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A Carta de Paulo aos Gálatas - Carlos

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A Carta de Paulo aos Gálatas: Uma porta de entrada[footnoteRef:1] [1: Este artigo foi publicado no Semente Teimosa, boletim informativo do CEBI Goiás, edição de agosto de 2021 – ano 25 Nº 139] 
Há 50 anos, em nossa realidade brasileira, o mês de setembro é dedicado ao estudo e aprofundamento bíblico. Neste ano, somos desafiados e desafiadas a ler a carta que Paulo escreve às comunidades da região da Galácia. Como podemos encontrar, na experiência de Paulo com estas comunidades, luzes para continuarmos firmes na luta nestes tempos tão sombrios? Essa é a nossa grande provocação e uma importante chave de leitura para este livro.
As comunidades da província romana da Galácia, na região da atual Turquia, eram formadas por uma grande mistura de etnias. A carta dá a entender que praticamente não havia judeus entre eles (Gl 4,8). São comunidades formadas por gente pequena, explorada pelos mercenários e latifundiários. Estudos apontam que havia muitos escravos. De fato, é em meio a este povo pobre que Paulo encontrou abrigo quando passou por uma situação de doença (Gl 4,13-14.15b), ocorrida na sua segunda viagem (At 16,6). A doença não sabemos qual era. O certo é que ele foi acolhido neste momento de fragilidade e, a partir deste encontro promovido pela derrubada de muros étnicos e culturais, surgiram as comunidades gálatas, por volta do ano 50 d.C.
Tudo estava correndo bem (Gl 5,7a), até que, na ausência da equipe de Paulo, se infiltraram nessas comunidades alguns grupos de cristãos que estão semeando “outro evangelho”, que não passa mais pela superação de barreiras e pela fraternidade, mas sim pela imposição da cultura judaica (Gl 1,6-10). Para eles, a pregação de Paulo e sua equipe não tinha valor e, para tornar-se cristão, era necessário tornar-se, antes, judeu, o que é simbolizado na carta pela “circuncisão”. E as mulheres, ficam excluídas? E as outras culturas, não têm mais valor? A comunidade não pode ter suas próprias raízes? E o pior de tudo isso é que as comunidades se deixaram levar por este projeto (Gl 3,1). O que fazer?
É no meio deste conflito que Paulo e seus companheiros ditam esta carta (Gl 1,1-2; 6,11). Eles provavelmente estavam em Éfeso e o ano era 55 d.C. Com palavras muito duras e sem a costumeira ação de graças, Paulo escreve para alertar o povo dessas comunidades. Olhando para o retrovisor da história (Gl 3,1-18; 4,21ss) e visitando também as suas próprias memórias (Gl 1,11-2,14), ele debate um tema muito importante: a salvação trazida por Jesus não vem pela obediência aos 613 preceitos da Lei, mas sim pela graça do Espírito, que nos ajuda a assumir, pela fé, o compromisso de superar, radicalmente, todas as formas de barreiras que nos desunem. Repetindo uma antiga fórmula batismal (talvez um trecho de uma cantiga ou poema?) das comunidades cristãs, ele afirma: “Pois todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vocês são um só em Cristo Jesus.” (Gl 3,27-28). Este versículo é o ponto central da carta e é também a sua grande chave de leitura. O Evangelho é a liberdade que nos une na diversidade, sendo, assim, diversos na unidade. Não há, entre nós, espaço para preconceitos e discriminações étnicas, relações de dominação ou violência de gênero. Viver pelo Evangelho significa lutar para que a nossa sociedade seja liberta de todos estes males.
Afinal, Jesus nos liberta para sermos, de fato, livres, e não para trazer para si ou impor aos outros jugos de escravidão, violência e dominação (Gl 5,1). Assim, viveremos segundo o Espírito de Jesus e não segundo a lógica mesquinha e egoísta da “carne”, que faz com que cada um se feche em si mesmo e, com isso, deturpe as relações consigo mesmo, com Deus, com os outros/outras e com todo o cosmos (compare Gl 5,19-21 com 5,22-24). “Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também a nossa conduta! ” (Gl 5,25). Fica o convite e o desafio.
A porta de entrada está aberta. Que fiquem em nós essas provocações e que o Espírito, a divina Ruah, nos ajude a, partindo da experiência de Paulo e das comunidades da Galácia, assumirmos um compromisso de transformação da nossa sociedade, derrubando os muros que nos rodeiam e indo além: construindo pontes que nos interligam. Isso é Evangelho, boa notícia. “Irmãos [e irmãs], vocês foram chamados para serem livres! ” (Gl 5,13). Um ótimo mês da Bíblia para todos e todas!
Para pensar e re-pensar...
1. Quais são os projetos que, no mundo de hoje, iludem o nosso povo e o conduz a realidades de violência, opressão e morte? Quais são as barreiras que nos separam?
2. Como podemos, a partir da experiência de Paulo e das comunidades da Galácia, conscientizar e reconduzir o povo ao compromisso com a liberdade e a superação das barreiras que promovem violências?
Referências:
GASS, Ildo Bohn. Uma Introdução à Bíblia – As comunidades cristãs da Primeira Geração. Vol 7. São Leopoldo: CEBI, 2005.
BORTOLINI, José. Como ler a Carta aos Gálatas – Evangelho é liberdade. São Paulo: Paulus, 1991.
Carlos Henrique Rorato Souza
carlosrorato2014@gmail.com

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