Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA - MFC O QUE É? A HAS é a presença persistente de PAs aferidas recorrentemente e ao longo de um período predeterminado, acima de um limiar preestabelecido para uma determinada população definida, em um indivíduo, que persistirá ao longo do tempo, presumidamente para sempre. A HAS é definida quando há registro de PA elevada em pelo menos, duas medidas em consultas diferentes. A HAS não é uma doença, mas um fator de risco. _________________________ O QUE PODE OCASIONAR? Pode vir isolada ou associada a diversos outros fatores de riscos ou doenças estabelecidas. Não há causa definida, mas há algumas características associadas, como: doenças cardiovasculares, sedentarismo, obesidade, tabagismo, além também de condições socioeconômicas desfavoráveis. A HAS isolada ou associada a outros fatores de risco aumentam o risco de doenças cardiovasculares, sobretudo as doenças cerebrovasculares e as doenças isquêmicas cardíacas. _________________________________________________________________________ O QUE FAZER? Para o médico da família, a primeira coisa a ser feita após o diagnóstico é tranquilizar o paciente, estabelecendo uma comunicação efetiva sobre o problema, esclarecer dúvidas, desmedicalizar e planejar a realização das medidas de PA. Por se tratar de um tratamento consideravelmente permanente, deve-se estabelecer vínculo e permitir a longitudinalidade e o watchful waiting (observação vigiada). Durante o processo longitudinal de tomada de medidas de PA, podem-se obter as análises laboratoriais pertinentes, como glicemia e creatinina, e eletrocardiograma (ECG). _________________________________________________________________________ ANAMNESE A avaliação subjetiva deve ser bastante valorizada. Obter informações sobre o momento de vida, as condições socioeconômicas e os relacionamentos pessoais podem auxiliar na identificação de fatores estressantes frequentemente confundidos com “pressão alta”. As informações sobre estilos de vida, hábitos de atividade física, hábitos alimentares, uso de cafeína, álcool, tabaco e outras drogas, histórico familiar de doenças cardiovasculares em familiares de 1° grau também são importantes, bem como avaliação de história pessoal de doenças cardiovasculares manifestas prévias (IAM, AVC, angina…). EXAME FÍSICO A síndrome do avental branco é muito recorrente nessa etapa, causando assim, falsos positivos para HAS. Com isso, é importante o controle da PA diariamente a domicílio, ou com auxílio da equipe de enfermagem. De acordo com o Institute for Health and Care Excellence (NICE), 14 medidas domiciliares realizando duas por dia, no mesmo horário, durante 7 dias consecutivos de aproximam do resultado do MAPA. A PA é parâmetro fundamental na avaliação do indivíduo atendido devido a uma emergência, mas este não é o caso da consulta de seguimento do hipertenso, que inclui as seguintes ações: ● Estabelecer o IMC e a circunferência abdominal para o cálculo do risco cardíaco. ● Realizar exames físicos geral, pois alguns estigmas podem indicar causas secundárias de HAS, como hipertireoidismo e síndrome de Cushing. ● Realização de exames cardiovasculares, para suspeita de doença aterosclerótica, no aneurisma de aorta abdominal e insuficiência cardíaca. E o exame de fundo de olho é importante também. EXAMES COMPLEMENTARES Após realizado o diagnóstico de HAS deve-se incluir os seguintes exames: glicemia de jejum, colesterol total e frações, triglicerídeos, creatinina, sedimento urinário e microalbuminúria, potássio e ECG em repouso. _________________________________________________________________________ CONDUTA PROPOSTA Observou-se que a abordagem populacional é mais eficaz que a individual. Dessa forma, a promoção de saúde é o caminho que tem mostrado melhores resultados, por meio da redução do sódio dos alimentos industrializados, de políticas públicas para desmotivação do tabagismo e do uso abusivo de álcool, da promoção à práticas de atividades físicas. Individualmente, a abordagem da HAS deve respeitar a avaliação global do risco cardiovascular. Identificando o perfil do paciente, pode-se priorizar a abordagem de acordo com o componente do risco mais representativo. Sendo assim, em um paciente hipertenso e tabagista ou em outro hipertenso e sedentário, a abordagem deve priorizar o tabagismo no primeiro e no segundo o sedentarismo. É importante que o médico não passe para o paciente a impressão que a sua condição de hipertenso é incurável e permanente, pois isso dificulta ainda mais a adesão às condutas e tratamentos propostos. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO As medidas não farmacológicas incluem uma série de mudanças de estilo de vida, como o aumento da atividade física, perda de peso, dieta mais saudável (com restrição de sódio, sobretudo de alimentos industrializados), cessação do tabagismo e redução do uso excessivo de álcool. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Lembre-se que o tratamento medicamentoso de HAS no estágio 1 (PAS 140-159 mmHg e PAD 80-89 mmHg) não oferece benefícios de mortalidade sobre o placebo. Além disso, metas menores do que 140x90 mmHg não trazem benefícios, pelo menos para pessoas sem outras comorbidades. A tomada de decisão para iniciar o tratamento farmacológico da HAS e a escolha dos medicamentos devem levar em conta as comorbidades da pessoa, o perfil de efeitos colaterais e o seu benefício na prevenção de desfecho adverso, como infartos e derrames. As medicações de primeira escolha para o tratamento da HAS são: 1. Diuréticos tiazídicos (Hidroclorotiazida); 2. IECA (Captopril e Enalapril); 3. Bloqueadores do canal de cálcio (Anlodipino, Nifedipino, Verapamil); 4. Antagonistas dos receptores da angiotensina II (Losartana). Apesar de serem muito utilizados, estudos com betabloqueadores mostraram piores desfechos em comparação com outras classes e benefícios muito discretos em relação ao uso de placebo. Por outro lado, outros estudos indicaram que os betabloqueadores são mais eficientes em pacientes jovens, podendo ser considerados opções terapêuticas nestes pacientes. Exemplos: A. Uma pessoa hipertensa com crises frequentes de enxaqueca pode beneficiar-se do betabloqueador, já que, além do controle da pressão, pode oferecer profilaxia para as crises de enxaqueca. B. Uma pessoa com DM ou DRC, os IECAs e os antagonistas do receptor da angiotensina II são a preferência devido ao seu efeito nefroprotetor. C. Em pacientes negros, dá-se preferência a diuréticos tiazídicos ou a bloqueadores do canal de cálcio. BB: betabloqueador; IECA: inibidor da enzima conversora da angiotensina; ARB: antagonista dos receptores da angiotensina II; BCC: bloqueador do canal de cálcio; ALDO ANT: antagonista da aldosterona. FREQUÊNCIA DE ACOMPANHAMENTO E EXAMES Segundo o caderno de atenção básica deve-se sugerir o acompanhamento baseado no risco cardiovascular de base: ● Baixo risco (<10% em 10 anos): consulta anual com médico e enfermeiro. ● Risco moderado (10-20% em 10 anos): consultas semestrais com médico e enfermeiro. ● Alto risco (>20% em 10 anos): consultas a cada 4 meses; Não é necessário o agendamento de consultas apenas para a HAS, pois esse atendimento pode ser diluído em outras consultas. _________________________________________________________________________ URGÊNCIA HIPERTENSIVA Uma situação muito comum é o médico da APS ser chamado para atender um paciente com pressão 180x110 porém assintomático, isso é conhecido como urgência hipertensiva. Nesse caso deve-se entrar com alguma medicação para baixar rapidamente a pressão dessa pessoa. Por mais que cause espanto, esse fato pode ser normal, e não necessariamente requeira a introdução do tratamento para hipertensão a esse paciente. Quando o paciente estiver na UBS com PA elevada, sem sintomas específicos de lesão do órgão-alvo, a proposta é: ● Tranquilizar a pessoa e a equipe de atendimento; ● Verificar o motivo da medida de pressão: algum sintoma específico? Rotina? Mediu em outro local e se assustou? ● Tratar causas de elevação de PA, como dore ansiedade, as quais são denominadas pseudocrise hipertensiva; ● Checar a adesão do paciente ao esquema de medicação anti-hipertensiva, se já for hipertenso crônico diagnosticado; ● Solicitar medidas de pressão realizadas e outros cenários para melhor avaliar o controle de PA e ajustar a medicação posteriormente, ou excepcionalmente já ajustar a medicação de uso contínuo; ● Realizar registro adequado e relatório médico do atendimento para seguimento com o médico de referência do paciente. _________________________________________________________________________ QUANDO REFERENCIAR HIPERTENSÃO DE DIFÍCIL CONTROLE: Com, no mínimo, três medicações de classes diferentes em doses adequadas e após avaliar adesão. HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA: Dependendo da condição do serviço e de segurança clínica, o médico de família e comunidade pode iniciar a investigação na APS e referenciar em um segundo momento. EMERGÊNCIA HIPERTENSIVA: Aqui, ressalta-se que o grupo emergência hipertensiva reúne diferentes diagnósticos. Nesses diagnósticos, o papel do médico da família e comunidade é reconhecer a emergência, prestar os cuidados iniciais e referenciar a pessoa ao serviço de emergência. São exemplos de emergência hipertensiva: IAM, síndrome coronariana aguda, AVC isquêmico ou hemorrágico, dissecção de aorta, edema agudo de pulmão, encefalopatia hipertensica e eclâmpsia. _________________________________________________________________________ PROGNÓSTICO E COMPLICAÇÕES POSSÍVEIS Pessoas hipertensas têm risco maior de doença coronariana, doença cerebrovascular, insuficiência cardíaca congestiva, retinopatia e DRC. O risco da pessoa depende, obviamente, de outros fatores, como tabagismo, presença de diabetes, sedentarismo, histórico familiar. Sendo assim, a PA é apenas um componente de risco e não deve ser encarada isoladamente. _________________________________________________________________________
Compartilhar