta ou velada o 
acesso ao emprego, aos serviços sociais e aos cuidados de saúde.
• Efetividade máxima da liberdade de expressão com a proibição da incitação 
ao ódio.
• Proibição de atividades violentas, racistas e xenófobas de grupos que te-
nham ideologias de supremacia.
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Identidades de gênero e orientação sexual: o sexismo e a 
homofobia em debate. As tensões geracionais: conflitos e 
convivência social
Observamos duas tensões existentes na contemporaneidade. A primeira de caráter etá-
rio e a segunda de caráter de gênero.
Como vimos, a identidade cultural de uma classe/grupo/povo/indivíduo é dinâmica, já 
que absorve ou reforça suas características identitárias de modo a dialogar com as ques-
tões que se colocam no presente. Uma dessas identidades culturais está ligada ao cará-
ter etário e geracional dos indivíduos, a qual gera conflitos que comumente chamamos 
de “choque de gerações”.
Identidade cultural geracional, você sabe o que é?
A identidade cultural geracional está intimamente relacionada ao tempo, assim como à 
própria vida de seus membros. Em se tratando de pessoas, nada mais natural que o ve-
lho dito popular: nascer, desenvolver, reproduzir e morrer. Para fechar esse ciclo natural, o 
indivíduo nasce como um bebê, reproduz-se quando atinge a fase adulta e morre quando 
já é idoso. O ciclo também nos remete a um processo natural, ou seja, de que o indivíduo 
jovem hoje se tornará idoso amanhã. Esse ciclo nos permite refletir: será que a identidade 
cultural não está ligada a essas etapas da vida, as quais reforçariam o caráter dinâmico? 
Uma das questões que iremos tratar, aqui, é exatamente a tensão que se apresenta hoje 
na sociedade contemporânea a respeito dos choques de geração. Uma tensão que gera 
conflitos nos quais, em sua grande parte, os idosos saem derrotados.
Parte desses problemas e conflitos geracionais tem origem nos valores que são consi-
derados positivos em nossa sociedade. Em nosso mundo contemporâneo, baseado no 
avanço da tecnologia e no desenvolvimento industrial, atribuímos aos idosos as imagens 
de um passado que deve ser negado pelo jovem no presente, posto que já superado, 
sendo, portanto, inútil. O futuro também se torna problemático por conta da incertezada vida. Os jovens veem nos idosos doentes, fracos fisicamente, senis etc. o seu próprio 
futuro. Dessa forma, os afastam ou até mesmo os exterminam como se estivessem ex-
tirpando esses problemas de si mesmos.
Contudo, quem são os idosos no Brasil?
42
Segundo o Estatuto do Idosos (Lei nº 10.741/2003), são considerados idosos as pessoas 
com mais de 60 anos. Esses possuem a prerrogativa de que seus direitos sejam resguar-
dados pelo Estado juntamente com os demais cidadãos.
Como se sabe, as leis só são criadas quando existe um problema a ser solucionado. Sen-
do assim, se, em nossa sociedade, tal questão, a exclusão do idoso, não se apresentasse, 
ou seja, se esses atores tivessem seus direitos respeitados, tal lei não seria necessária.
Todavia, no que pese a existência de um grupo de pessoas, que se chamam de idosos, 
definido por sua faixa etária, esse não possui uma identidade homogênea e sim plural. 
Ao contrário de outras identidades, a do idoso não é construída por uma memória cole-
tiva do grupo a que pertence, não faz parte de um “grupo minoritário” e não é construída 
em uma relação de oposição. Ela é associada ao mundo do trabalho, ou seja, quando se 
atinge uma determinada idade na qual é possível se aposentar e sair do mundo laboral. 
Porém, ser idoso é mais do que isso!
A categoria idosa, como todos as categorias, é histórica. Portanto, ser idoso, hoje, não 
significa ser idoso em outros períodos históricos, que, por exemplo, poderiam nem ter 
essa categoria. Por outro lado, em nossa sociedade contemporânea, cada um dos ido-
sos, ao passar por aquele ciclo natural descrito acima, o faz de maneira diferente. Cada 
um deles passa por experiências únicas, que serão fundamentais para a criação de sua 
identidade cultural de idoso.
Deve-se destacar que essa identidade cultural também opera de acordo com os variados 
contextos sociais. Assim, envelhecer para as mulheres não significa a mesma coisa do 
que para os homens. Tornar-se maduro para as classes mais abastadas economicamen-
te não é o mesmo que tornar-se maduro para as classes menos abastadas economi-
camente. Por outro lado, o indivíduo pode ser visto como “velho” no seio de sua família, 
enquanto no âmbito laboral não.
A questão geracional no Brasil começou a se tornar mais patente nos anos de 1990, 
quando o crescimento demográfico evidenciou a grande quantidade de idosos, que co-
meçavam a se movimentar para que seus direitos fossem respeitados. Todavia, discus-
sões conceituais apareceram muito lentamente e, consequentemente, muitos dos pro-
blemas, a que esses personagens passavam ou passam, não eram abordados, como, 
por exemplo, a violência, sobretudo a empreendida contra a mulher idosa.
Como compreender a questão da sexualidade?
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Michel Foucault (1984), um dos sociólogos mais respeitados, defendeu que, na moder-
nidade, a característica mais importante para definir a identidade seria a sexualidade. A 
identidade sexual seria uma das mais importantes, visto que ela atua diretamente no cor-
po do indivíduo e em sua faceta mais íntima e privada. Ao mesmo tempo, o corpo sexual 
seria a menor escala local que dialoga com as escalas globais. O processo de globali-
zação, como vimos, redefiniu as identidades, uma das quais a sexual, e como resposta 
a ele, o par da identidade sexual (homem e mulher) se acentuou. Por outro lado, dentro 
desses polos, houve uma fragmentação. Assim, não há mais “homens” e sim “homens” 
de diferentes etnias, religiões, classes sociais etc. Dito isso, para compreender a cultura 
na contemporaneidade, deve-se analisar a construção da identidade sexual.
O que nos resta perguntar é: no mundo contemporâneo, essas identidades binárias são 
suficientes para entender as identidades sexuais dos indivíduos? Para a caracterização de 
um desses polos, basta dizer que ele “é” o que o “outro” não “é”? Essas duas identidades 
dão sentido a todas as pessoas que vivem em um sem número de sociedades? Porém, não 
seriam as identidades dinâmicas, de modo que as identidades sexuais também seriam?
As identidades são requisitadas por quem as têm, sendo construídas de forma dialógica 
com as estruturas e relações de poder existentes em uma determinada sociedade e que 
operam contra a desigualdade e a opressão. Nesse sentido, com a globalização na con-
temporaneidade tornando-se cada vez mais intensa, cabe a pergunta: a quais interesses 
respondem a definição das identidades sexuais binárias?
Definir novas identidades sexuais não interessa aos homens (heterossexuais). Contudo, as 
outras identidades sexuais que surgem respondem às necessidades dessas categorias?
Mesmo a identidade sexual bipolar pode ser realmente válida? O indivíduo caracterizado 
como homem é, em todos os contextos, só homem?
Foucault (1984), ao estudar a história da sexualidade, concluiu que essas identidades 
fechadas começaram a ser elaboradas depois do século XVIII. Assim, deve-se subli-
nhar que essa identidade sexual fora construída, não sendo natural. Para edificá-las, é 
fundamental dominar a língua na qual se fala e o discurso sobre esse processo. Por 
isso, dominar a palavra, que resultará em um conceito, é fundamental não apenas para 
definir a sua identidade sexual, mas a dos outros também, o que se expressa em uma 
relação de poder.
As pessoas tornam-se homossexuais nas sociedades contemporâneas, como sublinha-
ram Peter Fry e Edward MacRae (1985), devido a pressões sociais, visto que atuam na 
44
sociedade de modo a não se enquadrarem nas identidades sexuais binárias (homem e 
mulher). Os autores vão chamar a atenção para o fato de que as explicações a respeito 
de como uma pessoa se torna homossexual (seja religiosa, biológica, científica etc.) são 
expressões de ideologias, portanto, desnecessárias de serem sublinhadas, eivadas de 
conflitos e de relações de poder. Elas são muito mais reflexos de outros contextos sociais 
do que da homossexualidade em si.
Essas pressões sociais acabam, por meio de seus diversos atores, produzindo discursos 
confusos a respeito das práticas sexuais, que têm, em seu bojo, a preocupação de formu-
lá-los para reproduzir a dominação vigente, de modo que é necessário revê-los. A ques-
tão tem tido bastante visibilidade na contemporaneidade, em um mundo que viu explodir 
o (re)surgimento de identidades. Inclusive, atualmente, o combate à homossexualidade é 
tido como uma violação dos direitos humanos.
Inclusão, deficiência e contexto social: possibilidades e 
desafios das políticas de acessibilidade
No mundo contemporâneo, também temos outros conflitos culturais que são menos ex-
plícitos do que os que foram trabalhados até aqui. Isso se deve ao fato de que a violência, 
que ocorre em seu interior, é muito mais simbólica do que física. É o caso dos indivíduos 
que possuem algum tipo de deficiência e que, por conta disso, têm dificuldades de serem 
incluídos em um contexto social mais amplo, sendo-lhes negado a acessibilidade, não ape-
nas por conta da ausência de políticas públicas que tenham esse objetivo, mas também 
quando elas existem, mostram-se totalmente ineficazes, o que por si só já seria um reflexo 
da atenção que a sociedade demanda para a questão e para quem sofre essa violência.
Nos últimos anos, um dos temas correntes em relação ao respeito à diversidade se dá 
com a discussão em torno da questão da acessibilidade das pessoas portadoras de al-
gum tipo de deficiência, um dos direitos básicos reconhecidos por inúmeros países em 
acordos e documentos internacionais.
Porém, o que seria “deficiência”?
A Organização Mundial da Saúde – OMS, por meio da Classificação Internacional da 
Funcionalidade – CIF (2001, p. 13), definiu “deficiências” como “problemas nas funções 
ou nas estruturas do corpo, tais como, um desvio importante ou uma perda”.
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Deve-se destacar que não se classifica pessoas, mas sim características relacionadas 
a determinadas particularidades da saúde. Sendo assim, temos pessoas portadoras de 
deficiência e não pessoas deficientes.
Ao observarmosa história da humanidade, vemos que, em seu percurso, houve diversos 
episódios nos quais os portadores de deficiência física ou mental sofreram inúmeros pro-
cessos de violência, seja física ou simbólica. Na contemporaneidade, infelizmente, também 
mantemos esse processo, seja porque (re)construímos estigmas e estereótipos para es-
ses atores e/ou porque eles não se enquadram nos estigmas e estereótipos considerados 
ideais. Tal fato leva-nos a adotar ações negativas contra esses agentes, calcadas na discri-
minação, levando-os à exclusão social dos inúmeros espaços de vida coletiva.
A pessoa com deficiência*, antes mesmo de ir para uma escola, já sofre em uma socieda-
de pautada pela exclusão quando de seu nascimento, na sua própria família, independen-
temente do tipo de família ao qual estejamos nos referindo, sejam as ditas heteroafetivas, 
as homoafetivas, as poliafetivas, as com maior ou menor escolaridade, as mais bem 
estruturadas ou as menos estruturadas economicamente, embora essas últimas sejam 
as que sofrem mais.
Os primeiros a se depararem com uma pessoa portadora de deficiência são os pais, que 
logo se fazem uma série de perguntas, algumas das quais incidem sobre o futuro de seus 
filhos quando eles tiverem falecido. Como será a interação social de seus filhos na socie-
dade, também é outra indagação bastante comum. Os pais não estão preparados para 
lidar com a questão, porque os profissionais que os cercam enfatizam, em seus diagnós-
ticos, as limitações das deficiências de seus filhos e raras vezes informam como esses 
poderiam se desenvolver para vencê-las. Por outro lado, em termos sociais, as mídias 
pouco falam a esse respeito ou quando o fazem é de modo bastante superficial e precon-
ceituoso, afinal, elas também são um reflexo dos valores que imperam na sociedade.
Nesse processo, os pais são fundamentais, já que serão os grandes responsáveis por 
fazer a mediação entre seus filhos e a sociedade, sendo que esses também precisam de 
ajuda especializada.
Um passo extremamente importante é criar mecanismos e instituições que fortaleçam, 
de fato, os direitos dessas pessoas. Para tal, devem ser direcionadas mais verbas ao 
setor, que naturalmente seriam aplicadas na contratação de profissionais capacitados 
a atuarem nas inúmeras áreas. Além disso, deve-se abrir espaço para que os próprios 
indivíduos portadores de deficiência também participem do processo de decisão.
* O termo pessoa com deficiência foi estabelecido pela Lei Brasileira de Inclusão no seu artigo 2º. Link da lei: http://
www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm
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A mídia deve ser chamada a participar de modo mais positivo, promovendo ações inclu-
sivas e mostrando, em seus canais, atitudes positivas a respeito dessa parcela da popu-
lação. Ela deve ter, em seu interior, equipes de análise e crítica dos conteúdos produzidos 
que atuem juntamente com os conselhos de defesa da pessoa portadora de deficiência, 
evidenciando, assim, possíveis erros que possam cometer.
Por último, cabe lembrar que, para a criação de uma sociedade em que se respeite a 
diversidade cultural, esses personagens, como todos os outros, independentemente 
de suas características culturais, carecem de ser incluídos na sociedade e, por conta 
disso, necessitam ter acesso a todos os recursos gerados por ela. Além disso, a inclu-
são e a acessibilidade dos portadores de deficiência significam também um fator de 
ordem econômica, visto que eles podem e devem ser inseridos no sistema produtivo 
de nossa sociedade, o que fatalmente diminuiria o seu custo social para com esses 
agentes. Portanto, o problema de inclusão não é apenas individual, nem familiar, mas 
de toda a sociedade.
47
A expressão da diversidade cultural indíge-
na: a construção do conceito de etnia. Movi-
mentos identitários indígenas na formação 
da identidade nacional
Vamos iniciar nosso tópico 2 pensando o cenário da população indígena. No Brasil, segun-
do o censo de 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 
existem hoje 896 mil indivíduos que se declaram indígenas. Esse quantitativo confirma 
um crescimento que já se apresentava expressivo no censo que foi realizado em 1991. Na-
quele ano, havia 294 mil indígenas no Brasil. No censo seguinte, em 2000, contabilizou-se 
743 mil indígenas. Esse crescimento pode ser melhor visualizado em um gráfico.
População indígena segundo os censos do IBGE de 1991, 2000 e 2010.
Fonte: IBGE.
O crescimento não se deu única e exclusivamente por características demográficas, ou 
seja, pelo fato de que nasceram mais indivíduos do que morreram, mas porque mais pes-
soas passaram a se reconhecer como indígenas, em especial, nas áreas urbanas. Pelo 
senso comum, tal processo é bastante difícil de se compreender, uma vez que se associa 
as culturas indígenas ao meio rural, pois entende-se que, se o indígena se desloca para a 
cidade, deixando para trás sua aldeia, ele deixaria de pertencer a alguma etnia indígena.
1000
900
800
700
600
500
400
300
200
1991 2000
População indígena 
no Brasil em mil
2010
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Etnia
O conceito de etnia começou a ser construído a partir do momento em que se criticava 
o conceito de raça, já no século XIX. Tais conceitos, por vezes, são utilizados como sinô-
nimos, quando, na verdade, não são. Etnia apareceu nas ciências sociais, no século XIX, 
para definir um grupo de indivíduos que tinham a mesma língua e os mesmos costumes. 
Esse conceito foi criado pelo antropólogo francês Vacher de Lapouge para definir tudo 
o que dizia respeito às características culturais, portanto, inventadas pelos homens, em 
oposição à raça, que eram as características físicas, assim, natural, herdadas pelos ho-
mens. Contudo, o conceito ficou mais refinado com a definição proposta pelo sociólogo 
alemão Max Weber. Segundo esse autor, os grupos étnicos acreditam que possuem a 
mesma origem cultural, enquanto a raça é definida por sua origem cultural e biológica, 
logo, natural.
O que se deve destacar é que a definição, proposta e mais aceita pelos cientistas sociais 
a respeito da etnia, indica-nos que a questão natural (biológica) está longe de ser a mais 
importante, ou seja, o fato de ter uma origem em comum real que determinaria o perten-
cimento a uma determinada etnia. Sendo capital, na verdade, o fato de que os indivíduos 
compartilham e acreditam que possuem uma origem comum, corroborada pelo fato de 
terem costumes e atos semelhantes, tais como religião e língua, o que chamamos de 
cultura. Ela é, portanto, uma construção daquele grupo e, para que continue a existir, seus 
membros devem sempre acreditar nessa crença e se sentir pertencentes a ela.
Esse conceito vem sendo denunciado por alguns antropólogos como etnocêntrico, uma 
vez que é aplicado nas sociedades primitivas (tribais) em oposição ao conceito de Nação 
(com N maiúsculo) para os “Estados civilizados”.
Esses indígenas falam 274 línguas e pertencem a 305 etnias diferentes. Tais 
números precisam de um estudo mais aprofundado, uma vez que algumas 
das línguas declaradas podem ser variações, assim como as etnias podem ser 
subgrupos étnicos. Apesar desses ajustes, os números são importantíssimos 
e já nos mostram uma característica muito importante, que costuma passar 
desapercebida. Ou seja, não é possível falar de uma cultura indígena, mas sim 
de culturas indígenas.
Ampliando o foco
49
O conceito, no entanto, é extremamente importante, porque tem sido utilizado de forma 
bastante objetiva. Sendo assim, têm sido reivindicado direitos específicos pelo fato de o 
indivíduo pertencer a um grupo étnico específico, ou seja, de o grupo ter uma identidade 
étnica (etnicidade) particular. Se por um lado o conceito pode ser positivo, por conta do 
que acaba de ser exposto, por outro lado, ele pode ser negativo, uma vez que acaba por 
reafirmar o etnocentrismo. Tal problema ocorre porque, ao fazer com que o indivíduo se 
insira em uma determinada etnicidade, isso pode levá-lo a atitudes de repulsão

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