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1 @jumorbeck ↠ O termo imunidade é derivado da palavra latina imunitas, a qual se refere à proteção contra processos legais oferecida aos senadores romanos durante seus mandatos. Historicamente, imunidade significa proteção contra doença e, mais especificamente, doença infecciosa. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As células e moléculas responsáveis pela imunidade constituem o sistema imune, e sua resposta coletiva e coordenada à entrada de substâncias estranhas é denominada resposta imune. (ABBAS, 9ª ed.) A função fisiológica do sistema imune é a defesa contra microrganismos infecciosos; entretanto, mesmo substâncias estranhas não infecciosas e produtos de células danificadas podem elicitar respostas imunes. Além disso, os mecanismos que normalmente protegem os indivíduos contra uma infecção e eliminam substâncias estranhas também são capazes de causar lesão tecidual e doença em algumas situações. (ABBAS, 9ª ed.) Moléculas próprias podem elicitar respostas imunes (as chamadas doenças autoimunes). (ABBAS, 9ª ed.) IMUNIDADE INATA X IMUNIDADE ADAPTATIVA ↠ A defesa contra microrganismos é mediada por respostas sequenciais e coordenadas que são denominadas imunidade inata e adaptativa. (ABBAS, 9ª ed.) IMUNIDADE INATA ↠ A imunidade inata (também chamada de imunidade natural ou imunidade nativa) é essencial para a defesa contra microrganismos nas primeiras horas ou dias após a infecção, antes que as respostas imunes adaptativas tenham se desenvolvido. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A imunidade inata é mediada por mecanismos que já existem antes da ocorrência de uma infeção (por isso inata) e que facilitam rápidas respostas contra microrganismos invasores. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A imunidade inata, há outras respostas imunes que são estimuladas pela exposição a agentes infecciosos e que aumentam em magnitude e capacidades defensivas após cada exposição sucessiva a um microrganismo em particular. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Os principais componentes da imunidade inata são: (ABBAS, 9ª ed.) ➢ barreiras físicas e químicas, tais como os epitélios e os agentes antimicrobianos produzidos nas superfícies epiteliais; ➢ células fagocíticas (neutrófilos, macrófagos), células dendríticas (DCs, do inglês, dendritic cells), mastócitos, células natural killer (células NK) e outras células linfoides inatas; ➢ proteínas sanguíneas, incluindo componentes do sistema complemento e outros mediadores da inflamação ↠ Muitas células da imunidade inata, tais como macrófagos, DCs e mastócitos, estão sempre presentes na maioria dos tecidos, onde atuam como sentinelas em busca de microrganismos invasores. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A resposta imune inata combate microrganismos por meio de duas reações principais: (ABBAS, 9ª ed.) INATA ADAPTATIVA CARACTERÍSTICAS ESPECIFICIDADE Para moléculas compartilhadas por grupos de microrganismos relacionados e moléculas produzidas por células lesadas do hospedeiro. Para antígenos microbianos e não microbianos. DIVERSIDADE Limitada, reconhecimento de moléculas codificadas por genes herdados. Muito ampla, genes dos receptores são formados por recombinação somática de segmentos gênicos nos linfócitos. MEMÓRIA Nenhuma ou limitada Sim NÃO REATIVIDADE AO PRÓPRIO Sim Sim COMPONENTES BARREIRAS CELULARES E QUÍMICAS Pele, epitélios de mucosa; moléculas antimicrobianas. Linfócitos nos epitélios; anticorpos secretados nas superfícies epiteliais. PROTEÍNAS SANGUÍNEAS Complemento, várias lectinas e aglutininas. Anticorpos CÉLULAS Fagócitos (macrófagos, neutrófilos), células dendríticas, células natural killer, mastócitos, células linfoides inata. Linfócitos 2 @jumorbeck ➢ pelo recrutamento de fagócitos e outros leucócitos que destroem os microrganismos, no processo chamado inflamação; ➢ pelo bloqueio da replicação viral ou pelo killing de células infectadas por vírus, sem a necessidade de uma reação inflamatória. IMUNIDADE ADAPTATIVA ↠ Uma vez que a imunidade inata se desenvolve em resposta à infecção e a ela se adapta, é denominada imunidade adaptativa (também chamada imunidade específica ou imunidade adquirida). (ABBAS, 9ª ed.) ↠ O sistema imune adaptativo reconhece e reage a um grande número de substâncias microbianas e não microbianas chamadas antígenos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A resposta imune adaptativa é mediada por células chamadas linfócitos e seus produtos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Os linfócitos expressam receptores altamente diversos que são capazes de reconhecer um vasto número de antígenos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Há duas populações principais de linfócitos, denominadas linfócitos B e linfócitos T, os quais medeiam diferentes tipos de respostas imunes adaptativas. (ABBAS, 9ª ed.) CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS DAS RESPOSTAS IMUNES ADAPTATIVAS ↠ As propriedades fundamentais do sistema imune adaptativo refletem as propriedades dos linfócitos que medeiam essas respostas. ABBAS, 9ª ed.) ➢ Especificidade e diversidade: respostas imunes são específicas para antígenos distintos e, frequentemente, para diferentes porções de um único complexo proteico, polissacarídico ou de outra macromolécula. ABBAS, 9ª ed.) As porções de antígenos complexos especificamente reconhecidas por linfócitos individuais são denominadas determinantes ou epítopos. (ABBAS, 9ª ed.) Seleção Clonal: clones de linfócitos com diferentes especificidades estão presentes em indivíduos não imunizados e são capazes de reconhecer e responder aos antígenos estranhos. (ABBAS, 9ª ed.) Expansão Clonal: um antígeno introduzido se liga (seleciona) às células do clone antígeno-específico preexistente e as ativa. Como resultado, as células específicas para o antígeno proliferam para gerar milhares de descendentes com a mesma especificidade. (ABBAS, 9ª ed.) O número total de especificidades antigênicas dos linfócitos em um indivíduo, chamado repertório dos linfócitos, é extremamente grande. Estima-se que o sistema imune de um indivíduo possa 107 a 109 discriminar a determinantes antigênicos distintos. Essa capacidade do repertório de linfócitos para reconhecer um grande número de antígenos (a chamada diversidade) é resultado da variabilidade nas estruturas dos sítios de ligação ao antígeno dos receptores antigênicos dos linfócitos. (ABBAS, 9ª ed.) ➢ Memória.: a exposição do sistema imune a um antígeno estranho aumenta sua capacidade de responder novamente àquele antígeno. (ABBAS, 9ª ed.) As respostas a uma segunda exposição ou exposições subsequentes ao mesmo antígeno, chamadas respostas imunes secundárias, são normalmente mais rápidas, de maior magnitude e, com frequência, quantitativamente diferentes da primeira resposta imune (ou primária) àquele antígeno. (ABBAS, 9ª ed.) A memória imunológica ocorre porque cada exposição a um antígeno gera células de memória de vida longa específicas para o antígeno. (ABBAS, 9ª ed.) Duas razões pelas quais a resposta secundária é mais forte do que a resposta imune primária: as células de memória se acumulam e tornam-se mais numerosas do que os linfócitos naive específicos para o antígeno existentes no momento da exposição inicial ao antígeno; e células de memória reagem mais rápida e vigorosamente ao desafio antigênico do que os linfócitos naive. (ABBAS, 9ª ed.) ➢ Não reatividade ao próprio (autotolerância).: não reage prejudicialmente aos antígenos do próprio indivíduo. ABBAS, 9ª ed.) A autotolerância é mantida por diversos mecanismos, que incluem: a eliminação de linfócitos que expressam receptores específicos para alguns autoantígenos, inativando os linfócitos autorreativos ou suprimindo essas células pela ação de outras células (reguladoras). (ABBAS, 9ª ed.) TIPOS DE RESPOSTAS IMUNES ADAPTATIVAS ↠ Existem dois tipos de respostas imunes adaptativas, denominadas imunidade humoral e imunidade mediada por células, as quaissão induzidas por diferentes tipos de linfócitos e atuam para eliminar diferentes tipos de microrganismos. ABBAS, 9ª ed.) 3 @jumorbeck IMUNIDADE HUMORAL ↠ A imunidade humoral é mediada por moléculas no sangue e em secreções mucosas, denominadas anticorpos, os quais são produzidos pelos linfócitos B. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Anticorpos reconhecem antígenos microbianos, neutralizam a infectividade dos microrganismos e marcam microrganismos para sua eliminação pelos fagócitos e pelo sistema complemento. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A imunidade humoral é o principal mecanismo de defesa contra os microrganismos e suas toxinas, localizados fora das células (p. ex.: no lúmen dos tratos gastrintestinal e respiratório, e no sangue), uma vez que os anticorpos secretados podem se ligar a esses microrganismos e toxinas, neutralizando-os, além de auxiliar na sua eliminação. (ABBAS, 9ª ed.) A defesa do hospedeiro contra infecções é mediada por substâncias presentes nos fluidos corporais (então chamados humores). (ABBAS, 9ª ed.) IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULAS ↠ A imunidade mediada por células, também denominada imunidade celular, é mediada pelos linfócitos T. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Muitos microrganismos são ingeridos, mas sobrevivem dentro dos fagócitos, e alguns, particularmente os vírus, infectam e se replicam em diversas células do hospedeiro. Nesses locais, os microrganismos são inacessíveis aos anticorpos circulantes. A defesa contra tais infecções é uma função da imunidade mediada por células, a qual promove a destruição de microrganismos dentro dos fagócitos e a morte das células infectadas para eliminar os reservatórios da infecção. (ABBAS, 9ª ed.) IMUNIDADE ATIVA X IMUNIDADE PASSIVA ↠ A forma de imunidade induzida pela exposição a um antígeno estranho é chamada imunidade ativa, porque o indivíduo imunizado tem papel ativo na resposta ao antígeno. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A imunidade também pode ser conferida a um indivíduo pela transferência de anticorpos de um indivíduo imunizado para um indivíduo que nunca encontrou o antígeno. O receptor de tal transferência se torna imune ao antígeno em particular sem nunca ter sido exposto nem ter respondido àquele antígeno. Portanto, essa forma de imunização é chamada de imunidade passiva. (ABBAS, 9ª ed.) A resposta imune inata aos microrganismos fornece os primeiros sinais de perigo que estimulam as respostas imunes adaptativas. Por outro lado, as respostas imunes adaptativas frequentemente trabalham 4 @jumorbeck intensificando os mecanismos protetores da imunidade inata, tornando- os mais capazes de combater efetivamente os microrganismos. (ABBAS, 9ª ed.) O sistema imune de cada indivíduo é capaz de reconhecer, responder e eliminar muitos antígenos estranhos (não próprios), mas normalmente não reage contra antígenos e tecidos do próprio indivíduo. (ABBAS, 9ª ed.) Em decorrência da capacidade de linfócitos e de outras células imunes em circular pelos tecidos, a imunidade é sistêmica. (ABBAS, 9ª ed.) As respostas imunes são reguladas por um sistema de alças de feedback positivo que amplificam a reação e por mecanismos de controle que previnem reações inapropriadas ou patológicas. (ABBAS, 9ª ed.) ANTICORPOS (IMUNIGLOBULINA) ↠ Outra denominação comum para anticorpo é imunoglobulina (Ig). (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Uma das principais funções do sistema imunológico é a produção de proteínas solúveis que circulam livremente e exibem propriedades que contribuem especificamente para a imunidade e proteção contra material estranho. (COICO, 6ª ed.) ↠ Estas proteínas solúveis são denominadas anticorpos, e, devido a sua estrutura globular, pertencem à classe das proteínas denominadas globulinas. Inicialmente. em função de suas propriedades migratórias em um campo eletroforético, elas foram chamadas -y-globulinas (em relação às proteínas que migram mais rapidamente, a albumina, a alfa-globulina e a 13-globulina); atualmente, elas são coletivamente conhecidas como imunoglobulinas. (COICO, 6ª ed.) As substâncias que estimulavam a produção de anticorpos ou eram reconhecidas por eles foram então denominadas antígenos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Os anticorpos são sintetizados somente pelas células da linhagem de linfócitos B e existem em duas formas: anticorpos ligados à membrana na superfície dos linfócitos B que atuam como receptores antigênicos, e anticorpos secretados que atuam na proteção contra microrganismos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ O reconhecimento dos antígenos pelos anticorpos ligados à membrana nas células B naive ativa esses linfócitos e inicia a resposta imune humoral. As células B ativadas se diferenciam em plasmócitos que secretam anticorpos com a mesma especificidade do receptor antigênico. (ABBAS, 9ª ed.) ESTRUTURA DO ANTICORPO ↠ Todas as moléculas de anticorpo compartilham as mesmas características estruturais básicas, mas apresentam extraordinária variabilidade nas regiões que se ligam ao antígeno. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As funções efetoras e propriedades físico-químicas comuns dos anticorpos estão associadas às porções que não se ligam ao antígeno, as quais exibem relativamente poucas variações entre os diferentes anticorpos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Uma molécula de anticorpo tem uma estrutura central simétrica composta de duas cadeias leves idênticas e duas cadeias pesadas idênticas. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Tanto as cadeias leves quanto as cadeias pesadas contêm uma série de unidades estruturais homólogas repetidas, cada uma com cerca de 110 resíduos de aminoácidos de comprimento, que se dobram independentemente em um motivo globular chamado domínio Ig. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Um domínio Ig contém duas camadas de folhas ß- pregueadas, cada uma composta de três a cinco fitas de cadeia polipeptídica antiparalelas. As duas camadas são mantidas unidas por uma ponte dissulfeto e as fitas adjacentes de cada folha ß são conectadas por pequenas 5 @jumorbeck alças. Os aminoácidos localizados em algumas dessas alças são os mais variáveis e críticos para o reconhecimento do antígeno. (ABBAS, 9ª ed.) Estrutura de dobra da Ig - isto é, duas folhas ß-pregueadas adjacentes mantidas unidas por uma ponte dissulfeto. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Tanto as cadeias leves quanto as cadeias pesadas consistem em regiões aminoterminais variáveis (V) que participam no reconhecimento do antígeno e regiões carboxiterminais constantes (C); as regiões C das cadeias pesadas ajudam a mediar algumas das funções protetoras e efetoras dos anticorpos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Nas cadeias pesadas, a região V é composta de um domínio Ig e a região C é composta de três ou quatro domínios Ig. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Cada cadeia leve é composta de uma região V de domínio Ig e uma região C de domínio Ig. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As regiões variáveis são assim chamadas porque suas sequências de aminoácidos variam entre os anticorpos produzidos por diferentes clones de células B. A região V de uma cadeia pesada (VH) e a região V adjacente de uma cadeia leve (VL) formam um sítio de ligação ao antígeno. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Como a unidade estrutural central de cada molécula de anticorpo contém duas cadeias pesadas e duas cadeias leves, cada molécula de anticorpo possui pelo menos dois sítios de ligação antigênica. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Os domínios Ig da região C estão espacialmente separados dos sítios de ligação ao antígeno e não participam do reconhecimento antigênico. As regiões C da cadeia pesada interagem com outras moléculas e células do sistema imune e, dessa forma, medeiam a maior parte das funções biológicas dos anticorpos, algumas vezes chamadas de funções “efetoras”. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Além disso, as cadeias pesadas existem em duas formas que diferem nas terminações carboxiterminais: uma forma de cadeia pesada ancora os anticorpos ligados à membrana nas membranasplasmáticas dos linfócitos B, e a outra forma é encontrada somente nos anticorpos secretados. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As regiões C das cadeias leves não participam das funções efetoras e não estão diretamente ligadas às membranas celulares. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As cadeias pesadas e leves estão covalentemente ligadas por ligações dissulfeto formadas entre os resíduos de cisteína na porção carboxiterminal da cadeia leve e do domínio CH1 da cadeia pesada. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A porção de ligação ao antígeno de uma molécula de anticorpo é a região Fab, e a extremidade C terminal que está envolvida nas funções efetoras é a região Fc. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Fab (fragmentação, ligação ao antígeno): fragmentos que retêm a capacidade de se ligar ao antígeno, porque 6 @jumorbeck cada um deles contém domínios VL e VH pareados. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Fc (fragmento, cristalizável): composta de dois peptídeos idênticos ligados por dissulfeto, cada um contendo os domínios CH2 e CH3 da cadeia pesada. Essa porção da IgG tem propensão a autoassociar-se e cristalizar em uma estrutura semelhante a uma treliça ou grade. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A organização básica da molécula de anticorpo deduzida a partir dos experimentos de proteólise de IgG de coelhos é comum a todas as moléculas de Ig de todas as classes e de todas as espécies. Os termos Fab, F(ab’)2 e Fc são amplamente usados para descrever essas diferentes porções dos anticorpos humanos e murinos. De fato, esses experimentos forneceram a primeira evidência de que as funções de reconhecimento do antígeno e as funções efetoras das moléculas de Ig são espacialmente separadas. (ABBAS, 9ª ed.) CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DAS REGIÕES VARIÁVEIS DOS ANTICORPOS ↠ A maioria das diferenças de sequência e variabilidade entre os diferentes anticorpos está restrita a três trechos curtos na região V da cadeia pesada e a três trechos na região V da cadeia leve. Esses segmentos de maior diversidade são conhecidos como regiões hipervariáveis. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Em uma molécula de anticorpo, as três regiões hipervariáveis de um domínio VL e as três regiões hipervariáveis de um domínio VH são mantidas unidas para criar uma superfície de ligação ao antígeno. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As alças hipervariáveis podem ser imaginadas como semelhantes a “dedos” protuberantes de cada domínio variável, com três dedos da cadeia pesada e três dedos da cadeia leve permanecendo unidos para formar o sítio de ligação do antígeno. Pelo fato dessas sequências formarem uma superfície complementar à forma tridimensional do antígeno ligado a elas, as regiões hipervariáveis também são chamadas regiões determinantes de complementariedade (CDRs, do inglês complementarity-determining regions). (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Procedentes tanto da região aminoterminal VL quanto VH, estas regiões são chamadas CDR1, CDR2 e CDR3, sendo que as CDR3s de ambos os segmentos VH e VL são as mais variáveis dentre as CDRs. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As diferenças na sequência entre as CDRs de diferentes moléculas de anticorpo contribuem para superfícies de interação distintas e, dessa maneira, para as especificidades dos anticorpos individuais. (ABBAS, 9ª ed.) CARACTERÍSTICAS ESTRUTURAIS DAS REGIÕES CONSTANTES DOS ANTICORPOS ↠ As moléculas de anticorpo são flexíveis, permitindo que se liguem a diferentes matrizes de antígenos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Cada anticorpo contém pelo menos dois sítios de ligação ao antígeno, cada um formado por um par de domínios VH e VL. Muitas moléculas Ig podem orientar esses sítios de ligação de tal forma que duas moléculas de antígeno em uma superfície planar (p. ex.: célula) podem ser ligadas ao mesmo tempo. (ABBAS, 9ª ed.) 7 @jumorbeck ↠ Essa flexibilidade é conferida, em grande parte, por uma região de dobradiça localizada entre CH1 e CH2 de certos isotipos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Além disso, alguma flexibilidade das moléculas de anticorpo é decorrente da capacidade de cada domínio de VH sofrer rotação em relação ao domínio CH1 adjacente. (ABBAS, 9ª ed.) ANTICORPOS MONOCLONAIS Um anticorpo monoclonal é uma coleção pura de moléculas de anticorpo idênticas e com a mesma especificidade. (ABBAS, 9ª ed.) Um tumor de plasmócitos (mieloma ou plasmacitoma), assim como a maioria dos tumores de qualquer origem celular, é monoclonal e, dessa maneira, produz anticorpos de uma única especificidade. (ABBAS, 9ª ed.) SÍNTESE E MONTAGEM DAS IMUNIGLOBULINAS As cadeias pesadas e leves da imunoglobulina, assim como a maioria das proteínas secretadas e de membrana, são sintetizadas em ribossomos ligados à membrana no retículo endoplasmático rugoso. A proteína é translocada para o retículo endoplasmático, e as cadeias pesadas da Ig são N-glicosiladas durante o processo de translocação. (ABBAS, 9ª ed.) O dobramento apropriado das cadeias pesadas da Ig e sua montagem com as cadeias leves são reguladas por proteínas residentes no retículo endoplasmático chamadas de chaperonas. (ABBAS, 9ª ed.) A associação covalente das cadeias pesadas e leves é estabilizada pela formação de pontes dissulfeto e também ocorre no retículo endoplasmático durante o processo de montagem. Após essa montagem, as moléculas de Ig são liberadas das chaperonas, transportadas para a cisterna do complexo de Golgi, onde seus carboidratos são modificados e, então, direcionadas para a membrana plasmática em vesículas. (ABBAS, 9ª ed.) Anticorpos em sua forma de membrana são ancorados na membrana plasmática, enquanto a forma secretada é transportada para fora da célula. (ABBAS, 9ª ed.) A maturação das células B a partir dos progenitores da medula óssea é acompanhada por alterações específicas na expressão do gene de Ig, resultando na produção de moléculas de Ig em diferentes formas. (ABBAS, 9ª ed.) FUNÇÕES DOS ANTICORPOS ↠ As ações dos anticorpos incluem as seguintes: (TORTORA, 14ª ed.) ➢ Neutralização de antígenos; ➢ Imobilização de bactérias; ➢ Aglutinação e precipitação de antígenos; ➢ Ativação do complemento; ➢ Reforço da fagocitose. TIPOS DE ANTICORPOS ↠ As moléculas de anticorpo podem ser divididas em classes e subclasses distintas com base em diferenças na estrutura de suas regiões C da cadeia pesada. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As classes das moléculas de anticorpo são também chamadas de isotipos e são nomeadas IgA, IgD, IgE, IgG e IgM. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Em humanos, os isotipos IgA e IgG podem ainda ser adicionalmente divididos em subclasses, ou subtipos, intimamente relacionadas, denominadas IgA1 e IgA2 e IgG1, IgG2, IgG3 e IgG4. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Os isotipos e subtipos de anticorpos diferem em suas regiões C e, assim, onde eles se ligam e quais funções efetoras realizam. (ABBAS, 9ª ed.) Propriedades estruturais e biológicas da IgG ↠ É o isotipo predominante no soro humano normal. (ROITT, 13ª ed.) ↠ A IgG representa 70%-75% do total de anticorpos no soro, consistindo em uma molécula monomérica de quatro cadeias. (ROITT, 13ª ed.) ↠ Sua concentração normal varia de 6,0-16 g/L. (ROITT, 13ª ed.) ↠ Nos seres humanos a classe IgG das imunoglobulinas contém quatro subclasses denominadas lgG1, lgG2, lgG3 e lgG4., em função de sua abundância no soro sendo a IgG1, a mais abundante. (COICO, 6ª ed.) 8 @jumorbeck ↠ As moléculas de IgG circulantes têm meia-vida de cerca de 21 a 28 dias, a mais longa meia-vida de todos os isotipos. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ A longa meia-vida da IgG é atribuída à sua capacidade em se ligar a um receptor Fc específico chamado receptor de proteção FcRp. Esse receptor encontrado em endossomas celulares, recicla seletivamente a IgG endocitada e a devolve à circulação. (COICO, 6ª ed.) o ↠ O isotipo IgG (exceto a subclasse IgG2) é a única classe de imunoglobulina que pode passar através da placenta, possibilitando que a mãe transfira sua imunidadeao feto. A transferência placentária é facilitada pela expressão de um receptor de proteção da IgG (FcRn) encontrado nas células placentárias. (COICO, 6ª ed.) ↠ Mostrou-se recentemente que o FcRn é idêntico ao receptor de proteção da IgG (FcRp) encontrado nos endossomas celulares. (COICO, 6ª ed.) ↠ A mesma forma de IgG materna que atravessa a placenta conferindo ao feto imunidade à infecção, também pode ser responsável pela doença hemolítica do recém-nascido (eritroblastose fetal), que é causada pelos anticorpos maternos contra os eritrócitos do feto. Os anticorpos IgG maternos contra o antígeno Rh, produzidos pela mãe Rh negativa, atravessam a placenta e se prendem aos eritrócitos fetais que expressam antígenos Rh (Rh+). (COICO, 6ª ed.) AGLUTINAÇÃO E FORMAÇÃO DE PRECIPITADOS ↠ As moléculas de IgG podem causar a aglutinação ou agregação de antígenos particulados (insolúveis) como os microrganismos. (COICO, 6ª ed.) OPSONIZAÇÃO ↠ Quando antígenos, como microrganismos patogênicos, se ligam à IgG antígeno-específica, eles são mais rapidamente fagocitados pelos fagócitos em função da presença de receptores para a porção Fc das moléculas de IgG existentes nestas células. (COICO, 6ª ed.) ↠ As moléculas de anticorpo reagem com os epítopos antigênicos dos antígenos por suas regiões Fab, mas é a porção Fc que confere a propriedade de opsonização. O resultado é o fechamento, semelhante ao de um zíper, da membrana superficial da célula fagocitária ao redor do antígeno, à medida que os receptores para as regiões Fc e as regiões Fc dos anticorpos continuam a se combinar, acarretando o engolfamento e destruição final do microrganismo. (COICO, 6ª ed.) NEUTRALIZAÇÃO DE TOXINAS ↠ A molécula de IgG é um excelente anticorpo para a neutralização de toxinas tal como a toxina tetânica e botulínica ou para a inativação de, por exemplo, veneno de cobra ou escorpião. (COICO, 6ª ed.) ↠ Devido a sua capacidade de neutralizar estes venenos (principalmente bloqueando seu sítio ativo), bem como devido a sua longa meia-vida, comparada com a dos outros isotipos, a molécula de IgG constitui o isotipo de escolha para a imunização passiva (isto é, transferência de anticorpos) contra toxinas e venenos. (COICO, 6ª ed.) IMOBILIZAÇÃO DE BACTÉRIAS ↠ As moléculas de IgG são eficientes na mobilização de inúmeras bactérias móveis. A reação dos anticorpos específicos com os flagelos e cílios de certos microrganismos faz com as bactérias se agrupem, paralisando, consequentemente, seu movimento e 9 @jumorbeck impedindo sua capacidade de disseminar ou invadir tecidos. (COICO, 6ª ed.) NEUTRALIZAÇÃO DE VÍRUS ↠ O anticorpo IgG é um eficiente neutralizador de vírus. Em um mecanismo de neutralização, os anticorpos se ligam a determinantes antigênicos presentes em várias partes do revestimento dos vírus, entre eles a região utilizada pelo vírus para se prender à célula alvo. A inibição da fixação do vírus efetivamente paralisa a infecção. (COICO, 6ª ed.) Propriedades estruturais e biológicas da IgM ↠ A IgM é a primeira imunoglobulina produzida após a imunização. Sua denominação deriva-se de sua descrição inicial como macroglobulina (M), uma imunoglobulina de alto peso molecular. (COICO, 6ª ed.) ↠ É uma molécula pentamérica. (COICO, 6ª ed.) ↠ A IgM presente no soro de indivíduos adultos é encontrada predominantemente nos espaços intravasculares. (COICO, 6ª ed.) A IgM circulante tem meia-vida de aproximadamente 4 dias. (COICO, 6ª ed.) A IgM também é encontrada na superfície da célula B madura juntamente com a IgD, onde atua como um BCR antígeno-específico. (COICO, 6ª ed.) PRIMEIRA LINHA DE DEFESA HUMORAL ↠ Os anticorpos lgM não são capazes de atravessar a placenta. Entretanto, pelo fato de constituírem a única classe de imunoglobulina sintetizada pelo feto, cuja produção se inicia aproximadamente aos cinco meses de gestação, elevados níveis de IgM no feto indicam infecção congênita ou perinatal. (COICO, 6ª ed.) ↠ A IgM é o isotipo sintetizado por crianças e adultos em quantidades apreciáveis após imunização ou exposição a antígenos T-independentes e constitui o primeiro isotipo sintetizado após a imunização. Desta maneira, elevados níveis de IgM geralmente indicam infecção ou exposição recentes a um antígeno. (COICO, 6ª ed.) AGLUTINAÇÃO ↠ As moléculas de lgM são eficientes anticorpos aglutinantes. Devido a sua forma pentamérica, os anticorpos IgM podem formar pontes macromoleculares entre epítopos sobre moléculas que podem estar muito distante uma da outra para serem unidas por um anticorpo IgG de menor tamanho. (COICO, 6ª ed.) ISO-HEMAGLUTININAS ↠ Os anticorpos IgM incluem as iso-hemaglutininas, os anticorpos de ocorrência natural contra os antígenos eritrocitários do grupo sanguíneo ABO. (COICO, 6ª ed.) Propriedades estruturais e biológicas da IgA ↠ A IgA é a principal imunoglobulina nas secreções externas como saliva,muco, suor ,fluído gástrico e lágrimas. (COICO, 6ª ed.) ↠ Ela é, além disso, a principal imunoglobulina encontrada no colostro e no leite das lactantes, e, durante as primeiras semanas após o nascimento, pode prover o neonato com a principal fonte de proteção intestinal contra patógenos. (COICO, 6ª ed.) 10 @jumorbeck ↠ A imunoglobulina da classe IgA contém duas subclasses: IgA1, (93%) e IgA2 (7%). (COICO, 6ª ed.) ↠ A IgA circulante tem meia-vida de cerca de 3 dias (embora a maior parte da IgA seja produzida em sítios de mucosa e seja secretada diretamente no lumen do intestino ou da via aérea). (COICO, 6ª ed.) ↠ A maior parte da IgA não está presente no soro mas nas secreções como lágrimas, saliva, suor e muco, onde ela desempenha importante função biológica como componente do MALT. (COICO, 6ª ed.) PAPEL NAS INFECÇÕES MUCOSAS ↠ Devido a sua presença nas secreções como, saliva, urina e fluido gastrintestinal, a IgA secretora é importante na defesa imunológica primária contra infecções respiratórias ou gastrintestinais locais. (COICO, 6ª ed.) ↠ Acredita-se que seu efeito protetor seja devido a sua capacidade de impedir que o microrganismo invasor se ligue e penetre na superfície epitelial. (COICO, 6ª ed.) ATIVIDADE BACTERICIDA ↠ Sabe-se que a lgA possui atividade bactericida contra microrganismos Gram-negativos, mas apenas na presença de lisozima, que também está presente nas mesmas secreções que contêm a IgA secretora. (COICO, 6ª ed.) ATIVIDADE ANTIVIRAL ↠ A lgA secretora é um excelente anticorpo antivirai, impedindo os vírus de penetrarem nas células do hospedeiro. Além disso, a lgA secretora é um eficiente anticorpo aglutinante. (COICO, 6ª ed.) Propriedades estruturais e biológicas da IgD ↠ A IgD está presente no soro em quantidades muito baixas e variáveis, provavelmente porque não é secretada pelas células plasmáticas e também porque, entre as imunoglobulinas, ela é altamente suscetível à degradação proteolítica devido a sua longa região da dobradiça. (COICO, 6ª ed.) ↠ Embora a função da IgD ainda não esteja completamente elucidada, a expressão da IgD na membrana parece estar correlacionada à eliminação das células B com capacidade de gerar anticorpos autorreativos. Desta maneira, durante o desenvolvimento, a principal importância biológica da IgD pode ser a de silenciar as células B autorreativas (COICO, 6ª ed.) Propriedades estruturais e biológicas da IgE ↠ A IgE, também denominada anticorpo reagínico. (COICO, 6ª ed.) ↠ A IgE tem uma meia-vida bastante curta, de aproximadamente 2 dias na circulação (embora a IgE ligada à célula associada ao seu receptor de alta afinidade no mastócito tenha meia-vida bastante longa; (COICO, 6ª ed.) ↠ Ela está presente no soro na mais baixa concentração de todas as imunoglobulinas. Estes baixos níveis são devidos, em parte, à baixa taxade síntese e à capacidade característica da porção Fc de conter um domínio extra para se ligar, com alta afinidade, aos receptores (receptores Fce) encontrados sobre mastócitos e bas6ftlos. Uma vez ligada a estes receptores de alta afinidade, a IgE pode ser retida por estas células por semanas ou meses. (COICO, 6ª ed.) 11 @jumorbeck ↠ Ela tem um papel na proteção contra certos parasitas, como os helmintos (vermes). Esta proteção é alcançada pela ativação da mesma resposta inflamatória aguda vista na forma mais patológica das respostas de hipersensibilidade imediata. (COICO, 6ª ed.) CLASSES DE IMUNOGLOBULINAS NOME E ESTRUTURA CARACTERÍSTICAS E FUNCÕES Mais abundante anticorpo do sangue; encontrado no sangue, linfa e intestinos. Estrutura de monômero. Protege contra bactérias e vírus aprimorando a fagocitose. Única classe de anticorpos que cruza a placenta da mãe para o feto. Encontrada no suor, nas lágrimas, na saliva, muco, no leite materno. Seus níveis diminuem durante o estresse, abaixando a resistência à infecção. Fornece proteção localizada das túnicas mucosas contra bactérias e vírus. Ocorre como pentâmeros, primeira classe de anticorpos a ser secretada pelos plasmócitos após a exposição inicial a qualquer antígeno. Também é encontrada na forma de monômeros na superfície dos linfócitos B, onde atua como receptores de antígeno. No plasma sanguíneo, os anticorpos anti-A e anti-B do grupo sanguíneo ABO, que se liga aos antígenos A e B durante a transfusão de sangue incompatível, são também anticorpos IgM Encontrada principalmente na superfície dos linfócitos B como receptores de antígenos, onde ocorre como monômeros. Menos de 0,1% de todos os anticorpos do sangue; ocorre como monômeros, localizada nos mastócitos e basófilos. Envolvida nas reações alérgicas e de hipersensibilidade. Fornece proteção contra vermes parasitas. Relações estrutura-função nas moléculas de anticorpos ↠ Muitas características estruturais dos anticorpos são críticas para sua capacidade de reconhecer antígenos e para suas funções efetoras. (ABBAS, 9ª ed.) CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS AO RECONHECIMENTO DO ANTÍGENO ↠ A capacidade dos anticorpos em reconhecer especificamente uma grande variedade de antígenos com afinidades variadas reflete as propriedades das regiões V. (ABBAS, 9ª ed.) ➢ Especificidade; ➢ Diversidade; ➢ Maturação de afinidade. REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE ↠ A imunidade adaptativa tem a importante função de defesa do hospedeiro contra infecções microbianas, mas as respostas imunes também são capazes de causar lesão tecidual e doença. Os distúrbios causados pelas respostas imunes são chamados doenças de hipersensibilidade. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Em determinadas circunstâncias, a resposta imunológica produz danos e algumas vezes resultados fatais. Estas reações deletérias são coletivamente conhecidas como hipersensibilidade. Elas causam danos imunologicamente mediados ao hospedeiro pelo fato de serem reações exageradas a antígenos estranhos ou por serem reações inadequadas aos antígenos próprios. (COICO, 6ª ed.) CAUSAS DAS DOENÇAS DE HIPERSENSIBILIDADE ↠ As respostas imunes, que são a causa das doenças de hipersensibilidade, podem ser específicas para antígenos de diferentes fontes. (ABBAS, 9ª ed.) AUTOIMUNIDADE: ↠ Reações contra autoantígenos. A falha dos mecanismos normais de autotolerância resulta em reações de células T e células B contra as próprias células e tecidos do indivíduo, chamadas autoimunidade. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ As doenças causadas pela autoimunidade são denominadas doenças autoimunes. (ABBAS, 9ª ed.) REAÇÕES CONTRA MICRORGANISMOS: ↠ As respostas imunes contra antígenos microbianos podem causar doença se as reações forem excessivas ou se os microrganismos forem anormalmente persistentes. (ABBAS, 9ª ed.) 12 @jumorbeck ↠ As respostas das células T contra microrganismos persistentes podem dar origem a uma inflamação grave, algumas vezes com a formação de granulomas; essa é a causa da lesão tecidual observada na tuberculose e outras infecções crônicas. (ABBAS, 9ª ed.) REAÇÕES CONTRA ANTÍGENOS AMBIENTAIS NÃO MICROBIANOS: ↠ A maioria dos indivíduos saudáveis não reage contra substâncias ambientais comuns, geralmente inócuas, mas quase 20% da população é anormalmente responsiva a uma ou mais dessas substâncias. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Esses indivíduos produzem anticorpos imunoglobulina E (IgE) que causam doenças alérgicas. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Alguns indivíduos tornam-se sensibilizados a antígenos ambientais e substâncias químicas que, em contato com a pele, desenvolvem reações de células T que levam à inflamação mediada por citocinas, resultando em sensibilidade de contato. (ABBAS, 9ª ed.) CLASSIFICAÇÃO DAS REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE ↠ No início da década de 1960, as reações de hipersensibilidade foram divididas em quatro tipos, enumerados I a IV, por Coombs e Gell (1963). (COICO, 6ª ed.) HIPERSENSIBILIDADE IMEDIATA (TIPO I) ↠ As reações mediadas pela IgE (comumente designadas reações alérgicas ou alergia) são estimuladas pela ligação da IgE, via sua região Fc, a receptores Fc IgE específicos de alta afinidade denominados FceRI. (COICO, 6ª ed.) ↠ Os receptores FcERI são expressos em mastócitos e basófilos Devido a sua alta afinidade pela IgE, esses receptores se ligam à IgE mesmo na ausência de antígeno. Quando as moléculas de IgE se encontram com o antígeno, inicia-se uma cascata de acontecimentos que acarreta a desestabilização e liberação de mediadores inflamatórios e citocinas dos mastócitos e basófilos. (COICO, 6ª ed.) ↠ Todo este processo resulta nas manifestações clínicas da hipersensibilidade do tipo I, que inclui rinite, asma e,nos casos graves, anafilaxia. (COICO, 6ª ed.) ↠ As reações de hipersensibilidade do tipo I são rápidas, ocorrendo minutos após o desafio (reexposição ao antígeno). Consequentemente, as reações alérgicas são também denominadas hipersensibilidade imediata. (COICO, 6ª ed.) A sequência de acontecimentos envolvidos no desenvolvimento de reações alérgicas pode ser dividida em várias fases: (COICO, 6ª ed.) ➢ fase de sensibilização: durante a qual os anticorpos IgE são produzidos em resposta a um estímulo antigênico ligando- se, posteriormente, a receptores específicos presentes nos mastócitos e basófilos; ➢ fase de ativação: durante a qual a reexposição (desafio) ao antígeno deflagra a resposta dos mastócitos e basófilos através da liberação do conteúdo de seus grânulos; ➢ fase efetora: durante a qual ocorre uma resposta complexa resultante dos efeitos de muitos mediadores inflamatórios liberados pelos mastócitos e basófilos. Os sintomas das reações alérgicas são inteiramente atribuídos aos mediadores inflamatórios liberados pelos mastócitos ativados. É útil classificar estes mediadores em duas categorias principais: (COICO, 6ª ed.) Mediadores pré-formados: ➢ Histamina ➢ Serotonina ➢ Fatores Quimiotáticos ➢ Heparina Mediadores recentemente sintetizados: ➢ Leucotrienos ➢ Tromboxanos e Prostaglandinas ➢ Fator de Ativação das Plaquetas ASPECTOS CLÍNICOS DAS REAÇÕES ALÉRGICAS ↠ As consequências clínicas das reações alérgicas podem variar de reações localizadas como rinite alérgica, asma, dermatite atópica e alergia alimentar a graves reações sistêmicas potencialmente fatais como a anafilaxia. Embora definidas como anafilaxia localizada, as reações asmáticas também podem ser fatais. A desgranulação do mastócito constitui o mecanismo central em cada uma dessas reações. (COICO, 6ª ed.) 13 @jumorbeck Hipersensibilidade mediada por anticorpos (tipo II) ↠ As reações citolíticas ou citotóxicas ocorrem quando os anticorpos IgM ou IgG se ligam de maneira inapropriada ao antígeno localizado na superfíciede células próprias e ativam a cascata do complemento. (COICO, 6ª ed.) ↠ O resultado é a destruição da célula. (COICO, 6ª ed.) Três diferentes mecanismos mediados por anticorpos estão envolvidos nas reações de hipersensibilidade do tipo II. A célula alvo é danificada ou destruída por inúmeros mecanismos associados com: (COICO, 6ª ed.) ➢ reações mediadas pelo complemento: os anticorpos reagem com a membrana celular dos antígenos próprios, acarretando a fixação do complemento. O processo ativa a cascata do complemento acarretando lise da célula. Alternativamente, a ligação do anticorpo à superfície celular e subsequente ativação do complemento (para gerar C3b) causa a opsonização da célula-alvo. ➢ citotoxicidade anticorpo-dependente: utiliza receptores de Fc expressos em muitos tipos celulares (tais como as células NK, macrófagos, neutrófilos e eosinófilos) para colocar estas células em contato com as células alvo recobertas de anticorpo. ➢ disfunção celular mediada por anticorpo: os anticorpos se ligam a recept.ores de superfície celular que são decisivos para a integridade funcional da célula. Exemplos de reações de hipersensibilidade II: reações transfusionais, reações de incompatibilidade Rh, reações induzidas por fármacos. Hipersensibilidade mediada por imunocomplexos (tipo III) ↠ Reações por complexos imunológicos ocorrem quando complexos antígeno-IgM ou antígeno-IgG se acumulam na circulação ou nos tecidos e ativam a cascata do complemento. Os granulócitos são atraídos ao local da ativação resultando dano em consequência da liberação de enzimas líticas de seus grânulos. As reações ocorrem horas após o desafio com o antígeno. (COICO, 6ª ed.) ↠ Em condições normais, os imunocomplexos circulantes constituídos por anticorpos ligados a antígenos estranhos são removidos pelas células fagocitárias. (COICO, 6ª ed.) ↠ A fagocitose é facilitada pela ligação das regiões Fc dos anticorpos, presentes nesses complexos, a receptores de Fc de IgG expressos sobre as células fagocíticas. (COICO, 6ª ed.) O que acontece quando os mecanismos fisiológicos destinados a eliminar os imunocomplexos estão "sufocados" pela grande quantidade destes complexos? O resultado é que os imunocomplexos de determinados tamanhos podem, inapropriadamente, depositar-se nos tecidos e desencadear inúmeros acontecimentos patogênicos sistêmicos conhecidos como reações de hipersensibilidade do tipo III. Se esta reação for sistêmica, ela é também conhecida como doença por imunocomplexo sistêmica. As reações localizadas são também conhecidas como doença por imunocomplexo localizada. Ambas podem estar associadas com a deposição dos imunocomplexos nas articulações, rins, pele, plexo coroide e artéria ciliar ocular. (COICO, 6ª ed.) O dano tissular causado por esses imunocomplexos varia dependendo do sítio de localização. Se, por exemplo, o sítio de deposição do imunocomplexo for o menisco da articulação, pode ocorrer a destruição das membranas sinoviais e da cartilagem. (COICO, 6ª ed.) 14 @jumorbeck Hipersensibilidade mediada por células T (tipo IV) ↠ Reações mediadas por células - comumente denominadas hipersensibilidade do tipo tardio (DTH) - são mediadas por mecanismos efetores dependentes de célula T envolvendo tanto células THl CD4+ quanto células T citotóxicas CD8+. (COICO, 6ª ed.) ↠ Os anticorpos não participam das reações de hipersensibilidade do tipo IV. As células TH1 ativadas liberam citocinas que promovem acúmulo e ativação de macrófagos que, por sua vez, causam dano local. Este tipo de reação tem início tardio, que pode ocorrer dias ou semanas após o desafio com o antígeno. (COICO, 6ª ed.) ↠ Os efeitos prejudiciais da DTH são causados pela liberação inapropriada de grandes quantidades de citocinas (incluindo quimiocinas) pelas células T ativadas. (COICO, 6ª ed.) As características clínicas das reações de hipersensibilidade do tipo IV variam dependendo do antígeno sensibilizante e da via de exposição. (COICO, 6ª ed.) Os principais acontecimentos envolvem três etapas: (COICO, 6ª ed.) ➢ ativação de células inflamatórias THl e TH17 antígeno- específicas em um indivíduo previamente sensibilizado; ➢ elaboração de citocinas pró-inflamatórias pelas células THl e TH17 antígeno-específicas; ➢ recrutamento e ativação de leucócitos inflamatórios antígeno-inespecíficos. Geralmente, estes acontecimentos ocorrem por um período de vários dias (48-72 horas). (COICO, 6ª ed.) CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS DE HIPERSENSIBILIDADE TIPO DE HIPERSENSIBILIDADE MECANISMOS IMUNOPATOLÓGICOS MECANISMOS DE LESÃO TECIDUAL E DOENÇA IMEDIATA: TIPO I Anticorpo IgE, células Th2 Mastócitos, eosinófilos e seus mediadores (citocinas, entre outros) MEDIADA POR ANTICORPOS: TIPO II Anticorpos IgM e IgG contra antígenos de superfície celular ou da matriz extracelular. Opsonização e fagocitose de células; Recrutamento e ativação de leucócitos (neutrófilos e macrófagos) mediadas por receptor Fc e complemento. Anormalidades nas funções celulares, por exemplo, sinalização por receptor de hormônio, bloqueio de receptor neurotransmissor. MEDIADA POR IMUNOCOMPLEXOS: TIPO III Imunocomplexos de antígenos circulantes e anticorpos IgM ou IgG. Recrutamento e ativação de leucócitos mediados por receptor Fc e complemento. MEDIADA POR CÉLULA T: TIPO IV CélulasT CD4+ (Th1 e Th17); CTLs CD8+ Inflamação mediada por citocinas e ativação de macrófagos; Morte celular direta, inflamação mediada por citocinas. ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS SECUNDÁRIAS NAS REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE ↠ As manifestações de doenças alérgicas dependem dos tecidos em que atuam os mediadores dos mastócitos e as citocinas do tipo 2, bem como da cronicidade do processo inflamatório resultante. (ABBAS, 9ª ed.) 15 @jumorbeck RINITE ALÉRGICA ↠ A rinite alérgica (comumente conhecida como febre do feno) é o distúrbio atópico mais comum em todo o mundo. (COICO, 6ª ed.) ↠ É causada por alérgenos transportados pelo ar que reagem com mastócitos sensibilizados por IgE nas vias nasais e conjuntiva. Os mediadores liberados dos mastócitos aumentam a permeabilidade capilar e causam vasodilatação localizada, levando aos sintomas típicos que incluem espirro e tosse. (COICO, 6ª ed.) ALERGIA ALIMENTAR ↠ É causada pelo consumo de certos alimentos (por exemplo, amendoim, arroz, ovos). A ingestão de tais alimentos por indivíduos suscetíveis pode desencadear a reação cruzada de IgE alérgeno-específica sobre os mastócitos do trato gastrointestinal superior e inferior. (COICO, 6ª ed.) ↠ A desgranulação do mastócito e a liberação do mediador acarretam a contração localizada do músculo liso e a vasodilatação causando frequentemente vômito e diarreia. (COICO, 6ª ed.) ↠ Em alguns casos o alérgeno é absorvido pela corrente sanguínea como consequência do aumento da permeabilidade das membranas mucosas, permitindo que os alérgenos alimentares sejam transportados para os mastócitos presentes na pele. Isto causa reações de pápula e eritema (urticária atópica) comumente conhecidos como urticária. (COICO, 6ª ed.) ANAFILAXIA SISTÊMICA ↠ A anafilaxia é uma reação de hipersensibilidade imediata sistêmica caracterizada por edema em muitos tecidos e diminuição da pressão arterial secundária à vasodilatação e ao extravasamento vascular. Esses efeitos geralmente resultam da presença sistêmica do antígeno introduzido por injeção (p. ex.: uma picada de inseto) ou da absorção ao longo de uma superfície epitelial como a mucosa intestinal. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ O alérgeno ativa os mastócitos em muitos tecidos, resultando na liberação de mediadores que ganham acesso aos leitos vasculares em todo o corpo. A diminuição do tônus vascular e o extravasamento de plasma causado pelosmediadores dos mastócitos podem acarretar uma significativa queda na pressão arterial, ou choque, chamado choque anafilático que frequentemente é fatal. (ABBAS, 9ª ed.) ↠ Os mediadores dos mastócitos podem comprometer a respiração causando edema de laringe, broncoconstrição e produção excessiva de muco brônquico. Frequentemente, há diarreia devido à hipermotilidade intestinal ou efusão de muco no intestino, além de lesões urticariformes (urticária) na pele. (ABBAS, 9ª ed.) Referências ABBAS, Abul K.; LICHTMAN, Andrew H.; PILLAI, Shiv. Imunologia Celular e Molecular, 9ª edição. Elsevier Editora Ltda., 2019. COICO, Richard; SUNSHINE, Geoffrey. Imunologia, 6ª edição. Guanabara Koogan, 2010. ROITT, Ivan M.; MALE, David; BROSTOFF, Jonathan; ROTH, David B. Imunologia, 8ª edição. Elsevier, 2014. TORTORA, Gerard J. Princípios de anatomia e fisiologia / Gerard J. Tortora, Bryan Derrickson; tradução Ana Cavalcanti C. Botelho... [et al.]. – 14. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
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