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Será que ele não tem tireoide? Objetivos 1. Compreender os fatores de risco e os aspectos clínicos da obesidade infantil. ● Fisiopatologia, classificação, possíveis comorbidades, fatores de risco tanto endógenos (hereditariedade) quanto comportamentais, anamnese e exame físico (como avaliar, percentis). 2. Prevenção e tratamento da obesidade infantil. ● Medidas de prevenção e estilo de vida, como orientar a criança. Obesidade ● Obesidade consiste no acúmulo excessivo de gordura corporal devido ao desequilíbrio entre ganho e perda de energia que resulta em um balanço energético positivo em uma extensão capaz de acarretar prejuízos à saúde. ● A obesidade está associada a um estado pró-inflamatório, à repercussão negativa na imunidade, aterosclerose e doenças como hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2 culminando na síndrome metabólica. ● Na infância e adolescência, o excesso de peso está relacionado ao surgimento precoce das patologias citadas. ● Além disso, o excesso de peso está diretamente associado com as concentrações elevadas de insulina plasmática e perfil lipídico alterado, além de hipertensão arterial. ● A obesidade infantil leva à inflamação vascular, predispondo a aterosclerose em uma idade precoce. ● Outra comorbidade é o maior risco de lesões em membros inferiores, além disso, os pacientes obesos com fraturas do fêmur e da tíbia têm lesões mais graves, e predisposição a maior morbidade e mortalidade. Fisiopatologia ● A fisiopatologia da obesidade está relacionada com o papel endócrino do tecido adiposo, pois este não é apenas um reservatório de energia, mas um órgão secretório ativo que expressa receptores que respondem aos sistemas hormonais, bem como ao sistema nervoso central (SNC). ● Alguns mecanismos relacionados à obesidade estão intimamente relacionados à resistência insulínica e à síndrome metabólica, pois tais patologias estão intimamente relacionadas em parte aos pacientes obesos. ● O acúmulo de gordura nos órgãos intra-abdominais predispõe a resistência insulínica, bem como a dislipidemia e, o acúmulo de gordura visceral avaliada pela medida da circunferência abdominal é um forte preditor de síndrome metabólica na idade adulta, atuando não apenas nos distúrbios metabólicos, mas também no espessamento das artérias predispondo à aterosclerose. ● O aumento da gordura visceral também está relacionado a outras condições como apneia do sono, esteatose hepática, síndrome dos ovários policísticos e hiperandrogenismo. ● Além de ácidos graxos livres, o tecido adiposo secreta adipocitocinas que são peptídeos com funções na regulação do metabolismo de glicose e lipídeos, do acúmulo e gasto energético, bem como são responsáveis por efeitos anti e pró- inflamatórios. ● Das adipocitocinas a que mais se destaca é a leptina que age no hipotálamo inibindo a ingesta alimentar (sensação de saciedade) e aumentando o gasto energético. ● Pessoas obesas têm níveis elevados de leptina os quais se relacionam com a massa do tecido adiposo, no entanto, nos obesos há uma reduzida sensibilidade à leptina o que culmina na resistência aos efeitos da mesma nestas pessoas. ● Proteínas são produzidas por adipócitos diferenciados também são responsáveis pela fisiopatologia da obesidade, estas são chamadas de adiponectinas, e possuem efeito antidiabético, antiaterogênico e anti-inflamatório. ● No entanto, as adiponectinas estão reduzidas nas pessoas com obesidade o que resulta na redução daqueles seus efeitos, predispondo então a resistência insulínica, aterosclerose e efeito pró-inflamatório comum aos indivíduos obesos. ● Outras citocinas inflamatórias também estão aumentadas na obesidade, tais como o fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e a interleucina-6 (IL-6) e atuam como mediadores da resistência à insulina na obesidade, além de atuarem na oxidação do LDL favorecendo a aterosclerose. ● A resistência à insulina está envolvida na etiopatogenia da síndrome metabólica. Na resistência insulínica ocorre menor captação de glicose pelas células induzida pela insulina, levando a maior produção de insulina pelo pâncreas e consequentemente causando um hiperinsulinismo. Etiologia ● A etiologia da obesidade é multifatorial decorrente da associação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais. ● No que tange o aspecto genético a herança é poligênica (interação entre diversos genes) e estudos de fato já comprovaram esta influência genética no índice de massa corporal (IMC), na distribuição anatômica da gordura, bem como no gasto energético e susceptibilidade a ganhar peso. ● É possível classificar etiologia da obesidade em dois tipos: exógena (95% dos casos) e endógena (5% dos casos). A primeira está ligada a fatores externos e socioambientais tem alguns fatores de risco como: excesso de peso na gestação, relação peso x idade gestacional (IG) ao nascer (recém-nascido grande ou pequeno para IG), desmame precoce do aleitamento materno, história familiar de sobrepeso/obesidade, alimentação excessiva, distúrbios na dinâmica familiar, redução da prática de atividade física, etc. ● A etiologia endógena é aquela secundária a fatores neuroendócrinos, genéticos e até mesmo o uso crônico de corticoides. Sempre deve-se pensar em obesidade endógena naquelas crianças que associado ao quadro possuem baixa estatura + retardo mental + dimorfismo. ● Síndrome de Prader Willi: nesta síndrome ocorre aumento de grelina, um peptídeo produzido no estômago que age aumentando a ingesta alimentar, contribuindo para hiperfagia e obesidade evidente já aos 2 anos na síndrome. Além disso, ao nascer o recém-nascido está hipotônico, nota-se dificuldade de deglutição, retardo mental e hipogonasdismo. ● Síndrome de Cushing: ocorre devido à elevação de cortisol ou corticoides relacionados. Neste caso a obesidade é centrípeta, apresentando giba (acúmulo de gordura em região cervical) e face “em lua cheia”, estrias violáceas no corpo e baixa estatura devido a atraso na idade óssea. Além disso, há hipertensão arterial sistêmica e aumento do cortisol sérico. Diagnóstico ● O diagnóstico de obesidade é clínico e, na Pediatria, a definição de obesidade é dada por meio da anamnese, dados nutrológicos (anamnese alimentar) e exame físico (altura, peso, IMC. circunferência abdominal). A confirmação da obesidade é dada pelas curvas de IMC (0-19 anos) disponíveis na Caderneta de Saúde da Criança ou no site da OMS. Anamnese ● É importante realizar uma anamnese completa que auxilie na investigação etiológica da obesidade, bem como permita intervenções futuras em hábitos existentes. Por isso, é importante que além do que já é comumente abordado na anamnese da puericultura, sejam investigados os seguintes ponto: - Antecedentes pessoais: peso ao nascer (alto ou baixo), ganho de peso acentuado no primeiro ano de vida, uso de medicamentos (anti-histamínicos, corticosteróides, imunossupressores, psicotrópicos, etc.). - Antecedentes familiares: questionar histórico familiar de obesidade, tabagismo, dislipidemia, hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Deve ser investigado em todas as famílias independente da condição nutricional da criança, pois o risco cardiovascular é considerado histórico de doença cardiovascular na família em homens antes dos 55 e mulheres antes dos 65 anos de idade. - Antecedentes alimentares: tempo de aleitamento materno, introdução de alimentação complementar e seus aspectos qualitativos e quantitativos. - Hábitos alimentares atuais: deve-se questionar acerca da alimentação habitual e frequência de consumo de alimentos com maior densidade energética. Importante também questionar sobre as refeições (onde são realizadas, horários, tempo gasto, se realizada em companhia da família, se há ingestão concomitante de líquidos, se costuma repetir o prato e como é a mastigação). Esses dados são obtidos com base em informações sobre o dia alimentar habituale/ou pelo recordatório de 24 horas. - Comportamento e estilo de vida: investigar presença de ansiedade, depressão, compulsão alimentar, realização de atividade física, brincadeiras preferidas, tempo gasto com telas (televisão, computador, celular, tablets, videogame, etc.), comportamento com familiares e colegas, rendimento escolar. Importante investigar bullying, pois apesar de aspectos psicossociais sempre serem investigados nas consultas de puericultura, crianças obesas devem ter um olhar diferenciado uma vez que costumam ser alvo de bullying no ambiente escolar. - História de obesidade: idade de início, relação com fatores desencadeantes, tentativas anteriores de tratamento e percepção da família sobre o problema. - Uso de drogas e álcool: para que essa informação seja obtida de forma fidedigna é importante que o adolescente esteja confiante e à vontade no momento da consulta, sem a presença de familiares (1g = 7 kcal). Interrogatório sobre os diversos aparelhos Além dos temas habitualmente tratados, valorizar dados relacionados a: ● Respiração oral, roncos, paradas respiratórias durante o sono, sibilância, fadiga aos esforços. ● Alterações na pele (acantose nigricans - resistência à insulina; estrias; intertrigo micótico - doenças de fungos que ocorre nas dobras por acúmulo de calor). ● Resposta vacinal. ● Dor ou edema nas articulações dos membros inferiores (cifose torácica, joelhos valgo, pé plano e lordose lombar). ● Dor abdominal, retroesternal e hábito intestinal. ● Alterações menstruais. ● Sono agitado. ● Alterações comportamentais. Exame físico ● No exame físico, a coleta de dados antropométricos como: peso, altura, circunferência abominal e cálculo do IMC são essenciais para o diagnóstico devendo ser colocadas nas respectivas curvas de crescimento e estado nutricional. Outras medidas podem ser úteis como a circunferência do braço e as pregas cutâneas tricipital e subescapular. ● As crianças de 0 a 5 anos são consideradas em risco de sobrepeso quando os valores de IMC estão entre os percentis 85 e 97 ou entre os escores z +1 e +2; com sobrepeso, quando os valores de IMC estiverem entre os percentis 97 e 99,9 ou entre +2 e +3 escores z; e com obesidade, quando os valores estiverem acima do percentil 99,9 ou acima de +3 escore z. ● Para aqueles acima de 5 anos até 19 anos incompletos, o diagnóstico de sobrepeso é feito quando o valor do IMC estiver entre os percentis 85 e 97 ou entre +1 e +2 escores z; obesidade quando o valor do IMC estiver entre os percentis 97 e 99,9 ou entre +2 e +3 escores z e obesidade grave, quando o valor do IMC estiver acima do percentil 99,9 ou de +3 escore z. ● Porém, o IMC apenas não é capaz de diferenciar o excesso de gordura do aumento de massa muscular e, apesar da gordura visceral (intra-abdominal) apresentar maior relação com alterações metabólicas do que a gordura subcutânea, na prática, não temos como diferenciar ambas, por isso, realizamos a medida de circunferência abdominal em toda criança acima de 5 anos que permite identificar obesidade central e pode ser útil para o diagnóstico de obesidade ao ser relacionada com o IMC. ● Além disso, a circunferência abdominal tem maior correlação com dislipidemia, doença hepática gordurosa não alcoólica e diabetes tipo 2. ● A circunferência abdominal no percentil 90 é indicador de alteração metabólica. A relação da circunferência abdominal com a estatura (CA/E) é adequada quando ≤ 0,5 quando diferente disso, há risco de adiposidade central. Peso e estatura: utilizados para a classificação da condição nutricional por meio do índice de massa corporal (IMC=peso [kg] / estatura2[m]). Muito importante observar a velocidade de crescimento, para afastar causas não nutricionais de obesidade, assim como o atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. Prega cutânea tricipital (PCT), subescapular e circunferência do braço (CB): a OMS considera a aferição das dobras cutâneas como complemento do peso e da estatura para a estimativa de adiposidade: PCT > p90. Circunferência abdominal (CA): para a sua realização deve-se localizar, inicialmente, o ponto médio entre a última costela fixa (décima) e a borda superior da crista ilíaca, local onde a fita inextensível será colocada. Essa medida serve para a avaliação indireta da gordura visceral. A relação circunferência abdominal/estatura (CA/E) é considerada adequada menor ou igual a 0,5, sendo considerada, quando alterada, risco de adiposidade central. ● Um elemento importante do exame físico é a medida de pressão arterial (PA), a qual deve ser realizada em todas as consultas médicas em todas as crianças com 3 anos ou mais de idade utilizando o manguito adequado. Além disso, no exame físico é possível notar alguns sinais clínicos relacionados a doenças que costumam acometer indivíduos com excesso de peso e, por isso, devem ser bem investigados e avaliados: Pressão arterial sistêmica ● Deve ser aferida em todas as consultas, utilizando-se manguitos apropriados. A classificação se dá por meio de tabelas específicas, considerando-se hipertensão arterial quando são obtidas três medidas (pressão arterial sistólica e/ou diastólica) acima do percentil 95, levando-se em conta o sexo, a idade e a estatura. ● Cerca de 30% das crianças e dos adolescentes obesos são hipertensos. ● Vale ressaltar que toda criança sadia, independentemente da condição nutricional, deve ter a pressão arterial aferida na consulta pediátrica. ● A medida da PA deve ser realizada com manguito adequado o qual deve ter um comprimento que envolva 80-100% da circunferência do braço e largura deve abranger 40% do braço. Além disso, a aferição deve ser realizada preferencialmente no braço direito e com a criança tranquila. A PA pode ser categorizada como: normal, elevada, estágio 1 ou estágio 2. Comorbidades ● As comorbidades da obesidade infanto-juvenil incluem anormalidades endócrinas, cardiovasculares, gastrointestinais, pulmonares, ortopédicas, neurológicas, dermatológicas, renais e psicológicas. Certas comorbidades como Diabetes Melittus (DM) tipo 2 e esteatose hepática, que, até então, eram consideradas doenças de adulto, estão cada vez mais sendo diagnosticas na população pediátrica, devido ao grande aumento da obesidade nessa população. Endócrinas ● As comorbidades endócrinas incluem intolerância à glicose (prediabetes), DM, hiperandrogenismo em meninas e anormalidades do crescimento. ● A intolerância à glicose ou prediabetes é definida por alterações moderadas na glicemia de jejum, no teste de tolerância à glicose (TTG), ou nos valores da hemoglobina glicada. Uma glicemia de 100 a 125 mg/dL ou uma hemoglobina glicada de 5,7 a 6,4% sugerem prediabetes, quando será mandatório a realização do TTG. ● Síndrome metabólica é um termo utilizado para descrever alterações que são consideradas fatores de risco metabólicos relacionados com DM tipo 2 e aterosclerose em adultos: obesidade abdominal, hiperglicemia, dislipidemia e hipertensão arterial sistêmica (HAS). ● Hiperandrogemisno: adolescentes do sexo feminino com obesidade estão em risco para desenvolver hiperandrogenismo e síndrome dos ovários policísticos (SOPS). A SOPS inclui uma variedade de anormalidades clínicas, como hirsutismo, irregularidades menstruais, acantose nigricans, acne e seborreia. ● Crescimento e puberdade: crianças e adolescentes obesos podem apresentar aceleração do crescimento linear e da idade óssea. O excesso de peso e de gordura são aspectos que podem determinar uma menarca mais precoce. Meninas obesas habitualmente tem a menarca antes dos 10 anos de idade. A presença de obesidade também pode estar relacionada com oligomenorreia ou amenorreia. Renais ● A obesidade é um fator de risco importante para o desenvolvimento de doenças renais crônicas. Ela predispõe os indivíduos a desenvolverem nefropatia diabética, nefroesclerose hipertensiva, esclerose glomerular focal ousegmentar e urolitíase. A obesidade causa alterações estruturais como glomerulomegalia e espessamento da membrana basal glomerular. Hemodinamicamente a obesidade determina hiperfiltração e hiperperfusão renal, contribuindo para a falência renal. Cardiovasculares ● Hipertensão arterial sistêmica (HAS): o risco da ocorrência de HAS é aumentado na presença de obesidade, e este risco aumenta com a gravidade da obesidade. Quando a presença de HAS é pesquisada sistematicamente no ambulatório, aproximadamente 50% das crianças obesas vão apresentar esta enfermidade. ● Dislipidemia: a obesidade é a causa mais frequente de dislipidemia na infância e adolescência e costuma apresentar-se com elevação dos níveis de triglicerídeos, LDL e redução do HDL. A investigação do perfil lipídico deve ocorrer apenas para crianças entre 2-8 anos se as mesmas tiverem fator de risco cardiovascular. ● Estrutura e função cardíaca: crianças obesas podem apresentar alterações na função e na estrutura cardíaca, que são similares àquelas encontradas nos adultos de meia idade. Os achados incluem: aumento da massa ventricular esquerda, do ventrículo esquerdo e do diâmetro atrial esquerdo; maior quantidade de gordura epicardíaca e maior disfunção sistólica e diastólica. ● Outros riscos cardiovasculares: crianças obesas também apresentam alterações associadas com a gravidade da aterosclerose, como: disfunção endotelial, espessamento da íntima média da carótica, e desenvolvimento precoce de ateromas em aorta e artérias coronárias. Com isso, sugere-se que o processo aterosclerótico se inicia precocemente na vida e está associado com obesidade, inflamação, HAS, e anormalidades lipídicas. A resistência insulínica é um fator de risco independente, para o surgimento precoce, de aterosclerose em carótidas. Hepáticas e gastrointestinais ● Doença hepática não alcoólica: presença de obesidade está associada a um conjunto de anormalidades hepáticas denominadas doença hepática não alcoólica (DHNA), que é a causa mais comum de doença hepática na infância. As anormalidades incluem esteatose (aumento da quantidade de gordura no fígado sem a presença de inflamação) e esteatohepatite não alcoólica (presença de inflamação no fígado). ● A maioria dos pacientes são assintomáticos, mas podem ter dor no quadrante superior direito do fígado, hepatomegalia ou sintomas inespecíficos como desconforto abdominal, fraqueza, fadiga e/ou mal-estar. Raramente apresentam sinais de doença hepática, como eritema palmar, spider angiomata, fraqueza muscular, icterícia e/ou encefalopatia. ● Todas as crianças com sobrepeso ou obesidade devem ser submetidas a uma avaliação da função hepática e uma ultrassonografia (USG) hepática para investigação de DHGNA, podendo ser observada hepatomegalia, aumento de ALT (ou TGP) e acúmulo de gordura hepática na USG. ● Colelitíase: obesidade é a causa mais comum de cálculo biliar em crianças sem outras condições predisponentes (anemia hemolítica, história de uso de nutrição parenteral). O risco do surgimento de cálculo de vesícula aumenta de forma proporcional com o IMC, e é maior em meninas, especialmente nas adolescentes em uso de anticoncepcional oral. Sinais e sintomas são inespecíficos, incluem dor epigástrica, icterícia, dor no quadrante superior direito, náuseas, vômitos e/ ou intolerância à ingestão de alimentos gordurosos. A ecografia é o método de escolha para o diagnóstico. Pulmonares ● Apneia obstrutiva do sono: é descrita como uma completa obstrução das vias aéreas superiores durante o sono e faz com que os movimentos respiratórios parem, exceto se ocorrer grande esforço respiratório. Existe alguma evidência que o encurtamento do sono ou sua fragmentação leve à obesidade, e que apneia obstrutiva do sono esteja associada com menor sensibilidade à insulina em adolescentes, independente da obesidade. ● Síndrome da hipoventilação da obesidade: é definida como obesidade extrema associada com hipoventilação alveolar durante o estado de alerta. A desordem é rara, mas coloca a vida em risco e necessita de pronto diagnóstico e tratamento. ● Asma: a obesidade também está relacionada com a presença de asma, especialmente em crianças não atópicas. A gênese parece ser o estado inflamado do obeso. Estas crianças tendem a responder menos aos broncodilatadores e serem mais acometidas no exercício, fato que complica o manejo da obesidade. Ortopédicas ● Epifisiólise femural: é caracterizada pelo deslocamento da cabeça do fêmur. Ocorre tipicamente na primeira fase da adolescência. A obesidade é o maior fator de risco. A história clínica clássica é de um adolescente obeso que se queixa de dor não irradiada, intensa no quadril, virília, coxa e/ou joelho, sem história de trauma prévio. O diagnóstico é confirmado pela radiologia. ● Tíbia vara (doença de Blount): tibia vara é caracterizada por progressiva curvamento das pernas e torção das tíbias. É resultado da inibição do crescimento da placa medial proximal da tíbia pelo excesso de peso. Tibia vara está associada com obesidade e é mais comum em indivíduos negros. Os achados clínicos incluem dor ou instabilidade nos joelhos e curvamento das pernas que gradualmente aumentam de gravidade. A gravidade da adiposidade pode interferir nos achados clínicos e atrasar o diagnóstico. Radiografias são necessárias para o diagnóstico. ● Fraturas: crianças obesas são mais suscetíveis a fraturas que àquelas com peso saudável. Elas têm a massa óssea reduzida quando ajustado para o peso corporal. A contribuição do estresse do peso corporal nas quedas, a deficiência de vitamina D, a menor massa óssea pela falta de exercícios e outros efeitos de biomecanismos ósseos pela obesidade ainda não estão bem estabelecidos. Dermatológica ● As comorbidades dermatológicas mais comuns da obesidade incluem: intertrigo, furunculose, hidradenite supurativa. ● A hidradenite suppurativa é caracterizada por nódulos inflamados ou cistos profundos flutuantes na região intertriginosa da pele das axilas e virília. ● Acanthosis nigricans é uma anormalidade cutânea comum em indivíduos com obesidade, e está associada com a presença de resistência insulínica. ● Estrias também são comuns; são determinadas por fatores mecânicos (distensão da pele), agindo possivelmente com fatores hormonais como níveis relativamente altos de adrenocorticosteróides. Psicológicas ● As consequências psicológicas da criança e do adolescente obesos são muito amplas e incluem alienação, baixa auto estima, relacionamento entre pares distorcidos, imagem corporal alterada, baixo desempenho acadêmico, ansiedade e depressão. O risco das morbidades psicológicas aumenta com a idade e é maior nas meninas. Tratamento ● As metas para perda de peso vão depender da idade da criança, presença ou não de comorbidades e se é um caso de sobrepeso ou obesidade. ● Crianças com obesidade leve e/ou menores de 7 anos de idade e/ou sem comorbidades devem receber orientação quanto a manutenção do peso, reservando a necessidade de perda de peso para casos de obesidade grave ou na presença de comorbidades. ● De modo geral, as abordagens dietéticas sempre devem ser feitas visando encorajar crianças e familiares a selecionarem alimentos com menor densidade energética, aumentar o aporte de frutas e verduras, reduzir o consumo de gorduras e doces, bem como diminuir o consumo de alimentos processados/ultraprocessados, além de diminuir o tamanho das porções caso o objetivo seja a perda de peso. ● Para crianças com HAS é importante o direcionamento para uma dieta com menos sódio. ● Além da alimentação, outros hábitos devem ser incluídos na dinâmica da rotina da criança como seguir as recomendações para tempo de tela a depender da idade, não realizar as refeições diante de uma tela e realizar atividades físicas. É recomendado que crianças acima de 6 anos façam 60 minutos ou mais de atividade física por dia e, as mais novas devemser estimuladas a realizar atividade física “não estruturada” como brincadeiras. ● Além dos estágios citados, vale ressaltar que, crianças com dislipidemia e maiores de 8 anos de idade que persistem com LDL> 190 mesmo após as mudanças de estilo de vida citadas ou aquelas que mantêm LDL > 160 associada a fatores de risco ou LDL > 130 associado a DM2, deve-se indicar terapia com estatinas para tratamento da dislipidemia. Caso os triglicerídeos estejam > 1000 indica-se o uso de fibratos. ● Estratégias comportamentais objetivando diminuição no consumo total de calorias, diminuição do tempo sedentário e aumento de atividade física são as bases para o manejo ponderal em Pediatria. Abordagens comportamentais fundamentadas na família que incluem os pais da criança ou responsáveis são recomendadas. O comitê especialista norte americano em avaliação, prevenção e tratamento de sobrepeso e obesidade infantil e no adolescente recomenda uma abordagem em estágios para o manejo do peso em crianças: Prevenção ● A prevenção é uma excelente estratégia para controle a obesidade na infância com estratégias que se iniciam no pré-natal monitorando o estado nutricional, fatores de risco da gestante, bem como oferecendo orientação nutricional e de hábitos de vida saudáveis para a mesma. ● Após o nascimento, nas consultas de puericultura, estimular o aleitamento materno, informar os pais sobre sinais de saciedade do lactente (parar de mamas, virar o rosto, fechar a boca), bem como estimular a identificar diferentes tipos de choro e estimular bons hábitos alimentares e de estilo de vida buscando evitar o sedentarismo e aumentando o gasto energético da criança.
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