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Desapropriação: Intervenção do Estado na Propriedade Privada

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Desapropriação
As formas de intervenção do Estado na propriedade privada podem ser restritivas ou supressivas. Será restritiva quando se admite a sua manutenção por parte do proprietário, mas há redução na sua utilização (tombamento, requisição, limitação administrativa, servidão administrativa e ocupação temporária). Será supressiva quando a propriedade deixa de ser do particular e passa pertencer ao Poder Público (desapropriação).
A desapropriação possui expressa previsão legal no texto constitucional e em leis que regulamentam o instituto. 
Conceito: 
Forma de aquisição originaria da propriedade (antes pertencente ao particular, agora é propriedade do Estado). Implica a transferência compulsória (isso é, sem possibilidade de negociação com o Estado), mediante indenização, de forma a satisfazer o interesse público. Afeta o caráter perpétuo e irrevogável do direito à propriedade. O Poder Público deve elaborar um decreto justificando os motivos da desapropriação. 
O procedimento de transferência da propriedade de terceiros ao Estado tem uma fase inicial administrativa, que pode na sequência se tornar uma fase judicial (quando há discordância entre o particular e o Estado) ou não. A desapropriação acontece por razões de interesse social ou necessidade ou utilidade pública, sendo efetuada geralmente mediante o pagamento de indenização. Em regra, a indenização é prévia e em dinheiro. Em outras situações, o pagamento é feito em títulos da dívida pública. Ainda existem algumas situações em que não há indenização, como em desapropriações de propriedades utilizadas para a consumação de um crime (ex.: tráfico de drogas). 
Aspectos constitucionais e competência: 
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição. 
A competência para legislar sobre desapropriação é privativa da União (art. 22, II). A desapropriação é regulamentada por normas federais. 
A desapropriação também é uma forma de promover e proteger o patrimônio cultural brasileiro (art. 216, §1º). O Poder Público pode se apropriar de uma propriedade que não esteja recebendo o tratamento adequado pelo proprietário, quando a propriedade é um patrimônio cultural. 
Espécies de desapropriação: 
Por motivos de utilidade pública: tem como pressupostos a conveniência e a oportunidade (ex.: construção de escolas). 
Por motivos de necessidade pública: tem como pressupostos a urgência e emergência (ex.: calamidade pública). 
Por motivos de interesse social (da coletividade): tem como pressuposto a função social da propriedade (ex.: reforma agrária). 
Existem também desapropriações especiais previstas no ordenamento jurídico: 
1. Desapropriação urbanística sancionatória: art. 182, §4º, III da CF/88 e art. 8º da Lei n. 10.257/01 (Estatuto da Cidade). 
2. Desapropriação rural para reforma agrária: art. 184 da CF/88, Lei n. 8.626/93 e a Lei Complementar n. 76/93. 
3. Desapropriação confiscatória (a que não se admite indenização): art. 243 da CF/88 e Lei n. 8.257/91.
O procedimento começa a partir da elaboração de um decreto que evidencia os motivos para a desapropriação. Depois, o Poder Público, após uma avaliação do valor do bem, deposita o dinheiro necessário para o pagamento. Caso o proprietário particular concorde com as demandas do Estado, o procedimento continua normalmente. Caso contrário, o Poder Público entra na Justiça com uma ação judicial de desapropriação, no qual será discutido apenas o valor da indenização.
Fases do procedimento: 
1) Administrativa: se inicia com a declaração da utilidade pública ou interesse social.
Efeitos da declaração: 
1. direito de penetração do imóvel; 
2. início do prazo de caducidade[footnoteRef:1] do decreto; [1: Caducidade é a extinção ou perda de um direito, de uma propriedade. Caso o prazo não seja respeitado, e consequentemente, o decreto seja caducado, o Poder Público só poderá declarar um novo decreto passado o período de 1 ano (sanção administrativa). ] 
3. indicação do estado em que se encontra o bem para a fixação do valor de indenização[footnoteRef:2]. [2: Caso uma benfeitoria seja construída após o decreto, o Estado não precisa indenizar o valor correspondente a está, a não ser que a benfeitoria seja essencial para a integridade da propriedade.] 
2) Judicial: quando existe discordância entre o proprietário originário e o Estado, sendo discutido nesse litígio somente o valor da indenização. 
Utilidade pública:
O decreto-lei n. 3.365/41 dispõe sobre desapropriações por utilidade pública: 
Art. 2º Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios. 
§2º Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder autorização legislativa. 
OBS.: Um bem do Poder Público pode ser desapropriado, desde que observado o princípio da hierarquia (União > Estados > Municípios). 
Art. 9o. Ao Poder Judiciário é vedado, no processo de desapropriação, decidir se se verificam ou não os casos de utilidade pública.
Visto que a utilidade pública tem como pressupostos a conveniência e oportunidade, somente o Poder Executivo pode determinar se a propriedade é ou não é de utilidade pública. O Poder Judiciário não pode se intrometer nesse mérito administrativo, cabendo a este sanar apenas as controvérsias acerca do valor da indenização. 
Art. 10. A desapropriação deverá efetivar-se mediante acordo ou intentar-se judicialmente, dentro de cinco anos, contados da data da expedição do respectivo decreto e findos os quais este caducará. 
Neste caso, somente decorrido um ano, poderá ser o mesmo bem objeto de nova declaração.
Interesse social (coletivo):
A Lei n. 4.132/62 define os casos de desapropriação por interesse social e dispõe sobre sua aplicação.
Art. 1º A desapropriação por interesse social será decretada para promover a justa distribuição da propriedade ou condicionar o seu uso ao bem estar social, na forma do art. 147 da Constituição Federal.
Quando falamos em justa distribuição da propriedade, podemos mencionar a reforma agrária como exemplo. 
Os incisos do art. 2º enumeram as situações de interesse social: 
I - o aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e consumo dos centros de população a que deve ou possa suprir por seu destino econômico;
II - a instalação ou a intensificação das culturas nas áreas em cuja exploração não se obedeça a plano de zoneamento agrícola, VETADO[footnoteRef:3]; [3: A parte em que se encontra o “VETADO” representa uma porção do inciso que foi vetado, pois na época em que esta lei foi editada, isso ainda era possível. O restante do inciso, que precede este veto, ainda se encontra em vigência. ] 
III - o estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de povoamento e trabalho agrícola:
IV - a manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a tolerância expressa ou tácita do proprietário, tenham construído sua habilitação, formando núcleos residenciais de mais de 10 (dez) famílias;
V - a construção de casa populares;
VI - as terras e águas suscetíveis de valorização extraordinária, pela conclusão de obras e serviços públicos, notadamente de saneamento, portos, transporte, eletrificação armazenamento de água e irrigação, no caso em que não sejam ditas áreas socialmente aproveitadas;
VII - a proteção do solo e a preservação de cursos e mananciais de água e de reservas florestais.
VIII - a utilização de áreas, locais ou bens que, por suas características, sejam apropriados ao desenvolvimento de atividades turísticas. 
OBS.: O posseiro não é o proprietário de uma terra, e sim o seu possuidor. Geralmente são famílias que ocupam uma terra abandonada ou devoluta para cultivar.
Desapropriação de imóveisurbanos:
Tem expressa previsão na CF/88, em seu art. 182, §3º: 
As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
O Estatuto da Cidade, já mencionado, estabelece outra forma de desapropriação, a chamada desapropriação sancionatória, quando o proprietário não estiver utilizando aquela área. 
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Requisitos para o cumprimento da função social da propriedade rural: 
I - aproveitamento racional e adequado; 
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; 
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; 
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
Caso a propriedade rural não esteja cumprindo a sua função social, ela se torna passível a desapropriação por interesse social. 
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação.
Além do imóvel rural que cumpre com a sua função, o art. 185 elenca as propriedades a que são vedadas a desapropriação:
São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; 
II - a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
Desapropriação indireta: 
Apossamento do bem de particular pelo Poder Público sem a correta observância dos requisitos da declaração e indenização prévia. 
Ocorre quando qualquer ato estatal implique no total esvaziamento do conteúdo econômico da propriedade, ou quando o núcleo essencial do direito de propriedade for atingido.

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