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1 A REDAÇÃO NA UNICAMP ANÁLISE DAS PROPOSTAS DE 2019 PROPOSTA 1 Você é um(a) estudante do Ensino Médio na rede pública estadual e soube de um acontecimento revoltante na sua escola: sua professora de Filosofia recebeu ofensas e ameaças anônimas por suposta tentativa de doutrinação política, ao ter iniciado o curso sobre as origens da Cidadania e dos Direitos Humanos modernos com o texto a seguir: Teócrito e o pensamento A ninguém, nem aos deuses nem aos demônios, nem às tiranias da terra nem às tiranias do céu, foi dado o poder de impedir aos homens o exercício daquele que é o primeiro e o maior de seus atributos: o exercício do pensamento. Podem amarrar as mãos de um homem, impedindo-lhe o gesto. Podem atar-lhe os pés, impedindo-lhe o andar. Podem vazar-lhe os olhos, impedindo a vista. Podem cortar-lhe a língua, impedindo a fala. O direito de pensar, o poder de pensar, porém, estão acima de todas as violências e de todas as repressões, que nada podem contra seu exercício. (...) Parece claro que não há abuso mais abominável que o de tentar impor limitações ao pensamento de qualquer pessoa. Pretender suprimir o pensamento de quem quer que seja é o maior dos crimes. Pois não é apenas um crime contra uma pessoa, mas contra a própria espécie humana, uma vez que o pensamento é o atributo que distingue o ser humano dos demais seres criados sobre a face da terra. (...) Na vida na cidade, se um homem neutraliza dentro de si o direito de pensar, a cidade pode ser tomada e dominada pela ferocidade de um tirano, cujo despotismo levará o povo à morte pela fome, pela crueldade ou por outras formas de injustiça e prepotência. E se não o povo todo, pelo menos uma parte do povo, certamente, será arrastada à opressão, à tortura, ao cárcere ou a qualquer outra forma de perdição. Os tiranos não gostam que as pessoas pensem. (Teócrito de Corinto, filósofo grego, século II d.C.) A direção da escola ainda não se manifestou publicamente sobre o episódio. Indignado(a) com a tentativa de censura que a professora sofreu por propor aos alunos reflexões fundamentais à formação cidadã, você decidiu escrever o texto de um abaixo-assinado encaminhado à direção da escola, em nome dos estudantes, no qual deve: a) reivindicar que a escola se posicione publicamente em defesa da professora; b) reivindicar a manutenção de aulas de Filosofia que tematizem os Direitos Humanos; e c) justificar suas reivindicações. Para tanto, você deve levar em conta tanto o texto acima quanto os excertos abaixo. 1. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. (Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo XXVI, item 2, 1948.) 2. 3. No que toca aos direitos humanos, a filósofa Hannah Arendt identificou na ruptura trazida pela experiência totalitária do nazismo e do stalinismo a inauguração do tudo é possível, que levou pessoas a serem tratadas como supérfluas e descartáveis. Tal fato contrariou os valores consagrados da Justiça e do Direito, voltados a evitar a punição desproporcional e a distribuição não equitativa de bens e situações. Arendt propõe assegurar um mundo comum, marcado pela pluralidade e pela diversidade, o qual, através do exercício da liberdade, impediria o ressurgimento de um novo estado totalitário de natureza. No mundo contemporâneo, continuam a persistir situações sociais, políticas e econômicas que, mesmo depois do término dos regimes totalitários, contribuem para tornar os homens supérfluos e sem lugar num mundo comum, como a ubiquidade da pobreza e da miséria, a ameaça do holocausto nuclear, a irrupção da violência, os surtos terroristas, a limpeza étnica, os fundamentalismos excludentes e intolerantes. (Adaptado de Celso Lafer, A reconstrução dos direitos humanos: a contribuição de Hannah Arendt. Estudos Avançados, v. 11, n. 30, São Paulo, p. 55-65, maio/ago. 1997.) 4. O bicho está pegando na educação. Fico pensando em que mundo vivem os que acham que as escolas brasileiras sofrem de “contaminação político-ideológica” comandada por “um exército organizado de militantes travestidos de professores”. É uma baita contradição para quem diz defender a “pluralidade”, e é o caminho oposto dos países de alto desempenho em educação: Estados Unidos (em que alguns Estados oferecem educação sexual desde o século XIX), Nova Zelândia, Suécia, Finlândia e França. No Brasil, querem interditar o debate. Mesma coisa com os estudos indígenas e africanos, classificados aqui como porta de entrada para favorecer “movimentos sociais”. Já na Noruega, o currículo é 2 generoso com o povo sami, habitantes originais do norte da Escandinávia. “Doutrinação”, por lá, chama-se respeito à diversidade e às raízes da história do país. Para piorar, o principal evangelista dessa “Bíblia do Mal” seria Paulo Freire. Justo ele, pacifista convicto e obcecado pela ideia de que as pessoas deveriam pensar livremente. Presos na cortina de fumaça da suposta doutrinação, empobrecemos um pouco mais o debate sobre educação. (Adaptado de Blog do Sakamoto. Disponível em https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br. Acessado em 05/07/2018.) COMO LER A PROPOSTA? (I) A_ Considere os aspectos essenciais: 1. SITUAÇÃO DE PRODUÇÃO: professora ( de Filosofia) foi vítima de violência por ser acusada de doutrinação OU sofrer ameaças e ofensas OU sofrer censura / tentativa de silenciamento OU trabalhar como texto de Teócrito de Corinto. 2. INTERLOCUÇÃO: estudantes que escrevem para a direção da escola OU estudante que escreve , em nome do grupo , para a direção da escola. 3. CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL : qualidade e articulação dos argumentos 4. TIPOLOGIA: texto injuntivo-argumentativo B_ Leia a coletânea de forma interpretativa. ❖ PROPOSTA 1 : Redação acima da média Abaixo-assinado à direção da Escola Estadual “Liberdade” Venho, em nome de todos os estudantes da Escola Estadual “Liberdade” que assinaram o presente documento, reivindicar o posicionamento público das senhoras e dos senhores, diretores desta instituição, em defesa da professora de filosofia do Ensino Médio, vítima de ameaças e ofensas anônimas após nos ministrar o texto “ Teócrito e o pensamento” durante o curso sobre as origens da cidadania e dos Direitos Humanos modernos. Cumpre PT : marca a interlocução Máscara discursiva Situa o interlocutor na questão O episódio de intolerância ocorreu SOB O VIÉS FALACIOSO** de que nossa docente havia nos doutrinado politicamente, ou tentado fazê-lo, após a leitura referida acima, o texto _ do filósofo grego Teócrito de Corinto_ expressa a importância do direito ao pensamento, SENDO SUA SUPRESSÃO O MAIOR DOS CRIMES **e o caminho para a instauração de governos tirânicos e opressores. Construção favorece o argumento Referência à ideia do filósofo Ponto de vista claro Desse modo, sob nossa perspectiva, não há qualquer tentativa de “doutrinação”; pelo contrário, a docente ganhou ainda mais admiração(1) por cumprir o papel principal de sua profissão e dos estudos: nos ensinar a pesar de forma autônoma (2) . Além disso, essas aulas permitem o diálogo acerca dos Direitos Humanos, um tema que seve ser conhecido por todos _ especialmente na diversa sociedade brasileira_ afinal, ele aborda princípios fundamentais relacionados à liberdade , ao respeito e à tolerância , CONSTITUINDO O PILAR PARA A FORMAÇÃO CIDADÃO DEMOCRÁTICA.(3)** 1. Inversão construída com base na leitura : desconstrói a ideia falaciosa 2. Doutrinação X admiração ( tirinha) 3. Teócrito + tirinha ( ressignificação da coletânea) 4. Ganhou no Cec 3 Portanto, por meio deste abaixo-assinado, tambémreivindicamos a manutenção das aulas de Filosofia cujo tema aborda Direitos Humanos , pois acreditamos que reprimir esse assunto é uma espécie de censura, a qual se opõe à educação vigente em países _ desenvolvidos como a Suécia__ cujo viés libertador aborda questões de cidadania, diversidade e educação sexual. Cumpre Pt : marca a interlocução Argumentos apontados no excerto 4 : comparação Assim como a filósofa Hanna Arendt, valorizamos a ideia de um mundo comum, ,plural e diversos, capaz de valorizar a liberdade e impedir o totalitarismo e outras opressões, e temos a convicção de que as classes de Filosofia são essenciais para tanto, assim como a atuação da própria escola. Como isso, esperamos que as reivindicações aqui presentes, clamadas pelos estudantes, sejam atendidas. • Nós : marca do gênero • Excerto 3 : Hanna arendt Seleção lexical elaborada** ❖ DESTAQUE DO TEXTO: LEITURA CRÍTICA DA COLETÂNEA, APROPRIAÇÃO DE ARGUMENTOS, ELABORAÇÃO DE INFERÊNCIAS PARA SUSTENTAR AS REIVINDICAÇÕES. PROPOSTA 2 Sua professora de Geografia abriu um fórum no ambiente virtual da disciplina para discutir o tópico “IDH e crescimento do PIB como indicadores de desenvolvimento” e propôs as seguintes questões: a) Observe a classificação do Brasil nos rankings apresentados nos gráficos 1 e 2; b) Interprete os textos 3, 4 e 5; e c) Indique se haveria diferenças no desenvolvimento social do Brasil caso o país optasse por uma política econômica que tenha como consequência uma melhor classificação no ranking do IDH ou no ranking do crescimento do PIB. Publique uma postagem nesse fórum, na qual, a partir da leitura dos textos indicados abaixo, você deve: a)apontar em qual ranking o Brasil subiria se privilegiasse os aspectos qualidade de vida e igualdade no desenvolvimento social; b) apresentar as consequências de priorizar o consumo para o desenvolvimento social; e c) argumentar em favor do seu ponto de vista. 1. PIB significa Produto Interno Bruto, medida que representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região, durante um determinado período. 2. 4 IDH significa Índice de Desenvolvimento Humano, medida concebida pela ONU (Organização das Nações Unidas) para avaliar a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico de uma população. 3. Um breve conjunto de informações para nos fazer repensar as relações de consumo: • A indústria da moda é a segunda maior consumidora de água no mundo. Só perde para a do petróleo. • Estima-se que 17% a 20% da poluição da água industrial vem de tingimento e tratamento têxtil. • Cerca de 15% a 20% de tecido é desperdiçado a cada peça cortada. E tecido não é reciclável. • Estima-se que 10% das emissões de gases de efeito estufa provêm da indústria da moda. • As fábricas de moda consomem mais de 130 milhões de toneladas de carvão/ano para gerar energia. • Para suprir a demanda do consumo, quase toda matéria-prima utilizada na moda resulta em problema: do algodão, cheio de pesticidas, ao poliéster, oriundo da exploração do petróleo. • Operários da indústria têxtil em países como China, Índia e Bangladesh trabalham mais de 12 horas por dia e ganham menos do que 100 dólares por mês. • Cerca de 80% da mão de obra deste mercado são mulheres. E menos de 2% ganham o suficiente para viver em condições dignas. Para ganhar mais, elas chegam a trabalhar mais de 75 horas por semana. E tem quem ache que o consumismo é um problema individual que só diz respeito à própria conta bancária… (Adaptado de Nina Guimarães, O consumismo destrói o meio ambiente e incentiva o trabalho escravo. Metrópoles, 19/04/2017.) 4. As principais redes de varejo de moda do país associadas à ABVTEX (Associação Brasileira do Varejo Têxtil) já notam a melhora no ânimo dos consumidores. “O cenário é mais favorável, a partir do momento em que há maior disponibilidade de crédito; a inflação está abaixo do esperado, com aumento no poder de compra; e há uma leve redução do desemprego. Esses fatores somados ajudam a elevar a intenção de compra”, aponta Lima, diretor executivo da ABVTEX. A FGV estima que, em 2018, o PIB cresça 2,5%. Esse crescimento deve permanecer liderado pelo consumo. (Adaptado de Em 2018, crescimento permanecerá liderado pelo consumo, diz FGV. Disponível em http://www.abvtex.org.br/. Acessado em 04/05/ 2018.) 5. Pelo 12º ano consecutivo, só deu ela: a Noruega foi novamente eleita pela ONU como o melhor país do mundo para se viver. Segundo Jens Wandel, diretor do departamento administrativo do Programa de Desenvolvimento da ONU, o sucesso do país consiste em combinar o crescimento de renda com um elevado nível de igualdade. “Ao longo do tempo, a Noruega conseguiu aumentar sua renda e, ao mesmo tempo, garantir que os rendimentos sejam distribuídos de modo uniforme”. (Adaptado de Índice de Desenvolvimento Humano: o que faz da Noruega o melhor lugar para se viver? Huffpost Brasil , 17/12/2015.) Às 13:45 de hoje, Amante da geografia postou: Boa tarde, pessoal! Busquei seguir o roteiro indicado pela professora e quero expor minhas reflexões. O Brasil se encontra em 47º lugar no ranking do PIB e em 79º no IDH. Notem, porém, que a Índia e a China***, as quais apresentam posições muito abaixo no IDH, se comparadas como Brasil. Sob meu ponto de vista, esses dados representam o constante conflito entre tipos de investimentos que os países realizam: enquanto os grandes asiáticos tem (*) implantado políticas que estimulam fortemente o consumo nos últimos anos, o Brasil, até Elogiada a estratégia de contraposição de ideias; integração excelente entre leitura e articulação de ideias Seleção lexical apurada Use de dois pontos ( elogiado) 5 ELOGIOS: Compra o Brasil a outros países; expõe seu conhecimento e ponto de vista sobre a situação do Brasil Articula diferentes questões a que chegou a partir da leitura proficiente dos excertos da coletânea. COMO LER A PROPOSTA? (II) A_ Considere os aspectos essenciais: 1. um tópico específico) OU não marcada. 2. INTERLOCUÇÃO: estudante que dialoga com a professora e/ou com os colegas da disciplina OU não marcada 3. CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL : qualidade e articulação dos argumentos 4. TIPOLOGIA: texto expositivo-argumentativo] 5. SITUAÇÃO DE PRODUÇÃO: questão proposta no fórum de ambiente virtual da disciplina ( de geografia para discutir B_ Leia a coletânea de forma interpretativa. ** Não era obrigatório marcar a interlocução ESTUDANDO PROPOSTAS ANTERIORES recentemente, tem direcionado seus esforços em medidas sociais. Vocês, assim como eu, devem ter ficado entusiasmados com o texto 5. Para mim, este é o caminho que o Brasil deve seguir, uma vez que investimentos privilegiados em qualidade de vida e igualdade no desenvolvimento social aumentarão expressivamente a posição no ranking do IDH. Tal índice avalia elementos como educação, expectativa de vida e outros itens afins. Como visto, a Noruega vem investindo nesse campo e, ao longo do tempo, conseguiu não apenas o primeiro lugar no IDH, como também aumentou sua renda. Assim , conclui-se que aplicações em políticas que estimulam a distribuição uniforme de rendimentos aumenta a potência de uma democracia por fornecer não só uma melhor qualidade de vida a seus contribuintes , como também a potência de ampliar o PIB. Ótima seleção lexical Sei que nosso país tem passado por uma recessão econômica angustiante, mas comparem os textos 3 e 4 . A ABVTEX informa que houve melhora nos ânimos consumidores, posto que os investimentos nacionais , agora, estão direcionados basicamente ao consumo. Mas queremos um cenário de ampliação das desigualdades no Brasil? Certamente é necessário o investimento nesse campo para que a riqueza nacional aumente, porém, esse não deve ser um ciclo fechado em si mesmo, posto que o investimento apenas no consumo gera a retração do desenvolvimento social, pois, assim como descreve o texto 3, ele gera incentivos a trabalhos escravos nos quais os funcionários realizam suas atividades com extensas jornadas de trabalho, além dos ínfimos salários, como vistos na China e na Índia***. Ou seja, essa busca a todo custo por um maior PIB gera um menor IDH, devendo, portanto, o Brasil manter seus esforços em medidas sociais para que siga o traçado caminhado pela Noruega . Pergunta retórica ** retomada produtiva – mostra-se o esforço na elaboração do projeto de texto 6 A PROVA DE REDAÇÃO 2011 TEXTO 1 Imagine-se como um jovem que, navegando pelo site da MTV, se depara com o gráfico “Os valores de uma geração” da pesquisa Dossiê MTV Universo Jovem, e resolve comentar os dados apresentados, por meio do “fale conosco” da emissora. Nesse comentário, você, necessariamente, deverá: a) comparar os três anos pesquisados, indicando dois (2) valores relativamente estáveis e duas (2) mudanças significativas de valores; b) manifestar-se no sentido de reconhecer-se ou não no perfil revelado pela pesquisa. I - Viver em uma sociedade mais segura, menos violenta. G - Ter uma vida tranquila, sem correrias, sem estresse. A - Ter união familiar, boa relação familiar. B - Divertir-se, aproveitar a vida. K - Ter uma carreira, uma profissão, um emprego. F - Ter independência financeira/ Ter mais dinheiro do que já tem. H - Viver num país com menos desigualdade social/Viver numa sociedade mais justa. M - Poder comprar o que quiser, poder comprar mais. C - Ter fé/ Crer em Deus. E - Ter mais liberdade do que já tem. J - Ter amigos. D - Beleza física/ Ser bonito. ACIMA DA MÉDIA Bom dia, pessoal da MTV! Achei realmente muito interessante o gráfico apresentado no site, tanto que não me contive em deixar aqui o meu comentário. Gostaria, antes de tudo, de parabenizá-los pela ideia da pesquisa, uma vez que considero importantíssimo, não só para os jovens mas para toda a sociedade, acompanhar as mudanças que têm ocorrido ao longo das gerações no que se refere ao modo como os jovens se relacionam com diversos aspectos do mundo que os cerca. E nesse sentido, o gráfico é bastante esclarecedor. Confesso que fiquei bastante impressionado com alguns dados da pesquisa. Eu, um jovem extremamente defensor das vivências e das relações interpessoais, já que acredito que são fundamentais para a construção do caráter, ética e cidadania, fiquei espantado ao ver a queda apresentada no quesito “(J) ter amigos” entre os anos de 1999 e 2008. E igualmente perplexo ao notar que em apenas três anos, houve uma diminuição no número de jovens que consideram importante “(B) divertir-se e aproveitar a vida”. Fico me perguntando, até com certo pesar, se não seria esse um reflexo de uma sociedade cada vez mais refém dos avanços tecnológicos, da rapidez das informações, e da superficialidade das relações, favorecidas pelas milhares de redes sociais virtuais. Ao mesmo tempo, é confortante ver que alguns valores como “(K) ter uma carreira, uma profissão, um emprego” e “(D) Ter beleza física/ser bonito” permanecem constantes ao longo dos anos, e mais satisfeito pelo primeiro quesito continuar elevado e o segundo permanecer em níveis “baixos”, ainda mais com o crescente bombardeio de propagandas e venda de padrões estéticos a que estamos sujeitos diariamente. Por fim, tirando as discordâncias pessoais em alguns pontos, acho que compartilho da maioria das opiniões dos jovens de 2008. E estou ansioso para ver como os nossos filhos lidarão com as mesmas questões no futuro! TEXTO 2 Coloque-se no lugar de um líder de grêmio estudantil que tem recebido reclamações dos colegas sobre o ensino de ciências em sua escola e que, depois de ler a entrevista com Tatiana Nahas na revista de divulgação científica Ciência Hoje, decide convidá-la a dar uma palestra para os alunos e professores da escola. Escreva um discurso de apresentação do evento, adequado à modalidade oral formal. Você, necessariamente, deverá: a) apresentar um diagnóstico com três (3) problemas do ensino de ciências em sua escola; e b) justificar a presença da convidada, mostrando em que medida as ideias por ela expressas na entrevista podem oferecer subsídios para a superação dos problemas diagnosticados. Escola na mídia 7 Tatiana Nahas. Bióloga e professora de ensino médio, tuiteira e blogueira. Aos 34 anos, ela cuida da página Ciência na mídia, que, nas suas palavras, "propõe um olhar analítico sobre como a ciência e o cientista são representados na mídia". Ciência Hoje: É perceptível que seu blogue dá destaque, cada vez mais, à educação e ao ensino de ciências. Tatiana Nahas: Na verdade, é uma retomada dessa direção. Eu já tinha um histórico de trabalho em projetos educacionais diversos. Mas, mais que isso tudo, acho que antes ainda vem o fato de que não dissocio sobremaneira pesquisa de ensino. E nem de divulgação científica. CH: Como você leva a sua experiência na rede e com novas tecnologias para os seus alunos? TH: Eu não faço nenhuma separação que fique nítida entre o que está relacionado a novas tecnologias e o que não está. Simplesmente ora estamos usando um livro, ora os alunos estão criando objetos de aprendizagem relacionados a determinado conteúdo, como jogos. Um exemplo do que quero dizer: outro dia estávamos em uma aula de microscopia no laboratório de biologia. Os alunos viram o microscópio, aprenderam a manipulá-lo, conheceram um pouco sobre a história dos estudos citológicos caminhando em paralelo com a história do desenvolvimento dos equipamentos ópticos, etc. Em dado ponto da aula, tinham que resolver o problema de como estimar o tamanho das células que observavam. Contas feitas, discussão encaminhada, passamos para a projeção de uma ferramenta desenvolvida para a internet por um grupo da Universidade de Utah. Foi um complemento perfeito para a aula. Os alunos não só adoraram, como tiveram a possibilidade de visualizar diferentes células, objetos, estruturas e átomos de forma comparativa, interativa, divertida e extremamente clara. Por melhor que fosse a aula, não teria conseguido o alcance que essa ferramenta propiciou. Veja, não estou competindo com esses recursos e nem usando-os como muleta. Esses recursos são exatamente o que o nome diz: recursos. Têm que fazer parte da educação porque fazem parte do mundo, simples assim. Ah, mas e o monte de bobagens que encontramos na internet? Bom, mas há um monte de bobagens também nos jornais, nos livros e em outros meios “mais consolidados”. Há um monte de bobagens mesmo nos livros didáticos. A questão está no que deve ser o foco da educação: o conteúdo puro e simples ou as habilidades de relacionar, de interpretar, de extrapolar, de criar, etc.? CH: Você acha que é necessário mudar muita coisa no ensino de ciências, especificamente? TN: Eu diria que há duas principais falhas no nosso ensino de ciências. Uma reside no quase completo esquecimento da história da ciência na sala de aula, o que faz com que os alunos desenvolvam a noção de que ideias e teorias surgem repentinamente e prontas na mente dos cientistas. Outra falha que vejo está no fato de que pouco se exercita o método científico ao ensinar ciências. Não dá para esperar que o aluno entenda o modus operandi da ciência sem mostrar o método científico e o processo de pesquisa, incluindo os percalços inerentes a uma investigação científica. Sem mostrar a construção coletiva da ciência. Sem mostrar que a controvérsia faz parte do processo de construção do conhecimento científico e que há muito desenvolvimento na ciência a partir dessas controvérsias. Caso contrário, teremos alunos que farão coro com a média da população que se queixa, ao ouvir notícias de jornal, que os cientistas não se resolvem e uma hora dizem que manteiga faz bem e outra hora dizem que manteiga faz mal. Ou seja,já temos alguns meios de divulgação que não compreendem o funcionamento da ciência e a divulgam de maneira equivocada. Vamos também formar leitores acríticos? (Adaptado de Thiago Camelo, Ciência Hoje On-line. Disponível em http.cienciahoje.com.br. Acesso em: 04/03/2010.) ACIMA DA MÉDIA Caros alunos e professores, Nestes últimos tempos, enquanto líder do grêmio estudantil de nossa escola, tenho recebido diversas reclamações de meus colegas a respeito do ensino de ciências nesta instituição de ensino. A maioria das queixas relaciona-se ao baixo e quase inexistente – segundo alguns – dinamismo das aulas; ao pequeno percentual de aprendizagem, diante da utilização de recursos pouco elucidativos; à falta de aplicação prática dos conhecimentos aqui transmitidos pelos professores da disciplina; à escassez de abrangência dos assuntos e temas, já que – consoantes às críticas – estes são explicados na medida em que são importantes para o vestibular, como se, o que nele não é cobrado, não tivesse importância suficiente para ser ministrado aos alunos de um colégio. Diante desse quadro preocupante, decidi pesquisar formas alternativas de ensinar ciências na escola – pois sei que as causas não se assentam na incapacidade ou desleixo de nossos professores – e deparei-me com uma entrevista, na revista científica “Ciência Hoje”, com a bióloga e professora de ensino médio, tuiteira e blogueira, Tatiana Nahas e achei muito interessante a forma que possui de lecionar, bem como a visão que tem do ensino de ciências. Para ela, que apresenta um histórico de trabalho em múltiplos projetos educacionais, não há que existir separação entre recursos antigos e novas tecnologias; é necessário promover as ferramentas proporcionadas pela internet e computador, bem como jogos, para tornar a aula mais interativa, compreensível, dinâmica e divertida, despertando o interesse dos estudantes. Ademais, é essencial, segundo ela, a história da Ciência, dos estudos citológicos e dos equipamentos ópticos serem explicados também, alem de mostrar o método científico e todos os percalços enfrentados pelos cientistas na elaboração de suas teorias, mostrando a 8 abrangência e praticidade do conhecimento científico. É por tudo isso, e cumprindo o meu dever, que resolvi chamar a sra. Tatiana Nahas para dar uma palestra a vocês. Espero que, assim, possamos resolver e superar os problemas do ensino de ciências aqui. Muito obrigado e aproveitem-na. A PROVA DE REDAÇÃO 2012 TEXTO 2 : Coloque-se no lugar dos estudantes de uma escola que passou a monitorar as páginas de seus alunos em redes sociais da internet (como o Orkut, o Facebook e o Twitter), após um evento similar aos relatados na matéria reproduzida abaixo. Em função da polêmica provocada pelo monitoramento, você resolve escrever um manifesto e recebe o apoio de vários colegas. Juntos, decidem lê-lo na próxima reunião de pais e professores com a direção da escola. Nesse manifesto, a ser redigido na modalidade oral formal, você deverá necessariamente: • explicitar o evento que motivou a direção da escola a fazer o monitoramento; • declarar e sustentar o que você e seus colegas defendem, convocando pais, professores e alunos a agir em conformidade com o proposto no documento. Escolas monitoram o que aluno faz em rede social Durante uma aula vaga em uma escola da Grande São Paulo, os alunos decidiram tirar fotos deitados em colchonetes deixados no pátio para a aula de educação física. Um deles colocou uma imagem no Facebook com uma legenda irônica, em que dizia: vejam as aulas que temos na escola. Uma professora viu a foto e avisou a diretora. Resultado: o aluno teve de apagá-la e todos levaram uma bronca. O caso é um exemplo da luta que as escolas têm travado com os alunos por conta do uso das redes sociais. Assuntos relativos à imagem do colégio, casos de bullying virtual e até mensagens em que, para a escola, os alunos se expõem demais, estão tendo de ser apagados e podem acabar em punição. Em outra instituição, contam os alunos, um casal foi suspenso depois de a menina pôr no Orkut uma foto deles se beijando nas dependências da escola. As escolas não comentaram os casos. Uma delas diz que só pediu para apagar a foto porque houve um "tom ofensivo". Como outras escolas consultadas, nega que monitore o que os alunos publicam nos sites. Exercícios - Como professores e alunos são "amigos" nas redes sociais, a escola tem acesso imediato às publicações. Foi o que aconteceu com um aluno do ABC paulista. Um professor soube da página que esse aluno criou com amigos no Orkut. Nela, resolviam exercícios de geografia – cujas respostas acabaram copiadas por colegas. O aluno teve de tirá-la do ar. O caso é parecido com o de uma aluna de 15 anos do Rio de Janeiro obrigada a apagar uma comunidade criada por ela no Facebook para a troca de respostas de exercícios. Ela foi suspensa. Já o aluno do ABC paulista não sofreu punição e o assunto ética na internet passou a ser debatido em aula. Transformar o problema em tema de discussão para as aulas é considerado o ideal por educadores. "A atitude da escola não pode ser policialesca, tem que ser preventiva e negociadora no sentido de formar consciência crítica", diz Sílvia Colello, professora de pedagogia da USP. (Adaptado de Talita Bedinelli & Fabiana Rewald, Folha de S. Paulo, 19/06/2011.) ACIMA DA MÉDIA Caros pais, professores e diretoria, nós, alunos, desta escola, nos sentimos chocados com o recente episódio no qual alguns alunos gravaram uma aula de História e a criticaram com comentários públicos no Facebook , uma rede social na internet. Porém , fomos ainda mais surpreendidos quando a direção de nossa escola decidiu não apenas exigir que tal material fosse apagado e os responsáveis punidos, mas também criou um monitoramento do que é publicado na internet pelos alunos, para que assim qualquer material “danoso à imagem da escola” possa ser rastreado e apagado. Repudiamos tal medida e exigimos que a escola não haja de maneira tão abusiva e arbitrária. A escola é uma instituição educacional e conscientizadora e, portanto, deve trabalhar para educar os seus alunos sobre seus limites fora e dentro do ambiente escolar e conscientizá-los sobre como emitir suas opiniões.É cobrado de tal instituição que fomente as discussões e os debates para ajudar os seus alunos a desenvolver um senso crítico e postura adequada no mundo moderno O monitoramento, na forma como foi instalado em nossa escola , não contribuiu para nenhum desses objetivos, pelo contrário, prejudica o trabalho de nossa escola.Com ele, a escola não só contribui para alcançar alguns de seus objetivos mais importantes, mas também perde um grande espaço de discussões e aperfeiçoamento, o qual seria muito útil para ela mesma interagir com seus alunos: o espaço da internet. 9 É por isso que nós defendemos que a medida do monitoramento seja revogada e convocamos pais, professores e outros alunos desta escola para que juntos trabalhemos para replantar esta medida com projetos realmente efetivos e que procurem instruir e conscientizar nossos alunos para formar cidadãos conscientes e preparados para ingressar nessa sociedade adulta com as capacidades que lhes são exigidas. COMENTÁRIOS DA BANCA : ➢ Situação bem caracterizada desde as primeiras linhas; ➢ Interlocução bem demarcada; ➢ Evento imediatamente identificado; ➢ Abordagem clara dos dois lados do problema:atitude corretiva necessária; porém a estratégia fere as liberdades individuais, contrariando os princípios da própria educação ; ➢ Além de protestar contra a punição ,propõe alternativas e convoca a comunidade para buscar soluções. A PROVA DE REDAÇÃO 2013 TEXTO 1 Imagine-se como um estudante de ensino médio de uma escola que organizará um painel sobre características psicológicas e suas implicações no plano individual e na vida em sociedade. Nesse painel, destinado à comunidade escolar,cada texto reproduzido será antecedido por um resumo. Você ficou responsável por elaborar o resumo que apresentará a matéria transcrita abaixo, extraída de uma revista de divulgação científica. Nesse resumo você deverá: • apresentar o ponto de vista expresso no texto, a respeito da importância do pessimismo em • oposição ao otimismo, relacionando esse ponto de vista aos argumentos centrais que o sustentam. Atenção: uma vez que a matéria será reproduzida integralmente, seu texto deve ser construído sem copiar enunciados da matéria PESSIMISMO Para começar, precisamos de pessimistas por perto. Como diz o psicólogo americano Martin Seligman: “Os visionários, os planejadores, os desenvolvedores, todos eles precisam sonhar com coisas que ainda não existem, explorar fronteiras. Mas, se todas as pessoas forem otimistas, será um desastre”, afirma. Qualquer empresa precisa de figuras que joguem a dura realidade sobre os otimistas: tesoureiros, vice-presidentes financeiros, engenheiros de segurança... Esse realismo é coisa pequena se comparado com o pessimismo do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788- 1860). Para ele, o otimismo é a causa de todo o sofrimento existencial. Somos movidos pela vontade – um sentimento que nos leva a agir, assumir riscos e conquistar objetivos. Mas essa vontade é apenas uma parte de um ciclo inescapável de desilusões: dela vamos ao sucesso, então à frustração – e a uma nova vontade. Mas qual é o remédio, então? Se livrar das vontades e passar o resto da vida na cama sem produzir mais nada? Claro que não. A filosofia do alemão não foi produzida para ser levada ao pé da letra. Mas essa visão seca joga luz no outro lado da moeda do pessimismo: o excesso de otimismo – propagandeado nas últimas décadas por toneladas de livros de autoajuda. O segredo por trás do otimismo exacerbado, do pensamento positivo desvairado, não tem nada de glorioso: ele é uma fonte de ansiedade. É o que concluíram os psicólogos John Lee e Joane Wood, da Universidade de Waterloo, no Canadá. Um estudo deles mostrou que pacientes com autoestima baixa tendem a piorar ainda mais quando são obrigados a pensar positivamente. Na prática: é como se, ao repetir para si mesmo que você vai conseguir uma promoção no trabalho, por exemplo, isso só servisse para lembrar o quanto você está distante disso. A conclusão dos pesquisadores é que o melhor caminho é entender as razões do seu pessimismo e aí sim tomar providências. E que o pior é enterrar os pensamentos negativos sob uma camada de otimismo artificial. O filósofo britânico Roger Scruton vai além disso. Para ele, há algo pior do que o otimismo puro e simples: o “otimismo inescrupuloso”. Aquelas utopias* que levam populações inteiras a aceitar falácias** e resistir à razão. O maior exemplo disso foi a ascensão do nazismo – um regime terrível, mas essencialmente otimista, tanto que deu origem à Segunda Guerra com a certeza inabalável da vitória. E qual a resposta de Scruton para esse otimismo inescrupuloso? O pessimismo, que, segundo ele, cria leis preparadas para os piores cenários. O melhor jeito de evitar o pior, enfim, é antever o pior. 10 (Extraído de M. Horta, “O lado bom das coisas ruins”, em Superinteressante, São Paulo, no 302, março 2012. http://super.abril.com.br/cotidiano/lado-bom-coisas-ruins-68705.shtml. Acessado em 2/09/2012.) * Utopia: projeto de natureza irrealizável; ideia generosa, porém impraticável; quimera; fantasia. ** Falácia: qualquer enunciado ou raciocínio falso que, entretanto, simula a veracidade; raciocínio verossímil, porém falso; engano; trapaça. ACIMA DA MÉDIA Pessimismo de cada dia O texto “Pessimismo” **reproduzido abaixo foi publicado pela revista Superinteressante, aborda a importância de se ter, tanto na vida particular quanto na coletiva, pessoas pessimistas, uma vez que, segundo a reportagem, essa pessoa independe que os demais indivíduos se afastem excessivamente da realidade. ( referência a Martin Seligman) Para sustentar tal ponto de vista a matéria traz os mais diversos argumentos através de estudos de psicológicos e de filósofos que trazem a mesma ideia. Assim, em menor ou maior grau, esses especialistas apontam para a importância do pessimismo para encarar as situações e, mais do que isso, alertam para o excesso de otimismo no qual vivemos atualmente No caso da vida privada, o texto faz alusão à filosofia de Arthur Schopenhauer que afirma que o otimismo seria a causa de todo sofrimento humano, enquanto que para os psicólogos John Lee e Joane Wood ele é o gerador da ansiedade, o que agrava muitas vezes o quadro de pacientes com baixa autoestima, por exemplo Já na vida coletiva o filósofo Roger Scruton defende o pessimismo relembrando a onda otimista leva as pessoas a aceitarem e a acreditarem em ideias perigosas e irracionais como o nazifascismo que convenceu milhares de pessoas através de um discurso de superioridade e poderio invencível alemão. Dessa forma o pessimismo é a melhor forma de evitar que barbáries como a 2ª Guerra Mundial ou o Holocausto ocorram. TEXTO 2 Imagine que, ao ler a matéria “Cães vão tomar uma ‘gelada’ com cerveja pet”, você se sente incomodado por não haver nela nenhuma alusão aos possíveis efeitos que esse tipo de produto pode ter sobre o consumo de álcool, especialmente por adolescentes. Como leitor assíduo, você vem acompanhando o debate sobre o álcool na adolescência e decide escrever uma carta para a seção Leitor do jornal, criticando a matéria por não mencionar o problema do aumento do consumo de álcool. Nessa carta, dirigida aos redatores do jornal, você deverá: • fazer menção à matéria publicada, de modo que mesmo quem não a tenha lido entenda a importância da crítica que você faz; • fundamentar a sua crítica com dados apresentados na matéria “Vergonha Nacional”, reproduzidos adiante. Atenção: ao assinar a carta, use apenas as iniciais do remetente. Cães vão tomar uma “gelada” com cerveja pet Produto feito especialmente para cachorros chega ao mercado nacional em agosto Nada é melhor que uma cervejinha depois de um dia de cão. Agora eles, os cães, também vão poder fazer jus a essa máxima. No mês de agosto chega ao mercado a Dog Beer, cerveja criada especialmente para os amigos de quatro patas. “Quem tem bicho de estimação gosta de dividir o prazer até na hora de comer e beber”, aposta o empresário M. M., 47, dono da marca. Para comemorar a final da Libertadores, a executiva A. P. C., 40, corintiana roxa, quis inserir Manolito, seu labrador, na festa. “Ele tomou tudo. A cerveja é docinha, com fundinho de carne”, descreve. Uniformizado, Manolito não só bebeu a gelada durante o jogo contra o Boca Juniors como latiu sem parar até o fim da partida. Desenvolvida pelo centro de tecnologia e formação de cervejeiros do Senai, no Rio de Janeiro, a bebida canina é feita à base de malte e extrato de carne; não tem álcool, lúpulo, nem gás carbônico. O dono da empresa promete uma linha completa de “petiscos líquidos”, que inclui suco, vinho e champanhe. A lista de produtos humanos em versões animais não para de crescer. Já existem molhos, tempero para ração e até patê. O sorvete Ice Pet é uma boa opção para o verão. A sobremesa tem menos lactose, não tem gorduras nem açúcar. (Adaptado de Ricardo Bunduky, Folha de São Paulo, São Paulo, 22 julh.2012, Cotidiano 3 p.) Vergonha Nacional As décadas de descumprimento da lei (...) contribuíram para que os adultos se habituassem a ver o consumo de bebidas entre adolescentes como “mal menor”, comparado aos perigos do mundo. (...) Um estudo publicado pela http://super.abril.com.br/cotidiano/lado-bom-coisas-ruins-68705.shtml.%20Acessado%20em%202/09/2012 11 revista Drugs and Alcohol Dependence ouviu 15.000 jovens nas 27 capitais brasileiras. O cenário que emerge do estudo é alarmante. Ao longo de um ano, um em cada três jovens brasileiros de 14 a 17 anos se embebedou ao menos uma vez. Em 54% dos casos maisrecentes, isso ocorreu na sua casa ou na de amigos ou parentes. Os números confirmam também a leniência com que os adultos encaram a transgressão. Em 17% dos episódios, os menores estavam acompanhados dos próprios pais ou de tios. Resultados da pesquisa realizada com 15.000 jovens de 14 a 17 anos nas 27 capitais brasileiras Quantas vezes se embebedou Onde ficou embriagado (na última vez em que bebeu) Com quem bebeu (na última vez em que bebeu) Nenhuma vez 12% Bar 35% Amigos 50% Uma vez na vida 35% Casa de amigos 30% Irmãos e primos 26% Ao menos uma vez no último ano 32% Casa de parentes 13% Pais ou tios 17% Própria casa 11% Namorado 5% Ao menos uma vez no último mês 21% Festas ou praia 11% Sozinho 2% (Adaptado de Revista Veja, Editora Abril, São Paulo, no 28, 11 julh. 2012, p. 81-82.) ACIMA DA MÉDIA Prezados redatores, Acompanho diariamente este jornal _ e não o leio, apenas; mas também me questiono sobre o conteúdo que é nele reproduzido.Dessa forma, ao renegar a posição de leitor passivo me vejo na função de expressar meu descontentamento perante a matéria veiculada no caderno “Cotidiano” do último dia 22 de julho, que tinha por objetivo informar sobre uma nova linha de cerveja para cães. Abarcada pela explosão de produtos de consumo humano que ganharam versões para animais domésticos, a reportagem exalta a bebida para os cães, como se ela levasse a outro nível o companheirismo do animal, que agora acompanha o dono até na “cervejinha” de cada dia. Inclusive, o texto ilustra essa ideia por meio do caso de um cachorro que foi inserido pelos donos , com sua cerveja especial, na festa de comemoração por um time de futebol. Me incomoda, assim, que não surja na matéria nenhum questionamento sobre consequências mais sérias desta banalização do consumo de álcool em nossa sociedade ( mesmo que a bebida dos cães não possua teor etílico, a referência é clara), principalmente entre aqueles que possuem menos maturidade para avaliar suas atitudes: os adolescentes. Dados de um estudo publicado no periódico “Drugs and alcohol dependence” mostram que 88% dos jovens brasileiros de 14 a 17 anos entrevistados na pesquisa já se embebedaram ao menos uma vez na vida, sendo um terço deles em um período recente de um ano. A pesquisa também revela que, muitas vezes, o contato com a bebida se associa ao ambiente familiar, já que quase 25% daqueles que afirmaram ter se embebedado estavam em casa própria ou de parentes quando o fizeram pela última vez. Além disso, 17% foram acompanhados por pais ou tios, o que denuncia a naturalidade com que tal atitude é encarada por seus responsáveis. Então, se agora até o cão está apto a compartilhar a bebida, como fazer com que jovens não se sintam ainda mais estimulados a abusar do consumo de álcool? Não pretendo me colocar por meio deste como um moralista ou defensor do que alguns chamariam de “bons costumes”, mas me indigna o fato de que este jornal não tenha proposto um debate relevante sobre o assunto, e simplesmente transcreva um fato que contribui na institucionalização velada do abuso de álcool por parte dos jovens. O.D.M 12