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Lara Fernandes – Enfermagem UFRJ – Cuidados II • Para lidar com a morte do outro, é preciso lidar com a própria morte. É necessário refletir sobre o assunto e estar preparado para aceitar quando a pergunta for: Você está pronto para morrer hoje?, temos que pensar no significado do processo morte/morrer. A MORTE COMO UM PROCESSO DIFÍCIL DE SER COMPREENDIDO • A morte só pode ser entendida por quem a esteja vivenciando. • Talvez esse seja o motivo pelo qual o ser humano encontra dificuldade em lidar com a finitude, o que demonstra a enorme subjetividade sobre o significado real que a morte tem em sua vida. A MORTE COMO UM PROCESSO NATURAL • Entender que é um processo pelo qual todos passamos um dia. • Para quem perde um parente ou amigo próximo, é muito difícil passar por esse processo e se habituar à vida sem aquela pessoa. • Muitas pessoas não aceitam e sofrem muito. • É um processo delicado e difícil de lidar. A MORTE COMO UMA PASSAGEM PARA OUTRA VIDA • A religiosidade é considerada por diversos autores como uma importante aliada no processo de aceitação e enfrentamento da morte, pois conforta, dá esperança e ajuda a suportar melhor o momento tão difícil. • A religião não só oferece conforto nos tempos de sofrimento, mas também (em algumas crenças) oferece uma promessa de vida após a morte e de reunião com a família perdida. • A morte é considerada como o fim da vida, mas para quem acredita em Deus e no fim da vida eterna, é apenas o início. • É importante respeitarmos a religião e as crenças do outro, pois quem está passando pelo processo de morte/morrer é ele. Se a cultura dele traz um conforto, isso deve ser respeitado pelos profissionais. • A religião em si pode ajudar nesse processo ou atrapalhar. • A morte pode ser considerada triste, porém não é assim em todo local, cultura, família, contexto... então é necessário avaliar cada caso individualmente. • A não possibilidade de despedida é um problema da sociedade atual, isso pode afetar em como a família lida com o processo de morte. Exemplo: No momento de 2020/2021 onde não se pode velar o corpo, ou seja, esses familiares e amigos que perderam um ente querido não conseguem “por um ponto final”, ou mesmo dizer adeus. • Existem ideias que precisam ser desconstruídas na cabeça dos acadêmicos/profissionais, e entender que se você não foi responsável pela morte do paciente, no sentido de provocar, antecipar – não fez uma medicação que ocasionou a morte dele, se foi de forma natural e esperada, não se deve atribuir a culpa ao profissional. • O cuidado terapêutico envolve a presença e atenção do profissional para com o cliente. As vezes a pessoa te chama a todo tempo pela sensação de conforto ao não estar sozinho. • Estar com o outro não significa apenas estar próximo, envolve conhecer o paciente, saber o nome, olhar nos olhos, ter um cuidado humanizado. • É importante o profissional se fazer presente frente ao processo de morte/morrer do paciente para o que ele precise, tentar atender os desejos e vontades dele. • Conversar com o paciente sobre o que ele gostaria que fosse feito ou não: não é fácil, mas é ainda mais difícil quando o profissional tem a morte como um problema de resolução pessoal. A BOA MORTE • Para que a boa morte seja alcançada, o doente deve atingir a fase de aceitação. • Para terminar bem a vida é preciso resolver questões em aberto, “aproveitando a oportunidade de aprimoramento de si” ou o “aperfeiçoamento pessoal”. • O enfermeiro deve tomar decisões referentes as circunstâncias associadas ao seu falecimento, como o destino do corpo e os rituais. Morte e Morrer Lara Fernandes – Enfermagem UFRJ – Cuidados II IDEAL PALIATIVISTA • Dentro do ideal paliativista se tem o termo “boa morte”, em que se alcança quando é respeitado a dignidade humana, o estado livre de dor, um bem-estar emocional. • Também quando se respeita a religiosidade e espiritualidade da pessoa, quando se respeita as preferencias da morte com diretivas antecipadas realizado em cartório, ou um testamento vital feito no prontuário com a assinatura do paciente. • É importante que quando o profissional vai fazer a anamnese, que se dedique a conhecer o paciente e sua família. A BOA MORTE ENVOLVE: • Preferências para a morte – no Brasil qualquer pessoa pode determinar seu desejo de ser submetido a ortotanásia, ou seja, o encerramento de tratamentos que buscam prolongar a vida mesmo em casos terminais. Isso pode ser feito com um documento chamado de diretiva antecipada de vontade, ou testemunho vital. • Dignidade. • Estado livre de dor. • Bem-estar emocional. • Religiosidade/espiritualidade. • Qualidade de vida. • Família. MORTE • Tanatologia: é a ciência que estuda a morte. • Definição simples da morte: cessação da vida. • A morte não é um instante, um momento, mas sim um processo gradual e mais ou menos demorado. • Biologicamente, a morte pode ocorrer para todo o organismo ou apenas parte dele. - É possível para células individuais, ou mesmo órgãos, morrerem e ainda assim o organismo permanecer vivo. Muitas células individuais vivem por apenas pouco tempo e a maior parte das células de um organismo são continuamente substituídas por novas células. - A substituição de células através da divisão celular é definida pelo tamanho dos telômeros e ao final de certo número de divisões, cessa. TELÔMERO COMO RELÓGIO BIOLÓGICO • Toda vez que a célula se duplica, ela também duplica dos cromossomos. • Esse processo, como já mencionado, encurta os telômeros das células, portanto, teoricamente pode-se definir com exatidão a expectativa de vida de um ser vivo analisando quantos telômeros ainda restam de suas células, ou seja, quantas vezes as células ainda poderão se duplicar antes de o indivíduo morrer. • Assim, telômeros podem ser considerados sofisticados relógios biológicos. • Ao final deste ciclo de renovação celular, não há replicação, e o organismo terá de funcionar com cada vez menos células. Isso influenciará o desempenho dos órgãos num processo degenerativo até o ponto em que não haverá mais condições de propagação de sinais químicos para o funcionamento das funções vitais do organismo, implicando a chamada morte natural, por velhice. MUDANÇAS FÍSICAS HORAS OU DIAS ANTES DE MORRER – POTTER • Períodos maiores de sono/não responsividade (até por uma questão de intoxicação sanguínea; • Alterações na temperatura e cor das extremidades, nariz e dedos; • Incontinência intestinal ou vesical; • Oligúria (menos de 400ml/dia); • Agitação/desorientação; • Incapacidade para deglutir; • Respiração ruidosa, alterada, padrão Cheyne-Stokes; • Diminuição do tônus muscular; • Fraqueza e fadiga; • Alterações físico biológicas do corpo após a morte. RIGOR MORTIS • Rigidez cadavérica; • A sua causa bioquímica começa com o cessamento da circulação sanguínea, assim como o transporte do oxigênio e retirada dos produtos do metabolismo. • Os sistemas enzimáticos continuam funcionando após algum tempo da morte. Assim, a glicólise continua de forma anaeróbica, gerando ácido lático. • As moléculas de miosina contendo ATP previamente ligado interagem com os filamentos de actina que agora têm seus estios de ligação expostos, como não existe novo ATP para desfazer o complexo ADP-miosina/actina os músculos tornam-se rígidos. • O corpo fica completamente rígido de seis a oito horas após o óbito. Porém, certa de 24 horas depois, o corpo Lara Fernandes – Enfermagem UFRJ – Cuidados II está novamente flácido. Isso ocorre porque, devido a decomposição, a membrana celular se rompe e desaparece a tensão elétrica entre as células, que deixava o corpo enrijecido. LIVOR MORTIS • Representa os livores cadavéricos, que surgem de 20 a 45minutos após a morte. • Em 10 a 12h os livores já ocupam todo o plano inferior. • Os livores ocorrem porque depois da morte o sangue fica sujeito apenas à gravidade, acumulando-se nas zonas mais baixas do corpo (variando consoante a posição do cadáver). • O que ocorre então é que o cadáver adquire uma tonalidade descolorada em algumas áreas (onde havia superfície de contato), e arroxeada onde se deu a acumulação do sangue. ALGOR MORTIS • Do latim algor= frio e mortis=morte, ou esfriamento do cadáver, é a redução linear da temperatura da pele que ocorre após a morte. • Uma vez cessadas as funções vitais, o corpo esfria a uma média de 1,0 °C a 1,5 °C por hora. • Considerando que a temperatura média de um ser humano é entre 36 °C e 37 °C, o cadáver atinge a temperatura do ambiente em 24h no máximo. • A circulação de sangue pelo nosso corpo é responsável por nos manter aquecidos. • Quando morremos, logicamente, o sangue para de circular, e consequentemente de nos aquecer, fazendo com que o corpo se resfrie e adquira a temperatura do ambiente em que se encontra. • É por isso que quando tocamos em um morto, temos a sensação de que ele está frio, já que nosso sangue ainda circula e nos manter em temperatura mais elevada. • O algor mortis tem importante papel na resolução de crimes, já que dependendo da temperatura do cadáver, pode estimar-se a hora de sua morte. ETAPAS DA MORTE • Kubler Ross traz 5 etapas do processo morte/morrer e são 5 etapas que não necessariamente ocorrem em uma ordem específica, nem passam obrigatoriamente por todas as etapas. 1. Negação 2. Raiva 3. Barganha 4. Depressão 5. Aceitação PERDA • A morte é a perda definitiva. • Embora seja uma parte necessária do continum da vida e do ser humano, a morte representa o desconhecido e gera ansiedade, medo e incerteza. LUTO • O luto é a resposta emocional a uma perda que se manifesta de maneira específica em cada indivíduo e é baseada em experiências pessoais, expectativas culturais e crenças espirituais. CULTURA E ETNIA • as expressões de pesar em uma cultura nem sempre fazem sentido para as pessoas de outras culturas. • Por exemplo: em alguns países da Europa Ocidental e nos EUA, muitas pessoas reprimem sua demonstração pública de emoção. Em outros países, o choro em público e demonstrações físicas de pesas (como mutilação do corpo do sobrevivente), mostram respeito pelos mortos. Lara Fernandes – Enfermagem UFRJ – Cuidados II CRENÇAS RELIGIOSAS E ESPIRITUAIS • A espiritualidade afeta a habilidade do paciente e familiares de lidar com a perda. • Espiritualidade é muitas vezes definida como uma consciência do eu interior e um sentido de conexão com um ser superior ou com algum propósito maior do si mesmo. • Florence Nightingale acreditava que a espiritualidade era uma força que fornecia a energia necessária para promover um ambiente hospitalar saudável e que cuidar das necessidades espirituais do indivíduo era tão essencial quanto cuidar de suas necessidades físicas (Potter, 2013, p.710). • Então, é preciso cuidar de todas as dimensões do ser, não só do ser biológico, mas também do ser psicológico, social e espiritual. DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM DIRECIONADOS AOS PACIENTES QUE EXPERIENCIAM O LUTO, A PERDA OU MORTE • Enfrentamento familiar comprometido • Ansiedade em relação à morte • Medo • Conforto Prejudicado • Negação ineficaz • Angústia • Luto complicado • Risco de luto complicado • Desesperança • Dor (aguda ou crônica) Alguns objetivos de cuidados de enfermagem para pacientes que enfrentam a perda ou a morte incluem adaptar-se ao pesar, aceitar a realidade de perda ou manter relacionamentos significativos. ESTABELECENDO PRIORIDADES • Os pacientes terminais ou com doenças crônicas avançadas são mais propensos a querer que suas necessidades de conforto, sociais ou espirituais sejam satisfeitas em vez de buscar curas médicas. • Dê necessidade às necessidades físicas ou psicológicas mais urgentes do paciente, considerando também suas expectativas. • Se os objetivos de um paciente em estado terminal incluem controlar a dor e promover a autoestima, o controle da dor tem prioridade quando o paciente sente um desconforto físico agudo. • Quando o paciente considerar essencial manter-se independente, estratégias que favoreçam a sensação de autonomia e capacidade de realizar atividades de modo independente têm prioridade. • As condições do paciente no final da vida muitas vezes mudam rapidamente; portanto, realize uma avaliação continuamente para revisar o plano de cuidados de acordo com as necessidades e as preferências do paciente. • Importante: a presença e a escuta ativa do enfermeiro (a) reafirmam a dignidade e o valor do paciente. HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE • O Programa Nacional de Humanização Hospitalar (PNHAH), instituído pelo Ministério da Saúde através da portaria no 881 de 19/06/2001 no âmbito do Sistema Único de Saúde, propõe ampla discussão e implementação de projetos de humanização do atendimento à saúde e de melhoria da qualidade do vínculo estabelecido entre trabalhador da saúde, pacientes e familiares. • Cuidar do corpo morto do paciente com respeito. CUIDADOS COM O CORPO APÓS A MORTE • A habilidade de cuidar do corpo após a morte pode ser delegada ao auxiliar e técnico de enfermagem. MATERIAL NECESSÁRIO • Toalhas de banho; • Esponjas; • Tesouras; • Kit de mortalha (cobre corpo) com etiqueta de identificação; • Roupa de cama; • Formulários de registro. • Não se deve mexer no cabelo/barba do morto, a não ser que a família autorize. 1. Confirme o nome do médico que atestou o óbito e registre o momento da morte e as medidas adotadas; 2. Verifique se foi solicitada autópsia; 3. Verifique se há autorização para doação de órgãos; 4. Identifique o paciente com duas etiquetas contendo nome completo, data de nascimento, número do prontuário, data e hora do óbito, nome do médico que atestou o óbito, carimbe e assine; Lara Fernandes – Enfermagem UFRJ – Cuidados II 5. Eleve a cabeceira do leito logo que possível após a morte, para evitar a descoloração da face; 6. Pergunte se a família deseja participar da preparação do corpo; 7. Pergunte sobre os pedidos da família para a preparação do corpo, como por exemplo, usar roupas especiais ou artefatos religiosos. Esteja ciente de que as práticas pessoais, religiosas ou culturais determinam se é necessário ou não barbear o homem. Obtenha permissão antes de barbeá-lo; 8. Remova todos os equipamentos, sondas e cateteres do corpo; 9. Limpe o corpo completamente. Penteio o cabelo do paciente; 10. Cubra o corpo com lençol limpo, coloque a cabeça sobre um travesseiro e deixe os braços para fora do lençol, se possível. Feche os olhos suavemente, mantendo-os fechados. Deixe a prótese dentária na boca para manter a forma do rosto. Cubra eventuais sinais de trauma ao corpo; 11. Prepare e limpe o ambiente (recolhendo roupa suja, por exemplo), desodorize o quarto se necessário, e diminua as luzes, se possível; 12. Ofereça aos familiares a opção de ver o corpo do paciente e incentive os enlutados a dizer adeus a sua própria maneira: palavras, toques, cantos ou orações; 13. Proporcione privacidade e uma atmosfera sem pressa. Avalie a necessidade ou desejo dos familiares de sua presença nesse momento. Se você sair, diga-lhes como podem encontra-lo; 14. Determine quais os pertences pessoais ficam com o corpo (ex.: alianças) e entregue os itens pessoais aos familiares. Documente a data e hora e a descrição dos itens retirados e quem os recebeu; 15. Coloque as etiquetas de identificação (uma no peito, outra no cobre corpo) e a mortalha, de acordo com a política da instituição, antes de transportar o corpo.Siga os procedimentos de segurança para as precauções com fluidos corporais ou preocupações de contaminação; 16. Mantenha a dignidade do paciente ao transportar o corpo para outro local, cubra com um lençol limpo. • Colocar algodões nos orifícios para evitar extravasamento de líquido, colocar uma fralda por precaução, prender os punhos, pés, mandíbula em posição mais anatômica possível para quando o corpo enrijecer, ficar mais sutil a imagem. Fechar os olhos do indivíduo e colocá-lo com a cabeça virada para a abertura do cobre corpo. A IDENTIFICAÇÃO DO CORPO DO PACIENTE APÓS A MORTE Deve conter: • Nome completo do paciente; • Data de nascimento; • Número do leito; • Número do prontuário; • Nome e sobrenome do médico que atestou o óbito; • Data e hora do óbito; • Carimbo e assinatura do enfermeiro responsável pelo preparo do corpo. Devem ser duas identificações: uma sobre o peito do paciente e outra sobre o lençol (cobre-corpo).
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