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Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Arquitetura Curso de Especialização em Sustentabilidade em Cidades, Edificações e Produtos. Aluna: Rafaelle Farias de Castro A certificação de desempenho ambiental de prédios: exigências usuais e novas atividades na gestão da construção. Rossana Piccoli ropthoz@terra.com.br Andrea Parisi Kern apkern@unisinos.br Marco Aurélio González mgonzalez@unisinos.br Ercília Hitomi Hirota ercilia@uel.br Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas Universidade do Vale do Rio dos Sinos Resumo: Algumas iniciativas vêm sendo tomadas para reduzir os impactos ambientais da construção civil pelo mundo e países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão, China (Hong Kong) e alguns europeus têm investido em sistemas de certificação de edifícios. Impulsionados pela classificação, a certificação ambiental é concedida de acordo com o desempenho do edifício diante de alguns critérios de avaliação considerando diferentes aspectos ambientais e, em alguns países, essa classificação deixou de ser estratégia de mercado passando a ser exigência para aprovação dos projetos e construções, a exemplo da Dinamarca. O primeiro sistema brasileiro de certificação ambiental de edifícios, baseado no sistema francês NF Bâtiments Tertiaires - Démarche HQE®, criado em 2007, o Referencial Técnico de Certificação: edifícios do setor de serviços, sistema Alta Qualidade Ambiental (AQUA), da Fundação Vanzolini. Em 2003 nasce o Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações – PROCEL EDIFICA, visando incentivar a conservação e o uso eficiente dos recursos naturais nas edificações e o Selo Azul da Caixa Econômica Federal, que certifica empreendimentos seguindo 46 critérios (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2009). No Brasil, a caminhada para edificações com bom desempenho físico e ambiental ainda é feita a passos lentos. Além de profissionais não capacitados, a preocupação de seguir abordagens no projeto buscando o feito ainda não é a maior preocupação, tendo toda a atenção voltada para como os sistemas devem ser construídos. Em 2008, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2009) publica a NBR 15575, sob o título geral de “Edifícios habitacionais de até cinco pavimentos: desempenho”, que entrou em vigor em 2010. Como estratégia de pesquisa realizou-se um estudo de caso de uma edificação comercial que buscou a certificação de nível Gold do sistema norte-americano LEED (Leadership in Energy and Environmental Design, criado pelo US Green Building Council (USGBC) em 1996), que tem sido adaptado às edificações brasileiras. Para a certificação dos edifícios, o LEED exige desempenho com créditos em cinco categorias de impactos ambientais (sítios sustentáveis, uso eficiente de água, energia e atmosfera, materiais e recursos, e qualidade do ambiente interno) e mais cinco créditos são destinados à categoria de inovação e processo de projeto. Além da abordagem de desempenho do produto, a maioria dos sistemas de certificação também fazem exigências na fase de produção, visando diminuir impactos ambientais do canteiro de obras, tais como poeira, ruído, consumo de energia e gerenciamento de resíduos. O estudo de caso teve duração de 13 meses, com início em abril de 2008, com a obra em fase inicial. A pesquisadora participou de aproximadamente 50 reuniões semanais, 13 reuniões mensais e 10 reuniões extras, ocorridas no período de abril de 2008 a maio de 2009, entre cliente, projetistas, construtor e fornecedores. Nessas reuniões eram discutidas questões de projeto, andamento da obra e mailto:ropthoz@terra.com.br mailto:apkern@unisinos.br mailto:mgonzalez@unisinos.br mailto:ercilia@uel.br atendimento aos requisitos do sistema de certificação ambiental, adotando-se a observação participante, buscando registrar principalmente as atividades, as soluções e as dificuldades observadas durante o processo. O empreendimento estudado consiste em um prédio comercial composto de um pavimento de subsolo e três pavimentos-tipo, divididos em dois blocos, separados por um espelho d’água, além de área para estacionamento e de ajardinamento com área total de 7.326,92 m². A grande preocupação na realização do estudo foi diferenciar, entre as atividades realizadas pelos envolvidos, aquelas que não fazem parte ou são exigidas de forma diferente, em empreendimentos que não buscam a certificação. O projeto escolhido para o empreendimento buscou se concentrar nos elementos arquitetônicos e sistemas construtivos que auxiliassem a chegar no objetivo de baixo consumo de energia na fase de pós-ocupação com soluções que atendessem aos requisitos específicos do LEED, como a opção por forros e vidros especiais, brises e vegetações nativas como soluções de sombreamento, aberturas, ventilação natural, automação para o controle de equipamentos elétricos, ar condicionado e iluminação para garantir o conforto ambiental e eficiência energética dentro dos padrões do sistema da certificação. A redução do consumo de água potável foi prevista com a utilização de água de reuso nos sanitários, sistema de refrigeração do ar-condicionado e na rega de jardins, a partir da coleta e encaminhamento a uma estação de tratamento total do esgoto. O empreendimento teve duas construtoras, sendo a primeira substituída após um ano de obra devido a falta de comprometimento com a certificação do edifício. Com a segunda construtora, o empreendimento contou com um profissional com conhecimento sobre a certificação LEED para orientar as equipes. Durante a fase de execução da obra, o empreendedor contratou também uma empresa fiscalizadora, um profissional credenciado LEED, que creditou um ponto para a certificação do empreendimento, orientando as decisões no processo e um gerente de comissionamento (exigência do LEED) que garantia que os sistemas relacionados à área de energia estivessem instalados, calibrados e com as características de desempenho conforme os requisitos de projeto. A elaboração do memorial descritivo exigiu um esforço diferente dos projetistas, com desenvolvimento diferente do tradicional, exigindo muitas especificações e detalhes de materiais e sistemas construtivos, como a exigência de uso de materiais regionais certificados, dos equipamentos para utilização na execução, em termos de ruído e consumo de energia (com comprovação de ensaios de simulação energética), a especificação e a medição do fluxo luminoso no prédio, e a especificação de vidros e esquadrias, que exigiram a realização de testes e simulações em laboratórios americanos quanto a refletância, estanqueidade e isolamento térmico (os quais foram realizados com base na norma ASHRAE 90.1/2004), seguindo os parâmetros de desempenhos determinados pelo sistema de certificação. Coube às construtoras a implementação de um sistema de gestão dos resíduos da obra, gerando documentação comprobatória do resíduo destinado a aterros e o controle de poeira, ruídos e erosão. Considerando as cinco categorias do LEED, as principais dificuldades encontradas, seguindo as exigências da certificação, são descritas abaixo: Sítios sustentáveis Exigindo um plano de prevenção da poluição, a dificuldade encontrada pela Construtora B foi no planejamento e ordenamento de atividades que levassem à redução de movimentação e exposição de solo, bem como a manutenção de diversos itens. O controle da erosão e sedimentação teve atenção especial, pois o terreno mostrou ser pouco permeável, o que contribuiu para áreas alagadas em alguns pontos do terreno. Uso eficiente da água Mesmo não tendo sido previsto um projeto de reuso da água da chuva, essa categoria não teve dificuldades pois todo esgoto produzido na edificação, passaria por uma estação de tratamento, e a água reutilizada em vasos sanitários e regas de jardim, garantindo assim a pontuação.Energia e atmosfera Como o principal elemento da edificação é a fachada de concreto com vidros expostos, a maior dificuldade encontrada nessa categoria foi a análise dos vidros para comprovação da simulação energética da edificação, que foram feitas conforme exigências mandatórias da norma ASHRAE 90.1/2004. Materiais e recursos Encontrar empresas que reaproveitassem determinados resíduos, foi um fator problemático nesta categoria, pois os produtos deveriam conter especificações claras. A aquisição de madeira certificada também foi um grande problema devido à falta de documentação da maioria das madeireiras. Qualidade do ambiente interno O Plano de Qualidade do Ar Interno na fase de pré-ocupação oferece duas alternativas. Uma delas consiste na análise da qualidade do ar por laboratório, que foi descartada devido ao alto custo. Mesmo sendo um processo pouco empregado, restou a segunda alternativa, que consiste na realização da ventilação do ar no interior da edificação (flush out) após o término da construção e anterior à ocupação da edificação com objetivo de remover resíduos ou poluições emitidas, necessitando conciliar o final de obra ao cronograma. Foi a categoria com a maior dificuldade encontrada. A partir dos resultados obtidos com a realização do estudo de caso, as novas atividades identificadas como exigência para a certificação LEED não são usuais na construção civil: - Soluções arquitetônicas baseadas em critérios de desempenho; - Especificação de materiais, equipamentos e sistemas levando em conta o desempenho, a produção regional, a composição, a reciclabilidade e o descarte final; - Plano de qualidade do ar para as fases de construção e pré-ocupação; - Gestão de resíduos da construção; - Contratação de fornecedores que atendam às especificações dos materiais, equipamentos e sistemas; - Comprovação do desempenho de alguns sistemas diante dos parâmetros da certificação; - Disponibilidade de informações técnicas sobre os produtos; - Realização de um sistema de gerenciamento de resíduos da obra. A falta de conhecimento sobre o sistema de certificação da primeira empresa (Construtora A) causou desgaste entre os envolvidos, atrasos na obra, retrabalho, e ainda colocou em risco a certificação da obra. Este pode ser um entrave importante, que envolve não apenas a documentação técnica, mas, principalmente, a capacitação necessária dos profissionais envolvidos no fornecimento e na aquisição de materiais e componentes da indústria da construção no Brasil. Considerações finais No estudo de caso realizado, a fase de projeto foi primordial, precisando ser rica de detalhes e especificações, principalmente dos materiais, que deveriam ser regionais, enriquecendo o memorial de maneira não usual na construção civil. A execução do projeto conforme as exigências da certificação, demonstrou complexidade, necessitando de empenho e comprometimento da construtora, o que não pode ser previsto durante as fases de projeto. As exigências para a certificação requiriu novas atividades consideradas não usuais à construção civil e profissionais capacitados. Palavras-chave: Construção civil, Impactos ambientais, Certificação ambiental de edifícios.
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