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1.Definição A esquistossomose mansoni é uma doença infecto parasitária, causada pelo trematódeo Schistosoma mansoni, que têm como hospedeiros intermediários caramujos de água doce e as formas adultas habitam os vasos mesentéricos do hospedeiros definitivo (homem). Pode evoluir desde formas assintomáticas até formas clínicas extremamente graves com comprometimento hepático e consequente hipertensão portal. Somente o S. mansoni existe nas Américas do Sul e Central. 2. Epidemiologia A esquistossomose é uma das parasitoses mais disseminadas no mundo, ocupando o segundo lugar (após a malária), de acordo com a Organização Mundial da Saúde. O Brasil é o país que possui a maior área endêmica. Presente ao longo de quase toda a costa litorânea da região Nordeste, a partir do Rio Grande do Norte em direção ao Sul, incluídas as zonas quentes e úmidas dos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, onde se interioriza alcançando Minhas Gerais, no Sudeste, seguindo o trajeto de importantes bacias hidrográficas. ESQUISTOSSOMOSE Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO 3. Agente Etiológico a) Características Gerais O Schistosoma mansoni é um helminto que representa a classe Trematoda (de forma foliácea, não segmentados e com presença de ventosas), do filo Platelmintos (vermes achatados). Possui cor esbranquiçada ou leitosa e possuem duas ventosas (anterior e ventral), capazes de fixar o parasita na parede do vaso. Existência do caramujo transmissor; Contato com a água contaminada; Fazer tarefas domésticas em águas contaminadas, como lavar roupas; Morar em comunidades rurais, especialmente populações agrícolas e de pesca; Morar em região onde há falta de saneamento básico; Morar em regiões onde não há água potável. Fatores de risco: b) Ciclo Evolutivo Apresenta as seguintes formas evolutivas: ovo, miracídeo, larva cercária e esquistossômulo. Possuem formato oval, apresentando um espículo lateral voltado para trás. Para que o ovo liberte o embrião, é necessário contato com a água. Depois que a água penetra por osmose no ovo e rompe sua casca, o miracídio movimenta-se ativamente em busca do caramujo hospedeiro intermediário. A penetração do miracídio no interior do molusco hospedeiro intermediário ocorre devido à atividade de substâncias histolíticas que são secretadas por suas glândulas cefálicas. Após quatro a sete semanas da infecção, o molusco começa a liberar cercárias. A cercária irá infectar o hospedeiro definitivo. A penetração ocorre ativamente, por meio da ação combinada da secreção lítica das glândulas anteriores e dos movimentos vibratórios, sobretudo da cauda. A cercária produz uma irritação de intensidade variável de indivíduo pra indivíduo (urticária e exsudato pápulo- eritematoso em alguns casos). O processo de penetração dura de dois a 15 minutos. No hospedeiro definitivo elas perdem a cauda e se transformam em esquistossômulos, indo para a circulação sanguínea e/ou linfática, atingem a circulação venosa, vão ao coração e aos pulmões, onde permanecem algum tempo e podem causar certas alterações mórbidas. Os vermes adultos se localizam no fígado e nos ramos terminais das veias mesentéricas, daí migram para as vênulas da submucosa intestinal, onde serão colocados os ovos. O período de incubação é de 2-6 semanas após a infecção. A transmissão não ocorre por contato direto e também não ocorre autoinfecção. É necessário, obrigatoriamente, que o esquistossoma saia do hospedeiro definitivo e passe pelo ciclo complementar no interior do hospedeiro intermediário, para poder infectar o homem. Os caramujos são os hospedeiros intermediários naturais. No Brasil, pertencem à família Planorbidae (habitam coleções hídricas lênticas) e gênero Biomphalaria. Três espécies possuem importância epidemiológica: Biomphalaria glabrata (mais importante devido nível de infecção e distribuição), Biomphalaria tenagophila e Biomphalaria straminea. NOTA¹: A infecção pelo S. mansoni pode acontecer em roedores, marsupiais e ruminantes. Porém, o ser humano é o hospedeiro definitivo de maior importância epidemiológica. ESQUISTOSSOMOSE Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO 4. Clínica a) Fase Inicial Começa após o contato com a cercária. Observa-se infiltrado de polimorfonucleares ao redor dos parasitos e nas proximidades dos vasos. Mais tarde, surgem linfócitos e macrófagos. Predomínio de reação alérgica + alterações dermatológicas. b) Fase Aguda Pode ser assintomática ou sintomática. Na assintomática, pode-se notas apenas alterações laboratoriais: eosinofilia e ovos viáveis de S. mansoni nas fezes. Já na sintomática, logo após o contato pode existir manifestação pruriginosa na pele, dura de 24-72 horas até 15 dias e cede espontaneamente. Chama-se de dermatite cercariana (micropápulas eritematosas). Os sintomas surgem cerca de três a quatro semanas após a contaminação e incluem: linfodenopatia, mal- estar, febre, hiporexia, tosse seca, sudorese, dores musculares, dor na região do fígado ou do intestino, diarreia, cefaleia e prostração, entre outros. A intensidade dos sintomas aumenta entre a quinta e sexta semana, coincidindo com o início da oviposição. O doente apresenta-se abatido, com hepatomegalia e esplenomegalia dolorosas, taquicardia e hipotensão arterial. Em exames laboratoriais encontra-se eosinofilia elevada (> 1000 cels/mm³). Parasitológico identifica ovos viáveis do verme. Biópsia hepática revela o característico granuloma esquistossomótico na fase necrótico- exsudativa. As provas de função hepática (fosfatase alcalina, gama glutamil transferase e transaminases) encontram-se elevadas. Possível identificar hepatoesplenomegalia no exame ultrassonográfico. Os sintomas podem durar 90 dias, com remissão espontânea, ocorrendo ausência de febre e diminuição de fígado e baço. c) Fase Tardia Alguns indivíduos irão evoluir da forma aguda para a crônica. Geralmente são pacientes que apresentam modulação satisfatória do granuloma, indo de um granuloma necrótico- exsudativo para um produtivo com menos número de células inflamatórias, sem área de necrose e com mais fibra colágena. Forma hepatointestinal: No ultrassom do abdômen, presença de espessamento periportal pode sugerir progressão para a forma hepatoesplênica. Geralmente assintomático, quando apresenta queixas, são inespecíficas. Observam-se surtos diarreicos e, por vezes, disenteriformes, intercalados com constipação intestinal crônica. No qual são sintomas gerais de parasitoses intestinais. No exame físico, pode apresentar dor à palpação dos cólons, hepatomegalia. Geralmente baço não palpável. Forma hepática: Pode ser assintomática. Ao exame físico, o fígado é palpável e endurecido, à semelhança do que acontece na forma hepatoesplênica. Na ultrassonografia, verifica-se a presença de fibrose hepática, moderada ou intensa. Nessa forma clínica, o paciente não apresenta varizes de esôfago e sangramento decorrente da ruptura de varizes. Forma hepatoesplênica: Pode se apresentar como compensada, descompensada ou complicada. O paciente irá apresentar esplenomegalia associada à hipertensão portal e varizes de esôfago. Os outros sintomas são inespecíficos. A ascite inscreve-se entre as manifestações mais comuns de descompensação no esquistossomótico, com frequência iniciando-se após episódio de hemorragia digestiva alta. ESQUISTOSSOMOSE Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Forma pulmonar: Os ovos, vermes mortos e a vasculite pode causar obstrução vascular e consequente hipertensão pulmonar. Pode também apresentar a forma cianótica. Os sintomas e sinais clínicos caracterizam a síndrome do cor pulmonale. Observam-se síncope de esforço, hiperfonese de P2, impulsão na região mesogástrica e sinais de insuficiência cardíaca. NOTA²: Cor pulmonale é o aumento do ventrículo direito secundário à pneumopatia, o qual provoca hipertensão arterial pulmonar, sucedida por insuficiência ventricular direita. Forma neurológica: Os ovos podem atingir o SNC. A lesão mais frequente na esquistossomose mansônicaé a mielite transversa. As manifestações clínicas nos pacientes são pobres, mas casos de epilepsia, acidente vascular cerebral e tumores cerebrais já foram descritos na literatura. O diagnóstico e o tratamento, nesses casos, são geralmente cirúrgicos. Ascite Varizes Os ovos retidos nos espaços-porta hepáticos são responsáveis pela forma hepática e pela forma hepatoesplênica da esquistossomose crônica. O granuloma ao redor do ovo pode evoluir para uma fibrose periportal nodular, denominada fibrose de Symmers. 5. Diagnóstico Diferencial a) Dermatite cercariana: pode ser confundida com dermatite por larvas de helmintos ou por produtos químicos lançados no rio. b) Esquistossomose aguda: doenças infecciosas, como febre tifoide, malária, hepatites virais, estrongiloidiase, amebíase, mononucleose, tb miliar e ancilostomose aguda. c) Esquistossomose crônica: parasitose. 6. Diagnóstico O diagnóstico só é confirmado com os exames laboratoriais. a) Métodos diretos: visualização ou na demonstração da presença de ovos de S. mansoni nas fezes ou tecidos ou de antígenos circulantes do parasito. Através do parasitológico de fezes, pesquisa do antígeno ou biópsia do tecido. Praziquantel Todas as fases. Dose: 40 mg/kg. Dose única Oxamniquine Age em todos os estágios evolutivos. Dose: 15 mg/kg. Dose única. b) Métodos indiretos: envolve reação de antígeno-anticorpo, como ELISA (para identificação IgG, IgM, IgA), reação periovular (incubação de ovos com soro do paciente; técnica trabalhosa), intradermorreação (não recomendada atualmente). 7. Tratamento a) Fase aguda: a dermatite cercariana é tratada com anti- histamínicos locais e corticosteroides tópicos. Em caso de febre, pode ser necessário internar, porém recomenda-se hidratação, repouso e antitérmicos. Iniciar o uso da prednisona 1 mg/kg/dia, que deve ser associado ao tratamento específico. b) Fase crônica: o tratamento específico é feito com Praziquantel e Oxamniquine. ESQUISTOSSOMOSE Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO c) Avaliação de cura: são realizados três exames de fezes no quarto mês após o tratamento mais biópsia retal 4º - 6º mês de tratamento. 8. Notificação É uma doença de notificação compulsória nas áreas não endêmicas e de formas graves, em áreas endêmicas. 9. Estratégias de Prevenção O controle da esquistossomose é baseado no tratamento coletivo de comunidades de risco, acesso à água potável e saneamento básico, educação em saúde e controle de caramujos em lagos e rios.
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