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Giardíase Etiologia É causada por um protozoário, denominado Giárdia: • Classificação: o Filo: Sarcomastigophora; o Classe zoomastigophora; o Ordem diplomonadida; o Família hexamitidae; o Gênero Giardia. • É um protozoário flagelado; • Parasita o intestino delgado; • No ser humano, a principal espécie que causa a giardíase, é a G. duodenalis (ou G. intestinalis, ou G. lamblia); • Foi o primeiro protozoário intestinal humano a ser descrito. Distribuição Está distribuída no mundo todo, é uma doença cosmopolita, e atualmente, infecta 200 milhões de pessoas, sendo que existem 500 mil novos casos por ano, normalmente. Em alguns locais, até 30% da população pode estar cronicamente infectada com a giárdia, predominando nas crianças. Embora seja uma doença cosmopolita, tem uma prevalência maior em regiões tropicais e subtropicais, especialmente associada com um baixo nível socioeconômico. Devido essa alta prevalência em regiões tropicais e subtropicais, ela acaba sendo prevalente em destinos turísticos importantes, como por exemplo, varias cidades costeiras da américa do sul, por consequência do Brasil, e justamente por isso, os locais onde a giardíase é muito presente, coincide com grande fluxo de viajantes, passando a ser conhecida como “Diarreia do viajante”. Morfologia A giárdia apresenta duas formas evolutivas durante o seu ciclo, o trofozoíto, muito característico, e um cisto. ◊ Trofozoíto: • Mede 20x10 µm; • Não é circular, possui uma forma alongada; • Tem simetria bilateral, ou seja, se passar uma linha dividindo-o ao meio, terá as mesmas composições dos dois lados; • Possui 4 pares de flagelos; • Forma de “pêra”; • Tem uma superfície dorsal lisa, e uma superfície ventral concava com um disco suctorial; o O disco suctorial, ventral ou adesivo, é uma estrutura composta por microtúbulos, que fazem a adesão da giárdia com a mucosa do intestino delgado. • Apresenta 2 núcleos. ◊ Cisto: • É a forma infectante; • 8-12 µm; • Apresenta uma parede glicoproteica, ou seja, muito resistente; • Tem de 2 a 4 núcleos; Trofozoíto X Cisto: Ciclo Biológico • Apresenta um ciclo biológico monoxêmico, ou seja, completa seu ciclo em apenas um hospedeiro; • É um parasito altamente infeccioso, visto que de 10 a 100 cistos já são o suficiente para iniciar uma infecção; • Esse cisto virá por alimentos contaminados, água, contato com fezes, caracterizando um ciclo fecal-oral; • Desencistamento: ocorre no estomago, duodeno e jejuno, se estabelecendo principalmente no intestino delgado; • No intestino delgado, o cisto que já se tornou um trofozoíto, irá se multiplicar por divisão binária, colonizando a região; • Conforme eles progridem no trato gastrointestinal, se aproximando do intestino grosso, os trofozoítos irão passar por um processo de encistamento, especialmente na região do ceco, devido ao ph, secreção de sais biliares. Dessa forma, ocorre o destacamento dos trofozoítos da mucosa, que serão eliminados nas fezes, sendo a forma de infecção do próximo hospedeiro. Colonização do intestino delgado Um dos fatos mais importantes que está relacionado com a manifestação da doença é a colonização do intestino delgado, pois a Giárdia não é um protozoário caracterizado por invadir o intestino, lesionar, pelo contrário, ela irá colonizar a região, vai aderir à superfície das vilosidades do intestino delgado, e para isso, utiliza seu disco suctorial. Quando existem varias giárdias aderidas à superfície das vilosidades, ocorre o fenômeno de “atapetamento” da mucosa do intestino delgado, que é como se as giárdias formassem um tapete em cima do intestino delgado. Esse atapetamento vai ocasionar uma repercussão fisiológica. Transmissão O ciclo ocorre por uma transmissão fecal-oral: • Água contaminada; • Alimentos contaminados; • Pessoa-pessoa, especialmente em condições inadequadas de higiene; • Pode ser veiculada por insetos, que se depositam nas fezes e carregam os cistos da giárdia para alimentos, ou para a água; • A giárdia também causa a doença em cães e gatos. Patogênese A giardíase é uma doença multifatorial, e pode ser grave ou passar despercebida. A patogênese multifatorial depende tanto do hospedeiro, quanto do parasito. • Hospedeiro: o A resposta imune é importante, pois tem indivíduos que desenvolvem uma resposta imune que tende a proteção, então ele não terá grandes manifestações de infecção; o Depende da resposta fisiológica do intestino, se está saudável e funcionando, ou já tem alguma outra alteração que possa favorecer a progressão da giardíase; o Depende do estado nutricional do indivíduo, que também impacta na resposta fisiológica do intestino e na imunidade; o A idade também influencia, visto que é mais suscetível em crianças; o Vários estudos apontam que a giardíase pode ser mais ou menos grave dependendo das características da microbiota intestinal, ou seja, os microrganismos que vivem no organismo concomitantemente com a presença da giárdia. • Parasito: o Existem cepas, ou seja, tipos de giárdias que umas são mais virulentas que outras, que tem maior probabilidade de causar uma doença sintomática; o Depende do número de cistos ingeridos, pois quanto maior a carga parasitária ingerida, maior a probabilidade de sintomas; o Tem também uma variação antigênica, que ocorre durante as passagens de um hospedeiro para outro, que culminam em pequenas diferenças antigênicas entre elas, que podem estar relacionadas com a progressão da doença; o O parasito faz uma ação mecânica de aderir e soltar, aderir e soltar o intestino, e isso pode levar a alterações no intestino e a alterações clinicas; o Tem também a secreção de toxinas que podem agredir a mucosa intestinal, e causar sintomas. Manifestações clinicas As manifestações clinicas mais comuns são: • Diarreia; • Gases; • Azia; • Dor abdominal; • Perda de peso; • Fezes amareladas. Grande parte dos indivíduos terão uma doença assintomática, que vários autores descrevem como autolimitada, ou seja, começa e termina sozinha, dentro de 3 a 6 meses, sem ter feito nenhuma intervenção ou uso de medicamentos. Porém, alguns indivíduos vão ter uma infecção sintomática, que vai se apresentar como diarreia. → Infecção sintomática: • Aguda: Se apresenta como uma diarreia o Com 10 – 15 dias de duração; o Grande volume de água; o Grande quantidade de fezes; o Mau-cheiro; o Bolhas; o Esteatorreia: quando as fezes apresentam grande conteúdo gorduroso. o Tudo isso gira em torno do fato que a giardíase impede que os nutrientes interajam com o intestino, por conta do atapetamento, então os nutrientes se acumulam nas fezes, com baixa absorção de lipídios. • Crônica: o Cerca de 30 – 50% dos indivíduos apresentam a forma crônica da doença, que pode durar vários meses; o Episódios de diarreia contínuos, intermitentes ou esporádicos. Infecção crônica: Síndrome da má absorção crônica Dentro das infecções crônicas da giardíase, cabe destacar a síndrome da má absorção, muito relacionada com crianças. Essa colonização da mucosa intestinal pelas giárdias, que prejudica a obtenção de nutrientes, vai ocasionando uma má absorção crônica. Gorduras, vitaminas lipossolúveis, vitamina B12, Ferro, xilose, lactose, diferentes nutrientes que deixam de ser absorvidos. É muito comum em crianças, e pode estar relacionada com a falta de desenvolvimento de uma imunidade protetora. E nas crianças em que ocorrem a síndrome da má absorção, e todos esses nutrientes que não vão ser corretamente absorvidos, vai comprometer o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças. Diagnóstico • O mais comum é o exame de fezes; • Métodos diretos; • Métodos de concentração: o Ritchie (formol-éter) – centrifugação; oFaust – flutuação em sulfato de zinco; o Sedimentação espontânea; • Fase crônica: Boa parte dos exames vem negativo (30 – 50% negativos), pois existe um grande período em que as giárdias estão aderindo a mucosa intestinal ao invés de serem eliminadas. o Exames seriados durante 1 mês; Outra forma de fazer o diagnóstico, levando em conta os recorrentes resultados negativos no exame, é o Entero-test, conhecido como prova da corda. Esse teste é realizado através de uma capsula, que o indivíduo ingere, e ela tem uma cordinha que fica colada do lado de fora do rosto, para não a perder. Espera-se de 3 a 4 horas, essa capsula será deglutida, vai percorrer o trato gastrointestinal, e após o tempo necessário a cordinha é puxada, e tem grande chance de ter vindo nela algumas giárdias presas na capsula, que serão identificadas no microscópio. E também pode ser feita o teste ELISA, procurando principalmente coproantígenos, ou seja, fragmentos da giárdia que estejam nas fezes. Tratamento: • Metronidazol; • Tinidazol; • Secnidazol; • Nitazoxanida (Anita); • Albendazol: o Está sendo estudado ainda; o Algumas pesquisas relatam poucos efeitos colaterais; o A eficácia é controversa, pois não é efetivo em diversos países e regiões do Brasil. Profilaxia: • Higiene das mãos; • Destino correto das fezes; • Tratamento dos doentes; • Ingestão de água tratada; • Cuidado no preparo dos alimentos; • Cuidado no consumo de alimentos fora de casa; • Saber se a região que está indo viajar é endêmica de giardíase; • Profilaxia adicional: Cuidado com o contato com animais de estimações contaminados.
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