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PUERICULTURA MILENA BAVARESCO DEFINIÇÃO o A puericultura consiste na consulta médica periódica de uma criança onde devem estar presentes: orientações educativas, ações de promoção da saúde, ações relacionadas à prevenção de doenças e observação dos riscos e vulnerabilidades sob a qual está submetida a respectiva criança. o A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), consideram como adolescentes aqueles que têm de 10 a 20 anos incompletos, ou seja, entre 10 e 19 anos 11 meses e 29 dias de idade. o Atualmente, diferente do que foi considerado há um tempo, a puericultura não se restringe a uma consulta meramente educativa do médico direcionado à criança e sua família, mas parte da importância de pensar junto com a família da criança orientações que façam sentido para a mesma com o intuito de promover uma vida mais saudável, minimizando efeitos das condições adversas a qual a criança e sua família podem estar submetidas. o Além disso, é papel da puericultura observar fatores de risco e vulnerabilidades que cercam as diferentes fases do processo de crescimento e desenvolvimento da criança. o Enfocar nos riscos consiste na compreensão de que diferentes grupos populacionais (nos quais as crianças estão inseridas) apresentam riscos diferenciados de danos à saúde devido a características individuais/exposição a fatores ambientais/circunstâncias sociais. o Já o conceito de vulnerabilidade permite compreender que as crianças possuem características e comportamentos individuais (baixo peso ao nascer, obesidade, deficiências imunológicas), uma dinâmica familiar e o modo como a criança se expressa (agressividade, agitação, timidez), os ambientes em que convive (escola, espaços de lazer) e as oportunidades que tem de acessar serviços de saúde – tudo isso determinada se tal criança será mais ou menos suscetível a determinados agravos. FREQUÊNCIA DE CONSULTAS o Considerando os conceitos acima citados relativos à risco e vulnerabilidade, a puericultura deve planejar suas ações com base nas características específicas da criança tomando como base cada faixa etária e as demandas envolvidas no processo de crescimento e desenvolvimento correspondente. o Nos primeiros 2 anos de vida as consultas são mais frequentes devido ao processo de crescimento e desenvolvimento ser mais intenso, por isso, no 1º ano de vida é recomendado um mínimo de 7 consultas de rotina: na 1ª semana, no 1º/2º/4º/6º/9º e 12º mês; além disso, no 2º ano de vida, deve se ter um mínimo de 2 consultas de rotina: no 18º e 24º mês. o Além da oportunidade de avaliar o desenvolvimento da criança, tal organização da frequência de consultas adotada pelo Ministério da Saúde toma como base o calendário de vacinação, permitindo a verificação do cartão vacinal em meses oportunos: ao nascimento, com 1, 2, 3, 4, 5, 6, 12 e 15 meses. o A partir dos 2 anos de idades as consultas podem se tornar anuais. Outras consultas podem ser feitas conforme necessidades devido a problemas de saúde. PUERICULTURA PUERICULTURA PUERICULTURA MILENA BAVARESCO CONSULTA COMPLETA o O nascimento de uma criança representa uma mudança importante no cotidiano de uma família, logo, é preciso que o profissional que irá atender a criança esteja atento às possíveis dúvidas, inquietações e inseguranças relativas ao cuidado com o bebê. o Logo, a primeira etapa de uma consulta completa é apresentar-se, perguntar o nome dos familiares e da criança e então ouvir não somente os responsáveis, mas também a própria criança, estimulando sua participação ainda que a mesma não tenha o domínio da linguagem. o Como dito anteriormente, idealmente, a primeira consulta de uma criança deve ser na sua 1ª semana de vida, porém, algumas vezes é possível que a primeira consulta de uma criança seja quando a mesma esteja em idade mais avançada, até mesmo na adolescência. o Independente da etapa da infância, é preciso realizar uma anamnese completa de modo a compreender melhor aspectos da vida e da saúde da criança e de sua família, devendo ser realizadas perguntas que auxiliem na compreensão de quais pessoas estão envolvidas no cuidado à criança, o que construirá a base para o atendimento integral da mesma. o A anamnese deve ser completa, com todos os itens de uma anamnese comum, mas devendo também abordar: ANAMNESE PEDIÁTRICA ESTRATÉGIA DE INTERAÇÃO o Alguns grupos de que estudam especificamente a Puericultura têm colocado as habilidades de comunicação como ponto crucial na relação médico- paciente, as quais podem ser inclusive compreendidas sob a ótica da Pediatria. o O grupo Bright Futures ressalta que “toda criança merece ser saudável e que a saúde ideal envolve uma relação de confiança entre o profissional de saúde, a criança, a família e a comunidade como parceiros na prática em saúde” e que, as consultas devem ser baseadas nas questões levantadas pelo paciente e sua família, logo, criaram um documento com “perguntas- gatilho” que podem ser feitas pelo médico como forma de facilitar que os pacientes venham a relatar suas questões. 1 Antecedentes pessoais da criança com informações desde a sua concepção, com ênfase nos antecedentes patológicos e alimentares, questionando acerca da gestação, nascimento e período neonatal. 2 Desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM) onde é preciso colher um relato da família sobre o aparecimento de habilidades motoras, aquisição de linguagem gestual e falada, controle esfincteriano e desenvolvimento socioafetivo da criança com membros da família e amigos. 3 Antecedentes vacinais devendo além de registrar as vacinas tomadas e períodos em que foram realizadas, registrar eventos adversos (locais ou sistêmicos) caso tenham ocorrido. 4 História de formação da família, relacionamento dos pais e aceitação da criança neste processo. 5 Habitação é um ponto importante para a compreensão do profissional acerca das condições de vida e saúde da criança e sua família, de modo a conseguir compreender se existem fatores de risco para doenças respiratórias, infecto-parasitárias e dermatológicas. 6 Hábitos atuais da criança também devem ser questionados à família, abarcando seus respectivos hábitos: alimentares, intestinais, urinários, sono, higiene corporal e bucal, lazer e atividade física. Neste ponto, é relevante também questionar, quanto tempo a criança fica exposta a telas de telefone, tablets, televisão, etc. PUERICULTURA MILENA BAVARESCO o Em seguida, alguns membros do Bright Futures lançaram um documento com estratégias práticas para facilitar a interação entre médicos, pacientes e suas famílias durante as consultas de Puericultura: EXAME FÍSICO o No momento do exame físico, é preciso lançar mão de algumas outras estratégias de interação (além das citadas acima) como forma de estabelecer uma relação de confiança com a criança, uma vez que estar em contato com uma figura desconhecida como a do médico muitas vezes pode causar estresse para a mesma. o Logo, ter paciência e calma neste momento é fundamental, pois é importante que seja realizado um exame físico completo durante as consultas da Puericultura. o Deve-se explicar para a criança (e para os pais) o que será feito no momento do exame físico independentemente da idade que esta tenha. o Apresentar à criança os instrumentos que serão utilizados em cada etapa do exame (estetoscópio, espátula, fita métrica, etc.) auxilia na compreensão da mesma acerca de tais objetos, o que pode facilitar a tarefa do médico. o Além disso, é importante que durante toda a consulta algum dos responsáveis esteja no consultório podendo solicitar a ajuda destes durante as etapasdo exame físico. o Na Puericultura nem sempre será possível realizar o exame físico na sequência crânio-caudal com costuma- se realizar nas outras áreas da Medicina, assim, é possível iniciar parte do exame físico com a criança ainda no colo de um dos seus familiares. o Além disso, uma boa estratégia é deixar o exame da orofaringe e a otoscopia para serem realizados ao final, pois estes costumam causar maior desconforto na criança e se feitos logo no início podem dificultar a avaliação dos outros órgãos e sistemas. o Lembrando que a 1ª consulta de toda criança deve ser ainda na sua 1ª semana de vida é importante ressaltar alguns, dentre todos os sistemas que não devem ser esquecidos nesta consulta com o recém-nascido (tabela abaixo). o Segundo o Ministério da Saúde, as consultas seguintes à primeira não devem obrigatoriamente contar com todos os elementos de um exame físico completo, no entanto, até os 10 anos de idade recomenda que procedimentos específicos não deixem de ser realizados: dados antropométricos, rastreamento para displasia evolutiva do quadril, ausculta cardíaca, avaliação da visão e audição, aferição da pressão arterial e rastreamento para criptroquirdia. DADOS ANTROPOMÉTRICOS o A avaliação do crescimento e desenvolvimento faz parte da avaliação básica da Pediatria, cabe aqui destacar a contribuição dos dados antropométricos nesta avaliação. PUERICULTURA MILENA BAVARESCO o Esse acompanhamento sistemático permite o monitoramento das condições de saúde e nutrição da criança assistida. o Nesta etapa do exame físico deve-se realizar as medidas de: peso, comprimento/altura, índice de massa corpórea (IMC), perímetro cefálico, perímetro torácico (até os 3 anos de idade) e circunferência abdominal. o As informações do peso, altura, IMC e perímetro cefálico devem ser transpostas para as curvas disponíveis na Caderneta de Saúde da Criança e as informações devem ser compartilhadas com os pais. o Os gráficos disponíveis na Caderneta são baseados em recomendações da OMS para crianças de qualquer país ou etnia, no entanto, o diagnóstico de algum desvio no crescimento da criança deve ser analisado com base no meio e condições de vida que a mesma se encontra. o Os parâmetros disponíveis na caderneta para avaliação do crescimento utilizam os seguintes gráficos: perímetro cefálico (até os 2 anos), peso x idade (0 até 10 anos), comprimento/altura x idade (0 até 10 anos) e IMC x idade (0 até 10 anos). o As curvas possuem diversos pontos de corte classificados em escores z que indicam unidades do desvio-padrão do valor da mediana (escore z 0 ou linha verde), um ponto que não esteja entre as linhas vermelhas (escore z ≤ +2 e ≥ -2) indica um problema de crescimento, logo, uma criança que está crescendo adequadamente tem pontos do gráfico paralelo à linha verde (acima ou abaixo dela). o A aferição do peso e comprimento/altura, é realizada por métodos diferentes a depender das características da criança examinada. o O peso pode ser aferido por meio da balança pediátrica que deve ser utilizada para crianças de até 25 kg ou 2 anos ou até a criança poder ficar em pé, quando então poderá ser pesada na balança em pé. o A medida do comprimento é realizada com a régua antropométrica com haste fixa que deve ficar na cabeça e a haste móvel é colocada logo abaixo do pé da criança, mais uma vez é fundamental o auxílio dos pais neste momento; em crianças a partir dos 2 anos é possível medir a altura da criança com estadiômetro onde a mesma em pé e cabeça retificada. o O IMC já foi validado como bom marcador de adiposidade e sobrepeso, apresentando correlação com outros parâmetros que avaliam porcentagem de gordura corpórea e, em crianças, alguns estudos mostram que a mensuração do IMC na infância pode ser preditivo do IMC na adolescência e idade adulta. o Quando o IMC da criança está entre os escores z ≥ -2 e +1, fala-se que a mesma está com IMC adequado. o O perímetro cefálico (PC) deve ser medido em todas as consultas até os 2 anos de vida. A circunferência da cabeça deve ser medida com uma fita métrica maleável envolvendo os maiores diâmetros frontoccipital na testa no sulco supra orbital e na porção mais proeminente do occipital. o Na Caderneta do Ministério da Saúde é possível correlacionar tal medida com a idade, de modo que, se escore z < -2 fala-se que o PC está abaixo do esperado e se > +2 está acima do esperado para idade. PUERICULTURA MILENA BAVARESCO o A medida do PC é um dado clínico fundamental no atendimento pediátrico, podendo constituir a base diagnóstica de um grande número de doenças neurológicas, sobretudo, a microcefalia. o Segundo a OMS, a microcefalia deve ser diagnosticada dentro das primeiras 24h até a 1ª semana de vida se a medida do PC estiver no escore z < -2, em casos de medidas < -3 no escore z, fala- -se em microcefalia grave. o Para RN a termo, pode-se usar os gráficos de idade x PC, no entanto, em se tratando de prematuros recomenda- se utilizar como referência a tabela Estudo Internacional de Crescimento Fetal e do Recém-Nascido: Padrões para o Século 21 (Intergrowth). o Além disso, é possível relacionar os gráficos de PC com os gráficos de peso x comprimento/altura, pois sempre que houver uma ascensão do traçado de PC deve haver uma ascensão do traçado peso x altura. o Em caso de traçado positivo do PC com traçado negativo do peso x altura em mais de 2 consultas pode ser indicativo de macrocefalia. RASTREAMENTO PARA DISPLASIA EVOLUTIVA DE QUADRIL o Outro ponto importante na avaliação do exame físico na Puericultura é o rastreamento para displasia do quadril. o Apesar de não haver consenso sobre a efetividade da redução dos desfechos clínicos, o rastreamento auxilia no diagnóstico precoce (antes dos 3-6 meses) e, com isso, na escolha de tratamentos menos invasivos e com menores riscos de complicações. o Os principais fatores de risco para displasia do desenvolvimento do quadril são: sexo feminino, história familiar de displasia congênita do quadril e parto com apresentação pélvica. o Duas manobras devem ser realizadas logo nas primeiras consultas até os 2 meses, testando um membro de cada vez a partir das manobras de Barlow (provocativa do deslocamento) e Ortolani (sua redução). o Quando a manobra de Ortolani é positiva faz-se o diagnóstico de displasia do desenvolvimento do quadril indicando avaliação com cirurgião ortopédico especialista que avalie a melhor abordagem. o Após os 3 meses é possível avaliar se a criança possui limitação da abdução dos quadris e encurtamento de um dos membros. PUERICULTURA MILENA BAVARESCO o Quando a criança começa a deambular é pode-se observar se há Trendelenburg positivo, ou seja, a não sustentação da pelve após a elevação do membro inferior do lado oposto. AUSCULTA CARDÍACA o Assim como em todo atendimento médico, a ausculta da frequência cardíaca (FC) deve ser realizada na Puericultura. Logo, é importante saber as faixas de FC, bem como a FC média em cada etapa da infância, podendo em caso de discrepâncias pensar em possibilidades diagnósticas: AFERIÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL: o Segundo o Ministério da Saúde, recomenda-se que a pressão arterial (PA) seja aferida em crianças uma primeira medida aos 3 anos de idade e segunda medida aos 6 anos, no entanto, outras referências não fazem menção a idades específicas para a medida. o O manguito apropriado deve ter largura correspondente a 40% da circunferência do braço (no ponto médio entre o acrômio e olécrano). o Caso não haja o manguito com nº ideal para a criança, deve-se escolher um imediatamente maior que deixe a fossacubital livre e com cumprimento suficiente para circundar o braço da criança com o mínimo de superposição; manguitos menores podem falsear elevações na PA. o A medida deve ser feita de preferência no braço direito, com a criança em repouso de 3 a 5 minutos. o Os valores de PA sistólica e diastólica podem ser relacionados com o percentil da estatura da criança e o sexo da mesma em tabelas apropriadas. Tais tabelas PUERICULTURA MILENA BAVARESCO com percentis constam com valores de idade de 1 a 17 anos (abaixo). o A PA normal é inferior ao percentil 90, pré-hipertensão entre percentil 90-95 e hipertensão é definida por valores superiores ao percentil 95. RASTREAMENTO PARA CRIPTORQUIDIA o A criptorquidia é uma relevante anomalia congênita com isso, o Ministério da Saúde recomenda que, caso os testículos não sejam palpáveis ou sejam retráteis na 1ª consulta da Puericultura o rastreamento deve ser realizado nas próximas consultas de rotina. o Se aos 6 meses não houver testículos palpáveis, a criança deve ser encaminhada à cirurgia pediátrica. o Se forem retráteis, deve ser monitorado a cada 6-12 meses entre os 4-10 anos de idade, pois pode ocorrer da criança crescer mais rápido do que o cordão espermático e haver saída dos testículos da bolsa escrotal. o Vale ressaltar que, o tratamento precoce da criptoquirdia resulta em diminuição do risco de câncer de testículo e problemas de fertilidade em adultos. o Avaliações específicas da saúde da criança Algumas avaliações específicas de saúde devem ser realizadas na criança, tanto no período em que a mesma é recém- nascida, quanto em fase pré-escolar e escolar: PUERICULTURA MILENA BAVARESCO DIAGNÓSTICOS o Ao final de toda consulta de Puericultura devem ser elaborados no mínimo 6 diagnósticos (havendo outros diagnósticos estes devem ser elencados após). Como vimos na aula de Dra. Nathalia, podemos usar o mnemônico “CEVADA” para memorizar estes diagnósticos:
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