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Câncer de próstata Definição: Um tumor maligno de origem glandular, situado na próstata. É mais comumente relatado em homens com mais de 50 anos. Epidemiologia: O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais comum e a quinta principal causa de mortalidade por câncer entre homens do mundo todo. Em 2020, estimou-se que ocorreram aproximadamente 1.4 milhão de novos casos de câncer de próstata e 375.000 mortes associadas no mundo todo. Etiologia A etiologia exata do câncer de próstata é desconhecida. No entanto, vários fatores etiológicos foram sugeridos. Dieta com alto teor de gordura Foi proposta, pela primeira vez, como um possível fator contribuinte para o câncer de próstata depois que um estudo sobre imigrantes asiáticos que moram nos EUA mostrou que essa população apresentava maior incidência de câncer de próstata que os homens que moram no Japão ou na China. Vários estudos já relataram que dietas com alto teor de gordura podem aumentar o risco de câncer de próstata. No entanto, as evidências são mistas, e os mecanismos exatos não estão claros. Fatores genéticos O risco de câncer de próstata é maior em homens com história familiar positiva de câncer de próstata. Uma metanálise relatou um risco relativo (RR) conjunto de 2.48 em homens com um parente de primeiro grau (irmão ou pai) com câncer de próstata, comparado com a ausência de história familiar de primeiro grau. O risco era maior se o parente de primeiro grau fosse irmão (RR 3.14) do que pai (RR 2.35). Um RR de 4.39 foi relatado em homens com dois ou mais parentes de primeiro grau com história de câncer de próstata. A base genética para essa causa hereditária ainda não está clara, mas foram implicadas mutações nas linhas germinativas específicas para câncer de próstata (por exemplo, HOXB13). Mutações nas linhas germinativas associadas a outros tipos de câncer (por exemplo, mama, ovário, câncer colorretal hereditário sem polipose [síndrome de Lynch]) também foram implicadas no câncer de próstata (por exemplo, BRCA1, BRCA2, ATM, CHEK2, PALB2, MLH1, MSH2, PMS2 e MLH6). Etnia Nos EUA, homens negros têm a maior incidência de câncer de próstata de qualquer grupo étnico (175.8 por 100,000). A razão é desconhecida. Influência hormonal Há evidências conflitantes relacionadas ao impacto da influência hormonal na causa direta de câncer de próstata. Fisiopatologia A neoplasia intraepitelial prostática (NIP) de alto grau é a entidade histológica amplamente considerada como a mais provável precursora de câncer de próstata invasivo. A NIP é caracterizada pela proliferação celular nos dutos e nas glândulas preexistentes com alterações citológicas que mimetizam a neoplasia. A NIP está associada a anormalidades progressivas de fenótipo e genótipo que são intermediárias entre o epitélio prostático normal e o câncer. Em um estudo, 100 pacientes com NIP de alto grau foram comparados com 112 pacientes sem NIP. O câncer de próstata foi identificado em 35% das biópsias subsequentes no grupo de NIP e em 13%, no grupo sem NIP. A NIP de alto grau, a idade do paciente e os níveis do antígeno prostático específico foram preditores muito importantes do câncer de próstata, sendo que a NIP apresenta uma razão de risco de 14.93. O câncer de próstata costuma se disseminar pela superfície capsular da glândula e pode invadir as vesículas seminais, o tecido periprostático e, consequentemente, o colo vesical. A disseminação posterior pode ser para os espaços perineurais, vasos linfáticos e sanguíneos, o que resulta em metástases hematológicas. Em um estudo de autópsia de 1589 homens com câncer de próstata realizado entre 1967 e 1995, as metástases hematológicas estavam presentes em 35% dos pacientes, com o envolvimento mais frequente de ossos (90%), pulmão (46%), fígado (25%), pleura (21%) e adrenais (13%). Classificação Sistema de estadiamento TNM do American Joint Committee on Cancer (AJCC) (8ª edição) O sistema de estadiamento do AJCC descreve a extensão da doença com base nos seguintes fatores anatômicos: tamanho e extensão do tumor primário (T) (avaliado clinicamente [cT] e patologicamente [pT]); comprometimento dos linfonodos regionais (N) (avaliados clinicamente [cN] e patologicamente [pN]); e presença ou ausência de metástases a distância (M). Fatores prognósticos não anatômicos (por exemplo, nível sérico de antígeno prostático específico e histologia/biópsia do tumor primário) são usados para complementar o estadiamento. Grupos de risco da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) Muito baixo risco: Apresenta todos os critérios a seguir: • T1c • Grupo de grau 1 • Antígeno prostático específico (PSA) <10 microgramas/L (<10 nanogramas/mL) • < 3 fragmentos/núcleos de biópsia de próstata positivos e ≤ 50% de câncer em cada fragmento/núcleo • Densidade do PSA < 0.15 micrograma/L/g (< 0.15 nanograma/mL/g) Baixo risco: Apresenta todos os itens a seguir, mas não se qualifica para risco muito baixo: • T1-T2a • Grupo de grau 1 • PSA <10 microgramas/L (<10 nanogramas/mL) Risco intermediário favorável: Não apresenta características de alto risco ou risco muito alto, e Todos os critérios a seguir: • Um dos seguintes fatores de risco intermediários: T2b-c; Grupo de Grau 2; ou PSA 10-20 microgramas/L (10-20 nanogramas/mL) • Grupo de grau 1 (se não grupo de grau 2) • Porcentagem de núcleos de biópsia positivos <50% Risco intermediário desfavorável: Não apresenta características de alto risco ou risco muito alto, e Um ou mais do seguinte: • Dois ou três dos seguintes fatores de risco intermediários: T2b-c; Grupo de grau 2 ou 3; e/ou PSA 10-20 microgramas/L (10-20 nanogramas/mL) • Grupo de grau 3 isolado • Porcentagem de núcleos de biópsia positivos ≥50% Risco elevado: Não apresenta características de risco muito alto, e Uma das seguintes características de alto risco: • T3a • Grupo de grau 4 ou 5 • PSA >20 microgramas/L (>20 nanogramas/mL) Risco muito alto: Apresenta pelo menos um dos seguintes itens: • T3b-T4 • Padrão primário de Gleason 5 • Duas ou três características de alto risco • >4 amostras com grupo de grau 4 ou 5 História Natural e Quadro Clínico (MC) A história natural do câncer de próstata é bastante heterogênea; há variação entre o câncer latente, clinicamente silente, que raras vezes resulta em qualquer morbidade, e com frequência é diagnosticado apenas em exames de autópsia, e o clínico, que pode progredir para condições graves e até óbito, caso não seja tratado de forma conveniente. Assim, a história natural do câncer de próstata é ainda pouco compreendida, sendo a prevalência da doença histológica, comumente latente, superior à da clinicamente detectável. Estudos de autópsias em homens ao redor dos 50 anos, sem história de câncer de próstata, mostraram 30% de incidência de doença oculta, enquanto, aos 80 anos, a mesma incidência se eleva para 70%. Nas fases iniciais, quando o tumor ainda está na forma localizada e, portanto, é curável, o câncer de próstata raramente é sintomático. Deve- se lembrar que a maioria se localiza na zona periférica, o que dificulta o desenvolvimento de sintomas. O fato de o câncer de próstata raramente ser sintomático demonstra grande diferença em relação à hiperplasia prostática benigna, que se desenvolve na zona de transição, que é periuretral e, portanto, causa sintoma miccional com frequência. O diagnóstico geralmente é feito com base em alterações do PSA ou no toque retal. Com a evolução da doença, sintomas decorrentes do crescimento local do tumor começam a surgir, como diminuição do jato, esforço miccional, hematúria e hemospermia. Dor óssea, compressãomedular por lesão vertebral e fraturas patológicas são comuns na fase avançada, decorrente de metástases. O EXAME CLÍNICO REALIZADO PELO TOQUE RETAL É O MAIS IMPORTANTE INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO CLÍNICA DO CÂNCER DE PRÓSTATA; sua sensibilidade para o diagnóstico é de 67 a 69%, e a especificidade, de 89 a 97%. Porém, o toque retal é frequentemente normal em portadores de tumores localizados na porção central ou anterior da próstata, que ocorrem em cerca de 20% dos casos Em doenças localmente avançadas, o toque retal tem elevado índice de suspeição, com achados de nódulos endurecidos com limites imprecisos. Acometimento de órgãos vizinhos, particularmente o reto e a bexiga, provocando obstrução e sangramento, são comuns na fase avançada da doença. O quadro clínico mais comum de acordo com o tipo de tumor é: • Tumor localizado: geralmente assintomático; 18% com nódulo prostático ao toque; • Tumor localmente avançado: sintomas obstrutivos, hematúria, hemospermia; próstata heterogênea, múltiplos nódulos, limites imprecisos; • Tumor avançado: sintomas decorrentes das metástases, dor óssea, compressão vertebral Abordagem/Diagnóstico Geralmente, os pacientes apresentam-se ASSINTOMÁTICOS, E A SUSPEITA INICIAL SURGE APÓS O RASTREAMENTO COM ANTÍGENO PROSTÁTICO ESPECÍFICO (PSA) E A REALIZAÇÃO DO EXAME DE TOQUE RETAL (ETR). Em alguns casos, os pacientes podem apresentar sintomas e sinais de obstrução urinária. A biópsia de próstata (biópsia com agulha guiada por ultrassonografia transretal (USTR) ou fusão de exame de ressonância magnética (RM) e USTR) confirma o diagnóstico e ajuda na classificação. O estadiamento é determinado usando os estudos de imagem e biópsias, quando indicado. História e avaliação clínica Deve incluir uma história familiar de câncer de próstata e outros cânceres e um foco específico nos sintomas de obstrução urinária (por exemplo, polaciúria, noctúria, hesitação) e outros sintomas geniturinários (por exemplo, hematúria, disúria). Esses sintomas podem indicar doença mais avançada ou hiperplasia prostática benigna. Raramente, o paciente pode manifestar sintomas sistêmicos de malignidade, inclusive perda de peso/anorexia, dor óssea, letargia e linfonodos palpáveis. Caso seja realizado o ETR no rastreamento, o tamanho total da próstata deve ser avaliado, além da consistência, simetria e presença de qualquer nódulos e indurações palpáveis. O tamanho normal da próstata é semelhante ao de uma noz. Uma próstata assimétrica e/ou nodular sugere câncer e deve ensejar uma avaliação adicional. Antígeno prostático específico (PSA) O PSA é uma serina protease produzida pela próstata e secretada no líquido seminal onde está envolvida na liquefação do coágulo seminal. É também encontrado circulando no sangue na sua forma livre ou ligado às proteínas plasmáticas. Os níveis séricos do PSA podem ser elevados em pacientes com câncer de próstata; no entanto, outras condições não malignas (por exemplo, prostatite e hiperplasia prostática benigna) também podem aumentar os níveis PSA. O exame do PSA pode ser combinado com o ETR como parte do rastreamento, pois aproximadamente 25% dos homens diagnosticados com câncer de próstata têm PSA normal. PSA total: O exame inicial preferido (ou seja, a soma das formas livre e ligada). Um valor de PSA total normal varia de 0 a 4 microgramas/L (0 a 4 nanogramas/mL); contudo, o nível máximo de normalidade pode variar de acordo com idade e etnia. Níveis elevados de PSA precisam ser correlacionados com a idade do paciente, pois, normalmente, o PSA aumenta com a idade, independentemente da presença de câncer de próstata. Homens com níveis de PSA acima da média para sua faixa etária apresentam risco mais alto de câncer de próstata agressivo. Por outro lado, homens com 60 anos ou mais com PSA < 1 micrograma/L (< 1 nanograma/mL) ou homens com 75 anos ou mais com PSA < 3 microgramas/L (< 3 nanogramas/mL) apresentam risco muito mais baixo para câncer de próstata agressivo. Um aumento de 0.75 micrograma/L/ano (0.75 nanograma/mL/ano) no PSA pode ser um sinal de câncer, mesmo que ocorra dentro do intervalo normal. Em certas circunstâncias, pode ser útil medir a porcentagem de PSA livre: por exemplo, em homens com biópsias de próstata previamente negativas e cujo nível do PSA esteja entre 4 e 10 microgramas/L (4 e 10 nanogramas/mL). Um PSA livre < 10% sugere presença de câncer agressivo. Tempo de duplicação do PSA e velocidade do PSA: O tempo de duplicação do PSA (TDPSA) e a velocidade do PSA (VPSA) podem ser usados como pré-tratamento para a estratificação do risco e para prever a resposta ao tratamento, e durante o acompanhamento para monitorar a evolução da doença. Atualmente, a VPSA é usada com mais frequência no contexto de pré-tratamento, ao passo que o TDPSA geralmente é reservado para monitoramento do PSA durante o acompanhamento. Vários estudos avaliaram a VPSA e o TDPSA; entretanto, há controvérsias quanto ao valor desses exames como adjuvante para a avaliação do PSA de rotina. Avaliações laboratoriais e patológicas A biópsia de próstata é o primeiro passo na investigação e no diagnóstico do câncer de próstata se o rastreamento revelar PSA > 3 microgramas/L (>3 nanogramas/mL) e/ou ETR muito suspeito. É usado para CONFIRMAR O DIAGNÓSTICO E O GRAU DO TUMOR. Uma biópsia com agulha guiada por ultrassonografia transretal (USTR) é o método mais comum de obtenção de amostras para a biópsia da próstata. No entanto, a biópsia guiada por fusão de RM-USTR está se tornando cada vez mais disponível. A biópsia do tipo RM-USTR detecta o câncer de próstata clinicamente significativo em um número maior de homens em comparação com a biópsia padrão guiada por ultrassonografia. Isso é obtido com menos biópsias em menos homens, associado a uma redução no diagnóstico de câncer clinicamente não significativo. Durante a biópsia, são obtidas de 10 a 12 amostras (5 ou 6 para cada lado). A biópsia determina a presença de neoplasia intraepitelial prostática ou carcinoma, o índice de Gleason e o percentual de cada amostra positiva, além da presença de invasão perineural. Juntamente com a biópsia, o hemograma completo de rotina, os testes da função hepática, a função renal e os níveis de testosterona são exames iniciais recomendados que ajudam no manejo. Biópsia negativa e PSA elevado: Na presença de um biópsia negativa e PSA elevado, um acompanhamento rigoroso com ETR e PSA deve ser realizado nos 6 a 12 meses após a biópsia negativa. A RNM multiparamétrica pode fornecer imagens detalhadas da próstata, o que pode ser útil para orientar a seleção de pacientes que devem repetir a biópsia. No entanto, embora seja uma ferramenta promissora, ela não substitui a biópsia porque sua precisão diagnóstica é variável e influenciada pelo risco de câncer de próstata. Exame de imagem e investigações adicionais Para pacientes assintomáticos diagnosticados com câncer de próstata de risco muito baixo, baixo ou intermediário, com expectativa de vida de 5 anos ou menos, não é necessário nenhuma outra investigação ou tratamento até o aparecimento de sintomas. O exame de imagem é necessário para o estadiamento e a detecção de metástases em pacientes com um ou mais dos seguintes fatores: • Doença sintomática • Expectativa de vida acima de 5 anos • Câncer de próstata de alto risco ou risco muito alto. Os procedimentos de imagem incluem cintilografia óssea (tecnécio-99), TC pélvica e RNM pélvica/RNM endorretal. O tipo de exame de imagem solicitado depende do estado da doença. Cintilografia óssea Uma cintilografia óssea deve ser solicitada a todos os pacientes com câncer de próstata de alto riscoou risco muito alto. As radiografias simples devem ser solicitadas para correlacionar os achados na cintilografia óssea. Entre os pacientes com doença sintomática e/ou expectativa de vida acima de 5 anos, uma cintilografia óssea deve ser solicitada caso tenham câncer de próstata de risco intermediário desfavorável, com doença T2 e PSA >10 microgramas/L (>10 nanogramas/mL). TC ou RNM pélvica Uma TC ou RNM pélvica (dependendo da preferência da instituição e da disponibilidade) deve ser solicitada para pacientes com câncer de próstata de risco intermediário, alto ou muito alto que apresentam >10% de risco de envolvimento de linfonodos pélvicos, calculado usando um nomograma validado (por exemplo, nomograma de Partin ou nomogramas do Memorial-Sloan- Kettering Cancer Center). Esses nomogramas usam características como nível sérico de PSA, estádio clínico e escore de Gleason para calcular o risco de disseminação do tumor para além da próstata. A TC ou RNM pélvica também deve ser considerada em pacientes com PSA elevado que tenham tido várias biópsias guiadas por ultrassonografia transrretal (USTR) negativas para facilitar o diagnóstico. Uma RNM deve ser solicitada para pacientes com doença de risco alto ou intermediário, se a doença encontrada fora da próstata alterar o manejo (isto é, descartar cirurgia ou adicionar terapia de privação androgênica à radioterapia). Doença metastática Na doença mais avançada, especialmente na presença de doença metastática em um osso que sustenta peso, a avaliação cirúrgica ortopédica é necessária para determinar se a estabilização cirúrgica é necessária. Em comparação com os exames de imagem tradicionais, demonstrou-se que a tomografia por emissão de pósitrons (PET)/TC com fluoreto de sódio 18F melhora a sensibilidade e a especificidade para detectar metástases ósseas e que a PET/TC com colina 11C detecta doenças metastáticas e recorrentes mais precocemente. O papel ideal desses procedimentos de imagem não está claro, mas podem ser úteis quando os achados dos exames de rotina forem equívocos. História e exame físico Principais Fatores Diagnósticos: - Presença de fatores de risco (comuns): • Os principais fatores incluem idade acima de 50 anos, etnia negra e história familiar de câncer de próstata. - Antígeno Prostático Específico (PSA) elevado (comum): • Achado mais frequentemente apresentado. • Níveis elevados de PSA precisam ser correlacionados com a idade do paciente, pois, normalmente, o PSA aumenta com a idade, independentemente da presença de câncer de próstata. • Outras condições não malignas (por exemplo, prostatite e hiperplasia prostática benigna) também podem aumentar os níveis PSA. Outros fatores diagnósticos - Exame de toque retal (ETR) anormal (comuns): • Achado menos comum, desde que o rastreamento por antígeno prostático específico (PSA) tenha sido amplamente adotado. • Uma próstata assimétrica e/ou nodular sugere câncer e deve ensejar uma avaliação adicional. - Noctúria (incomuns): • Incomum na doença de baixo risco (estádio inicial). Se presente, pode indicar doença mais avançada ou hiperplasia prostática benigna. - Polaciúria (incomuns): • Incomum na doença de baixo risco (estádio inicial). Se presente, pode indicar doença mais avançada ou hiperplasia prostática benigna. - Hesitação urinária (incomuns): • Incomum na doença de baixo risco (estádio inicial). Se presente, pode indicar doença mais avançada ou hiperplasia prostática benigna. - Disúria (incomuns): • Incomum na doença de baixo risco (estádio inicial). Se presente, pode indicar doença mais avançada ou hiperplasia prostática benigna. - Hematúria (incomuns): • Incomum na doença de baixo risco (estádio inicial). Se presente, pode indicar doença mais avançada ou outro distúrbio do trato urinário não relacionado. - Perda de peso/anorexia (incomuns): • Associada com doença metastática. - Letargia (incomuns): • Associada com doença metastática. - Dor óssea (incomuns): • Associada com doença metastática. - Linfonodos palpáveis (incomuns): • Associada com doença metastática. Diagnóstico (MC) O advento do PSA revolucionou o diagnóstico do câncer de próstata, visto que os tumores na forma localizada são assintomáticos e, muitas vezes, há alteração na dosagem do PSA mesmo na fase inicial. As campanhas de prevenção e de conscientização contra o câncer de próstata estimularam a população masculina a procurar auxílio médico para exames de rastreamento. Nos últimos anos, houve grande discussão sobre a validade do rastreamento populacional do câncer de próstata. Alguns estudos demonstraram que a porcentagem de diagnóstico era maior do que a mortalidade pela doença, questionando, então, a validade do rastreamento populacional. A detecção precoce, entretanto, definida como avaliação particular de cada indivíduo, e não populacional, certamente é benéfica. Com base na epidemiologia e nos fatores de risco, atualmente a SOCIEDADE BRASILEIRA DE UROLOGIA RECOMENDA QUE PACIENTES COM IDADE SUPERIOR A 50 ANOS, MESMO ASSINTOMÁTICO, DEVE FAZER AVALIAÇÃO PROSTÁTICA ANUAL. A avaliação é feita pelo exame clínico, com ênfase ao toque retal e à dosagem do PSA. Pacientes com fatores de risco podem começar o rastreamento mais precocemente, aos 45 anos de idade. O PSA, uma glicoproteína produzida na próstata e secretada em altas concentrações no fluido seminal, é um marcador específico de alterações do parênquima prostático, podendo estar alterado em diversas doenças que acometem a próstata. Assim, não é um marcador exclusivo desse tipo de câncer. Quando há alteração na concentração sérica do PSA, o paciente deve ser avaliado quanto a outras doenças prostáticas que acometem a glândula, como a hipertrofia prostática benigna e as prostatites. Além de doenças, manipulações prostáticas, como biópsia, massagem prostática, ultrassonografia transretal e uretrocistoscopia também elevam o PSA. Logo, a interpretação do resultado deve ser feita para cada paciente. Por outro lado, a concentração do PSA também se eleva com a idade e o aumento do tamanho da próstata. Em casos de lesão benigna, sua molécula está menos ligada a proteínas no soro. Assim, métodos auxiliares na interpretação da dosagem do PSA podem ser úteis na diferenciação entre doença benigna e câncer. Há correlação entre o volume prostático e a produção do PSA, logo, espera-se que em grandes adenomas haja elevação dessa glicoproteína. O quociente entre o PSA sérico e o peso ou o volume da próstata medido pela ultrassonografia é denominado densidade do PSA, utilizado quando o paciente apresenta hipertrofia prostática associada a elevação do PSA. A densidade deste é considerada normal quando inferior a 20%. O PSA pode também elevar-se com o envelhecimento; é normal aumento de até 0,75 ng/mL/ano. Tal conceito é denominado velocidade do PSA, que pode também ser estratificado por idade, conforme o Quadro 18.2. Quadro 18.2 - Antígeno prostático específico sérico estratificado por idade Atualmente, entretanto, o método alternativo de dosagem do PSA mais utilizado é a relação PSA livre-total. Foi observado que, em portadores de câncer de próstata, a fração livre do PSA é inferior à da população normal, em decorrência do aumento da forma complexa do PSA ligado a proteínas plasmáticas. Considera-se como inadequada e possivelmente relacionada ao câncer de próstata a relação PSA livre-total inferior a 18%, e deve ser utilizada apenas para dosagens de PSA ente 4 e 6 ng/mL. Quadro 18.3 - Outras formas de interpretação do antígeno prostático específico Os pacientes com toque retal suspeito, principalmente pela presença de nódulos endurecidos, e, ou alteração na dosagem do PSAque sugira a presença de câncer, devem prosseguir a investigação com biópsia prostática. Atualmente, a biópsia é realizada, na grande maioria dos centros, por via transretal e guiada por ultrassonografia (Figura 18.1). Tal procedimento permite avaliar o tamanho da próstata, a presença de nódulos com ecogenicidade alterada e que sugerem a presença de câncer, assim como a obtenção de múltiplos fragmentos prostáticos para avaliação histológica. Um aparelho de ultrassonografia com transdutor com agulha é utilizado para se obter, pelo menos, um total de 12 fragmentos representativos de toda a glândula, incluindo sistematicamente as faces laterolaterais – lobos direito e esquerdo. Apesar disso, os achados da ultrassonografia de próstata não são patognomônicos de câncer, e apenas auxiliam na avaliação global. A acurácia desse exame, quando avaliados apenas os achados radiológicos, é de 50 a 60%. Em casos localmente avançados, a ultrassonografia transretal já pode demonstrar sinais de lesão extraprostática, como nódulos grandes com extensão além dos limites da cápsula. A solicitação desse exame deve ser feita após avaliação cuidadosa e criteriosa do indivíduo, visto não ser isenta de complicações. Os pacientes devem receber antibioticoprofilaxia e ser orientados quanto aos riscos de sangramento e infecção. Atualmente, o exame é feito sob sedação profunda, o que facilita a aquisição de bons fragmentos da próstata e proporciona maior conforto ao examinado. Figura 18.1 - Indicações e técnica de biópsia de próstata Figura 18.2 - Locais para retirada de fragmentos prostáticos A fosfatase ácida prostática foi o primeiro marcador bioquímico utilizado em câncer de próstata, porém a introdução do PSA na prática clínica cotidiana diminuiu a utilização desse marcador, uma vez que a fosfatase ácida se eleva geralmente em doença metastática, principalmente na metástase óssea. A Ressonância Nuclear Magnética (RNM), sobretudo na chamada forma multiparamétrica, vem sendo mais empregada nos últimos anos. A introdução de equipamentos mais potentes – três teslas –, sem necessidade de bobina endorretal, estimulou a maior aplicação do método, usado para orientação de biópsia, estadiamento e avaliação de recidiva local. Alguns centros brasileiros já utilizam a biópsia prostática guiada por fusão de imagens da RNM e ultrassonografia transretal, com maior eficácia para a identificação de áreas suspeitas. Figura 18.3 - Fusão de imagens da ressonância nuclear magnética e da ultrassonografia transretal para guiar biópsia prostática Além disso, a partir da RNM multiparamétrica, foi criada a classificação de Prostate Imaging Reporting and Data System (PI- RADS®), em analogia à classificação de Breast Imaging-Reporting anda Data (BI-RADS®) para tumores de mama, que avalia a característica da imagem da RNM com a probabilidade de risco para uma lesão maligna. Quadro 18.4 - Classificação de PI-RADS® Histologia e Graduação O tipo histológico mais comum é o adenocarcinoma acinar, que corresponde a mais de 95% das neoplasias. Os tumores de células escamosas e, ou de células transicionais são raros. Um achado frequente em biópsias prostáticas, não definido como entidade patológica, é denominado proliferação atípica de pequenos ácinos (ASAP), que consiste em um diagnóstico de exclusão quando as alterações não permitem o diagnóstico de carcinoma. Sua incidência varia de 1,5 a 9%, e sua presença indica necessidade de repetição da biópsia em curto intervalo e a realização de imuno-histoquímica do fragmento acometido. A neoplasia intraepitelial prostática é um precursor do adenocarcinoma e também indica repetição da biópsia, se for de alto grau e extenso. O adenocarcinoma de próstata é graduado pelo sistema de Gleason, que estabelece cinco padrões de morfologia glandular, graduados de 1 a 5, sendo 1 correspondente à arquitetura prostática mais próxima do normal e 5 correspondente à mais indiferenciada (Figura 18.4). A soma dos dois padrões mais frequentes é chamada de escore de Gleason – se um dos padrões determina menos de 5% do volume, ele não é considerado –, que varia, portanto, de 2 a 10. Há estreita correlação entre o escore de Gleason e o comportamento biológico do tumor, com nítida redução de sobrevida em escores superiores a 6. De acordo com o sistema de Gleason, escores de 2 a 4 representam tumores bem diferenciados, 5 a 7, moderadamente diferenciados e 8 a 10, indiferenciados. Figura 18.4 - Graus do adenocarcinoma, com base no sistema de Gleason Atualmente, o escore de Gleason está em desuso cada vez mais. Este foi substituído pelo International Society of Urological pathology (ISUP). No escore de Gleason os padrões 3+4 e 4+3 eram ambos agrupados com 7, porém seus comportamentos biológicos são muito distintos. O ISUP corrige esta limitação entre outras. É um classificação de 1 a 5, conforme Quadro 18.5. Quadro 18.5 - Correlação entre escores ISUP e Gleason Dados obtidos a partir da biópsia, como volume tumoral, diferenciação e invasão local da neoplasia, permitem avaliar a agressividade do adenocarcinoma de próstata. No relato do exame anatomopatológico, devem ser avaliados graduação histológica do tumor, número de fragmentos acometidos, porcentagem de tecido envolvido, extensão tumoral pela presença de invasão perineural e extraprostática e de vesículas seminais. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO Como o intuito de estratificar o risco de progressão de doença e morte pelo cancer, D’Amico fez uma estratificação do risco de progressao do cancer de próstata em baixo, medio e alto risco (Quadro 18.6) que é muito importante para decidir o tratamento dos pacientes. Classificação de risco: • Baixo risco: ISUP 1 e PSA inferior a 10 ng/mL e T1/t2a; • Intermediário risco: ISUP 2 ou 3, ou PSA entre 10 e 20, ou T2b/T2c; • Alto risco: ISUP 4 ou 5, ou PSA superior 20 ng/mL ou T3/T4. Fatores de risco Fortes Idade >50 anos Entre os fatores de risco conhecidos do câncer de próstata, a idade é o mais importante. É mais comumente relatado em homens com mais de 50 anos, e a idade média no diagnóstico é de 67 anos (com base em dados de 2014 a 2018). Dados de autópsia indicam que 70% dos homens com mais de 80 anos de idade e 40% dos homens com mais de 50 anos de idade apresentam evidência patológica de câncer de próstata. Etnia negra Por razões desconhecidas, a incidência de câncer de próstata nos EUA é a mais alta entre homens negros (175.8 por 100,000). Nos EUA, os homens negros têm o dobro de chances de morrer em decorrência da doença, em comparação com outras etnias, entre eles brancos, índios norteamericanos/nativos do Alaska e não hispânicos. Populações do noroeste da Europa, Caribe, Austrália, Nova Zelândia, América do Norte e sul da África: A incidência é maior no noroeste da Europa, Caribe, Austrália, Nova Zelândia, América do Norte e sul da África. História familiar positiva/fatores genéticos O risco de câncer de próstata é maior em homens com história familiar positiva de câncer de próstata. Fracos Alimentação com alto teor de gordura: Dietas com alto teor de gordura podem aumentar o risco relativo de câncer de próstata Tratamento Poucas doenças têm formas de tratamento tão variadas e eficientes, o que obriga o médico a decidir por uma conduta particularizada. Para definir a melhor forma de tratamento para o câncer de próstata, é necessário avaliar a extensão da doença, a agressividade da neoplasia, a expectativa de vida, a presença de comorbidades e a opção do paciente perante as vantagens e as possíveis complicações de cada tratamento. A seguir, serão discutidas as principaismodalidades e, posteriormente, a indicação conforme o estadiamento Observação expectante e vigilância ativa O câncer de próstata é altamente prevalente em idosos. Porém, frequentemente, o tumor apresenta comportamento biológico pouco agressivo, latente. Assim, pacientes mais velhos, principalmente com idade superior a 75 anos, não se beneficiam com o tratamento radical, pois é mais comum morrerem de outras causas, mesmo na ausência de tratamento para esse câncer. Indivíduos com outras comorbidades graves, em que se confirma expectativa de vida inferior a 10 anos, também podem apresentar essa mesma evolução. Para tais grupos, independentemente da agressividade do tumor, ou do valor do PSA e sem a obrigatoriedade de exames periódicos, visando apenas conforto, qualidade de vida e minimizar a toxicidade de um tratamento invasivo, é proposto um tratamento paliativo. A conduta para esses pacientes é denominada observação expectante. Mais recentemente, a conduta denominada vigilância ativa foi estabelecida para portadores de neoplasia de próstata bem diferenciada com Gleason inferior a 6, até três fragmentos positivos, PSA menor que 10 ng/mL e envolvimento de menos de 50% do fragmento. Estes pacientes são acompanhados periodicamente com RNM, PSA, toque retal e novas biopsias e, em caso de alteração de qualquer um destes parâmetros para uma doença de maior risco, o tratamento radical é indicado. A decisão deve ser amplamente discutida e compartilhada com o paciente. Diferentemente da observação vigilante, aqueles em vigilância ativa são obrigatoriamente submetidos a novas biópsias para avaliar possível mudança no padrão histológico e, nesses casos, rediscutir a conduta pela possibilidade de tratamento invasivo, com intenção de cura e sem comprometer a sobrevida. Prostatectomia radical O tratamento cirúrgico pela remoção total da glândula foi proposto há muitos anos, porém ganhou impulso somente após os estudos de Walsh e Reiner, nos anos 1980 (Figuras 18.8, 18.9, 18.10 e 18.11). É o padrão-ouro no tratamento da doença localizada. A próstata é removida em bloco, com as vesículas seminais (Figura 18.12); o colo vesical é então reconstruído e anastomosado ao coto da uretra membranosa. A próstata pode ser acessada por via perineal, retropúbica, videolaparoscópica e, mais recentemente, robótica. A via perineal é utilizada em pacientes com anatomia pélvica favorável e PSA abaixo de 10 ng/mL, pois esse acesso não permite a dissecção dos linfonodos pélvicos, e a linfadenectomia pode ser omitida nesse grupo. A via retropúbica é a mais frequentemente utilizada, com a vantagem de permitir a dissecção dos feixes vasculonervosos envolvidos no mecanismo da ereção. A prostatectomia radical robótica já é realidade em diversos centros na Europa, nos Estados Unidos, e, mais recentemente, no Brasil, reduzindo o período de internação e as taxas de transfusão. Porém, os benefícios quanto à disfunção erétil e à incontinência urinária ainda estão sendo avaliados. Figura 18.8 - Anatomia cirúrgica da próstata Figura 18.9 - Secção do complexo venoso dorsal e uretra Figura 18.10 - Preservação dos nervos eretores e tratamento do colo vesical após a retirada da peça Figura 18.11 - Anastomose uretrovesica Figura 18.12 - Produto de prostatovesiculectomia radical A hemorragia, historicamente, tem sido a complicação intraoperatória mais comum e incômoda, porém os refinamentos técnicos permitiram a redução substancial da perda sanguínea. A lesão retal é uma complicação rara, de aproximadamente 0,5%. A mortalidade perioperatória das grandes séries é de 0,5%. A trombose venosa profunda e o tromboembolismo pulmonar são mais frequentes, pois, há aumento da prevalência em pacientes oncológicos e submetidos a cirurgias pélvicas. A incontinência urinária persiste como a complicação mais temerosa da prostatectomia radical. A dissecção cuidadosa do ápice prostático e a preservação dos feixes vasculonervosos e da musculatura esfincteriana permitiram a diminuição das taxas de incontinência. Dados provenientes de grandes centros norte-americanos referem taxas ao redor de 10%; na maioria dos homens, as perdas ocorrem aos grandes esforços. A DISFUNÇÃO ERÉTIL É A COMPLICAÇÃO MAIS FREQUENTE APÓS A PROSTATECTOMIA RADICAL E ESTÁ RELACIONADA À IDADE, ao estádio da neoplasia e à preservação ou excisão dos feixes vasculonervosos. A diminuição da função erétil, parcial ou total, acontece em até 70%, porém os refinamentos técnicos propostos por diversos cirurgiões demonstram reduções desses índices. O candidato ideal para prostatectomia radical é o paciente com doença localizada, com características biológicas agressivas, expectativa de vida de 10 a 20 anos e livre de graves comorbidades. Optando-se por conduta conservadora, 50 a 75% dos tumores com essas características progredirão em 10 anos de acompanhamento e, na ausência de tratamento, 13 a 20% desses evoluirão para óbito decorrente do câncer de próstata. Em doenças confinadas à próstata, a prostatectomia radical oferece a maior chance de sobrevida livre de doença em longo prazo (85% em 15 anos). O PSA é também utilizado no seguimento da prostatectomia radical, e valores inferiores a 0,2 ng/mL são considerados como livres de doença. Radioterapia A radioterapia tem sido utilizada no tratamento do câncer de próstata por décadas, pois está demonstrado que a doença é responsiva a radiação ionizante. Nos últimos anos, a evolução nos métodos de imagem por tomografia, reconstruções tridimensionais e o melhor entendimento da biologia molecular desse câncer permitiram grande evolução no tratamento radioterápico, sendo introduzidos novos métodos, como a radioterapia conformacional e a radioterapia de intensidade modulada, que permitem maior dose de radiação e melhores resultados. Além dessas modalidades de radioterapia, há ainda a braquiterapia, que é um tipo de radioterapia que usa a fonte de radiação em contato direto com os tecidos a serem tratados, sendo implantados materiais radioativos em formas de pequenas cápsulas com titânio. O uso desse tratamento está relacionado diretamente com a preservação dos tecidos sadios e dos órgãos próximos ao tumor. As cápsulas são colocadas no local por meio de agulhas, tubos ou cateteres, guiadas por ultrassonografia ou tomografia computadorizada. Geralmente, são usados os isótopos iodo-125, que têm a meia-vida de 60 dias em média, e paládio-103, cuja meia-vida é de 17 dias, aproximadamente. Os resultados oncológicos são satisfatórios e semelhantes aos da prostatectomia radical, porém, em geral, ligeiramente inferiores. A comparação de resultados dos métodos é bastante difícil, uma vez que, frequentemente, a radioterapia é indicada a pacientes idosos e com tumores mais avançados. Grandes séries de radioterapia conformacional apresentam taxas de sobrevida livre de doença em 5 anos em torno de 75%. A braquiterapia também tem sido utilizada em indivíduos com adenocarcinoma de próstata com glândulas de tamanho normal e sem antecedentes de manipulação cirúrgica (Figura 18.13). O seguimento pós-radioterapia não é tão simples quanto após a prostatectomia radical, uma vez que a próstata permanece in loco, influenciando a dosagem do PSA durante o tratamento. As principais complicações da radioterapia prostática são: • Lesões actínicas dos órgãos circunjacentes à próstata, como o reto e a bexiga; • Sintomas urinários, cujas taxas estão em torno de 5%; • Disfunção erétil, cujas taxas, após 1 ano de procedimento, estão em torno de 50%, porém a resposta à sildenafila é bastante satisfatória (aproximadamente 85%). Figura 18.13 - Braquiterapia poragulha Figura 18.14 - Braquiterapia por sementes Hormonioterapia Na década de 1940, Huggins e Hodges estudaram os efeitos da estrogenoterapia sobre o câncer de próstata, o que lhes rendeu o prêmio Nobel em 1946. Desde então, o bloqueio androgênico tem sido utilizado no tratamento, principalmente nas formas metastáticas da doença. Os androgênios são produzidos, principalmente, pelas células de Leydig, localizadas nos testículos; são produzidos também, em menor quantidade, no córtex adrenal. A produção desses hormônios é estimulada pelos hormônios hipofisários luteinizante, folículo- estimulante e adrenocorticotrófico. O tratamento hormonal visa à interrupção direta da produção ou à redução do estímulo hipofisário para diminuir a produção de androgênios. Os mecanismos utilizados para o bloqueio são castração cirúrgica pela orquiectomia bilateral, agonistas parciais dos hormônios hipofisários (LHRH, gosserrelina), esteroides antiandrogênicos (flutamida, ciproterona) e estrogenoterapia. O bloqueio androgênico promove a apoptose das células cancerosas, com redução da massa tumoral, regressão das metástases e diminuição dos níveis de PSA. Contudo, pela presença de células cancerosas hormônio-resistentes, essa forma de tratamento não é curativa, mas promove melhora dos sintomas urinários obstrutivos, redução da dor óssea e, até mesmo, da compressão medular por metástases vertebrais na fase inicial do tratamento. Os principais efeitos colaterais do bloqueio androgênico são anemia, osteoporose, diminuição da libido, disfunção erétil e ondas de calor. 18.8.5 Quimioterapia Recentemente, demonstraram-se os benefícios da quimioterapia a portadores de câncer de próstata hormônio-resistente utilizando docetaxel, enzalutamida e abiraterona – associado à prednisona. Houve aumento da sobrevida quando em comparação aos esquemas antigos. Entretanto, o melhor momento para a utilização da droga ainda não foi definido, e estudos maiores, multicêntricos, ainda são necessários para definir a eficiência do tratamento. Prognóstico Como já comentado, o prognóstico está intimamente relacionado às características do tumor, as quais atualmente se avaliam por fatores como escore de Gleason, estadiamento etc., assim como condições clínicas. Neoplasias de baixa agressividade em muitos idosos ou portadores de graves comorbidades geralmente não trazem prejuízo à sobrevida ou à qualidade de vida. Contudo, neoplasias indiferenciadas ou metastáticas apresentam evoluções extremamente desfavoráveis. A seguir, a descrição de tratamentos e evolução mais frequentes das situações mais comuns em indivíduos com adenocarcinoma de próstata. Quadro 18.6 - Evolução por tratamento e características da neoplasia
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