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1 NEMOEL ARAUJO NUTRIÇÃO CLINÍCA DOENÇAS PANCREATICAS Pâncreas Glândula alongada, achatada, que está situada no ab- dome superior atrás do estômago Funções endócrinas e exócrinas Estímulos hormonais primários para a secreção pancreá- tica: SECRETINA E COLECISTOQUININA As doenças pancreáticas podem afetar significativamente o estado nutricional, em razão da dupla função desempe- nhada pelo órgão Fatores que influenciam a secreção pancreática du- rante uma refeição Fase cefálica: Inicia-se com a visão, olfato, paladar, e an- tecipa a ingestão alimentar. Leva à secreção de bicarbo- nato e enzimas pancreáticas Fase gástrica: Inicia-se com a distensão gástrica e esti- mula a secreção de enzimas Fase intestinal: Efeito maior sobre as secreções pan- creáticas. Mediada pela liberação de colecistoquinina Pancreatite: Inflamação do pâncreas caracterizada por edema, exsu- dato celular e necrose de gordura De moderada a auto limitante e grave, com autodigestão, necrose e hemorragia do tecido pancreático Pode ser aguda ou crônica Aguda: Inflamação pancreática, leve ou grave, com sintomas lo- corregionais e resposta inflamatória sistêmica que pode variar desde uma discreta elevação da frequência cardior- respiratória até quadros dramáticos de falência múltipla de órgãos, podendo culminar no óbito Crônica: Doença mais indolente, com dor abdominal recorrente, emagrecimento e tardiamente insuficiência endócrina e/ou exócrina do pâncreas Sintomas: Dor contínua ou intermitente de várias intensidades a dor abdominal superior grave Náuseas, vômitos, distensão abdominal e esteatorréia A ingestão alimentar pode piorar os sintomas Casos graves: hipotensão, oligúria e dispnéia Causas de pancreatite: • Alcoolismo crônico • Doença do trato biliar • Cálculos biliares • Drogas • Trauma • Hipertrigliceridemia • Hipercalcemia • Infecções (vírus) 2 Pancreatite aguda: Processo inflamatório do pâncreas, de instalação rápida, que geralmente se manifesta por dor abdominal, vômitos e elevação de enzimas pancreáticas (amilase e lipase) no sangue É uma das patologias mais temíveis no ambiente da tera- pia intensiva, devido a sua alta morbimortalidade Caracterizada por intensa resposta inflamatória sistê- mica e hipermetabolismo, criando um grande estado de catabolismo Principais causas: colelitíase e álcool Diagnóstico: Lipase e amilase comprovação diagnóstica mais co- mum Em casos de necrose extensa do pâncreas, pode haver elevação pequena ou nenhuma da amilase sérica Diagnóstico por imagem Pancreatite aguda leve: Forma mais comum Restrita ao pâncreas, com evolução clínica e laboratorial favoráveis Pode cursar com enzimas pancreáticas e tomografia nor- mais difícil diagnóstico Geralmente é autolimitada Repouso do TGI (2 a 5 dias): resolução da dor abdominal e diminuição das enzimas pancreáticas (amilase e li- pase) Critérios comumente utilizados para início da dieta Alguns estudos mostram que a utilização da dieta via oral desde o início não altera a evolução do processo Dor associada aos mecanismos secretórios de enzimas pancreáticas e bile Objetivo mínimo de estimulação pancreática e biliar Crises agudas via oral zero hidratação IV Crises menos graves dieta de líquidos claros evoluir até hipolipídica A alimentação precoce só vai piorar os sintomas 2 a 3 dias Jejum 3 a 7 dias Dieta líquida hipolipídica > 7 dias Dieta normal (consistência) Monitorar sintomas de dor, náusea e vômitos Progredir dieta de acordo com a tolerância individual Alimentos digeríveis e com baixo teor de lipídios Dieta fracionada Pancreatite aguda grave: Doença sistêmica grave, com necrose pancreática e peri- pancreática e síndrome inflamatória sistêmica Evolui frequentemente com falência de órgãos e compli- cações locais (necrose infectada, pseudocisto e abces- sos) Internação em UTI Estado hipermetabólico e catabólico Alterações metabólicas no pâncreas e em órgãos remotos Demandas metabólicas similares a de um paciente sép- tico Cada vez mais se recomenda o uso de nutrição enteral precoce... - Preservar a integridade da mucosa anatômica e funcional do TGI e de seu tecido linfóide, preser- vando indiretamente a imunidade local e sistê- mica - Reduzir a translocação bacteriana - Reduzir a resposta inflamatória sistêmica - - Melhorar a perfusão pancreática pelo aumento do fluxo esplânico causado pela nutrição enteral - - Evitar a imunossupressão associada à nutrição parenteral NE tem melhores resultados do que a NP A NP pode suplementar a NE A NE às vezes é só para trofismo Pacientes evoluem frequentemente com íleo paralítico e diarreia Iniciar com fórmula monomérica ou oligomérica em pe- quenos volumes Progredir volume e tipo de fórmula (polimérica) con- forme tolerância do paciente Optar fórmulas sem fibras para evitar fermentação e dis- tensão das alças intestinais Fórmulas poliméricas com fibras devem ser usadas quando já não há mais dúvidas quanto à tolerância diges- tiva do paciente à NE Acesso enteral posição após do ângulo de Treitz Acesso enteral posição após do ângulo de Treitz Evitar estímulos no pâncreas exócrino 3 Embora a NE seja desejável, geralmente por intolerância digestiva (distensão abdominal, diarreia, refluxo), por si só não é o suficiente para suprir as necessidades do paciente Casos mais graves nutrição parenteral Até recentemente, a nutrição parenteral era a via padrão para fornecimento de nutrientes ao paciente com pancre- atite aguda. As evidências a favor da nutrição parenteral não foram sustentadas em grandes estudos clínicos O uso de lipídios na nutrição parenteral não está con- traindicado na pancreatite, desde que o nível de TG não ultrapasse 400mg/dL Recomendações nutricionais na pancreatite aguda grave: VET: 25 a 35Kcal/Kg/dia Ch: 50 a 60% (5mg/Kg/min) Ptn: 1,2 a 1,5/Kg/dia Lipídios: < 30% (Alto teor de TCM) Pancreatite crônica: Dano irreversível do pâncreas com o desenvolvimento de evidências histológicas de fibrose e destruição de tecido exócrino e endócrino 50% dos pacientes apresentam desnutrição Inflamação hipermetabolismo Aspectos clínicos sugestivos de pancreatite crônica: Dor abdominal Perda de peso Subnutrição Esteatorreia Níveis séricos elevados de lipase e amilase (durante exa- cerbações da doença) Crises recorrentes de dor epigástrica de longa duração que pode irradiar para as costas As refeições podem precipitar a dor À medida que progride, as células acinares são lenta- mente destruídas e a dor desaparece Náuseas, vômitos e diarreia Diminuição da secreção enzimática, resultando em má di- gestão e esteatorreia Azotorreia com a progressão da doença Deficiências de vitaminas lipossolúveis, cálcio, zinco, magnésio e tiamina Aumento das necessidades energéticas Mais de 80% dos pacientes podem ser tratados adequa- damente com suplementação medicamentosa de enzimas pancreáticas e alimentação por via oral Terapia nutricional adequada + controle da dor impacto positivo no estado nutricional NE indicada em apenas 5% dos casos NP apenas 1% dos casos Objetivos da terapia nutricional: • Prevenir mais dano ao pâncreas • Diminuir o número de crises de inflamação aguda • Aliviar a dor • Diminuir a esteatorréia • Corrigir a desnutrição Evitar refeições grandes com alimentos com alto teor de lipídios Evitar álcool TCM aliviar esteatorréia e levar ao ganho de massa corporal Deficiência vitamina B12 protease pancreática cliva a ligação entre a vitamina B12 e sua proteína car- readora Terapia enzimática suplementar Destruição pancreática extensa intolerância à glicose: Tratamento dietético similar ao utilizado no DM Recomendações nutricionais paraa pancreatite crô- nica: VET: 35Kcal/Kg/dia Carboidratos: normoglicídica (carboidratos complexos) Proteínas: 1,0 a 1,5g/Kg/dia Lipídios: 30% do VET (se bem tolerado) se não houver ganho de peso e a esteatorreia persistir, é indicada a res- trição de 20%, com utilização de TCM Quando a via oral é insuficiente... Suplemento oral com proteína hidrolisada, TCM e vitami- nas lipossolúveis Caso clínico: Michael e estudante e universitário, branco, 25 anos, que foi atropelado por um carro há três anos. Após o acidente, seu baço foi removido e a recuperação pareceu impercep- tível; contudo, por cerca de seis meses, Michael foi inca- paz de consumir as refeições com seus amigos e obser- vou perda de peso de 11Kg. Ele mede 1,83m e pesa 72Kg; antes, o seu peso usual era de 83Kg. Os médicos estão intrigados, porém identificaram pancreatite crônica como resultado das lesões aos seus órgãos internos. Mi- chael reclama de dor pós-prandial e esteatorréia em todas as refeições. 1. Qual o diagnóstico nutricional de Michael? 2. Que alterações dietéticas poderiam ser úteis? 3. Michael precisa de terapia nutricional? 4. O que é pancreatite? 5. Diferencie a pancreatite aguda da crônica. 6. Quais as causas de pancreatite? 7. Qual a conduta nutricional na pancreatite aguda leve? E na aguda grave? 8. Qual a conduta nutricional na pancreatite crônica?
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