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LOUISE CANDIOTTO 1 INTRODUÇÃO Hiperandrogenismo é o termo utilizado para descrever os sinais clínicos, devidos ao aumento da ação biológica dos andrógenos. O hiperandrogenismo no sexo feminino ocasiona quadro clínico de severidade variável, incluindo puberdade precoce, hirsutismo, acne, seborréia, alopecia, distúrbios menstruais e disfunção ovulatória com infertilidade durante a vida reprodutiva, síndrome metabólica, disfunção psicológica e virilização. Várias etiologias podem levar ao hiperandrogenismo feminino, desde um quadro funcional de desequilíbrio hormonal nos ovários e adrenais (síndrome do ovário policístico – SOP) até o câncer de ovários ou adrenais. A principal causa de hiperandrogenismo no sexo feminino é a funcional ovariana ou SOP. PRODUÇÃO DE TESTOSTERONA 25 % vem dos ovários 25 % das adrenais 50 % vem periferia a partir da conversão da androstenediona, a qual é produzida no ovário e adrenal A testosterona é convertida para dihidrotestosterona pela ação da 5-alfa reductase ou para estradiol pela enzima aromatase presente no tecido adiposo TRATAMENTO Cirurgia nos casos de tumor adrenal, ovariano ou hipofisário (doença de Cushing) Dexametasona na hiperplasia adrenal congênita (iniciar com meio comprimido de 0,75 mg a noite) Metformina, citrato de clomifeno ou inibidores da aromatase nos casos de SOP com infertilidade. Metformina para melhora do controle metabólico na SOP HISURTISMO Excesso de pelo de tipo terminal com padrão de distribuição masculino áreas androgênio-dependentes. Hisurtismos é diferente de Hipertricose. A hipertricose é o aumento difuso de pelo tipo vellus, muitas vezes familiar ou causado por fármacos (anti epiléticos, ciclosporinas, etc.) ou doenças sistêmicas (anorexia nervosa, hipotireoidismo, etc.). O hisurtismo é um sinal clínico de hiperandrogenismo, enquanto a hipertricose não depende dos andrógenos. ETIOLOGIA É uma das mais comuns desordem endocrinológica afetando 5-10% das mulheres na idade da vida reprodutiva. 85 % é devido a síndrome de ovários policísticos. 15 % neoplasma secretor de androgeneos, hiperplasia adrenal clássica ou a forma não clássica (late onset). PODEMOS DIVIDIR A ETIOLOGIA EM 3 GRUPOS: Aumento da produção de androgênios pelos ovários e/ou pelas glândulas suprarrenais Exemplo: SOP Elevação da sensibilidade cutânea aos androgênios circulantes Exemplo: Hisurtismo idiopático Alterações no metabolismo e/ou no transporte dos androgênios Exemplo: Doenças tireoidianas AVALIAÇÃO ANAMNESE: Diferenciar com SOP História familiar de hirutismo Início Duração Progressão Severidade História menstrual Idade da menarca Ciclos menstruais Longos, atrasos Fertilidade Uso de medicações Se libido está exacerbada Ganho ponderal Sintomas relacionados a intolerância à glicose Investiga o uso de medicamentos EXAME FÍSICO AVALIA-SE: Grau do hisurtismo Presença de acnes Avalia-se mamas Se há atrofia Examina-se clítores Verificar hipertrofia clitoriana LOUISE CANDIOTTO 2 Verifica a presença de calvície temporal Verifica a presença de acantose nigricns Características Cushingóides ESCALA DE FERRIMAN-GALLWEY SCORE: Normal <8 Hisurtismo leve 8-15 Hisurtismo moderado 16-25 Hisurtismo grave >25 OUTROS ACHADOS DO EXAME FÍSICO SINAIS DE VIRILIZAÇÃO: Sinal de patologia grave Ocorre em <1% Alopécia androgênica Frontal típica do sexo masculino Hipertrofia do clitóris Atrofia mamária Alteração na voz Aumento da massa muscular OUTROS DADOS CLÍNICOS IMPORTANTES: Presença de equimoses, estrias violáceas com > 1 cm de espessura, moon face, acanthosis nigricans EXAMES LABORATORIAIS Testosterona total e livre LH, FSH e Estradiol (se amenorréia presente) Sulfato de DHEA (95% de origem adrenal) DHEA Androstenediona 17 alfa hidroxiprogesterona (hiperplasia adrenal) Prolactina Teste de supressão com 1 mg dexametasona (S. Cushing) TSH T4 livre ETIOLOGIA HISURTISMO POR MEDICAÇÕES Diazóxido Minoxidil Fenotiazidas Metirapona Ciclosporina Fenitoína Danazol Testosterona Glicocorticóide Progestágenos Andrógenos Clomifene Tamoxifen LOUISE CANDIOTTO 3 Xeroximab Ácido valproico HISURTISMO FAMILIAR Refere a ocorrência dentro da família e em certas etnias Geralmente, nenhuma outra característica de masculinização está presente IDIOPÁTICO Juntos, hirsutismo idiopático e SOP é responsável por 90% das causas de hirsutismo Deve-se ao: Aumento da sensibilidade dos folículos pilosos ao andrógeno Aumento dos receptores androgênicos na pele Aumento da atividade no pelo da 5 alfa reductase (enzima que aumenta a conversão da testosterona para dehidrotestosterona CAUSAS ADRENAIS Adenoma adrenal Carcinoma de adrenal Hiperplasia adrenal micronodular bilateral Hiperplasia adrenal congênitas: forma clássica e de início tardio (hiperplasia adrenal late onset) OBS: Hiperplasia adrenal de início tardio Hisurtismo, Irregularidade menstrual, Andrógenos elevados, 17 alfa hidroxiprogesterona elevada. CAUSA PITUITÁRIA Doença de Cushing Hiperprolactnemia CAUSAS OVARIANAS Síndrome de ovários policísticos (SOP) Neoplasias: Hiperplasia das células do hilus Tumores da células da teca Arrenoblastoma Tumores das células do hilus TRATAMENTO Supressão androgênica: contraceptivo oral (AO) Bloqueador do receptor androgênico: flutamida, espironolactona e acetato de ciproterano. Terapia combinada: AO + esprinolactona 100 mg/dia Medidas cosméticas: laser. SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS(SOP) A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a endocrinopatia mais comum em mulheres em idade reprodutiva e, dependendo da população e do critério diagnóstico utilizado, pode ter prevalência de 6% a 20%. Representa, ainda, a causa mais frequente de hirsutismo e infertilidade anovulatória. A SOP é uma doença multifatorial, e vários fatores de risco genéticos e ambientais determinam a suscetibilidade individual. É caracterizada por disfunção ovulatória e hiperandrogenismo, mas a apresentação clínica é heterogênea. Além dos aspectos reprodutivos (devido às alterações no ciclo menstrual) e estéticos (pela presença das manifestações androgênicas), a SOP representa também um fator de risco relevante para obesidade, diabetes melito tipo 2 e dislipidemia. A causa é desconhecida. A genética, parece desempenhar um papel importante, uma vez que, é as mulheres com SOP são mais propensas a terem mãe e irmãs com SOP. PATOGÊNESE Ocorre anormalidade intrínseca na pulsatilidade do GnRH, levando ao aumento da amplitude e frequência de pulsos de LH, com deficiência relativa de FSH. Esta secreção aumentada de LH leva a uma hiperatividade das células da teca que produzirão quantidades aumentadas de androgênios, predominantemente testosterona. O FSH regula a atividade da aromatase das células granulosas dos ovários e sua secreção diminuída leva a um desenvolvimento folicular inadequado e a níveis reduzidos de aromatase. Sem a aromatização dos precursores androgênicos em estrôgenios, ocorre um aumento preferencial dos andrógenos ovarianos, o que explica o hiperandrogenismo característico da doença. Em decorrência da falta de maturidade dos folículos, múltiplos cistos foliculares se desenvolvem, contribuindo para aumento dos ovários. A SOP também está associada a resistência insulínica e o excesso de insulina parece contribuir para produção aumentada de andrógeno. Mais que 50% dos pacientes têm diabetes ou intolerância à glicose antes dos 40 anos. LOUISE CANDIOTTO 4 Há resistênciaà insulina e hiperinsulinemia compensatória independentemente da presença ou não de obesidade, sendo a resistência tanto para a ação da insulina no músculo estriado quanto no tecido adiposo. O aumento da insulina circulante tem efeito direto na produção de androgênios ovarianos, uma vez que esta possui ação sinérgica ao LH nas células da teca, estimulando a produção androgênica. A insulina também está envolvida na redução da produção da proteína carreadora de androgênios (globulina ligadora de hormônios sexuais [SHBG]) pelo fígado; estes dois efeitos somados aumentam a concentração de testosterona livre Da fração ativa do hormônio. O IGF-1, assim como a insulina, tem papel na produção de androgênios ovarianos, sendo um dos mecanismos a estimulação da proliferação de células da teca. O risco de IM é 4 -7 vezes maior nas mulheres com SOP que naquelas sem SOP. Hipertensão arterial e dislipidemia também é mais frequente nas mulheres com SOP. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Acne e pele oleosa Hirsutismo Irregularidade menstrual (oligo / amenorréia) Cistos nos ovários Infertilidade (ciclos anovulatórios) Excesso ponderal Alopécia androgênica ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS NA SOP Baixa autoestima Depressão Compulsão alimentar Ansiedade Irritabilidade Agressividade Angustia Insatisfação com o corpo Menor nível de satisfação sexual Maior resposta ao estresse RISCO DE CÂNCER Estudos de coorte têm mostrado maior risco para neoplasia endometrial e de mama. As características de anovulação, sem oposição estrogênica e progesterona insuficiente, provocam crescimento tecidual proliferativo no endométrio, levando ao câncer. Outros fatores de risco para o câncer de endométrio são a obesidade, a resistência insulínica e o DM2. COMPLICAÇÕES GESTACIONAIS Mulheres com SOP apresentam maior risco para: Diabetes gestacional Hipertensão gestacional Pré-eclampsia Parto prematuro Aborto ESTABELECENDO A DISFUNÇÃO OVULATÓRIA Quando a duração do ciclo ovariano é maior que 35 dias, a presença de anovulacao crônica pode ser estabelecida. Se a duração do ciclo for ligeiramente maior ou irregular em relação ao normal (32-35 dias), ou em pacientes com hiperandrogenismo clinico ou bioquímico com ciclos aparentemente normais, a presença da ovulação deve ser avaliada laboratorialmente. A avaliacao e feita com a medição da progesterona sérica durante a fase lútea (especificamente entre os dias 21 e 22). Enquanto valores > 2,5ng/mL podem indicar ovulação, valores ≥ 7 ng/mL são geralmente necessários para uma função lútea regular. Outros dados propõem três medições consecutivas com valores ≥ 15 ng/mL para indicar uma função lútea normal. Durante a adolescência, o limiar para definição de oligomenorreia e maior, e um ciclo de até 40 dias e considerado normal. LABORATÓRIO Deve-se realizar testosterona total (do 4o ao 10o dia do ciclo menstrual) e sulfato de deidroepiandrosterona (SDHEA). Em pacientes com hirsutismo mais amenorreia: dosar prolactina, hormônio tireoestimulante (TSH) e tiroxina (T4) livre. Se estigmas de Cushing: cortisol após 1mg de dexametasona Em relação à testosterona e SDHEA, alguns cenários são possíveis: Testosterona > 200 ng/dL e SDHEA normal: tumor ovariano (mais provável) ou suprarrenal Testosterona > 200 ng/dL e SDHEA > 700 mg/dL: pesquisar suprarrenal Testosterona < 200 ng/dL: dosar 17- hidroxiprogesterona (17-OHP). A 17-OHP, por sua vez, traz duas possibilidades: 17-OHP > 1000 ng/dL: sugere hiperplasia suprarrenal congênita (HSRC) 17-OHP entre 200 e 1000 ng/dL: teste do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) —Teste do ACTH < 1000 ng/dL exclui HSRC LOUISE CANDIOTTO 5 DIAGNÓSTICO O diagnóstico da SOP baseia-se nos critérios de Rotterdan já citados anteriormente. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS Deve-se afastar causa secundária. Necessário 2, dos 3 critérios: Oligo ou Anovulação Ciclos menstruais com menos de 21 dias ou com mais de 35 dias em pelo menos 6 ciclos por ano ou três ciclos consecutivos em amenorreia Sinais de hiperandrogenismo clínico ou laboratorial Clínico Hisurtismo, acne, alopecia androgênica Laboratorial Elevação da testosterona livre e/ou total Ovarios policísticos Morfologia ovariana na USG Presença de 12 ou mais folículos medindo de 2-9 mm de diâmetro ou crescimento do volume ovariano acima de 10ml, na ausência de cisto e/ou folículo dominante É necessário fazer a exclusão de outras etiologias que possam se manifestar de maneira semelhante a SOP. OBS: É importante ressaltar que o critério morfológico não foi validado para adolescentes, pois este achado pode ser encontrado na puberdade; logo, deve ser utilizado o hiperandrogenismo clínico e laboratorial associado a oligomenorreia, devendo se levar em consideração a sua persistência 2 anos após a menacme. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Hipertricose ovariana Hiperplasia adrenal congênita Medicamentosa Disfunções tireoidianas Hirsurtismo idiopático Hisurtismo familiar Tumores masculinizantes da adrenal ou ovário Sindrome de Cushing Hiperprolactinemia Uso de esteroides anabolizantes Hipertricose estromal Acromegalia EXAMES DE IMAGEM Os critérios de Rotterdam sugerem o diagnóstico de SOP na presença de pelo menos 12 folículos medindo 2-9 mm em todo o ovário, ou pelo achado de aumento do tamanho ovariano (>10mL). A Androgen Excess Society (AES): pelo menos 25 folículos de 2-9 mm em todo ovário ou um tamanho ovariano > 10mL. Em comparação com a USG, a ressonância magnética pode fornecer uma visão mais precisa dos ovários, sendo acessível a todas as idades devido à sua natureza não invasiva. TRATAMENTO Os pacientes podem estar enquadrados ou na relação entre manejo do peso e sintomas metabólicos, ou possuem consciência sobre os sintomas de excesso de hormônio masculino, como hisurtismo ou alopecia androgênica. Para mulheres que tem sintomas de hisurtimos ou alopecia androgênica, realizar combinação de contraceptivos orais com antiandrógeno. PRINCÍPIOS GERAIS: Recomenda-se tratar as causas, as disfunções metabólicas e os distúrbios reprodutivos Devese avaliar se a paciente tem pretensão de engravidar Nunca será curativo; logo, será necessário tratamento crônico Os efeitos dos fármacos só serão evidentes alguns meses após o tratamento Deve-se levar em conta as características e as expectativas da paciente Deve ser monitorado por especialista MUDANÇAS NO ESTILO DE VIDA Exercícios físicos e aconselhamento dietético são fundamentais para manejo do hiperandrogenismo e redução do risco cardiovascular em mulheres com SOP. Para mulheres que possuem sintomas de síndrome metabólica a redução de peso é bem efetiva. MEDIDAS COSMÉTICAS Métodos cosméticos tradicionais incluem clareamento, depilação, tratamento químico e eletrólise Apenas a eletrólise galvânica associada a termólise pode destruir a papila dérmica e gerar melhora permanente do hirsutismo Terapias com laser ou fototermólise seletiva podem levar a destruição do folículo piloso LOUISE CANDIOTTO 6 Recomenda-se o uso de clareamento e métodos temporários de depilação, como a depilação nos primeiros meses de tratamento, enquanto ocorre o efetivo efeito do fármaco É recomendado uso de laser para fotodepilação em pacientes com hirsutismo leve ou como adjuvante no tratamento farmacológico nas pacientes com hirsutismo moderado a grave INDICAÇÕES DOS FÁRMACOS DE ACORDO COM AS DIFERENTES SITUAÇÕES Mulheres na pré- menopausa Contraceptivos orais – 1° linha Contraceptivos orais + antiandrogênicos Mulheres na pós menopausa Antiandrogênicos – 1° Linha Hisurtismo Leve Contraceptivos orais Hisurtismo moderado/grave Contraceptivos orais + antiandrogênicosIrregularidade menstrual/ resistência insulínica/ síndrome metabólica Associar a metformina Pioglitazona (7,5 mg/dia) SPIOMET Anovulação com desejo de engravidar Metformina e/ou clomifeno
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