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1 ALEITAMENTO MATERNO PEDIATRIA Emanuel Antonio Lopes Domingos DEFINIÇÕES Aleitamento materno: leite humano direto da mama ou retirado manualmente. Aleitamento materno exclusivo (AME): É aquele feito apenas com leite humano, sem outros líquidos ou sólidos; Aleitamento materno predominante: É aquele que tem como leite humano a fonte predominante de nutrição para a criança. Recebendo água, chás ou sucos. Aleitamento materno complementado: É aquele composto por leite humano mais outros alimentos sólidos, semissólidos e líquidos, incluindo leites não humanos. Desmame: a completa cessação do aleitamento. IMPORTÂNCIA: Alimento ideal para o crescimento e o desenvolvimento saudáveis do recém- nascido (RN). Parte integrante do processo reprodutivo, pois a ocitocina que participa da ejeção do leite também estimula a contração uterina. O aleitamento possui implicações importantes para a saúde materna. O aleitamento materno confere proteção contra: - Sepse e entercolites no RN. 2 - Doenças diarreicas, desnutrição e infecções subsequentes; - Doenças alérgicas, anemias ferropriva, hipocalcemia neonatal e morte súbita. - Obersidade, aterosclerose, hipertensão arterial e infarto do miocárdio. - Infecções respiratórias, incluindo otites; ANATOMIA DA MAMA 3 Figura 1. A pega indica a região onde a criança deve abocanhar para realizar a sucção do leite de forma eficiente. FISIOLOGIA DA AMAMENTAÇÃO 4 Figura 2. Fisiologia hormonal da amamentação 5 APOJADURA: É o preparo da mama para a produção de leite que, geralmente, acontece até cinco dias após o parto. Neste período, as mamas ficam maiores e bem cheias, por igual, e algumas vezes quentes. É normal haver um pequeno fluxo de leite, começando a descer em forma de gotinhas, que é suficiente para o bebê ficar satisfeito. CARACTERÍSTICAS BIOQUÍMICAS Colostro: Rico em IgA secretória, que é um dímero não destruído pelas secreções gástricas e intestinais = confere proteção de mucosa. É inativada pela fervura. Isso é capaz de proteger o bebê contra infecções respiratórias, digestivas. Possui maior concentração proteica e salina e menor de lactose e lipídios. A quantidade é pequena, mas a qualidade é muito boa. 6 Leite de transição: do 7° ao 15° dia pós-parto. Leite maduro: duas semanas após o parto 7 COMPOSIÇÃO DO LEITE HUMANO: - Baixa concentração de proteínas (1,1g%): alfa-lactoalbumina, lactoferrina (afinidade pelo ferro 300 vezes maior que a transferrina, ↓ a disponibilidade para os patógenos; a pasteurização destrói 2/3), IgA secretora e lisozima (lisa a parede celular das bactérias e é inativada pela fervura e pouco afetada pela pasteurização). - Baixa carga de excreção renal de solutos; - Maior concentração de taurina; - Maior disponibilidade de carnitina (necessária à metabolização dos AGCL); - Presença de lipase = facilita a digestão de triglicerídios; - Concentrações elevadas de ácidos linoleico e alfa- linolênico; - Carboidrato predominante = lactose. Facilita a absorção de cálcio e produz cerebrosídeos (= lipídios mais complexos formados por glicose ou galactose, ácidos graxos superiores e aminoálcoois. São encontrados nas células vivas, principalmente nas dos tecidos nervosos e cerebrais); - Presença de mono e oligossacarídeos para a proliferação bífida (Lactobacillus bifidus) COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO X LEITE DE VACA 8 • Leite anterior: início da mamada, rico em imunoglobulinas. O leite do início da mamada é mais ralo, porque contém mais água, açúcar e fatores de proteção. • Leite posterior: final da mamada, rico em lipídios. 9 10 TÉCNINA CORRETA • Iniciar ainda na sala de parto; • Livre demanda; • Não há tempo definido; • Esvaziar a mama; Isso é importante para garantir que a criança seja alimentada tanto com o leite anterior como o posterior. • Oferecer na próxima mamada a que ainda não foi esvaziada por completo. ▪ Roupas da mãe e do bebê adequadas; ▪ Posição confortável; ▪ Mama completamente exposta; 11 ▪ Corpo do bebê voltado para a mãe; ▪ Cabeça e corpo da criança alinhados; ▪ Oferecer a mama formando um C com o dedo polegar na parte superior e os outros 4 dedos na parte inferior, deixando a aréola livre; Figura 3. Técnica utilizada principalmente em RNs. • Cabeça do bebê no mesmo nível da mama com a boca centrada no mamilo; • Estimular a criança para que abra bem a boca; • Abocanhar além do mamilo, a maior parte da aréola; • Queixo tocando a mama; • Lábios evertidos (boca de peixe); • Língua sobre a gengiva inferior. 12 13 TÉCNICA INCORRETA DE ALEITAMENTO: • Bochechas encovadas a cada sucção; • Ruídos da língua: 14 • Dor ao amamentar; • Boca apertada, alcançando só o mamilo. 15 Figura 4. Posição invertida pode ser usada para amamentar duas crianças de uma só vez. 16 17 BENEFÍCIOS PARA A CRIANÇA • Proteção imunológica; • Melhor interação entre mãe e filho; • Prevenção contra infecções; • Desenvolvimento adequado da fala e da musculatura da mastigação. • Menor risco de cáries; • Melhor adaptação social e desenvolvimento neuropsicomotor; • Redução da mortalidade infantil. BENEFÍCIOS PARA A MÃE: ▪ Praticidade; ▪ Proteção contra anemia; ▪ Redução da anemia por sangramento uterino; ▪ Involução uterina mais rápida; 18 ▪ Menor incidência de câncer de mama e de ovário; ▪ Efeito contraceptivo. DIREITOS A MÃE • Direito a estabilidade provisória no emprego; • Licença-maternidade de 120 dias (ou 180 dias); • Possibilidade de ampliação da licença em casos especiais; • Descansos especiais durante o trabalho. DIFICULDADES: • Pega inadequada; • Sucção ineficaz ; • Incoordenação da sucção/deglutição durante a mamada : muito comum em crianças com síndrome de Down. • Fenda palatina • Baixa produção láctea • Trauma mamilar/fissuras 19 • Ingurgitamento mamário: orientar massagear. • Abscesso mamário/mastite: as vezes é preciso drenar primeiro. COMPLICAÇÕES: Trauma mamilar e Fissuras: ocorre por má posição. Tratamento ou medidas a serem adotadas: ▪correção da pega, ▪exposição solar ou ao ar livre, ▪mudança de posição (mudança do ponto de pressão), ▪aplicar o próprio leite no mamilo após a mamada e ▪analgésicos sistêmicos, se necessário. Ingurgitamento: Aumento da produção láctea com drenagem inadequada. As mamas ficam doloridas, congestas e muito vascularizadas. 20 Medidas e tratamentos: – esvaziamento da mama com mamadas frequentes ou retirada manual do leite, – massagens delicadas: primeiro na região próxima a aréola – compressas frias (até de 2/2h durante 15 min) – Analgésicos sistêmicos. 21 Figura 5. Apoiar a mama embaixo, com os 4 dedos, e pressioná-la com o polegar por cima. Mastite / abscesso mamário Infecção do tecido intersticial mamário. Se caracteriza por calor, dor, edema e ingurgitamento da mama. Febre e mal-estar importante. Fissuras como porta de entrada. Geralmente é causada por infecção por Staphylococcus aureus. 22 Medidas: • manter amamentação, • esvaziar a mama, • antibioticoterapia precoce por 10 a 14 dias, • uso de analgésicos e anti-inflamatórios, • Avaliar presença de abscesso e necessidade de drenagem. A USG pode ser muito útil nesse processo. CONTRAINDICAÇÕES: • Doenças graves maternas: – eclâmpsia, insuficiência cardíaca e febre tifoide; – doenças neoplásicas em atividade e – portadoras do HIV e HTLV 1 e 2. • Uso materno de quimioterápicos, antineoplásicos e imunossupressores, bebida alcoólica*(Inibe a produção de leite, concentra-se no leite. Deve ser evitado o aleitamento até 2 horasapós, se tiver bebido pouca quantidade.) e consumo de drogas de abuso como maconha, cocaína e heroína; • Erros inatos do metabolismo em crianças: galactosemia* , fenilcetonúria, síndrome do Xarope de Bordo (leucinose). 23 24 SITUAÇÕES ESPECIAIS: • Tuberculose materna com baciloscopia positiva → deve-se iniciar o tratamento para a mãe e a profilaxia para o bebê, e durante a amamentação a mãe deve utilizar máscara. Apenas após a baciloscopia negativa, a mãe pode amamentar sem máscara (cerca de 15 dias após o uso de medicações). Se após esse período, a criança for PPD negativo, faz-se o BCG. • Hanseníase contagiante (Cuidado com secreção nasal e pele); • Varicela: Quando a mãe tem a doença 5 dias antes a 2 dias após o parto → deve-se ordenhar o leite e afastar a mãe do bebê. Fazer imunoglobulina para o bebê; • Herpes simples com lesão na aréola ou no mamilo (Pode amamentar na outra mama.); • Infecção pelo CMV (Ponderar risco versus benefício para prematuros com menos de 1.500g – Pasteurizar o leite); • Hepatites A (Raramente causa doença grave no lactente – fazer imunoglobulina, se a mãe teve sintomas de 15 dias antes a 7 dias após o parto) e B (Não acarreta risco adicional). DE ACORDO COM A OMS • Aleitamento materno exclusivo até o 6° mês de vida; • Introdução de alimentação complementar a partir do 6° mês; • Manutenção do aleitamento materno até os 2 anos de idade. 25 Encaminhar ao BANCO DE LEITE HUMANO (BLH) quando houver necessidade de acompanhamento/ajuste de pega ou para doações. Apoiar a mãe e oferecer as condições para manutenção do aleitamento materno. 26 27
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