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Direito de Família Professora: Isabela Pessanha Chagas Aluno: Vítor Bon Fernandes Vilaça Moraes Do Casamento e da União Estável: Semelhanças e Diferenças O direito civil brasileiro, essencialmente romano-germânico, se inspirou no direito canônico, e por essa influência, inicialmente não se admitia qualquer união entre homem e mulher (à época não se admitia casamento entre pessoa dos mesmo gênero) a não ser pelo casamento, tido não como um contrato, mas como uma instituição. Lançando mão de um contexto histórico, a união estável, ainda em uma fase embrionária, começou a ser discutida no país a partir da imigração de europeus para o Brasil no século XIX, quando homens casados vindos da Europa se relacionavam com mulheres brasileiras, que ficavam totalmente desamparadas, vez que não se conhecia outro tipo de união a não ser o casamento. Foi quando surgiu a primeira lei protetiva a essas mulheres, ainda tímida, que dispunha o recebimento de uma indenização, caso seus amantes sofressem algum tipo de acidente no transporte ferroviário. Outras leis posteriores previam uma espécie de participação, cerca de 25%, na partilha do patrimônio desses homens, que não possuíam família no Brasil. Em 1960, sancionou-se a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS) , que após alteração de redação dada pela Lei nº 5.890, de 1973, reconheceu direitos previdenciários à companheira, que comprovadamente tivesse convivido com o homem por mais de 5 anos, devendo ser atestados por testemunhas. Esse tipo de relacionamento era chamado de concubinato, que poderia se dar de forma “pura”, duas pessoas solteiras ou viúvas viviam juntas sem estarem casadas, sendo mais facilmente reconhecido em Tribunais. Já o concubinato “impuro” era aquele entre duas pessoas casadas, ou que não poderiam se casar. A união estável, por seu turno, ganhou força a partir da Constituição Federal de 1988, em seu art. 226, § 3º, quando passou a ser reconhecida como entidade familiar entre duas pessoas não casadas, sendo a primeira lei sobre o tema elaborada em 1994 (Lei 8.971/94). Por conta dessa inovação, atualmente, os efeitos, no que tange aos direitos entre esposa(o) e companheira(o), são praticamente idênticos. A união estável garante os direitos à herança, à declaração conjunta de Imposto de Renda, além de garantir, em casos de separação, pensão alimentícia, separação de bens e compartilhamento da guarda de filhos. Nesse sentido, se posiciona o Superior Tribunal de Justiça: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PERCEPÇÃO DE PENSÃO POR MORTE. A EX-COMPANHEIRA POSSUI OS MESMOS DIREITOS DO EX-CÔNJUGE. IMPOSSIBILIDADE DE TRATAMENTO DISCRIMINATÓRIO ENTRE EX-ESPOSA E EX-COMPANHEIRA. RAZÕES RECURSAIS DISSOCIADAS DA REALIDADE DOS AUTOS. AGRAVO INTERNO DA UNIÃO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Em suas razões recursais a União defende a impossibilidade de concessão de pensão à então autora, ao argumento de que havia impedimento legal para que a pensionista fosse reconhecida como companheira, uma vez que o Militar faleceu no estado civil casado, sem comprovação de separação de fato. Assevera, ainda, que o acervo probatório não seria suficiente para o reconhecimento da união estável entre a autora e o Militar falecido. 2. Ocorre que não cuidam os autos de ação em que se busca o reconhecimento de união estável com o fim de rateio de pensão por morte entre a companheira e a esposa do instituidor. A pensionista pleiteia a pensão por morte com fundamento na sua condição de ex-companheira do Militar, do qual recebia pensão alimentícia desde o ano de 1972, determinada em decisão proferida pela Justiça Estadual. 3. Como expressamente consignado na sentença, restou comprovado que a autora manteve a condição de companheira do falecido até 1972, ano em que a autora ajuizou ação de alimentos, tendo o próprio militar falecido, Xenocrates Francisco do Azevedo, acordado o pagamento de 50% de sua remuneração líquida, a título de pensão e alimentos para o sustento da autora e de seus filhos menores, pensão que foi paga até a data do falecimento do Militar (fls. 383). 4. A discussão dos autos, em verdade, cinge-se em estabelecer se a ex-companheira, que recebe alimentos, teria o direito à pensão por morte de Militar, ainda que a expressa previsão legal só assegure tal garantia à ex-esposa que percebe alimentos. Superior Tribunal de Justiça 5. Nesse cenário, o que se verifica é que a parte agravante apresentou fundamentos completamente dissociados do que foi decidido na decisão agravada, assim como da realidade dos autos, atraindo a incidência das Súmulas 283 e 284/STF. 6. Esta Corte, em consonância com o texto constitucional, reconheceu a união estável como entidade familiar, não podendo haver discriminação dos companheiros em relação aos cônjuges. Assim, o direito reconhecido à ex-esposa é também devido à ex-companheira, que, após a separação, percebia mensalmente pensão alimentícia do falecido. 7. Agravo Interno da UNIÃO a que se nega provimento. (AgInt no AREsp Nº 784539/ES; 1ª Turma do STJ; Relator: Min. Napoleão Nunes Maia Filho; Data de Julgamento: 07.10.2019; Data de Publicação: 14.10.2019) Vale destacar ainda que, necessitava-se de tempo para ser reconhecida, inicialmente cinco anos, depois dois anos, após uma alteração na Lei Previdenciária. Com o advento do Código Civil de 2002, o tempo deixou de ser o elemento fundamental para caracterização da união estável, passando a ser conceituada como união duradoura, pública e com o fim de constituir família (aspecto subjetivo). Grande problemática diz respeito à comprovação da união estável, vez que diferentemente do casamento, ato solene, tem como marca a informalidade, em que prevalece o princípio da primazia da realidade . Para sua validade demanda-se o ajuizamento de uma ação de reconhecimento ou, quando houver sido feita, a apresentação de uma escritura em cartório extrajudicial, enquanto para fins de comprovação do matrimônio, basta a apresentação da certidão de casamento. Nesse contexto, observa-se oposicionamento do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALVARÁ JUDICIAL. DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUE DETERMINOU QUE A AUTORA REGULARIZASSE A INICIAL, JUNTANDO A PROVA DO RECONHECIMENTO JUDICIAL DA ALEGADA UNIÃO ESTÁVEL DA REQUERENTE COM O INVENTARIADO, PELAS VIAS ORDINÁRIAS, PARA DEFERIR ALVARÁ PARA LEVANTAMENTO DOS VALORES EM CONTA BANCÁRIA E SALDO CORRESPONDENTE DE FGTS, DEIXADOS POR COMPANHEIRO FALECIDO EM 15.05.2014. O FALECIDO NÃO DEIXOU OUTROS BENS. Ao contrário do que alegou o Juiz de primeiro grau, a escritura pública de união estável é documento hábil para provar, como o nome sugere, a união estável do casal. Nesse passo, uma vez declarada em cartório extrajudicial, não existe a necessidade de juntada de prova do reconhecimento judicial da alegada união estável para a análise da inicial, e posterior deferimento de Alvará, se for o caso, para levantamento de valores deixados pelo falecido companheiro da agravante. Recurso provido. (Agravo de Instrumento nº: 0063031-33.2016.8.19.0000; Vigésima Segunda Câmara Cível do TJRJ; Relator: Des. Carlos Eduardo Moreira da Silva; Data de Julgamento: 31.01.2017; Data de Publicação: 03.02.2017) Atendo-se à análise das diferenças entre a união estável e o casamento, a mais delas é a não alteração do estado civil na união estável - ambos os companheiros permanecem solteiros do ponto de vista jurídico. Além do mero valor formal, a manutenção do estado civil gera efeitos práticos, como a manutenção do recebimento de pensão à filha de militar que esteja em união estável. Cumpre destacar que os julgadores são divididos em manter o benefício, ou não, no entanto, por constar no estado civil como solteira, enseja a possibilidade de se pleitear a manutenção do benefício. Por ser um instituto relativamente recente no ordenamento jurídico pátrio não são raras as dúvidas e confusões feitas acerca da união estável. Entretanto, como já demarcado, é explícito que seus efeitos são idênticos aos do casamento, em termos de direitos, apenas distinguindo-se em relação ao estado civil e às formas de comprovação de sua constituição.
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