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Urgências e emergências em Endodontia A dor de origem pulpar ou perirradicular corresponde a cerca de 90% dos casos de emergência em consultórios dentários, sendo que, em muitas vezes, a intervenção endodôntica se torna imprescindível para alivio imediato dos sintomas. O sucesso do tratamento emergencial, caracterizado pela remissão da sintomatologia, é gratificante para ambos, profissional e paciente, e contribui decisivamente para que a confiança do paciente seja conquistada Emergência x Urgência Urgência não representa uma condição séria, que necessite de intervenção imediata Já a emergência requer tratamento imediato para restabelecimento do conforto do paciente. Para saber se o caso é realmente de emergência, faça algumas perguntas: Seu problema está interferindo no sono, na alimentação, no trabalho, na concentração e em outras atividades diárias? Há quanto tempo esse problema o aflinge? Você precisou tomar algum medicamento para aliviar a dor? Ele foi eficaz? Identificadas e diferenciadas essas duas condições, deve se proceder da forma mais conveniente, que seria: tratamento imediato para as emergências e encaixe para os casos de urgência, levando em consideração a conveniência do paciente e do profissional Diagnóstico O diagnóstico correto é fundamental para a resolução do problema, visto que influenciará a tomada de decisão para o tratamento. Para chegar a um diagnóstico correto, devem ser realizados sistematicamente os seguintes exames: Subjetivo: história médica e dental. Objetivo: exame clinicovisual, testes de sensibilidade (ou “vitalidade”) pulpar (térmico, elétrico, cavidade), testes perirradiculares (palpação e percussão), sondagem periodontal Exame radiográfico, complementado, se necessário, por tomografia computadorizada de feixe cônico. Tratamento Várias alterações pulpares e perirradiculares podem levar a dor e/ou tumefação. Algumas condições não requerem intervenção endodôntica para alívio da sintomatologia. Essas geralmente representam quadros de urgência. Porém, as verdadeiras emergências endodônticas requerem a intervenção no sistema de canais radiculares. Dor de origem pulpar Pode ser o resultado da estimulação de duas fibras nervosas sensoriais, oriundas do gânglio trigeminal. Nos estágios iniciais, essa dor se caracteriza por ser rápida, provocada por estímulos externos e desaparece após remoção do estímulo. Normalmente, em situações como essa, não é necessário tratamento endodôntico. (Fibras do tipo A) Essa situação pode ser agravada. A dor torna-se grave, contínua, excruciante, espontânea, fastidiosa e, às vezes, difusa, própria de pulpite irreversível sintomática. Nesses casos, há a necessidade de intervenção endodôntica para alivio da sintomatologia. (Fibras tipo C) Condições associadas a polpas vitais que podem requerer tratamento para alívio da sintomatologia Hipersensibilidade dentinária Pulpite reversível e pulpite irreversível. Com exceção da hipersensibilidade dentinária, que geralmente ocorre apenas pela mera exposição da dentina à cavidade oral, bactérias representam o principal fator etiológico das pulpites. Na pulpite reversível, a remoção do agente infeccioso (cárie) é, na maioria das vezes, suficiente para o alívio da dor. Na pulpite irreversível, além da remoção da cárie, há a necessidade de se realizar um procedimento invasivo na polpa, cuja profundidade de atuação (pulpotomia, com remoção da polpa coronária, ou biopulpectomia, com remoção de toda a polpa), dependerá do nível de degeneração tecidual. Nesses casos, apenas a remoção da causa (cárie) não é suficiente para a remissão dos sintomas. Condições associadas a polpas vitais que podem requerer tratamento para alívio da sintomatologia: Hipersensibilidade dentinária Pulpites reversível e irreversível Com exceção da hipersensibilidade dentinária, microrganismos representam o principal fator etiológico das pulpites. Na pulpite reversível, a remoção do agente infeccioso (cárie) é, na maioria das vezes, suficiente para alivio da dor. Na pulpite irreversível, além da remoção da cárie, há a necessidade de realizar um procedimento invasivo na polpa, cuja profundidade de atuação (pulpotomia ou tratamento endodôntico) dependerá do nível de degeneração tecidual. Nesses casos, apenas a remoção da causa (cárie) não é suficiente para remissão dos sintomas. Condições que não requerem terapia endodôntica Hipersensibilidade dentinária Pulpite reversível. Hipersensibilidade dentinária É caracterizada por: Dor aguda, fugaz, localizada e provocada após estímulos mecânicos, osmóticos, térmicos e bacterianos O principal fator de risco é a recessão gengival associada com escovação ou doença periodontal Associada à recessão gengival Tratamento O tratamento consiste em realizar a oclusão dos túbulos expostos, reduzindo com isso a atividade nervosa sensorial Tem sido sugerido que o tratamento para a hipersensibilidade dentinária se inicie com o paciente utilizando um dentifrício com agente dessensibilizador que pode aliviar a sintomatologia quando usado 2 vezes por dia, massageando o dente afetado por cerca de 1 minuto Dentifrícios com arginina/carbonato de cálcio têm apresentado excelentes resultados no alívio da hipersensibilidade dentinária Se a hipersensibilidade não se resolver ou ficar mais acentuada, deve-se realizar o tratamento no consultório, que consiste, basicamente, em promover a oclusão dos túbulos expostos por um meio físico ou químico Física, utilizando-se resina, cimento de ionômero de vidro ou verniz ou Química, utilizando-se oxalatos ou fluoretos a) Aplicação de um gel de oxalato de potássio por três minutos sobre a área de dentina exposta, sob isolamento relativo. Pode haver recidiva após curto período. b) Aplicação de adesivos dentinários, que agem por hibridização com a dentina, ou de cimento de ionômero de vidro fotopolimerizáveis, sob isolamento absoluto. É mais duradouro que o oxalato OBS.: Em casos de abrasão ou atrição, onde houver perda de estrutura dentária na cervical do dente associada à hipersensibilidade, a área deve ser restaurada com resina composta ou cimento de ionômero de vidro Pulpite Reversível Quando presente, a dor é semelhante à descrita para a hipersensibilidade dentinária. Os exames revelam cárie profunda e/ou recidivante, restaurações extensas, recentes ou fraturadas. Não há exposição pulpar. Tratamento Consiste na remoção do tecido cariado ou restauração defeituosa, proteção da dentina e aplicação de uma adequada restauração coronária. Em casos de cárie muito profunda, onde não há tempo disponível para restaurar o dente definitivamente, aplica-se um curativo com cimento à base de óxido de zinco e eugenol ou de ionômero de vidro e agenda-se o paciente para dias depois, quando será confeccionada a restauração definitiva Caso o clínico opte por não remover uma camada de dentina cariada no fundo da cavidade para evitar expor a polpa, deve-se aplicar um curativo com cimento de óxido de zinco e eugenol ou forro com hidróxido de cálcio associado à restauração provisória com ionômero. Nesses casos, após 30 a 45 dias, remove-se a restauração temporária e o remanescente de cárie. Confirmada a ausência de exposição pulpar, promove-se então a proteção da dentina seguida de restauração definitiva do dente Condição que requer intervenção endodôntica É representada pela pulpite irreversível sintomática. Pulpite irreversível sintomática Nem sempre ocorre dor. A ocorrência da sintomatologia dolorosa em casos de pulpite irreversível é uma exceção. Clinicamente, o profissional sabe que uma polpa está inflamada irreversivelmente quando está exposta por cárie e/ou o dente apresenta dor grave, contínua, excruciante, fastidiosa,espontânea e, às vezes, difusa O paciente comumente relata uso de analgésicos, o qual pode ou não ser eficaz, dependendo do estágio da inflamação Em alguns casos, pode haver dor à percussão. Tratamento (Quando há tempo disponível) 1. Preparo inicial: Anestesia, raspagem e polimento coronário. Inicia o isolamento absoluto; descontaminação do campo operatório com hipoclorito de sódio a 2,5% ou álcool iodado a 2% e acesso à câmara pulpar. 2. Exploração do canal: Nessa fase obtemos o comprimento de trabalho. Durante a exploração de canais mais amplos, a polpa deve ser descolada das paredes dentinárias pela ação do instrumento. 3. Pulpectomia: Em canais mais amplos, realiza-se esse procedimento com limas rabo de rato ou extirpa nervos. Esses instrumentos são selecionados de acordo com o diâmetro do canal. 4. Completo preparo químico-mecânico (Rever técnica progressiva e/ou regressiva) 5. Obturação do canal radicular: Se não houver dor a percussão, pode-se proceder a obturação do canal radicular. 6. Medicação intracanal: Se por qualquer limitação (tempo, habilidade do operador, anatomia, dor à percussão) houver a necessidade de uma consulta adicional, utilizamos medicação intracanal com pasta de hidróxido de cálcio associado a um veículo inerte (glicerina, soro fisiológico, água destilada ou anestésico) preenchendo toda a extensão do canal 7. Selamento coronário (Quando não há tempo disponível) Uni rradiculares : pulpectomia e medicação intracanal (Decadron Colírio ou Otosporin) Multirradiculares: pulpectomia do canal mais amplo (distal nos molares inferiores e palatino nos molares superiores). Pode-se optar também pela pulpotomia. Nos dois casos, deve-se proceder medicação intracanal com corticosteroide (Decadron Colírio ou Otosporin); Selamento coronário e prescrição de analgésico / anti-inflamatório. (Ibuprofeno 600 ou 400mg, de 6 em 6 horas, por um ou dois dias. Se houver intolerância com AINEs, prescrever Paracetamol de 650 a 1000mg. Dor de origem perirradicular A agressão microbiana aos tecidos perirradiculares pode induzir a liberação de mediadores químicos envolvidos no desenvolvimento de uma resposta inflamatória aguda. Como a causa da dor perirradicular de origem infecciosa é a presença de bactérias no interior do sistema de canais radiculares, o tratamento para essa condição é a eliminação, ou pelo menos a redução da população bacteriana intracanal. Uma vez que as bactérias localizadas na porção apical do canal são as principais envolvidas na agressão aos tecidos perirradiculares, parece obvio que aquele objetivo apenas é logrado quando o canal é instrumentado em toda sua extensão. Porém, sabe-se que a abertura coronária e a limpeza dos 2/3 coronários, pode-se ter o alívio de sintomas devido a diferença de pressão (perirradicular e atmosférica), que induz uma drenagem sufiente para reduzir a compressão ao nível do ligamento periodontal apical. Contudo, a remissão de sintomas é mais previsível quanto o canal é limpo e desinfetado em toda sua extensão. Controle da dor após início de tratamento endodontico Esse controle pode ser feito com as seguintes medidas: Emprego de analgésicos de longa duração (Bupivacaína) durante a execução do procedimento Prescrição de analgésicos e anti-inflamatórios (Ibuprofeno de 600 ou 400mg a cada 6h). Outros agentes como Diclofenaco, Naproxeno, Cetoprofeno e piroxicam também são eficazes no controle da dor de origem endodôntica. Em caso de dor severa: associar paracetamol de 650 a 1000mg no intervalo das doses do Ibuprofeno Pacientes com intolerância aos AINEs: Em caso de dor aguda, é recomendado paracetamol associado a um opioide (60mg de codeína ou 10mg de hidrocodona). Tratamento e procedimentos Necrose pulpar com lesão perirradicular sintomática (periodontite apical aguda) Dor intensa à mastigação Teste positivo de percussão e, às vezes, de palpação Dor ao toque: o paciente tem sensação de “dente crescido” por causa da ligeira extrusão do dente, no alvéolo, em decorrência do edema no ligamento periodontal apical Radiograficamente, pode haver espessamento do espaço do ligamento periodontal ou uma lesão radiolúcida pode estar presente Tratamento Se o conteúdo tóxico no canal radicular é o responsável pela inflamação perirradicular, então a limpeza completa do canal em toda sua extensão, por meio de técnicas progressivas de instrumentação, é o procedimento de escolha para alívio da dor É importante lembrar que o completo preparo químico-mecânico só não deve ser realizado na consulta de emergência se houver limitação técnica do operador, carência de tempo ou interferências anatômicas. 1ª opção: 1. Preparo inicial –Utilizar anestesia 2. Inundação da câmara pulpar com NaOCl a 2,5%; Desinfecção progressiva; Limpeza por ampliação dos 2/3 coronários com brocas de Gates-Glidden ou outros instrumentos acionados a motor 3. Limpeza apical e obtenção do CT com limas de pequeno calibre e irrigações abundantes com NaOCl a 2,5%; 4. Completo preparo químico-mecânico Colocação de medicação intracanal com pasta de hidróxido de cálcio/ paramonoclorofenol canforado/ glicerina (HPG); 5. Selamento coronário e prescrição de analgésico/anti-inflamatório; 6. Alívio de oclusão. 2ª opção (Limitação de técnica, tempo, anatomia): 1. Preparo inicial –Utilizar anestesia com bupivacaína 2. Instrumentação dos terços médio e cervical, preservando os 3 a 4mm apicais e irrigando- se com NaOCl a 2,5%; 3. Remoção do excesso de NaOCl do canal por meio de aspiração. 4. Não secar o canal; 5. Colocar uma mecha de algodão embebida em NaOCl na câmara pulpar, reduzindo a população bacteriana; 6. Selamento coronário e prescrição de analgésico/anti-inflamatório; 7. Alívio de oclusão. Abscesso perirradicular agudo É caracterizada por: Dor espontânea, pulsátil e à mastigação Testes de percussão e palpação positivos Pode haver mobilidade dental e também envolvimento sistêmico, como febre Tratamento O tratamento varia conforme o estágio de evolução do abscesso. Estágio inicial Não há tumefação. A dor pode ser excruciante. O diagnóstico clínico usualmente é confundido com a lesão perirradicular sintomática e só é confirmado quando da visualização de exsudato purulento drenando pelo canal após a abertura coronária. Tratamento Preparo inicial Drenagem da coleção purulenta pelo canal (Figura 20.7). Esperar por 15 a 30 minutos até que todo o exsudato se esvaia Tratamento como já recomendado para a lesão perirradicular sintomática Medicação intracanal com a pasta HPG ou HCX Selamento coronário com cimento temporário Prescrição de analgésico/anti-inflamatório. Em evolução Semelhante ao estágio inicial, mas agora com tumefação consistente, endurecida e não flutuante A dor é pronunciada quando o abscesso já se localiza no espaço subperiosteal, por causa da rica inervação do periósteo. Um dramático alívio da dor ocorre após a ruptura do periósteo pelo exsudato purulento, atingindo os tecidos moles supraperiosteais Tratamento O mesmo da fase inicial Se a tumefação for intraoral, é recomendável incisar a mucosa, mesmo na ausência de flutuação. Na maioria das vezes, apenas sangue drenará pela incisão Se o clínico observa que não há mais drenagem ativa de pus, não é necessário colocar um dreno. Se algum exsudato for ainda observado, pode-se aplicar um dreno de lençol de borracha que deve ser removido após 1 ou 2 dias Quando a tumefação for exclusivamente extraoral, especialmente associada à celulite (endurecida, sem flutuação), é recomendável incisar e aplicar um dreno de lençol de borracha ou de Penrose, para manter uma via aberta para drenagem Incisão para drenagem extraoral deve ser preferencialmente realizada em ambiente hospitalar, uma vez que, se houvercomplicações, o paciente pode ser prontamente assistido Em alguns casos de tumefação extraoral endurecida, mas ainda não disseminada pelos espaços anatômicos da cabeça e pescoço, pode-se prescrever a aplicação de calor intraoral (por bochechos com solução aquecida) e frio externamente sobre a área de tumefação. Evoluído Quadro clínico semelhante às fases antecessoras, mas agora com tumefação flutuante Tratamento Anestesia Incisão da área flutuante (Intra ou extraoral) Isolamento absoluto Abertura coronária e drenagem do pus pelo dente Instrumentação de todo canal com técnica progressiva Medicação intracanal com pasta HPG e então selamento coronário Se a incisão para drenagem for extraoral, deve-se colocar um dreno. Se for intraoral, o dreno é dispensável Prescrição de bochechos com solução aquecida e de analgésico/anti-inflamatório. Avaliar a necessidade do emprego de antibióticos.
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