Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANATOMIA APLICADA À ENFERMAGEM Márcio Haubert Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os componentes anatômicos e as funções do sistema ner- voso central e periférico. � Definir os componentes anatômicos e as funções do sistema nervoso autônomo. � Relacionar os aspectos morfofuncionais do sistema central, periférico e autônomo com aspectos clínicos. Introdução O sistema nervoso é considerado o mais complexo sistema do corpo humano. Ele, merecidamente, recebe esse título pelo fato de ter a capa- cidade e a versatilidade de transmitir um rápido fluxo de informações em alta velocidade de processamento. Todas essas atividades são chamadas de sinapses nervosas e ocorrem por meio de atividades elétricas que perpassam os neurônios, células funcionais desse sistema. O sistema nervoso é composto pelo sistema nervoso central (SNC) e pelo sistema nervoso periférico (SNP). O SNP recebe outras subdivisões que serão apresentadas ao decorrer do conteúdo. Neste capítulo, você conhecerá as estruturas anatômicas e fisioló- gicas do sistema nervoso central e periférico, identificando as mesmas características do sistema nervoso autônomo e relacionando o conteúdo anatômico estudado com os aspectos clínicos relevantes para a prática da enfermagem. Sistema nervoso O sistema nervoso é o mais complexo e importante sistema orgânico que existe nos seres humanos. Sua função é receber informações sobre variações internas e externas e, com isso, produzir respostas a essas variações, o que garante ao corpo humano a homeostase, proporcionando e favorecendo o bom funciona- mento sistêmico. Também tem como função o ajustamento do organismo ao ambiente por meio da identificação das condições ambientais externas, bem como das condições existentes dentro do próprio corpo, elaborando respostas que o adaptem a essas condições. Fica incumbido ao sistema nervoso, além das funções de mobilidade e sensibilidade, as funções superiores do organismo, como processamento e armazenamento da memória, capacidade de aprendizado, funções intelectuais, processos de pensamento e características de personalidade. Toda a atividade do sistema nervoso depende das células nervosas, conhe- cidas como neurônios. O neurônio é a menor unidade funcional do sistema nervoso. A transmissão dos impulsos nervosos possibilita a troca de informa- ções e ocorre por meio das sinapses. As sinapses correspondem às ligações que um neurônio tem com outro, transmitindo, assim, os impulsos nervosos (Figura 1). As sinapses podem ocorrer entre os neurônios (sinapses neuronais), entre neurônios e músculos (junções neuromusculares) e entre neurônios e glândulas (sinapses neuroglandulares), como mostra a Figura 2. Os axônios de maior diâmetro possuem uma bainha que envolve os tratos nervosos do sistema nervoso central e periférico. Conhecida com bainha de mielina, ela tem por função proteger o axônio e promover a aceleração da velocidade de condução do estímulo elétrico. Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso2 Fi gu ra 1 . A na to m ia d e um n eu rô ni o. Fo nt e: M ar tin i, Ti m m on s e T al lit sc h (2 00 9, p . 3 49 ). 3Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso Figura 2. Tipos de sinapses. Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 349). A organização do sistema nervoso ocorre da seguinte maneira: Sistema nervoso central (SNC) Sistema nervoso periférico (SNP) Encéfalo Medula espinal Cérebro Cerebelo Tronco encefálico Mesencéfalo Ponte Bulbo Simpático Parassimpático Nervos cranianos (12 pares) Nerbos espinais (31 pares) Autônomo Somático Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso4 Sistema nervoso central Os órgãos do SNC estão localizados dentro do esqueleto axial, e são protegidos pela caixa craniana e pelo canal vertebral. O SNC é composto pelos seguintes órgãos e estruturas: Encéfalo — Em adultos, tem peso aproximado de 1,4 kg, dividido em três partes: cérebro, cerebelo e tronco encefálico (Figura 3). A seguir, conheça cada uma dessas estruturas: � Cérebro: constitui 90% da massa encefálica, apresentando uma su- perfície bastante pregueada que possibilita um aumento considerável da superfície cerebral. As principais funções do cérebro são: controle das sensações, execução de atos conscientes e voluntários (movimentos), pensamentos, memória, inteli- gência, aprendizagem, recebimento e interpretação dos sentidos e manutenção do equilíbrio. Apresenta um córtex, camada externa que abriga a substância cinzenta contendo os corpos neuronais. Em sua região interna, abriga a subs- tância branca que contém dendritos e axônios de neurônios. O cérebro é dividido em dois hemisférios cerebrais, o direito e o es- querdo. Eles estão conectados por um feixe de filamento nervoso conhecido como corpo caloso, que permite a comunicação entre os dois hemisférios, transmitindo diferentes informações como, por exemplo, a memória e o aprendizado. O cérebro humano é dividido, ainda, em: lobo frontal, lobo temporal, lobo parietal, lobo occipital e lobo da ínsula, conforme veremos a seguir: ■ Lobo frontal: controla o sentimento de afeto, a personalidade, o raciocínio e a inibição de impulsos comportamentais. Ele também responde pela função motora e pela associação da fala por meio da área de Broca. Estende-se do polo anterior do cérebro até o sulco central. É composto por três superfícies: – Superfície superolateral: apresenta três sulcos (sulco pré-central, frontal superior, frontal inferior) que delimitam os giros pré- -central, frontal superior, frontal médio e frontal inferior; – Superfície medial: estende-se até o sulco cingulado e, posterior- mente, por uma linha imaginária que o liga ao topo do sulco central. Na parte inferior, é contínuo com a parte orbital do lobo 5Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso frontal, que tem essa designação por estar localizada sobre a órbita. A zona demarcada pelo sulco do cíngulo superiormente à circunvolução cingulada é, com exceção da extremidade posterior, parte do lobo frontal. – Superfície inferior: contendo a parte inferior orbital e abrigando o giro orbital, o bulbo olfativo e o giro reto. ■ Lobo parietal: lobo puramente sensitivo que realiza a interpretação das sensações. Atua também na consciência corporal, no espaço e na recepção sensorial, principalmente, em sensações de dor, tato, gustação, temperatura e pressão. Possui uma superfície superolateral dividida pelos sulcos pós-central e intraparietal, contendo três prin- cipais áreas: giro pós-central, lobo parietal superior e lobo parietal inferior. Apresenta uma superfície medial delimitada pelos sulcos subparietal e calcarino e pelo sulco parietoccipital. ■ Lobo temporal: abriga os sentidos do paladar, olfato e audição, além de armazenar as memórias de curto prazo. Esse lobo apre- senta uma superfície superolateral que abriga o sulco temporal superior e o sulco temporal inferior. Contém em sua superfície o giro temporal superior, o giro temporal médio e o giro temporal inferior. ■ Lobo occipital: responsável pela visão e pela interpretação das sen- sações visuais. O lobo occipital é rodeado anteriormente pelo lobo parietal e pelo lobo temporal em ambas as superfícies lateral e medial do hemisfério. Localiza-se posteriormente a uma linha imaginária que une a incisura pré-occipital ao sulco parietoccipital, repousando sobre a tenda do cerebelo. ■ Lobo da ínsula: lobo profundo que fica ao fundo do sulco lateral, no encéfalo. Apresenta forma triangular com vértice inferoanterior, estando separado dos lobos vizinhos por sulcos pré-insulares. É portador de cinco giros curtos e longos. Faz parte do sistema límbico e coordena quaisquer emoções, além de ser responsável pelo paladar. Na região inferior do cérebro, existem duas importantes estruturas, o tálamo e o hipotálamo. No tálamo, ocorrea reorganização dos estímulos nervosos e a percepção sensorial que denota a consciência. O hipotálamo atua no controle do sistema autônomo, na regulação dos processos de sede e fome, no processo Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso6 de contração muscular liso e cardíaco, nos processos relacionados ao desejo sexual, na regulação dos estados de consciência e ritmos circadianos e na regulação de secreção de diversas glândulas que produzem hormônios, além de agir no controle de vários hormônios da hipófise. � Cerebelo: localizado na fossa posterior do encéfalo, é o responsável pelo equilíbrio do corpo, pelo tônus e vigor muscular, pela orientação espacial e pela coordenação dos movimentos. O cerebelo é dividido em três porções: 1. Arqueocerebelo — Corresponde ao lobo flóculo nodular. É o centro de equilíbrio, e recebe informações dos núcleos vestibulares (feixe vestibulocerebral). 2. Paleocerebelo — Corresponde ao lobo anterior. É o centro de tratamento de informação proprioceptiva. Regula o tônus muscular e a postura. As vias aferentes são as da sensibilidade proprioceptiva (feixes espinho- -cerebelares posterior e anterior). 3. Neocerebelo — Lobo posterior, responsável pela coordenação de mo- vimentos finos. Apresenta-se em relação com o córtex cerebral através da via corticoponto-cerebelosa (aferente) e do feixe dentato-rubro- -talâmico-cortical (eferente). O cerebelo é constituído também pelas seguintes estruturas: os vérmis, do superior ao inferior (língua, lóbulo central, cúlmen, declive, folium, túber, pirâmide, úvula e nódulo) e as fissuras — fissuras após o vérmis língua, pré-central, pré-culminar, prima, pós-clival, horizontal, pré-piramidal, pós- -piramidal e posterolateral. O cerebelo apresenta os seguintes lobos: ■ Lobo flóculo-nodular ou vestibulocerebelo: envolvido com a manu- tenção do equilíbrio, importante para a manutenção do equilíbrio e postura. ■ Lobo anterior: esse lobo está mais relacionado com a postura, o tônus muscular e o controle da coordenação dos membros inferiores, principalmente, da marcha. ■ Lobo posterior ou neocerebelo: envolvido com a coordenação dos movimentos finos iniciados pelo córtex cerebral. 7Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso � Tronco encefálico: localizado entre a medula e o diencéfalo, situando- -se ventralmente ao cerebelo, conecta a medula espinal com as estru- turas encefálicas localizadas superiormente. A substância branca do tronco encefálico possui estruturas que recebem e enviam informações motoras e sensitivas para o cérebro e também as provenientes dele. Dentro da substância branca do tronco encefálico, encontram-se mas- sas de substância cinzenta, denominadas núcleos, que exercem efeitos sobre a pressão sanguínea e a respiração. No tronco encefálico, entram corpos de neurônios que se agrupam em núcleos e fibras nervosas, formando feixes denominados tratos, fascículos ou lemniscos. Muitos dos núcleos do tronco encefálico recebem ou imitem fibras nervosas que entram na constituição dos nervos cranianos. Dos 12 pares de nervos cranianos, 10 fazem conexão com o tronco encefálico. Essa região é responsável pelo controle da respiração, dos batimentos cardí- acos e pela vasoconstrição dos vasos sanguíneos. O tronco encefálico divide-se em mesencéfalo, ponte e bulbo e, a seguir, estão descritas algumas de suas funções: ■ Mesencéfalo: responsável pela recepção e coordenação do grau de contração dos músculos e pela postura corporal. ■ Ponte: responsável pela manutenção da postura corporal, pelo equi- líbrio do corpo e pelo tônus muscular. ■ Bulbo: responsável pelo controle dos batimentos cardíacos, dos mo- vimentos respiratórios e da deglutição. ■ Medula espinal: cilindro esguio formado por tecido nervoso que vai do tronco cerebral até a primeira vértebra lombar (Figura 4), de onde partem 31 pares de nervos espinais. Tem como função transmitir informações sensoriais da periferia ao cérebro, re- transmitindo reações motoras do cérebro aos nervos. Também é responsável por atos reflexos, como o reflexo medular, em que ocorrem respostas rápidas em situações de emergência sem a interferência do encéfalo. Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso8 Figura 3. Encéfalo — divisões e estruturas. Fonte: Martini, Timmons e Tallitsch (2009, p. 399). Giro pós-central LOBO PARIETAL LOBO OCCIPITAL Cerebelo Bulbo PonteLOBO TEMPORAL Ramos da artéria cerebral média emergido do sulco lateral Sulco lateral LOBO FRONTAL do hemisfério cerebral esquerdo Sulco central Giro pré-central Córtex motor primário (giro pré-central) Área de associação motora somática (córtex pré-motor) Afastador LOBO FRONTAL (afastadorpara expor o lobo insular) Córtex pré-frontal Córtex gustativo Lobo insular Sulco lateral Córtex olfatório LOBO TEMPORAL (afastadopara mostrar o córtex olfatório) Córtex auditivo Área de associação auditiva Córtex visual LOBO OCCIPITAL Área de associação visual Área de associação sensitiva somática LOBO PARIETAL Córtex sensitivo primário (giro pós-central) Sulco central 9Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso Figura 4. O cérebro, a medula espinal e os principais nervos espinais. Fonte: Adaptada de VectorMine/Shutterstock.com. Plexo braquial Nervo musculocutâneo Nervo radial Nervo subcostal Nervo mediano Nervo ílio-hipogástrico Nervo ulnar Nervo �bular comum Nervo �bular profundo Nervo �bular super�cial Cérebro Cerebelo Medula espinal Nervo intercostal Plexo lombar Plexo sacral Nervo femural Nervo pudendo Nervo ciático Nervo safeno Nervo tibial ■ Meninges: são três membranas de tecido conjuntivo que envolvem o sistema nervoso central. Recebem os nomes de dura-máter, aracnoide- -máter e pia-máter. Elas têm a função de fornecer proteção ao SNC (Figura 5). Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso10 Fi gu ra 5 . V is ta la te ra l d o en cé fa lo m os tr an do a o rg an iz aç ão d as m en in ge s. Fo nt e: M ar tin i, Ti m m on s e T al lit sc h (2 00 9, p . 3 92 ). 11Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso Sistema nervoso periférico O SNP é formado por nervos, gânglios nervosos e terminações nervosas. Essas terminações são responsáveis por captar informações sensoriais como dor, tato, frio, pressão, calor e paladar. Nervos — São cordões esbranquiçados formados por feixes de fibras nervosas oriundas de vários axônios de neurônios, reforçados por tecido conjuntivo que unem o SNC aos órgãos periféricos. Eles transmitem mensagens de várias partes do corpo para o SNC ou deste para as regiões corporais. São classifi- cados da seguinte maneira: � Quanto ao tipo de neurônio: ■ sensitivos ou aferentes, que contêm apenas neurônios sensitivos; ■ motores ou eferentes, que contêm apenas neurônios motores; ■ mistos, que contêm neurônios sensitivos e motores. � Quanto à posição anatômica: ■ nervos cranianos: são doze pares conectados ao encéfalo; ■ nervos espinais: são trinta e um pares conectados à medula espinal. Gânglios nervosos — São aglomerados de corpos celulares de neurônios encontrados fora do SNC. Estão localizados junto aos nervos, próximos da coluna vertebral. Possuem a função de estações de interligação entre neurônios e demais estruturas corporais. Terminações nervosas — Essas estruturas, localizadas ao final dos nervos, realizam a captação de estímulos sensitivos e motores do meio interno ou externo conduzindo-os para o SNC. O SNP é dividido da seguinte maneira: � Sistema nervoso voluntário ou somático: realiza ações conscientes, como andar, falar, pensar e movimentar membros. Ele é formado por nervos motores que conduzem impulsos do sistema nervoso central para a musculatura estriada esquelética. � Sistema nervoso autônomo: realiza ações inconscientes e involuntárias, como a digestão e os batimentos cardíacos. É formado por nervos motores que conduzem os impulsos do sistema nervoso central para a musculaturalisa dos órgãos viscerais, músculos cardíacos e glândulas. Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso12 Ele está dividido em dois sistemas: sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. Os nervos cranianos sensitivos ou aferentes estão presentes em pares e são aqueles que realizam conexões diretas com o encéfalo. Veja, no quadro a seguir, cada um dos seus pares e suas principais funções: Nervo Função I – Olfatório Sensitiva Percepção do olfato. II – Óptico Sensitiva Percepção visual. III – Oculomotor Motora Controle do movimento ocular, do esfíncter da íris e do músculo ciliar. IV – Troclear Motora Controle dos movimentos do olhos. V – Trigêmeo Mista Controle dos músculos faciais, mímica facial, (ramo motor); percepções sensoriais da face, dos seios da face e dos dentes (ramo sensitivo). VI – Abducente Motora Controle dos movimentos dos olhos. VII – Facial Sensitiva Controle dos músculos faciais, mímica facial (ramo motor); percepção gustativa do terço anterior da língua (ramo sensitivo). VIII – Vestibulococlear Mista Percepção postural originária do labirinto (ramo vestibular); percepção auditiva (ramo coclear). IX – Glossofaríngeo Mista Percepção gustativa do terço posterior da língua; percepções sensoriais da faringe, laringe e glote. X – Vago Mista Percepções sensoriais das orelhas, faringe, laringe, tórax, vísceras; inervações das vísceras torácicas e abdominais. XI – Acessório Motora Controle motor da faringe, da laringe, do palato, dos músculos esternocleidomastóideos e hióideos. XII – Hipoglosso Motora Controle dos músculos da língua. 13Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso Sistema nervoso autônomo É conhecido também como vegetativo ou visceral, formado por nervos motores que conduzem os impulsos do sistema nervoso central para a musculatura lisa dos órgãos viscerais, músculos cardíacos e glândulas. Esse sistema controla a digestão, o sistema cardiovascular, além dos sistemas excretor e endócrino. O sistema nervoso autônomo é dividido em outros dois sistemas: sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. De uma maneira am- pliada, podemos dizer que esses dois sistemas realizam funções contrárias ou antagônicas, em que um atua corrigindo o excesso do outro, buscando um sistema de compensação e equilíbrio. Por exemplo: o sistema simpático acelera os batimentos cardíacos para além do normal, e o sistema parassimpático entra em ação, diminuindo o ritmo cardíaco. O SNP autônomo simpático estimula ações que exigem energia, possibilitando ao organismo responder a situações estressantes e de vigília. Assim, o sistema simpático realiza a aceleração dos batimentos cardíacos, o aumento da pressão arterial, o aumento glicêmico sanguíneo e a ativação do metabolismo geral do corpo. Em contrapartida, o SNP autônomo parassimpático tem a responsabilidade de estimular as atividades de relaxamento, como a diminuição do ritmo cardíaco e da pressão arterial, entre outras. Uma das principais diferenças entre os nervos simpáticos e parassimpáticos é que as fibras pós-ganglionares dos dois sistemas, geralmente, secretam diferentes hormônios. O hormônio secretado pelos neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso parassimpático é a acetilcolina, razão pela qual esses neurônios são chamados de colinérgicos. Os neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático secretam, principalmente, noradrenalina e, por conta disso, a maioria deles é chamada de neurônios adrenérgicos. As fibras adrenérgicas ligam o sistema nervoso central à glândula suprar- renal, promovendo aumento da secreção de adrenalina, hormônio que produz a resposta de luta ou fuga em situações de estresse. Os hormônios acetilcolina e noradrenalina são capazes de estimular alguns órgãos e inibir outros, de maneira antagônica. Com isso, quando são estimulados, os centros simpá- ticos cerebrais excitam, ao mesmo tempo, a maioria dos nervos simpáticos, preparando o corpo para lutar ou fugir. Fora as excitações citadas, algumas condições fisiológicas podem estimular partes localizadas desse sistema. Como exemplo temos: � Reflexos calóricos: o calor que age sobre a pele provoca um reflexo que percorre a medula espinal e retorna a ela, causando dilatação dos vasos sanguíneos cutâneos. A vasodilatação superficial da pele também Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso14 pode ocorrer graças ao sangue aquecido que passa através do centro de controle térmico do hipotálamo. � Exercícios: o exercício físico estimula o metabolismo dos músculos causando um efeito local de dilatação dos vasos sanguíneos musculares. Contudo, ao mesmo tempo, o sistema simpático tem efeito vasoconstritor para a maioria das outras regiões do corpo. A vasodilatação muscular permite que o sangue flua facilmente pelos músculos, garantindo sua nutrição e oxigenação, enquanto a vasoconstrição diminui o fluxo sanguíneo em todas as regiões do corpo, exceto no coração e no cére- bro, garantindo maior suporte sanguíneo aos músculos que estão em atividade. Isso ocorre porque, nas junções neuromusculares, bem como nos gânglios do SNPA simpático e parassimpático, acontecem sinapses químicas entre os neurônios pré-ganglionares e pós-ganglionares. Nesses dois casos exemplificados, o neurotransmissor é a acetilcolina. A acetilcolina atua nas dobras da membrana, aumentando a sua permeabilidade aos íons sódio, que passam para o interior da fibra, despolarizando essa área da membrana do músculo e promovendo a contração muscular. Quase imedia- tamente após a acetilcolina ter estimulado a fibra muscular, ela é destruída, o que permite a despolarização da membrana e, com isso, o relaxamento muscular, que não permite uma contração prolongada. Diferenças entre os sistemas nervosos simpático e parassimpático: Sistema nervoso autônomo Simpático Parassimpático Fibra pré-ganglionar Curta Longa Fibra pós-ganglionar Longa Curta Origem dos nervos Região torácica e lombar da medula (somente nervos espinais) Região cervical (nervos cranianos) e região sacral da medula (nervos espinais) Mediador químico Fibras pré-ganglionares: acetilcolina. Fibras pós- ganglionares: adrenalina Fibras pré-ganglionares: acetilcolina. Fibras pós-ganglionares: acetilcolina 15Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso Modificações fisiológicas no sistema nervoso O sistema nervoso, principalmente o SNC, é o sistema corporal mais com- prometido com o envelhecimento. Sua degeneração morfofisiológica causa modificações nas sensações, nos movimentos, na memória, nas relações hu- manas, além de afetar as funções fisiológicas autônomas. A degeneração do sistema nervoso é um processo normal que começa a acontecer a partir dos 30 anos de idade, causando diminuição do volume encefálico. Com isso, ocorrem alterações como redução do número de neurônios, redução da velocidade de condução nervosa, redução da intensidade dos reflexos, restrição das respostas motoras, do poder de reações e da capacidade de coordenações. Sabe-se que existe uma perda de 10 a 20% de massa no córtex cerebral entre os 30 e 90 anos de vida. Outras partes do cérebro, no mesmo período, podem ter um prejuízo de até 50%. Com isso, o processo de envelhecimento cerebral vai, gradativamente, diminuindo a atividade bioquímica, afetando diretamente a ação dos neurotransmissores. Além disso, ocorre decréscimo no número de neurônios, causando variados prejuízos, pois, em algumas regiões, pode haver uma mínima perda celular e, em outras, maiores perdas neuronais (FECHINE; TROMPIERI, 2012). Além de diminuir seu peso, tamanho e volume, o cérebro apresenta alarga- mentos dos sulcos, atrofia mais acentuada nos lobos frontal e parietais, além do aparecimento de placas senis. Com isso, seu envelhecimento causa falhas na memória e diminuição de velocidade no processamento de informações. Essas perdas podem ser compensadas com reservas intelectuais, com experiências acumuladas e com a manutenção dascapacidades por meio de exercícios de raciocínio, linguagem e espaço corporal. Atividades que instigam a memória, a coordenação motora, bem como os exercícios físicos também são fundamentais para auxiliar o processo de envelhecimento cerebral. É preciso destacar que a perda da memória não se dá apenas por lesões estruturais, mas pode ocorrer graças a disfunções fisiológicas, e não por perda neuronal. Atualmente, a ciência já sabe que, apesar de não ser capaz de recuperar os neurônios perdidos, existem elementos que podem diminuir o impacto das alterações do envelhecimento como, por exemplo: � processo de redundância: há uma substituição de neurônios deteriorados por outros que não eram usados; � mecanismos compensadores: geralmente, ocorre em casos de lesões cerebrais, em que o cérebro utiliza outro local cerebral para reaprender a realizar a atividade perdida; Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso16 � processo de plasticidade: ocorre devido ao poder que os neurônios maduros com sua rede de dendritos têm de desenvolver e formar novas sinapses, possibilitando a formação de novos circuitos sinápticos. Com o passar dos anos, a idade avança e, com isso, é normal que ocorra o encurtamento do tempo de sono, acarretando certa mudança de humor e também uma queda das atividades motoras e intelectuais. No quesito memória, acontece um enfraquecimento para fatos recentes, mas isso tudo pode variar em cada indivíduo, além de estar relacionado com o estilo de vida. Alterações como tremores, tiques, afasia, tontura e astenia podem ocorrer fisiologicamente em idosos, mas é importante uma adequada investigação clínica para descartar qualquer patologia associada (MORAES; MORAES; LIMA, 2010). Entre as principais patologias, sinais e sintomas que podem confundir-se com o envelhecimento fisiológico, podemos citar: � crise convulsiva e/ou epilepsia; � distúrbios da gustação e do olfato; � acidente vascular encefálico; � demências; � doença de Alzheimer; � doença de Parkinson; � hematoma intracraniano ou subdural após traumas; � encefalites bacterianas, virais ou fúngicas; � tumores cerebrais, raros na terceira idade, mas podem ocorrer como metástase de câncer de outro órgão; � neuropatias ou neurites do sistema nervoso periférico comum em pa- cientes diabéticos ou alcoólicos; � neurite herpética, importante neuropatia causada pelo vírus herpes zoster; � polirradiculite, que causa a inflamação de vários nervos ao mesmo tempo; � tumores de coluna ou hérnias de disco, que podem comprimir inervações raquidianas; � dor ciática; � síndrome do túnel do carpo, devido à compressão de nervos do punho; � nevralgias, com destaque para a nevralgia do trigêmeo. Por fim, o envelhecimento é um processo fisiológico que acomete todos aqueles que experimentam a terceira idade. Cabe aos profissionais de saúde a 17Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso compreensão desse processo a fim de oferecer a devida avaliação, identificando o que realmente é normal e o que pode estar indicando algum sinal ou sintoma de alteração clínica do sistema nervoso. Para saber mais sobre o sistema nervoso, acesse o link ou código a seguir. https://goo.gl/7YMbKS A seguir, conheça algumas informações verdadeiras e outras falsas sobre a memória. O ato de ler é uma fonte de saúde mental e de estímulo cerebral — VERDADE Todos os casos de perda de memória e esquecimento são patológicos — FALSO Ter hábitos que envolvam os relacionamentos sociais é uma fonte de felicidade, prazer e boa saúde cerebral — VERDADE Não há nada que se possa fazer para melhorar e preservar a memória — FALSO Atividades físicas são excelentes para a melhora das funções cerebral e motora — VERDADE Idosos sempre apresentarão memória curta e ruim — FALSO FECHINE, B. R. A.; TROMPIERI, N. O processo de envelhecimento: as principais alterações que acontecem com o idoso com o passar dos anos. InterSciencePlace, v. 1, n. 20, p. 108-194, 2012. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso18 MORAES, E. N.; MORAES, F. L.; LIMA, S. P. P. Características biológicas e psicológicas do envelhecimento. Revista Médica de Minas Gerais, v. 20, n. 1, p. 67-73, jan./mar. 2010. Leituras recomendadas HANKIN, M. H.; MORSE, D. E.; BENNETT-CLARKE, C. A. Anatomia clínica: uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: AMGH, 2015. JUBILUT, P. Sistema nervoso. 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_ prsDDg_cJM>. Acesso em: 17 out. 2018. MALAGHINI, M. Fisiologia on-line. Disponível em: <http://www.oocities.org/~malaghini/ fisio.html>. Acesso em: 17 out. 2018. MIRANDA-VILELA, A. L. Anatomia e fisiologia humanas. c2018. Disponível em: <https:// afh.bio.br/>. Acesso em: 17 out. 2018. MONTANARI, T. Histologia: texto, atlas e roteiro de aulas práticas. 3. ed. Porto Alegre: Ed. do Autor, 2016. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/livrodehisto/pdfs/livrodehisto. pdf>. Acesso em: 17 out. 2018. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO, A. Anatomia e fisiologia de Seeley. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. 19Aspectos anatomofuncionais do sistema nervoso Conteúdo: ANATOMIA APLICADA A ENFERMAGEM Márcio Haubert Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico e trauma raquimedular Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir os aspectos etiológicos do aneurisma e suas principais impli- cações clínicas. � Identificar as principais características clínicas do traumatismo cra- niencefálico (TCE) e do trauma raquimedular (TRM). � Explicar os prováveis comprometimentos anatomofuncionais por aneurisma, TCE e TRM. Introdução O sistema nervoso está propício a sofrer diversas patologias, tanto pro- vocadas pelo envelhecimento fisiológico quanto por fatores externos, vinculados ao estilo de vida e a acidentes que envolvem as atividades do dia a dia. Essas patologias podem se originar no sistema nervoso central (SNC) e também no sistema nervoso periférico (SNP), trazendo sintomatologia variada, acometendo da memória ao movimento corporal, além de trazer fatores que colocam a vida do paciente em risco. Neste capítulo, você vai ter a oportunidade de conhecer os aspectos etiológicos e as implicações clínicas do aneurisma, do TRM e do TCE. Aneurisma cerebral O aneurisma cerebral (Figura 1) é uma doença vascular caracterizada pelo alargamento e pela dilatação de uma parte de um vaso sanguíneo intracraniano. Esse processo se dá pelo enfraquecimento da camada muscular interna do vaso acometido. O processo de enfraquecimento que causa o aneurisma por via de regra não nasce com a pessoa. Na grande maioria dos casos ele se desenvolve ao transcorrer da vida, podendo estar relacionado a fatores genéticos. Dos pa- cientes acometidos por aneurismas cerebrais, 20 a 30% apresentam múltiplos aneurismas. A maioria dos aneurismas múltiplos são pequenos e não causam sinto- mas, enquanto aneurismas de colo largo geralmente apresentam sintomas como cefaleia, dor facial e alterações de visão. Se ocorrer o rompimento do aneurisma, isso causará alterações cerebrais importantes que incluem a hemorragia subaracnóidea (HSA), hemorragia intracerebral e hemorragia intraventricular. Rompimentos de aneurismas cerebrais são conhecidos como acidente vascular encefálico (AVE) hemorrágico, sendo que a hemorragia causada pela ruptura de um aneurisma causa problemas encefálicos por meio da compressão das estruturas cranianas causadas pelo aumento excessivo da pressão intracraniana (PIC). A prevalência dessa doença está entre os adultos de 40 e 60 anos de idade, sendo mais comum em mulheres. Figura 1. Aneurisma cerebral e ruptura de aneurisma cerebral. Fonte: Adaptada de Aneurisma ([2016]). Aneurismacerebral Ruptura de aneurisma Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...2 Etiologia Dentre os fatores de risco mais associados à ocorrência dessa patologia, apresenta-se a idade mais avançada, a hereditariedade, o tabagismo, a hi- pertensão arterial (principalmente se não controlada), a história ou presença de doença renal policística, o abuso de álcool, a dependência de cocaína e a doença aterosclerótica. Pessoas com histórico familiar de aneurisma cerebral, principalmente familiares de primeiro grau, apresentam maior predisposição. Está bem estabelecida atualmente a relação entre o tabagismo e a ruptura de aneurismas cerebrais, causando geralmente uma associação fatal. Dos fatores de risco ditos que podem ser mudados, sem dúvida o tabagismo é um dos mais fortes deles. Os aneurismas recebem classificação conforme seu tamanho (Figura 2), sua forma e sua etiologia, sendo chamados de aneurismas saculares ou em baga quando formam bolsas de paredes finas que fazem protrusão na bifurcação das artérias do círculo arterial ou de seus ramos principais. A ocorrência de aneurismas se dá graças à fraqueza local e à degeneração da camada média do vaso sanguíneo, fazendo com que a camada íntima sofra um abaulamento na parede vascular. Os aneurismas saculares geralmente estão localizados nas principais ar- térias cerebrais, sendo que 85 a 95% se encontram no sistema carotídeo, com localização mais comum correspondendo à artéria comunicante anterior, à artéria comunicante posterior e à artéria cerebral média. Ainda existe o aneurisma tipo fusiforme, que possui dilatações alongadas das grandes artérias, tendo mais ocorrência no sistema vertebrobasilar, mas também estando envolvidos nas artérias carótida interna, cerebral média e cerebral anterior, mais presentes em portadores de arteriosclerose e hipertensão arterial. O AVE hemorrágico menos comum é o do aneurisma de rompimento traumático, que ocorre após acidentes que envolvam pancadas na cabeça da vítima. O mecanismo mais comum desse tipo de lesão tem origem nos traumatismos cranianos fechados, em que a lesão é causada por tração nas paredes dos vasos ou aprisionamentos dentro de fraturas. 3Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... Além desses tipos de aneurismas citados, ainda existe, em bem menor ocorrência, em torno de 4%, os aneurismas micóticos. Estes estão relacionados a processos infecciosos por fungos ou endocardites bacterianas subagudas. Geralmente esses aneurismas têm morfologia fusiforme e friável, dificultando resolução por tratamento cirúrgico por apresentarem grande risco de vida ao paciente. Correspondendo de 3 a 5%, citam-se os aneurismas gigantes intracranianos, que têm diâmetro acima de 2,5 cm. Eles podem se apresentar nos tipos sacular ou fusiforme. Os aneurismas cerebrais podem ser classificados, ainda, como rotos ou não rotos, sendo os rotos uma urgência médica, pois o risco de nova ruptura é maior. A ruptura de um aneurisma é perigosa, pois resulta em HSA. Figuras 2. Tipos de aneurismas cerebrais. Fonte: Adaptada de Raupp ([2014]). Aneurisma sacular Aneurisma fusiforme Ruptura de aneurisma Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...4 Sintomas Na maioria dos casos, os aneurismas cerebrais não apresentam sintomas, sendo que a ocorrência sintomatológica é mais comum em razão de sua ruptura e consequente hemorragia cerebral, apresentando: � cefaleia súbita e intensa, geralmente referida como a pior cefaleia já sentida pelo paciente; � rigidez de pescoço; � vômitos; � desmaios; � coma; � morte. Em menor incidência pode ocorrer paralisia focal, de um lado do corpo, convulsões, alteração da visão e ptose palpebral. Boa parte dos pacientes pode ter um mal-estar súbito com coma imediatamente após o rompimento do aneurisma e, com isso, é importante o reconhecimento rápido nos casos mais leves, para a internação, a identificação e o correto tratamento. Tratamento Sempre que identificado um aneurisma cerebral deve ser avaliado o tratamento cirúrgico para sua resolução, pois o risco de ruptura é uma das mais graves consequências dessa doença vascular. Como as consequências do aneurisma roto são drásticas, tanto em mortalidade quanto em sequelas neurológicas, muitos neurologistas e neurocirurgiões aconselham cirurgia preventiva para os aneurismas não rotos, principalmente naqueles aneurismas com diâmetro maior do que 7 mm. O que vai de fato definir o tratamento ideal dos aneu- rismas cerebrais são as condições do paciente, a anatomia do aneurisma e a habilidade do profissional. Os tratamentos mais realizados para o tratamento dessa patologia vascular consistem basicamente na abordagem cirúrgica e no processo de embolização endovascular. Cirurgia convencional do aneurisma cerebral — Processo cirúrgico que consiste em realização de craniotomia para acesso, clipagem e ligadura de um aneurisma cerebral (Figura 3). 5Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... Figura 3. Clipagem de aneurisma cerebral. Fonte: Adaptada de Kearns ([2017]). Aneurisma cerebral Aneurisma cerebral clipado Encolhimento do aneurisma por isquemia Embolização endovascular — Essa técnica é mais recente que a cirurgia convencional, sendo criada na década de 90. Vem sendo cada vez mais utili- zada, pois constitui um método eficiente que previne o sangramento, estando aliada ao fato de ser minimamente invasiva, apresentando baixas taxas de complicações. Porém, ela deve ser bem avaliada, já que apresenta alta taxa de recanalização ao longo do tempo e, em casos de aneurismas de colo largo, sua eficácia é ainda bastante debatida (Figura 4). Figura 4. Embolização endovascular de um aneurisma cerebral. Fonte: Adaptada de Kearns ([2017]). Fios de platina inseridos com o auxílio de um cateter Os �os formam espirais que preenchem o aneurisma Os �os formam uma espécie de malha, preenchendo o local, evitando, assim, o rompimento do aneurisma Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...6 Prognóstico do aneurisma Quando um paciente apresenta um aneurisma cerebral, o prognóstico dessa doença dependerá do tamanho, do formato e da posição do aneurisma cerebral. Fatores como idade, estado de saúde geral, condições neurológicas prévias e atuais, reserva funcional de demais órgãos, tabagismo, aneurisma roto e suas complicações irão agir positiva ou negativamente no prognóstico do paciente. Metade dos pacientes acometidos por aneurisma cerebral roto morrem graças à hemorragia causada antes mesmo de chegarem ao hospital, antes que possa ser prestado socorro e atendimento especializados. Esse tipo de aneurisma é responsável pela causa mais frequente de morte súbita em adul- tos entre 25 e 55 anos de idade. Daqueles que chegam com vida ao hospital, metade terá evolução para o óbito, principalmente os que chegam em estado de coma moderado ou profundo. Pacientes que chegam conscientes ao hospital não apresentam complicações graves adicionais na internação, tendo maior possibilidade de recuperação com quase nenhum déficit neurológico. As possíveis sequelas são as mais variadas possíveis, estando ligadas à estrutura cerebral que foi atingida. Mais frequentemente, notam-se défices motores, na fala e cognitivos. AVE hemorrágico O AVE hemorrágico se caracteriza pelo sangramento em uma parte do encéfalo, como consequência do rompimento de um vaso sanguíneo. Pode ocorrer para dentro do cérebro ou tronco cerebral — acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico intrapa- renquimatoso — ou para dentro das meninges — HSA. A hemorragia intraparenquimatosa (HIP) é o subtipo mais comum de hemorragia cerebral, acometendo cerca de 15% de todos os casos de AVE. Causas: ocorre principalmente em decorrência da hipertensão arterial ou de uma doença chamada angiopatia amiloide. Nessas doenças, as paredes das artérias cerebraisficam mais frágeis e se rompem, causando o sangramento. Sintomas: os sinais e sintomas são sempre súbitos e podem ser: fraqueza de um lado do corpo, perda da sensibilidade ou do campo visual de um ou ambos os olhos, tontura, dificuldade para falar ou para compreender palavras simples e até mesmo a perda da consciência ou crises convulsivas. Diagnóstico: é feito por meio da realização de exames de neuroimagem, como tomografia de crânio ou ressonância magnética, logo diante da suspeita clínica, ou 7Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... seja, imediatamente na chegada ao hospital, no serviço de emergência. Esses exames demonstram a localização e o tamanho da hemorragia. Tratamento: pode ser cirúrgico ou clínico, dependendo do volume da lesão, da localização e da condição clínica do paciente. Mesmo os pacientes tratados cirurgi- camente recebem todo o suporte clínico e de reabilitação. O tratamento cirúrgico visa a retirar o sangue de dentro do cérebro. Em alguns casos, coloca-se um cateter para avaliar a pressão dentro do crânio, que aumenta por conta do inchaço do cérebro após o sangramento. Em algumas situações, o tratamento cirúrgico é decidido por essa medida e não realizado logo na entrada do paciente no hospital, principalmente porque alguns têm um novo sangramento poucas horas depois do primeiro. O tratamento clínico tem o objetivo de controlar a pressão arterial e as complicações como crises convulsivas e infecções. A reabilitação deve ser iniciada tão logo a condição do paciente permita e é uma parte do tratamento. Como seu início depende das condições do paciente, somente deve ser feita quando não há perigo de piorar o estado neurológico ou clínico. Um bom programa de reabilitação conta com uma equipe de fonoaudiologia, fisioterapia, enfermagem e terapia ocupacional, que deverá traçar um plano terapêutico individua- lizado, baseado nas sequelas neurológicas, garantindo a qualidade de vida do paciente. Prevenção: deve ser feita pelo controle rigoroso da pressão arterial, que deve ser mantida a níveis inferiores a 120 × 80 mmHg, e evitando o consumo abusivo do álcool, que também é um importante fator de risco para essa doença. Fonte: Acidente ([2016]). TCE O TCE é classificado como uma disfunção cerebral causada por qualquer força externa que causa lesão encefálica traumática decorrente de acidentes automobilísticos, quedas, prática de esportes, entre outros. Os TCEs consti- tuem um problema de saúde pública que causa grande impacto econômico, envolvendo desde os custos com o tratamento até a relação de interrupção de vida produtiva do acidentado. Esse tipo de acidente é a principal causa de mortalidade e morbidade entre adultos jovens. Fisiopatologia do TCE As lesões provocadas pelo TCE são divididas em duas fases, baseadas em mecanismos fisiopatológicos distintos, sendo lesão primária e lesão secundária oriunda do TCE. Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...8 Lesão primária: resulta da força mecânica direta atuante no momento do trauma, do impacto inicial e que são transmitidas ao crânio e às suas estruturas internas. Das lesões primárias podem resultar lesões difusas decorrentes de força de desaceleração e de rotação, além de lesões focais decorrentes de forças de contato direto. O tipo da lesão primária resultante de um TCE depende da natureza e da magnitude da força física aplicada, além de sua duração e local da aplicação. Lesão secundária: desenvolve-se e surge nas primeiras horas após o impacto inicial e é caraterizada por alterações intra e extracelulares que causam edema cerebral e pós-traumático e consequente aumento da PIC. Classificação clínica do TCE A classificação clínica do TCE é baseada no exame físico do paciente por meio da escala de coma de Glasgow, que visa a uma avaliação numérica na categorização das alterações neurológicas. Essa escala se baseia em quatro parâmetros: abertura ocular, resposta verbal, resposta motora e análise da reatividade pupilar. Seu resultado será dado após a soma da pontuação dos três primeiros parâmetros e a subtração do último parâmetro, tendo um score que varia entre 1 e 15. Na conclusão da avaliação dessa escala, temos: � Resultado menor ou igual a 8: TCE grave. � Resultado entre 9 e 13: TCE moderado. � Resultado entre 14 e 15: TCE leve. A escala de coma de Glasgow teve maior relevância antes da existência da tomografia computadorizada, mas, hoje em dia, continua tendo um importante papel na avaliação do grau de gravidade do traumatismo, principalmente no atendimento pré-hospitalar, correlacionando-se tanto com a gravidade do TCE quanto com o prognóstico do acidentado. Classificação anatômica do TCE Contusão — Resultado de um trauma caracterizado por edema geralmente associado à hemorragia subpial, localizada principalmente nas áreas que fazem contato com a superfície óssea craniana. Os danos neurológicos decorrentes das contusões dependem da área atingida e da gravidade do trauma, podendo causar efeitos mais graves em decorrência de edema cerebral ou da ocorrência de hemorragias. As contusões são mais graves se estiverem associadas a 9Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... fraturas cranianas e podem agravar a lesão secundária no tecido adjacente por libertação de neurotransmissores e alterações bioquímicas locais. Hematoma epidural — Ocorrência de coleção sanguínea no espaço epidural, entre a meninge dura-máter e o tecido ósseo craniano. Esse tipo de hematoma está relacionado com 5 a 15% das lesões cranianas fatais, sendo mais comum em pessoas com menos de 50 anos, sobretudo na idade pediátrica, graças às vascularizações dural e intradiploica em abundância. A ocorrência desse tipo de hematoma está geralmente associado a fraturas cranianas que provocam laceração de vasos durais. Os hematomas epidurais podem ser classificados como: � Tipo I: agudo ou hiperagudo, com surgimento no primeiro dia do TCE. � Tipo II: subagudo, com surgimento entre o segundo e quarto dia após o TCE. � Tipo III: crônico, com aparecimento entre o sétimo e vigésimo dia após o TCE. A morbidade e mortalidade relacionadas com esses hematomas estão ligadas com a demora do diagnóstico e o atraso no início do tratamento, sendo que há um excelente prognóstico após a intervenção cirúrgica, se realizada dentro do tempo correto e não havendo lesões associadas. Hematoma subdural — Resultado do acúmulo de coleção sanguínea entre a dura-máter e o tecido encefálico, estando relacionados a ruptura de veias durais e veias corticais. Os hematomas subdurais agudos estão relacionados com 50 a 60% das lesões cranianas, podendo apresentar uma etiologia não traumática quando relacionado a fatores de anticoagulação. Esse tipo de hematoma pode causar uma lesão cerebral isquêmica do córtex adjacente em decorrência do efeito compressivo que compromete o retorno venoso e eleva a pressão intracraniana diminuindo a pressão de perfusão cerebral. Podem ser classificados como: � Agudos: quando compostos por coágulo e sangue em tempo menor que 48 horas após a ocorrência do TCE. � Subagudos: quando composto por sangue e fluido intersticial entre 2 a 14 dias após a ocorrência do TCE. � Crônicos: quando composto apenas por fluido intersticial e com tempo acima de 14 dias após a ocorrência do TCE. Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...10 O prognóstico do paciente acometido por esse tipo de hematoma dependerá diretamente do tempo de intervenção cirúrgica, quando estiver indicada. Existem casos em que a apresentação do hematoma corresponde a uma lesão muito extensa envolvendo todo um hemisfério ou apresentando um edema cerebral difuso. Nesses casos, a cirurgia dificilmente trará alguma solução, pois esse tipo extenso de hematoma costuma ser fatal. Hematoma intraparenquimatoso — Tipo de hematoma que ocorre com aruptura de pequenos vasos dos parênquimas cerebrais, localizados sobretudo na região temporal e orbitofrontal. Está relacionado com 20% dos hematomas intracranianos pós-traumáticos, estando associados a contusões. São cons- tituídos por dois terços de sangue e têm margens bem delimitadas, podendo conter coágulos oriundos de pequenas contusões. O tratamento depende da causa, do volume do hematoma e do estado neurológico da pessoa acometida. Muitas vezes, é necessária a remoção cirúrgica do hematoma para diminuir a pressão intracraniana e prevenir a morte. HSA — Hemorragia resultante do rompimento de vasos que conduzem san- gue para as cisternas do espaço subaracnóideo. Ocorre em 33% dos casos de TCE grave e está relacionado com o pior prognóstico neurológico possível, podendo ocorrer também após a ruptura de um aneurisma cerebral. O sangue no espaço subaracnóideo produz uma reação inflamatória equivalente a uma meningite química, que causa aumento da pressão intracraniana durante dias ou algumas semanas. O vaso espasmo subsequente pode produzir isquemia cerebral focal, sendo que cerca de 25% dos pacientes desenvolvem sinais de acidente isquêmico transitório (AIT) ou AVC isquêmico. O edema cerebral é máximo e o risco de vasospasmo e infarto cerebral subsequente é maior entre 72 horas e 10 dias. Pode ocorrer também hidrocefalia aguda secundária. Por vezes, acontece uma segunda ruptura, um ressangramento, em geral em um período de até sete dias. Cerca de 35% dos pacientes morrem após a primeira HSA por aneurisma; outros 15% morrem em poucas semanas em razão de ruptura subsequente. É comum a presença de danos neurológicos nos sobre- viventes, mesmo quando o tratamento é o mais eficiente. Hemorragia intraventricular — Tipo de hemorragia que acomete também os ventrículos cerebrais, estando associado à existência concomitante de hematomas intraparenquimatosos. Está presente em aproximadamente 25% dos casos de TCE grave, podendo apresentar a hidrocefalia aguda causada por desequilíbrio no funcionamento dos ventrículos. 11Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... Hipertensão intracraniana O aumento da PIC em casos de TCE é conhecido como um mecanismo de lesão secundário. Esse fato ocorre em decorrência do aumento do cérebro por edema cerebral e/ou por acúmulo de líquido. A PIC considerada normal varia de 5 a 15 mmHg e valores acima do normal dificultam a correta circulação sanguínea cerebral, causando com isso morte celular cerebral por anoxia. Após a ocorrência de uma lesão primária, inicia-se uma cascata neuro- tóxica que apresenta alterações intracelulares e extracelulares. As alterações intracelulares abrangem o desequilíbrio de cálcio, a disfunção mitocondrial, a produção de radicais livres de oxigênio e a consequente apoptose das células envolvidas nesse processo, enquanto que as alterações extracelulares estão relacionadas com alterações de membrana vascular e acidose extracelular. Ambos os processos se tornam responsáveis pelo descontrole da autorregu- lação cerebral e pelo desenvolvimento do edema cerebral pós-traumático que causa a hipertensão craniana (HIC). A HIC está relacionada com os eventos moleculares já citados, podendo surgir dias após o acontecimento do TCE, dependendo da evolução da lesão ocasionada pelo trauma. As estatísticas apontam que os TCEs graves correspondem a apenas 4% do total, porém, são eles que estão associados às maiores taxas de morbimorta- lidade, isso porque 60% dos pacientes internados por TCE grave têm a morte como desfecho da doença. Ainda se sabe que 50% dos acidentados com TCE grave desenvolverão HIC. Por isso tudo, a monitorização de PIC nas unidades de saúde que tratam esses pacientes deve ser adotada como praxe para que seja destinada uma assistência qualificada e focada em manter os níveis tensórios cerebrais adequados, garantindo uma adequada perfusão cerebral. Comprometimentos neurológicos pós-TCE O TCE é uma condição que varia em termos de etiologia, gravidade e prognós- tico. Pacientes que sobrevivem a um TCE podem apresentar sequelas perma- nentes ou transitórias abrangendo défices motores, sensoriais, cognitivos, de linguagem, de memória, de comportamentos e emocionais. Aproximadamente 50 a 75% dos acometidos por TCE ficam com sequelas cognitivas e compor- tamentais. A ocorrência dessas sequelas gera um impacto substancial na vida do paciente, da sua família e também da sociedade, pois poucos indivíduos após um TCE grave conseguem reassumir suas atividades habituais com inde- pendência, trazendo insatisfações no bem-estar sobre a qualidade de vida dos acometidos. Por fim, fica importante entender que tanto o comprometimento Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...12 neuropsicológico como a gravidade do défice variam de acordo com a idade cronológica no momento do trauma. Com isso, existe maior vulnerabilidade dos efeitos decorrentes aos danos pós-traumáticos e alterações cognitivas em crianças menores, quando comparadas a pacientes com mais idade. A escala de coma de Glasgow é um método para definir o estado neurológico de pacientes com uma lesão cerebral aguda analisando seu nível de consciência. Esse importante recurso foi atualizado em abril de 2018 e é muito utilizado por profissionais de saúde logo após o trauma, auxiliando no prognóstico da vítima e na prevenção de eventuais sequelas. Apesar de ser muito utilizada atualmente pela Medicina e pela Enfermagem, essa classificação de assistência é recente. Foi em 1974 que Graham Teasdale e Bryan J. Jennett (do Instituto de Ciências Neurológicas de Glasgow) publicaram oficialmente a escala na revista Lancet. O objetivo era fornecer uma metodologia de atendimento que apontasse tanto a profundidade do dano neurológico quanto a duração clínica de inconsciência e coma. Atualmente, essa escala avalia a abertura ocular, a resposta verbal, a resposta motora e a reação pupilar. TRM Define-se por TRM toda agressão causada à medula espinal que cause pre- juízos neurológicos, gerando transtornos das funções motora, sensitiva e autônoma. Pessoas do sexo masculino com idade entre 15 e 40 anos são os que mais sofrem esse tipo de trauma. Acidentes de trânsito, quedas de alturas, acidentes de mergulho em água rasa e ferimentos por arma de fogo (FAF) são as principais causas do TRM. Os traumas causados à medula espinal podem ser pequenos, causando uma concussão transitória que pode ser recuperada até uma transecção completa da medula espinal, causando danos irreversíveis que causam paralisia dos movimentos abaixo do local traumatizado. Os maiores riscos em lesões graves causadas na medula espinal são o choque medular, o choque neurogênico, a trombose venosa profunda (TVP), a disreflexia autônoma, a bexiga neuro- gênica, o intestino neurogênico, a espasticidade, as úlceras por pressão, as pneumonias, as alterações psicossociais e as infecções. 13Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... É imprescindível que uma assistência de enfermagem voltada para a pre- venção de complicações possa contribuir para diminuir as sequelas, reduzir o tempo de internação hospitalar e melhorar a autoconfiança, a credibilidade e a adesão ao tratamento, sendo que pessoas vítimas de TRM passam por um processo de reabilitação longo que é difícil para todos os envolvidos e requer ajustes e adaptações no dia a dia dos pacientes para que se tornem produtivos. Tetraplegia Tipo de paralisia que diz respeito a uma lesão raquimedular que ocorre acima da primeira vértebra torácica, ou entre as secções cervicais C1 a C8. Como resultado desse trauma surge algum nível de paralisia nos quatro membros: pernas e braços. O grau de paralisia varia de acordo com a natureza da lesão, em que medida foi submetido a terapia de reabilitação e, muitas vezes, a fatores que ainda não estão bem compreendidos. A terminologia mais utilizada para designaressa lesão na atualidade é a tetraplegia, mas muitos pacientes conhecem e usam a palavra quadriplegia. A tetraplegia, dependendo da sua gravidade, pode interferir na capacidade respiratória fisiológica, colocando pacientes na dependência de ventiladores artificiais para realizarem o mecanismo respiratório. De um modo geral, quanto mais acima ocorrer a lesão, mais extenso será o dano. Paraplegia Tipo de paralisia causada por lesão raquimedular abaixo dos níveis espinais torácicos entre as vértebras T1 e L5. Pacientes paraplégicos são capazes de usar as mãos livremente, mas o grau de deficiência nas pernas depende da lesão. Algumas pessoas paraplégicas ficam totalmente paralisadas da cintura para baixo. Outras pessoas podem apenas sentir pequenas dificuldades de mobilidade, ou perda de sensibilidade na parte inferior do corpo; o grau de comprometimento dependerá do grau da lesão. Nem todas as lesões na medula espinal resultam em plegias. Esse tipo de lesão pode provocar diferentes problemas. Por exemplo, uma lesão na região lombar da coluna pode provocar uma condição conhecida como síndrome da cauda equina, que interfere com o funcionamento da bexiga e das pernas e com a função sexual (Figura 5). Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...14 Figura 5. Anatomia da coluna espinal e possíveis níveis de lesões. Fonte: Adaptada de Sakurra/Shutterstock.com. Cervical C4 - C6 - Tetraplegia (quadriplegia) Paralisa todo o corpo do pescoço para baixo Torácica T1 e abaixo - Paraplegia Ocorre quando a medula espinal é lesionada, tanto na região torácica quanto na lombar Sacro Lombar A medula espinal termina na L2, mas as lesões são possíveis abaixo e no �nal da medula (cauda equina) Considerações anatômicas A medula espinal está protegida pela coluna vertebral e esta tem entre 33 e 34 vértebras, divididas em 7 cervicais; 12 torácicas; 5 lombares e 4 ou 5 coccígeas. A medula espinhal de um adulto tem cerca de 45 cm e estende-se desde a altura do atlas, primeira vértebra cervical, até a primeira ou segunda vértebra lombar. A medula espinal se afina para formar o cone medular, do qual se estende um filamento delicado, denominado de filum terminale, que se insere próximo ao primeiro segmento coccígeo. Na parte baixa do canal vertebral descendem as raízes dos nervos espinais caudais, que, juntamente com o filum terminale, formam a cauda equina, que tem o seu início no nível da vértebra T11 e termina caudalmente no nível do terceiro segmento sacral. 15Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... Fisiopatologia A medula espinal é responsável por conduzir impulsos nervosos sensitivos e motores entre o cérebro e as demais regiões do corpo. Lesões causadas por transferência de energia cinética na medula espinal podem causar rompimento dos axônios, além de causar lesões das células nervosas e a ruptura de vasos sanguíneos adjacentes. Esse processo desencadeia um estágio agudo de TRM, abrangendo um tempo de até oito horas após o acidente. Concomitantemente pode ocorrer hemorragia e necrose de substância cinzenta seguida de edema raquimedular. O fluxo sanguíneo local fica danificado pela formação de pe- téquias hemorrágicas na substância cinzenta já no primeiro minuto da lesão medular espinal (LME). A aglutinação dessas petéquias dentro da primeira hora resulta em necrose central hemorrágica, que pode se estender até a substância branca nas horas seguintes, causando uma redução geral do fluxo sanguíneo no local da lesão, causando morte celular nesse local. Comprometimento neurológico Será o grau de comprometimento que determinará as possíveis complicações que o acidentado poderá apresentar. Para determinar com exatidão qual o grau de comprometimento que o trauma causou, é essencial aguardar que passe a fase de choque medular, que dura em torno de três dias a seis semanas, considerando que quadros infecciosos podem aumentar esse período. As complicações associadas ao TRM se instalam pelo completo estado de arreflexia da medula espinal, ocorrido após o traumatismo grave nessa estru- tura. Durante o choque medular, que pode ocorrer logo após o traumatismo da medula, o paciente apresenta ausência total da sensibilidade, dos movimentos e do reflexo bulbocavernoso, mesmo que a lesão não seja completa e permanente, estando presente em condições normais. A presença do retorno do reflexo do bulbocavernoso indica o fim do choque medular e, assim, permite-se concluir qual o grau da lesão neurológica causada. Traumas raquimedulares também podem causar o choque neurogênico, caracterizado pela queda da pressão arterial acompanhada de bradicardia. Nesse caso ocorre lesão das vias eferentes do sistema nervoso simpático medular e vasodilatação dos vasos viscerais e das extremidades juntamente com a perda de tônus simpático cardíaco, sendo esta a responsável pela queda também dos batimentos cardíacos. Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...16 A presença de TVP também é uma anormalidade que pode surgir no acidentado, acometendo cerca de 80% de pacientes com lesões completas. A incidência de TVP é maior entre 7 a 10 dias após a lesão, sendo uma complicação comum causada pela imobilidade dos membros inferiores. A profilaxia para a TVP é realizada com terapia anticoagulante, uso botas de retorno venoso e de meias elásticas, execução de fisioterapia que promovam amplitude de movimentos. Em acidentados que tiveram traumas da medula cervical acima do fluxo simpático, e em menos ocorrência em lesões torácicas acima de T6, pode ocorrer a disreflexia autonômica. A disreflexia autonômica é uma alteração vasomo- tora, também conhecida como crise autonômica hipertensiva, decorrente de uma liberação do sistema nervoso autônomo (SNA), que é desencadeada por um estímulo nociceptivo. Tem como sinais e sintomas: hipertensão arterial, sudorese profusa, rubor facial, congestão nasal e cefaleia latejante. Essa com- plicação traz problemas associados ao funcionamento da bexiga urinária e dos intestinos, causando principalmente hiperdistensão desses órgãos. Após uma lesão grave da medula espinal, também podem ocorrer compli- cações como a bexiga neurogênica e o intestino neurogênico. Esses distúrbios causam a perda do controle fisiológico do padrão miccional e intestinal. Os problemas decorrentes disso estão relacionados a incontinências urinária e fecal, infecções, urolitíase, danos renais e intestinais secundários, formação de fecalomas, entre outros. A ocorrência da espasticidade tônus muscular também pode acometer pessoas com TRM, provocando uma tensão involuntária anormal, diminuída ou aumentada. A diminuição do tônus muscular acompanha a paralisia em razão de uma lesão do neurônio motor inferior, sendo também vista na fase aguda após uma lesão do neurônio motor superior, ou seja, durante choque espinal. O aumento do tônus muscular acompanha as fases aguda e crônica na sequência da lesão do neurônio motor superior. A espasticidade, por sua vez, é um complexo e multifacetado aspecto de um fenômeno conhecido como síndrome do neurônio motor superior. A imobilidade que um TRM pode causar expõe o paciente ao contato prolongado com umidade proveniente da perspiração da urina e das fezes, atrito e forças de cisalhamento, diminuição da perfusão tissular, gerando fatores contribuintes para o aparecimento de úlceras por pressão, assim como equipamentos, como aparelho gessado, tração e contenção. O tipo de utensílios associados à paralisia como tipo de eleito, colchões, travesseiros e cadeiras também contribuem com a formação dessas lesões. A imobilidade também aumenta substancialmente o desenvolvimento de pneumonias associadas à 17Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... restrição ao leito. Pacientes com tetraplegia ou paraplegia alta estão expostos ao risco aumentado de infecções pulmonares em razãode paresia do diafragma e dos músculos intercostais que acabam por prejudicar a capacidade de eliminar secreções respiratórias. Se durante a internação o paciente necessitou fazer uso de traqueostomia ou de intubação endotraqueal, o risco de pneumonia fica ainda mais aumentado, por maior acesso externo que esses meios promovem ao sistema respiratório inferior. Além de todas as complicações físicas que o acidentado pode desenvolver, o enfermeiro deve atentar também ao seu estado psicológico, pois na fase aguda da lesão da medula espinal o indivíduo pode experimentar uma gama de emoções, tais como desespero, dormência, medo, desesperança e raiva. Essa turbulência emocional é muitas vezes caótica e desorganizada. Pode ser ainda mais complicada pelo período obrigatório de repouso durante o qual um estado de sensorial privação ocorre. A súbita incapacidade de continuar dessa forma e a necessidade de levar uma vida mais ordenada podem significar um longo período de tempo de ajustamento. A falha em reconhecer que esse processo pode continuar por até dois ou três anos pode prejudicar o processo de reabilitação do paciente. Por fim, a assistência de enfermagem destinada aos pacientes que experi- mentam lesões do sistema nervoso deve sempre estar amparada para minimizar a ocorrência complicações associadas ao trauma, levando em consideração que o ser humano é um organismo complexo que necessita de planos de cuidados tanto para danos físicos quanto para fragilidades psicológicas. A detecção precoce desses problemas e a prestação de terapia física e psicológica permitirá que um indivíduo supere essas complicações, auxiliando em sua recuperação e sua reabilitação pós-trauma. Confira no link a seguir uma revisão básica da anatomia da medula espinal para entender melhor os níveis medulares, a fase de choque e o automatismo medular (LESÃO, 2017). https://goo.gl/WP3WPb Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico...18 ACIDENTE Vascular cerebral hemorrágico. Albert Einstein: Sociedade Beneficente Israelita Brasileira, São Paulo, [2016]. Disponível em: <https://www.einstein.br/doencas-sintomas/ avc/avc-hemorragico>. Acesso em: 28 set. 2018. ANEURISMA Cerebral e os cuidados de Enfermagem. Enfermagem novidade, [S. l.], [2016]. Diposnível em: <https://www.enfermagemnovidade.com.br/2016/09/aneurisma- cerebral-e-os-cuidados-enfermagem.html>. Acesso em: 28 set. 2018. KEARNS, C. An introduction to brain aneurysms. Artibiotics, [S. l.], 23 jul. [2017]. Disponível em: <https://artibiotics.com/blog/intro-to-brain-aneurysms>. Acesso em: 28 set. 2018. LESÃO medular (Traumatismo raquimedular). Videoaula ministrada por Rogério Souza. [S. l.], 2017. 1 vídeo (22min36s). Disponível em: <https://goo.gl/WP3WPb>. Acesso em: 28 set. 2018. RAUPP, E. Tratamento endovascular de aneurisma cerebral. Neurorradiologia inter- vencionista, Porto Alegre, [2014]. Disponível em: <https://dreduardoraupp.com.br/ tratamento_aneurisma.php>. Acesso em: 28 set. 2018. Leituras recomendadas CHAVES, M. L. F.; FINKELSZTEJN, A.; STEFANI, M. A. Rotinas em neurologia e neurocirurgia. Porto Alegre: Artmed, 2008. GAUDÊNCIO, T. G; LEÃO, G. M. A epidemiologia do traumatismo crânio-encefálico: um levantamento bibliográfico no Brasil. Revista Neurociências, [S. l.], v. 21, n. 3, p. 427-434, out. 2013. Disponível em: <http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2013/ RN2103/revisao/814revisao.pdf>. Acesso em: 29 set. 2018. GREENBERG, D. A.; AMINOFF, M. J.; SIMON, R. P. Neurologia clínica. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. (Série Lange). HAUSER, S. L.; JOSEPHSON, S. Neurologia clínica de Harrison. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. OLIVEIRA, C. O.; IKUTA, N.; REGNER, A. Biomarcadores prognósticos no traumatismo crânio-encefálico grave. Rev. Bras. Ter. Intensiva, São Paulo, v. 20, n. 4, p. 411-421, dez. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbti/v20n4/v20n4a15.pdf>. Acesso em: 29 set. 2018. OLIVEIRA, E. et al. Traumatismo crânio-encefálico: abordagem integrada. Acta Med Port, [S. l.], v. 25, n. 3, p. 179-192, maio/jun. 2012. Disponível em: <https://actamedicaportu- guesa.com/revista/index.php/amp/article/viewFile/43/45>. Acesso em: 28 set. 2018. PEREIRA, C. S.; ARAUJO, G. L. Trauma raquimedular e diagnóstico por imagem. Revista eletrônica Saber, Londrina, v. 37, 1-16, jan./fev./ mar. 2017. Disponível em: <https://www. inesul.edu.br/revista/arquivos/arq-idvol_47_1485870443.pdf>. Acesso em: 29 set. 2018. 19Sistema nervoso: comprometimento por aneurisma, traumatismo cranioencefálico... Conteúdo: ANATOMIA APLICADA A ENFERMAGEM Márcio Haubert Sistema nervoso: comprometimento por acidente vascular encefálico Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Diferenciar o acidente vascular hemorrágico do acidente vascular isquêmico e suas principais características clínicas. � Caracterizar os prováveis comprometimentos anatomofuncionais dos sistemas nervosos central (SNC) e periférico (SNP) causados pelo acidente vascular encefálico (AVE). � Descrever os prováveis comprometimentos anatomofuncionais do sistema nervoso autônomo (SNA) causados pelo AVE. Introdução O acidente vascular encefálico (AVE) é uma doença neurológica que afeta o SNC e que apresenta bastante gravidade e alta incidência entre a po- pulação brasileira, tornando-se uma das principais causas de internações e mortalidade, causando, na grande maioria dos pacientes, algum tipo de sequela, seja parcial ou completa. Os profissionais de enfermagem devem conhecer essa patologia neurológica, a fim de entender seus comprometimentos, incidência, fatores de risco, manifestações clínicas, tratamentos e reabilitação com o intuito de programar uma adequada assistência de enfermagem. Para isso, neste capítulo, você terá a oportunidade de aprender as diferenças entre o AVE isquêmico e o AVE hemorrágico, além de conhecer os com- prometimentos anatomofuncionais que cada um deles causa. Acidente vascular encefálico (AVE) O AVE, popularmente chamado de derrame cerebral, há pouco tempo era chamado de AVC e essa nomenclatura ainda pode ser encontrada com bas- tante facilidade nas bibliografias que tratam sobre o assunto. A mudança na terminologia se deu para que todo o encéfalo pudesse ser abrangido, não deixando apenas o cérebro incluído no estudo anatomofuncional da pato- logia. A autorregulação cerebrovascular é geralmente capaz de manter um fluxo sanguíneo constante, sendo ele ajustado de acordo com as exigências metabólicas. A interrupção da irrigação sanguínea e a consequente falta de glicose e oxigênio provocam danos celulares e causam uma diminuição ou uma parada da atividade funcional na área do cérebro afetada (ROCHA E SILVA et al., 2003). O AVE é definido como uma disfunção neurológica aguda de origem vascular que apresenta rápido desenvolvimento dos sinais clínicos em razão dos distúrbios locais ou globais com função cerebral com período de duração superior a 24 horas. É uma doença que traz consequências intermediárias, porém, gera diversos tipos de deficiências que implicam consideravelmente na qualidade de vida do adoecido, tendo que possibilitar um ajustamento do paciente, da família e dos serviços de saúde. O AVE é a principal causa de morte nos adultos do Brasil e um dos princi- pais motivos de incapacidade em todo o mundo, pois 70% dos pacientes não retornam sem danos neurológicos. A maior parte dos pacientes acometidos morrem ainda nos primeiros anos após o acidente, os que sobrevivem apre- sentam dificuldades de deambulação, fala, desenvolvimento do autocuidado e realização de tarefas diárias. A prevalência é maior em homens do que em mulheres e os idosos estão no grupo mais vulnerável a sofrer esse tipo de doença neurológica. Estima-se que todo o ano 15 milhões de pessoas experi- mentem um episódio de AVE em todo o mundo. Destes, 5 milhões morrem e outros 5 milhões sobrevivem com alguma sequelapermanente, causando danos pessoais e familiares. São conhecidos diversos fatores de risco que estão associados ao desenvol- vimento de AVE, porém, sua incidência é aumentada entre a população idosa, que apresenta maior vulnerabilidade a esse agravo. Os AVEs constituem um grande problema da saúde pública com taxas elevadas de letalidade e uma por- centagem significativa de sobrevivência dependente. O AVE é entendido como Sistema nervoso: comprometimento por acidente vascular encefálico2 um déficit temporário ou definitivo provocado por uma alteração da circulação sanguínea no encéfalo, tendo o poder de danificar uma ou mais partes dele. O AVE pode ser causado por dois mecanismos distintos, se considerarmos a sua fisiopatologia: isquemia (85%) ou hemorragia (15%) (ARAÚJO et al., 2012). Vascularização encefálica É importante compreender como se dá a vascularização encefálica para melhor entender a ocorrência de um AVE. O encéfalo recebe sua vascularização pelos sistemas carotídeo interno e vertebrobasilar. A artéria carótida interna penetra no encéfalo pelo canal carotídeo do osso temporal, atravessando o seio caver- noso, dividindo-se em dois ramos terminais e dando origem à artéria cerebral anterior e à artéria cerebral média. Também origina quatro ramos colaterais: artérias oftálmica, hipofisária, coroidea anterior e comunicante posterior. Duas artérias cerebrais anteriores estão interligadas pela artéria comunicante anterior no círculo arterial cerebral, um sistema arterial anastomótico na base do encéfalo formado pelos ramos das artérias carótida interna e vertebral. As artérias vertebrais atingem o encéfalo passando pelo forame magno e seguindo pela porção anterior do bulbo e do sulco bulbo-pontino, unindo-se para formar a artéria basilar. As artérias vertebrais dão origem também às artérias cerebelares inferiores posteriores, enquanto a basilar origina as artérias cerebelares superiores e cerebelares inferiores anteriores e a artéria do labirinto. A artéria basilar forma ainda as duas artérias cerebrais posteriores, que se ligam à carótida interna por meio das comunicantes posteriores. Exemplos elucidam a vascularização arterial encefálica nas Figuras 1, 2 e 3. A circulação anterior do cérebro se dá pelas artérias cerebrais anterior e média que irrigam a área dos olhos, os núcleos da base, parte do hipotálamo, os lobos frontal e parietal e grande parte do lobo temporal. Já a circulação posterior se dá pela artéria cerebral posterior que irriga o tronco encefálico, o cerebelo, parte interna da orelha, o lobo occipital, o tálamo, parte do hipotálamo e uma pequena parte do lobo temporal. Após o sangue realizar a troca de oxigênio por gás carbônico e de nutrientes por excretas, ele é drenado por veias que o liberam nos seios da dura-máter. O córtex e a substância branca são drenados pelo sistema venoso superficial pelas veias cerebrais superficiais superiores e inferiores. Já o sistema venoso profundo drena o diencéfalo, o estriado e a cápsula interna. 3Sistema nervoso: comprometimento por acidente vascular encefálico Fi gu ra 1 . A rt ér ia s en ce fá lic as — v is ta in fe rio r d o en cé fa lo . Fo nt e: A da pt ad a de Ta nk e G es t ( 20 10 , p. 3 49 ). Sistema nervoso: comprometimento por acidente vascular encefálico4 Fi gu ra 2 . A rt ér ia s ce re br ai s a nt er io r e po st er io r e m v is ta he m is fé ric a in te rn a di re ita . Fo nt e: N et te r ( 20 00 , lâ m in a 13 5) . 5Sistema nervoso: comprometimento por acidente vascular encefálico Fi gu ra 3 . A rt ér ia ce re br al m éd ia e m vi st a an te ro la te ra l ex te rn a no he m is fé rio e sq ue rd o. Fo nt e: N et te r ( 20 00 , lâ m in a 13 5) . Sistema nervoso: comprometimento por acidente vascular encefálico6 Um quadro agudo de AVE apresenta o seguinte quadro clínico com início súbito de: � fraqueza ou dormência em um lado do corpo; � confusão, dificuldade para falar ou entender; � dificuldade para enxergar com um ou ambos os olhos; � dificuldade para andar, tontura ou descoordenação; � cefaleia intensa e súbita sem causa aparente. Fonte: Adaptado de Brasil (2013). AVEs isquêmico e hemorrágico AVE isquêmico Um quadro de AVE isquêmico ocorre quando falta suprimento sanguíneo no encéfalo frequentemente causado pela formação de uma placa aterosclerótica ou pela presença de um coágulo que chega pela circulação de uma outra parte do corpo (COHEN, 2001). Isso causa a diminuição ou a interrupção de fornecimento de sangue para aos tecidos encefálicos. A privação de supri- mento sanguíneo impede que as células cerebrais recebam oxigênio e glicose, tornando impossível a sobrevivência delas (COSTA et al., 2015). Veja a seguir a classificação do AVE isquêmico. � Acidente isquêmico transitório (AIT): caracterizado por quadro agudo em que ocorre perda da função em alguma região encefálica, que geralmente regride em 24 horas. É típico quando há formação de placas de ateromas nas artérias carótidas, que diminuem consideravelmente o fornecimento de sangue para o encéfalo. � Déficit neurológico isquêmico reversível: caracterizado pela ocor- rência do quadro neurológico em uma estimativa de tempo superior a 24 horas e inferior a três semanas. � Déficit neurológico isquêmico completo: caracterizado pela ocorrência de quadro neurológico progressivo por mais de três semanas. 7Sistema nervoso: comprometimento por acidente vascular encefálico AVE hemorrágico O AVE hemorrágico é causado por um aneurisma ou trauma dentro das áreas extravasculares do encéfalo. Ele ocorre em razão da ruptura de um vaso san- guíneo e do consequente extravasamento do sangue. A hemorragia pode ser intracerebral ou subaracnóidea e, em ambos os casos, a falta de suprimento sanguíneo causa infarto na área suprida pelo vaso e as células acabam mor- rendo (COSTA et al., 2015). Um AVE hemorrágico é geralmente causado pela hipertensão arterial crônica e por uma ruptura de um aneurisma. Outras causas incluem: � inflamação nos vasos sanguíneos, que podem se desenvolver a partir de doenças como sífilis, doença de Lyme, vasculite e tuberculose; � distúrbios de coagulação do sangue, como a hemofilia; � ferimentos na cabeça ou no pescoço, que resultam em danos aos vasos sanguíneos na cabeça ou no pescoço; � tratamento com radiação para câncer no pescoço ou cérebro; � doenças das válvulas cardíacas, como prolapso da válvula mitral ou estenose de uma válvula cardíaca; � endocardite; � distúrbios de coagulação do sangue. Fatores de risco Os fatores de risco associados ao AVE são classificados em fatores não mo- dificáveis e fatores modificáveis. � Fatores não modificáveis: aqueles que independem do estilo de vida do indivíduo, como idade, raça, sexo e herança genética. � Fatores modificáveis: aqueles que estão diretamente relacionados ao estilo de vida, como hipertensão arterial, aterosclerose, diabetes melito, tabagismo, hipercolesterolemia, obesidade, sedentarismo, alcoolismo e uso de anticoncepcionais. Sistema nervoso: comprometimento por acidente vascular encefálico8 Vale a pena destacar que a aterosclerose é a principal causa do AVE, resultando da má alimentação e das más condições comportamentais. A principal consequência da formação das placas de ateroma nas paredes arte- riais é o surgimento de um aneurisma. Este caracteriza-se por debilidade da musculatura lisa da parede arterial, havendo distensão, podendo causar um AVE hemorrágico. Outras causas frequentes incluem a formação de trombos e êmbolos, traumas e malformações das paredes vasculares ou fragilidade vascular. Manifestações clínicas do AVE Pacientes acometidos por um AVE podem apresentar manifestações clínicas variadas, dependendo da extensão, do tipo e da área encefálica atingida pelo acidente. Dentre as manifestações clínicas apresentadas em indivíduos vítimas
Compartilhar