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Paulo Freire - Aventuras na História

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A LUTA E O EXTERMÍNIO AVENTURAS NA DOS INDIOS AMERICANOS
NOS EUA DO SÉCULO 19| 
HISTÓRIA NA ETIÓPIA, OS CRISTÃOS CONFUNDIRAM A NAÇÃO COM UMA LENDA 
NOVA OBRA REVELA 
OS MAIORES MISTÉRIOS 
DA ORIGEM DO SOL 
PAULO 
FREIREE 
O PATRONO DA EDUCAÇAO BRASILEIRA 
QUE LEvOU A ALFABETIZAÇAO AOS LUGARES 
MAIS REMOTOS DO PAÍS 
EDITORIAL 
EDUCAÇAO POPULAR 
obra Pedagogia do Oprimido, um dos 
trabalhos mais conhecidos - e funda- 
Imentais - do educador e filósofo per- | ção aos lugares mais remotos e sem educa 
Conhecer a trajetória deste homem, que 
nos anos 1960 conseguiu levar a alfabetiza 
nambucano Paulo Freire, é o único livro 
brasileiro a figurar na lista dos 100 títulos 
mais pedidos em universidades de língua 
inglesa. Lá fora, além de ele ser estudado em 
vários cantos dos Estados Unidos, tem seu valho, ela nos faz pensar (ou lembrar) como 
nome em centros de estudos na Finlandia, | é importante apoiarmos a Educação Popular 
é inspiração para cientistas no Kosovo e foi 
homenageado com uma escultura na Suécia. 
Em todo o mundo, Paulo Freire, que nes- 
te més faria 99 anos de idade, é o terceiro usando as palavras do próprio educador. 
pensador mais citado em trabalhos acad�- 
micos na área de humanidades. Aqui no homenagem à História do Brasil. 
Brasil, no entanto, é alvo de duras críticas 
ção do país, e entender por que ele é motivo 
de tanta pol�mica até os dias de hoje, é a 
proposta da reportagem de capa desta edi- 
ção. Escrita pelo jornalista Alexandre Car- 
no país e, assim, alcançarmos "uma com 
preensão mais humanizada e mais científi-
ca do que é a identidade cultural do povo', 
A capa deste mês, querido leitor, é uma 
Boa leitura! 
por parte do atual governo federal brasilei-
ro, mesmo depois de morto. 
lzabel Duva Rapoport 
Editora 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Paulo Freire Editora Caras. --S�o Paulo Editora Caras, 2020. 
I SBN 978-65-5794-003-7 
1. Conhecimentos gerais 
20-42008 
CDD-909 
Indices para catálogo sistemático: 
História geral 909 
bete Maria Dias Bibl iotecária CR DIotecária -CRB-8/9421 
sUMÁRIO 
30 
CAPA: CRIADOR 
DE UM METODOO 
REVOLUCIONÁRIO 
DE ALFABETIZAÇA0, 
PAULO FREIRE 
EO EDUCADOR 
BRASILEIRO MAIS 
RECONHECIDO 
DO MUNDO 
6 | 17 DITOE 
FEITO GALERIA 
24 RELIGIÃO O olhar de Ernst De onde vem cOLUNAS 
o termo "negócio 54 Haas, um dos O cristianismo na Etiópia levou 
os portugueses a confundir a 
nação com uma lenda 
da China"? pioneiros da 
fotografia colorida RICARDO 
LOBATO 18 LINHA DO 
TEMPO 12 HOJE NA 
HISTÓRIA Há 70 anos chegava 38civiLizAÇÕES 55 Aconteceu em a televisão ao Brasil 
M.R. TERCI Por 30 anos, os sioux lideraram 
a luta dos índios americanos 
setembro 
20 cOMO FAZÍAMOS 
SEM 14 ARTE 
O pontilhismo de 56 para defender seu território Emprego 
THOMAS 
PAPPON 
Georges Seurat 
22 LUSTRADA 44 ciENCIA O Farol de Alexandria 16 A MESA 
Nova obra revela a históriaevitava naufrágios 57 A famosa caipirinha surgiu 
para prevenir a gripe 58 MEMÓRIA 58 Jimi Hendrlx 
da estrela mais importante 
e próxima de nós: o Sol ALEXANDRE 
CARVALHO espanhola 
CAPA 
30 ATNTSAS NA HSRA 
HERÓI 
DA EDUCAÇÃO 
NUM PAIS 
MAL-EDUCADO 
INVENTOR DE UM MÉTODO REVOLUCIONÁRIO DE 
ALFABETIZAÇÃO, EDUCADOR BRASILEIRO MAIS 
RECONHECIDO DO MUNDO, PAULO FREIRE VIROU ALVO 
DO GOVERNO MESMO DEPOIS DE MORTO 
POR ALEXANDRE CARVALHO 
AVI NTLRA:S NA TORA 31 
CAPA 
QUANDO A EDUCAÇÃO 
NÃO É LIBERTADORA, 
O SONHO DO OPRIMIDO 
E SER O OPRESSOR" 
N 
educador Paulo Freire, a elaborar uma meto 
dologia inovadora de alfabetização. 
Experimentando a partir daquela ideia, esse 
intelectual pernambucano, nascido em 1921 
no Recife, concluiu que o bè-á-bå precisava 
partir das experiências de vida das pessoas 
Seu filho havia "lido"o Nescau da placa por 
que o termo era presença constante do seu 
cotidiano. Diferente das cartilhas à base de 
vová viu a uva, Freire descobriu que poderla 
acelerar a alfabetização trabalhando a part1r 
de palavras geradoras", que fizessem parte da 
realidade do aluno. Algo que podia fazer se 
tido tanto para erianças quanto adultos. 
Aproximar a aprendizagem dos fatos da 
rotina significava mais do que agilizar o P 
cesso de ler e escrever. Era um estimulo peda 
o inicio dos anos 1960, o achocola- 
tado em pó mais famoso da Nestlé 
no Brasil já marcava presença em 
comerciais de televisäo, que exibiam 
sua embalagem ao som de um jingle 
que repetia o nome do produto: "Nescau, Nes- 
cau..." Um få dessa propaganda era um meni- 
ninho de apenas 2 anos na época, Lutgardes 
Costa Freire. Tanto que, um belo dia, num pas- 
seio de jipe com seu pai, a criança reconheceu 
a lata do produto numa placa em cima de um 
ponto de ônibus. Apesar de ainda estar na fase 
de ensaiar as primeiras frases, imediatamente 
começou a repetir "Nescau, Nescau.. " e a mi- 
metizar a letra da canção publicitária. 
Esse evento singelo de familia, aparentemen- 
te sem nada de incomum, entrou para a Histó- 
ria: a associação da figura com a palavra foi a 
lámpada acesa que inspirou o pai do garoto, o gogico para quem antes queria distància 
da 
sala de aula, simplesmente por nio se enca 
32 AVENTURAS NA 
HISTÓRIA 
nas formalidades do ensino tradicional - ainda 
mais naquele inicio conservador da década de 
1960. "O que mais me chamava a atenção era o 
respeito pelo analfabeto, diz Marcos Guerra, 
que foi coordenador de um projeto educacíonal 
de Freire, no documentário Alfabetização emn 
Angicos- A Pedagogia de Paulo Freire, do Canal 
Futura. "O respeito à cultura do analfabeto. O 
respeito à linguagem do analfabeto. Na época, 
predominavam as cartilhas, só coma linguagem 
PEDAGOGIA 
DA EMANCIPAÇAO 
"Quando a educação não é libertadora, 
o sonho do oprimido é ser o opressor", 
dizia Paulo Freire. Foi justamente sobre 
Ou melhor, essa evidéncia -esse risco 
que o educador escreveu 
em seu livro 
mais importante, Pedagogia do Oprimido 
que foi concluido em 1968. 
mas. pela 
censura do regime militar, 
só pôde ser 
publicado no Brasil em 1974. 
Na obra. 
Paulo Freire explica a importáncia de 
uma pedagogia emancipatória do 
oprimido, em oposição àquela praticada 
e dominada pelas classes que dominam 
a economia e a politica brasileira. O 
autor 
procura orientar o educador 
a conscientizar 
e capacitar o povo para que este 
deixe 
uma situação de ingenuidade, na qual 
é facilmente manipulado, desenvolvendo 
do alfabetizador." 
Para Freire, essa aprendizagem pela prática 
dialética com a realidade era o contraponto 
perfeito ao que ele chamava de "educação ban- 
cária", tecnicista e alienante que predominava 
nos ambientes escolares. Pelo seu método, o 
estudante criaria os próprios caminhos de 
aprendizagem em vez de seguir um padr�o uni- 
versal oferecido a todos. Afinal, em suas indi- 
então uma consciência critica. 
vidualidades, as pessoas podem., e devem, apren- 
A pedagogia do oprimido implicaria 
der de modos distintos. "Não há saber mais ou uma atitude radical baseada no encontro 
com o povo por meio do diálogo. E esse 
diálogo, aqui. é método: visa obter 
uma leitura critica da realidade, part1ndo 
verdadeiramente da linguagem do povo, 
saber menos: há saberes diferentes", ele disse. 
A teoria é bonita. Mas será que funciona na 
pråtica? Um experimento pioneiro no Rio Gran-
de do Norte provou que sim. 
dos seus valores e da sua concepção 
do mundo. "Foi ele quem colocou o 
oprimido na história", diz Moacir Gadot 
diretor geral do Instituto Paulo Frere 
Ele deu visibilidade a aigo que estava 
historicamente invisivel pela cultura 
OS 300 DE ANGICOS 
"Belota." A palavra não faz sentido 
nenhum 
para um executivo andando de patinete 
mo- 
torizado na Avenida Faria Lima, em São 
Pau- 
lo, ou para um boémio do 
Leblon, no Rio de 
Janeiro. Mas os sertanejos de Angicos, 
muni-
Cipio pobre, a cerca de 170 quilómetros
de Na- 
tal, sabiam bem em 1963 o que o termo signi- 
dominante. Foi um ato revolucionanoNa perspectiva de Freire, a escola sernpre 
foi um ambiente de transformaçåo da 
sociedade. Para se ter uma ideia do 
Tica: é como se chanmam os enfeites das 
redes impacto dessa obra, escrita ha mais 
t dos utensilios dos vaqueiros. Esse adorno 
foi 
primeiro termo trabalhado no experimento 
que ficou conhecido como "As 40 
Horas de 
Angicos", 0 titulo vem de um resultado 
da 
de 50 anos. uma pesquisa com mas 
de 1 mihào de programas de estudos 
de universidades dos Estados Unidos 
Reino Unido. Austraba e Nova Zelandia 
revelou que Pedagogia do Oprimiao 
està entre os cem mas citados -
periència que parece mentira - ou milagre 
Csse curto período de tempo, 
adultos analla 
Detos da cidade potiguar já conseguiam 
deco 
car uma série de palavras que fa7lam par 
e do seu cotidiano. F nào se tratava de um 
e é o segundo mais bem colocado 
entre os livros de pedagogia Ja uma 
pesquisa da London Schoo! of Economcs 
apontou que o livro de Paulo Frere 
upo pequeno: foram 300 pessoas, 
entre ho-
Cse mulheres - a maioria, cortadotes 
de 
é a tercera obra mas menCIO1ada 
mundialmente na área de cencas soCas 
aia da regsäo. Estavam lendo e escrevendo 
33 
CAPA 
numa velocidade inmpensável pelos métodos renmuneração. garantias, direitos. O método 
convencionais -conm tudo o que essa conquis 
ta tem de transformadora. 
não se restringia à escrita e à leitura: envolvia 
inserir o individuo em seu contexto social e 
politico, para que fosse capacitado ao exercicio 
pleno da cidadania. 
Em março, ao final dos trabalhos, dois testes 
Tudo começou em novembro do ano anterior, 
quando uma equipe de estudantes da Universi- 
dade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 
chegou ao povoado com duas missões: levantar 
o vocabulário utilizado pelo povo local e divul 
gar a proposta de alfabetização que viria a se 
consolidar nos meses seguintes. E aquelas pes- 
soas não haviam sido selecionadas por acaso. 
"Angicos foi escolhida porque naquele contexto 
era o lugar em que havia o maior indice de anal-
fabetismo do Rio Grande do Norte", explica a 
pesquisadora Divoene Pereira. Cerca de 75% dos 
foram aplicados: de alfabetização ede politização. 
E os resultados foram espantosos: 70% de apro- 
veitamento. O sucesso do trabalho teve tamanha 
repercussião que a cerimônia de encerramento do 
projeto contou com a presença não apenas do 
governador do estado, mas também do presiden 
te da República: João Goulart, na época. 
Paulo Freire virava uma estrela da educação 
brasileira, e Jango, que era um entusiasta das 
reformas de base, aprovou a multiplicação des- 
sas primeiras experi�ncias num Plano Nacional 
de Alfabetização. A ideia era promover uma 
formaçã0 em massa de educadores que seguis- 
habitantes não sabiam ler e escrever até ent�o. 
Desse levantamento do universo vocabular, 
410 palavras foram registradas pelos pesquisa-
dores e, dentre essas, umas poucas mais pre- 
sentes estariam no centro do método de Paulo sem o método Paulo Freire e atuassem em 20 
Freire que estaria sendo testado ali. Em janeiro 
de 1963, o próprio educador chegou com uma 
mil circulos de cultura Brasil atora. 
Era uma revoluç�o, sim, mas não a comu- 
equipe para as aulas. 
No dia 24, nada de portugu�s. O que se viu 
foi uma conversa descontraida sobre a realida- 
de e a cultura local. Só quatro dias mais tarde, 
a palavra "belota" inaugurava as lições propria- 
mente ditas. "A alfabetização era baseada em 
12 a 15 palavras apenas", explica Marcos Guer 
ra, "que continham todos os principais fonenmas 
da lingua portuguesa". Além da simpática "be- 
lota" os angicanos falavam muito em "Deus" 
"esmola", "triste", "medo", "chuva" e "confor- 
nista que tantos temiam naqueles tempos de 
Guerra Fria, em que o pais aliava-se aos Estados 
Unidos no esforço para conter a expansão da 
influência sovi�tica na geopolitica mundial. 
Era uma verdadeira reforma democratica. Pen 
se que, à época, individuos analfabetos eram 
considerados cidadàos de segunda classe. que 
eram proibidos de votar. Quando a miseravet 
Angicos toi transformada por aquelas aulas nav 
convencionais, os alunos-cobaias nào sairam 
mação". "Felicidade" foi uma ausência sentida 
pelos universitários que fizeram olevantamen 
to. As palavras eram divididas em silabas que 
iam sendo repetidas ao longo da aula, facilitan 
do a compreensão, em seguida os alunos apren- 
diam as familias silábicas, tornando-se capazes 
de formar novas palavras. 
E novas ideias tambénm: cada palavra mere 
cia um debate, para que os estudantes, alénm de 
relacionar melhor tor ma e conteúdo, refletis 
sem sobre a própria vida. Quando o termo 
cstudado era "trabalho", por exemplo, a dis 
cussio em aula girava em torno de tudo o que 
dizia respeito às condiçöes dos trabalhadores 
do experimento apenas com a capacidade de 
escrita e leitura. A cidade ganhava ali 300 novos 
eleitores. E em miseras 40 horas. imagine a 
velocidade com que o analfabetismo seria der 
rotado no Brasil se a experiéncia fosse mul 
plicada, como queria Joào Goulart. Mas. cono 
a repetiço de aventuras autoritàrias ja deixau 
claro, o Brasil nunca toi afeito à ideia de un 
pOvo politicamente consciente. Isso e csd 
comunista, pensaram os conservadores da cp 
ca, que derrubaram Jangoe suas retornias base. E, sendo assim, Paulo Freire tainbet
seT ld comunisla - eomo ainda pensam. de 
ma anacronica, muitos polin os de etrea 
direita destes tristes tropicos. 
34 AvNTLIA
A stORUA 
NÃO HA 
SABER MAIS OU SABER 
MENOS: HÁ SABERESS 
DIFERENTES"
ALNTRASs NA STOSRA 35 
CAPA 
A APRENDIZAGEM 
DEVERIA VIR 
SEMPRE 
ACOMPANHADA 
DA CONSCIENCIA 
POLÍTICA 
mente extinguiram o Plano Nacional de Altabe 
tização. E, não satisfeitos, prenderam Paulo 
Freire por 70 dias, acusado de traidor da patria. 
Solto, foi prontamente exilado, passando breve 
mente pela Bolivia antes de se instalar por cinco 
anos no Chile, onde atuou para a Organizaçà 
das Nações Unidas para a Agricultura e a Ali 
mentação, após um trabalho voltado para a r 
forma agrária. Foi justamente durante esse ex1ho 
chileno que Freire escreveu seu primeiro livr 
Educaçio como Prática da Liberdade. Um titulo 
que não deveria ter agradado aos militares brasi 
leiros na época, mas que fez sucesso internacional 
-a ponto de Paulo Freire ter sido convidado pard 
ser professor visitante na Universidade Harvard 
em 1969. A época, o educador já havia concluhde 
também seu terceiro, e mais iportante. ivT 
Pedagogia do Oprimido [veja em boxe da påg1nd 
331. Ainda passou um ano em Cambridge. antes 
de se mudar para Genebra. Só voltaria ao Brasi 
ORGULHO NACIONAL OU INIMIGO PÚBLICO? 
Quando ainda estava na campanha presidencial, 
em 2018, questionado sobre o que pensava do 
Ministério da Educação, o ent�o candidato Jair 
Bolsonaro soltou uma de suas declarações de tom 
belicista: se eleito, iria "entrar com um lança- 
-chamas no MEC e tirar o Paulo Freire lá de 
dentro". Sua intenção náo pretendia ser literal, 
obviamente. Talvez até pretendesse mesmo botar 
fogo no ministério, para incendiar os "ensina- 
mentos marxistas" que, na concepção dele, do- 
minam a educação brasileira. Mas não podia 
querer queimar Paulo Freire vivo. Afinal, o edu- 
cador já estava morto desde maio de 1997, de um 
alaque cardiaco em função de complicaçôes ocor 
ridas numa operação de desobstrução de artérias. 
A estratégia de confundir políticas democráti- 
cas de educação com comunismo não começou 
com Bolsonaro. Em l964, os militares que implan-
tarain um regime ditatorial no Brasil imediata-
36 AVNTURAS NA HSTORLA 
em 1979, com a Anistia de Geisel, que acabaria 
culminando com o fim da Ditadura Militar em 
NA POLÍTICA 
Governantes e governistas do Brasil 
estão errados quando insistem em meados da década seguinte. 
De lá para cà, enquanto sua popularidade 
no Brasil teve altos e baixos, de acordo com a 
ideologia do governo da vez, seu reconheci- 
mento no exterior só aumentou. 
Além de ter recebido 35 títulos de DoutorHonoris Causa, de universidades europeias e 
americanas, ele ganhou o prêmio Unesco de 
Educação para a Paz em 1986. Uma pesquisa 
feita entre os estados de São Paulo, Minas Ge 
rais e Paraná revelou que Paulo Freire é o se 
gundo nonme mais escolhido para escolas pú- 
blicas só perde para Monteiro lLobato, e vem 
logo à frente de Tancredo Neves. Não à toa, 
uma lei sancionada em 2012 declarou-o Patro- 
associar Paulo Freire ao marxismo
(sempre por essa lente de que as 
teorias de Karl Marx são como xingar 
a mãe de Deus). Ele não era marxista, 
embora admitisse Marx como uma 
das influências possiveis de sua 
filosofia da educação. Mas chamá-lo 
de "herói da esquerda" e dizer que ele 
queria levar a política para a sala de 
aula são afirmações absolutamente 
corretas. (A política, não um partido, 
vale frisar.) Desde o início de sua 
atuação como educador, Paulo 
Freire defendeu que a aprendizagem 
deveria vir sempre acompanhada 
da consciência política. Aliás 
esta não respira sem aquela. 
E que esse conhecimento está 
na essência da própria cidadania. 
Quando voltou ao Brasil, após o exilio, 
no da Educação Brasileira. Mesmo recentemen-
te, ele retornou às manchetes dos jornais e dos 
portais de internet. Agora por causa de um 
desdobramento do movimento antirracista que 
acontece nos Estados Unidos: na Faculdade de Freire filiou-se ao PT e tornou-se 
Educação da Universidade Columbia, em Nova 
York, uma das mais prestigiadas do planeta, 
seu nome está cogitado para substituir o de 
Edward Thorndike como o homenageado de 
um prédio do Teachers College. Thorndike é 
um psicólogo que foi conhecido por manifestar 
ideias racistas, machistas e antissemitas - tudo 
o que não deveria ser homenageado nunca. 
A importância de Freire só passou a ser des- 
nerecida quando a extrema-direita assumiu o 
Palácio do Planalto. Ecoando seus idolos da 
secretário de Educação quando Luiza 
Erundina foi prefeita de São Paulo 
(1989-1993). Na época, apresentou 
uma proposta de educação pública 
popular e democrática, plantando 
as sementes do que viriam a ser as 
parcerias público-privadas, Fies. 
Prouni, orçamento participativo.. 
Ou seja, a politica educacional que 
seria adotada nos governos petistas. 
Enfim, ao longo de toda a sua vida 
como educador, filosofo e pensador 
Ditadura, Jair Bolsonaro não perde uma chan-
ce de cutucar o fantasma do recifense. Já eleito, 
político, Paulo Freire foi sempre. antes 
de qualquer outra identificação, um 
humanista, que pretendia mudar o 
mundo (ou pelo menos o Brasil) 
em dezembro do ano passado, o presidente 
voltou a atacar o fantasma do educador. Ao 
democratizando o acesso à escrita anunciar que não pretendia renovar o contrato 
com a TV Escola que, segundo ele, promovia 
Ideologia de gênero", Jair declarou: "Os caras 
stao há 30 anos [no Ministério], tem muito 
lor mado aqui em cima dessa filosofia do Pau- 
eà leitura, essas janelas para a 
liberdade individual e coletiva. 
Era um revolucionário. sem dúvida, 
mas sem nada de agente soviético 
Freire, esse gúmeno, ídolo da esquerda". 
de filme do James Bond. "Nos anos 
1960, fui considerado um inimigo de 
lcionário explica que os significados do 
Cnergúmeno são os seguintes: "desprovido 
dC inteligência", "boçal". "bronco", "ignorante 
ue o leitor tire suas próprias conclusóes. aM 
Deus e da Pátria, um bandido terrivelt. 
Hoje diriam que eu sou apenas um 
saudosista das esquerdas." 
AV s A iTa 37 
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