Buscar

Alimentação e Nutrição dos Gatos

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Universidade Estadual do Ceará - UECE 
 Faculdade de Veterinária - FAVET 
 Disciplina: Alimentação e Nutrição de Animais não Ruminantes 
 Professor: Walbens Siqueira Benevides 
 Alimentação e Nutrição do Gatos 
 Antônia Tayane Vieira de Melo 
 Gabriela Costa Veras Barbosa 
 Lydia Letícia Oliveira de Paulo 
 0 4 de janeiro de 2022 
 Fortaleza, Ce 
 Introdução 
 Acredita-se que o gato doméstico tenha evoluído do gato selvagem africano Felis 
 sylvestris libyca entre 4.000 e 10.000 anos atrás (Driscoll CA, et al, 2007). Os gatos 
 pertencem à ordem Carnivora, o que significa “comedor de carne”, e à família Felidae. 
 Acredita-se que os gatos vêm sendo domesticados há pelo menos 9.500 anos atrás, assim que 
 houve o desenvolvimento da agricultura, o que implicou no estoque de alimentos e resultou 
 no aumento significativo de roedores nesses locais. Isto gerou um atrativo para que os felinos 
 migrassem até esses locais. Sendo assim, as gerações de filhotes descendentes dos felinos que 
 permaneceram nesses locais desenvolveram uma relação de maior proximidade com o 
 homem, e como conseqüência disso houve o início de sua domesticação, constituindo um elo 
 de tolerância mútua e comensal com o homem, onde ambas as espécies foram beneficiadas 
 (VIGNE et al, 2004). 
 Características anátomo-fisiológicas 
 Os gatos têm menos dentes do que os cães, mas o mesmo número de incisivos, 
 caninos e dentes carniceiros (quarto pré-molar superior). Além disso, os gatos têm menor 
 número de dentes pré-molares e molares com superfícies fissuradas. Sua dentição é mais 
 especializada para dilacerar carne e não para triturá-la (NRC, 2006). 
 Como os gatos evoluíram para pequenas refeições frequentes ao longo do dia, a 
 capacidade de seu estômago é menor do que a de cães. A capacidade estomacal máxima do 
 gato encontra-se entre 45 e 60 mℓ/kg de peso corporal, em comparação com 90 mℓ/kg no 
 cão. O comprimento intestinal relativo é determinado pelo índice comprimento 
 intestinal/comprimento do corpo. O comprimento do intestino é um dos fatores que 
 influenciam a quantidade de tempo para que ocorram digestão e absorção. Os gatos 
 apresentam comprimento intestinal mais curto do que os cães e outros carnívoros e 
 herbívoros. No gato, esse índice é de 4:1 em comparação a 6:1 em cães (NRC, 2006). 
 A maioria dos mamíferos produz e secreta fator intrínseco a partir do estômago e do 
 pâncreas. A cobalamina, ou vitamina B12 , precisa se ligar ao fator intrínseco para sua 
 absorção e sua captação no íleo. No gato, o fator intrínseco é produzido apenas no pâncreas 
 (Fyfe, 1993). 
 Particularidades Nutricionais 
 Os gatos possuem particularidades nutricionais, tal como a habilidade limitada de 
 infra regular as enzimas do catabolismo do nitrogênio e aquelas do ciclo da ureia, 
 necessidade estrita pelo aminoácido arginina, incapacidade de sintetizar taurina a partir da 
 cisteína, capacidade limitada de lidar com carboidratos na dieta, incapacidade de sintetizar 
 vitamina A a partir de betacarotenos (Morris, 2002). 
 Proteína 
 A proteína na dieta é necessária por dois motivos. O primeiro consiste nos 
 aminoácidos (AA) que o gato não pode sintetizar, denominados essenciais. A segunda 
 consiste no nitrogênio e nas cadeias de carbono para a síntese de AA não essenciais e outros 
 compostos necessários contendo nitrogênio (ou seja, purinas, pirimidinas, heme, hormônios e 
 neurotransmissores). Tanto os AA essenciais quanto os não essenciais tornam-se parte do 
 acúmulo de AA para a síntese de proteína nos tecidos (NRC, 2006). 
 Arginina 
 A arginina é um intermediário fundamental no ciclo da ureia envolvida na excreção 
 do nitrogênio via ureia, assim, a arginina permite que grandes quantidades de nitrogênio, 
 gerados do catabolismo de aminoácidos, sejam convertidos em ureia, para que possam ser 
 excretados do organismo. Uma única refeição sem o AA arginina pode resultar em eventos 
 essencialmente fatais no gato, ou seja, se a arginina não estiver na alimentação, o gato não irá 
 repor os intermediários do ciclo da ureia e ocorrerá o desenvolvimento de hiperamonemia 
 grave (Morris, 1985) 
 A arginina pode ser produzida a partir da ornitina na maioria dos animais, onde os 
 aminoácidos glutamato e prolina atuam como precursores da síntese de ornitina na mucosa 
 intestinal. No entanto, as células da mucosa intestinal do gato têm um nível extremamente 
 baixo de pirrolina-5- carboxilato sintetase ativa, uma enzima essencial nesta via metabólica. 
 O gato também tem uma baixa atividade de uma segunda enzima, a ornitina 
 aminotransferase. Além de sua incapacidade para sintetizar ornitina, o gato também é incapaz 
 de sintetizar arginina a partir da ornitina,para ser utilizada pelos tecidos extra-hepáticos, 
 mesmo quando a dieta fornece ornitina (Case, 1995). 
 Metionina e Cisteína 
 Esses dois aminoácidos sulfúricos são necessários em maiores quantidades para 
 gatos, que para as demais espécies. Elas são estudadas juntas, pois a metionina pode ser 
 convertida a cisteína; assim, a necessidade de aminoácidos com enxofre pode ser satisfeita 
 mediante metionina individualmente ou metionina e cisteína (NRC, 2006). A metionina é um 
 doador importante de grupamento metil para a síntese de DNA e RNA, além de ser um 
 componente de muitas proteínas. A cisteína é importante componente de muitas proteínas, 
 sendo encontrada em cabelos/pelos. A cisteína também é precursora de glutationa, um 
 importante antioxidante em sistemas de mamíferos, e precursor para a síntese de felinina. A 
 felinina é um AA de cadeia ramificada encontrado na urina de gatos domésticos. Não se 
 conhece completamente a função biológica da felinina, embora se acredite que funcione 
 como um feromônio e seja importante na marcação de território (Hendriks WH et al.,2008). 
 Taurina 
 A taurina é um aminoácido (AA) betassulfônico não empregado na síntese de 
 proteína, porém encontrado como AA livre em tecidos. As concentrações mais elevadas de 
 taurina são encontradas no coração, nos músculos, no cérebro e na retina. A taurina tem 
 muitas funções importantes, como osmorregulação, modulação dos canais de cálcio, ação 
 antioxidante e conjugação de ácidos biliares (Huxtable, 1992). 
 Os cães conseguem sintetizar taurina suficiente a partir da cisteína, já os gatos são 
 incapazes de sintetizar taurina a partir da cisteína de forma significativa. Essa inabilidade é 
 resultado da baixa atividade de duas enzimas essenciais na síntese de taurina: cisteína 
 dioxigenase e cisteína descarboxilase e, principalmente, devido à demanda metabólica muito 
 grande. Dessa forma, nem se considera a síntese de taurina nos gatos, o que implica na 
 inclusão obrigatória desse aminoácido na dieta. A deficiência de taurina no gato está 
 associada à miocardiopatia dilatada, à degeneração retiniana central felina e à falência 
 reprodutiva (Morris, 2002) 
 Carboidratos 
 Os gatos que se alimentam apenas de carne animal têm dieta pobre em carboidratos. 
 Assim como com a proteína, os gatos evoluíram diversas adaptações únicas no metabolismo 
 de carboidratos em comparação com os onívoros ou osherbívoros. Dentre essas adaptações, 
 estão: ausência de atividade da glicoquinase no fígado, níveis mais baixos de amilase e das 
 dissacaridases sacarase e lactase no pâncreas e no intestino, pouca adaptação na atividade da 
 amilase com dietas ricas em carboidratos e níveis altos de gliconeogênese a partir de 
 proteínas e gorduras ( Washizu, 1999). 
 Os gatos não apresentam necessidade dietética para carboidratos, mas sim para 
 energia. Desde que a dieta contenha gorduras e proteínas gliconeogênicas, conseguem 
 sintetizar glicose e energia suficientes para manutenção. Um estudo em cães demonstrou que 
 cães lactantes que receberam dieta sem carboidratos tornavam-se hipoglicêmicos, com baixa 
 taxa de sobrevida entre os filhotes . É provável que, embora os gatos não tenham necessidade 
 absoluta de carboidratos, as gatas-mães com um pouco de carboidratos na dieta consigam 
 suportar mais adequadamente a lactação (Romsos et al.,1981) 
 Os mamíferos têm até quatro isoenzimas no fígado que catalisam a conversão de 
 glicose a glicose-6-fosfato, a primeira etapa na utilização da glicose. A hexoquinase 
 responsável pela operação sob altas quantidades de glicose é a hexoquinase D, ou 
 glicoquinase. O gato possui uma baixíssima atividade da glicoquinase, o que está de acordo 
 com uma dieta com níveis baixos de carboidratos. Por outro lado, os cães apresentam a 
 atividade da glicoquinase e conseguem lidar com cargas maiores de carboidratos ( Washizu, 
 1999). 
 O gato não possui a amilase salivar, enzima responsável pela hidrólise do amido até 
 glicose, e os níveis de amilase pancreática são muito baixos em comparação aos cães (NRC, 
 2006). Além disso, a atividade dos transportadores de açúcar no intestino também não é 
 adaptável a níveis mais elevados de carboidratos na dieta, em comparação com o cão. 
 Comparados com outras espécies, os gatos apresentam níveis muito mais baixos de atividade 
 de maltase, isomaltase e sacarase na mucosa do intestino delgado. A atividade da lactase é 
 alta em filhotes recém-nascidos, porém rapidamente diminui ao desmame, conforme visto em 
 outros mamíferos. Contudo, comparados com cães, os gatos exibem diminuição mais rápida 
 na lactase (Kienzle et al., 1993). 
 Vitamina A 
 O termo vitamina A inclui algumas substâncias químicas relacionadas chamadas 
 retinol, retinal e ácido retinóico. Todos os animais têm necessidade fisiológica de vitamina A 
 ativa (retinol). No entanto, a maioria dos mamíferos, com exceção do gato, têm a capacidade 
 de converter os precursores da vitamina A (carotenoides) em retinol. Os carotenoides são 
 sintetizados somente por células vegetais. Quando um animal se alimenta de carotenoides de 
 uma planta, a beta-caroteno 15, 15’ – dioxigenase, enzima da mucosa intestinal, converte 
 essas pró-vitaminas em retinol, forma ativa da vitamina A. O retinol é então absorvido e 
 estocado no fígado. Porém, nos gatos, essa enzima é ausente ou deficiente, e, portanto, estes 
 animais necessitam da vitamina pré-formada presente na dieta. Essas substâncias podem ser 
 encontradas em abundância em óleos de fígado de peixes e fígado de animais (CASE et al., 
 2011). 
 A vitamina A é importante para a visão, crescimento ósseo, reprodução e manutenção 
 do tecido epitelial. Como os gatos não convertem carotenoides (provitaminas A), devido à 
 falta da enzima dioxigenase, eles necessitam da vitamina A pré-formada presente na dieta. 
 Essa vitamina é uma das mais importantes, pois é essencial em diversas funções biológicas 
 no organismo. A deficiência desta vitamina causa vários sintomas diferentes e inespecíficos 
 como anorexia, perda de peso, lesões de pele, fraqueza, infertilidade etc. Os sinais 
 patognomônicos incluem aqueles que afetam a visão, como nictalopia (cegueira noturna) e 
 xenoftalmia (conjuntiva ocular seca) (KIRK et al., 2000). Todavia, como se trata de uma 
 vitamina lipossolúvel, que pode ser estocada, ela também pode se tornar tóxica em 
 concentrações muito elevadas, principalmente em dietas que contém fígado de animais. Os 
 sintomas da hipervitaminose A são malformações ósseas, fraturas espontâneas e hemorragias 
 internas (Polizopoulou et al., 2005). 
 Tiamina 
 A tiamina (B1) é uma das vitaminas B hidrossolúveis necessárias para a formação da 
 coenzima tiamina pirofosfato (TPP). A TPP funciona como coenzima nas reações de 
 descarboxilação no catabolismo tanto de carboidratos quanto de AA. A tiamina é essencial na 
 síntese e no metabolismo de carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos. Os gatos precisam de 
 quatro vezes mais tiamina na dieta em comparação com cães (Lonsdale, 2006). Isso pode ser 
 devido a seu nível mais elevado de catabolismo de AA e gliconeogênese. As tiaminases são 
 antagonistas naturais da vitamina B1, as quais são capazes de inativar a tiamina por um 
 processo de oxirredução. Elas são encontradas em alta concentração no peixe cru, mariscos, 
 fermentos e fungos. Dessa forma, animais que possuem uma dieta rica em peixe, 
 principalmente cru, podem sofrer com a deficiência de tiamina. Os sinais clínicos de 
 deficiência de tiamina são anorexia, perda de peso e depressão, os quais evoluem para sinais 
 neurológicos de pupilas dilatadas, ataxia, fraqueza, convulsão e, por fim, morte (Lonsdale, 
 2006). 
 Comportamento Alimentar Normal 
 Os gatos são caçadores solitários, dessa forma, embora tenham sempre comida à 
 disposição, continuam com o hábito de caçar roedores, lagomorfos, aves e répteis. 
 (HORWITZ et al., 2008). As preferências gustativas desses felinos são instintivas e 
 adquiridas. Quanto às instintivas, eles possuem receptores gustativos especializados para a 
 ingestão de carne, já em relação às preferências adquiridas, foram demonstradas por meio da 
 exposição pré-natal e pós-natal a determinados sabores no líquido amniótico e no leite das 
 gatas-mãe. (BECQUES et al., 2010). 
 Adaptações de Carnívoros 
 Como as presas dos felinos são principalmente ricas em proteína e gordura, eles não 
 apresentam amilase salivar para digerir carboidrato. (ARMSTRONG et al., 2010). Nesses 
 animais, durante a refeição, a dieta proteica estimula a liberação de insulina, que, por sua vez, 
 estimula a gliconeogênese hepática para restabelecer a glicemia. Embora a maioria dos 
 animais suprima a gliconeogênese durante as refeições, os gatos aumentam a produção 
 hepática de glicose durante a fase de absorção para compensar os níveis elevados de insulina. 
 Como os gatos dependem bastante de proteínas para a gliconeogênese, eles continuam 
 metabolizando aminoácidos para energia mesmo quando desnutridos em termos de proteína. 
 (ROGERS et al., 1977). 
 Deficiência de aminoácidos essenciais podem provocar doença grave e até mesmo 
 morte. Dentre esses aminoácidos, a arginina é fundamental para a o homeostase do 
 organismo, uma vez que ela é necessária no ciclo da uréia, para converter amônia tóxica em 
 uréia. A amônia é um produto intermediário do metabolismo de proteínas, e pode ocorrer 
 hiperamonemia se os gatos forem alimentados com apenas uma refeição semarginina. 
 (ROGERS et al., 1984). 
 Necessidade de Energia 
 A necessidade calórica do gato ou necessidade diária de energia (NDE) é uma 
 combinação de vários fatores. No gato, a maior parte da energia é direcionada para as funções 
 metabólicas basais, que é conhecida como necessidade de energia em repouso (NER). Além 
 disso, essa energia também é gasta em exercícios físicos, digestão e regulação da 
 temperatura. Para estimar quantas quilocalorias um gato deve receber na alimentação 
 diariamente, a NER é estimada de acordo com o peso ideal de um gato. A NER pode ser 
 estimada a partir de duas equações: 
 NER (kcal/dia) = (peso corpora / kg) ^0,75 × 70 
 NER (kcal/dia) = (peso corpora / kg × 30) + 70 
 Nutrição por Estágio de Vida 
 Em gatos adultos, a primeira etapa para desenvolver um plano nutricional consiste em 
 avaliar o estado de saúde do paciente. Desse modo, obter o histórico completo, realizar 
 exames físicos, como a condição corporal, e laboratoriais são necessários para descartar 
 doenças responsivas a alterações nutricionais específicas. A contagem da condição corporal 
 estima a massa adiposa corporal através da visualização e palpação do gato. Utiliza-se uma 
 escala de 5 ou de 9 pontos, em que 1 é caquético e 5 ou 9 é obeso. Depois de se determinar a 
 condição corporal, estima-se a massa gordurosa corporal. O ideal é que os gatos tenham entre 
 20 a 25% de massa gorda. Assim, se a contagem da condição corporal for 5/5 ou 9/9, então 
 estima-se que a massa gordurosa seja 40 a 45%. 
 As fêmeas em prenhez ou em lactação também necessitam de uma dieta especial. As 
 demandas físicas da gestação requerem que a gata esteja com peso ideal, e recebam uma dieta 
 rica em proteína e em aminoácidos essenciais. Gatas desnutridas podem ter dificuldade de 
 ficar prenhas, produzir fetos passíveis de anormalidades ou de aborto. (GROSS et al., 2010). 
 Por outro lado, fêmeas obesas são mais propensas a cesarianas e a parir natimortos. 
 Diferente das outras espécies, as gatas ganham peso linearmente ao longo da gestação. 
 O peso ganho no início vai para a construção de reservas adiposas maternas e não para o 
 crescimento fetal. (LOVERIDGE et al., 1989). As gatas prenhes costumam precisar de 25 a 
 50% a mais de calorias do que as necessidades de manutenção. Já as gatas lactantes 
 necessitam de 2 a 6 vezes a necessidade energética em repouso. As dietas vegetarianas são 
 especialmente prejudiciais para gatas prenhes e lactantes, pois são necessários aminoácidos 
 essenciais e ácidos graxos, de animais, para o desenvolvimento do feto e dos gatinhos. Além 
 disso, a produção de leite exige aumento da ingestão de líquido. Todos os gatos, as lactantes 
 em particular, devem ter acesso a água potável limpa em todos os momentos. (GROSS et al., 
 2010). 
 Para os filhotes em crescimento, a fase de amamentação é crucial para o seu 
 desenvolvimento. Em geral, os filhotes felinos iniciam o desmame com 3 a 4 semanas de vida 
 e completam o processo com 6 a 9 semanas. Devem ser oferecidos a eles alimentos úmidos 
 ou levemente umedecidos com água no início do desmame. Com 5 a 6 semanas, 30% das 
 calorias devem ser de origem de alimentos sólidos enquanto o complemento deve ser 
 fornecido ainda pela amamentação.(GROSS et al., 2010). Após o desmame, eles devem 
 comer ração para filhotes, a partir dos cinco meses, pode ser feita a alteração para ração para 
 adultos. Com a gonadectomia, os machos têm suas necessidades calóricas reduzidas 28% e 
 as fêmeas a 33%. (ROOT et al., 1996). 
 Ingestão Hídrica 
 Na natureza, o requerimento hídrico dos felinos é suprido predominantemente pelo 
 consumo de suas presas. Desta forma, faz parte da gestão de cuidados nutricionais, a 
 implementação de medidas capazes de estimular a ingestão hídrica (LING et al., 1998 ) . 
 A dieta úmida vem sendo considerada uma das principais estratégias de implemento 
 hídrico para gatos, principalmente diante do manejo de pacientes acometidos por doenças do 
 trato urinário tais como a cistite intersticial e a urolitíase (HARDIE; KYLES, 2004 ) . Sabe-se 
 que os gatos possuem habilidade de produzir urina concentrada, podendo chegar na 
 densidade de 1,080 ou até mais. Grande parte dos gatos portadores de cálculo de oxalato de 
 cálcio (CaOx ) possui densidade urinária superior a 1,040 (KIRK; BARTGES, 2006), assim, 
 a diluição da concentração urinária por meio do aumento substancial da ingestão hídrica é 
 preconizada tanto em seres humanos quanto em gatos. O objetivo é alcançar a densidade 
 urinária de 1,030 ou menos (KIRK; BARTGES, 2006 ; PALM; WESTROPP, 2011). 
 Uma das medidas mais eficazes para prevenir a formação de cristais ou evitar o 
 crescimento de cálculos é a redução da densidade urinária por meio de maior ingestão 
 hídrica. Sabendo-se que as rações secas possuem apenas 3% de água e que as rações úmidas 
 apresentam 8 0 % de água, é recomendado que 75% da alimentação diária dos gatos 
 domésticos seja à base de sachês e patês. Alguns benefícios da dieta úmida são alta 
 palatabilidade, alta umidade, menos calorias e é mais semelhante a alimentação “natural” dos 
 felinos. Apresentam na sua composição moderada a alta proteína, moderada a alta gordura, 
 baixo carboidrato e baixa a moderada fibra. 
 Assim, a ingestão de dieta úmida é recomendada, pois, ao aumentar o volume urinário, 
 ocorre diluição da urina propiciando um ambiente urinário desfavorável ao desenvolvimento 
 dos cálculos (KIRK; BARTGES, 2006). Dietas com elevado teor proteico promovem diurese 
 osmótica por aumentarem a produção de uréia, aumentando assim o volume urinário, o que 
 reflete em diminuição da concentração dos elementos desencadeadores da cristalúria 
 (BUFFINGTON et al., 1994; OSBORNE et al., 1995). 
 Controvérsias nutricionais 
 Os proponentes das dietas com alimentos crus têm uma filosofia muito básica: os gatos 
 são carnívoros obrigatórios, projetados para ingerir carne crua, tal como seus ancestrais 
 consumiam. As rações tradicionais, secas e enlatadas, disponíveis hoje em dia, são 
 processadas pelo calor, o que pode degradar vitaminas, minerais e enzimas naturalmente 
 encontradas na forma pré-processada. Assim, os ancestrais dos gatos domesticados não 
 seriam afetados pela degradação de nutrientes, pois caçavam presas vivas e ingeriam carne a 
 partir de carcaças frescas. Os proponentes dessa ideia também afirmam que essas dietas, além 
 de manterem o equilíbrio natural de nutrientes, conferem benefícios como melhora da função 
 imunológica, resistência, energia, saúde do pelo e da pele e comportamento. Também se diz 
 que os odores (de hálito, corpo e fezes) são mais amenos, bem como é menor a incidência de 
 problemas clínicos (Frank G, Anderson W, Pazak H et al.. 2001). Contudo, existem relatos 
 publicados com relação a preocupações levantadas por oponentes da dieta crua, como a 
 possibilidade de contaminação bacteriana e não bacteriana com potencial zoonótico, 
 inadequações nutricionais e doenças clínicas ( LITTLE, Susan E.2 015). Além de Salmonella , 
 outras espécies bacterianas comuns em carne crua são Campylobacter spp., Escherichia coli, 
 Yersinia enterocolitica, Listeria monocytogenes, Clostridium perfringens, Staphylococcus 
 aureus e Bacillus cereus (Laflamme DP, Abood SK, Fascetti AJ et al., 2008). As 
 preocupações de saúde pública quanto a dietas cruas relacionam-se com a possível exposição 
 humana a Salmonella spp. e a E. coli , dentre outros patógenos (Center for Food Safety and 
 Applied Nutrition, 2010). 
 Os esforços de orientação do veterinário devem se concentrar especialmente nas casas em 
 que os animais são alimentados com comida crua e onde haja pessoas imunocomprometidas 
 (crianças, idosos, doentes crônicos), pois esses indivíduos correm maior risco de se tornarem 
 infectados. Todos os recipientes de alimentos e de superfícies de trabalho de cozinha devem 
 ser desinfectados, bem como é importante lavar as mãos antes de preparar ou consumir 
 alimentos. Neste ponto, não existem evidências suficientes para determinar se as dietas cruas 
 têm influência sobre a função imunológica, a saúde geral, a energia, a saúde do pelo e da 
 pele, o comportamento, as doenças metabólicas ou o odor das fezes. Embora os relatos de 
 experiências sejam convincentes, são necessários estudos com base na clínica e revisão por 
 outros colegas antes de quaisquer conclusões definitivas. Até que isso ocorra, os veterinários 
 são aconselhados a instruir os proprietários a cozinhar toda carne incluída em dietas 
 preparadas em casa ( LITTLE, Susan E. 2 015). 
 Quando existem inadequações na dieta, uma doença clínica pode ser a consequência, 
 dependendo dos nutrientes envolvidos, da duração da administração da dieta deficiente e do 
 estágio de vida do animal. Uma das doenças clínicas nutricionais mais relatadas é a 
 osteodistrofia atribuída a desequilíbrios de cálcio, fósforo ou vitamina D (Von Pfeil DJ. 
 2001). 
 A maioria dos proprietários que alimentam seus gatos com dietas caseiras, optam por esse 
 método pela falta de confiança nos produtos animais. Outras questões de segurança que os 
 proprietários têm afirmado com relação às rações industrializadas envolvem o uso de aditivos 
 artificiais, especialmente conservantes, corantes e flavorizantes, o que leva à ingestão elevada 
 desses itens. Muitos temem que os aditivos alimentares contribuam para a carcinogênese e o 
 desenvolvimento de transtornos de hipersensibilidade ou autoimunes dietéticos (MacDonald 
 ML, Rogers QR, Morris JG. 1984). 
 Gatos e carboidratos 
 Os gatos são carnívoros obrigatórios, e precisam controlar a glicemia em face da ingestão 
 pobre em carboidratos (Zoran DL. 2002). Os gatos também têm produção de glicose hepática 
 constante a partir de aminoácidos (gliconeogênese) e atraso no uso de carboidrato da dieta 
 (baixa atividade de glicoquinase) (Lauten S, Kirk CA. 2005). 
 Devido à dieta dos seus ancestrais, os gatos domésticos apresentam algumas 
 particularidades digestivas e metabólicas a respeito da absorção e da metabolização dos 
 carboidratos, pois essa espécie apresenta baixa capacidade de digestão do amido pelas 
 enzimas digestivas endógenas e apresentam uma amilase salivar limitada, enzima responsável 
 pela iniciação da digestão do amido na cavidade bucal. Além disso, a amilase intestinal dos 
 felinos é mais baixa, comparada com a dos outros animais. Portanto, quando em excesso ou 
 mal digeridos, os carboidratos se acumulam no cólon dos gatos servindo como substrato para 
 a fermentação microbiana, assim aumenta o pH do cólon podendo causar diarreias 
 ( INTERNATIONAL, Improve 2 018). 
 Com uma dieta rica em carboidratos, a glicemia aumenta, o que provoca a necessidade de 
 maior nível de insulina. A atividade da lipoproteína lipase aumenta conforme mais glicose 
 penetra nas células adiposas para conversão em ácidos graxos, com subsequente depósito sob 
 a forma de gordura. Com uma dieta pobre em carboidratos, os níveis sanguíneos de glicose e 
 insulina são mais baixos e as vias enzimáticas são alteradas, a fim de preservar a glicose, 
 limitar a gliconeogênese a partir de aminoácidos (para conservar proteínas corporais) e 
 mobilizar gorduras. Além disso, ocorre maior consumo de gordura e proteína e são 
 necessários níveis mais altos de proteína para dar suporte ao aumento da gliconeogênese 
 hepática. A produção de glicose hepática é responsável por uma taxa lenta e constante de 
 glicose sendo liberada para a corrente sanguínea, o que mantém um nível adequado de 
 glicose (Hoenig M, Thomaseth K, Waldron M et al. 2007). 
 Qualquer distúrbio que exija a restrição de proteínas ou gorduras deve ser considerado com 
 cuidado antes de se recomendarem dietas pobres em carboidratos. Isso envolve doença renal, 
 doença hepática grave, encefalite hepática e, possivelmente, pancreatite (Hoenig M, 
 Thomaseth K, Waldron M et al. 2007). 
 Conclusão 
 Os gatos, ao longo da sua evolução, sofreram adaptações que persistem até hoje, 
 mesmo para aqueles que vivem em ambiente doméstico, como por exemplo o hábito de 
 caçadores. A dieta estritamente carnívora da espécie justifica a falta de algumas enzimas 
 comuns em outras espécies, como a amilase salivar, bem como algumas características 
 específicas da espécie, como a limitada digestão de carboidratos. Além disso, fatores como 
 idade, castração, gestação, prenhez são cruciais para montar uma dieta adequada para esta 
 espécie. Outra característica dos gatos é a necessidade de maior consumo de dieta úmida a 
 fim de aumentar a ingestão hídrica. Portanto, é de suma importância o aumento nos estudos 
 no campo da nutrição e alimentação dos gatos visto todas as suas particularidades. 
 Referências 
 Armstrong P, Gross K, Becvarova I et al: In Hand M, Thatcher C, Remillard R et al, editors: 
 Small animal clinical nutrition, ed 5, Topeka, Kan, 2010, Mark Morris Institute, p 361 
 BUFFINGTON, C.A.; BLAISDELL, J. L.; KOMATSU, Y. et al. Effects of Choreito 
 Consumption on Struvite Growth in Urine Cats. American of Journal Veterinary Research, 
 Shaumburg, v. 55, n. 7, p. 972 - 975, 1994 
 CASE, L. P. ; P. CAREY, D.; HIRAKAWA, D. A.; DARISTOTLE, L. Canine and feline 
 nutrition: a resource for companion animal professionals. 2ª edição, U.S.A., 1995. 
 CASE, L. P.; HAYEK, M. G.; DARISTOTLE, L., RAASCH, M. F. Canine and feline 
 nutrition: a resource for companion animal professionals. 3.ed. Missouri (USA): Mosby Inc., 
 2011, 576 p 
 Center for Food Safety and Applied Nutrition: Food Ingredients and Colors, 2010. 
 Frank G, Anderson W, Pazak H et al: Use of a high-protein diet in the management of feline 
 diabetes mellitus, Vet Ther 2:238, 2001. 
 Fyfe JC: Feline intrinsic factor is pancreatic in origin and mediates ileal cobalamin absorption 
 (abstract), J Vet Intern Med 7:133, 1993. 
 Gross K, Becvarova I, Debraekeleer J: Feeding nursing and orphaned kittens from birth to 
 weaning. In Hand M, Thatcher C, Remillard R et al, editors: Small animal clinical nutrition, 
 ed 5, Topeka, Kan, 2010, Mark Morris Institute, p 415. 
 HARDIE, E.M.; KYLES, A.E. Managementof ureteral obstruction. Veterinary Clinics of 
 North America: Small Animal Practice North American Small Animal Practice; v. 34, n. 4, 
 p.989-1010, 2004. 
 Hendriks WH, Rutherfurd-Markwick KJ, Weidgraaf K et al: Urinary felinine excretion in 
 intact male cats is increased by dietary cystine, Br J Nutr 100:801, 2008. 
 Hoenig M, Thomaseth K, Waldron M et al: Insulin sensitivity, fat distribution, and 
 adipocytokine response to different diets in lean and obese cats before and after weight loss, 
 Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 292:R227, 2007. 
 Hoenig M, Thomaseth K, Waldron M et al: Insulin sensitivity, fat distribution, and 
 adipocytokine response to different diets in lean and obese cats before and after weight loss, 
 Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol 292:R227, 2007. 
 Huxtable RJ: Physiological actions of taurine, Physiol Rev 72:101, 1992 
 INTERNATIONAL, Improve. Relacionamento entre gatos e carboidratos. 2018. Disponível 
 em: 
 https://www.improveinternational.com/ambassador/2018/08/13/relacionamento-entre-gatos-e 
 -carboidratos/. Acesso em: 29 dez. 2021. 
 KIRK,C.A.; BARTGES,J.W. Dietary considerations for calcium oxalate urolithiasis. In: 
 AUGUST, J.R. Feline Internal Medicine. St.Louis: Elsevier Saunders, 2006, p.423-433. 
 Laflamme DP, Abood SK, Fascetti AJ et al: Pet feeding practices of dog and cat owners in 
 the United States and Australia, J Am Vet Med Assoc 232:687, 2008. 
 LING, G.V.; RUBBY, A.L.; JOHNSON, D.L.; THURMOND, M.; FRANTI, C.E. Renal 
 Calculi in Dogs and Cats: Prevalence, Mineral Type, Breed, Age, and Gender 
 Interrelationships (1981–1993). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 12, n. 1, p. 11–21, 
 1998. 
 LITTLE, Susan E.. O Gato Medicina Interna. Rio de Janeiro: Roca, 2015. 1913 p. 
 Lonsdale D: A review of the biochemistry, metabolism and clinical benefits of thiamin(e) and 
 its derivatives, Evid Based Complement Alternat Med 3:49, 2006. 
 MacDonald ML, Rogers QR, Morris JG: Nutrition of the domestic cat, a mammalian 
 carnivore, Annu Rev Nutr 4:521, 1984. 
 MacDonald ML, Rogers QR, Morris JG: Nutrition of the domestic cat, a mammalian 
 carnivore, Annu Rev Nutr 4:521, 1984. 
 Morris JG: Idiosyncratic nutrient requirements of cats appear to be diet-induced evolutionary 
 adaptations, Nutr Res Rev 15:153, 2002. 
 Morris JG: Nutritional and metabolic responses to arginine deficiency in carnivores, J Nutr 
 115:524, 1985. 
 National Research Council: Nutrient requirements of dogs and cats, Washington, DC, 2006, 
 National Academies Press. 
 PALM, C.; WESTROPP, J. Cats and calcium oxalate. Strategies for managing lower and 
 upper tract stone disease. Journal of feline Medicine an Surgery, v.13, p.,651-660, 2011. 
 Polizopoulou Z, Kazakos G, Patsikas M et al: Hypervitaminosis A in the cat: a case report 
 and review of the literature, J Fel Med Surg 7:363, 2005. 
 Romsos DR, Palmer HJ, Muiruri KL et al: Influence of a low carbohydrate diet on 
 performance of pregnant and lactating dogs, J Nutr 111:678, 1981. 
 Vigne, J. D.; Guilaine, J.; Debue, K., et al., Early taming of the cat in Cyprus. Science 2004, 
 304 (5668), 259-259. 
 Von Pfeil DJ, Decamp CE, Abood SK: The epiphyseal plate: nutritional and hormonal 
 influences; hereditary and other disorders, Compend Contin Educ Vet 31:E1, 2009. 
 Washizu T, Tanaka A, Sako T et al: Comparison of the activities of enzymes related to 
 glycolysis and gluconeogenesis in the liver of dogs and cats, Res Vet Sci 67:205, 1999. 
 Zoran DL: The carnivore connection to nutrition in cats, J Am Vet Med Assoc 221:1559, 
 2002.

Outros materiais