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1) DESCREVER A FISIOLOGIA DA GRAVIDEZ E AS PRINCIPAIS MODIFICAÇÕES GRAVÍDICAS LOCAIS E GERAIS DO ORGANISMO MATERNO. No advento da gravidez, o organismo feminino sofrerá diversas adaptações; são as modificações fisiológicas. Essas transformações vão produzir alguns sinais e sintomas, e por vezes ficará difícil a distinção entre o normal e o patológico. Tais modificações acontecem de forma sistêmica e no aparelho reprodutor feminino especificamente. Existem as modificações sistêmicas e a do aparelho reprodutor. Aparelho Cárdio-Circulatório Ocorre o aumento da frequência cardíaca, do débito cardíaco, do volume sanguíneo e do plasmático enquanto há diminuição da resistência vascular e da pressão sanguínea. O incremento do volume circulante durante a gravidez (40%) faz com que o rendimento cardíaco aumente em igual proporção. Para atender a essa demanda, o coração se adapta hipertrofiando concentricamente todas as suas câmaras. Topograficamente, o coração desvia-se para frente e para a esquerda, alterando seu eixo elétrico, conseqüentemente o eletrocardiograma. Por este motivo, é necessário informar à pessoa que está analisando o eletrocardiograma que a paciente está grávida. Devido à ação angiogênica do estrógeno e vasodilatadora da progesterona, a pressão arterial tende a cair durante a gestação, causada pelo desenvolvimento da placenta. Em gestantes clinicamente saudáveis, a pressão arterial (PA) diminui até a metade da gestação e, então, aumenta até o dia do parto, com valores finais similares àqueles encontrados no início da gestação. A pressão sanguínea arterial apresenta discreta queda na pressão sistólica (5 a 10 mmHg) e maior na diastólica (10 a 15 mmHg), atingindo os menores valores por volta de 20 semanas, decorrente da diminuição da resistência vascular O aumento do volume circulante se fez mais às custas de parte líquida. Os elementos figurados do sangue também aumentam, mas em percentual menor, levando a uma hemodiluição, traduzida frequentemente por queda dos níveis de hemoglobina e aparecimento de sopro sistólico, considerado normal neste período O débito cardíaco de gestantes normais encontra-se duas vezes maior por volta de 32 semanas, em comparação com não gestantes, isso decorre do aumento do volume sistólico e da frequência cardíaca. O débito cardíaco inicia essa elevação por volta da 10ª a 12ª semana de gravidez. Aparelho respiratório Com o evolver da gestação, o útero cresce rechaçando alças intestinais, estômago e fígado contra o diafragma, reduzindo o tamanho do pulmão no sentido céfalo-caudal. Como mecanismo de com pensação parcial, o tórax aumenta seus diâmetros látero-lateral e ântero-posterior, mas o volume pulmonar global acaba reduzido no final da gestação. Esta restrição é compensada por ação da progesterona, nos centros respiratórios, elevando a frequência do ritmo da respiração. A capacidade respiratória total encontra-se reduzida (cerca de 200 mL), pois ocorre diminuição da capacidade residual funcional. Esta é constituída pelo volume residual e pela reserva expiratória, que na gravidez estão com valores menores. A capacidade inspiratória é composta pela reserva inspiratória e pelo volume corrente, e apresenta aumento em decorrência deste último. O volume corrente provoca hiperventilação, que tem como efeito a diminuição da pressão parcial de dióxido de carbono (pCO2). Esse fenômeno facilita a excreção fetal de CO2 devida ao gradiente materno-fetal. Sistema Urinário As modificações no aparelho urinário são oriundas de alterações mecânicas, fisiológicas e anatômicas. Tanto os rins quanto ureteres e a bexiga sofrem compressão pelo útero gravídico. Em decorrência do aumento do volume circulante, praticamente todos os índices de fluxo e função renal estão aumentados durante a gravidez. A exacerbação do sistema renina-angiotencina é compensado pelos efeitos de progesterona. É notável a retenção de sódio e água, possibilitando arredondamento das formas SP3 “Ligeiramente grávida” corporais da grávida e hidratação adequada dos ligamentos de cintura pélvica (facilita o deslizamento articular no momento do parto). A bexiga apresenta-se com retificação do trígono vesical pela sua posição mais elevada na gestação, provocando refluxo vesicoureteral. Essas transformações podem favorecer a formação de cálculos renais, infecções, incontinência urinária e até hematúria, esta principalmente mais frequente em parturientes. Sistema Endócrino Pode-se considerar o período gestacional como de pan- hiperendocrinismo, com o sistema endócrino funcionando com todas as suas reservas. Sobressaem o pâncreas, hipófise, tiróide, paratireóide e adrenais. Existe uma maior exigência metabólica, em troca do aumento do fluxo sanguíneo, a estas glândulas. Durante a gestação surge, temporariamente, um novo órgão no organismo materno, a placenta. Reconhece- se, na placenta, funções glandulares específicas, produzindo uma infinidade de hormônios, notadamente o hormônio lactogênese placentário e a gonadotrofina coriônica. Desde o primeiro trimestre, a globulina transportadora de hormônios tireoidianos encontra-se aumentada e atinge seu pico com 20 semanas, permanecendo em um platô com valores de cerca do dobro de não gestantes. A tiroxina sérica total (T4) e a triiodotironina (T3) apresentam picos máximos com seis a nove semanas e 18 semanas, respectivamente. O T4 livre alcança o nível máximo com o hCG e depois volta ao normal. O cortisol e a androsterona na suprarrenal têm papel fundamental em manter a homeostase. A suprarrenal não aumenta a secreção do cortisol, entretanto ele sofre redução de sua excreção e apresenta aumento de sua meia-vida. As altas concentrações de progesterona provocam uma má resposta dos tecidos ao cortisol. A calcitonina promove a deposição de cálcio nos ossos e diminui a concentração desse íon no líquido extracelular. Na gravidez e na lactação, ocorrem altos níveis desse hormônio. A paratireoide, por meio do paratormônio (PTH), controla a concentração do íon cálcio no soro por aumento da absorção pelo intestino e rins e liberação nos ossos. Esse hormônio tem sua liberação na dependência da redução de cálcio e de magnésio. Após o primeiro trimestre, o PTH se eleva em resposta à diminuição de cálcio pelo aumento do volume plasmático e da TFG, além da transferência de cálcio materna para o feto. Sistema metabólico A gravidez está associada a significantes alterações metabólicas no organismo materno, das quais depende a boa evolução da gestação. Tais modificações acontecem como resposta ao processo adaptativo materno, bem como para viabilizar o desenvolvimento fetal. O consumo de glicose fetal é contínuo, enquanto a ingestão materna passa por períodos de jejum, como é o caso do período noturno, quando a grávida está dormindo. Para manter a fonte de energia contínua ao feto, o transporte da glicose, através da placenta, ocorre por difusão facilitada, mesmo com pequenas diferenças nos gradientes de concentração. Para manter a disponibilização da glicose ao feto priorizada, há aumento da resistência insulínica materna, conhecido como efeito diabetogênico, que é determinado pelo hormônio lactogênio placentário humano (hPL) em associação ao hormônio de crescimento placentário humano (hPGH) e adipocinas (leptina, adiponectina, fator de necrose tumoral alfa – TNFα – e interleucina-6). Essas alterações são evidenciadas no terceiro trimestre da gravidez e estão associadas às alterações catabólicas do metabolismo lipídico. As alterações no metabolismo lipídico ocorrem de forma diferenciada, de acordo com o período gestacional. A fase anabólica acontece no primeiro e segundo trimestre, quando existe favorecimento da lipogênese aumentandoo depósito de gordura e a reserva energética materna. Na fase catabólica, evidenciada no terceiro trimestre, há incentivo à lipólise. Nesse processo, a resistência insulínica reduz o efeito inibitório da insulina sobre a lipólise e favorece o recrutamento dos depósitos de gordura como fonte energética para compensar o jejum materno e priorizar a disponibilização de glicose e aminoácidos ao feto. Outro objetivo da lipólise é facilitar a disponibilização dos ácidos graxos que são necessários à constituição de estruturas importantes do cérebro e do aparelho ocular, bem como exercem fundamental importância na composição das membranas celulares fetais. Elevam-se os triglicerídeos e as lipoproteínas, em especial a lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL-colesterol). Em menor escala, também aumentam as demais lipoproteínas (HDL-colesterol e LDL-colesterol). No metabolismo proteico, verifica-se maior concentração dos aminoácidos fetais em relação aos níveis maternos. As proteínas totais maternas, embora em maiores concentrações durante a gravidez, apresentam-se reduzidas devido à hemodiluição. A albumina está reduzida e, em menor evidência, as globulinas. Há aumento do fibrinogênio, da alfaglobulina e da betaglobulina. No metabolismo hidroeletrolítico, advém a retenção de líquido intra e extracelular determinada por mecanismos adaptativos no sistema renina-angiotensina-aldosterona, que estão relacionados à preservação do sódio, bem como à redução da pressão coloidosmótica, que está associada à redução da concentração plasmática da albumina. Sistema esquelético A embebição gravídica acomete todas as articulações. Por meio dela, articulações da bacia apresentam mais elasticidade e maior capacidade pélvica. Ainda promove modificação da postura e da deambulação. O aumento dos diâmetros e estreitos da pelve é indispensável para a expulsão fetal. A marcha anserina da gestante decorre da necessidade de mudança de centro da gravidade para manter o equilíbrio. Ela projeta o ventre para frente, afasta a base de sustentação dos membros inferiores e os ombros se inclinam para trás. Esse esforço faz com que ela utilize um conjunto de músculos tanto cervicais como lombares pouco empregados fora da gestação. Em contrapartida, vai desencadear fadiga muscular, parestesia de extremidades e dores cervicais e lombares decorrentes da compressão de raízes cervicais (nervo ulnar e mediano). O equilíbrio entre a secreção de paratormônio e calcitonina se fez em nível mais elevado durante a gravidez. O que se observa, em decorrência deste fato, é um “turnover” mais acelerado da incorporação e reabsorção deste íon durante a gravidez. Com a reabsorção de sódio e água, os ligamentos e cartilagem de interposição óssea, também, participam desse processo. Se por um lado, a maior elasticidade dos ligamentos pélvicos é desejável no momento do parto, nas articulações dos membros inferiores predispõem a entorses, luxações e até fraturas ósseas. Sistema Nervoso Central - Psíquicas Dentre as alterações/adaptações do sistema nervoso central à gravidez a mais frequente é a sonolência. A etiologia desse sintoma está associada aos altos níveis de progesterona, potente depressor do sistema nervoso central, e à hiperventilação, pela produção da alcalose respiratória. Pode surgir fadiga relacionada a distúrbios do sono, principalmente no final da gravidez, facilitando o desenvolvimento de hiperêmese gravídica, enxaqueca e quadros psíquicos (blues, depressão). Apresentam também certa dificuldade na concentração e na memória, talvez decorrente das alterações vasculares da artéria cerebral média e da posterior. Esses sintomas tendem a piorar com o evoluir da gravidez. Útero (resumido) Durante a gestação, observa-se hipertrofia e hiperplasia das fibras miometriais resultando em aumento uterino. Este crescimento aliando os dois processos, possibilita o desenvolvimento de gestação e, ao mesmo tempo, permite ao útero condições que proporcionem satisfatória força motriz no momento do parto. O aumento do volume uterino, talvez seja a alteração mais notável neste órgão, durante o período gestacional. A consistência uterina diminuída, desde o início da gestação (mais acentuada ao nível do istmo), permite inferir o diagnóstico de gestação. No local de implantação da placenta o útero se desenvolve diferentemente, provocando assimetria do órgão. Com o desenvolvimento fetal, o útero passa a ocupar os fundos de saco vaginal posterior, constituindo-se num dos sinais indiretos de gravidez. A formação das decíduas é um processo que ocorre na camada superficial do endométrio, protegendo o ovo após sua nidação. Sobre o ovo nidado, forma-se a decídua reflexa. Abaixo, tem-se a decídua basal. No restante de cavidade uterina, observa-se a decídua parietal. Até a 14ª semana de gestação a decídua reflexa, ainda, não se acolou à parietal na parede uterina oposta à nidação, permitindo teoricamente a ascensão do espermatozóide, possibilitando a ocorrência de multifetação. Após este período, com a fusão das decíduas parietal e reflexa o útero não é mais pérvio. O colo uterino passa de coloração rósea (não gravídica) para vinhosa, fato que permite inferir o diagnóstico precoce de gestação. Highlight Vagina (resumido) Chama atenção a coloração vinhosa da vagina no período gestacional perdendo aquela tonalidade rósea característica do período não gravídico. A superfície brilhante com diminuição de rugosidade informa sobre o edema que, fisiologicamente, ocorre neste sítio. Dentro do processo global de armazenamento e reserva de glicídios, a parede vaginal aumenta seus depósitos de glicogênio, substrato para os bacilos de Dodërlein. Esses bacilos quebram o glicogênio metabolizando-o até ácido láctico, mantendo o pH do meio vaginal dentro de limites ideais para a manutenção da microflora habitual e normal deste local. Com o aumento desses bacilos, aumenta o teor de ácido láctico vaginal, diminuindo o pH e predispondo a infecção vaginal por fungos, bastante frequente na vigência de pH vaginal mais baixo que o normal. Vulva (resumido) Como ocorre em todas as linhas de fechamento do organismo no esqueleto axial, a coloração acentua durante a gravidez. A vagina adquire coloração acastanhada, acompanhada de aumento do volume decorrente do edema observado nessa região. Esse edema teria a função de coxim, evitando danos tissulares de maior gravidade no momento do parto. Sistema genital feminino A gestação exige várias adaptações do aparelho reprodutor, principalmente do útero, que tem como função albergar o feto. O útero não gravídico possui peso de 70g, cerca de 7 cm de comprimento e 10 mL de volume; com o decorrer da gestação, seu peso alcança 1.100g e seu volume atinge 4.500 a 5.000 mL. Na prática clínica, pode-se observar o crescimento uterino de 4 cm por mês após ultrapassar os limites da pelve, alcança a cicatriz umbilical na 20ª semana e o apêndice xifoide ao termo. Portanto, a medida do púbis ao fundo uterino constitui ferramenta importante no evoluir da gestação. Ele sofre alterações na coloração, na forma e na consistência. Pelo aumento da vascularização e a vasodilatação venosa, o útero apresenta cor violácea. Enquanto ocupa a pelve materna, a forma do útero é de pera, evoluindo ao redor de 12 semanas para esférico, pelo aspecto globoso do corpo e fundo uterino. Posteriormente, torna-se ovoide pelo crescimento longitudinal maior que a largura. O sinal de Piscacek aparece pela assimetria uterina provocada no local da implantação do embrião. A embebição gravídica leva à diminuição da consistência uterina, além do adelgaçamento das fibras uterinas com o evoluir da gestação, propiciando a palpação de partes fetais. Peloamolecimento dos tecidos adjacentes e pelo peso uterino, ocorre a ocupação dos fórnices vaginais laterais, o sinal de Nobile-Budin. A polaciúria do início da gestação devida à anteversoflexão (sinal de Hegar, amolecimento do istmo sentido ao toque vaginal) melhora com o crescimento uterino que leva à dextrorrotação do mesmo devido à presença do sigmoide. A conversão uterina acontece quando o útero adquire a forma esférica, para promover melhor circulação uterina ao redor de 20 semanas. Nesse momento, o istmo é incorporado ao corpo uterino e vai se denominar segmento inferior. O endométrio desenvolve a decídua basal, onde o embrião se implanta, a decídua parietal, restante da cavidade uterina em que não ocorre a implantação, e a decídua reflexa, que envolve o embrião e se funde com a parietal com 16 semanas, quando o embrião passa a preencher toda a cavidade uterina. O miométrio é constituído por fibras musculares, colágeno e matriz extracelular. A consistência sofre modificação pela retenção hídrica da embebição gravídica e pelo afastamento das fibras musculares devido à alteração das frações solúveis e da matriz extracelular. As fibras musculares apresentam hiperplasia nas primeiras semanas da gestação, importante hipertrofia (50 µ passam a 500 µ) e, finalmente, alongamento em resposta ao crescimento do feto. As fibras musculares se dispõem em sistemas de espirais, que se originam de cada lado das tubas e vão formar ângulos na porção mediana. Essa disposição das fibras facilita o estiramento durante a evolução da gravidez. Também tem fundamental papel no pós-parto para o tônus uterino e o clampeamento fisiológico dos vasos, ligadura viva. Apesar da existência de contrações irregulares e indolores desde a gestação inicial, somente as contrações de Braxton-Hicks podem ser detectadas por palpação após o segundo trimestre. Essas têm intensidade cerca de 5 a 25 mmHg e aparecem aleatoriamente sem intervalo ou frequência predeterminados. As artérias uterinas e as artérias ovarianas são responsáveis pela vascularização. O fluxo sanguíneo local chega a níveis de 500 a 700 mL/min. Na região do istmo, os ramos das artérias uterinas passam transversamente e paralelamente às fibras musculares. A recomendação de incisão transversa segmentar para a cesárea favorece a menor perda sanguínea e poupa as fibras musculares. As ondas de invasão trofoblásticas aumentam o número de vasos placentários, destruindo a camada média das arteríolas espiraladas para transformá-las em uteroplacentárias. Em decorrência, obtém-se aumento do fluxo e redução da resistência das artérias uterinas. O sistema nervoso autônomo promove a inervação uterina, através de fibras aferentes (sensitivas) e eferentes (motoras, secretoras, simpáticas e parassimpáticas). O plexo uterovaginal (plexo de Frankenhauser) é o principal e age na atividade contrátil involuntária da musculatura uterina, tubária e vaginal. Essa região tem ainda outros plexos importantes como hipogástrico e pélvico. O istmo é limitado superiormente pelo seu orifício interno (orifício interno anatômico) e inferiormente pelo orifício interno do colo uterino. O colo uterino gravídico apresenta, ao toque, amolecimento, que pode auxiliar no diagnóstico da gravidez (regra de Goodell – consistência semelhante à do lábio, na presença de gravidez). O esvaecimento do colo em primíparas e a perda do tampão mucoso são sinais clínicos importantes da proximidade do parto. Não se observa o apagamento em multíparas, pois os ligamentos uterossacros encontram-se frouxos, de forma que as contrações de Braxton-Hicks não conseguem pressionar a apresentação na pelve. O colo do útero pode ser influenciado pelos hormônios e sofrer eversão da mucosa da endocérvice, o que constitui a mácula rubra, evidenciada ao exame especular. Também pela intensa vascularização, possui sangramento fácil. No ovário, o corpo lúteo gravídico fornece quantidades suficientes de progesterona para preparar a decídua para a implantação do blastocisto. Os altos níveis de beta-hCG mantêm o corpo lúteo. A regressão dele começa por volta de 12 semanas. A vulva e a vagina apresentam cor arroxeada pelo aumento vascular local, cujas denominações são, respectivamente, sinal de Jacquemier-Chadwick e sinal de Kluge. O sinal de Osiander é a percepção da pulsação das artérias vaginais dilatadas nos fórnices laterais. Novamente, a retenção hídrica e a hipertrofia das células musculares e do tecido conjuntivo vão garantir a distensão vaginal para o parto. O pH vaginal oscila entre 3,5 e 6,0 e age na defesa contra infecções bacterianas, contudo pode facilitar a candidíase. O epitélio da vagina é submetido a altos níveis de progesterona, que propicia a proliferação de Lactobacillus acidophilus por meio do acúmulo de glicogênio e da excessiva descamação. As células naviculares são típicas de esfregaços de gestantes, provenientes da descamação da camada intermediária. As modificações das mamas ocorrem na gestação incipiente. Aumento da temperatura mamária (hipervascularização da rede venosa, denominada de rede de Haller), mastalgia e hipersensibilidade são sintomas comuns. A prolactina, produzida pela adenoipófise, os estrógenos e a progesterona procedentes do compartimento placentário têm a função de preparar as mamas para a lactação. O aumento do volume mamário se inicia com seis semanas. Os mamilos se apresentam com cor acastanhada, e os limites da aréola não precisos dão origem à aréola secundária ou de sinal de Hunter. Os tubérculos de Montgomery são elevações visíveis nas mamas (aréolas e mamilos), decorrentes da hipertrofia das glândulas sebáceas. Não existe correlação do tamanho pré-gravídico das mamas com o êxito da produção láctea. À expressão mamária, pode-se observar saída de colostro após a segunda metade da gestação. 2) CARACTERIZAR AS MODIFICAÇÕES PSICOLÓGICAS MATERNAS DURANTE ESTE PERÍODO. O tema em estudo possui questões que se apresentam abertas no que se refere à saúde mental das mulheres durante a gestação, do ponto de vista de suas alterações morfológicas, funcionais e psicológicas. Muitas gestantes demonstram tristeza ou ansiedade ao invés de alegria. A gestação é um período da vida que necessita ser avaliado com especial atenção, pois é de particular suscetibilidade para as mulheres, sendo, com frequência, estressante física e mentalmente. Para Miranda, Dias e Brenes (2007) constitui o evento de vida mais complexo da experiência humana, podendo ser considerado um agente estressor que produz alterações biopsicossociais na mulher, cujas repercussões são diretamente influenciadas pela carga genética, pelo desenvolvimento psicológico e pela estrutura social da futura mãe. Os hormônios femininos, durante a gravidez, sofrem um aumento em sua concentração, modificando o corpo da mulher para proporcionar o crescimento adequado do bebê, o que pode trazer mudanças orgânicas e comportamentais significativas para a mulher, inclusive o desencadeamento ou a exacerbação de sintomatologia depressiva, podendo apresentar sintomas como ansiedade, baixa concentração, irritabilidade, mudança no apetite, insônia, hipersônia e perda de energia. Por ser um fator gerador de ansiedade, a gestação pode tornar a mulher mais vulnerável ao desenvolvimento de perturbações emocionais. Como indica Zugaib (2008), o gravídico-puerperal é a fase de maior incidência de transtornos psíquicos na mulher, como a intensidade das alterações psicológicas relacionada a fatores familiares, conjugais, sociais, culturais e da própria personalidade da gestante. Este autor defende que 25% a 35% das mulheres desenvolvem sintomas depressivos na gestação, incluindo desde quadros transitórios benignos até situações graves que podemculminar em prejuízos irreparáveis para a gestante. Dependendo do grau, as alterações podem causar sérios prejuízos na interação social da mulher, originando a problemas graves de relacionamento, dificultando e, em determinados casos, até excluindo a gestante de relações sociais, como o trabalho, podendo interferir na produtividade do local. No ciclo vital da mulher, segundo Maldonado (2002), há três períodos críticos de transição que constituem verdadeiras fases do desenvolvimento da personalidade: a adolescência, a gravidez e o climatério. São três períodos de transição biologicamente determinados, caracterizados por mudanças metabólicas complexas, em que há a necessidade de novas adaptações, reajustamentos interpessoais e intrapsíquicos, além da mudança de identidade. Rancure/ e Marmie (1975) falam que mesmo as gravidezes mais «normais» apresentam modificações psicológicas. Toda mulher grávida experimenta certa angústia que se exprimiria nos sonhos, nos problemas com o sono, nos temores conscientemente ditos. Também seriam, as modificações do paladar, os desejos, fases de irritabilidade, de instabilidade de humor com passagens rápidas dos sorrisos às lágrimas. Poder-se-ia ver a alternância de períodos de ciúmes e indiferença e desregramento dos apetites sexuais, além de uma certa lentidão de ideias e apatia levando a sonolência. As alterações psicológicas da gravidez estão divididas em três trimestres apenas para fim didático. O segundo trimestre é considerado o mais estável do ponto de vista emocional. O impacto dos primeiros movimentos fetais é um fenômeno central neste trimestre - é a primeira vez que a mulher sente o feto como uma realidade concreta dentro de si, como um ser separado dela e no entanto tão dependente, mas já com características próprias. As alterações do desejo e do desempenho sexual tendem a surgir com maior intensidade a partir deste momento. A introversão e a passividade constituem características emocionais das mais comuns na gravidez. Este aspecto ocorre por modificações metabólicas necessárias na preparação para o papel da mãe. Neste período também, a mulher sente maior necessidade de afeto, cuidados e proteção. No terceiro trimestre, o nível de ansiedade deve elevar-se novamente com a proximidade do parto e da mudança de rotina da vida após a chegada do bebê. A ansiedade é maior principalmente nos dias que antecedem a data prevista do parto e tende a intensificar-se quando esta é ultrapassada. 3) DESCREVER O PRÉ-NATAL DE ACORDO COM AS ORIENTAÇÕES DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, SUA IMPORTÂNCIA, PERIODICIDADE, CONSIDERANDO OS EXAMES CLÍNICOS E EXAMES SUBSIDIÁRIOS E PRINCIPAIS ORIENTAÇÕES. IMPORTÂNCIA A realização do pré-natal representa papel fundamental em termos de prevenção e/ou detecção precoce de patologias tanto maternas como fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante. Informações sobre as diferentes vivências devem ser trocadas entre as mulheres e os profissionais de saúde. Essa possibilidade de intercâmbio de experiências e conhecimentos é considerada a melhor forma de promover a compreensão do processo de gestação. Deverão ser fornecidos pelo serviço de saúde: O cartão da gestante com a identificação preenchida e orientação sobre o mesmo; O calendário de vacinas e suas orientações; A solicitação dos exames de rotina; As orientações sobre a sua participação nas atividades educativas – reuniões em grupo e visitas domiciliares; O agendamento da consulta médica para pesquisa de fatores de risco. PRINCIPAIS OBJETIVOS: Preparar a mulher para a maternidade, proporcionando informações educativas sobre o parto e o cuidado da criança (puericultura); Fornecer orientações essenciais sobre hábitos de vida e higiene pré-natal; Orientar sobre a manutenção essencial de estado nutricional apropriado; Orientar sobre o uso de medicações que possam afetar o feto ou o parto ou medidas que possam prejudicar o feto; Tratar das manifestações físicas próprias da gravidez; Tratar de doenças existentes, que de alguma forma interfiram no bom andamento da gravidez; Fazer prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de doenças próprias da gestação ou que sejam intercorrências previsíveis dela; Orientar psicologicamente a gestante para o enfrentamento da maternidade; Nas consultas médicas, o profissional deverá orientar a paciente com relação a dieta, higiene, sono, hábito intestinal, exercícios, vestuário, recreação, sexualidade, hábitos de fumo, álcool, drogas e outras eventuais orientações que se façam necessárias. Como condições para uma assistência pré- natal efetiva, os seguintes elementos devem ser garantidos: Captação precoce da gestante na comunidade; Controle periódico, contínuo e extensivo à população-alvo; Recursos humanos treinados; Área física adequada; Equipamento e instrumental mínimos; Instrumentos de registro e estatística; Medicamentos básicos; Apoio laboratorial mínimo; Sistema eficiente de referência e contrarreferência; Avaliação das ações da assistência pré-natal. PERIODICIDADE O pré-natal deve começar assim que a mulher descobre que está grávida. No Brasil, a partir desse momento, o Ministério da Saúde recomenda que sejam realizadas no mínimo seis consultas (uma no primeiro trimestre da gravidez, duas no segundo e três no terceiro), Sendo ideal é que a primeira consulta aconteça no primeiro trimestre e que, até a 34ª semana, sejam realizadas consultas mensais. Entre a 34ª e 38ª semanas, o indicado seria uma consulta a cada duas semanas e, a partir da 38ª semana, consultas toda semana até o parto, que geralmente acontece na 40ª semana, mas pode durar até 42 semanas. O calendário de atendimento pré-natal foi programado em função: Da idade gestacional na primeira consulta; Dos períodos mais adequados para a coleta de dados clínicos, necessários ao bom seguimento da gestação; Dos períodos nos quais se necessita intensificar a vigilância, pela possibilidade maior de incidência de complicações; Dos recursos disponíveis nos serviços de saúde e da possibilidade de acesso da clientela aos mesmos. Para uma gestante sem fatores de risco detectados, estabelece-se que, no mínimo, duas consultas sejam realizadas pelo médico: uma no início do pré-natal (não necessariamente a 1ª consulta) e outra entre 29ª e a 32ª semana de gestação. Se o parto não ocorrer até 7 dias após a data provável, a gestante deverá ter consulta médica assegurada, ou ser referida para um serviço de maior complexidade. Até 28ª semana – mensalmente; Da 28ª até a 36ª semana – quinzenalmente; Da 36ª até a 41ª semana – semanalmente. EXAMES CLÍNICOS Deve ser feita a anamnese e o exame físico geral, principalmente focado no gineco-obstétrico. Exame de mamas (realizar orientações para o aleitamento materno em diferentes momentos educativos, principalmente se for adolescente. Nos casos em que a amamentação estiver contraindicada – portadoras de HIV/HTLV –, orientar a mulher quanto à inibição da lactação (mecânica e/ou química) e para a aquisição da fórmula infantil); Palpação obstétrica e identificação da situação e apresentação fetal; Medida da altura uterina; Ausculta dos batimentos cardíacos fetais; Inspeção dos genitais externos; Exame especular: Inspeção das paredes vaginais; Inspeção do conteúdo vaginal; Inspeção do colo uterino; Coleta de material para exame colpocitológico (preventivo de câncer), se houver indicação, e para a pesquisa de infecção por clamídia e gonococo, se houver sinais de inflamação e corrimento cervical mucopurulento; Toque vaginal; EXAMES COMPLEMENTARES Na primeiraconsulta solicitar: Dosagem de hemoglobina e hematócrito (Hb/Ht); Grupo sangüíneo e fator Rh; Sorologia para sífilis (VDRL): repetir próximo à 30ª semana; Glicemia em jejum: repetir próximo à 30ª semana; Exame sumário de urina (Tipo I): repetir próxima à 30ª semana; Sorologia anti-HIV, com o consentimento da mulher; Sorologia para hepatite B (HBsAg, de preferência próximo à 30ª semana de gestação); Sorologia para toxoplasmose (IgM para todas as gestantes e IgG, quando houver disponibilidade para realização). Outros exames podem ser acrescidos a esta rotina mínima em algumas situações especiais: Protoparasitológico: solicitado na primeira consulta, sobretudo para mulheres de baixa renda; Colpocitologia oncótica (papanicolau), se a mulher não a tiver realizado nos últimos três anos ou se houver indicação; Bacterioscopia da secreção vaginal: em torno da 30ª semana de gestação, particularmente nas mulheres com antecedente de prematuridade; Sorologia para rubéola; Urocultura para o diagnóstico de bacteriúria assintomática, em que exista disponibilidade para esse exame; Ultrassonografia obstétrica. Caso a gestante inicie o pré-natal precocemente o primeiro ultrassom pode ser realizado entre 10º à 13º semana e deve se repetir entre 20º á 24º semanas. ROTEIRO DAS CONSULTAS SUBSEQUENTES Revisão da ficha pré-natal; Anamnese atual sucinta; Verificação do calendário de vacinação. I. Controles maternos: Cálculo e anotação da idade gestacional; Determinação do peso para avaliação do índice de massa corporal (IMC). Anotar no gráfico e observar o sentido da curva para avaliação do estado nutricional; Medida da pressão arterial (observar a aferição da PA com técnica adequada); Palpação obstétrica e medida da altura uterina. Anotar no gráfico e observar o sentido da curva para avaliação do crescimento fetal; Pesquisa de edema; Verificação dos resultados dos testes para sífilis (VDRL e confirmatório, sempre que possível) e, no caso de resultado positivo, o esquema terapêutico utilizado (na gestante e em seu parceiro), além do resultado dos exames (VDRL) realizados mensalmente para o controle de cura; Avaliação dos outros resultados de exames laboratoriais. II. Controles fetais: Ausculta dos batimentos cardíacos; Avaliação dos movimentos percebidos pela mulher e/ou detectados no exame obstétrico. III. Condutas: Interpretação dos dados de anamnese, do exame obstétrico e dos exames laboratoriais com solicitação de outros, se necessários; Tratamento de alterações encontradas, ou encaminhamento, se necessário; Prescrição de suplementação de sulfato ferroso (60mg de ferro elementar/dia) e ácido fólico (5mg/dia); Orientação alimentar; Acompanhamento das condutas adotadas em serviços clínicos especializados (a mulher referenciada ao serviço especializado deverá continuar sendo acompanhada pela equipe da atenção básica); Agendamento de consultas subsequentes. ORIENTAÇÕES Durante o pré-natal e no atendimento após o parto, a mulher, ou a família, devem receber informações sobre os seguintes temas: Importância do pré-natal; Higiene e atividade física; Nutrição: promoção da alimentação saudável (enfoque na prevenção dos distúrbios nutricionais e das doenças associadas à alimentação e nutrição – baixo peso, sobrepeso, obesidade, hipertensão e diabetes; e suplementação de ferro, ácido fólico e vitamina A – para as áreas e regiões endêmicas); Desenvolvimento da gestação; Modificações corporais e emocionais; Medos e fantasias referentes à gestação e ao parto; Atividade sexual, incluindo prevenção das DST/Aids e aconselhamento para o teste anti-HIV; Sintomas comuns na gravidez e orientação alimentar para as queixas mais frequentes; Sinais de alerta e o que fazer nessas situações (sangramento vaginal, dor de cabeça, transtornos visuais, dor abdominal, febre, perdas vaginais, dificuldade respiratória e cansaço); Preparo para o parto: planejamento individual considerando local, transporte, recursos necessários para o parto e para o recém-nascido, apoio familiar e social; Orientação e incentivo para o aleitamento materno e orientação específica para as mulheres que não poderão amamentar; Importância do planejamento familiar, num contexto de escolha informada, com incentivo à dupla proteção; Sinais e sintomas do parto; Cuidados após o parto (para a mulher e o recém- nascido – estimular o retorno ao serviço de saúde); Saúde mental e violência doméstica e sexual; Informação acerca dos benefícios legais a que a mãe tem direito; Impacto e agravos das condições de trabalho sobre a gestação, o parto e o puerpério; Importância da participação do pai durante a gestação e do desenvolvimento do vínculo pai-filho para o desenvolvimento saudável da criança; Gravidez na adolescência e dificuldades sociais e familiares; Importância das consultas puerperais; Cuidados com o recém-nascido; Importância da realização da triagem neonatal (teste do pezinho) na primeira semana de vida do recém-nascido; Importância do acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança, e das medidas preventivas (vacinação, higiene e saneamento do meio ambiente). Além disso: Manter uma alimentação saudável: Fazendo pequenas refeições, várias vezes ao dia, com alimentos variados como: milho, aveia, arroz, feijão, verduras, legumes, frutas, leite, iogurte, queijos e carnes; Consumindo cereais e farinhas integrais que são ricos em fibras e ajudam a prevenir a prisão de ventre; Preferindo alimentos da sua região e da época porque são mais baratos e frescos; Evitando consumir alimentos que contenham excesso de açúcar, sal, gorduras e com aditivos químicos; Consumindo carnes e vísceras, como carne de boi, peixes, carne de frango, fígado, pois ajudam a prevenir a anemia; Bebendo bastante água, cerca de 6 a 8 copos grandes por dia; Bebendo sucos de frutas, água de coco, entre as refeições. Não usar bebidas alcoólicas e cigarros. Usar remédios apenas com prescrição médica, pois alguns são prejudiciais à sua saúde e à do bebê: Fumo atrapalha o crescimento do bebê dentro do útero e, após o nascimento, pode prejudicar o seu desenvolvimento. Também é importante evitar o contato com a fumaça. Álcool e algumas outras drogas podem fazer seu bebê nascer com baixo peso e outros problemas de saúde. Ser ainda mais rigorosa com a escovação dos dentes depois das refeições e antes de dormir. No início da gestação, convém fazer uma consulta com o dentista. Caso seja necessário tratamento, este poderá ser realizado a partir do quarto mês. Preparar-se para amamentar. Sempre que possível, tomar banho de sol pela manhã, antes das 10 horas, expondo os seios. Use sutiã; evitar uso de sabões, cremes ou pomadas no mamilo; não ordenhar o peito na gestação para retirada do colostro. Fortalecer os músculos com caminhadas e exercícios leves que ajudam a controlar o peso e melhoram a circulação do sangue, e lhe dão vitalidade e sensação de bem-estar. Realizar exercícios para fortalecer o períneo. O períneo é a região entre a vagina e o ânus. Relaxar esta região no momento do parto facilita a passagem do bebê pelo canal vaginal. Um exercício muito simples é o de prender e soltar a urina, alternadamente, quando for ao banheiro. Melhorar a respiração, pois muitas mulheres têm falta de ar durante a gravidez. É importante ficar atenta à respiração e tornar este processo consciente. Procure respirar de forma lenta, profunda, de maneira que o ar chegue cada vez mais baixo em seu abdômen. Prevenir as manchas de pele, que são muitocomuns na gravidez, protegendo-se do sol usando bonés ou chapéus e protetor solar, mesmo se o tempo estiver nublado. Ter um ganho de peso adequado, o que diminui o risco de algumas doenças, inclusive diabetes e pressão alta. O controle do peso é feito nas consultas pré-natais. Prevenir as estrias, que são comuns na gravidez. Você pode massagear a barriga com hidratante e, se tiver dúvidas, pergunte na consulta. 4) RELACIONAR AS MEDIDAS OBSTÉTRICAS REALIZADAS CLINICAMENTE COM A AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO E VITALIDADE FETAL. Para um bom acompanhamento pré-natal, é necessário que a equipe de saúde realize correta e uniformemente os procedimentos técnicos durante o exame clínico e obstétrico. Do contrário, ocorrerão diferenças significativas, prejudicando a comparação e a interpretação dos dados. Cabe aos profissionais de formação universitária promover a capacitação dos demais membros da equipe, visando a garantir que todos os dados colhidos sejam fidedignos. É importante ressaltar, no contexto da qualidade de atenção e da proteção biológica, a necessidade da lavagem das mãos do examinador, antes e após o atendimento à gestante e, especialmente, na eventualidade da realização de procedimentos. Atualmente, a avaliação da vitalidade fetal anteparto é solicitada para as gestações nas quais o risco de comprometimento fetal é sabidamente aumentado. São gestantes portadoras de intercorrências clínicas e/ou obstétricas, que potencialmente se relacionam à disfunção placentária ou a patologias fetais, e expõem o concepto ao risco de sequelas a longo prazo ou ao óbito. Os testes utilizados baseiam-se na premissa de que o feto com distúrbios de oxigenação apresentará quadro clínico caracterizado por respostas adaptativas fisiológicas, que podem evoluir para sinais de descompensação fetal. REGISTRO DE MOVIMENTOS FETAIS A investigação sobre os movimentos fetais tem grande importância na prática obstétrica. Eles são percebidos pela mãe no segundo trimestre gestacional, entre a 17ª e a 20ª semana de gestação. É dado de fácil observação que pode ser investigado na anamnese bem dirigida. A movimentação fetal se reduz frente à hipoxemia. Quando são relatadas mudanças abruptas no padrão de movimentação do concepto, elas podem revelar comprometimento fetal, exigindo investigação por propedêutica especializada. Não existe padronização quanto aos métodos de registro dos movimentos fetais. Apesar do Ministério da Saúde1 recomendar, para as gestações de baixo risco, o registro diário de seis movimentos fetais em uma hora de observação a partir da 34ª semana, não existem evidências claras do limite abaixo do qual ocorra maior risco de comprometimento fetal. Um estudo internacional composto por 68.654 casos não demonstrou diferença significativa na prevenção de mortes fetais tardias, potencialmente evitáveis, entre gestantes instruídas a realizar contagem rotineira dos movimentos fetais em relação ao Grupo Controle. Ademais, revisão sistemática conclui serem insuficientes as evidências para se recomendar a avaliação rotineira da contagem de movimentos fetais na prevenção do óbito fetal. Portanto, não existe definição sobre o número ideal de movimentos fetais, nem da duração para fins de contagem. A reprodutibilidade e a predição desses métodos tornam-se precárias e o dado qualitativo parece ter melhor aplicabilidade na prática clínica diária. Um estudo recente demonstra que informações escritas oferecidas às gestantes sobre a importância da redução da movimentação fetal, e o estímulo ao controle deste parâmetro promoveram melhor conduta e estão associados a menor ocorrência de óbito fetal. ALTURA UTERINA Embora seja um método simples, seu uso na prática obstétrica é relativamente recente. Nos séculos XVIII e XIX o pré-natal ainda não havia sido incorporado à clínica, logo não se avaliava o crescimento fetal durante a gravidez. O tamanho, o peso e o comprimento do feto, ou do recém-nascido, embora objeto de curiosidade, não tinham relevância clínica. “Uns são maiores, maiores e mais pesados; outros são pequenos e mais leves; de modo que não se pode determinar exatamente a idade gestacional com base nas dimensões e no peso do recém-nascido”. No início do século XX, com o advento do pré-natal, a mensuração da altura uterina foi incorporada à rotina. Todavia, o objetivo era estimar a idade gestacional, e o tamanho do feto (e da cabeça fetal) no final da gravidez, para estabelecer momento e via de parto, nos casos suspeitos de desproporção céfalo-pélvica (cabeça grande/feto grande e bacia estreita. O conceito de crescimento intrauterino restrito não fazia sentido, já que nesta época não havia qualquer método para o diagnóstico dessa condição, técnicas para vigilância da vitalidade ou intervenções eficazes, caso o diagnóstico fosse feito. De todo modo, a técnica da mensuração da altura uterina, com uma fita métrica, era idêntica à técnica posteriormente adotada para acompanhar o crescimento fetal durante a gestação. A mesma técnica, com objetivos diferentes. No início da década de 70 é que a mensuração da altura do fundo uterino com o objetivo de identificar restrição do crescimento intrauterino foram incorporados à rotina de pré-natal. Um dos trabalhos mais importantes a respeito da técnica foi realizado na Suécia. “A mortalidade perinatal no Dandeyd Hospital durante o período 1968-70 (período I: 9.801 nascimentos) foi de 16/1.000 nascimentos. A mortalidade intraparto, apesar dos recursos insuficientes para monitoração da FCF correspondeu a apenas 11% do mortalidade perinatal. O óbito anteparto correspondeu a não menos do que 42% da mortalidade perinatal. A maioria dos óbitos anteparto ocorreu antes da admissão e mais de 50% dos casos não apresentavam anomalia congênita. Apesar da vigilância intensiva, o pré-natal convencional não foi suficiente para predizer crescimento fetal retardado, ou acelerado, ou gemelaridade. Por isso, o gravidograma foi desenhado para supervisão da gravidez através da visualização gráfica das modificações na distância sínfise-fundo materno. Após a introdução do gravidograma, houve uma queda imediata e persistente da mortalidade perinatal, para 8/1.000 nascimentos (em um total de 12.800 nascimentos). Uma curva de crescimento normal na distância sínfise-fundo (Altura uterina – AU) implica em crescimento fetal normal, e o risco de óbito intrauterino por crescimento fetal retardado é praticamente zero.” Passados mais de 40 anos desde a publicação deste trabalho, muita coisa mudou em relação ao diagnóstico do CIUR. O ultrassom, padrão ouro para o diagnóstico de anormalidades do crescimento fetal, tornou-se mais disponível. Além disso, sua qualidade aumentou enormemente. Por causa disso, o ultrassom passou a ser defendido como método de escolha não apenas para o diagnóstico, mas também para o screening do CIUR (crescimento intra-uterino restrito), mesmo em mulheres de baixo risco. Vários estudos avaliaram a acurácia da mensuração da altura uterina como método de triagem para CIUR. Os critérios para definição de altura uterina anormal variaram entre os diferentes estudos (uma medida única abaixo de p10; 2-3 medidas abaixo do p10). O Valor Preditivo Negativo da altura uterina foi superior a 90%, enquanto que o Valor Preditivo Positivo foi inferior a 50% na maioria dos estudos. Isso significa que, em gestantes de risco habitual, se o crescimento da altura uterina é normal, a probabilidade de CIUR passar sem diagnóstico é da ordem de 10%. Por outro lado, se o crescimento encontra-se abaixo do esperado, um ultrassom deve ser feito, para confirmar o diagnóstico. Todavia, ao menos 50% destes exames devem dar resultado normal, excluindo o diagnóstico de CIUR. Assim sendo,malgrado a melhoria da qualidade do ultrassom e sua maior disponibilidade, a medida da altura uterina com uma fita métrica, e a plotagem das medidas em uma curva de crescimento, continuam sendo o método de escolha para o rastreio de crescimento intrauterino restrito em mulheres com gestação de baixo risco. É um método barato, simples, amplamente disponível e em geral aceito pelas mulheres. O prenatalista deve apenas tomar o cuidado de realizar a mensuração com técnica adequada e excluir as gestantes nas quais a altura do fundo uterino não é confiável (mulheres com miomatose, gemelares e obesas/IMC > 35). O ultrassom de rotina deve ser oferecido quando a mensuração não é confiável e/ou quando o crescimento mensurado pela fita métrica é anormal (abaixo da curva). MEDIDA DA ALTURA UTERINA/ ACOMPANHAMENTO DO CRESCIMENTO FETAL Indicador: altura uterina em relação ao número de semanas de gestação. Padrão de referência: curvas de altura uterina para idade gestacional desenhadas a partir dos dados do Centro LatinoAmericano de Perinatologia (CLAP). Ponto de corte: serão considerados parâmetros de normalidade para o crescimento uterino o percentil 10, para o limite inferior, e o percentil 90, para o limite superior. Representação do indicador: por meio de gráfico constituído de duas linhas: a inferior representa o percentil 10, e a superior, o percentil 90. I. Avaliação do aumento da altura uterina O útero aumenta seu tamanho com a idade gestacional. Foram desenvolvidas curvas de altura uterina em função da Idade gestacional, nas quais os percentis 10 e 90 marcam os limites da normalidade, Quando os dados da amenorréia são confiáveis e se descarta a possibilidade de feto morto e oligoâmnio, a medida da altura uterina permite diagnosticar o crescimento intra-uterino retardado com uma sensibilidade de 56% e uma especificidade de 91%. A sensibilidade da altura uterina para o diagnóstico de macrossomia fetal é de 92% e sua especificidade 72%, uma vez que tenham sido excluídos a gravidez gemelar, os polidrâmnios e a miomatose uterina. A medida é feita em centímetros com uma fita métrica flexível e não extensível, do púbis ao fundo do útero, determinado por palpação, com a grávida em decúbito dorsal. Existem diferentes métodos de medida que oferecem valores diferentes, por isso é imprescindível normalizar a forma de medir e utilizar padrões normais de referência que tenham sido elaborados com a mesma técnica. É considerada normal a frequência cardíaca fetal entre 120 a 160 batimentos por minuto. AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL (EN) E DO GANHO DE PESO GESTACIONAL Objetivo: avaliar e acompanhar o estado nutricional da gestante e o ganho de peso durante a gestação para: • Identificar, a partir de diagnóstico oportuno, as gestantes em risco nutricional (baixo peso, sobrepeso ou obesidade), no início da gestação; • Detectar as gestantes com ganho de peso baixo ou excessivo para a idade gestacional; • Realizar orientação adequada para cada caso, visando à promoção do estado nutricional materno, as condições para o parto e o peso do recém-nascido. Técnicas para a tomada das medidas do peso e da altura O peso deve ser aferido em todas as consultas de pré- natal. A estatura da gestante adulta (idade > 19 anos) deve ser aferida apenas na primeira consulta e a da gestante adolescente*, pelo menos trimestralmente. Recomenda-se a utilização da balança eletrônica ou mecânica, certificando-se se está em bom funcionamento e calibrada. O cuidado com as técnicas de medição e a aferição regular dos equipamentos garantem a qualidade das medidas coletadas. I. Procedimentos para pesagem. Balança de adulto, tipo plataforma, com escala apresentando intervalos de 100g, ou eletrônica, se disponível. • Antes de cada pesagem, a balança deve ser destravada, zerada e calibrada; • A gestante, descalça e vestida apenas com avental ou roupas leves, deve subir na plataforma e ficar em pé, de costas para o medidor, com os braços estendidos ao longo do corpo e sem qualquer outro apoio; • Mover o marcador maior (kg) do zero da escala até o ponto em que o braço da balança incline-se para baixo; voltar, então, para o nível imediatamente anterior (o braço da balança inclina-se para cima); • Mover o marcador menor (g) do zero da escala até o ponto em que haja equilíbrio entre o peso da escala e o peso da gestante (o braço da balança fica em linha reta e o cursor aponta para o ponto médio da escala); • Ler o peso em quilogramas na escala maior e em gramas na escala menor. No caso de valores intermediários (entre os traços da escala), considerar o menor valor. Por exemplo: se o cursor estiver entre 200 e 300g, considerar 200g; • Anotar o peso encontrado no prontuário e no cartão da gestante. II. Procedimentos para medida da estatura: • A gestante deve estar em pé e descalça, no centro da plataforma da balança, com os braços estendidos ao longo do corpo. Quando disponível, poderá ser utilizado o antropômetro vertical; • Calcanhares, nádegas e espáduas devem se aproximar da haste vertical da balança. No caso de se usar antropômetro vertical, a gestante deverá ficar com calcanhares, nádegas e espáduas encostados no equipamento; • A cabeça deve estar erguida de maneira que a borda inferior da órbita fique no mesmo plano horizontal que o meato do ouvido externo; • O encarregado de realizar a medida deverá baixar lentamente a haste vertical, pressionando suavemente os cabelos da gestante até que a haste encoste no couro cabeludo; • Fazer a leitura na escala da haste. No caso de valores intermediários (entre os traços da escala), considerar o menor valor. Anotar o resultado no prontuário. ORIENTAÇÕES PARA O DIAGNÓSTICO E O ACOMPANHAMENTO DO ESTADO NUTRICIONAL DA GESTANTE O primeiro passo para a avaliação nutricional da gestante é a aferição do peso e da estatura maternos e o cálculo da idade gestacional. • Na primeira consulta de pré-natal Na primeira consulta de pré-natal, a avaliação nutricional da gestante com base em seu peso e sua estatura permite conhecer seu estado nutricional atual e subsidia a previsão de ganho de peso até o fim da gestação. Essa avaliação deve ser feita conforme descrito a seguir: 1. Calcule o IMC O valor do IMC também pode ser obtido utilizando-se o DISCO para IMC. Esse instrumento é formado por dois planos circulares sobrepostos. O plano maior (inferior) possui, em suas bordas, valores de peso em quilogramas na parte externa e, na parte interna, os valores do IMC, que permitem a classificação nutricional. O plano menor (superior) possui valores da estatura em centímetros, uma seta e um visor. Faz-se a leitura do disco emparelhando os valores do peso e da estatura da gestante e lendo o valor de IMC na “janelinha”. 2. Realize o diagnóstico nutricional - Calcule a semana gestacional; Obs.: Quando necessário, arredonde a semana gestacional da seguinte forma: 1, 2, 3 dias considere o número de semanas completas; e 4, 5, 6 dias considere a semana seguinte. - Localize, na primeira coluna do Quadro 1, a semana gestacional calculada e identifique, nas colunas seguintes, em que faixa está situado o IMC da gestante. - Classifique o estado nutricional (EN) da gestante, segundo o IMC por semana gestacional, da seguinte forma: • Baixo Peso: quando o valor do IMC for igual ou menor aos valores apresentados na coluna correspondente a baixo peso; • Adequado: quando o IMC observado estiver compreendido na faixa de valores apresentada na coluna correspondente a adequado; • Sobrepeso: quando o IMC observado estiver compreendido na faixa de valores apresentada na coluna correspondente a sobrepeso; • Obesidade: quando o valor doIMC for igual ou maior do que os valores apresentados na coluna correspondente a obesidade. - Classifique o estado nutricional (EN) da gestante, segundo IMC/semana gestacional em: BP (baixo peso), A (adequado), S (sobrepeso), O (obesidade). Obs.: O ideal é que o IMC considerado no diagnóstico inicial da gestante seja o IMC pré-gestacional referido ou o IMC calculado a partir de medição realizada até a 13ª semana gestacional. Caso isso não seja possível, inicie a avaliação da gestante com os dados da primeira consulta de pré-natal, mesmo que esta ocorra após a 13ª semana gestacional. - Condutas segundo a avaliação do estado nutricional encontrado: • Baixo Peso (BP): investigar história alimentar, hiperêmese gravídica, infecções, parasitoses, anemias e doenças debilitantes; dar orientação nutricional, visando à promoção do peso adequado e de hábitos alimentares saudáveis; remarcar consulta em intervalo menor que o fixado no calendário habitual; • Adequado (A): seguir calendário habitual, explicar à gestante que seu peso está adequado para a idade gestacional, dar orientação nutricional, visando à manutenção do peso adequado e à promoção de hábitos alimentares saudáveis; • Sobrepeso e Obesidade (S e O): investigar obesidade pré-gestacional, edema, polidrâmnio, macrossomia, gravidez múltipla; dar orientação nutricional, visando à promoção do peso adequado e de hábitos alimentares saudáveis, ressaltando que no período gestacional não se deve perder peso; remarcar consulta em intervalo menor que o fixado no calendário habitual. Em função do estado nutricional pré-gestacional ou no início do pré-natal, estime o ganho de peso total até o fim da gestação. Para cada situação nutricional inicial (baixo peso, adequado, sobrepeso ou obesidade), há uma faixa de ganho de peso recomendada. Para o primeiro trimestre, o ganho foi agrupado para todo período, enquanto que, para o segundo e o terceiro trimestres, o ganho é previsto por semana. Portanto, já na primeira consulta, deve-se estimar quantos gramas a gestante deverá ganhar no primeiro trimestre, assim como o ganho por semana até o fim da gestação. Essa informação deve ser fornecida à gestante. Observe que as gestantes deverão ter ganhos de peso distintos, de acordo com seu IMC inicial. Para a previsão do ganho, faz-se necessário calcular quanto a gestante já ganhou de peso e quanto ainda deve ganhar até o fim da gestação em função da avaliação clínica. Gestantes de baixo peso deverão ganhar entre 12,5 e 18,0kg durante toda a gestação, sendo esse ganho, em média, de 2,3Kg no primeiro trimestre da gestação (até 14ª semana) e de 0,5Kg por semana no segundo e terceiro trimestres de gestação. Essa variabilidade de ganho recomendado deve-se ao entendimento de que gestantes com BP acentuado, ou seja, aquelas muito distantes da faixa de normalidade, devem ganhar mais peso (até 18kg) do que aquelas situadas em área próxima à faixa de normalidade, cujo ganho deve situar-se em torno de 12,5kg. Da mesma forma, gestantes com IMC adequado devem ganhar, ao fim da gestação, entre 11,5 e 16,0kg, aquelas com sobrepeso devem acumular entre 7,0 e 11,5Kg e as obesas devem apresentar ganho em torno de 7,0kg, com recomendação específica e diferente por trimestre. • Nas consultas subsequentes Nas consultas subsequentes, a avaliação nutricional deve ser feita repetindo-se os procedimentos (I) e (II) do tópico anterior. Essa avaliação permite acompanhar a evolução do ganho de peso durante a gestação e examinar se esse ganho está adequado em função do estado nutricional da gestante no início do pré-natal. Este exame pode ser feito com base em dois instrumentos: o Quadro 2, que indica qual o ganho recomendado de peso, segundo o estado nutricional da gestante no início do pré-natal, e o Gráfico 1, no qual se acompanha a curva de índice de massa corporal, segundo semana gestacional (ascendente, horizontal, descendente). Realize o acompanhamento do estado nutricional, utilizando o Gráfico de IMC por semana gestacional. O gráfico é composto por eixo horizontal com valores de semana gestacional e por eixo vertical com valores de IMC [peso (Kg)/estatura2 (m)]. O interior do gráfico apresenta o desenho de três curvas, que delimitam as quatro faixas para classificação do EN: Baixo Peso (BP), Adequado (A), Sobrepeso (S) e Obesidade (O). Para realizar o diagnóstico a cada consulta, deve-se proceder conforme descrito a seguir: 1. Calcule a semana gestacional; 2. Calcule o IMC conforme descrito no item (I) do tópico anterior; 3. Localize, no eixo horizontal, a semana gestacional calculada e identifique, no eixo vertical, o IMC da gestante; 4. Marque um ponto na interseção dos valores de IMC e da semana gestacional; 5. Classifique o EN da gestante, segundo IMC por semana gestacional, conforme legenda do gráfico: BP, A, S, O; 6. A marcação de dois ou mais pontos no gráfico (primeira consulta e subseqüentes) possibilita construir o traçado da curva por semana gestacional. Ligue os pontos obtidos e observe o traçado resultante; 7. Em linhas gerais, considere traçado ascendente como ganho de peso adequado e traçado horizontal ou descendente como ganho de peso inadequado (gestante de risco). É de extrema importância o registro do estado nutricional tanto no prontuário, como no cartão da gestante. A avaliação do estado nutricional é capaz de fornecer informações importantes para a prevenção e o controle de agravos à saúde e nutrição, contudo, vale ressaltar a importância da realização de outros procedimentos que possam complementar o diagnóstico nutricional ou alterar a interpretação deste, conforme a necessidade de cada gestante. Assim, destaca-se a avaliação clínica para detecção de doenças associadas à nutrição (ex.: diabetes), a observação da presença de edema que acarreta aumento de peso e confunde o diagnóstico do estado nutricional, a avaliação laboratorial para diagnóstico de anemia e outras doenças de interesse clínico, conforme as normas deste manual. Gestante adolescente - observações Deve-se observar que a classificação do estado nutricional na gestação aqui proposta não é específica para gestantes adolescentes, devido ao crescimento e à imaturidade biológica, nesta fase do ciclo de vida. No entanto, essa classificação pode ser usada, desde que a interpretação dos achados seja flexível e considere a especificidade deste grupo. Para adolescentes que engravidaram dois ou mais anos depois da menarca (em geral maiores de 15 anos), a interpretação dos achados é equivalente à das adultas. Para gestantes que engravidaram menos de dois anos após a menarca, é provável que se observe que muitas serão classificadas como de baixo peso. Nestes casos, o mais importante é acompanhar o traçado, que deverá ser ascendente; tratar a gestante adolescente como de risco nutricional; reforçar a abordagem nutricional e aumentar o número de visitas à unidade de saúde. 5) CARACTERIZAR GESTAÇÃO DE BAIXO E ALTO RISCO E IDENTIFICAR AS SITUAÇÕES EM QUE ELAS OCORREM. A gestação é um fenômeno fisiológico e deve ser vista pelas gestantes e equipes de saúde como parte de uma experiência de vida saudável que envolve mudanças dinâmicas do olhar físico, social e emocional. No entanto, devido a alguns fatores de risco, algumas gestantes podem apresentar maior probabilidade de evolução desfavorável. São as chamadas “gestantes de alto risco”. Gestação de Alto Risco é “aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido têm maiores chances de serem atingidas que as da média da população considerada” Nos casos em que não há necessidade de se utilizar alta densidade tecnológica em saúde e nos quais a morbidade e a mortalidade materna e perinatalsão iguais ou menores do que as da população em geral, as gestações podem ser consideradas como de baixo risco. Assim definida, a gravidez de baixo risco somente pode ser confirmada ao final do processo gestacional, após o parto e o puerpério. O processo dinâmico e a complexidade das alterações funcionais e anatômicas que ocorrem no ciclo gestacional exigem avaliações continuadas e específicas em cada período. FATORES DE RISCO QUE PERMITEM A REALIZAÇÃO DO PRÉ-NATAL PELA EQUIPE DE ATENÇÃO BÁSICA Fatores relacionados às características individuais e às condições sociodemográficas desfavoráveis: Idade menor do que 15 e maior do que 35 anos; Ocupação: esforço físico excessivo, carga horária extensa, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, estresse; Situação familiar insegura e não aceitação da gravidez, principalmente em se tratando de adolescente; Situação conjugal insegura; Baixa escolaridade (menor do que cinco anos de estudo regular); Condições ambientais desfavoráveis; Altura menor do que 1,45m; IMC que evidencie baixo peso, sobrepeso ou obesidade. Fatores relacionados à história reprodutiva anterior: Recém-nascido com restrição de crescimento, pré-termo ou malformado; Macrossomia fetal; Síndromes hemorrágicas ou hipertensivas; Intervalo interpartal menor do que dois anos ou maior do que cinco anos; Nuliparidade e multiparidade (cinco ou mais partos); Cirurgia uterina anterior; Três ou mais cesarianas. Fatores relacionados à gravidez atual: Ganho ponderal inadequado; Infecção urinária; Anemia. FATORES DE RISCO QUE PODEM INDICAR ENCAMINHAMENTO AO PRÉ-NATAL DE ALTO RISCO O pré-natal de alto risco abrange cerca de 10% das gestações que cursam com critérios de risco, o que aumenta significativamente nestas gestantes a probabilidade de intercorrências e óbito materno e/ou fetal. Atenção especial deverá ser dispensada às grávidas com maiores riscos, a fim de reduzir a morbidade e a mortalidade materna e perinatal (grau de recomendação A). Fatores relacionados às condições prévias: Cardiopatias; Pneumopatias graves (incluindo asma brônquica); Nefropatias graves (como insuficiência renal crônica e em casos de transplantados); Endocrinopatias (especialmente diabetes mellitus, hipotireoidismo e hipertireoidismo); Doenças hematológicas (inclusive doença falciforme e talassemia); Hipertensão arterial crônica e/ou caso de paciente que faça uso de anti-hipertensivo (PA>140/90mmHg antes de 20 semanas de idade gestacional – IG); Doenças neurológicas (como epilepsia); Doenças psiquiátricas que necessitam de acompanhamento (psicoses, depressão grave etc.); Doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico, outras colagenoses); Alterações genéticas maternas; Antecedente de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar; Ginecopatias (malformação uterina, miomatose, tumores anexiais e outras); Portadoras de doenças infecciosas como hepatites, toxoplasmose, infecção pelo HIV, sífilis terciária (USG com malformação fetal) e outras DSTs (condiloma); Hanseníase; Tuberculose; Dependência de drogas lícitas ou ilícitas; Qualquer patologia clínica que necessite de acompanhamento especializado. Fatores relacionados à história reprodutiva anterior: Morte intrauterina ou perinatal em gestação anterior, principalmente se for de causa desconhecida; História prévia de doença hipertensiva da gestação, com mau resultado obstétrico e/ou perinatal (interrupção prematura da gestação, morte fetal intrauterina, síndrome Hellp, eclâmpsia, internação da mãe em UTI); Abortamento habitual; Esterilidade/infertilidade. Fatores relacionados à gravidez atual: Restrição do crescimento intrauterino; Polidrâmnio ou oligoidrâmnio; Gemelaridade; Malformações fetais ou arritmia fetal; Distúrbios hipertensivos da gestação (hipertensão crônica preexistente, hipertensão gestacional ou transitória); Infecção urinária de repetição ou dois ou mais episódios de pielonefrite (toda gestante com pielonefrite deve ser inicialmente encaminhada ao hospital de referência, para avaliação); Anemia grave ou não responsiva a 30-60 dias de tratamento com sulfato ferroso; Portadoras de doenças infecciosas como hepatites, toxoplasmose, infecção pelo HIV, sífilis terciária (USG com malformação fetal) e outras DSTs (condiloma); Infecções como a rubéola e a citomegalovirose adquiridas na gestação atual; Evidência laboratorial de proteinúria; Diabetes mellitus gestacional; Desnutrição materna severa; Obesidade mórbida ou baixo peso (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante para avaliação nutricional); NIC III (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante ao oncologista); Alta suspeita clínica de câncer de mama ou mamografia com Bi-rads III ou mais (nestes casos, deve-se encaminhar a gestante ao oncologista); Adolescentes com fatores de risco psicossocial. Um pouco sobre as principais situações: Pressão alta e pré-eclâmpsia A pressão alta na gravidez é um problema comum e ocorre quando esta é superior a 140/90 mmHg após duas medições realizadas com um intervalo mínimo de 6 horas. A pressão alta na gravidez pode ser causada por alimentação rica em sal, sedentarismo ou malformação da placenta, aumentando as chances de ter pré- eclâmpsia, que é o aumento da pressão arterial e perda de proteínas, podendo levar a aborto, convulsões, coma e até mesmo a morte da mãe e do bebê, quando a situação não é devidamente controlada. Diabetes A mulher que é diabética ou que desenvolve a doença durante a gestação também possui maior chance de ter uma gravidez de risco, pois o açúcar elevado no sangue pode atravessar a placenta e chegar ao bebê, o que pode fazer com que ele cresça muito e pese mais de 4 Kg. Um bebê grande dificulta o parto, sendo necessário fazer cesárea, além de haver maior chances de nascer com problemas como ictericia, pouco açúcar no sangue e problemas respiratórios. Gravidez na adolescência ou depois dos 35 anos A gestação em idade inferior a 17 anos pode ser perigosa porque o corpo da jovem não está totalmente preparado para suportar a gravidez. Além disso, depois dos 35 anos, a mulher pode ter mais dificuldade a engravidar e as chances de ter um bebê com alterações cromossômicas são maiores, como Síndrome de Down. Grávida com baixo peso ou obesidade Gestantes muito magras, com IMC abaixo de 18,5 kg/ m2, podem ter um parto prematuro, aborto e atraso de crescimento do bebê porque a grávida oferece poucos nutrientes ao bebê, limitando seu crescimento, o que o pode levar a ficar doente facilmente e a desenvolver doenças cardíacas. Além disso, mulheres com peso excessivo, principalmente quando IMC maior que 35 kg/ m2, apresentaram mais risco de ter complicações e também podem afetar o bebê que pode desenvolver obesidade e diabetes.
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