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Panstrongylus geniculatus: recentemente foram encontradas algumas pequenas colônias peridomésticas em áreas do Pará. 3. Quais as formas de transmissão? Qual a mais relevante atualmente? A DCH tem sido bastante transmitida pela via vetorial, na maior parte do continente, sendo hoje a via transfusional a alternativa mais importante. Uma terceira via é a congênita. Os demais modos são considerados excepcionais, como o oral, por transplantes de órgãos e o acidental. Recorde-se que, no ciclo silvestre, a via oral é bastante frequente. 4. Quais hospedeiros definitivos? Todos adoecem? Há três ciclos de transmissão vetorial do T. cruzi, sendo o de maior importância epidemiológica o ciclo doméstico, entre os seres humanos, que constituem os principais reservatórios do parasita, além dos cães, gatos e, em alguns países, as cobaias. No ciclo silvestre, intervêm os triatomíneos que podem transmitir o parasito a roedores, marsupiais e outros animais silvestres (tatus). O terceiro ciclo é o peridoméstico, que envolve mamíferos (roedores domésticos, marsupiais, gatos e cães) que têm livre acesso às residências; além de triatomíneos silvestres, que são atraídos às casas pela luz e alimento. Esses animais (tatus, gambás, roedores) convivem com "barbeiros" silvestres. Com o desequilíbrio ecológico, a doença chegou ao homem e aos mamíferos domésticos. Grupo 1: espécies com forte adaptação aos ecótopos artificiais, sendo raros ou inexistentes os focos silvestres - Triatoma infestans, Triatoma rubrofasciata e Rhodnius prolixus. Grupo 2: espécies em processo de adaptação às vivendas humanas, podendo ser ainda muito encontradas em focos silvestres - Triatoma dimidiata, T. sordida, T. maculata, T. brasiliensis, T. pseudomaculata, T. barberi, T. longipenis e Panstrongylus megistus. Grupo 3: espécies predominantemente silvestres, com eventuais incursões em ecótopos artificiais onde raramente se encontram pequenas colônias - Triatoma rubrovaria, T. protacta, T. tibiamaculata, T. vitticeps, T. matogrossensis, Rhodnius neglectus, R. nasutus, R. pictipes, R. ecuadoriensis, R. robustus e R. pallescens. Grupo 4: espécies fundamentalmente silvestres. Excepcionalmente, insetos adultos podem ser detectados em vivendas humanas, sem nunca colonizá-las - Triatoma arthurneivai, T. nitida, T. platensis, Panstrongylus geniculatus, P. lutzi, P. diasi. Grupo 5: espécies exclusivamente silvestres: Psammolestes sp, Cavernicola sp, Dipetalogaster maximus, Microtriatoma sp, Belminus sp. 1.Qual o agente etiológico da Doença de Chagas? A Doença de Chagas (DC), ou tripanossomíase americana, é uma antropozoonose causada por um protozoário flagelado, o Trypanosoma cruzi. 2. Quais os vetores da doença? Qual a espécie de maior impacto? Os vetores da DC são insetos hemípteros, família Reduviidae e da subfamília Triatominae. Têm porte relativamente grande e são hematófagos estritos, eventualmente realizando canibalismo e coprofagia, com isso podendo (excepcionalmente) o T. cruzi transmitir-se vetor a vetor. De modo sumário, as principais espécies podem ser divididas em cinco grupos de acordo com as suas características bioecológicas e capacidade de domiciliação: T. infestans: foi o maior responsável pela DCH no Brasil. Rhodnius prolixus: no Brasil, tem sido de detcção esporádica, em focos silvestres isolados, basicamente na Amazônia. Panstrongyllus megistus: mostra-se muito mais domiciliar ao norte de Minas Gerais e na Bahia, sendo predominantemente peridomiciliar e silvestre ao sul de Minas Gerais e em São Paulo, sendo praticamente silvestre em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. DOENÇA DE CHAGAS - ROTEIRO Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Em sua maioria, os triatomíneos são silvestres, têm hábitos noturnos e tendem a voar pouco, sendo a fêmea mais ativa que o macho e com maior capacidade de dispersão e longevidade. De modo geral, todos os triatomíneos podem infectar-se pelo T. cruzi em qualquer etapa da sua vida ao sugarem um reservatório infectado. 6. Qual a história natural da doença? A DCH apresenta um "período de incubação" entre 7 e 10 dias após a contaminação pelo vetor, podendo ser mais longo na transmissão transfusional. Segue-se uma fase aguda (aparente ou inaparente), com duração média entre 3 e 8 semanas, em que o tratamento pode propiciar cura e, na sua ausência, ocorre entre 5 e 10% de morte nas crianças menores. Instala-se, então, a fase crônica, de longa duração, caracterizada por baixa parasitemia e teor elevado de anticorpos da classe IgG, praticamente não se detectando anticorpos tipo IgM. Geralmente, a fase crônica se instala por meio da forma indeterminada, sempre assintomática, cuja duração é indefinida, podendo ser muito longa (ou mesmo permanente) e evoluir para uma forma clínica definida após 10 ou 20 anos de curso da infecção. Não há substrato anatômico ou fisiológico para se admitir a morte do chagásico devido à etiologia chagásica na forma indeterminada. As formas crônicas determinadas (cardiopatia, digestiva ou mista), em geral, evoluem insidiosamente a partir da forma indeterminada, assumindo uma conotação benigna e de evolução lenta na maioria dos casos. Uma proporção entre 5 e 10% dos pacientes, entretanto, evolui para as formas graves e progressivas da cardiopatia crônica, aí normalmente sobrevindo a morte prematura do chagásico. A chamada forma subaguda, muito rara, se instala subitamente em indivíduos jovens e assintomáticos, por meio de uma miocardite intensa que leva à insuficiência cardíaca refratária em poucos dias, e à morte. 5. Qual a epidemiologia da doença? Distinguem-se basicamente duas formas de circulação do T. cruzi na natureza, entendidas como os ciclos "silvestre" e "doméstico" do parasito. O ciclo silvestre é ancestral, resultante da movimentação do T. cruzi entre reservatórios e vetores em um sem-número de ecótopos naturais que variam desde os desertos da Califórnia e os palmeirais da América Central e Caribe, até outros sistemas como as matas Amazônica e Atlântica, a caatinga nordestina, os cerrado Brasil Central, os pedregais do Chile e do Uruguai, a Pampa úmida, o Chaco, o Pantanal e a pré- cordilheira andina. Nesses ambientes, o parasito se abriga (sem aparentemente molestar) em uma enorme variedade de mamíferos de pequeno e médio portes e em muitas espécies de triatomíneos silvestres. Os principais reservatórios silvestres são os marsupiais (especialmente os gambás), os roedores (uma enorme série de ratos silvestres), animais desdentados (especialmente tatus e tamanduás), pequenos carnívoros (gatos e cachorros- do-mato), lagomorfos (coelhos em geral), vários tipos de macacos e morcegos etc. A grande importância das aves é justamente a de servir de fonte alimentar aos triatomíneos sem nunca serem contaminadas pelo T. cruzi, como, aliás, também o fazem animais pecilotérmicos como os anfíbios (rãs, sapos e pererecas) e os répteis (vários tipos de lagartos). O ciclo doméstico do parasito é muito mais recente em sua evolução, produto da inserção do homem no ambiente silvestre, especialmente depois da descoberta da América por Colombo. Toda a dispersão da DCH segue o binômio "triatomíneo domiciliado" e "habitação de má qualidade", com seu pico de endemicidade na primeira metade do século XX. Assim, a DCH emerge de uma interação espúria do homem com o espaço silvestre, detectando-se nesta relação fatores bioecológicos e sociais igualmente importantes. Pode-se dizer que o T. infectans foi o maior responsável pela DCH no Brasil ( e também em todo o cone sul), chegando a dispersar-se em mais de 720 municípios do país. DOENÇA DE CHAGAS - ROTEIRO Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO 7. Quais as ferramentas diagnósticas da doença? Quando o T. cruzi penetra pela conjuntiva, origina-se o sinal de Romaña ou complexo oftalmo-linfonodal; quando a penetração se dá na pele, formam-se os chagomas de inoculação. Os métodos de diagnósticolaboratorial podem apresentar diferentes resultados dependendo da fase da doença em que são aplicados, ou seja, fase aguda ou crônica. Durante a fase aguda, ocorre alta parasitemia e presença de imunoglobulinas específicas anti-T. cruzi da classe IgM. Neste período, recomenda-se exame parasitológico de sangue: lâmina corada de gota espessa ou esfregaço, método enriquecido por concentração e a pesquisa a fresco de tripanossomatídeos e exames sorológicos: hemaglutinação indireta ou passiva (HAI), imunofluorescência indireta (IFI) e o método imunoenzimático (ELISA). Na fase crônica, observa-se baixa parasitemia e altos títulos de imunoglobulinas específicas. Nesta fase, os exames sorológicos mais indicados são IFI, ELISA, HAI e fixação do complemento. Também podem ser úteis métodos de exames parasitológicos indiretos, como xenodiagnóstico e hemocultura. DOENÇA DE CHAGAS - ROTEIRO Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO O diagnóstico sorológico para doença de Chagas confirma a presença de anticorpos específicos no soro do paciente muito cedo (fase aguda da infecção) e se mantém contínuo durante toda a fase crônica da doença. Apesar disso, não se pode excluir a probabilidade de falsos positivos e falsos negativos, motivo pelo qual se preconiza o emprego de dois métodos diferentes. 8. Quais as complicações agudas da doença? O comprometimento cardíaco é frequente, desenvolvendo-se no órgão as lesões básicas que originam epicardite, miocardite e endocardite parietal. Constituem-se, portanto, em uma verdadeira pancardite, à qual se associam lesões do sistema nervoso autônomo intracardíaco (SNAIC). Instalação do quadro de insuficiência cardíaca congestiva observada em alguns casos. Também é componente do quadro da cardite chagásica aguda a endocardite parietal, focal ou difusa. Não há comprometimento do endocárdio valvular. No sistema digestivo, os processos patológicos fundamentais são encontrados predominantemente nas camadas musculares e nos plexos nervosos intramurais das vísceras ocas. Nos pacientes com manifestações neurológicas graves, há meningoencefalite multifocal, a qual associa-se invariavelmente à miocardite chagásica aguda, em geral intensa, sendo esta associação a responsável pela gravidade do quadro e pela mortalidade nesses pacientes. Predomínio das arritmias e/ou das manifestações de insuficiência cardíaca. Grande remodelação do estroma cardíaco no cardiopata chagásico crônico. No Brasil, na Bolívia, na Argentina, no Chile e no Peru, parcela variável de chagásicos crônicos manifesta distúrbios funcionais, especialmente do esôfago (esofagopatia chagásica) e do colo (colopatia chagásica), os quais podem se seguir ou não de dilatação dessas víscera (megas). Em outras áreas geográficas, como na Venezuela e no Panamá, onde ocorre cardiopatia chagásica crônica, não se observam manifestações digestivas da DC, o que sugere a existência de diferenças regionais. 10. Qual o tratamento? No momento, dois fármacos eventualmente disponíveis vêm sendo usados contra o T. cruzi na DCH: o nifurtimox (Lampit®) e o benzonidazol (Rochagan®). Ambos são ativos contra formas sanguíneas do parasito e também sobre as teciduais (provavelmente menos), devendo ser administrados continuamente por não menos do que 30 dias e, idealmente, de 60 dias. A administração desses fármacos é oral, com metabolismo hepático e excreção urinária. O "nifurtimox", um pouco mais antigo, é um nitrofurânico que se apresenta em comprimidos de 120 mg, devendo ser administrado na dose básica de 8 a 10 mg/kg peso/dia para adultos e 10 a 15 mg/kg/dia para crianças, em três tomadas diárias (a cada 8 horas). O "benzonidazol" vem em comprimidos de 100 mg, para uso na dose de 5 mg/kg/dia para adultos e de 7 a 10 mg/kg/dia para crianças, sempre em tomadas a cada 12 horas. Na fase aguda, em situações de maior gravidade em que a miocardite é extrema, um recurso heroico e excepcional é associar corticosteroideterapia com o tratamento específico, com isso diminuindo o componente inflamatório do quadro. Lesões morfológicas ocorrem também em músculos esqueléticos, fígado, baço etc. porém são discretas e desprovidas de importância prática. 9. Quais as complicações crônicas da doença? A cardiopatia chagásica crônica, que tem como substrato morfológico fundamental uma miocardite crônica progressiva e fibrosante, pode ser assintomática ou manifestar-se como uma síndrome congestiva e/ou com alterações do ritmo cardíaco e da condução do estímulo elétrico. Outras vezes, sua primeira manifestação é a morte súbita. Do ponto de vista morfológico, os corações dos chagásicos incluídos nessa forma da doença mostram epicardite, miocardite e endocardite parietal. A endocardite é, em geral, discreta e essencialmente parietal, podendo estar associada à trombose. Lesões do SNAIC, representadas por ganglionite, periganglionite, neurite e perineurite crônicas, são quase que constantes, sendo decorrentes ou não da propagação da epicardite. Os aumentos de peso e volume do coração, observados em graus variáveis, na quase totalidade dos portadores da forma cardíaca sintomática da DC, se devem especialmente à hipertrofia do miocárdio, embora outros fatores possam concorrer para sua instalação (edema, exsudato, fibrose). A dilatação das cavidades cardíacas, em geral mais marcante à direita, e dos óstios atrioventriculares também concorrem para a cardiomegalia e para a insuficiência funcional das valvas mitral e tricúspide. Cerca de 55 a 60% dos corações dos portadores da forma cardíaca da doença apresentam um peculiar adelgaçamento circunscrito do vórtice cardíaco que se conhece como lesão vorticilar (lesão de ponta, aneurisma de ponta, lesão atrófica do vórtice etc.). DOENÇA DE CHAGAS - ROTEIRO Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Em todos os casos agudos e congênitos Como quimioprofilaxia em casos de acidentes com T. cruzi e em transplantes com doador infectado e receptor suscetível Em pacientes com infecção recente e crônicos de baixa idade (menores de 15 anos) Em pacientes na forma crônica indeterminada, em caráter experimental Em pacientes com formas clínicas benignas e iniciais, em caráter experimental Já como critério de cura da DC, o que se admite é que tenha que ocorrer a erradicação completa do parasitismo, traduzida na negativação total e permanente das provas parasitológicas (xenodiagnóstico e hemocultura) e imunológicas (sorologia convencional e testes especiais, como a dosagem de anticorpos líticos). O critério clínico é secundário, funcionando como suporte apenas na fase aguda. 11. Quais pacientes se beneficiam do tratamento? As indicações do tratamento específico na DCH podem ser assim resumidas: DOENÇA DE CHAGAS - ROTEIRO Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO
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