Buscar

ARTIGO LEIS INÓCUAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

AS LEIS INÓCUAS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Nome do Aluno[footnoteRef:0] [0: INFORMAÇÕES SOBRE O ALUNO: TÍTULO, VÍNCULO ACADÊMICO, E-MAIL] 
RESUMO
Etimologicamente, a palavra inócuo tem origem do latim innocuus, e é um adjetivo atribuído a algo que não produz danos, algo inofensivo; ou, a algo que não é capaz de produzir o resultado ao qual foi projetado para produzir. De forma pragmática, o que se espera com a edição de alguma lei é que esta seja devidamente cumprida, em seus próprios termos. Um dos grandes problemas do ordenamento jurídico brasileiro, entretanto, é a grande quantidade de leis que fazem parte do conjunto de normas que o compõem. Grande parte desse inchaço é o fato de que o modelo adotado pelo Direito Brasileiro se baseia justamente na edição legislativa, garantindo a aplicação do princípio da legalidade e dos termos norteadores do civil-law. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo analisar de maneira aprofundada o que são as leis inócuas, bem como os conceitos relacionados à eficácia e à baixa efetividade relacionadas à elas. Dentre os atributos analisados estão a legitimidade, a validade e a eficácia dela, estes estando intimamente ligados ao problema da inocuidade da lei. Assim, busca-se, com o presente artigo, uma saída para esse problema, na medida em que configura um grave problema de segurança jurídica. 
Palavras-chave: Legitimidade. Eficácia. Leis inócuas.
1. INTRODUÇÃO
Um dos grandes problemas do ordenamento jurídico brasileiro é a grande quantidade de leis que fazem parte do conjunto de normas que o compõem. Grande parte desse inchaço é o fato de que o modelo adotado pelo Direito Brasileiro se baseia justamente na edição legislativa, garantindo a aplicação do princípio da legalidade e dos termos norteadores do civil-law. 
Ocorre que o grande número de leis, associada à baixa efetividade de algumas delas, pode gerar um conjunto de “letras mortas”, que apenas incham o ordenamento jurídico brasileiro sem que nenhum efeito seja produzido. 
Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo analisar de maneira aprofundada o que são as leis inócuas, bem como os conceitos relacionados à eficácia e à baixa efetividade relacionadas à elas. 
Como método, foi escolhida a pesquisa por meio de pesquisa bibliográfica. Assim, foram feitas pesquisas em bancos de dados de natureza científica como a Scielo, bem como em sites de notável reputação jurídica, como o Conjur e o Migalhas. O objetivo foi juntar o máximo de informação possível, para que fosse possível a formação de um texto lógico e coerente, de modo que as ideias acerca da inocuidade das leis fossem corretamente transmitidas por meio do presente artigo. 
Com relação à estruturação do trabalho, optou-se por criar uma sequência lógica que permitisse a assimilação de certos conceitos introdutórios, antes de nos adentrarmos ao ponto da inocuidade das leis em si. Assim, pretende-se discorrer acerca de alguns conceitos básicos trazidos pela Teoria Geral do Direito, os quais vão basear toda a discussão acerca da legitimidade e da efetividade das leis, características estas as principais afetadas com a “morte” da letra da lei. 
Ato contínuo, inicia-se o estudo das leis inócuas assim. Nesse sentido, são apresentados alguns fatores que influenciam na baixa efetividade da norma e de que forma os estudiosos indicam que tal problema pode ser resolvido.
Para que o problema da inocuidade seja resolvido, espera-se que o legislador buscou se atentar melhor às realidades jurídico-fáticas da sociedade e do ordenamento jurídico como um todo no momento em que as leis são editadas.
2. A TEORIA GERAL DO DIREITO E A LEI COMO FONTE DO DIREITO
O Direito, a partir de uma ideia mais abrangente, apesar de apresentar conceituações polissêmicas, pode ser definido como um conjunto de normas, instituições e decisões sistematizadas que tem como objetivo a neutralização e solução de conflitos sociais (FERRAZ JÚNIOR, 2021). Destaca-se a seguinte definição:
O Direito, assim, é expressão da forma como a comunidade humana dispôs sobre a ordenação de suas relações intersubjetivas. Os seres humanos são gregários, isto é, dependem da convivência com outros de mesma espécie, assim também como os demais seres vivos e inanimados que integram o ambiente. Diz-se: ubi societas ibi ius (“onde há sociedade há direito). Esta vida de relações compreenderá distintos interesses e aspirações de cada indivíduo, por vezes conflitantes, e daí o Direito emergir como elemento que assegura a compatibilização dos interesses individuais e comunitários (MIRAGEM, 2021).
A partir dessa perspectiva teórica, são destacadas as relações existentes entre o Direito e a sociedade como um todo (AMARAL, 2018). São consideradas, nesse sentido, “a tarefa ou o conjunto de tarefas, que o direito desempenha, ou pode desempenhar, na sociedade humana” (ANDRÉ-JEAN, 2001, apud AMARAL, 2018. Assim, o conjunto normativo jurídico que compõe o direito, a partir de uma visão puramente normativista, são as normas de comportamento ou de organização, estas criadas pelo Estado e por este sendo garantido o seu cumprimento (AMARAL, 2018).
São várias as espécies de normas jurídicas, estando o estudo delas atrelados à noção de fontes (REALE, 2013) do Direito. Dentro da pluralidade destas, podem ser identificadas tanto as fontes jurídicas estatais como também as fontes jurídicas não estatais, como o costume. Ocorre que, não obstante às fontes não estatais, as fontes que geram maior vinculação e autoridade social se concentram naquelas que possuem vinculação direta com o estado, na medida em que tem maior poder coercitivo (SOARES, 2019) . Tais fontes, de maneira geral, são a lei e a jurisprudência, estando aquela no centro do presente estudo. 
A palavra lei tem raiz no termo lex, de origem latina. Segundo França, o conceito apreendido de tal termo emana a ideia de ordem e organização (FRANÇA, 1997). Francisco Amaral nos traz uma conceituação mais técnica, definindo lei como “conjunto ordenado de regras que se apresenta como um texto escrito” (AMARAL, 2018). De acordo com Soares (2019), a lei é “ um conjunto de normas de direito gerais, proclamado obrigatório pela vontade de uma autoridade competente e expresso mediante fórmula escrita” (SOARES, 2019). Venosa (2019), descreve que a lei é “uma regra geral de direito, abstrata e permanente, dotada de sanção, expressa pela vontade de uma autoridade competente, de cunho obrigatório e de forma escrita”. Segundo Miragem, essa fonte é, por excelência, a fonte do direito nos sistemas civil-law (MIRAGEM, 2021)[footnoteRef:1]. [1: “A expressão civil law, usada nos países de língua inglesa, refere-se ao sistema legal que tem origem ou raízes no Direito da roma Antiga e que, deste então, tem-se desenvolvido e se formado nas universidades e sistemas judiciários da Europa Continental, desde os tempos medievais” (VIEIRA, 2007) ] 
A partir da análise de seu aspecto autônomo, a lei passa a ter uma presença indispensável para a formação da institucionalização e estabilização de um ordenamento jurídico, na medida em que exprime a força da autoridade estatal ao impor um certo padrão de normatividade (MIAILLE, 1979, apud COUTINHO, 2017).
De acordo com Venosa, a lei prepondera como o “centro de gravidade” do direito ocidental, na medida em que se apresenta como a mais importante fonte do direito, passando a ser considerada como única expressão do direito após a revolução liberal no século XVIII (VENOSA, 2019). A ideia de utilizar tal fonte normativa como única fonte do Direito tem grande ligação com a necessidade de maior segurança jurídica dentro do contexto histórico-social da França naquele momento. Isso porque a ideia de seguir preceitos previamente estabelecidos de forma concreta, por meio da positivação. Assim,
Dessa forma, o “civil Law” registra suas origens com base no direito romano, sendo posteriormente consagrado pela Revolução Francesa que procurou criar um novo modelo de direito, negando as instituições que antes existiam, calcando-se na rigorosa separaçãodos poderes, aliada à proibição do juiz interpretar a lei, como combinação indispensável à concretização da liberdade, igualdade e certeza jurídica. A igualdade no “civil Law” foi diretamente agregada à estrita aplicação da lei, o que deu origem a um intenso processo de codificação do direito, limitando o papel do juiz com a finalidade de garantir a igualdade entre todos (GALIO, 2016 apud Franchini et al, 2017)
A lei, assim, é um artifício utilizado pelos ordenamentos jurídicos como forma de positivação das normas, processo este realizado por autoridades competentes. 
3. OS ATRIBUTOS DAS NORMAS JURÍDICAS: A VIGÊNCIA, A VALIDADE E A EFICÁCIA
Alguns atributos são incumbidos às normas jurídicas. A maneira como tais atributos são assimilados pela norma, principalmente no contexto de sua aplicação ao tecido social, é importante para que a norma seja classificada e estudada. São atributos das normas jurídicas a validade, a vigência, o vigor e a eficácia.
A validade diz respeito à correspondência vertical de uma norma jurídica superior. No ordenamento jurídico, por exemplo, a lei para ser válida deve estar coerente com a Constituição Federal, haja vista que esta foi estabelecida com o finto de orientar todos os aspectos do ordenamento jurídico brasileiro[footnoteRef:2] (VENOSA, 2019). A vigência, por sua vez, se trata do atributo que expressa o tempo de validade da norma (SOARES, 2019). Já o vigor se trata da força vinculante que a norma possui SOARES, 2019). [2: “Como assinala Machado Neto (1988, p. 335), o direito regula sua própria criação, ou melhor, a criação de novas normas jurídicas, porquanto, entre a norma geral e a conduta individual, há de mediar uma norma individual que possibilitará a aplicação da norma geral ao caso concreto. O sistema jurídico estabelecerá o que deve ser posto (conteúdo) na norma jurídica, assim como prescreverá quem deve criar (competência) e o como deve fazê-lo (procedimento).” (SOARES, 2019)
] 
A eficácia, entretanto, figura como o objeto central da presente pesquisa. Esta se mostra como o atributo que “designa a possibilidade concreta de produção dos efeitos jurídicos” (SOARES, 2019). Ora, a palavra eficaz já é atribuída a algo que produz os efeitos esperados ou satisfatórios; assim, a eficácia é um efeito da norma, sua influência sobre efeitos sociais (VENOSA, 2019). Nesse diapasão, a lei apenas pode ser considerada eficaz caso produza efeitos dentro do contexto em que ela tem vigência. 
Ocorre que, na prática, os efeitos da norma podem depender da adesão social à ela. Destaca Soares (2019), que “o problema da eficácia de uma norma é o problema de ser ou não seguida pelas pessoas a quem é dirigida e, no caso de violação, ser imposta por meios coercitivos pela autoridade que a evocou”. Assim, é possível que a eficácia seja analisada a partir de duas perspectivas distintas: eficácia jurídica (aplicabilidade) e eficácia social (efetividade) (LEITE, 2020). Destaca-se:
Por um lado, a eficácia técnico-jurídica, também conhecida como aplicabilidade, verifica-se toda vez que uma norma jurídica dispõe das condições normativas necessárias para a produção dos seus efeitos no universo jurídico, não dependendo sua eficácia da elaboração de uma posterior norma jurídica.
[...]
Noutro passo, a eficácia social, também denominada efetividade, é aquele atributo normativo que assinala a correspondência da norma jurídica com a realidade circundante, designando a compatibilidade dos modelos normativos com os fatos sociais. Quando a norma jurídica se apresenta efetiva, os dispositivos normativos são assimilados e cumpridos concretamente pelos sujeitos de direito (SOARES, 2019).
A importância em se entender o conceito de eficácia da norma, no âmbito do presente estudo, se concentra no fato de que, quando a lei passa a ter pouca ou nenhuma eficácia, seja por falta de adesão social ou por falta de aplicabilidade jurídica, ela começa a ser considerada inócua, morta. 
4. AS LEIS INÓCUAS
Etimologicamente, a palavra inócuo tem origem do latim innocuus, e é um adjetivo atribuído a algo que não produz danos, algo inofensivo; ou, a algo que não é capaz de produzir o resultado ao qual foi projetado para produzir (MICHELLIS, 2021). A partir de tal definição, já é possível se ter uma ideia sobre o que seriam as referidas leis inócuas. De maneira geral, as leis inócuas são aquelas leis consideradas mortas. 
Ainda, 
Na linguagem popular, as leis inócuas, ou seja, aquelas inofensivas ou que não produzem os efeitos pretendidos, são chamadas de leis que não pegam. Os motivos podem ser os mais variados. Vão desde a deficiência na redação pelo legislador, que redundam na dificuldade de interpretá-las e aplicá-las, na ausência de regulamentação específica, como no caso das chamadas normas em branco, e até mesmo na mais pura desobediência civil, como pregava o libertário francês Henry David Thoreau (GALVÃO, 2014).
De forma pragmática, o que se espera com a edição de alguma lei é que esta seja devidamente cumprida, em seus próprios termos. Para que isso ocorra, entretanto, as leis deveriam ser acessíveis a todos, não apenas em seu sentido literal, que é o acesso ao texto da lei, mas também em seu sentido prático, na medida em que é necessário o entendimento acerca do que está sendo lido (FRANCHINI et al, 2017).
Não obstante, alguns aspectos às vezes incumbidos à legislação contribuem para que elas tenham mortes prematuras, dentre elas, a baixa qualidade associada ao excesso de leis, e a falta de legitimidade social, que evita a adoção popular por elas. 
4.1. A CRISE DE EFETIVIDADE E LEGITIMIDADE
Como mencionado anteriormente, a efetividade diz respeito à correspondência da norma jurídica com a realidade social em que está sendo aplicada. Apesar de ser um conceito distinto, guarda certa intimidade com o conceito de legitimidade, este sendo também um atributo incumbido às normas jurídicas e, por conseguinte, às leis.
A legitimidade é o atributo que designa a correlação da norma jurídica com o valor socialmente aceito de justiça” (SOARES, 2019). Assim, caso a sociedade como um todo não entenda que determinada norma está se encaixe validamente na sociedade, estando compatível com a noção de justiça, esta não se tornará legítima do ponto de vista social.
Quando não há efetividade e legitimidade, a lei tem pouca adesão social, podendo se tornar inócua simplesmente porque a sociedade não entende aquela norma como algo necessário ou até mesmo útil. 
O exemplo mais característico de tal crise é ilustrado por meio do art. 58 do Decreto-Lei n. 688, de 1941, o qual discorre que se configura uma contravenção penal, “explorar ou realizar a loteria denominada jogo do bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização ou exploração: Pena – prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de dois a vinte contos de réis”. Bom, mesmo com a expressa proibição do referido jogo, este é explorado comercialmente e praticado livremente na sociedade brasileira, por parcelas significativas de pessoas, sem que as pessoas praticantes de tal atividade sofram sanções por isso (SOARES, 2019). Perceba que há uma certa crise, sob dois aspectos: i) a sociedade não entende que tal prática é ilícita, nem julga tal jogo como algo injusto ou prejudicial, havendo, portanto, certa ilegitimidade na aplicação de referida proibição; e ii) a aplicação da norma é deficiente, na medida em que são poucas as autuações decorrentes da prática do jogo do bicho (LIMA, 2021).
4.2. O EXCESSO DE LEIS E SUA BAIXA QUALIDADE
Um dos fatores que influenciam na inocuidade das leis é o excesso destas. Apesar de o ordenamento jurídico brasileiro se orientar por meio do modelo civil-law, é fato que o excesso de leis pode gerar uma situação distante da realidade, na medida em que a sociedade não consegue alcançar a velocidade da edição de leis, caso esta seja feita de forma desenfreada. 
Ocorre que a base principal do civil-law se concentra justamente no princípio da legalidade, este se referindo à ideia de que ninguém é obrigado a fazer ou não fazer algosenão em virtude de lei. Tal princípio é ilustrado por meio do art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileio, por meio da premissa: “ ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.
Observe que há um dilema. O ordenamento jurídico orientado pelo civil-law se volta à vinculação social à lei. Entretanto, a edição excessiva de leis pode tornar esse vínculo entre o Direito e a sociedade mais fraco (RIBEIRO, 2011). Assim, 
O excesso de leis gera uma situação super distante da realidade, qual seja: a situação ficta na qual a sociedade supostamente conheceria todas as leis existentes no país – a realidade desta afirmação é por óbvio humanamente impossível. Em verdade, a sociedade quiçá possui conhecimentos básicos acerca da mínima parcela da legislação pátria que a rodeia, entretanto, a esta se lhe impõe muito mais do que isso, eis que é certo que possui o dever de conhecer da existência, validade e eficácia de absolutamente todas as leis, restando vedada qualquer alegação de ignorantia legis (RIBEIRO, 2011).
Nesse sentido,
São leis demais para qualidade de menos. Muitas delas são mal redigidas e servem apenas para confundir os cidadãos e até advogados, juízes e outros profissionais da área jurídica, por serem dúbias e de difícil entendimento e aplicação, causando uma verdadeira erupção de sentimento de litigiosidade, principalmente em questões públicas. Nesse contexto caótico, os especialistas ficam se perguntando quais são realmente as leis que devem reger determinadas relações entre partes ou entre estas e o Poder Público (OLIVEIRA, 2008).
A ineficácia das leis, quando associada ao grande volume de leis de baixa qualidade editadas, pode configurar-se como um grande problema na segurança jurídica de um determinado ordenamento jurídico, na medida em que a segurança se liga justamente à estabilidade da ordem jurídica. Esta, por sua vez, se torna ameaçada pela instabilidade e pela inflação normativa quando o ordenamento se encontra inchado com leis sobrepostas, confusas e sem utilidade prática ao cidadão (CANOTILHO, 2006). Souza (2014) faz um alerta acerca disso, entretanto:
A segurança jurídica não passa pela quantidade de leis produzidas, mas pela qualidade dos textos elaborados. É mais importante para o sistema legislativo ter menos leis com aprimorada forma e efetivo conteúdo, do que ter muitas leis desprovidas de consistência técnica e política. A valorização das instituições públicas e da cidadania também passa pela pelo aperfeiçoamento do processo legislativo. (SOUZA, 2014) 
Assim, a inocuidade das leis em decorrência do problema mencionado pode levar o ordenamento jurídico a uma crise, na medida em que a ignorância com relação às leis prejudica um dos principais princípios norteadores do Direito brasileiro, o princípio da legalidade.
Sobre o tema, segundo Jean-Daniel (2004), é importante que a lei e suas implicações sejam pensadas antes da edição da referida legislação. Nesse sentido, deve-se adotar um processo metódico no momento de elaboração das leis, este dividido em fases interdependentes, cujo objetivo principal seja traçar o caminho a ser percorrido, bem como as técnicas a serem utilizadas durante o processo legislativo (JEAN-DANIEL, 2004). Nesse sentido,
[...] a lei boa é aquela lei que tem qualidade não só do ponto de vista formal, ou seja, texto inteligível, sem (ou com pouca) margem a dúvidas, mas também em seu sentido material. Nesta última perspectiva ocupa-se a legítima material que, como visto, estabelece um rico procedimento para identificação de problemas sociais, com a fundamental participação popular, que podem constituir ou não um estímulo para a atuação do legislador. Em se tratando de caso de edição de lei, isto é, não havendo outra solução possível, deve-se proceder com estudo para decidir o melhor instrumento ou conjunto de instrumentos a ser utilizado, tendo em vista o seu possível impacto e as várias circunstâncias em seu entorno. Além disso, é imperioso que o legislador faça controle do impacto efetivo da lei na sociedade, para verificar se ela atende aos objetivos propostos com vistas a atingir o fim para o qual foi criada. (URBANO, 2010).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ordenamento jurídico brasileiro hoje é um emaranhado muito grande de normas. Tal característica se concentra principalmente no fato de que ele é calcado no princípio da legalidade, este norteador do modelo civil-law.
Um dos problemas enfrentados, entretanto, se concentra na inocuidade das leis editadas, podendo decorrer de vários fatores, que se concentram na má-qualidade das normas e nas baixas legitimidades e efetividades de algumas delas. O desconhecimento acerca das normas também se configura como um problemas, na medida em que o cidadão médio comum é incapaz de conhecer todas as normas, mas mesmo assim, não pode alegar desconhecido da norma, caso precise, em decorrência do próprio princípio da legalidade e do Decreto que institui a Lei de Introdução à Normas do Direito Braisleiro. 
Tal panorama pode ser considerado um grave problema, haja vista que enseja grande insegurança jurídica.
Assim, para que o problema em tela seja resolvido, é preciso que o legislador passe a analisar o problema desde o começo do processo legislativo. A edição vã de leis pode ensejar na morte precoce delas; assim, é necessário que sua edição seja bem pensada, de modo que sua aplicabilidade seja garantida. Para isso, é preciso que seja feito uma análise mais aprofundada do problema que se deseja resolver, bem como haver o apoio externo de especialistas que conheçam de forma aprofundada referido problema. É preciso, nesse sentido, a delimitação real do problema, em todos os seus parâmetros, bem como o conhecimento técnico acerca dele. Além disso, a lei editada deve trazer em seu corpo todos os mecanismos que garantam sua aplicabilidade; nesse sentido, não basta apenas o comando: é necessário que as ferramentas a serem utilizadas também sejam previstas em lei, de modo que não seja preciso a edição de leis com função complementar. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, Francisco. Direito Civil: Introdução. 10 ed. São Paulo: Saraiva, 2018
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7 ed. Coimbra: Almedina, 2006.
COUTINHO, Aldacy Rachid. Força da lei e o projeto de declínio da ordem simbólica. Filosofia e Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. Vitória: Faculdade de Direito de Vitória, 2017
DELLEY, Jean-Daniel. Pensar as leis. Introdução a um procedimento metódico. Cadernos da Escola do Legislativo, Belo Horizonte, v. 7, n. 12, jan. jun. 2004
FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, decisão e dominação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001
FRANÇA, R. L. (coord.) - Enciclopédia Saraiva do Direito São Paulo Saraiva, 1977. v. 48
FRANCHINI, Julia Moyses; MARINATO, Karolyne Crepaldi; SIERVO, Jessica Oliveira. Império da Lei: um estudo acerca da eficácia legislativa levando em conta o vasto número de leis. Jornal Eletrônico. Faculdades Integradas Vianna Júnior, 2 ed, 2017
GALVÃO, Helder. Leis mortas são uma constante na propriedade intelectual. Conjur, 2014. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2014-abr-25/helder-galvao-leis-mortas-sao-constante-propriedade-intelectual. Acesso em 19 de out de 2021
LIMA. Artur de Sousa. A efetividade dos procedimentos policiais relativos ao jogo do bicho: uma análise sobre os termos circunstanciados de ocorrência registrados no município de Horizonte/CE. Monografia apresentada à Universidade Federal do Ceará. Fortaleza: 2021
MICHELLIS, Dicionário. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/inocuo. Acesso em 18 de out de 2021
MIRAGEM, Bruno. Teoria Geral do Direito Civil. 1 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021
OLIVEIRA, Antonio Carlos. Leis inócuas. JusBrasil, 2008. Disponível em: https://oab-ma.jusbrasil.com.br/noticias/628540/leis-inocuas#:~:text=O%20Brasil%20%C3%A9%20o%20pa%C3%ADs,Federal%2C%20embora%20sejam%20juridicamente%20impr%C3%B3prias.. Acesso em 19 deout de 2021
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 27 ed.São Paulo: saraiva, 2013
RIBEIRO, Bruno Servello. O excesso de leis e sua efetividade social. Âmbito Jurídico, 2011. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-87/o-excesso-de-leis-e-sua-inefetividade-social-/. Acesso em 18 de out de 2021
SOARES, Ricardo Maurício Freire. Teoria Geral do Direito. 5 ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019
SOUZA,André Leandro Barbi. Mais vale ter leis com qualidade do que leis em quantidade. 2014. Disponível em: https://www.igam.com.br/gestaopublica/maisvale-ter-leis-com-qualidade-do-que-leis-em-quantidade . Acesso em 19 de out de 2021
URBANO, Hugo Evo Magro Corrêa. Processo Legislativo e qualidade das leis: Análise de três casos brasileiros. Ministério Público do Paraná, 2010. Disponível em: https://crianca.mppr.mp.br/pagina-1799.html. Acesso em 19 de out de 2021 
VENOSA, Sílvio de Sávio. Introdução ao estudo do direito. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2019
VIEIRA, Andréia Costa. Civil law e Common law: os dois grandes sistemas legais comparados. Porto Alegre: S. A. Fabris, 2007.

Continue navegando