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Aula 20 Sentença Penal Para o CPP, sentença é tão somente a decisão que julga o mérito principal, isto é, a decisão que condena ou absolve o acusado. As decisões que extinguem o processo sem julgamento de mérito são tratadas como decisões interlocutórias mistas. a) Decisões subjetivamente simples: são aquelas proferidas por um juízo monocrático ou singular. b) Decisões subjetivamente plúrimas: são aquelas proferidas por órgão colegiado homogêneo, como câmaras, turmas ou seções dos Tribunais. Todos os integrantes do órgão colegiado são dotados da mesma competência. ⤿ É possível que existam decisões subjetivamente plúrimas em 1ª instância no caso de juízo colegiado para julgamento de organizações criminosas. c) Decisões subjetivamente complexas: são aquelas proferidas por órgão colegiado heterogêneo, em que os integrantes possuem competências diversas, como no caso do Tribunal do Júri. d) Decisão suicida: é aquela cujo dispositivo contraria sua fundamentação, sendo considerada nula. e) Decisão vazia: é aquela passível de anulação por falta de fundamentação. f) Decisão autofágica: é aquela em que há o reconhecimento da imputação, mas o juiz acaba por declarar extinta a punibilidade, como no caso do perdão judicial. Aula 20 É o resumo da demanda. - Em regra, é obrigatório. ⤿ Exceção: JECRIM. - A ausência de relatório gera nulidade relativa (posição majoritária). - Eventual erro material quanto ao nome do acusado não gera nulidade dos autos desde que sua identidade física esteja correta (art. 259). Possui finalidade endoprocessual - permite que a parte tome conhecimento dos argumentos que levaram ao magistrado a tomar a decisão, permitindo interposição de eventual recurso, e extraprocessual, por ser um mecanismo de controle do Poder Judiciário. - Trata-se de garantia processual de 2º grau: garantia que visa preservar outras garantias fundamentais. - De acordo com a CF (art. 93, IX), todas as decisões devem ser fundamentadas, com exceção das decisões proferidas pelo Conselho de Sentença, vez que os jurados estão submetidos ao sistema da íntima convicção. - O art. 315 do CPP traz um rol exemplificativo de decisões não fundamentadas. - A ausência de fundamentação gera nulidade absoluta (art. 564, V). Art. 381. A sentença conterá: I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; IV - a indicação dos artigos de lei aplicados; V - o dispositivo; VI - a data e a assinatura do juiz. Aula 20 → Fundamentação per relationem (ou aliunde): o juiz remete a fundamentação da decisão a decisão proferida por ele anteriormente ou a alguma manifestação anterior das partes. ⤿ Essa técnica de fundamentação é muito utilizada em relação às medidas cautelares e é admitida por parte da doutrina (há precedente no STJ). É a conclusão decisória da sentença, com a condenação ou absolvição do acusado (arts. 386, 387). - Ausência do dispositivo: ato inexistente não sujeito à preclusão, podendo ser alegado a qualquer momento em favor ou prejuízo do acusado. - Requisitos intrínsecos: relatório, fundamentação e autenticação. - Requisitos extrínsecos: data e assinatura. De acordo com o entendimento do STJ, é possível que a sentença seja gravada (art. 405). A detração (art. 42, CP) consiste em computar, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo da prisão cautelar ou da internação provisória. - Pode ser realizada pelo juízo da execução e pelo juízo do processo de conhecimento, para fins de determinação do regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade (art. 387, §2º). Aula 20 O MP não está vinculado à denúncia, podendo realizar o pedido absolutório. → Ação penal exclusivamente privada/privada personalíssima: ausente o pedido de condenação, o magistrado deve reconhecer a perempção e a extinção da punibilidade. → Ação penal pública: - 1ª corrente: o magistrado é obrigado a absolver o acusado; - 2ª corrente: o magistrado pode condenar o acusado, apesar do pedido de absolvição pelo MP (majoritária – art 385). A sentença deve guardar consonância com o fato delituoso descrito na acusatória, sendo vedado ao juiz proferir decisão extra petita ou ultra petita, sob pena de reconhecimento de nulidade absoluta por violação aos princípios da ampla defesa, do contraditório, do devido processo legal e do próprio sistema acusatório. → Exemplo de julgamento extra petita (fora do pedido): reconhecimento da prática de crime cuja descrição fática não conste da peça acusatória. (ex: “A”, denunciado por furto, é condenado por roubo). → Exemplo de julgamento ultra petita (além do pedido): reconhecimento de qualificadora não imputada ao acusado (ex: “A”, denunciado por furto simples, é condenado por furto qualificado pelo emprego de chave falsa). Aula 20 Consiste na correção da classificação da acusação constante da denúncia, ainda que resulte em pena mais grave. Não altera a base fática da imputação, mas somente a classificação jurídica (art. 383). Ex: denúncia de trombada seguida de subtração, classificada como crime de furto. O juiz pode realizar a emendatio libelli e condenar o acusado por roubo. ⤿ Também pode ser realizada no momento da pronúncia. → (Des)necessidade de oitiva das partes: - 1ª corrente: não há necessidade de oitiva das partes acerca da nova classificação jurídica do fato delituoso, pois o acusado se defende dos fatos e não da capitulação formulada. - 2ª corrente: há necessidade de oitiva das partes (art. 10, CPC). → Há 3 formas de emendatio libelli: • Por defeito de capitulação: o juiz corrige a classificação típica realizada pelo titular da ação penal; • Por interpretação diferente: o juiz interpreta os fatos de forma diversa da interpretação dada pelo titular da ação penal; • Por supressão de elementar ou circunstância: a instrução probatória revela a ausência de elementar ou circunstância descrita na peça acusatória. Ex: imputação de furto qualificado pelo emprego de chave falsa. Contudo, a utilização de chave falsa não é devidamente comprovada. Assim, o juiz suprime a qualificadora e condena por furto simples. → Momento da emendatio libelli: - 1ª corrente: pode ser realizada apenas no momento da sentença (art. 383); Aula 20 - 2ª corrente (STJ): excepcionalmente, pode ser realizada antes da sentença, de maneira incidental e provisória, sobretudo para análise de concessão de liberdade provisória ou aplicação das medidas despenalizadoras da Lei 9.099/95. → Emendatio libelli na 2ª instância: é possível, desde que respeitado o princípio da non reformatio in pejus. ⤿ Non reformatio in pejus (art. 617): impossibilidade de prejuízo ao acusado em caso de recurso exclusivo da defesa – a situação do acusado não poderá ser agravada quantitativa ou qualitativamente, ainda que para correção de eventual erro material. → A emendatio libelli pode ser realizada em qualquer espécie de ação penal. → É cabível a suspensão condicional do processo e a transação penal como consequência da emendatio libelli (SÚM. 337 STJ; art. 383, §1º). Ocorre quando, durante o curso da instrução probatória, surge prova de elementar ou circunstância não contida na peça acusatória, sendo necessário o aditamento desta, com posterior oitiva da defesa e renovação da instrução processual (art. 384). ⤿ Exceção: agravantes, que podem ser reconhecidas pelo juiz ainda que não tenham sido alegadas (art. 385). → Fato novo ≠ fato diverso: - Fato novo: não se agrega ao fato inicialmente imputado, mas o substitui por completo. Não é caso de mutatio libelli, pois requer instauração de novo processo criminal. - Fato diverso: acrescenta algum elemento que modifica o fato da imputação.Aula 20 → Necessidade de aditamento: o aditamento sempre será necessário, ainda que o quantum de pena seja menor. - Em regra, deve ser espontâneo, realizado pelo Promotor. - O §1º do art. 384 autoriza a aplicação do art. 28 (remessa dos autos ao PGJ) quando o aditamento da denúncia não é realizado de forma espontânea pelo membro do MP, o que evidenciaria um aditamento provocado. → Procedimento da mutatio libelli: 1) Denúncia; 2) Instrução processual; 3) Aditamento; 4) Oitiva da defesa: a defesa deverá ser ouvida previamente (defesa preliminar – art. 395). 5) Juízo de admissibilidade do aditamento; → Em caso de rejeição do aditamento, será cabível: - Decisão interlocutória: RESE; - Sentença: apelação. → Em caso de recebimento, em tese, não há previsão de recurso. Excepcionalmente, cabe HC para o trancamento do processo. 6) Nova instrução probatória: recebido o aditamento, ainda que as partes não se manifestem pela produção de provas, é necessário ao menos novo interrogatório do réu, por se tratar de nova imputação. → Em regra, o juiz fica adstrito aos termos do aditamento realizado, não sendo possível realizar a condenação do acusado pela imputação originária (art. 384, §4º). Aula 20 ⤿ Exceções: possibilidades de ocorrer a imputação alternativa superveniente 1. Nos casos de crime simples com aditamento para inclusão de elemento especializante; Ex: denúncia por roubo simples e aditamento para inclusão do concurso de pessoas – não sendo comprovada a majorante, será possível a condenação pela imputação originária. 2. Crime complexo; Ex: denúncia pelo crime de furto simples e aditamento para o crime de roubo (crime complexo). Ainda assim será possível a condenação do agente pelo crime de furto (crime parte). → O aditamento decorrente da mutatio libelli só pode ser realizado pelo MP nos casos de ação penal pública e ação penal privada subsidiária da pública. → A mutatio libelli não pode ser realizada em 2ª instância por violar o duplo grau de jurisdição ( ). Porém, pode ser feita pelos tribunais nos casos de competência originária.
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