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EaD-SEGEN Ministério da Justiça e Segurança Pública 1 Português Instrumental Básico Sumário Apresentação do Curso .............................................................................................................. 3 OBJETIVOS DO CURSO ................................................................................................................ 4 ESTRUTURA DO CURSO .............................................................................................................. 4 Módulo 1 – Comunicação: uma experiência pessoal e coletiva ........................................... 5 Apresentação do módulo ........................................................................................................... 5 Objetivos do módulo .................................................................................................................. 5 Estrutura do módulo .................................................................................................................. 6 Aula 1 - Cuidando da comunicação......................................................................................... 7 1.1 Pressupostos teóricos .............................................................................................. 7 1.2 O processo de comunicação e a sua efetividade ................................................... 11 Aula 2 - Argumentação e a produção de texto, .................................................................... 15 2.1 A argumentação e seus componentes ........................................................................ 15 2.2 Recursos para uma argumentação eficiente .............................................................. 18 Módulo 2 - Produzindo Textos ......................................................................................... 23 Apresentação do módulo ......................................................................................................... 23 Objetivos do Módulo ................................................................................................................ 23 Estrutura do Módulo ................................................................................................................ 23 Aula 1 - Modalidades discursivas: gêneros e tipos textuais ................................................. 24 1.1 Gêneros textuais ......................................................................................................... 24 1.2 Modalidades textuais .................................................................................................. 25 1.3 Estrutura do Texto Dissertativo .................................................................................. 35 Aula 2 - Recursos a serem considerados em uma dissertação ............................................. 36 2.1 Refletindo sobre o tema .............................................................................................. 36 2.2 Elaborando um esquema ............................................................................................ 36 2.3 Elaborando a primeira versão: O RASCUNHO ............................................................ 39 2.4 Refletindo sobre seu estilo de escrever ...................................................................... 40 2.5 Revisando o texto ........................................................................................................ 40 Aula 3 - Organização textual ................................................................................................. 42 3.1 O parágrafo de introdução .......................................................................................... 43 3.2 O parágrafo de desenvolvimento (a argumentação) .................................................. 45 3.3 O desfecho: parágrafo de conclusão ........................................................................... 47 Módulo 3 - Cuidados a serem observados ........................................................................ 53 2 Português Instrumental Básico Apresentação do módulo ......................................................................................................... 53 Objetivos do módulo ................................................................................................................ 53 Estrutura do módulo ................................................................................................................ 53 Aula 1 - vícios e desvios de linguagem .................................................................................. 54 1.1 vícios de linguagem ..................................................................................................... 54 Aula 2 - depreensão do implícito: pressupostos e subentendidos....................................... 61 2.1 Contextos e leituras..................................................................................................... 61 2.2 Mecanismos de produção textual ............................................................................... 62 Aula 3 - Falácias: pensando logicamente .............................................................................. 64 3.1 As falácias ............................................................................................................... 64 Aula 4 – Novo Acordo Ortográfico: principais mudanças ..................................................... 68 4.1 As principais mudanças da Mudança Ortográfica ....................................................... 68 4.2 Principais mudanças: ................................................................................................... 69 Módulo 4 - Texto Ideal ..................................................................................................... 73 Apresentação do módulo ......................................................................................................... 73 Objetivos do módulo: ............................................................................................................... 73 estrutura do módulo ................................................................................................................ 73 Aula 1 - A relação da leitura com a produção de textos ....................................................... 74 1.1 A compreensão do texto ........................................................................................ 74 1.2 Literalidade do texto e pressupostos ..................................................................... 76 Aula 2 - Consciência discursiva ............................................................................................. 80 2.1 O leitor e o texto: múltiplas leituras ........................................................................... 80 2.2. Polissemia ................................................................................................................... 84 2.3 Consciência discursiva ................................................................................................. 85 3 Português Instrumental Básico Apresentação do Curso Muitas vezes, as reflexões sobre a língua, seu uso, o que consideramos correto ou não, advêm das inquietações vividas no momento em que precisamos utilizá-la em nosso ambiente profissional, acadêmico ou mesmo em situações pessoais. Afinal, vivemos em uma sociedade letrada. Nem sempre é tão simples fazer escolhas para comunicar aquilo que pensamos, sentimos ou precisamos informar. No curso de Português Instrumental Básico, propomos uma série de temas para ajudá-lo a superar esses obstáculos e dúvidas, de maneira a organizar melhor o seu texto, bem como para compreender as nuanças de outros tantos textos com os quais temos contato cotidianamente. Salientamos que repensar continuamente nossa postura em relação à língua é fundamental, pois é essapostura curiosa e inquieta diante de um conhecimento que, em certa medida já trazemos conosco, que dará as condições necessárias para, a partir de novos conhecimentos, melhorar a qualidade de nossa comunicação e assumir plenamente a condição de quem está sempre em evolução. Para alcançar esse intuito, apresentamos o conteúdo em quatro módulos, a fim de que você possa aprofundar seus conhecimentos e associar o que discutirmos à sua prática profissional. Ao início de cada módulo, são indicados os temas a serem abordados e os objetivos a serem alcançados. Portanto, vamos ultrapassar o que trazemos à primeira vista, como nos fala a canção de Chico César, (http://letras.mus.br/chico-cesar/43885/) em busca do aprofundamento teórico de questões que envolvem a leitura e a produção de textos em Língua Portuguesa em favor da construção autônoma de uma prática que se quer, acima de tudo reflexiva e, portanto, consciente e intencional. Bom trabalho! 4 Português Instrumental Básico OBJETIVOS DO CURSO Ao final do curso, você será capaz de: • compreender e desenvolver a comunicação oral e escrita em situações diversas, considerando o seu estilo pessoal e o contexto comunicativo; • ampliar os conhecimentos a respeito da Língua Portuguesa de forma a aprimorar as habilidades comunicativas orais e escritas para: informar, argumentar, persuadir, emocionar e se relacionar com os outros; • revisar aspectos fundamentais à construção de textos em Língua Portuguesa; e • fortalecer uma atitude crítica frente à produção de texto. ESTRUTURA DO CURSO Este curso compreende os seguintes módulos: Módulo 1 – Comunicação: uma experiência pessoal e coletiva Módulo 2 – Produzindo textos Módulo 3 – Cuidados a serem observados Módulo 4 – Texto ideal 5 Português Instrumental Básico Módulo 1 – Comunicação: uma experiência pessoal e coletiva Apresentação do módulo A linguagem é a mais eficaz forma de ação interindividual e é sempre orientada por uma finalidade específica. Ao nos comunicarmos, temos como objetivo estabelecer contato e trocar conhecimentos com outros indivíduos. A linguagem é, portanto, um processo de interlocução que se realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história. E como ato de interlocução, passa a ser uma experiência pessoal, pois se estabelece a partir de nossas experiências pessoais e escolhas que fazemos, enquanto decisores linguísticos. É, também, uma experiência coletiva que se só se concretiza no contato com o outro a partir das escolhas comunicativas que fizemos. Neste módulo, trabalharemos tais questões na perspectiva dos cuidados que devemos ter aos nos comunicarmos, especialmente, ao produzirmos textos. Objetivos do módulo Ao final do módulo, você será capaz de: • identificar aspectos conceituais que ajudem a comunicar melhor as ideias, no momento da produção de textos; • identificar as funções da linguagem presentes no processo de comunicação; • utilizar, no conjunto do texto, recursos comunicacionais para que se possa convencer o interlocutor sobre as ideias defendidas; e • analisar um texto tendo como subsídios os elementos argumentativos utilizados. 6 Português Instrumental Básico Estrutura do módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 – Cuidando da comunicação Aula 2 – Argumentação e a produção de texto 7 Português Instrumental Básico Aula 1 - Cuidando da comunicação “Antes de escrever, portanto, aprendei a pensar”. Nicolas Boileau 1.1 Pressupostos teóricos Como ponto de partida de um curso que trata do uso adequado da Língua Portuguesa em diferentes contextos, é necessário estabelecer alguns pressupostos teóricos que ajudarão, ao longo deste estudo, na compreensão dos conceitos envolvidos / utilizados em uma produção textual eficiente. Então, vamos lá! Observe a definição de língua. IMPORTANTE!! Língua é um sistema arbitrado que se concretiza a partir da interação verbal feita por meio de práticas discursivas. Essa definição traz como implicação fundamental a interlocução, que é a ação linguística entre sujeitos: inter + locução Assim, a linguagem é tomada como processo propício à comunicação de: 8 Português Instrumental Básico Figura 1 - Formas de Comunicação Fonte: SCD/EaD/Segen A língua é considerada, dessa forma, como sistema arbitrado por configurar-se como código formado por palavras e por leis combinatórias que caracteriza o grupo social que a utiliza. Ao se afirmar que cada grupo se utiliza de recursos específicos da língua, é possível reconhecer a existência de diferentes combinações possíveis. Assim, cada um de nós é sujeito ativo que decide, intencionalmente ou não, entre as múltiplas possibilidades de construção linguística. É importante neste momento reportar-se ao título deste módulo, pois trata da língua como sistema e o sujeito como interlocutor ativo, ou seja, apesar de se configurar como uma experiência essencialmente social, a língua se concretiza a partir de uma ação individual de um sujeito que mobiliza saberes sociais, linguísticos e cognitivos. A esse uso individual da língua, denomina-se fala, da qual surgem as variedades linguísticas. Parece complicado, mas não é! No cotidiano, enquanto profissional de segurança pública, você recorre a discursos com as mais diferentes características, determinados sempre pelo contexto comunicativo em que está inserido. Veja: Ao enviar um e-mail a um amigo íntimo ou um e-mail a um delegado a que você está subordinado: 9 Português Instrumental Básico Figura 2 - E-mail para Amigo Íntimo X Delegado Fonte: SCD/EaD/Segen São diversos os fatores que determinam essa variação linguística e se relacionam às vivências particulares de cada falante. Dentre eles, é possível citar os fatores socioeconômicos (trazem implicações para as diferenças advindas do nível de escolaridade e do acesso a bens culturais), profissionais, subjetivos, regionais e situacionais. A pluralidade cultural e a diversidade socioeconômica evidenciadas na população brasileira superdimensionam os aspectos mencionados e, por isso, é preciso refletir sobre os conceitos adotados em relação ao que é linguagem certa ou errada. Pessoas que supervalorizam a língua culta, considerando-a como única forma a ser aceita socialmente, muitas vezes, agirão de maneira discriminadora e intolerante, restringindo o conceito de língua e de seu uso. Por isso, os linguistas afirmam que não existe certo ou errado, mas uso dos registros padrão ou não padrão. Dessa forma, veja o exemplo: 10 Português Instrumental Básico REFLETINDO: Quando você diz: Me empreste o seu documento de identificação..., você está usando o registro não padrão, pois, conforme as regras gramaticais, não se inicia frase com pronome pessoal oblíquo, certo? Já na frase: Dê-me o seu documento de identificação..., você está usando o registro padrão, atendendo à regra gramatical que acabou de ser citada. No entanto, qual das duas opções você mais utiliza? A maior parte dos brasileiros, em seu dia a dia, usa mais o registro não padrão. Pode-se dizer que estão errados? Que não podem falar assim em suas casas, com seus familiares? Essas questões deverão ser analisadas a partir do conceito de adequação. A linguagem utilizada deve ser adequada aos diferentes contextos de comunicação. Veja: • se você está no meio familiar, poderá fazer uso de um registro coloquial (não padrão); • se for apresentar um relatório ou uma palestra no trabalho, deverá utilizar o registro culto, considerado como padrão para situações formais. Reconhecer a importância de adequação aos inúmeros contextospossíveis é o primeiro passo que damos em direção a uma comunicação eficiente, seja no âmbito profissional ou pessoal. IMPORTANTE!! Seja qual for o ambiente em que se encontre e as pessoas com as quais se comunica, é primordial reconhecer a necessidade de adaptação da linguagem utilizada entre os interlocutores, o que envolve a reelaboração discursiva. 11 Português Instrumental Básico Na tirinha a seguir, com muito humor e muita perspicácia, o cartunista trata exatamente disto. Da forma que você deve falar para que seja entendido? Figura 3 - Tirinha - Diálogo Fonte: http://tirasdoeuricefalo.blogspot.com.br/2008/06/tira-do-euricfalo-n-110-pedro.html 1.2 O processo de comunicação e a sua efetividade Aproveitando o exemplo da tirinha anterior, você estudará agora o processo de comunicação. Dentre os diferentes aspectos envolvidos no processo comunicativo, destaca-se a intenção do emissor no momento da comunicação, o que implica definir o que se quer comunicar; para quem; como se vai comunicar; qual canal de comunicação será utilizado e em que contexto ela ocorrerá. Tais aspectos nos reportam às funções da linguagem, propostas por Roman Jakobson, quais sejam: emotiva ou expressiva; referencial ou denotativa; apelativa ou conativa; fática; poética e metalinguística. Todo processo comunicativo, nessa perspectiva, implica intencionalidade, o que significa dizer que as intenções do emissor determinam os recursos linguísticos que utilizará. Ao se comunicar, você utiliza, concomitantemente, http://tirasdoeuricefalo.blogspot.com.br/2008/06/tira-do-euricfalo-n-110-pedro.html 12 Português Instrumental Básico vários desses recursos e, consequentemente, seu discurso serve a diversas funções. É fundamental definir qual seu objetivo de comunicação para estabelecer o foco a ser dado, a partir das funções possíveis. Observe, a seguir, um esquema que apresenta as funções de linguagem e os elementos da comunicação a que se reportam: Figura 4 - Funções de Linguagem e Elementos de Comunicação Fonte: http://www.graudez.com.br/literatura/funling.htm Função Emotiva (ou Expressiva) Centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção. Nela prevalece a 1ª pessoa do singular, interjeições e exclamações. É a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e cartas de amor. Função Referencial (ou Denotativa) Centralizada no referente, quando o emissor procura oferecer informações da realidade. Objetiva, direta, denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular. Linguagem usada nas notícias de jornal e livros científicos. Função Apelativa (ou Conativa) Centraliza-se no receptor, o emissor procura influenciar o comportamento do receptor. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o 13 Português Instrumental Básico nome da pessoa, além dos vocativos e imperativo. Usada nos discursos, sermões e propagandas que se dirigem diretamente ao consumidor. Função Fática Centralizada no canal, tendo como objetivo prolongar ou não o contato com o receptor, ou testar a eficiência do canal. Linguagem das falas telefônicas, saudações e similares. Função Poética Centralizada na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo emissor. Afetiva, sugestiva, conotativa, metafórica. Valorizam-se as palavras, suas combinações. É a linguagem figurada apresentada em obras literárias, letras de música, em algumas propagandas etc. Função Metalinguística Centralizada no código, usando a linguagem para falar dela mesma. A poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. Principalmente os dicionários são repositórios de metalinguagem, pois explicam a própria palavra a que se referem. Conhecer a língua é, portanto, uma necessidade, pois é a consciência de suas múltiplas possibilidades que nos dá condições de fazer escolhas, de optar por esta ou aquela forma, por esta ou aquela palavra, por esta ou aquela postura comunicativa. Enfim, quando você conhece a língua, pode se posicionar criticamente, por exemplo, diante da dinâmica de sua evolução. SAIBA MAIS! O que influencia as pessoas a usarem vícios de linguagem novos como o gerundismo e incorporá-los à maneira de falar com tanta rapidez? Talvez a resposta esteja no fato de que, muitas vezes, as pessoas não analisam como falam ou como escrevem e apenas agem por intuição. 14 Português Instrumental Básico Cabe, portanto, pensar em como utilizar os conhecimentos que temos a respeito da língua em favor de uma comunicação eficiente. Compreenda melhor essa questão, lendo o artigo “Escrever, argumentar, seduzir”, da professora Beth Brait, publicado na Revista Língua, disponível no material complementar. Veja que a consciência de que escrever exigirá muito trabalho, mas, não quer dizer que tal ação se configure impossível. Ao contrário, você é chamado a uma atividade que impõe reflexão e conhecimento. É necessária a definição do que escrever e como fazê-lo e, também, que se pense sobre a natureza dessa escritura como algo dirigido a mais alguém e, portanto, coletivo. Ao se remeter à intencionalidade do autor, remete-se também à consciência do potencial comunicativo do texto. Assim, inerente ao ato da escrita, está a necessidade de socializar nossas ideias, sentimentos, certezas e incertezas sobre os mais diferentes assuntos. Por isso é preciso considerar, no momento da produção escrita, os elementos da comunicação e suas implicações na construção textual. Quando você escreve um texto, seu papel é o de emissor e, como tal, torna-se responsável pela elaboração da mensagem e a escolha mais adequada dos elementos que permearão todo o texto e que determinarão o interesse do receptor. Em síntese, a eficiência comunicativa do seu texto está irremediavelmente ligada a todo um trabalho consciente e bem executado. 15 Português Instrumental Básico Aula 2 - Argumentação e a produção de texto, “Quanto mais consciência você tem do valor das palavras, mais fica exigente no emprego delas”. Carlos Drummond de Andrade 2.1 A argumentação e seus componentes Esta aula traz informações importantes sobre como estabelecer uma boa argumentação, utilizando, no conjunto do texto, uma série de recursos para convencer o interlocutor sobre as ideias que defende. Em seu cotidiano, das mais diversas maneiras e com os mais diversos propósitos, você pensa e argumenta, seja no trabalho para apresentar uma nova ideia aos colegas ou ao chefe; seja em época de eleição para convencer que o seu voto em determinado político tem razão de ser; seja no comércio, ao tentar convencer alguém de que é preciso lhe dar um desconto; seja em casa, ao tentar convencer os filhos de que ler é melhor do que conversar com os amigos noFacebook... Veja o quadrinho abaixo que possibilitará a reflexão sobre consistência argumentativa. É possível argumentar sobre o que não conhece? Figura 5 - É possível argumentar sobre o que não se conhece? Fonte: http://www.depositodocalvin.blogspot.com/ Assim, é possível afirmar que a argumentação é um recurso cujo propósito se centra na tentativa de persuadir alguém. Ao argumentarmos, objetivamos convencer 16 Português Instrumental Básico alguém a pensar como nós ou, simplesmente, desejamos apresentar nossas ideias. Para tanto, utilizamos muitas vezes as funções apelativa ou referencial da linguagem, sendo que a primeira busca os recursos linguísticos para chamar a atenção do receptor e a última subsidia a argumentação com informações relevantes, concretas. Ao se produzir textos, o uso adequado de argumentos é crucial, pois eles representarão os fundamentos de ideias, as quais serão validadas e defendidas pela sua argumentação, a fim de convencer o leitor de que essa ideia é a correta ou de que essaé apresentada de maneira mais aceitável. Em um discurso argumentativo, distingue-se variados componentes, dentre eles: Figura 6 - Componentes do discurso argumentativo Fonte: SCD/EaD/Segen IMPORTANTE!! A tese ou proposição é a ideia fundamental defendida pelo autor de um texto e, portanto, passível de discussão, já que expressa um ponto de vista. Daí a necessidade de acrescentar-lhe uma argumentação eficiente, pois são os argumentos que garantirão a aceitação da idéia apresentada. Considera-se um argumento válido quando este é formado por premissas, razões que o 17 Português Instrumental Básico sustentam. As premissas, quando aceitáveis, dão suporte para a conclusão, alegação final que encerra o texto. Desenvolvendo a TESE A tese é sempre produto de opções que seguem a seguinte hierarquia: Figura 7 - Hierarquia da Tese Fonte: Rede EaD, Português Instrumental. Tal definição antecipada evita que o texto se torne um amontoado de ideias que pouco se correlacionam ou que não contribuam efetivamente para a construção de um tecido argumentativo, que produza o sentido desejado. O desenvolvimento da tese exige que em primeiro lugar se delimite o tema, o que possibilita a reflexão sobre o pressuposto do qual se partirá. O pressuposto está irremediavelmente ligado ao capital cultural, às ideologias, às vivências, às leituras... O pressuposto traduz a visão sobre o assunto e norteia toda a argumentação na medida em que define a coerência interna do texto. A ordenação adequada dos argumentos determina seu encadeamento e conduz à unidade de sentido. 18 Português Instrumental Básico Leia o poema (atribuído a Clarice Lispector): “Não te amo mais Estarei mentindo dizendo que Ainda te quero como sempre quis Tenho certeza que Nada foi em vão Sinto dentro de mim que Você não significa nada Não poderia dizer mais que Já te esqueci! E jamais usarei a frase Eu te amo! Sinto, mas tenho que dizer a verdade É tarde demais”. Agora, leia-o de baixo para cima. Percebeu a diferença? Viu como a ordenação das afirmações feitas muda completamente o sentido final do texto. 2.2 Recursos para uma argumentação eficiente É possível utilizar vários recursos para alcançar uma argumentação eficiente, dentre eles, destacam-se: 19 Português Instrumental Básico Figura 8 - Recursos da Argumentação Fonte: SCD/EaD/Segen Vamos estudar cada uma delas detalhadamente, confira: Citação Apresentação, no corpo do texto, de uma informação extraída de outra fonte devidamente indicada e que dá autoridade ao texto. Pode acontecer de duas formas: • Direta Refere-se à transcrição literal do texto pesquisado. Nesse caso, indica-se obrigatoriamente sua fonte. Exemplo: O fenômeno bullying, termo de gênese inglesa, é definido como: “(...) um comportamento cruel intrínseco nas relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de diversão e prazer, através de ‘brincadeiras’ que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar” (FANTE, 2005, p.29). 20 Português Instrumental Básico • Indireta Refere-se à transcrição das ideias do autor consultado, porém usando as suas palavras, ou seja, parafraseando. Exemplo: Fante (2005, p.73) afirma que o agressor que tem o prazer em oprimir, humilhar, subjugar os mais fracos. Geralmente, pertence a uma família desestruturada, apresenta carência afetiva e tem dificuldades de se adaptar às normas. Lembre-se de que as citações devem ter relação direta com o assunto tratado no texto, reforçando as ideias apresentadas. O uso adequado das citações evita que ocorra o plágio, leia sobre plágio, disponível no material complementar. SAIBA MAIS! O plágio é o ato de assinar, apresentar e publicar uma obra intelectual de qualquer natureza contendo partes de uma obra que pertença a outra pessoa sem a permissão do autor. No ato de plágio, o plagiador apropria-se indevidamente da obra intelectual de outra pessoa, assumindo a autoria. Fonte: Wikipédia Evidências Apresentação de informações (dados, estatísticas, percentuais) que comprovem as ideias apresentadas. As informações devem ser fidedignas e do conhecimento de todos. Você só persuadirá seu interlocutor apresentando informações verdadeiras, que tenham respaldo na realidade. 21 Português Instrumental Básico Exemplos e ilustrações Apresentação de exemplos conhecidos e de fatos que ilustrem ou facilitem a compreensão das ideias expostas. Argumentos de valor universal Apresentação de ideias universalmente aceitas sobre as quais não haja contestação. Relação de causalidade Estabelecimento das relações de causa e consequência. Além desses recursos, lembre-se de que a construção de textos é uma atividade relacionada diretamente à capacidade argumentativa, o que implica o estabelecimento de relações, confronto de ideias, análise, problematização e criticidade. Assim como ocorre no ato de leitura, a aquisição dessas habilidades é um processo paulatino que exige, portanto, a prática insistente de exercícios que instiguem o raciocínio e oportunizem a maturação intelectual. IMPORTANTE Não há receitas definitivas ou concludentes sobre o assunto abordado, apenas o consenso de que o trabalho árduo só pode trazer resultados profícuos. Antes de terminar o estudo desta aula, leia o texto “10 Dicas para aumentar seu poder de persuasão”, disponível no material complementar. 22 Português Instrumental Básico Finalizando... Neste módulo, você estudou que... • Apesar de se configurar como uma experiência essencialmente social, a língua se concretiza a partir de uma ação individual de um sujeito que mobiliza saberes sociais, linguísticos e cognitivos. • Reconhecer a importância de se adequar aos inúmeros contextos é o primeiro passo que damos em direção a uma comunicação eficiente, seja no âmbito profissional ou pessoal; • Dentre os diferentes aspectos envolvidos no processo comunicativo, destaca- se a intenção do emissor no momento da comunicação, o que implica a definição do que se quer comunicar; para quem; como se vai comunicar; qual canal de comunicação será utilizado e em que contexto ela ocorrerá. • Conhecer a língua é uma necessidade, pois é a consciência de suas múltiplas possibilidades que nos dá condições de fazer escolhas, de optar por esta ou aquela forma, por esta ou aquela palavra, por esta ou aquela postura comunicativa. • Quando você escreve um texto, seu papel é de emissor e como tal, se torna responsável pela elaboração da mensagem e a escolha mais adequada dos elementos que permearão todo o texto e que determinarão o interesse do receptor. • A argumentação é um recurso cujo propósito se centra na tentativa de persuadir alguém. • Em um discurso argumentativo, distinguem-se variados componentes, dentre eles, a tese, os argumentos, as premissas e a conclusão. • É possível utilizar vários recursos para alcançar uma argumentação eficiente, dentre eles, destacam-se: a citação, as evidências, os exemplos, as ilustrações, os argumentos de valor universal e a relação de causalidade. 23 Português Instrumental Básico Módulo 2 - Produzindo Textos Apresentação do módulo Quando falamos de produção de textos, falamos da necessidade que temos, em uma sociedade letrada, de nos comunicarmos por escrito. Para tanto, serão requisitadas habilidades e competências para falar com o outro por meio de textos (escritos) eficientes, sob o ponto de vista comunicativo. A percepção de que os textos escritos resultam de uma prática de interação, de interlocução e de diálogo, entre aquele que escreve e aquele que lê, é fundamental para alcançar tal intuito. Neste módulo, refletiremos sobre como colocar no papel o que pensamos, o que sentimos,o que precisamos, de maneira consistente e adequada à atividade profissional que exercemos. Objetivos do Módulo Ao final deste módulo, você será capaz de: • caracterizar os tipos textuais: narração, descrição e dissertação; • diferenciar gêneros e tipos textuais, reconhecendo a importância de compreender as características textuais a eles inerentes; • elaborar textos dissertativos; e • compreender os recursos que poderão contribuir para a efetividade de produção de textos. Estrutura do Módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 – Modalidades discursivas: gêneros e tipos textuais Aula 2 – Recursos a serem considerados em uma dissertação Aula 3 – Organização textual 24 Português Instrumental Básico Aula 1 - Modalidades discursivas: gêneros e tipos textuais “Toda boa escrita consiste em mergulhar e prender a respiração.” F. Scott Fitzgerald Muitos são os desafios de se produzir um texto com uma “boa escrita”. Você já mergulhou de fato nesse desafio? Já prendeu a respiração? Esse é um bom momento para refletir sobre esse processo de escrita. Vamos lá? 1.1 Gêneros textuais Comunicar ideias, pensamentos e sentimentos parece, a priori, algo fácil e simples para qualquer pessoa, principalmente se você considerar que todos, desde crianças, usam cotidianamente a linguagem. Essa comunicação se realiza sem que se reflita sobre as teorias e as regras mobilizadas intuitivamente nesse processo. Especialmente ao nos comunicarmos oralmente, priorizamos a expressão do que queremos, em detrimento do cuidado com os aspectos gramaticais. Utilizamos, na maior parte das vezes, as estruturas que estão internalizadas e sobre as quais não precisamos nos deter. NA PRÁTICA Ao participar de um bate-papo no Facebook, as pessoas não se atêm às normas gramaticais, como uso de maiúsculas ou pontuação; abreviam as palavras e preocupam-se sobremaneira com a agilidade do que se quer dizer. Utilizados na comunicação interpessoal, esses textos caracterizam-se, especialmente, por se aplicarem a situações sociocomunicativas, configurando-se, assim, como gênero textual. São gêneros textuais, por exemplo, e-mails, poemas, bilhetes, postais, artigos, orações, anúncios, avisos, memorandos, requerimentos, editais, resenhas, 25 Português Instrumental Básico crônicas, relatórios, listas, ofícios, propagandas, receitas, notícias, provérbios, cartas, bulas, dentre outros. 1.2 Modalidades textuais Observe que as pessoas, de maneira geral, organizam os enunciados e interagem com o outro a partir de um determinado gênero textual, considerando, para isso, as características desse gênero e os objetivos que querem alcançar naquela determinada situação comunicativa. Os diferentes gêneros textuais, no entanto, muitas vezes não são considerados como ponto de partida para a aprendizagem da produção de textos na escola. É muito comum aprendermos a utilizar os textos, considerando apenas sua tipologia: Figura 9 - Tipologia Textuais Fonte: SCD/EaD/Segen O problema é que essa concepção é válida como modalidade utilizada no processo de composição dos diversos gêneros discursivos, mas não dá conta da classificação e análise de todos os textos utilizados pelos falantes de uma língua. 26 Português Instrumental Básico Reveja a seguir as características das três modalidades textuais. 1.2.1 Narração Contar histórias faz parte da natureza humana. As pessoas contam o que lhes acontece de bom e de ruim, partilham experiências, compartilham acontecimentos. Assim, a narração se vincula irremediavelmente à vida cotidiana nas diferentes relações que estabelecemos. Narrar impõe o relato de histórias e acontecimentos, reais ou fictícios, com marcante coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convincente ao receptor. O texto narrativo contém os seguintes elementos: Enredo Também chamado de fato, trama ou ação desenvolvida em torno dos personagens. Deve apresentar sequência espacial e temporal ordenada. Personagem Quem participa do enredo. É usualmente pessoa, mas pode ser coisa ou animal. Ambiente O espaço onde ocorre o enredo. Pode, naturalmente, variar muito no desenrolar da narrativa. Tempo O momento em que se dá o enredo. Pode ser presente, passado ou futuro. Narrador Quem narra o enredo. Pode ou não participar da história como personagem. Veja um exemplo de NARRAÇÃO em um texto cujo domínio discursivo é o JORNALÍSTICO. 27 Português Instrumental Básico NA PRÁTICA Traficantes trocam tiros com a polícia e invadem hotel no Rio (...) O confronto começou por volta das 8 horas. Segundo a polícia, um “bonde” de traficantes da Rocinha, que fica no bairro, estava voltando para a favela depois de ter passado a noite no Vidigal, morro próximo, dominado pela mesma facção criminosa. Na Avenida Niemeyer, que liga Leblon a São Conrado, o grupo encontrou com policiais do 23º BPM (Leblon). Começou então o tiroteio, que durou em torno de 10 minutos. Na fuga, 10 fugitivos armados com fuzis invadiram o Hotel Intercontinental, em frente à praia, e fizeram 35 reféns na cozinha. Foram quase duas horas de negociação com policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). A mãe de um dos sequestradores, morador da Rocinha, chegou a ser chamada para convencer o filho a se entregar. “Eu pedi, mas ele não quis me ouvir”, disse Dinalva, chorando muito na porta do hotel. Mesmo assim, minutos depois, o grupo libertou os reféns e se entregou à polícia. (...) Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/traficantes-trocam-tiros-com-a-policia-e- invadem-hotel-no-rio/ n1237755546405.html. Acesso em: 10 de junho de 2013. (Texto adaptado para fins didáticos). Observe agora um exemplo de NARRAÇÃO em um texto cujo domínio é o LITERÁRIO. NA PRÁTICA Maneira de amar O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era 28 Português Instrumental Básico uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida. O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido?” “Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.” (ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 12) Observe um exemplo de poema em que o autor apresenta uma NARRATIVA. Pequena crônica policial Jazia no chão, sem vida, E estava toda pintada! Nem a morte lhe emprestara A sua grave beleza... Com fria curiosidade, Vinha gente a espiar-lhe a cara, As fundas marcas da idade, Das canseiras, da bebida... Triste da mulher perdida Que um marinheiro esfaqueara! Vieram uns homens de branco, Foi levada ao necrotério. E quando abriam, na mesa, 29 Português Instrumental Básico O seu corpo sem mistério, Que linda e alegre menina Entrou correndo no Céu?! Lá continuou como era Antes que o mundo lhe desseA sua maldita sina: Sem nada saber da vida, De vícios ou de perigos, Sem nada saber de nada... Com a sua trança comprida, Os seus sonhos de menina, Os seus sapatos antigos! (QUINTANA, Mário. Prosa & verso. São Paulo: Globo, 1978. p. 17) 1.2.2 Descrição O texto descritivo captura verbalmente as características, de maneira mais ou menos pormenorizada, de pessoas, estados de espírito, objetos ou cenas. A descrição aparece recorrentemente em narrações para trazer pormenores dos personagens, do ambiente ou de algum objeto. Por isso, poucas vezes você verá descrições isoladas em outras modalidades textuais. A descrição pode ser: Objetiva Quando se restringe a descrever a realidade, sem julgamento de seu valor. Subjetiva Quando as percepções do autor são impressas a essa realidade. 30 Português Instrumental Básico Não raras vezes, as descrições ultrapassam o mero retrato da realidade, apresentando uma interpretação dessa. Figura 10 – Retrato da Realidade Fonte: SCD/EaD/Segen Observe a seguir outro exemplo de texto DESCRITIVO: Dois velhinhos Dois pobres inválidos, bem velhinhos, esquecidos numa cela de asilo. Ao lado da janela, retorcendo os aleijões e esticando a cabeça, apenas um podia olhar lá fora. Junto à porta, no fundo da cama, o outro espiava a parede úmida, o crucifixo negro, as moscas no fio de luz. Com inveja, perguntava o que acontecia. Deslumbrado, anunciava o primeiro: — Um cachorro ergue a perninha no poste. Mais tarde: — Uma menina de vestido branco pulando corda. Ou ainda: — Agora é um enterro de luxo. Sem nada ver, o amigo remordia-se no seu canto. O mais velho acabou morrendo, para alegria do segundo, instalado afinal debaixo da janela. Não dormiu, antegozando a manhã. Bem desconfiava que o outro 31 Português Instrumental Básico não revelava tudo. Cochilou um instante — era dia. Sentou-se na cama, com dores espichou o pescoço: entre os muros em ruína, ali no beco, um monte de lixo. (TREVISAN, Dalton. Dois velhinhos. Disponível em:http://www.releituras.com/daltontrevisan_doisvelhinhos.asp>. Acesso em: 10 jun. 2013). A percepção da realidade pode, sem dúvida, variar de uma pessoa para outra, por isso é que nos textos técnicos prevalece a objetividade e, em outros textos, a subjetividade. Nesse sentido, Leonardo Boff, ao falar da leitura, nos traz um belo quadro do que representa a subjetividade no uso da linguagem, sejamos nós leitores ou produtores do discurso: “Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer, como alguém vive, com que convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. Sendo assim, fica evidente que cada leitor é coautor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem, pois compreende e interpreta a partir do mundo que habita.” (BOFF, L. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petropólis, RJ: Vozes, 1997. p.9) 1.2.3 Dissertação O texto dissertativo objetiva expor, explicar ou interpretar determinada ideia e, para tanto, recorre a argumentos que a comprovem ou a justifiquem. Assim como na descrição e na narração, dissertar pressupõe uma intencionalidade discursiva que agregará informações que evidenciam nossa forma de ver o mundo e nossas 32 Português Instrumental Básico vivências. Trata-se, antes de tudo, de questionar a realidade, posicionando-se a respeito de um assunto. Portanto, o conhecimento do assunto é condição imprescindível à dissertação. Você não poderá refletir sobre o que não conhece. A intencionalidade determina que tipo de texto você produzirá: Dissertação Expositiva Nesse tipo de dissertação você apenas apresenta os fatos e as ideias sem se posicionar criticamente a respeito. Dissertação Argumentativa Nesse tipo de dissertação você agrega, aos fatos apresentados, o seu posicionamento em relação ao tema abordado. Veja os exemplos a seguir que falam do mesmo tema, mas de forma diversa. Dissertação EXPOSITIVA: A droga: como surgiu O crack surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 em bairros pobres de Nova Iorque, Los Angeles e Miami. O baixo preço da droga e a possibilidade de fabricação caseira atraíram consumidores que não podiam comprar cocaína refinada, mais cara e, por isso, de difícil acesso. Aos jovens atraídos pelo custo da droga juntaram-se usuários de cocaína injetável, que viram no crack uma opção com efeitos igualmente intensos, porém sem risco de contaminação pelo vírus da Aids, que se tornou epidemia na época. No Brasil, a droga chegou no início da década de 1990 e se disseminou inicialmente em São Paulo. “O consumo do crack se alastrou no País por ser uma droga de custo mais baixo que o cloridrato de coca, a cocaína refinada (em pó). Para produzir o crack, os traficantes utilizam menos produtos químicos para fabricação, o que a torna mais barata”, explica Oslain Santana, diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal. 33 Português Instrumental Básico Segundo estudo dos pesquisadores Solange Nappo e Lúcio Garcia de Oliveira, ambos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o primeiro relato do uso do crack em São Paulo aconteceu em 1989. Dois anos depois, em 1991, houve a primeira apreensão da droga, que avançou rapidamente: de 204 registros de apreensões em 1993 para 1.906 casos em 1995. Para popularizar o crack e aquecer as vendas, os traficantes esgotavam as reservas de outras drogas nos pontos de distribuição, disponibilizando apenas as pedras. Logo, diante da falta de alternativas, os usuários foram obrigados a optar e aderir ao uso. Hoje, a droga está presente nos principais centros urbanos do País. Os dados mais recentes sobre o consumo do crack estão sendo coletados e indicarão as principais regiões afetadas, bem como o perfil do usuário. Segundo, no entanto, pesquisa domiciliar realizada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, em parceria com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) em 2005, 0,1% da população brasileira consumia a droga. Fonte: http://www.brasil.gov.br/enfrentandoocrack/a-droga/como-surgiu. Acesso em: 07 nov. 2013. Dissertação ARGUMENTATIVA: Polícia Comunitária A nossa Carta Magna, a atual Constituição Federal de 1988 plantou a semente de uma nova polícia, uma polícia voltada para o povo, para efetivamente proteger o povo, para ser a guardiã das Leis Penais e da sociedade e, com o intuito principal de manter a ordem estabelecida pelo Estado Democrático do Direito. Da semente plantada nasceu a polícia cidadã. Cresceu, floresceu e já vem dando alguns bons frutos para a sociedade brasileira, embora muito ainda falte para o colhimento de uma ótima safra advinda desta frondosa árvore protetora do povo. A nossa Carta Magna recebeu o título carinhoso de Constituição Cidadã pelo fato do primor em prática relacionado aos 34 Português Instrumental Básico direitos fundamentais e sociais de cada um, alicerçados na cidadania e na dignidade do ser humano. A polícia cidadã é a transformação pela qual passou a polícia de outrora por exigência da Constituição cidadã. Essa polícia estabelece um sincronismo entre o seu labor direcionado verdadeiramente a serviço da comunidade, ou seja, uma polícia sempre em defesa do cidadão e não ao combatedo cidadão como ocorrera nos anos de chumbo da ditadura militar. Não há como confundir o termo polícia cidadã, como sendo uma polícia benevolente, negligente, que trata os infratores com flores, delicadamente... Muito pelo contrário, a polícia cidadã é uma polícia forte, destemida, honrada, justa, capaz de realizar qualquer ato legal possível para defender os direitos ultrajados do cidadão cumpridor dos seus deveres e obrigações. O estrito cumprimento do dever legal, a legítima defesa de terceiros ou a sua própria defesa devem caminhar sempre juntos com a polícia cidadã. Quando confronto houver com marginais em atos contrários a estes três itens, deve sair sempre vitoriosa a polícia cidadã. A paz é a aspiração, o desejo fundamental de toda pessoa de bom senso, entretanto, só pode ser atingida com a ordenação da potencialidade da comunidade em somação ao poder público em torno do ideal digno de uma segurança justa, cooperativa e interativa. A paz deve estar em constante ação no seio da sociedade, de maneira duradoura, não fugaz. O estudo das relações humanas constitui uma verdadeira ciência complementada por uma arte, a de se obter e conservar a cooperação e a confiança das partes envolvidas, por isso a necessidade preeminente de uma verdadeira e efetiva interatividade entre a polícia e a sociedade. Partindo do princípio de que a nossa polícia, a polícia cidadã vivencia tudo isso, a polícia comunitária vivencia muito mais, pois as suas ações são galgadas na amizade, na confiança mútua e na parceria com o cidadão em benefício da própria comunidade. (MARQUES, Archimedes José Melo.Polícia comunitária. Disponível em:http:// www.infoescola.com/sociedade/policia-comunitaria. Acesso em: 10 de jun. 2013) - Texto adaptado para fins didáticos. 35 Português Instrumental Básico 1.3 Estrutura do Texto Dissertativo O texto dissertativo estrutura-se em três partes: Introdução É a parte em que se apresenta a ideia central que será progressivamente desenvolvida no decorrer do texto. A ideia central traz uma declaração breve e sintética do assunto, de forma a evidenciar o posicionamento a respeito do tema tratado. Desenvolvimento É nessa etapa que a ideia central ganha corpo, uma vez que são apresentados os argumentos que comprovarão a validade do posicionamento inicial do autor. Essa é a parte mais extensa do texto dissertativo, pois é aqui que se apresentam causas e consequências, detalhamento do assunto, análise de dados e situações que sirvam de exemplos, analogias, dentre outros. Conclusão Essa parte, também chamada de desfecho, retoma a questão mais relevante do assunto tratado, apresentando as considerações finais do autor. Deve-se ter um cuidado especial ao concluir, pois retomar não significa restringir-se a repetir o que é óbvio. Deve, a um só tempo, fechar o raciocínio apresentado, como também propiciar condições de reflexão ao leitor. IMPORTANTE!! Lembre-se de que as partes que compõem a dissertação são complementares e irremediavelmente interconectadas. 36 Português Instrumental Básico Aula 2 - Recursos a serem considerados em uma dissertação A partir de agora, você estudará alguns recursos que poderão lhe auxiliar ao escrever textos. Nesta aula, são apresentados inúmeros recursos que podem ser utiliza- dos na produção de textos dissertativos de qualidade. 2.1 Refletindo sobre o tema O primeiro passo é pensar sobre o tema que nos foi apresentado. É preciso que você questione: sei o suficiente sobre o assunto? Diante da resposta a essa questão, você deverá, se preciso for, buscar textos que subsidiem sua argumentação. Lembre-se sempre de que, os textos que você lê não são apenas fonte de informação, são também modelo de escrita. Normalmente, as pessoas que leem muito têm maior facilidade ao escrever, até por estarem habituadas aos diferentes textos socialmente disponibilizados, como bons livros, jornais e revistas. A partir desse ponto, você deverá delimitar o assunto. Muitas vezes são ofertados temas amplos e é preciso, então, restringi-los, evitando que se fique perdi- do em meio a um emaranhado de possibilidades e ideias. Delimitado o tema, é preciso definir o pressuposto que gerará a ideia central do texto, o que possibilitará a análise do ponto de vista adotado, sua forma e suas variantes. Você já estudou sobre isso na Aula 1, lembra? 2.2 Elaborando um esquema A dissertação exige planejamento. A reflexão cuidadosa e antecipada das partes que compõem o texto facilita a escrita, principalmente, por permitir separar as duas atividades complexas que envolvem esse ato: pensar e escrever. Você já estudou na aula 1 que quando se escreve, é preciso definir três questões fundamentais: 37 Português Instrumental Básico Figura 11 – Questões Fundamentais Fonte: SCD/EaD/Segen Quando se elabora um esquema, ou seja, se planeja um texto, já se está prevendo o que se vai escrever. Só depois é que se pensa em como fazê-lo... Se você não planejar o texto, vivenciará duas atividades complexas, pensar no assunto e escrever sobre ele, simultaneamente, o que gera maior dificuldade. O esquema é um recurso que permite planejar as ideias do texto, ordenando- as hierarquicamente: daquelas de sentido mais amplo até as mais específicas. Ele deve ser expresso de maneira simplificada para que se possa ter uma ideia clara sobre o conteúdo a ser desenvolvido. Os esquemas podem ser organizados de diferentes maneiras: em chave, numeração progressiva ou mapa conceitual. Vejamos alguns exemplos: Esquema em CHAVE O título expressa a ideia central do texto e os argumentos são apresentados com os de sentido mais amplo ficando à esquerda dos de sentido menos amplo; as ideias que têm o mesmo tipo de relação ficam umas sobre as outras. Observe o exemplo: 38 Português Instrumental Básico Figura 12 - Exemplo de esquema em Chave, Fonte: SCD/EaD/Segen Mapa Conceitual Mapas conceituais são representações gráficas, que indicam relações entre conceitos ligados por palavras. Exemplo: Figura 13 - Exemplo de Mapa Conceitual 39 Português Instrumental Básico Numeração Progressiva Na numeração progressiva são empregados algarismos arábicos na numeração, separando-os do título por um espaço, e o texto iniciando em outra linha. Quando for necessário, enumerar os diversos assuntos dentro de uma seção, esta pode ser dividida em seção secundária, terciária, quaternária etc., com formação única para cada seção. (Normas ABNT) Exemplo: Figura 14 - Exemplo de numeração progressiva Fonte: SCD/EaD/Segen 2.3 Elaborando a primeira versão: O RASCUNHO O rascunho é um esboço do texto definitivo. É fundamental exercitar a elaboração do rascunho, pois tal ação é fruto da compreensão de que o texto não fica pronto logo em sua primeira versão, mas é uma construção refletida que permite o repensar de trechos inteiros, o acréscimo de informações, a substituição de palavras, a eliminação de vícios e repetições, a revisão dos aspectos gramaticais e até das ideias apresentadas. 40 Português Instrumental Básico 2.4 Refletindo sobre seu estilo de escrever Como você estudou na aula 1, cada pessoa se expressa de uma forma bastante particular, a partir de sua vivência. Dessa maneira, os textos escritos também serão um reflexo do que se sabe, se pensa e se sente. Por isso, evite regras rígidas de produção de texto que não permitam a mobilidade necessária para expressar com liberdade suas ideias. IMPORTANTE!! Não se prenda a números definidos de parágrafos ou a uma extensão pré-determinada para cada parágrafo, pois tal postura intimida seu processo criativo. Uma boa maneira de sedimentar seu estilo é observar os textos que você lê. Quando se deparar com textos que julgar agradáveis,bem construídos e cuja argumentação seja apropriada, analise como o autor iniciou o texto, que recursos utilizou, como concluiu sua ideia. Dessa forma, você se identificará com alguns modelos aos quais terá acesso e a eles incorporará novos elementos. Assim, criará seu estilo pessoal de escrever. 2.5 Revisando o texto Um dos aspectos que deve ser considerado antes de definirmos a versão final de um texto é a revisão dos aspectos textuais, dos quais se destacam os seguintes: Adequação Analisar se o texto está adequado ao tema e se atende ao objetivo que se quer alcançar; 41 Português Instrumental Básico Coerência Analisar se há, ao longo do texto, um fio condutor do sentido; Clareza Verificar se as ideias são expostas de forma a serem plenamente compreendidas; e Coesão Verificar se as diversas partes do texto estão interligadas de maneira a criar textualidade (rede lógica de sentido), ou seja, verificar se as partes do texto se ligam umas às outras. Quando, por exemplo, iniciamos um parágrafo com a expressão “dessa forma”, estamos associando o que diremos a seguir com o que já foi dito anteriormente. 42 Português Instrumental Básico Aula 3 - Organização textual Nesta aula, serão apresentados os ele- mentos que devem constar em um texto e como organizá-los. A dissertação é uma grande unidade textual composta por unidades textuais menores, denominadas parágrafos, os quais são constituídos por um ou mais períodos interligados semântica e sintaticamente. Os parágrafos são o maior indicativo da organização das ideias de um texto. Nesse sentido, a cada parágrafo, o leitor é chamado a parar e refletir sobre o assunto ali exposto. O planejamento de textos em esquemas é estruturado, via de regra, a partir dos parágrafos que você construirá. Assim, apresenta-se a ideia principal a ser abordada, em seguida as ideias de apoio ou secundárias e, facultativamente, a conclusão, que pode ser um desfecho ou a preparação para o início do parágrafo seguinte. IMPORTANTE!!! Não há regras rigorosas no que tange à extensão do parágrafo, mas sua formulação exige bom senso: que não seja tão curto a ponto de fragmentar a apresentação das ideias e empobrecer a argumentação, nem tão longo que se torne cansativo e disperse a atenção do leitor. Para reconhecer o momento adequado de se mudar de parágrafo, é oportuno lembrar que ele deve conter apenas uma ideia principal apoiada pelos argumentos que a justificam, ou seja, que lhe dão ênfase. Como estudou anteriormente, a dissertação apresenta três partes básicas: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Normalmente, temos um parágrafo de abertura para a introdução; um ou mais parágrafos para o desenvolvimento da ideia central apresentada na introdução; e um parágrafo de encerramento para a conclusão. 43 Português Instrumental Básico Fique atento! Pois a partir daqui você estudará alguns recursos que poderá utilizar nas diferentes partes que compõem a dissertação... 3.1 O parágrafo de introdução Um parágrafo inicial bem formulado facilita o trabalho do escritor e do leitor, pois orienta o desenvolvimento de todo o texto. Pode antecipar a ideia central do texto ou, de forma criativa, gerar no leitor diferentes expectativas em relação ao teor do que está por vir. Dentre as possibilidades de construção inicial de um texto, optamos pelas seguintes: Alusão histórica Atos de violência e atrocidades, que hoje chamamos de violações de direitos humanos, fazem parte da história da humanidade – e do Brasil também. Desde o massacre e escravização dos povos indígenas, assim como dos povos africanos, mesmo a história de um País jovem como o Brasil é cheia de episódios trágicos e violentos. A Declaração Universal dos Direitos Humanos somente foi criada em 1948, como forma de reação contra as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, quando Hitler comandou o genocídio de judeus e outras minorias nos campos de concentração. (Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_conflitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 jun. 2013). Raciocínio dedutivo: sair de uma afirmação geral para o particular O tráfico de pessoas é considerado uma das mais graves violações dos direitos humanos neste século e deve ser compreendi- do como um fenômeno social complexo, altamente violador e que envolve, em muitos casos, a privação de liberdade, a exploração, o uso da violência. Hoje, este fenômeno representa um tema de grande importância para o Brasil, pela sua incidência dentro do país e entre os seus nacionais vivendo no exterior. Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do- tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 jun. 2013). 44 Português Instrumental Básico Raciocínio indutivo: sair de uma afirmação particular para o geral – a narração de um fato, por exemplo Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2006, cerca de 83% dos brasileiros vivem em cidades. Esse “inchaço” dos centros urbanos é resultante de um modelo de desenvolvimento econômico que, desde o início do século 20 até hoje, vem diminuindo o emprego no campo e atraindo muita gente para as cidades em busca de melhores condições de vida. Isso ocorre no mundo inteiro, não só no Brasil. Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_conflitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 jun. 2013). Interrogação Como dissemos antes, nenhum direito humano pode ser usado para justificar a violação de outro. As pessoas começam a identificar que os seus próprios direitos podem converter-se em conflitos com os direitos de outras pessoas. Diante da seguinte reflexão: “Como estes conflitos podem ser resolvidos?”, convém explicitar que “Todos os conflitos devem ser resolvidos dentro de um contexto de direitos humanos”. Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_conflitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 jun. 2013). Analogia e paralelo Uma área da psicologia diz que a agressividade faz parte da energia humana e que, dependendo da circunstância, pode se transformar em violência. A agressividade é como água, pode irrigar ou inundar, depende de como focamos essa energia; podemos usá-la para coisas boas, colhendo bons frutos, ou para coisas ruins, gerando a violência. A energia que faz um militante ir à rua para uma passeata é, muitas vezes, a mesma que faz outra pessoa quebrar um ônibus numa greve ou queimar pneus na rua, para impedir a passagem de carros. Como dissemos, os conflitos fazem parte do ser humano, mas podem ser violentos ou não-violentos, de- pendendo da atitude das pessoas. (Fonte: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/mediar_conflitos/curso_m_conflitos_modulos_1_10.pdf. Acesso em: 10 jun. 2013). 45 Português Instrumental Básico Citação Segundo Ana Paula Corti, pesquisadora da Ação Educativa, de São Paulo, “a questão está muito presente no horizonte das gerações mais novas, mas as escolas não a incorporaram como fonte de intervenção pedagógica”. O desconforto em relação ao assunto é fácil de entender. Trazer os temas do medo e da agressividade para a sala de aula não parece combinar com o papel construtivo e pacificador que o universo escolar, com razão, costuma chamar para si. Mas algumas experiências, descritas nas próximas páginas, indicam que vale a pena abandonar essa suposta neutralidade e encarar uma realidade que, de um modo ou de outro, interfere diretamente na vida de todos nós. (Fonte: http://www.codic.pr.gov.br/modules/noticias/article. php?storyid=174. Acesso em: 10 jun. 2013). 3.2 O parágrafo de desenvolvimento (a argumentação) Há diversos processos para se desenvolver as ideias de um texto dissertativo. Esses processos variam de acordo com a natureza do assuntoe o objetivo traçado, desde que as ideias sejam formuladas de maneira clara, objetiva e conveniente. Veja que os exemplos que seguem foram retirados de um mesmo texto. Nosso intuito é que você perceba que pode usar a combinação de vários desses recursos em um mesmo texto, confira: Apresentar relação de causalidade É claro que estas condições e fatores como a pobreza, a busca por melhores oportunidades de trabalho, necessidade de sustentar a família, motivos ambientais (secas ou inundações) estão entre as motivações que levam a pessoas a cair em falsas promessas que se revelam em situações de exploração posterior. Mas as motivações podem ser mais complexas como, por exemplo, o desejo de conhecer novas culturas, o desejo de transformar o corpo, o casamento com um estrangeiro, ou a necessidade de sair de uma condição de violação de direitos (violência doméstica, 46 Português Instrumental Básico abuso sexual intrafamiliar, homofobia). Assim, o tráfico se aproveita daquilo que é o bem mais precioso do ser humano, a capacidade de sonhar, de querer mais, de ir mais longe. Ele entra exatamente nos espaços onde os sonhos ainda são negados, onde restam poucas ou nenhuma alternativa, com uma promessa que parece aceitável. (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do- tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 jun. 2013). Enumerar fatos que comprovem uma opinião - exemplificar Contudo, fatores culturais e políticos também reforçam esta ambiência para a ocorrência do crime, como: demanda por serviços sexuais; aspectos culturais como a desigualdade e iniquidades de gênero e raça, geracionais, a cultura patriarcal e a homofóbica; políticas migratórias restritivas que criam barreiras à migração regular; modelos de desenvolvimento econômico como fatores de expulsão e atração de pessoas e serviços; a corrupção e conivência de funcionários públicos; e deficiências de respostas estatais no enfrentamento a este crime entre outros. (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do- tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 jun. 2013). Confrontar ideias, dados, estudos ou características A pena do crime de tráfico de pessoas (pena de reclusão, de três a oito anos) é menor do que as penas impostas ao crime do tráfico internacional de armas e de drogas. E, por mais que o tipo penal “tráfico de pessoas” tenha passado por diversas alterações legislativas, ainda permanece insuficiente para contemplar as características do fenômeno e todas as suas formas de exploração. Ainda convivemos com a distância entre o que compreende o tráfico de pessoas e a perspectiva criminal que o caracteriza. (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do- tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 jun. 2013). Apresentar conceitos, citações, alusões ou fatos históricos: Vale ressaltar que no caso brasileiro, as respostas públicas a este fenômeno estão se estruturando há mais de uma década. Ratificamos o “Protocolo de Palermo”, que é a diretriz internacional para o tema, contamos com uma Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas que é indutora de ações de prevenção, 47 Português Instrumental Básico repressão ao crime e atenção e proteção às vítimas. Estamos sob a égide de um segundo plano nacional que envolve 17 Ministérios na implementação de 115 metas até 2016. E a cooperação com Estados e Municípios, organismos internacionais, ministério público e os poderes judiciário e legislativo, e a necessária articulação e permanente diálogo com a sociedade civil reforçam a característica democrática e integrada da atuação brasileira no enfrentamento a este crime. O alerta e a sensibilização da sociedade sobre a existência deste fenômeno são importantes para desmistificar que a sua ocorrência não está tão longe assim da nossa realidade. (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/ invis%C3%ADvel-realidade-do- tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 de jun. 2013). 3.3 O desfecho: parágrafo de conclusão A conclusão encerra o texto dissertativo, recorrendo a basicamente três possibilidades de variação, a saber: Retomada: ratifica a tese apresentada O envolvimento de distintos atores governamentais e não governamentais, de setores da mídia, aumenta a visibilidade e começa a provocar a desejada indignação para que a sociedade brasileira não aceite que seus cidadãos sejam vendidos como mercadoria e tampouco que cidadãos estrangeiros vivam em nosso território em condições de exploração. Liberdade não se compra. Dignidade não se vende. E com este lema o Brasil pede que a sociedade esteja atenta, saiba reconhecer o tráfico de pessoas e denuncie. (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/content/invis%C3%ADvel-realidade-do- tr%C3%A1fico-de-pessoas. Acesso em: 10 de jun. 2013). Proposição de soluções No mundo moderno, onde a mulher alcança os mais altos cargos políticos e empresariais, não se permite mais discutir sobre a equiparação das oportunidades profissionais entre homem e mulher. Urge, cada vez mais, o debate acerca da estruturação das corporações, para que, em havendo situações adversas, gestões 48 Português Instrumental Básico sejam concebidas para que as mulheres sejam incluídas, a fim de que a sociedade possa cada vez mais usufruir da sua sensibilidade, como a segurança pública baiana já vem usufruindo. (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/node/35549. Acesso em: 10 de jun. 2013). Reflexiva: propõe um questionamento: Se esse episódio não foi o primeiro, que seja o último. Se houver disposição de enfrentar realmente a corrupção da polícia, haverá disposição renovada do lado de cá de trabalhar junto, construir caminhos para uma nova realidade. Se há compromisso com a vida, se há indignação real por trás dos discursos inflamados, que comecem agora as reformas estruturais das polícias, de limpeza das instituições, sem desculpas burocráticas ou medo de retaliação. Apoio não faltará. E coragem? (Fonte: http://www2.forumseguranca.org.br/node/22828. Acesso em: 10 de jun. 2013). Lembre-se de que os exemplos apresentados não encerram todas as possibilidades de que dispomos para a construção discursiva, mas são indicativos para ajudá-lo na escritura de textos... Ao iniciar esta aula, você estudou que os parágrafos são unidades textuais que em conjunto formam o texto. Não basta, portanto, que você elabore bem os parágrafos como se fossem unidades isoladas, pois se assim o fizer construirá, na verdade, uma enorme colcha de retalhos. IMPORTANTE!!! Para que um texto não seja apenas um amontoado de palavras e frases que fazem sentido separadamente, mas não como um conjunto, é preciso que você cuide dos aspectos relacionados à coesão que estabelece a ligação, a relação entre os elementos de um texto. 49 Português Instrumental Básico Observe o seguinte trecho: “Levantamos muito cedo. Fazia frio e a água havia congelado nas torneiras. Até os animais, acostumados com baixas temperaturas, permaneciam, preguiçosamente, em suas tocas. Apesar disso, deixamos de fazer nossa caminhada matinal com as crianças”. (AQUINO, Renato. Interpretação de textos. 10. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2008. p.14.) O trecho acima é composto por vários períodos e apresenta dois segmentos distintos, veja: • O primeiro segmento refere-se à condição de frio intenso e suas consequências; e • O segundo apresenta a decisão de não fazer a caminhada com as crianças. O que temos para ligar esses dois segmentos? A locução “apesar disso” liga os períodos. Essa locução possui valor de concessão, liga ideias opostas, no entanto, o que temos no segundo segmento é mais uma consequência do frio que fazia naquela manhã. Sendo assim, no lugar de “apesar disso”, deveríamos usar: por isso, por causadisso, em virtude disso etc. A coesão textual pode ser: Referencial Quando um componente do texto faz remissão, referência a outro elemento, tais como epítetos; palavras ou expressões sinônimas; repetição de uma palavra, nome ou parte dele; um termo síntese; pronomes, numerais e advérbios pronominais que substituem um nome; elipse; dentre outros. Sequencial Quando são estabelecidas relações semânticas ou pragmáticas à medida que o texto se constitui, tais como em frases ligadas por conjunções: Gostei da roupa, mas não 50 Português Instrumental Básico posso comprá-la. Nesse período, a “conjunção” mas é elemento de coesão por impulsionar o prosseguimento do texto, imprimindo-lhe novo sentido. A coesão liga termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um parágrafo a outro. A seguir, será apresentada uma série de recursos de coesão que o ajudarão a dar maior unidade aos textos, além de chamar atenção para o sentido que neles está implícito: Causa e consequência Como resultado; em virtude de; em função de; em razão de; de fato; assim; portanto; por causa de; por motivo de; porquanto; etc. Comparação por contraste ou por semelhança Ao contrário de; em contraste com; como contraponto; em comparação com; igualmente a; analogamente; assim também; do mesmo modo que; da mesma forma que; de maneira similar; de forma idêntica; nessa mesma perspectiva; em consonância com; etc. Acréscimo Além disso; outrossim; ainda mais; por outro lado; desta feita; nesse sentido; em função disso; a esse respeito; não só... mas ainda; etc. Além desses recursos, é possível recorrer à utilização de palavras ou expressões relacionais, veja alguns exemplos para diferentes situações: Iniciar uma análise É fundamental inicialmente observar; há que se analisar, primeiramente; a primeira questão se referirá a; é fato; iniciemos a análise observando; em primeira instância, cabe analisar; etc. Ratificar a análise Não podemos deixar de lado a questão de; é preciso frisar ainda que; não podemos nos esquecer também; é essencial lembrar ainda; é fundamental insistir; não há como 51 Português Instrumental Básico negar que; é possível alegar ainda que; além do mais; paralelamente; acrescente-se a isso; é inegável; é provável também; há ainda a possibilidade de; etc. Encerrar a análise Por conseguinte; consequentemente; por isso; dessa forma; em suma; em síntese, é possível dizer que; portanto; definitivamente; a partir desse contexto, é plausível afirmar; finalmente; etc. Enumerar outros fatores Não podemos excluir; uma segunda causa a ser apontada é; outro aspecto a ser considerado; além desse fator, chama a atenção; como terceira razão, é preciso salientar; etc. Estabelecer oposição A despeito dessa posição; ao passo que; não obstante sua avaliação; vai de encontro a; malgrado; em que pese tal afirmação... é preciso considerar; ainda que; muito embora reconheça... há que se levar em conta; entretanto, no entanto; etc. Como você estudou, são muitas as possibilidades de uso de elementos de coesão. O uso correto deles é que dará ao seu texto a coerência necessária para que a comunicação se efetive, pois o texto só faz sentido se todos os envolvidos nesse processo de interação reconhecerem sua lógica interna. Agora é com você. Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem adquiridas... 52 Português Instrumental Básico Finalizando... Neste módulo, você estudou que ... • Aprendemos na escola a utilizar os textos segundo sua tipologia, qual seja narração, descrição e dissertação. Essa concepção é válida como modalidade utilizada no processo de composição dos diversos gêneros discursivos, mas não dá conta da classificação e análise de todos os textos utilizados pelos falantes de uma língua. • Narrar impõe o relato de histórias e acontecimentos, reais ou fictícios, com marcante coerência interna para que a história seja verossímil e, portanto, convincente ao receptor. • O texto descritivo se caracteriza por capturar verbalmente as características, de maneira mais ou menos pormenorizada, de pessoas, estados de espírito, objetos ou cenas. • O texto dissertativo objetiva expor, explicar ou interpretar determinada ideia e, para tanto, recorre-se a argumentos que a comprovem ou justifiquem. • O texto dissertativo estrutura-se em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. • Dentre os recursos que poderão auxiliar na escrita de textos é possível citar: reflexão sobre o tema, elaboração de um esquema, elaboração de rascunho, reflexão sobre seu estilo pessoal e revisão de texto. • Os parágrafos são unidades textuais que em conjunto formam o texto. A coesão liga termos e orações dentro de um parágrafo, bem como liga um parágrafo a outro. • A coesão textual pode ser referencial ou sequencial. • Ler e escrever bem são habilidades e, portanto, requerem treino para serem adquiridas. 53 Português Instrumental Básico Módulo 3 - Cuidados a serem observados Apresentação do módulo Além dos aspectos sobre os quais refletimos até aqui, quando nos comunicamos, precisamos elaborar um discurso claro e convincente. Isso faz toda a diferença, especialmente no meio profissional, para a credibilidade de nossos projetos e ideias. Argumentar de maneira eficiente, evitando vícios, falácias e outros desvios, nos conduz ao papel de interlocutores que merecem ser ouvidos. A qualidade dos textos que produzimos, sejam eles orais ou escritos, passa pela qualidade de nossa argumentação e pela capacidade de utilizarmos a lógica e a norma culta ao nosso favor. Objetivos do módulo Ao final deste módulo, você será capaz de: • Identificar vícios e desvios de linguagem; • Reconhecer que a qualidade do texto é influenciada pela forma que se escreve; • Compreender, identificar e evitar o uso de argumentos falaciosos. Estrutura do módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 – Vícios e desvios de linguagem Aula 2 – Depreensão do implícito: pressupostos e subentendidos Aula 3 – Falácias: pensando logicamente Aula 4 – Novo Acordo Ortográfico: principais mudanças 54 Português Instrumental Básico Aula 1 - vícios e desvios de linguagem “Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência a vossa!” Cecília Meireles Nesta aula, serão apresentados maus hábitos que adquirimos ao nos comunicarmos e como podemos evitá-los. 1.1 vícios de linguagem Observe a placa abaixo: Figura 15 - Vícios de linguagem Fonte:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.reporterbrasil.org.br/images/articles/200 70424familiamuda2.jpg&imgrefurl A frase acima está ambígua, concorda? É possível pensar que “muda” é verbo (embora não apareça como pronominal), ou seja, a família vai transferir-se para outro local, ou, ainda pensar “muda” é adjetivo, as pessoas que compõem essa mesma família, não falam, não têm a capacidade de falar. Claro que, como uma placa que 55 Português Instrumental Básico apresenta visivelmente um registro coloquial, o sentido é cômico. Mas, pense você no mesmo processo em um texto escrito que tenha uma construção mais formal. A ambiguidade irá prejudicar o sentido do escrito e, neste caso, nada restará do cômico, pois o texto provocará o não entendimento, ou mesmo, uma enorme confusão. Agora, leia a charge abaixo. Fonte:http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://ser- geicartoons.blogs.sapo.pt/arquivo/ManuelD.jpg&imgrefurl O autor da charge usa a imagem associada à fala das personagens para, também, criar um sentido “duplo”. A oração “Não te vejo há anos e estás na mesma” refere-se ao fato das personagens não se encontrarem há muito tempo, mas pode ser entendida, não com um sentido cômico, mas crítico e irônico,
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