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Locomoção e Apreensão 1 Mírian Santos 7° semestre Problema 03 - “TÔ COM OMBRO DOENDO” Objetivos: 1. Compreender a síndrome dolorosa do ombro (Tendinite calcária, lesão no manguito rotador, síndrome do impacto, síndrome do ombro congelado) Definição Epidemiologia Fatores de risco Etiologia Fisiopatologia Quadro clínico Diagnóstico (teste de Neer e Jobe) Tratamento A dor no ombro constitui a 2° maior queixa que leva os pacientes a procurar um consultório ortopédico, perdendo apenas para a dor lombar. Dentre as causas de dor no ombro, a maioria é referente às patologias do manguito rotador (MR), destacando-se as roturas dessa estrutura musculotendínea. Lesão do manguito rotador O manguito rotador é formado por 4 músculos: SUBESCAPULAR, SUPRAESPINAL, INFRAESPINAL E REDONDO MENOR. Todos eles se originam na escápula e inserem- se nas tuberosidades da cabeça do úmero. O subescapular se insere na pequena tuberosidade, e os supraespinal, infraespinal e redondo menor na grande tuberosidade. Esses músculos terminam em tendões largos e achatados, que continuam com a cápsula articular para formar o manguito musculotendíneo. A anatomia vascular do manguito rotador constitui um dos fatores etiológicos do desenvolvimento das lesões nessa estrutura. O músculo supraespinal recebe a sua irrigação sanguínea da massa muscular. A “área crítica de Codman”, localizada ligeiramente próxima à inserção do músculo supraespinal, é a zona em que a patologia degenerativa do manguito se inicia. Essa área é hipovascularizada, já que ela se encontra continuamente comprimida entre o acrômio e o tubérculo maior. Sabe-se, também, que há mais abundância de vasos sanguíneos na porção bursal (superior) do que na articular (inferior). O manguito rotador possui três funções essenciais: estabilidade, mobilidade e nutrição da articulação glenoumeral. Com relação à nutrição da cartilagem articular, o manguito rotador proporciona um “espaço à prova d’água” para conter o líquido sinovial. Ainda que não participe do manguito rotador, a cabeça longa do bíceps se localiza entre os músculos subescapular e supraespinal, dentro da goteira bicipital. Locomoção e Apreensão 2 Mírian Santos 7° semestre Sua função primária é a estabilização anterior da cabeça do úmero, evitando a anteriorização. Já a função secundária da cabeça longa do bíceps é a depressão da cabeça do úmero, quando o membro superior está em rotação externa. Por meio de tal mecanismo, ocorre o alívio da compressão entre o tubérculo maior e a porção anteroinferior do acrômio. Entre essas duas estruturas ósseas, situam- se três elementos, que são comprimidos ou impactados: (1) o manguito rotador (em particular, o supraespinal); (2) a cabeça longa do bíceps; e (3) a bolsa subacromial. Trauma, atrito (degeneração), hipovascularização e impacto subacromial são os fatores citados com mais frequência. O manguito rotador envelhece biologicamente, e grande parte das lesões ocorre após os 40 anos de vida do indivíduo. Epidemiologia e fatores de risco A rotura do MR tem incidência variável na população. Estudos anatômicos em cadáveres demonstram sua presença em 5 a 20% dos ombros dissecados. A patologia do manguito rotador ocorre com maior frequência a partir dos 40 a 50 anos e sua incidência aumenta geometricamente nas décadas seguintes, então a idade é um fator muito importante. A rotura parcial é mais frequente em indivíduos jovens e a completa, em idosos, por causa do caráter degenerativo. A rotura parcial apresenta o dobro da incidência em relação à completa. Grande desenvolvimento dos esportes que utilizam o membro superior, como vôlei, basquete, tênis, natação, lutas marciais, esportes radicais, entre outros podem desencadear as lesões do manguito rotador. Classificação As roturas do MR podem ser classificadas quanto a etiologia e duração dos sintomas (roturas agudas/traumáticas; crônicas/degenerativas; crônica; ao envolvimento da espessura do tendão; sua extensão; e formato da lesão. De acordo com Neer temos 3 estágios. No estágio I, que é mais comum em jovens, mas pode acometer pacientes de qualquer idade, há hemorragia na área do impacto seguida de processo inflamatório e edema local. Nessa fase, o processo pode ser reversível se interrompida a atividade que o desencadeia e Locomoção e Apreensão 3 Mírian Santos 7° semestre instituído tratamento eficiente (medicamento anti-inflamatório e fisioterapia). No estágio II, mais frequente em pacientes entre 25 e 40 anos de idade, ocorre fibrose do tendão que se forma a partir do processo inflamatório e edematoso persistente, como consequência da repetição, por maior tempo, dos microtraumatismos. O tendão do SE fica espessado, bem como as paredes da bolsa serosa subacromial e eventualmente também o tendão da cabeça longa do bíceps (CLB). O estágio III começa a partir dos 45 a 50 anos de idade e é caracterizado pelas roturas tendíneas e suas consequências. A rotura se inicia, no tendão do SE, a partir da “área crítica”, podendo progredir para os demais tendões. Etiologia e fisiopatologia De maneira didática, pode-se agrupar as lesões do manguito rotador conforme o fator desencadeante: EXTRÍNSECO – impacto mecânico, defendido por Neer; INTRÍNSECO – hipovascularização tendínea, defendida por Uhthoff e colaboradores. Além disso, é possível classificar as tendinopatias em PRIMÁRIAS (aumento de volume das estruturas no espaço subacromial – bursite, tendinite calcária) ou SECUNDÁRIAS (estreitamento do espaço subacromial – calcificação do ligamento coracoacromial, fratura deslocada do tubérculo maior). Fatores extrínsecos Excesso de uso do membro superior ou síndrome do impacto: A síndrome do manguito rotador é uma síndrome dolorosa do ombro, de natureza microtraumática e degenerativa, acompanhada ou não pela perda de forças e caracterizada por tendinite do manguito rotador. É a principal lesão do manguito rotador. O uso forçado das articulações e dos músculos costuma provocar alterações fisiológicas e estruturais que o próprio organismo tem condições de corrigir, se houver tempo e repouso suficientes. O tendão do musculo supraespinhal é o local de inicio da patologia. Várias causas são invocadas para explicar os distúrbios musculares decorrentes da sobrecarga funcional. Sejam elas lesões inflamatórias por perturbação do metabolismo do cálcio muscular, alterações por hipóxia e acúmulo de ácido lático, sobrecarga das fibras musculares do tipo I ou alteração do padrão de estimulação gama do músculo, o resultado final será perturbação da força e do sincronismo musculares e, consequentemente, falência dos mecanismos motores e estabilizadores dinâmicos do ombro. Observa-se esse fenômeno na SI, principalmente em atletas, não só pela fadiga dos músculos do MR que movem e estabilizam dinamicamente o úmero, mas também dos músculos toracoescapulares que devem mover e estabilizar firmemente a escápula junto ao tórax, posicionando-a adequadamente como verdadeira plataforma móvel que é. Locomoção e Apreensão 4 Mírian Santos 7° semestre Outro fator importante é o estiramento excessivo do MR, dos ligamentos e da cápsula articular aos esforços exagerados e prolongados, que provoca deformaçõesplásticas irreversíveis e lesões estruturais microtraumáticas (microrroturas). É o que pode ocorrer nos ombros de esportistas de alto nível (nadadores, ginastas, tenistas e atletas arremessadores em geral) e principalmente de esportistas amadores, quase sempre menos preparados fisicamente e que costumam não respeitar suas limitações. Morfologia do desfiladeiro do supraespinhal: Para realizar o movimento de elevação do braço, a cabeça do úmero, junto com os tendões e as bolsas serosas, deve deslizar harmonicamente sob o arco coracoacromial (acrômio e ligamento coracoacromial) e sob a articulação acromioclavicular, que formam um verdadeiro teto para o úmero. Estudos anatômicos demonstraram que o acrômio pode ser do tipo I ou plano (32%), do tipo II ou curvo (42%) e do tipo III ou ganchoso (26%), e o ângulo de inclinação do acrômio pode ser menor do que o habitual, de forma que ambos, isto é, acrômios tipos II e III e ângulos de inclinação mais agudos diminuem a luz do desfiladeiro. Por outro lado, osteófitos presentes nas bordas inferiores da articulação acromioclavicular e na área de inserção do ligamento coracoacromial no acrômio – verdadeiras entesopatias dessas estruturas – projetando-se em direção ao desfiladeiro também concorrem para o seu estreitamento. Nessas situações, criam-se outras condições para que a área crítica do supraespinal e as estruturas subjacentes se choquem contra o teto rígido que as cobre em atividades que exijam a utilização da mão acima do plano horizontal do ombro. O os acromiale, que é a ausência de fusão entre os núcleos de ossificação do acrômio, também pode ser causa do impacto subacromial. Está presente em cerca de 6% da população e é devidamente diagnosticado no exame radiográfico na incidência perfil axilar. O os acromiale que provoca essa condição é o metacrômio, que tem a linha de não fusão dos núcleos de crescimento junto à articulação acromioclavicular. Em razão dessa peculiaridade anatômica, ele pode se tornar hipermóvel pela tração do músculo deltoide numa determinada fase da vida do paciente, levando ao impacto no tendão SE. Fatores intrínsecos Envelhecimento biológico: O envelhecimento dos tendões é outro aspecto importante quando se estudam as roturas do MR. O envelhecimento provoca alterações morfológicas e bioquímicas nos tendões caracterizadas pela diminuição dos tenoblastos, Locomoção e Apreensão 5 Mírian Santos 7° semestre adelgaçamento dos tenócitos e diminuição das organelas citoplasmáticas, além de alteração da matriz colágena, diminuição dos mucopolissacarídeos e do teor aquoso. Vascularização do MR: Rathbun e Macnab demonstraram que, quando o braço está em abdução, os vasos do tendão do SE, da parte superior do tendão do IE e da CLB estão livres e cheios de sangue, enquanto, com o braço ao lado do corpo, quando os referidos tendões, além de tracionados, ficam comprimidos contra a cabeça do úmero, há neles uma área de constante hipovascularidade. Essa área, centrada no SE e junto ao tubérculo maior – área crítica – mede cerca de 1 cm de largura e é justamente o local vulnerável onde acontece a degeneração tendínea, enquanto a área hipovascular do tendão da CLB abrange o seu segmento que cursa sobre a cabeça do úmero. Wolff et al.9, em recente artigo de revisão sobre as roturas parciais do MR, relatam que a frequência de roturas na superfície articular é de 2 a 3 vezes superiores àquelas na face bursal. Tanto em idosos como em esportistas, a maioria delas se inicia pela superfície articular e parecem ser de origem degenerativa. Estudos como os de Lohr e Uhthoff demonstraram que a zona crítica de menor vascularização ocorre predominantemente na superfície articular, sendo a superfície bursal mais bem irrigada. A superfície bursal é composta principalmente de fibras tendíneas e a articular é formada por um complexo constituído de tendão, cápsula e ligamentos, com menor resistência tênsil e menor capacidade de deformação. Esse conjunto de fatores pode explicar a maior incidência de roturas na face articular. Dessa maneira, o conceito atual é que, apesar da etiopatogenia ser multifatorial, o principal responsável pelas roturas do MR é a degeneração tendínea (por envelhecimento biológico ou microtraumas de repetição). Outras etiologias Artropatia do Manguito Rotador: A artropatia do manguito rotador é uma patologia em que estão associadas ruptura maciça e irreparável do manguito rotador e artrite degenerativa grave da articulação glenoumeral, tendo, ainda hoje, etiologia ainda não definida de modo adequado. Etiologia: Os fatores etiológicos que produzem a ruptura do manguito rotador e artrite glenoumeral podem ter como origem: Artrite induzida por cristais - São observadas deposições de fosfato de cálcio na sinóvia em estudos histológicos, produzindo artrite reacional, com consequente degeneração da articulação glenoumeral e do manguito rotador, em que ocorre ruptura e rápida reabsorção. Hipótese patomecânica - Descrita por Neer e colaboradores e a mais aceita, na qual a lesão maciça do manguito rotador é que causa artropatia. Locomoção e Apreensão 6 Mírian Santos 7° semestre Tal ruptura maciça, associada à inatividade e ao desuso do ombro, ocasiona o extravasamento do líquido sinovial e a instabilidade da cabeça umeral. Essas alterações resultam em modificações nutricionais e mecânicas, causando atrofia da cartilagem articular glenoumeral e osteoporose do osso subcondral da cabeça umeral e, por conseguinte, colapso da cabeça umeral. A alteração biomecânica pela lesão extensa do manguito rotador causa instabilidade articular com subluxação superior e instabilidade anteroposterior da cabeça umeral, atritando contra a superfície inferior do acrômio, da cavidade glenoidal e da articulação acromioclavicular. A comunicação da articulação acromioclavicular com a glenoumeral pode ocorrer devido ao atrito da cabeça umeral na porção inferior dessa articulação, causando a formação de cisto acromioclavicular ou sinal de Geyser. Quadro clínico: Os sintomas são de dor leve a moderada, que interfere no sono e piora com as atividades diárias, e perda progressiva da mobilidade. Lesão do musculo subescapular: Lesões envolvendo o manguito rotador costumam ocorrer em indivíduos com idade superior a 40 ou 50 anos e afetam o supraespinal e o infraespinal, que se inserem no tubérculo maior e participam da síndrome do impacto, a qual pode evoluir para a lesão parcial, depois total. As lesões que acometem o tendão do subescapular não são consideradas comuns; esse músculo se insere no tubérculo menor e não participa dos fenômenos degenerativos da síndrome do impacto. Na verdade, a história natural dessa lesão costuma estar relacionada com a tração do músculo durante um movimento de queda ao solo ou em uma escada. A ruptura do subescapular, quando considerada de forma isolada, é ainda mais incomum e assim foi considerada até o advento da RM, no final dos anos 1980. O quadro clínico na lesão do músculo subescapular é de dor na face anterior do ombro, dificuldade de elevação ativa do braço no plano da escápula e de rotação externa passiva maior que 90°, embora essa situação não seja frequente. Os testes clínicos para detectar a lesão e que, com frequência, são positivos são o lift off ou teste de Gerber, o abdominal press ou belly press (pressão abdominal da mão sobre o abdome) e o bear hug test, ou teste do abraço de Burkhardt. Quadro clínico Dor. Proporcionalao grau de inflamação e necrose do músculo e não ao tamanho da ruptura. A dor é suportada melhor de dia, já que o paciente acomoda o braço em leve abdução e flexão anterior e a ação da gravidade mantém Locomoção e Apreensão 7 Mírian Santos 7° semestre certa “tração” sobre o membro superior, diminuindo o impacto do manguito rotador contra o arco coracoacromial. Durante o sono, essa posição do braço não é possível, e a dor pelo estiramento do músculo inflamado ou rompido se instala. A dor pode ser espontânea e aumentar com os movimentos. Está presente em todas as fases da lesão, mas costuma ser mais intensa no músculo íntegro ou com ruptura parcial. Quando a ruptura se completa, ocorre o relaxamento das fibras do supraespinal, promovendo a diminuição do quadro doloroso. Portanto, paradoxalmente, a dor costuma ser maior nos quadros de lesão parcial ou total de tamanho pequeno, e menor nos quadros de lesão total de tamanho médio ou extenso. Ela é localizada ao redor do ombro, mas pode irradiar-se até a região escapular (origem dos músculos supra e infraespinais) e o cotovelo (representação pelos dermátomos). A “verdadeira” dor do ombro não ultrapassa os limites do cotovelo. Quando o paciente referir dor que se irradia até a mão, o examinador deve estar atento, pois uma patologia da coluna cervical pode ser a doença primária. Crepitação. É observada através da palpação com dois dedos colocados imediatamente à frente do acrômio e mostra as partes moles (bursa subacromial inflamada e manguito rotador com rompimento parcial ou total) raspando contra a superfície inferior do acrômio. Pode estar presente nas fases II e III de Neer. É um sinal de alerta importante. Força muscular. As forças de abdução e rotação externa tendem a estar diminuídas no lado envolvido das lesões totais. Nas lesões parciais e mesmo nas totais pequenas, a força pode estar normal. O teste é realizado comparando-se com o lado oposto, sendo acompanhado por dor. Esse teste pode não ser muito valorizado até ocorrer a ruptura maciça do manguito, com o envolvimento do músculo infraespinal. Nessa fase, observa-se claramente a atrofia dos músculos supra e infraespinais, e a força estará muito diminuída. A pseudoparalisia do membro superior, incapacidade do paciente elevar ativamente o braço, é a fase final desta perda de força e desequilíbrio biomecânico. Contratura (capsulite adesiva). Ocorre em 14% dos casos na série de Neer e colaboradores e deve-se ao processo inflamatório que se instala na cápsula articular e à imobilidade do membro superior determinada pela dor. Tendinite ou ruptura da cabeça longa do bíceps. Sabe-se que essa estrutura sofre o processo de impacto. Na presença de ruptura da cabeça longa do bíceps, com ou sem a deformidade de “Popeye”, recomenda-se pesquisar provável ruptura do manguito associada. Na experiência diária, a melhor forma de avaliar a tendinite da cabeça longa do bíceps é por meio da palpação da goteira bicipital, enquanto o membro superior é movido passivamente entre as rotações interna e externa. Locomoção e Apreensão 8 Mírian Santos 7° semestre Além disso, o teste de O’Brien é outra maneira de avaliar a porção intra-articular do cabo longo do bíceps. Os exames de imagem ainda não são capazes de informar com acurácia as lesões parciais do cabo longo do bíceps. Portanto, o exame artroscópico é de grande auxílio diagnóstico. Diagnóstico Na ANAMNESE, interroga-se sobre a atividade profissional, prática esportiva ou recreacional, tempo da sintomatologia, padrão da dor e limitação funcional. Episódios prévios de luxação merecem atenção especial. É frequente a queixa de dor com piora noturna e irradiação para a face lateral do braço. O EXAME FÍSICO se inicia com a inspeção estática, onde possíveis atrofias musculares podem ser detectadas, especialmente do SE e do IE nas roturas crônicas. Na INSPEÇÃO DINÂMICA, é importante observar tanto a amplitude de movimento como o movimento escapulotorácico. O arco de movimento pode estar diminuído globalmente, quando estiver presente o componente doloroso (síndrome do impacto) ou existir capsulite adesiva secundária. Alterações geram desequilibrios biomecânicos no ombro, propiciando sobrecarga aos músculos do MR e eventualmente desencadeando roturas secundárias. Existem vários testes descritos, mas será dada ênfase aqueles mais empregados e que fazem parte da padronização do exame físico. Testes de Identificação de Tendinite (com ou sem Rupturas de Tendões) Os testes são ditos positivos quando há a manifestação de dor, que é expressa subjetivamente pelo examinador de acordo com a percepção da sua in1ensidade. Teste de Neer Faz-se a elevação passiva do membro acometido com extensão do cotovelo e pronação do antebraço, provocando o choque da inserção do supra-espinhal contra a borda antero-inferior do acrômio. A injeção de 8 a 10 mL de xilocaína no espaço subacromial proporciona alívio imediato da dor, negativando os testes provocativos e o arco doloroso. Teste de Hawkins O paciente apoia o membro superior acometido, com o cotovelo fletido a 90º, sobre o membro contralateral do examinador, colocado em extensão e com a mão apoiada sobre o ombro do paciente, fazendo-se rápida manobra de rotação interna, que provoca o atrito do tendão supra-espinhal contra a borda ântero-inferior do acrômio e o ligamento coracoacromial. Locomoção e Apreensão 9 Mírian Santos 7° semestre Teste de Yocum É feita com o paciente apoiando a mão no ombro contralateral, enquanto passivamente eleva-se o membro pelo cotovelo, provocando o atrito entre a inserção do supra-espinhal e o arco coracoacromial (borda ânteroinferior do acrômio, ligamento coracoacromial e borda lateral do processo coracóide). Quando esse teste se apresenta muito positivo e os demais causam muito menos dor, recomenda- se observar detidamente a articulaçâo acromioclavicular, na qual provavelmente estará situado o processo inflamatório. Testes de Avaliação da Integridade dos Tendões Realiza-se, comparando as respostas do lado não-acometido com aquelas do lado acometido, como na série para tendinite. Teste de Jobe Teste exclusivo para avaliação do músculo supra-espinhal; sua positividade fornece o diagnóstico da ruptura com 90% de chance de acerto. É realizado com o paciente de pé, os membros superiores em abdução no plano frontal e anteflexão de 30° alinhando o eixo longitudinal do braço com o eixo de movimentos da articulação glenoumeral. O examinador faz uma força de abaixamento nos membros, simultânea e comparativa, enquanto o paciente tenta resistir. Teste de Patte Exclusivo para avaliação do infra-espinhal, é feito com o paciente de pé, o membro superior abduzido em 90° no plano frontal e o cotovelo fletido em 90º. Solicita-se ao paciente que resista à força de rotação interna feita pelo examinador. A resistência diminuída no lado acometido significará provável ruptura no tendão infraespinhal. A impossibilidade de manter-se o membro na posição do exame por causa da queda do antebraço em rotação interna (droparm), não conseguindo vencer a força da gravidade, indica uma lesão extensa do manguito, com envolvimento completo do infraespinhal. Locomoção e Apreensão 10 Mírian Santos 7° semestre Radiologia.Raio X simples, com as incidências anteroposterior “verdadeira” em rotação interna e externa, axilar, anteroposterior com 30° de inclinação caudal e lateral do acrômio (outlet view, descrita por Neer e Poppen em 1987, ideal para avaliar a curvatura do acrômio e sua relação com o espaço subacromial). A artrografia foi descrita em 1933 e tem apenas importância histórica. É um exame invasivo (contraindicado para pacientes com alergia ao iodo), indica as rupturas totais e, eventualmente, as parciais, e foi substituída por métodos radiográficos mais modernos. A ecografia é um método não invasivo e deve ser realizado em comparação ao lado oposto. No entanto, é examinador-dependente, método excelente em mãos experientes e com aparelho apropriado. Sabe-se que a ecografia demonstra dificuldades para detectar lesões menores de 1 cm de circunferência e lesões parciais do manguito. A RM é um método excelente para a avaliação do manguito rotador, já que fornece dados objetivos sobre a qualidade dos tendões, seja na fase inflamatória, seja na fase de ruptura. Além disso, fornece indicadores precisos sobre a extensão da retração presente e a qualidade dos músculos a serem reparados. Atualmente, a artro-RM vem sendo utilizada para o diagnóstico de lesões do lábio associadas ou de lesões parciais articulares, devendo ser realizado um corte na incidência de abdução e rotação externa, que demonstra com mais clareza essas lesões. No entanto, é um exame invasivo e caro, devendo ser utilizado com critério. A RM e a artro-RM têm sensibilidade e especificidade acima de 90% para demonstrar lesão. Além de evidenciarem a descontinuidade do tendão com líquido de alta intensidade de sinal atravessando o intervalo entre os fragmentos de tendão, podem ilustrar o tamanho da lesão, o grau de retração, a qualidade dos fragmentos de tendão remanescentes e a presença de atrofia ou alterações ósseas. Tratamento O tratamento das roturas do MR depende da sua espessura (parcial ou completa), do seu tamanho (extensão), da idade e do tipo de atividade do paciente, não esquecendo que pendências trabalhistas podem interferir no resultado final. Conservador O tratamento conservador é indicado nas roturas parciais e nas roturas completas em pacientes com baixa demanda funcional ou sem condições clínicas para realização da cirurgia. Indicado nas bursites e tendinites fase I e II. Tem como objetivos combater a dor, restabelecer a amplitude de movimentos e fortalecer a musculatura estabilizadora e depressora da cabeça do úmero; consiste em: A. Retirada dos fatores de risco causadores da rotura. Locomoção e Apreensão 11 Mírian Santos 7° semestre B. Analgesia e medidas anti-inflamatórias: uso de analgésicos simples ou opioides; utilização de anti-inflamatórios não hormonais orais e hormonais por via sistêmica (intramuscular); infiltrações do espaço subacromial com corticosteroides – devem ser usadas com parcimônia e quando forem absolutamente necessárias, em razão da ação deletéria sobre a estrutura dos tendões; uso de meios fisioterápicos e acupuntura. C. Restabelecimento da amplitude de movimentos articulares (exercícios passivos e ativos) D. Fortalecimento do MR para restaurar o mecanismo depressor da cabeça do úmero (exercícios isométricos, isotônicos e de coordenação motora) O tratamento conservador deve ser mantido por, no mínimo, 3 meses, podendo se prolongar na dependência da melhora apresentada pelo paciente. Cirúrgico O tratamento cirúrgico é indicado para pacientes nos quais o tratamento conservador não foi efetivo, nas roturas completas do manguito em indivíduos com alta demanda funcional e naquelas de origem aguda/traumática. Pode ser realizado por via aberta ou artroscópica e consiste basicamente nos seguintes procedimentos: A. Desbridamento intra-articular e subacromial. B. Descompressão subacromial (DSA) – seção do ligamento coracoacromial, acromioplastia anteroinferior, exérese de osteófitos acromioclaviculares. C. Reparação dos tendões rotos. O resultado final, a longo prazo, obtido com os dois métodos (aberto e artroscópico) é semelhante, entretanto, existe vantagem no método artroscópico pela menor agressão ao deltoide, pela menor morbidade e reabilitação pós-operatória mais rápida. Atualmente, a preferência é pela técnica artroscópica. Capsulite adesiva A capsulite adesiva do ombro, também conhecida como “ombro congelado”, é uma doença idiopática, com duas características principais: dor intensa, rigidez capsular e diminuição de mobilidade articular. Que pode acontecer mesmo em momentos de desuso da articulação, com uma evolução arrastada e que em alguns casos pode evoluir espontaneamente para a cura. Nomenclatura: Não se usa mais tanto ombro congelado; Codman criou a expressão “ombro congelado” (OC) para denominar a rigidez dolorosa do ombro, de longa duração e de início muitas vezes relacionado com a imobilização prolongada ou com o desuso da articulação. Afirmava serem os OC “uma classe de casos difícil de definir, difícil de tratar e de explicar anatomopatologicamente”. Neviaser estudou o OC e descreveu lesões histológicas inflamatórias e fibrosas da cápsula articular e do revestimento sinovial responsáveis Locomoção e Apreensão 12 Mírian Santos 7° semestre pela obliteração dos recessos articulares do ombro, sobretudo do recesso axilar e aderências da cápsula às estruturas vizinhas, inclusive à cabeça do úmero. Essas alterações provocam retração da cápsula com diminuição drástica da sua capacidade volumétrica e rigidez articular. Criou, então, a expressão “capsulite adesiva” (CA) para nomear os ombros rígidos e dolorosos com aquelas características. Classificação A classificação proposta por Zuckerman10, a mais abrangente de todas, divide a CA em: 1. Primária ou idiopática, quando não se identifica causa aparente ou associação com outras doenças. 2. Secundária, quando se identifica uma possível causa ou há associação com outras doenças. A CA secundária pode ser: • Intrínseca, quando é desencadeada por lesão no próprio ombro (lesões do manguito rotador, tenossinovite da cabeça longa do bíceps, bursite, artrose acromioclavicular etc.). • Extrínseca, quando há associação com alterações de estruturas distantes do ombro, como lesões do membro superior (fraturas do punho e mão, processos infecciosos etc.), doenças e lesões do sistema nervoso central e periférico (AVC, epilepsia, lesão de nervos do membro superior etc.), lesões da coluna cervical com ou sem radiculopatia, doenças do coração (isquemia do miocárdio) e do pulmão (doença pulmonar crônica, tumores do ápice do pulmão) etc. • Sistêmica, quando há associação com doenças como diabetes, doenças da tireoide (tumores, tireoidites) etc. Epidemiologia A CA é doença relativamente frequente que acomete mais o sexo feminino (2:1) na faixa etária de 40 a 60 anos, sem preferência por lado e dominância, e pode estar associada a outras doenças, dentre as quais se destaca o diabetes. Fisiopatologia Apesar da etiologia indefinida e da fisiopatologia não ser totalmente conhecida, alguns estudos sugerem que, além da cápsula articular, muitas estruturas extra-articulares participam desse processo, como o ligamento coracoumeral, os tecidos do intervalo dos rotadores, o músculo subescapular e a bolsa subacromial. A maioria dos autores não descreve processo inflamatório da cápsula e aderências como achado inicial. Estudos histopatológicos evidenciam um processo ativode hiperplasia fibroblástica e excessiva secreção de colágeno tipo III, que causa contratura da cápsula e das estruturas adjacentes, ocasionando progressiva limitação de mobilidade. Enquanto a contratura parece ser ocasionada pelos fatores mencionados, a dor pode ser neurologicamente mediada, sendo encontradas alterações distróficas do sistema simpático- reflexo em pacientes com capsulite adesiva, de Locomoção e Apreensão 13 Mírian Santos 7° semestre características semelhantes às vistas em portadores da síndrome da dor complexa regional tipo I. Outra teoria difundida para explicar as alterações encontradas é a da hipovascularização dos tecidos, levando à liberação de radicais livres, os quais iniciariam um ciclo de hiperplasia fibroblástica e excessiva deposição de colágeno e glicosaminoglicanos. O líquido sinovial encontrado é normal, mas o volume da articulação está sempre diminuído, em torno de 3 a 15 mL, comparado a 20 a 25 mL da capacidade articular normal. Quadro clínico Caracteriza-se por dor mal localizada no ombro, de início espontâneo, geralmente sem qualquer história de trauma. A dor torna-se muito intensa, mesmo em repouso, e à noite, com caráter contínuo, piorando aos movimentos. Sua intensidade costuma diminuir em algumas semanas. A mobilidade do ombro torna-se limitada na elevação, rotação interna, rotação externa e abducão. Uma das características sempre presentes é o bloqueio das rotações externa e interna. O lado mais envolvido é o não dominante. O quadro costuma ter evolução lenta, não inferior a quatro ou seis meses, antes do diagnóstico definido, já que, nesse período, o paciente terá, geralmente, vários diagnósticos, infiltrações, imobilizações, entre outros tratamentos. Diagnóstico Anamnese + exame físico + exames de imagem. A radiografia simples é normal, podendo ocorrer diminuição do espaço articular entre a cavidade glenoidal e a cabeça do úmero na incidência em anteroposterior “verdadeira” (que demonstra a retração capsular). A osteoporose pelo desuso costuma ser de fácil identificação. A artrografia é um método diagnóstico eficaz, embora bastante doloroso, pois avalia a integridade do manguito rotador e a capacidade de volume articular do ombro, que está sempre diminuída. A ecografia e a RM são normais, já que a anatomia não está inalterada. Tratamento A prevenção é a arma mais segura contra a capsulite adesiva do ombro. Essa expressão mostra muitas verdades e envolve: • Diagnóstico precoce correto. • Conceitos de mobilidade passiva imediata após trauma ou cirurgia do membro superior. Os objetivos são o alívio do desconforto e a restauração da ampla mobilidade do ombro. No entanto, deve-se entender que existem duas fases distintas, ou seja, alívio da dor e ganho de mobilidade. Inicialmente, o processo de dor deve estar controlado, para que, em seguida, o reabilitador avance no tratamento da retração capsular. A escolha entre as diversas formas de abordagem terapêutica baseia-se na fase em que o paciente é avaliado pela primeira vez e na Locomoção e Apreensão 14 Mírian Santos 7° semestre experiência acumulada pela equipe responsável pelo tratamento: ortopedista, reabilitador, médico especializado em dor e psicólogo, se necessário. Tendinite calcária O depósito de sais de cálcio nos músculos do manguito rotador é uma patologia comum, autolimitada, mas de etiologia ainda desconhecida. O curso natural da doença mostra que os depósitos de cálcio são reabsorvidos ao longo do tempo, enquanto os músculos cicatrizam o processo inflamatório. Tal processo pode ocorrer sem qualquer sintomatologia dolorosa ou com quadros de dor aguda durante os períodos de reabsorção do cálcio. Epidemiologia A literatura mostra dados muito variáveis sobre tal patologia. Em geral, os depósitos de cálcio no manguito rotador apresentam baixa incidência na população, com distribuição que varia de 2,7 a 7,5%, sendo no tendão do supraespinhal seu local de maior frequência, correspondendo entre 51 e 74% de todas as calcificações da cintura escapular. Ocorrem no sexo feminino em 75% dos casos, com faixa etária de maior abrangência entre a terceira e a quarta décadas de vida. Quanto ao lado dominante, cerca de 57% acometem o lado direito, com índice de bilateralidade variando entre 13 e 24%. Não há correlação entre trauma do ombro e atividades que envolvam esforços repetitivos com o depósito de cálcio. Fisiopatologia Não está completamente esclarecida a razão do depósito de cálcio na região de inserção do músculo supraespinal, que é uma zona de hipovascularização, e a compressão mecânica entre o acrômio e o tubérculo maior. A teoria que sustenta a degeneração do manguito rotador antes do depósito de cálcio foi introduzida por Codman, já que essa patologia costuma ocorrer após os 40 anos. Rockwood e Matsen, no entanto, acreditam que não há necessidade de degeneração muscular para que o processo ocorra, já que ele é autocurável ao longo do tempo. Segundo eles, ocorre o processo irregular de depósito de cálcio em uma área hipovascularizada fisiologicamente, como é o caso da zona de inserção do supraespinal. De acordo com Uhthoff e Sarkar, a fisiopatologia da tendinite calcária pode ser dividida em três fases: pré-calcificação, calcificação e pós-calcificação, destacando-se que elas fazem parte de um continuum e não são estanques, com limites bem definidos, podendo ocorrer em um mesmo ombro calcificações em fases diferentes de evolução. Fase de pré-calcificação. Ocorre transformação dos tenócitos em condrócitos com presença de metacromasia, indicativo da síntese de glicogênio. O que promove essa transformação permanece uma incógnita. Sabe-se, entretanto, que não Locomoção e Apreensão 15 Mírian Santos 7° semestre existe associação dessa patologia com o trauma, nem com as patologias resultantes do impacto subacromial. Fase de calcificação. Pode ser subdividida em três etapas: formação, repouso e reabsorção. Durante o período de formação, os condrócitos produzem vesículas intracelulares com cristais de cálcio, que coalescem para formar grandes áreas de depósitos dessa substância. É importante ressaltar que esses cristais são carbonatos apatita com estrutura maior e configuração diferente dos de hidroxiapatita. Nesse estágio, os acúmulos calcários são circundados por septos fibrocartilaginosos, que se afilam à medida que crescem os depósitos. O fim do período de formação é marcado pela presença de septos fibrocolagenosos em substituição aos fibrocartilaginosos, como resultado do desaparecimento dos condrócitos que participaram da formação dos grupos de cristais. No período de repouso da fase de calcificação, ocorre “paralisação” nos processos de formação e de reabsorção, podendo o cálcio persistir por tempo indefinido. De forma desconhecida, semelhante à transformação condrocitária dos tenócitos na fase de pré-calcificação, o período de reabsorção é marcado pelo surgimento de vasos circundando os depósitos, com a presença de macrófagos e células gigantes, em que são observados corpos de psamoma, que são vesículas fagocitárias para reabsorção dos cristais. É provável que a desintegração dos conglomerados dependa da mudança na capacidade de ligação das moléculas orgânicas, sobretudo nos fagócitos. Fase de pós-calcificação. Desenvolve-se um tecido de granulação na área da lesão, composterior remodelação na área, com retorno à configuração normal do tendão. Macroscopicamente, a consistência dos depósitos altera-se de forma semelhante a giz, na fase de formação, para aspecto pastoso, na etapa de reabsorção, mas essa diferença macroscópica não é refletida na estrutura mineral, não ocorrendo alteração na composição química dos cristais. Diante disso, observa-se que a gênese da tendinite calcária nada tem de processo degenerativo, consistindo, na verdade, em um processo de calcificação mediado ativamente por células em meio ambiente viável. Quadro clínico Duas fases clínicas são observadas na evolução da tendinite calcária, porém, sem limites precisos entre elas e sem fator desencadeante de transformação de uma fase para outra. A característica particular dessa evolução é que o período crônico da patologia antevê a fase aguda. A fase crônica é correspondente ao período de formação, em que o paciente apresenta dores de leve intensidade, e o depósito de cálcio é o achado radiográfico na maioria das vezes. Com o início do período de reabsorção, desenvolve-se o quadro agudo da patologia, com a presença de dor de forte intensidade e Locomoção e Apreensão 16 Mírian Santos 7° semestre limitação funcional, como resultado do processo inflamatório local. A dor é o sintoma mais importante. Ela pode ser leve, acompanhada de desconforto limitado aos movimentos, ou intensa, pulsátil, excruciante, que impede qualquer movimento, predispondo ao desenvolvimento de capsulite adesiva. Ao EXAME FÍSICO, observa-se dor à palpação sobre a área do depósito, na inserção do supraespinal, durante os movimentos rotatórios da cabeça do úmero. As mobilidades ativa e passiva podem estar diminuídas na fase aguda. Na maioria dos casos, no entanto, a dor não existe nas fases iniciais da doença e pode mesmo nunca ser uma queixa do paciente. Não há relação entre o tamanho do depósito de cálcio e a presença ou intensidade dos sintomas. A dor costuma ser referida à área de inserção do deltoide, à face lateral do braço e ao cotovelo. Os testes provocativos são positivos, devido à inflamação da inserção do supraespinal. Diagnóstico Avaliação por imagem Ao contrário do que fora comumente aceito, o depósito de cálcio não ocorre na bolsa subacromial, e sim, dentro de um dos tendões do manguito rotador. A maioria dos depósitos ocorre no músculo supraespinal, mas pode acometer também o subescapular, o infraespinal e o redondo menor. A investigação radiográfica adequada é fundamental para a completa avaliação dessa patologia. Para tanto, o raio X simples em posição anteroposterior com rotação interna e externa e a incidência lateral do acrômio (supraspinatus outlet) são essenciais. Tratamento Por ser uma patologia autorresolutiva, é importante o conhecimento de sua evolução natural para que a instituição de modalidade terapêutica não impeça o sucesso do tratamento. Tratamento conservador Existe o consenso de que o tratamento conservador deve ser realizado sempre como primeiro atendimento. O tratamento é variável conforme a fase (aguda ou crônica) em que o paciente é avaliado pelo médico. Objetiva, por meio de medidas analgésicas medicamentosas e fisioterapêuticas, a manutenção de ombro indolor, com ADM normal, esperando a autorresolução do processo e evitando o desenvolvimento de ombro rígido. Com tais medidas, alcança-se taxa de sucesso entre 80 e 90% dos casos. Fase aguda. A medida mais urgente é aliviar a dor excruciante e contínua. Para tal, está indicado o uso de analgésicos potentes e de corticosteroide por via sistêmica em casos selecionados. O membro deve ser mantido em repouso na tipoia por breve período. O uso continuado de gelo no local é de grande auxílio. Em alguns pacientes, no entanto, o uso do gelo pode determinar aumento da dor; opta-se, então, pelo emprego de calor local. Locomoção e Apreensão 17 Mírian Santos 7° semestre As medidas fisioterapêuticas visam auxiliar na analgesia e na manutenção da mobilidade articular por meio de mobilidade passiva. Fase crônica. O uso de analgésicos comuns, AINEs e corticosteroides está indicado. Nessa fase, as medidas fisioterapêuticas são mais importantes e incluem formas diversas de calor local, obtenção de mobilidade articular completa e, após a resolução do quadro, reforço muscular. Ondas de choque. A suscetibilidade à desintegração, nas calcificações do manguito rotador, depende da sua relativa concentração de cálcio (22,3%) e fósforo (10,5%), que difere da dos cálculos renais, justificando-se, assim, taxa de sucesso diferente para tais patologias. São observados índices de desaparecimento parcial do depósito em 60 a 70% dos casos. Cosentino e colaboradores avaliaram 70 pacientes com tendinite calcária crônica submetidos à terapia de ondas de choque, concluindo ser um tratamento seguro e com boa tolerância. Daecke e colaboradores avaliaram os efeitos em longo prazo da terapia de ondas de choque em 115 pacientes, indicando que a taxa de falência com esse tratamento é alta. Houve, no entanto, 70% de sucesso nesse estudo. O tratamento cirúrgico é a exceção, tendo três indicações básicas: • Aumento progressivo dos sintomas. • Interferência na vida diária, durante a noite ou no lazer. • Ausência de melhora dos sintomas com o tratamento conservador Referências Ortopedia e traumatologia – Hebert; Clínica Médica USP de Ortopedia; Tratado de Ortopedia – SBOT; Ortopedia e traumatologia para graduação.
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