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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO FAVENI BIOTECNOLOGIA ÉRICA AMADIO IERIC A TRAJETÓRIA DA AGRICULTURA NO BRASIL E OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA AGRICULTURA COMERCIAL. SOROCABA 2021 2 TÍTULO DO TCC: A TRAJETÓRIA DA AGRICULTURA NO BRASIL E OS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA AGRICULTURA COMERCIAL. Érica Amadio Ieric1 Declaro que sou autor (a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços). RESUMO O presente trabalho tem como proposta contextualizar a trajetória da agricultura desde a sua origem a milhares de anos até o momento atual, dando ênfase para as primeiras formas de cultivo e a evolução da agricultura brasileira de modo a atender a demanda proveniente da expansão populacional, além de apontar os impactos ambientais gerados pela mecanização das lavouras. Através de uma revisão literária o autor buscou de forma sucinta abordar aspectos gerais dos principais meios de cultivo no Brasil e expor que mesmo apontando forte crescimento econômico, a modernização de determinado meio de cultivo pode ser nociva ao meio ambiente e a saúde humana. PALAVRAS-CHAVE: Agricultura. Impacto ambiental. Mecanização. 1 Aluna do curso de Pós-graduação em Biotecnologia da Faculdade Venda Nova do Imigrante – FAVENI, Sorocaba, 2021. 3 1. INTRODUÇÃO A agricultura está fortemente ligada ao nosso cotidiano, visto que é através dela que garantimos a subsistência alimentar da humanidade, a agricultura tem como premissa a utilização de diferentes métodos e técnicas de cultivo no solo, para que uma variedade de vegetais comestíveis chegue até nossa mesa. As técnicas de cultivo tiveram seu surgimento a milhares de anos atrás, considerada uma das práticas mais antigas da humanidade. De modo geral, a agricultura desde o seu surgimento sempre visou em atender as demandas de obtenção de recursos energéticos de outras civilizações. Atualmente, a agricultura torna-se cada vez mais importante, não só para cultivo de vegetais para alimentação humana, mas também para alimento para diversas espécies animais. Além disso, os alimentos produzidos no campo possuem grande valor econômico, fazendo a engrenagem da economia mundial girar, visto que eles não abastecem apenas o setor primário, como também o secundário através do fornecimento de matérias-primas. Por tanto, o presente trabalho visa fazer uma retrospectiva da origem da agricultura até o momento, através de revisões bibliográficas de periódicos e livros que abordam a temática, de modo a relatar sua evolução e a importância socioambiental, não deixando de fora os avanços tecnológicos que vem favorecendo os meios de cultivo no campo e consecutivamente gerando impactos ambientais. O presente trabalho torna-se importante ao revisitar a importância do principal método de obtenção de recursos alimentares que garante a subsistência da humanidade desde as primeiras civilizações até o prezado momento. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Ecologia e agricultura Ao pensarmos no desenvolvimento e perpetuação da agricultura ao longo de centenas de anos, é preciso contextualizarmos com o que possa ter dado origem a necessidade de uma determinada população em obter recursos alimentares através das plantas. O planeta Terra originou-se há mais de 4,6 bilhões de anos, entretanto, 4 somente há 3,5 milhões de anos as primeiras formas de vida foram surgindo (MOZOYER; ROUDART, 1997). De 3,5 milhões de anos até os dias atuais, surgiram centenas de milhares de espécies, graças aos processos evolutivos. Entretanto, muitas dessas espécies ainda são desconhecidas por nós, visto que, centenas delas desapareceram com o passar dos anos por diferentes fatores e/ou ainda não foram descobertas (MOZOYER; ROUDART, 1997). A agricultura e a ecologia estão fortemente correlacionadas, por isso, ao pensarmos na agricultura ao nível global ou local, torna-se imprescindível tomarmos notas sobre conceitos gerais da ecologia e a diversidade de espécies vegetais. Segundo o relatório produzido pelo State of the Plants (2016), há cerca de 390.900 espécies de vegetais que já foram catalogados, entretanto, sabemos que esse número pode ser muito mais expressivo, visto que, a cada ano que passa, os pesquisadores identificam novas espécies. Ainda em termos básicos da ecologia, quando pensamos em populações, elas são compostas por indivíduos de uma mesma espécie, viventes em determinado tempo e local. As poluções estão inseridas em nichos ecológicos, contanto muitas vezes, com diversidades de organismos viventes ali, como, por exemplo, os hominídeos, animais e vegetais (MOZOYER; ROUDART, 1997). No que lhe concerne, os vegetais não demandam de tantos recursos como os hominídeos e animais, visto que, conseguem atender suas próprias demandas através de substâncias orgânicas presentes na luz solar, no solo, na água e na atmosfera, conhecidos então, como seres autotróficos. Diferente dos animais e hominídeos, conhecidos como heterotróficos, visto que precisam obter seus recursos energéticos provenientes do consumo de animais ou de espécies vegetais, por isso, subentende-se a necessidade da agricultura para o desenvolvimento de populações (MOZOYER; ROUDART, 1997). 2.2. Agricultura – um panorama geral. A atividade agrícola está fortemente associada à perpetuação de comunidades humanas em determinados locais, visto que seu desenvolvendo um papel fundamental para a expansão dos povos. De acordo com Mozoyer & Roudart. (1997) isso permeia desde 10.000 anos. Povos localizados no norte da África e oeste da Ásia 5 foram abandonando progressivamente à caça para dar espaço para os cultivos de grãos. Datava-se então, o início do cultivo de terra, que mais tarde conheceríamos como agricultura (EHLERS, 2009). Se regressarmos um pouco na história, podemos notar que os primeiros hominoideos, desde o homem de neandertal até antropoides de eras mais recentes, tinham como modo de vida, a captura de alimentos silvestres, sejam eles através da caça de animais e/ou coleta frutas silvestres, onde eram denominados caçadores- coletores (FELDENS, 2018). Foi a partir deste modo de vida, que pequenos grupos antropoides se perpetuavam em determinadas localidades, sem haver um desequilíbrio ecológico, entretanto, quando mais recursos houvesse em determinada área, melhor são as condições para que um povo se estabeleça aí, sendo assim, com o passar das décadas, os pequenos aglomerados, tornam-se mais populosos resultando nas primeiras civilizações (FELDENS, 2018). Devido à expansão da população dos primeiros grupos antropoides, passa-se a demandar de mais espaço e, consecutivamente, de mais recursos naturais para comportar os mesmos, assim, garantir-lhes a sobrevivência. Com isso, começam a surgir às primeiras escassezes, e os povos precisam lidar com isso de maneira inteligente, como hominoideos são seres pensantes, surge à necessidade de migrar de área, de modo a atender as demandas da população local, como mais abundância de água, alimentos, etc. (FELDENS, 2018). No entanto, no que diz respeito à agricultura, ela teve sua origem ainda na pré- história.Contudo, como se tratava de um período que ocorreu antes do surgimento da escrita, seu registro histórico é um tanto quanto nebuloso. Há especulações que a agricultura tenha surgido de modo independente, simultaneamente em diferentes localidades ao redor do planeta Terra (WOBETO, 2013). Através das observações feitas pelos caçadores-coletores, tomaram nota de que determinados grãos coletados da natureza, que compunham a dieta destes povos poderiam ser enterrados, assim, surgindo ainda de modo precário, o ato de semear, com a premissa de nascer uma planta idêntica ao que o grão originário fora coletado (WOBETO, 2013). 6 2.3. A trajetória da agricultura no Brasil O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, visto que a produção no campo segue crescendo exponencialmente nas últimas décadas (BUONAFINA, 2017). Nas últimas cinco décadas, o Brasil passou a ganhar certo protagonismo na produção e exportação de seus produtos agrícolas primários e secundários, entretanto, isso tornou-se possível através da soma de um conjunto de fatores, tal como, investimentos na ciência, tecnologia e inovações voltadas ao campo (EMBRAPA, 2018). Entre as décadas de 1960 e 1970, o Brasil apresentava um certo crescimento econômico, em contrapartida, apresentava baixa produtividade agrícola, visto que boa parte do abastecimento de alimentos para subsistência da população brasileira dependia diretamente da importação (EMBRAPA, 2018). Ainda margeando as décadas de 1960 e 1970, a produção agrícola no campo era muito desvalida. Isso ocorria por falta de tecnologia e insumos mais modernos para explorar a produção local (EMBRAPA, 2018). Em meio as dificuldades decorrentes a escassez de tecnologia adequada para aumentar a produção agrícola, de modo a reduzir a importação de alimentos que compunham a dieta do brasileiro. Surge a necessidade de adotar métodos de cultivos mais modernos, com isso, na metade do século XX a agricultura brasileira começa a passar pelo processo de modernização da agrícola (MATOS; PESSÔA, 2011). O intuito da modernização das técnicas agrícolas que já vinham sendo utilizadas é garantir o aumento da produtividade no campo, com a inserção de novas tecnologias, capazes de a produzir uma quantidade de alimentos suficiente para atender a demanda o consumo interno e, no que lhe concerne, exportar para outros países (MATOS; PESSÔA, 2011). Sendo assim, torna-se indispensável citar que a chegada da modernização do campo trouxe um ganho de produtividade significativo, favorecendo e muito a economia do setor alimentício, contudo, é preciso ter em mente que a modernização e consecutivamente o aumento na produção agrícola, só ocorreu por conta de inúmeras pesquisas científicas fomentadas pelo estado, dá criação da Embrapa e o 7 desenvolvimento de programas de crédito para agricultores investirem em suas lavouras (MATOS; PESSÔA, 2011). Entretanto, é valido pontuarmos que o conceito de modernização agrícola pode diferir na visão diferentes autores, visto que para alguns autores consideram a modernização agrícola com base na obtenção de novas tecnologias que favorecem a produtividade na lavoura. Já outros autores acreditam que o conceito de modernização das técnicas agrícolas vai muito além de novas tecnologias, englobando-a como todo um processo (TEIXEIRA, 2005). Para determinados autores, considera-se a modernização da agricultura como o uso de práticas e equipamentos tecnológicos, ou seja, o uso de maquinários e/ou insumos cuja premissa é garantir maior produtividade dos meios de cultivo. Sendo assim, para esses autores, a modernização da agricultura nada mais é do que a inserção de máquinas na lavoura (TEIXEIRA, 2005). Em contrapartida, há autores que descrevem que o conceito de modernização da agricultura não está restrito apenas ao uso de maquinários e insumos tecnológicos que aumentam a produção no campo, e sim, ser considerado todo o processo de modificação, sendo assim, além da obtenção de máquinas e insumos, a modernização está correlacionada com as questões socioambientais da vida no campo (TEIXEIRA, 2005). Como supracitado, os meios de produção agrícola precisaram passar pelo processo de modernização para atender o aumento da demanda por recursos alimentares extraídos do campo. Visto que, um dos principais fatores que levaram a agricultura se modernizar está fortemente correlacionado a expansão populacional, onde há aumento significativo na demanda por alimentos e a necessidade de gerar renda ao homem do campo (REIFSCHNEIDER et al., 2010). Mas afinal, porque apontamos o crescimento populacional como um fator determinante para investimentos modernos no setor da agricultura? É possível elucidar esta questão com bases nos dados obtidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2006) onde na metade do século XX a população brasileira mais do que dobrou seu número de habitantes. Segundo os dados estatísticos, houve crescimento de 120% no número de habitantes em território nacional, sendo assim, o 8 número de habitantes que compunham a população brasileira em 1970 era de 97 milhões de habitantes, para quase 210 milhões em 2017 (REIFSCHNEIDER et al., 2010). 2.4. Sistemas agrícolas As regiões rurais espalhadas pelo Brasil, passaram a ser alvos de grandes transformações desde 1970, essas transformações não estavam ligadas apenas ao campo, mas toda a comunidade em que essa área está inserida, tais transformações correspondem aos novos padrões socioculturais e aos formatos econômico- produtivos (GASQUES et al., 2010) que estamos apresentando desde o início do presente trabalho como a modernização da agricultura. Para atender a alta demanda e continuar garantindo os recursos alimentares da população, o setor agrícola precisou rever os seus principais conjuntos de técnicas e atividades em que prevalecem a produção no campo, denominando-as sistemas agrícolas (GASQUES et al., 2010). Os sistemas agrícolas estão associados ao modo como o homem utiliza técnicas para extrai recursos do solo para consumo de si próprio, para alimentação de animais e/ou para indústria através de matérias-primas, tornando-se essa utilização do solo um sucesso para humanidade (OLIVEIRA, 2006). Há uma grande variedade e distribuição de sistemas agrícolas espalhados pelo mundo que diferem conforme as condições socioculturais, socioeconômicas (EMBRAPA, 2018). Entretanto, dependendo do modo onde os processos são empregados, tal como, técnicas agrícolas, índice de mecanização, grau de mensuração de capital e os índices de produtividade, podemos classificar em dois grandes sistemas agrícolas, sendo eles: sistemas intensivos e sistemas extensivos (OLIVEIRA, 2006). Por toda via, esses sistemas não são estáticos, passiveis de mudança conforme a expansão populacional. 2.4.1. Sistema intensivo O sistema agrícola intensivo pode ser definido como toda área de extensão rural que recorre à utilização de tecnologia e insumos em suas práticas de cultivo para 9 se obter maior produtividade do solo em um menor intervalo de tempo. Para isso ser possível, esse sistema recorre ao elevado índice de mecanização e insumos em todas as suas etapas de produção, desde a preparação do solo até a colheita (FREITAS, 2019). Esse método de agricultura é voltado para países desenvolvidos com o foco em agricultura comercial e exportação de seus produtos, entretanto, como o Brasil vem apontando forte crescimento no setor, a modernização da produção agrícola também começou a chegar nas áreas rurais brasileiras (FREITAS, 2019). 2.4.2. Sistema extensivo No que lhe concerne, o sistema agrícola extensivo pode ser denominado por aquela que recorre a técnicas simples, insumos dispostos na própria natureza sem a inserção de mecanização e outras tecnologias, em virtude deste método de cultivo, há um baixoíndice de produtividade, pois neste caso a produção agrícola depende exclusivamente da fertilidade natural do solo (FREITAS, 2019). Esse método de cultivo é muito comum na América Latina, concentrando um alto índice de trabalhadores no setor primário por conta da mão-de-obra sem grande valor para economia do país (FREITAS, 2019). 2.5. Tipos de agricultura predominante no Brasil 2.5.1. Agricultura de subsistência A agricultura de subsistência é o método mais tradicional e rudimentar de cultivo de alimentos no solo. Muito prática por povos locais denominados campineiros e/ou pequenos produtores, embora hoje existam técnicas mais aprimoradas, a agricultura de subsistência resiste aos modelos mais modernos em países subdesenvolvidos da América Latina (CORDEIRO, 2012). A premissa da agricultura de subsistência é garantir recurso alimentar de um determinado grupo de pessoas através da seleção e cultivo de sementes, raízes e frutos, para sustento próprio e de todas as famílias da comunidade que partilham de um espaço em comum (SANTOS, 2006). 10 Seu principal objetivo é garantir que a produção agrícola seja direcionada exclusivamente ao abastecimento alimentício do pequeno agricultor, de sua família e de sua comunidade local, através de atividades que colocam o homem e meio ambiente em harmonia (OLIVEIRA, 2006). Por isso, se comparada aos demais tipos de agricultura, a de subsistência apresenta menor produção agrícola, mas ainda assim, é muito prática nas roças brasileiras como agricultura familiar. Segundo Cordeiro (2012) os principais produtos cultivados pela agricultura de subsistência são: feijão, milho e a mandioca. 2.5.2. Agricultura orgânica A agricultura orgânica começou a ser difundida em 1920 pelo inglês Sir Albert Howard. Há 100 anos, Howard defendia que o uso de adubos artificias, o que conhecemos atualmente como agrotóxicos, eram prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente (PENTEADO, 2001). Sendo assim, a agricultura orgânica da qual temos conhecimento, é caracterizada pelo seu comprometimento com o meio ambiente e com a saúde humana, com intuito de produzir alimentos que não agridam a integridade da saúde humana e o equilíbrio da natureza (PENTEADO, 2001). Neste método de agricultura, prevalecem o uso de técnicas de cultivo rudimentares, entretanto, há inserção de tecnologias de cultivo, tal como o uso da matéria orgânica para garantir a melhoria do solo, de modo que não gere impactos irreversíveis ao meio ambiente (PENTEADO, 2001). 2.5.3. Agricultura comercial Grande parte dos alimentos cultivados no Brasil são provenientes da agricultura comercial, entretanto, boa parte destes alimentos produzidos nos campos é destinados à exportação, visto que o Brasil é o número um em exportação de soja (IPEA, 2021). Segundo os dados obtidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Brasil fechou o primeiro semestre de 2021 com um aumento de 20,9% na exportação (IPEA, 2021). Por isso, a agricultura comercial ou agricultura moderna, como também é conhecida. É o método de cultivo que vem sendo cada vez mais explorado nos países 11 emergentes que dispõem de grandes faixas de terra para a prática da monocultura, visto que para dar conta de abastecer o mercado interno e externo demanda-se de propriedades rurais de grande porte com a utilização de técnicas modernas de cultivo, assim como, também recorrem a máquinas, fertilizantes químicos (agrotóxicos), pesticidas e sementes geneticamente modificadas (transgênicas) e mão-de-obra especializada (LAMAS, 2020). Segundo Campanhola; Luiz; Rodrigues (1997): “Com a intensificação, a agricultura tornou-se dependente de insumos externos que consistem da utilização de sementes de variedades melhoradas, da mecanização, de fertilizantes e de agrotóxicos, com o objetivo de aumentar a produtividade.” (CAMPANHOLA; LUIZ; RODRIGUES, 1997, p. 159). Essas modificações foram impostas pela expansão populacional de modo a sanar a demanda por alimentos do mercado interno e externo, por isso, máquinas e insumos mais modernos passaram a fazer parte da rotina do agricultor. Vimos que a mecanização das lavouras trouxe um aumento significativo na produção e exportação de alimentos produzidos no país (LAMAS, 2020). Além disso, com a mecanização da agricultura, tornou-se possível semear áreas para cultivo de alimentos muito maior e em um curto intervalo de tempo, visto que antes esse processo era feito manualmente (LAMAS, 2020). De modo geral, os alimentos cultivados com os métodos adotados pela agricultura comercial apontam altos índices de produtividade, visto que para dar conta de atender a demanda do mercado, a produção agrícola tende a ser cada vez maior. Entretanto, com toda mecanização utilizada pela agricultura comercial, há grandes impactos ambientais (LAMAS, 2020). 2.6. Impactos socioambientais causados pela agricultura comercial Desde a revolução verde, o Brasil obteve características e recursos para ampliar sua produtividade agrícola através da modernização do setor, tendo como objetivo aumentar não só a produção de alimentos, mas, principalmente a rentabilidade com as exportações dos produtos cultivados, de modo que as grandes 12 monoculturas de soja, milho e café se consolidaram no país (ZAMBERLAM; FRONCHETI, 2007). A modernização no campo propôs mudanças de grande impacto para algumas regiões, visto que para compor grandes monoculturas era preciso passar por um processo de especialização e aprimoramento na produção de cultivos, pode ser citado as mudanças nas seguintes regiões: nordeste com os cultivos de cana-de-açúcar, cacau e algodão; sudeste com monoculturas de café e no sul do país a predominância de soja e o trigo (COSTA, 2012). Entretanto, com a expansão da agricultura comercial, lavouras que antes desenvolviam práticas de agricultura de subsistência (agricultura familiar), sucumbiram-se as práticas de culturas características da agricultura comercial, tal como, ceder terras para as monoculturas (COSTA, 2012). Por vias econômicas, a agricultura comercial por meio das monoculturas movimenta muito a economia local através da exportação de seus cultivos. Por vias socioambientais, as ações deste método de cultivar alimentos impactam negativamente o meio ambiente e a mão-de-obra do homem do campo (GLIESSMAN, 2000). Sabendo disso, é preciso caracterizarmos o que é impacto ambiental. Segundo a resolução 001/1986 do Conselho Nacional de Meio Ambiente — CONAMA, considera-se como impacto ambiental quando: “(...) qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais.” Conforme a resolução do CONAMA, podemos atribuir diversos impactos ambientais subsidiados pelo agronegócio, visto que para grandes áreas rurais dedicadas a agricultura comercial, milhares de hectares de floresta nativa são desmatados e/ou desflorestados para gerar vasta área de cultivo (CAMPANHOLA; LUIZ; RODRIGUES, 1997). Entretanto, o desmatamento das florestas, impacta diretamente no meio ambiente, não só através da perda da vegetação nativa, como 13 também nas espécies vegetais e animais que ali viviam, alterando todo um ecossistema, além de agravar o aquecimento global, visto que sem florestas não há como absorver dióxido de carbono que é um dos principais gases do efeito estufa (CAMPANHOLA; LUIZ; RODRIGUES, 1997). Além do desmatamento para ampliar áreas de cultivo, a agricultura comercial também se torna responsável pelo uso intenso do solo pode levar ao processode erosão, pois quando se perde cobertura vegetal nativa do solo, o mesmo perde sua consistência, levando a falhas no seu sistema natural de drenagem e absorção de água, o que pode e ocasiona as enchentes em períodos de intensa precipitação de chuva (DEUS; BAKONYI, 2012). De acordo com Mafra (2010), entende-se que o maior problema da degradação do solo causado pela erosão é: “O maior problema da erosão em terras com vocação agrícola consiste na eliminação da capa superficial do solo, importante por seu conteúdo em matéria orgânica e frações mineiras finas, as quais garantem a nutrição indispensável ao crescimento de vegetais” (MAFRA, 2010, p. 307). Os recursos hídricos também sofrem grandes impactos pelo uso exacerbado da agricultura comercial, levando-a degradação permanente. Visto que, grandes monoculturas demandam de muita água doce para irrigação dos cultivos, sendo assim, acabam alteram os cursos hídricos através da alta exploração, mau uso, captação e desvio dos mananciais para irrigação, levando ao esgotamento de pequenas fontes naturais de água (DEUS; BAKONYI, 2012). Com lavouras mais extensas, os agricultores recorrem ao uso de agrotóxicos para fazerem o controle de pragas que podem comprometer o cultivo, entretanto, o uso de defensivos agrícolas químicos, com propriedades tóxicas, impacta negativamente o meio ambiente e a saúde humana. Através da contaminação do solo, de águas superficiais e subterrâneas, tal como, rios, lagos, riachos e os lençóis freáticos (CAMPANHOLA; LUIZ; RODRIGUES, 1997). Os resíduos químicos utilizados nas lavouras são depositados no solo através da irrigação, além disso, eles fixam nos organismos presentes no solo, consumidos por outros organismos e assim, através de uma longa cadeia trófica impacta todo um ecossistema (CAMPANHOLA; LUIZ; RODRIGUES, 1997). 14 E é através da cadeia trófica que impacta a saúde humana, visto que resíduos químicos são depositados no solo, quando há precipitação de chuva ou até mesmo com a irrigação, esses resíduos escoam pelos cursos d’água, até serem depositados no sedimento dos rios e serem consumidos por organismos aquáticos que servem de alimentação para peixes, quando esse peixe é pescado, passa a ser servido para alimentação humana e o resíduo químico é depositado no organismo humano, impactando a saúde através da bioacumulação (CAMPANHOLA; LUIZ; RODRIGUES, 1997). 3. CONCLUSÃO O presente trabalho teve como premissa abordar brevemente a trajetória da agricultura brasileira, através dos seus sistemas agrícolas, métodos de cultivo e consecutivamente os impactos socioambientais causados pela exacerbada exploração por meio da agricultura comercial de modo a atender a alta demanda de recursos alimentares devido à grande expansão populacional, a partir de uma revisão na literatura sobre a temática. Por fim, podemos dizer que o objetivo do mesmo foi concluído, pois, de maneira breve, obteve-se as informações previstas acerca da temática que envolve a agricultura brasileira e acompanhar as transformações em seus métodos de cultivos ao longo da expansão populacional. Espere-as que novas tecnologias surjam de modo a reduzir os impactos ambientais causados pelo setor agrícola. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOUNAFINA, J. Produtividade agropecuária do Brasil é uma das que mais cres cem, diz estudo. 2017. 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