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BICHECTOMIA Elaboração Vinícius Teixeira Silva Ben Hur Amaral Broll Filho Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ...................................................................................................................................................................................... 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ................................................................................................. 5 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................................. 7 UNIDADE I CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA .......................................................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 1 CONCEITO ................................................................................................................................................................................................................ 9 CAPÍTULO 2 ANÁLISE ESTÉTICA FACIAL ............................................................................................................................................................................ 12 CAPÍTULO 3 INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA (REMOÇÃO DO CORPO ADIPOSO BUCAL) .............................................................................. 16 UNIDADE II ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS ................................................................................................................................................................... 21 CAPÍTULO 1 BIOSSEGURANÇA EM CIRURGIA ORAL ..................................................................................................................................................... 21 CAPÍTULO 2 MATERIAIS NECESSÁRIOS............................................................................................................................................................................. 25 CAPÍTULO 3 ANATOMIA CIRÚRGICA DA FACE ................................................................................................................................................................. 27 CAPÍTULO 4 TÉCNICAS ANESTÉSICAS ................................................................................................................................................................................ 31 CAPÍTULO 5 FARMACOLOGIA APLICADA ........................................................................................................................................................................... 35 UNIDADE III TÉCNICAS OPERATÓRIAS............................................................................................................................................................................................... 38 CAPÍTULO 1 TÉCNICAS CIRÚRGICAS ................................................................................................................................................................................... 38 CAPÍTULO 2 CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS ................................................................................................................................................................... 48 UNIDADE IV COMPLICAÇÕES .................................................................................................................................................................................................................. 54 CAPÍTULO 1 COMPLICAÇÕES TRANSOPERATÓRIAS ................................................................................................................................................... 54 CAPÍTULO 2 COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS ....................................................................................................................................................... 57 CAPÍTULO 3 CASOS CLÍNICOS ................................................................................................................................................................................................ 63 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................................................... 72 4 APRESENTAÇÃO Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico- tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 ORGANIzAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESqUISA Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/ conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 INTRODUÇÃO A procura por tratamentos estéticos é cada vez maior nos consultórios, por isso é de suma importância que o cirurgião-dentista, e sua equipe, esteja preparado e atualizado sobre o assunto, e domine conhecimentos de disciplinas básicas como anatomia, farmacologia, técnicas anestésicas e cirúrgicas, além de conhecer o diagnóstico e as complicações decorrentes do procedimento, objetivando, assim, a indicação correta e precisa para a realização de procedimentos estéticos cirúrgicos faciais. É importante lembrar que os procedimentos cirúrgicos de remoção de um tecido são, na grande maioria das vezes,irreversíveis e permanentes. Objetivos » Revisar a literatura sobre o tema. » Revisar princípios básicos de cirurgia. » Alertar sobre a importância do conhecimento de disciplinas básicas a fim de prevenir complicações operatórias. » Proporcionar o conhecimento sobre anestesia específica para a bichectomia. » Proporcionar o conhecimento da técnica cirúrgica adequada. » Evitar a sobreindicação do procedimento (indicações exageradas). » Abordar as indicações para o procedimento. » Indicar a prescrição pós-operatória. » Demonstrar o manejo das complicações trans e pós-operatórias. 9 UNIDADE I CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA Esta unidade tem como objetivo abordar os seguintes temas: » história da cirurgia de bichectomia e revisão de literatura; » princípios de análise estética facial; » indicações para o procedimento. CAPÍTULO 1 Conceito Bichectomia ou remoção parcial do corpo adiposo de Bichat (corpo adiposo bucal) é o nome do procedimento de lipectomia do corpúsculo de Bichat alojado na região das mucosas jugais da cavidade oral, podendo ser de cunho estético que objetiva um adelgaçamento do terço médio da face podendo ser realizado como procedimento isolado e único em consultório, ou em hospital como procedimento coadjuvante associado a outros procedimentos estéticos faciais como ritidectomia ou lifting facial ou mesmo em cirurgias ortognáticas (VALENTE, D. S.; VALENTE, S. S.; PADOIN, 2018). A cirurgia de bichectomia também pode ser indicada de cunho funcional nos casos de pacientes que tenham o hábito involuntário de morder as mucosas das bochechas muitas vezes causando lesões traumáticas nas mucosas jugais. O primeiro termo utilizado para esse procedimento por Leonard Epstein foi “Lipectomia Bucal”. Histórico O corpo adiposo bucal, ou bola de Bichat (termo mais comum utilizado em países de língua não inglesa), foi descrito pela primeira vez por Heister, em 1732, como um tecido glandular que ele chamou de glândula molar. Em 1802, esse mesmo tecido foi descrito e classificado como tecido adiposo por Marie François Xavier Bichat, médico cirurgião e anatomista francês (1771-1802). Em 1884, Ranke descreveu que esse tecido adiposo permanece inalterado em casos de pessoas que tiveram emagrecimentos corporais 10 UNIDADE I | CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA (BENJAMIN; REISH, 2018). A primeira descrição desse procedimento registrada na literatura foi em 1980 por Leonard L. Epstein para o tratamento de chubby cheeks “bochechas gordinhas”. Segundo esse autor, a presença de bochechas grandes mesmo em pessoas que apresentam um peso corporal adequado para sua altura acaba criando uma aparência de obesidade ou rosto infantilizado. Epstein ainda salienta que, mesmo com a cirurgia para remoção do excesso de pele (ritidectomia), não conseguirá resolver esse problema e ainda pode gerar um aspecto exagerado para este problema de face redonda. Figura 1. Marie François Xavier Bichat (1771-1802), médico-anatomista francês, o primeiro a descrever o corpo adiposo bucal. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Marie_Fran%C3%A7ois_Xavier_Bichat#/media/Ficheiro:Marie_Francois_Xavier_Bichat.jpg. Figura 2. Desenho esquemático descrito pelo Dr. Leonard Epstein; técnica cirúrgica original para a cirurgia de lipectomia bucal, por exemplo de uma incisão em fundo de sulco vestibular em maxila posterior ao dente 16 ou 26, com extensão entre 1 e 1,5 cm. Fonte: Anual de cirurgia plástica 1980. Hoje a cirurgia de bichectomia é um procedimento muito realizado nos consultórios assim como em hospitais tanto por médicos cirurgiões plásticos como cirurgiões dentistas especialistas em cirurgia bucomaxilofacial, cirurgia oral, harmonização facial e também pelo clínico geral que possui conhecimentos técnicos suficientes 11 CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA | UNIDADE I para a prática segura da cirurgia. O procedimento de bichectomia também tem sido indicado como um dos procedimentos dentro do campo da “harmonização orofacial” associado a outros procedimentos estéticos tais como a aplicação de toxina botulínica, preenchimentos com ácido hialurônico. Ainda dentro da odontologia, especificamente dentro da área de cirurgia bucomaxilofacial, a cirurgia de bichectomia pode ser indicada como procedimento secundário nos casos de cirurgias ortognáticas. Nos centros de saúde (principalmente na rede pública de saúde), como pronto-socorro, a bichectomia também é realizada quando da presença de um orifício, como uma comunicação buco-sinusal, por exemplo, em que a bola de Bichat pode ser removida e inserida dentro do orifício a fim de que haja ali uma base para enxertia ou cicatrização e também como adjuvante no controle de hemorragia e, por fim, bloqueando mecanicamente a entrada de alimentos e saliva vindas da boca em direção ao seio maxilar, sendo usado como um tampão. Dentro do campo da cirurgia plástica, a bichectomia pode estar associada a cirurgias tais como “lifting facial” ou ritidectomia, lipoaspiração em região submentual (papadas), blefaroplastias, rinoplastias, otoplastias, alectomia, entre outros. Legalmente vale a pena lembrar que, segundo o Código de Ética Odontológico, para realização de qualquer procedimento odontológico não é necessário ser especialista, basta que o cirurgião dentista sinta-se capacitado e tenha conhecimentos suficientes para realização do procedimento. Sendo assim, o clínico geral pode exercer a bichectomia sem enfrentar problemas legais. Se legalmente um cirurgião dentista clínico geral pode realizar a bichectomia, qual a necessidade de ser especialista? Por que buscar o título de especialista em HOF ou em CTMBF, sendo que um clínico geral pode executar o mesmo procedimento? Certamente você deve pensar que um especialista pode realizar a cirurgia muito melhor e ser muito mais assertivo na conduta, contudo o diferencial não está na técnica, mas sim no gerenciamento de complicações e na forma de conduzir as eventualidades e intercorrências, e isso é o que podemos classificar em termos de mercado como um “pós-venda” qualificado. Esse pós-venda especializado confere ao paciente segurança, conforto e principalmente confiança e fidelização. 12 CAPÍTULO 2 Análise Estética Facial Albert e colaboradores relataram que a idade facial é principalmente atribuída ao crescimento dos ossos da face durante a juventude e à degradação de tecidos moles da face como a pele, ao surgimento de rugas e perda de tônus na musculatura da face, gerando rugas e aprofundamento de sulcos, como o sulco nasogeniano. Com o envelhecimento, há uma atrofia do tecido gorduroso subcutâneo das regiões das bochechas, levando a uma perda de volume e diminuindo o suporte para as estruturas faciais, além da perda de elasticidade da pele, tudo isso contribuindo para um aspecto com perda de volume nas regiões das bochechas (KAUR; GARG; SINGLA, 2015). Alguns pacientes acabam se sentindo incomodados e se queixam de um excesso de volume no sentido latero-lateral em região de terço médio de face (bochechas gordinhas ou o termo em inglês chubby cheek). Mesmo muitas vezes esse paciente apresentando uma boa relação de massa corporal, essa proeminência causada pela bola de Bichat em alguns pacientes acaba tendo como principal queixa a estética, sem contar que o paciente pode apresentar também uma queixa funcional de lesões traumáticas causadas por mordedura em regiões de mucosas jugais na altura do plano interoclusal em decorrência desse espessamento na região que algumas pessoas possuem por conta da bola de Bichat (corpo adiposo bucal). Vale a pena ressaltar que muitos pacientes descrevem que sentem o rosto caído e associam erroneamente a bola de gordura mandibular à bola de Bichat, fato que deve ser esclarecido, pois a queixa de “bochechas de bulldog” não está relacionada com a bola de Bichat, e sim com a bola de gordura mandibular que está localizada na base da mandíbula mais próxima à pele, e não à mucosa.O conceito de beleza é algo extremamente subjetivo, relativo e varia entre regiões geográficas, etnias, povos e épocas. O que é belo ou bela para um determinado grupo não necessariamente poderá ser belo ou bela em outro grupo populacional. Por exemplo, o conceito de beleza dentro de uma tribo indígena é completamente diferente de um conceito para o padrão de beleza europeu, e este se distingue muito comparando com o conceito de beleza asiático, o qual não se encaixa no perfil de beleza entre povos afrodescendentes. Embora durante muitos anos tenha tido uma propagação do perfil de beleza euro-americano por meio de filmes majoritariamente oriundos dessas regiões, comerciais, atores, atrizes e modelos, esse não deve ser o único padrão de referência para um profissional. 13 CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA | UNIDADE I Na Grécia antiga, houve estudiosos que tentaram fazer uma espécie de mensuração da beleza do ser humano por meio de fórmulas matemáticas, sendo a mais conhecida a “razão áurea”, ou lei da divina proporção, simbolizada pela letra grega phi em homenagem ao escultor também grego chamado Phideas, que utilizava como um valor de mensuração o número de 1,618. Figura 3. Símbolo grego que simboliza a letra “Phi”. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Phi_uc_lc.svg>. O cirurgião plástico Steven Marquardt desenvolveu uma espécie de máscara facial que se baseia na lei da proporção áurea a qual ele denominou de máscara de Phi. O objetivo era fazer uma espécie de análise facial a qual utilizaria essa máscara como um padrão de encaixe para os rostos considerados “belos”, ou seja, caso o rosto do paciente não se encaixasse nessa máscara, seriam avaliados os “excessos de tecido” para que o rosto se encaixasse nessa máscara virtual ou, caso ficasse sobrando muito espaço ao colocar o rosto do paciente na máscara sobreposta, seriam avaliados os locais que deveriam receber alguma espécie de preenchimento até se “encaixar” com essa máscara. Figura 4. Máscara Phi, espécie de máscara virtual desenhada com base de dados matemáticos e geométricos a partir dos princípios da proporção áurea. Fonte: https://jem.unifesspa.edu.br/images/Anais/v1_2015/CC_20150979002_A_mscara_de_PHI.pdf. 14 UNIDADE I | CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA Figura 5. Exemplo de uso da máscara de Phi a fim de traçar um perfil frontal estético da face baseado nas proporções áureas. Fonte: https://www.beautyanalysis.com/beauty-and-you/you-and-the-mask/repose-frontal-mask-application/. Convém ressaltar que, mesmo com a utilização dessa máscara virtual, ela não pode determinar o que é bonito ou bonita, se sairmos da rua, e se pudéssemos tirar fotografias frontais de face de pessoas as quais achamos bonitas, muitas dessas faces não se “encaixariam” nessa máscara virtual, ou seja, o conceito relativo de beleza seria mantido. Ao examinarmos o paciente na consulta, devemos fazer uma análise facial, numa vista frontal, em que analisamos as proporções entre os terços superior, médio e inferior da face, avaliamos os lábios, sua espessura, exposição dos incisivos centrais superiores com o lábio em repouso e também com sorriso forçado, muitas vezes o paciente pode possuir alguma assimetria facial, como um laterognatismo, que pode ser oriundo de uma hiperplasia de côndilo mandibular, em que, nessa situação, o mento acaba sendo desviado para o lado contralateral ao côndilo hiperplásico. Podemos avaliar se o paciente possui um sorriso gengival de origem esquelética, como nos casos de excesso vertical de maxila. Numa vista de perfil, avaliamos o padrão esquelético facial, se o paciente apresenta um prognatismo mandibular (classe III) ou um retrognatismo mandibular (classe II) ou ainda apresentar, concomitantemente, uma hiperplasia de maxila (maxila muito pra frente) ou uma hipoplasia de maxila (hipodesenvolvimento anteroposterior). Tudo isso porque muitas vezes o paciente pode ter indicação de fazer um procedimento de cirurgia ortognática associado à cirurgia de bichectomia. 15 CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA | UNIDADE I Figura 6. Tipos de crânio em relação à face. Fonte: https://pocketdentistry.com/orthodontic-assessment-and-treatment-planning-strategies/. 16 CAPÍTULO 3 Indicações de Bichectomia (Remoção do Corpo Adiposo Bucal) Adultos com um terço médio de face volumoso os quais almejam refinamento ou ganho de projeções ósseas nessa região anatômica, como maior projeção do corpo do osso zigomático (maçã do rosto) e redução de volume nessa mesma região, são potenciais candidatos para a cirurgia de bichectomia (MATARASSO, 2006). Como já mencionado, esse procedimento pode ser realizado tanto em consultório como procedimento único, sob anestesia local, ou em ambiente hospitalar associado a outros procedimentos cirúrgicos estéticos faciais, como nos casos de ritidectomia ou lifting facial, além de cirurgias ortognáticas sob anestesia geral. Outra indicação como procedimento adjunto são nos casos de cirurgias de feminização facial, objetivando transformar as características de uma face mais masculinizada em uma face mais feminina. A face feminina usualmente possui uma forma triangular com a base deste triângulo de forma invertida, ou seja, traçando uma linha entre as proeminências dos ossos zigomáticos e o ápice desse triângulo voltado para o mento (MOURA et al., 2018). Outra indicação para a cirurgia de bichectomia são nos casos de herniação traumática ou pseudo-herniação do corpo adiposo bucal (bola de Bichat) (MATARASSO, 2006). Neste conteúdo, utilizaremos o termo “remoção do corpo adiposo bucal”. Para a seleção do paciente, devemos nos atentar para a queixa do paciente e identificar quais as expectativas dele em relação ao procedimento cirúrgico. Uma anamnese rigorosa deve ser feita com o objetivo de saber o estado geral de saúde do paciente e se ele possui alguma doença de base ou alergia medicamentosa, explicar sobre a irreversibilidade do procedimento, embora haja artigo na literatura que relata a infusão de gordura líquida proveniente de abdômen ou das coxas com o objetivo de preenchimento das regiões de terço médio da face (COHEN et al., 2017). Pacientes que apresentam uma face de aspecto delgado e idosos, além de pacientes em fase de crescimento, não são candidatos à realização do procedimento de bichectomia. Outra indicação plausível para esse procedimento se dá para pacientes portadores de face arredondada que usualmente traumatizam as mucosas jugais excessivamente ao mastigar. 17 CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA | UNIDADE I Figura 7. Conceito de rosto redondo. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/825847650404363786/. Devemos ter em mente que, quando se tratar de um procedimento de cunho estético e totalmente eletivo, pacientes com comorbidades sistêmicas importantes, tais como hipertensos e diabéticos não controlados, cardiopatas, portadores de discrasias sanguíneas, tabagistas, histórico de radioterapia em região de cabeça e pescoço ou alguma outra doença grave que possa aumentar o risco cirúrgico para esse procedimento cirúrgico, devem ser evitados. Devemos nos atentar em relação à queixa estética do paciente, o que ele gostaria que melhorasse em seu rosto até para que possamos lidar com o resultado da expectativa dele ou avaliar se ele precisa de mais algum outro procedimento estético facial. Além de uma boa anamnese e um exame físico minucioso loco-regional extraoral e intraoral, devemos avaliar se o paciente apresenta alguma deformidade dentofacial de origem esquelética ou assimetria facial e que possa precisar de cirurgia ortognática associada a bichectomia. Além disso, devemos realizar sessões de fotografias com qualidade do paciente, fotografias numa vista frontal, numa vista de ¾ de perfil, de ambos os lados, de maneira padronizada, para poder comparar de maneira fidedigna com o pós-operatório de pelo menos 6 meses ou até a regressão completa do edema. Figura 8. Linha alba bemmarcada e espessa devido ao atrito dentário. Fonte: http://oqueeissodoutor.blogspot.com/2017/04/linha-alba.html. 18 UNIDADE I | CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA Avaliação pré-operatória A avaliação pré-operatória por meio de uma anamnese rigorosa e um bom exame físico tem como objetivo identificar doenças clínicas que possam comprometer o ato cirúrgico e consequentemente o pós-operatório. A avaliação tem que ser realizada em todos os pacientes, independentemente da idade. Durante a anamnese, devemos priorizar a detecção de doenças cardiovasculares, pulmonares, hepáticas, renais, endócrinas e hematológicas. Nos antecedentes pessoais, deve-se pesquisar se o paciente possui algum histórico de alergias, especificar as substâncias ou os medicamentos, pesquisar se o paciente já foi submetido a alguma cirurgia anterior e se houve alguma complicação, principalmente em relação a anestesia local, procurar saber hábitos e vícios, tais como tabagismo, o qual pode desencadear hemorragias pós-operatórias e prejudicar a cicatrização local, etilismo, drogas ilícitas e perguntar também se o paciente faz ou já fez uso de medicações contínuas, tais como antiagregantes plaquetários, anticoagulantes, bifosfonatos e se o paciente já recebeu radioterapia na região de cabeça e pescoço, caso o paciente tenha histórico de alguma doença maligna nessa mesma região. Deve-se palpar o rosto do paciente e por intraoral, sendo que a maneira correta para a palpação da bola de Bichat é em forma de pinça realizada com o dedo polegar por dentro da boca e o indicador por fora da boca. Deve-se sentir o tamanho e a textura da bola de Bichat, encontrar sua localização. Com o paciente com a boca aberta, pode-se ainda empurrar a bola de Bichat com os polegares no sentido de fora para dentro da boca, para que ela seja projetada em direção à mucosa jugal e possamos analisar seu possível tamanho. Observe também a espessura da linha alba na mucosa jugal e possíveis cicatrizes ou fibroses oriundas de possíveis ferimentos causados por mordeduras involuntárias. Uma linha alba muito espessa nos diz que ali existe compressão da mucosa contra os dentes, o que pode nos fornecer mais informação da necessidade da remoção da bola de Bichat. Risco cirúrgico Em 1963 a American Society of Anesthesiologists (ASA) propôs uma escala para avaliação de risco cirúrgico, a qual é muito utilizada até hoje. ASA I: paciente jovem, saudável, sem comorbidades. ASA II: paciente com doença sistêmica controlada a qual não afeta suas atividades físicas no dia a dia. Exemplo: hipertensos controlados. 19 CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA | UNIDADE I ASA III: paciente com doenças sistêmicas múltiplas ou alguma doença a qual comprometa suas atividades diárias, porém sem risco de morte imediata. Exemplos: infartos do miocárdio prévio, diabetes mellitus descompensado, doente renal crônico em diálise. ASA IV: paciente com doença sistêmica grave tem a vida ameaçada com ou sem cirurgia. Exemplo: insuficiência cardíaca congestiva (ICC), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) em estágio avançado. ASA V: paciente moribundo, o qual não é esperada sua sobrevivência por mais de 24 horas com ou sem cirurgia. Exemplo: aneurisma roto, traumatismos cranioencefálicos graves. ASA VI: paciente doador de órgãos. Contraindicações locais: » Pacientes considerados obesos. » Pacientes idosos. » Histórico de radioterapia em região de cabeça e pescoço. » Paciente que já tenha sofrido alguma cirurgia com o uso da bola de Bichat para o fechamento de algum defeito ósseo, como fístulas oroantrais. » Pacientes com o rosto muito delgado. Fotografia clínica Um dos itens mais polêmicos em procedimentos clínicos é o uso de fotografias. Muitos profissionais não sabem como fotografar, não possuem equipamentos adequados ou simplesmente não gostam ou não possuem o hábito de fotografar os casos. Devem-se fotografar todos os casos de bichectomia, para que o próprio paciente seja confrontado com as suas imagens em um pós-operatório. Não é necessário que o equipamento seja de última geração, pois as fotografias clínicas podem ser bem feitas com o uso de smartphones. A básica técnica é relativamente simples e será descrita abaixo para que você possa, a partir de hoje, realizar suas fotografias sempre que for operar. O paciente deve ser posicionado de pé com as costas encostadas em uma parede com fundo branco, azul ou cinza (pode-se fixar um campo cirúrgico na parede para isso, 20 UNIDADE I | CONCEITO E INDICAÇÕES DE BICHECTOMIA desde que, no pós-operatório, seja usada a mesma cor). Antes das fotos, deve-se remover qualquer tipo de interferência da parede usada como fundo, como quadros, posters ou relógios. O paciente deve estar com a mandíbula paralela ao solo, evitando realizar fotos com o queixo levantado ou baixo demais. Tira-se a primeira foto de frente, sem sorrir; a segunda foto de frente sorrindo; duas da lateral esquerda, sem sorrir e sorrindo; e duas da lateral direita, sem sorrir e sorrindo. Por último, já com o paciente sentado em postura ereta, podemos fotografar de cima da cabeça, pegando a fronte e o arco zigomático no centro da foto. As fotos devem ser realizadas novamente no pós-cirúrgico imediato, no pós para a retirada das suturas em 7 dias e também no pós-operatório de 4 ou 6 meses. O uso das fotografias como forma de publicidade é permitido pelo Código de Ética Odontológico desde 2019, desde que seja autorizado pelo paciente por escrito, e não envolva fotos tiradas durante o ato cirúrgico, exceto sob pretexto acadêmico. As postagens em redes sociais das fotos dos pacientes após autorização por escrita devem conter o nome e o número do conselho regional do profissional executante. A cobertura dos olhos ou qualquer adorno gráfico que vise esconder a identidade do paciente pode ser usado, mas é opcional, deve ser acordado entre o profissional e o paciente. É muito importante que os movimentos de sorrir nas fotos sejam realizados e capturados, pois, em caso de parestesia ou hemiparisia causada por ato cirúrgico, fica documentado o momento da paralisia, pois eventualmente, diante de um grande edema, podemos ter compressões nervosas, o que pode levar a paralisia temporária. Sabendo disso, o profissional pode ter tranquilidade para seguir com sua conduta de acordo com a demanda do paciente. Devemos evitar propagandas excessivas, promoção exagerada dos procedimentos e principalmente prometer resultados clínicos. A superexposição dos profissionais é uma via de mão dupla, muitos pacientes vão ver seu trabalho e muitos vão desejar resultados idênticos aos das fotos. Outro ponto importante é que muitos colegas de profissão certamente vão ver seus trabalhos também, o que pode gerar críticas e até denúncias mal-intencionadas a fim de prejudicar sua carreira. Seja profissional, e não um blogueiro de moda em sua página. Lembre-se de que você precisa passar uma imagem séria, respeitosa e principalmente de alguém que presa pela saúde e pela ciência. 21 UNIDADE II ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS Esta unidade tem como objetivo abordar os seguintes temas: » revisão dos conceitos de biossegurança em cirurgia bucal; » instrumentais cirúrgicos específicos; » aspectos importantes sobre anatomia da face; » técnicas de anestesia local; » farmacologia aplicada. CAPÍTULO 1 Biossegurança em Cirurgia Oral Os cuidados com a biossegurança devem ser rigorosamente executados como em qualquer procedimento cirúrgico, começando pela lavagem correta das mãos com sabonete à base de clorexidina degermante ou PVPI, seguida pela secagem das mãos com toalha estéril, pela colocação de aventais descartáveis estéreis e, por último, pelas luvas cirúrgicas estéreis. Como em qualquer procedimento cirúrgico, seja ele realizado em consultório sob anestesia local ou em ambiente hospitalar sob anestesia geral, todos os cuidados com a biossegurança devem ser rigorosamente executados com o objetivode prevenir infecções pós-operatórias que muitas vezes podem ser graves e evoluir a óbito se não diagnosticadas e tratadas adequadamente. Deve-se ter cuidados básicos como, obviamente, o preparo e a esterilização correta dos instrumentais e materiais cirúrgicos, a paramentação da equipe cirúrgica, antissepsia intra e extraoral no paciente com preferência de solução a base de digluconato de clorexidina 0,12% ou polivinilpirrolidona (PVPI). Em relação à antibioticoterapia profilática, ela pode até ser questionável por alguns autores na literatura, porém, por se tratar de um procedimento totalmente estético e eletivo, é importante a prescrição pré-operatória, se enquadrada nos critérios do 22 UNIDADE II | ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS cirurgião e em relação ao risco de infecções cardiológicas como as classificadas nos protocolos da American Heart Association (AHA). Já a prescrição terapêutica (pós- operatória) deve ser sempre feita, pois, ao abrirmos a mucosa jugal, impreterivelmente bactérias oriundas da cavidade bucal adentrarão na loja cirúrgica, o que pode levar a uma infeção mucocutânea pós-cirúrgica. Segue abaixo uma sugestão de prescrição: Profilaxia antibiótica (apenas para os casos indicados pela AHA): » Amoxicilina 500mg: tomar 4 cápsulas 1 hora antes do procedimento cirúrgico. Para pacientes alérgicos às penicilinas, pode-se prescrever Clindamicina 600 mg, 1 comprimido 1 hora antes do procedimento cirúrgico. É de boa praxe manter essa antibioticoterapia no pós-operatório por pelo menos 7 dias (1 cápsula de Amoxicilina 500mg a cada 8 horas ou 1 cápsula de Clindamicina 300 mg a cada 6 horas). Em todos os casos se faz necessária a prescrição de anti-inflamatórios e analgésicos. Para pacientes, comumente prescrevemos: » Predinisona 20mg – sendo 1 comprimido revestido a cada 8 horas por 5 dias. Em alérgicos aos corticoides podemos usar os Aines (lembrando que o uso de Aines pode levar o paciente ao desconforto gástrico ou, em caso de pacientes com patologias gástricas já conhecidas, deve-se sempre utilizar os corticoides). Como sugestão de um Aine que possui ação efetiva no controle do edema e da inflamação pós-cirúrgica, podemos usar: » Cetoprofeno 100mg – 1 comprimido a cada 8 horas por 7 dias; ou » Diclofenaco Sódico 50mg – 1 comprimido a cada 8 horas por 7 dias. Para o controle da dor, devemos escolher de acordo com o tempo cirúrgico gasto pela cirurgia, lembrando que, quanto maior o tempo cirúrgico maior o pós- operatório, o tamanho da incisão, o índice de dor descrito pelo paciente como normal perante outros procedimentos. Como sugestão, podemos deixar indicado o uso das seguintes drogas, sempre lembrando que cada profissional tem seu próprio critério de prescrição: » Dipirona Sódica 500mg – 1 comprimido a cada 6 horas somente em caso de dor, durante no máximo 5 dias. 23 ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS | UNIDADE II » Tramadol 50mg – 1 comprimido a cada 6 horas somente em caso de dor, durante no máximo 5 dias. » Paracetamol 750mg –tomando 1 comprimido a cada 6 horas somente em caso de dor, durante no máximo 5 dias. É de suma importância lembrar que tanto a profilaxia antibiótica como a antibioticoterapia pós-operatória não são fatores que justifiquem qualquer negligência de quebra na cadeia asséptica cirúrgica, Topazian, 2006, em infecções orais e maxilofaciais, cita que Laufman afirmou uma máxima de forma bem suscinta: “O sucesso do trabalho nobre e pomposo da cirurgia depende do desempenho disciplinado de trabalhadores dedicados e da rotina rígida de técnicas assépticas”. Esse mesmo autor cita também que nenhuma técnica, aparelho, antisséptico, antibiótico, conferência ou encontro de comitê conseguiu tanto controle de infecção cirúrgica quanto o simples ritual de lavar as mãos. Bacilos Gram-negativos patogênicos podem sobreviver nas mãos por mais de duas horas. Para a lavagem das mãos, podemos utilizar sabonetes degermantes à base de clorexidina ou iodo-povidona. A disciplina na vestimenta cirúrgica é tão importante quanto a lavagem correta das mãos. Lapsos na técnica asséptica na área de luvas, aventais, gorros e máscaras cirúrgicas podem levar à contaminação do sítio cirúrgico, porque micro-organismos facilmente são abrigados ou protegidos por cabelo, aventais ou calçados contaminados. O cabelo é muito contaminado, portanto todos os pelos do rosto e cabelos devem ser cobertos. A eficácia da descontaminação antisséptica pré-operatória com soluções aquosas de digluconato de clorexidina a 0,12% reduz momentaneamente a quantidade de microrganismos patogênicos na cavidade oral. Em tempos de pandemia da Covid-19, devemos ainda mais redobrar os cuidados com a biossegurança em consultórios. Alguns hospitais da rede privada da cidade de São Paulo adotaram um protocolo de testagem de pacientes para Covid-19 antes de estes se submeterem a procedimentos cirúrgicos eletivos. Em média, três dias antes da data da cirurgia o setor de internação desses hospitais entram em contato com o paciente e o convoca para realizar o exame “RT-PCR sars-cov2”, no qual é feito a coleta de material de secreção respiratória em nasofaringe por meio de swab do paciente, além da testagem constante dos profissionais envolvidos nessas cirurgias, tais como médico anestesista, cirurgiões, enfermeiros e instrumentadores cirúrgicos. 24 UNIDADE II | ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS Uma anamnese minuciosa deve ser realizada e direcionada ao paciente em relação à Covid-19, por meio da mensuração de temperatura, testes olfatórios para avaliar possível anosmia (perda ou diminuição do olfato). Os sintomas mais comuns da manifestação clínica do novo coronavírus são febre, tosse seca, falta de ar, dores musculares, desarranjos intestinais. O uso de máscaras N-95 e face-shield é indicado para pacientes suspeitos ou testados positivamente para Covid-19 e para procedimentos que emitam aerossóis, como nos casos de uso de canetas de alta rotação. É de suma importância a utilização também de óculos de proteção durante o procedimento. Para saber mais sobre a maneira correta de se paramentar para procedimentos em tempos de Covid-19, clique no link abaixo e assista ao vídeo: https://www. youtube.com/watch?v=4dXJwIuKcq0. Figura 9. Exemplo de protocolo de um hospital privado no qual se observa um termômetro infravermelho e é realizado um teste olfatório de algodão com álcool para descartar anosmia. Fonte: elaborada pelo autor. 25 CAPÍTULO 2 Materiais necessários Para uma cirurgia adequada, além da experiência do cirurgião é fundamental ter os instrumentais cirúrgicos necessários para a realização desse procedimento, seguindo sempre as manobras cirúrgicas fundamentais: diérese, exérese, hemostasia e síntese. Instrumentais: lâmina de bisturi nº 15, 11, 15c; pinça Kelly curva delicada; afastadores de Minessota ou Lagenback; porta agulha; pinça para sutura; aspirador cirúrgico; fios de sutura, que podem ser de nylon ou seda (não absorvíveis) ou a base de ácido poligloico (absorvível); duas seringas do tipo Luer de 10 ml para mensuração de volume retirado de tecido adiposo dos dois lados das mucosas jugais (situação que nem sempre pode ser realizada, pois muitas vezes a gordura possui entremeados fibrosos, o que inviabiliza a aspiração por seringa convencional). Figura 10. Mesa cirúrgica montada com instrumentais necessários para a cirurgia de bichectomia; deve-se observar sempre a lógica na montagem da mesa seguindo os princípios das manobras fundamentais em cirurgia: diérese, exérese, hemostasia e síntese. Fonte: elaborada pelo autor. Figura 11. Fio de sutura de seda 4.0 (não absorvível). Fonte: https://www.dentalpassaro.com.br/fio-de-sut-ethicon-seda-preta-trancada-40. 26 UNIDADE II | ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS Figura 12. Fio de sutura vicryl® (absorvível). Fonte: https://www.dentalmaster.com.br/fio-de-sutura-agulhado-ethicon-vicryl/p. Figura 13. Porta agulha Mayo Haegar com ponta de vídea. Fonte: https://magazinemedica.com.br/produtos/prta-agulha-mayo-hegar-com-videa-abc_18cm/.Figura 14. Fio de sutura Monocryl® é um fio de sutura cirúrgica monofilamento, absorvível e sintético elaborado a partir de um copolímero de glicolida e epsilon-caprolactona. Fonte: https://www.doctorshop.it/Prodotti/suture-assorbibili-ethicon-monocrylt-in-poliglecaprone-ago-38-da-19-mm-usp-30-filo-45-cm-non- colorato-9400096. 27 CAPÍTULO 3 Anatomia Cirúrgica da Face O corpo adiposo bucal é uma estrutura anatômica localizada de forma majoritária no espaço facial no qual se localiza a porção principal do corpo adiposo bucal. Essa estrutura de aproximadamente 6 milímetros de espessura, de volume estimado de 10 mililitros e pesando em média 9,3 mg de peso, divide-se em 3 lobos: anterior, intermediário e posterior, sendo que esse posterior se divide em quatro prolongamentos, sendo eles: bucal, pterigoideo, pterigopalatino e temporais (superficial e profundo). O corpo adiposo bucal é fixado por 6 ligamentos, sendo eles ancorados nas seguintes regiões: maxila, região posterior de zigoma, porção interna e externa da fissura orbital inferior, tendão temporal e músculo bucinador. O espaço bucal é delimitado anteriormente pelo músculo orbicular da boca, medialmente pelo músculo bucinador e posteriormente é delimitado pelo espaço facial mastigatório massetérico e pela glândula parótida. Nesse espaço bucal, além da presença do corpo adiposo bucal, encontram-se outras estruturas anatômicas importantes como o ducto da glândula parótida (ducto de Stensen), artéria e veia facial, artéria bucal, ramo bucal do nervo facial (VII par craniano), músculo bucinador (medialmente) (YOUSUF et al., 2010). A irrigação do corpo adiposo bucal se dá por meio de ramos oriundos da artéria bucal e temporal profunda, ambas ramos da artéria maxilar, e por ramos da artéria transversa da face, a qual é ramo da artéria temporal superficial (TOSTEVIN; ELLIS, 1995). O nervo facial emerge pelo crânio por meio do forame estilomastoideo emitindo um ramo posterior que se chama ramo auricular posterior, um ramo para a inervação motora do ventre posterior do músculo digástrico e para o músculo estilo-hioideo. O trajeto do nervo facial segue por meio da glândula parótida, onde são emergidos 5 ramos para a inervação dos músculos da mímica da face: ramo temporal que cruza o arco zigomático e inerva motoramente o músculo frontal. O ramo zigomático inervará motoramente o restante do músculo frontal e o músculo orbicular do olho. O ramo bucal (muitas vezes duplo) é o que está mais associado às injúrias durante os procedimentos de bichectomia, ele inerva motoramente o músculo bucinador, parte do músculo orbicular da boca e musculatura do lábio superior. Esse ramo bucal tem uma relação de proximidade com o corpo adiposo bucal, sendo que, em 73,3% dos casos, esse ramo passa superficialmente em relação ao corpo adiposo bucal e, em 26,3% dos casos, atravessa a extensão bucal do corpo adiposo bucal, sendo que, nesses casos, há maior chance de ocorrer algum dano ao ramo nervoso durante a exérese da bola de Bichat. Os outros ramos são o ramo marginal mandibular que passa na região de corpo de mandíbula aproximadamente 1 cm abaixo da basal mandibular e, após cruzar 28 UNIDADE II | ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS a artéria e veia facial, tem um trajeto ascendente, e sobre a região da base da mandíbula em sua parte mais anterior. O último ramo é o cervical, que inervará motoramente o músculo platisma (JOHNSON; MOORE, 1997; ELLIS; ZIDE, 2008). A relação do ducto salivar da glândula parótida (ducto de Stensen) com o corpo adiposo bucal é que, em 42% dos casos, o ducto passa superficialmente antes de atravessar o músculo bucinado adentrando a mucosa jugal para que ocorra o débito salivar na cavidade oral. Em 26% dos casos, o ducto atravessa o corpo adiposo bucal e, em 13% dos casos, o ducto passa superiormente ao corpo adiposo bucal (HWANG, K. et al., 2005). Fisiologia A funções do corpo adiposo bucal são preenchimento tecidual em região de espaço bucal, agir como um tecido que facilite o deslizamento da musculatura da mastigação e da mímica facial, além de exercer uma função de “coxim” nessa região. O corpo adiposo bucal ocupa uma grande área nas bochechas de crianças e tem um papel de suma importância durante o ato de amamentar em recém-nascidos, protegendo que a musculatura colapse durante o ato de sucção do mamilo. O volume desse tecido pode variar com o passar da idade, sendo que esse tecido é mais proeminente na infância do que na fase idosa (YOUSUF et al., 2010). Esse tecido adiposo não sofre variações de tamanhos com o decorrer de perda ou ganho de peso corporal. O peso médio do corpo adiposo bucal é de 9,3 mg, com um volume médio de 9,6 ml e espessura de 6 mm. Patologias Associadas A herniação traumática do corpo adiposo bucal acontece com mais frequência em crianças e pacientes jovens após a inserção de algum objeto traumático na mucosa jugal, onde acaba, por exemplo, gerando uma injúria e consequentemente uma pequena ruptura do tecido do músculo bucinador adjacente, o qual acaba ficando palpável na região da mucosa oral adjacente. Muitas vezes a herniação traumática do corpo adiposo bucal é confundida com o diagnóstico de lipoma na cavidade oral até por conta da aparência semelhante entre as duas entidades. Essa questão acontece muitas vezes por ter um lapso no tempo entre o trauma na região e até a exposição e palpabilidade do tecido adiposo na mucosa jugal adjacente. O termo pseudolipoma traumático também pode ser utilizado nesses casos. Outra alteração que ocorre é a pseudo-herniação do corpo adiposo bucal de origem não traumática que ocorre muitas vezes pela frouxidão da fáscia parotídeo-massetérica associada a atividades repetitivas musculares na região. 29 ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS | UNIDADE II O paciente, então, acaba apresentando uma “bochecha de esquilo”, e o tratamento para ambas as situações é a excisão cirúrgica desse tecido adiposo (MATARASSO, 2006). Figura 15. Bochechas de esquilo (chipmunk cheeks). Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A2mia#/media/Ficheiro:Tamias_striatus_CT.jpg. O lipoma é uma neoplasia benigna de tecido gorduroso mais comum em outras regiões do corpo do que na própria cavidade bucal. Tem a aparência de um nódulo séssil ou pediculado, de consistência mole à palpação. Sua localização mais comum na cavidade oral é exatamente na região de mucosa jugal, seguida pelas regiões de lábios, língua e assoalho bucal, sendo essa lesão de crescimento lento . Os lipomas acometem indivíduos de ambos os sexos e qualquer etnia, pode surgir em qualquer idade. O tratamento para os lipomas é a excisão cirúrgica com consequente envio do material para exame de anatomia-patológica, por meio de biópsia excisional. (MARCUCCI, 2020). Usos Clínicos do Corpo Adiposo Bucal O corpo adiposo bucal é uma estrutura que é muito utilizada quando pensamos em reconstrução de defeitos ósseos em maxila, como nos casos de fechamentos de comunicações bucosinusais após ressecção de cistos ou tumores em maxila posterior e em região palatina, ou até mesmo em casos pós-exodontias traumáticas de molares superiores, onde se desenvolveu uma comunicação bucosinusal de tamanho importante. Esse tecido pode ser utilizado como um retalho pediculado a fim de fechar esses defeitos. Na cavidade oral, ele irá sofrer um processo de metaplasia, adequando-se aos demais tecidos adjacentes da cavidade oral em algumas semanas. Esse tecido gorduroso também pode ser utilizado como enxerto livre de gordura para fechamento de defeitos ósseos. As vantagens de utilizar esse tecido do corpo adiposo bucal no caso de reconstruções orais são muitas, como: facilidade para obtenção do material e boa disponibilidade para o uso na reconstrução de defeitos oroantrais importantes. Esse procedimento é 30 UNIDADE II | ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS possível ser realizado sob anestesia local, não há a necessidade da remoção do mesmo tecido contralateral por não causaruma assimetria facial visível após o uso nos casos de reconstruções, além de causar pouca morbidade para o paciente e redução do custo do procedimento cirúrgico (YOUSUF et al., 2010). Figura 16. Retalho pediculado de bola de Bichat utilizado para fechamento de comunicação bucosinusal de tamanho importante, após a exérese de lesão tumoral nessa região. Fonte: caso gentilmente cedido pelo Dr. Wladimir Gushiken de Campos. 31 CAPÍTULO 4 Técnicas Anestésicas Figura 17. Seringa Carpule, a importância do domínio das técnicas anestésicas para a realização de bichectomia. Fonte: https://www.sswhite.com.br/saibamais/sb12115.htm. Os anestésicos locais são substâncias que agem impedindo a despolarização da fibras nervosas, a propagação da sensação dolorosa até o cérebro, ou seja, um bloqueio da condução nervosa. Os anestésicos locais estão disponíveis como sais, contendo uma porção hidrofílica a qual é responsável pela difusão nos tecidos, uma porção lipofílica responsável pela penetração do sal anestésico por meio das fibras nervosas e uma cadeia intermediária que une as duas porções a hidrofílica com a lipofílica. Essa cadeia intermediária pode ser a base de ésteres ou amidas. Os anestésicos locais com a base intermediária formada por ésteres foram os primeiros anestésicos locais sintetizados, tendo como grande precursor a cocaína. Além da cocaína, fazem parte desse grupo de anestésicos locais outros tipos ésteres: benzocaína, procaína, tetracaína e cloroprocaína. Normalmente esse grupo de anestésicos possuem uma toxicidade celular maior e por isso, de maneira geral, são utilizados como anestésicos tópicos, como a benzocaína. Os anestésicos locais com base intermediária formada por grupo químicos do tipo amidas têm menor capacidade de desenvolver reações alérgicas e são menos tóxicos se comparados com os do grupo ésteres. Exemplos desse grupo de anestésicos são lidocaína, mepivacaína, prilocaína, articaína, bupivacaína, ropivacaína e etidocaína. Os anestésicos locais produzem uma reação de vasodilatação no local injetado e, consequentemente, têm menor tempo de permanência ao redor das fibras nervosas, são absorvidos rapidamente por meio dos vasos para a circulação sanguínea, 32 UNIDADE II | ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS consequentemente gerando um pequeno tempo de anestesia, e sendo necessárias mais aplicações repetidas de anestésicos locais, podendo gerar maior reação de hiperdosagem e toxicidade tecidual desse anestésico no paciente. Por conta disso, foram associadas substâncias vasoconstritoras ao sal anestésico com o objetivo de diminuir essa vasoconstrição, promovendo maior tempo de contato desse anestésico com a fibra nervosa, consequentemente diminuindo a quantidade de tubetes anestésicos injetados e reduzindo as reações de hiperdosagem e toxicidade do sal anestésico. Outra função de suma importância dos vasoconstritores associados aos anestésicos locais durante o procedimento de bichectomia ou qualquer outro procedimento de cirurgia bucal é a melhora da hemostasia local, que reduz sangramentos e proporciona melhor campo operatório, além de prolongar o efeito anestésico e dar maior conforto para o paciente. Os vasoconstritores podem ser classificados como catecolamínicos ou adrenérgicos, ou seja, com a presença de um anel catecol em sua estrutura molecular, por exemplo: adrenalina (epinefrina), noradrenalina (norepinefrina) e levonordefrina, sendo que a mais utilizada é a adrenalina (epinefrina) podendo ser na proporção de 1:100.000, 1:200.000 e até 1:50.000. Figura 18. Composição dos tubetes anestésicos, pacientes asmáticos tendem a alergia ao conservante do anestésico. Fonte: https://www.tv.odontologiavirtual.com/2019/02/anestesicos-locais-conservantes.html. Um exemplo de vasoconstritor não catecolamínico ou não adrenérgico é a “felipressina”, uma substância análoga à vasopressina que é um hormônio antidiurético. Esse tipo de vasoconstritor é encontrado associado ao sal anestésico “prilocaína”. A felipressina atua sobre os receptores V1 da vasopressina presentes no músculo liso da parede dos vasos sanguíneos, sendo essa ação mais acentuada na microcirculação venosa que na arteriolar, tendo menor hemostasia comparada com o grupo dos vasoconstritores adrenérgicos, 33 ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS | UNIDADE II como a adrenalina ou noradrenalina, porém pode ser uma opção nos casos em que seja contraindicado o uso de vasoconstritores adrenérgicos. Esse grupo das felipressinas não deve ser utilizado em gestantes, pois pode causar uma antecipação do trabalho de parto em doses altas. É importante lembrar que, por ser um procedimento totalmente eletivo, devemos esperar até o final da gestação para a realização desse procedimento, não justificando a sua realização durante a gestação por motivos e razões óbvias. Como já mencionado, a bichectomia (remoção do corpo adiposo bucal) pode ser realizada em hospital sob anestesia geral e muitas vezes associada a outros procedimentos cirúrgicos estéticos faciais ou em consultório sob anestesia local. Para realizarmos esse procedimento em regime ambulatorial (consultório), é imprescindível uma boa anestesia infiltrativa na região a ser manipulada de preferência com vasoconstritor adrenérgico com o objetivo de obter uma melhor hemostasia no procedimento, desde que não haja empecilho do ponto de vista sistêmico do paciente para a utilização de vasoconstritor adrenérgico. Uma boa anestesia infiltrativa em fundo de sulco vestibular em maxila posterior almejando a anestesia do nervo alveolar superior pode se estender até a região do nervo alveolar superior médio, podendo complementar anestesiando o nervo bucal para uma melhor anestesia de toda a mucosa jugal. É importante sempre termos em mente a relação dose/Kg de peso para cada anestésico para evitarmos sobredosagens causadas pelo excesso de injeção de anestésico local. Uma técnica anestésica segura além do conhecimento da neuroanatomia dos ramos do nervo trigêmeo (V par craniano) são fundamentais para uma excelente anestesia para a realização desse tipo de procedimento, muitas vezes o paciente acaba sentindo um pouco de angústia durante o momento da exérese da bola de Bichat por conta de um desconforto psicológico, e não por dor. O uso de anestesia tópica pré anestesia injetável, é uma boa prática que leva a um maior conforto do paciente e também exerce grande efeito psicológico. O uso de analgesia ou sedação consciente com uso de óxido nitroso tem demonstrado ser de grande valia aos cirurgiões dentistas no controle do medo e da ansiedade associada aos procedimentos odontológicos em geral. Contudo, deve-se lembrar que o óxido nitroso não é um anestésico, nem faz com que o paciente perca a consciência e adormeça durante o procedimento, mas sim diminui os reflexos, a atenção e principalmente o medo. Embora positivo, o óxido nitroso ainda vai exigir que se faça uma anestesia local bem feita. O custo da operação com óxido nitroso deve ser pensado como um fator no momento do cálculo do valor cobrado pelo procedimento, assim como a disponibilidade de um tempo maior para que o processo de sedação seja completamente realizado. 34 UNIDADE II | ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS Além disso, devemos lembrar que apenas profissionais habilitados em sedação consciente podem exercer a técnica. Para saber mais sobre sedação consciente com uso de óxido nitroso, suas aplicações e seus benefícios, clique no link e assista ao vídeo: https://www.youtube.com/ watch?v=TqqOUoFeHto. A técnica anestésica usual para a bichectomia deve ser a infiltrativa em mucosa bucal, seguida de um bloqueio do nervo bucal e, caso necessário, ainda pode se realizar a anestesia pterigomandibular como complemento ou anestesiar por extraoral na região da bola de Bichat, assim como na região da glândula parótida, a fim de conferir um bloqueio mais completo. Contudo, a anestesia da mucosa jugal, músculo masseter, nervo bucal já se mostra suficiente,e pode ser executada exclusivamente por intraoral com bons resultados. Apenas para visualização, em caso de uso de uma agulha curta gengival, o comprimento total da agulha deve ser inserido na mucosa jugal no sentido da direção da bola de Bichat. A quantidade de tubetes anestésicos ou ml é variável de acordo com a habilidade do profissional ou com a suscetibilidade do paciente ao produto, sendo que em média utilizam-se, em cada bola de Bichat (hemiface), aproximadamente 2 tubetes e meio, ou seja, aproximadamente de 3,6 a 4 ml por hemiface. Cabe lembrar ao cirurgião que existem parâmetros de dosagem de segurança e dosagem máxima para cada quilo de massa corporal do paciente, sendo que esse quesito se enquadra de acordo com cada anestésico (vide bula do anestésico), com o status de saúde geral do paciente bem como com seu peso corporal individualmente. É comum o uso de anestesia transoperatória, ou seja, durante a cirurgia, muito do anestésico injetado é drenado junto com o sangramento, bem como absorvido pela própria bola de Bichat, assim como outros tecidos adiposos que costumam absorver o anestésico por uma afinidade química (lipossolubilidade) a bola de Bichat também costuma “roubar” o anestésico dos tecidos ao redor, sendo esse o motivo de dores durante o procedimento. 35 CAPÍTULO 5 Farmacologia Aplicada Como já mencionamos aqui, é de bom senso prescrever antibióticos pré-operatórios dentro das indicações já discutidas no capítulo anterior e pós-operatórios com o objetivo de prevenção de infecções pós-operatórias, e não podemos utilizar essa prescrição de antibióticos para não manter uma cadeia asséptica rigorosa no transoperatório. A primeira opção ainda de prescrição de antibióticos em cirurgias bucais são as penicilinas, sejam elas sintéticas ou semissintéticas, como no caso da amoxicilina. As penicilinas são antibióticos que possuem, em sua estrutura molecular, anel betalactâmico e, por isso, pertencem ao grupo dos antibióticos do grupo dos betalactâmicos, assim como as cefalosporinas. O mecanismo de ação das penicilinas é agindo na inibição da síntese da parede celular bacteriana, fazendo com que esta perca sua integridade e causando a morte da bactéria, por isso as penicilinas são consideradas antibióticos bactericidas. Seu espectro de ação atua principalmente em bactérias cocos Gram-positivos e em alguns anaeróbios Gram-negativos, tais como Porphyromonas gingivallis, Prevotella intermedia e Fusobacterium nucleatum. Estima-se que 5% da população pode desenvolver alguma reação alérgica às penicilinas, desde reações alérgicas mais leves, como reações cutâneas, e alguns casos de reações anafiláticas. Essas reações estão mais associadas às penicilinas injetáveis do que as prescritas por via oral. Exemplos de penicilinas: Benzilpenicilina potássica, Penicilina G cristalina. Exemplos de penicilinas semissintéticas: Amoxicilina prescrita por via oral e Ampicilina prescrita por via parenteral. Em casos de pacientes alérgicos às penicilinas, podemos prescrever clindamicina. A clindamicina é um antibiótico pertencente ao grupo das lincosaminas, sendo derivada do antibiótico lincomicina (padrão desse grupo das lincosaminas). A clindamicina é bem absorvida por via oral e age inibindo a síntese proteica bacteriana, por meio da ligação aos ribossomos 50S. A ação biológica da clindamicina de 300mg é bacteriostática, porém em concentrações mais altas, como, por exemplo, 600mg, torna-se bactericida sua ação. O espectro de ação da clindamicina é semelhante ao das penicilinas, com a diferença que atingem o Staphylococcus aureus e algumas bactérias produtoras de penicilinases. A clindamicina atua também contra bacilos anaeróbios Gram-negativos como o F. nucleatum. As reações adversas da clindamicina incluem diarreia (mais frequente), podendo causar em alguns pacientes uma doença intestinal chamada de colite pseudomembranosa. 36 UNIDADE II | ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS Podemos prescrever anti-inflamatórios não esteroidais (Aines) por até 15 dias no pós- operatório, tais como Cetoprofeno 100mg, Diclofenaco de Sódio 50mg, por exemplo. Podemos prescrever anti-inflamatórios esteroidais no pré-operatório a fim de minimizar o edema pós-operatório, por exemplo predinisona 20mg 1 hora antes da cirurgia. Podemos manter a predinisona, com a indicação de 1 comprimido de 20mg a cada 8 horas por 7 dias. Analgésicos de ação periférica: podemos prescrever paracetamol 750mg a cada 6 horas ou Dipirona Sódica 500mg-1g a cada 6 horas. Analgésicos de ação central São representados pelos opioides, substâncias oriundas do ópio, tendo a morfina como droga padrão desse grupo. São empregados no controle da dor aguda grave, em pós-operatórios de cirurgias de maior porte e quando o paciente ainda reclama de dor mesmo com analgésicos de ação periférica de horário. Podemos prescrever esses analgésico se necessário, ou seja, intercalando com algum analgésico de ação periférica, e o paciente só irá tomar em caso de dores mais intensas, ou podemos deixar prescrito o horário para o paciente de acordo com o porte e a duração da cirurgia. Como reações adversas desse grupo de analgésicos citamos a depressão do sistema respiratório, principalmente quando associados a benzodiazepínicos, dependência e tolerância medicamentosa, por isso são prescritos em receitas do tipo notificação de receita tipo B (cor azul). Exemplos de analgésicos de ação central: morfina (uso hospitalar) codeína e tramadol. A codeína é associada ao paracetamol, como o Tylex® 30 mg, a cada 6 horas. O tramadol (tramal®) é prescrito da dosagem de 50mg a 100mg a cada 8 horas, às vezes pode causar alguma reação de náusea no paciente. A prescrição de uso de antisséptico à base de digluconato de clorexidina 0,12% no pós- operatório, porém sem a realização de bochechos vigorosos, é um importante auxílio na higienização do sítio operatório. Para um menor desconforto causado pelo processo inflamatório fisiológico pós-operatório e redução de edema, podemos prescrever anti- inflamatórios não esteroidais ou esteroidais por 3 dias, associado a um analgésico de ação periférica (Dipirona ou Paracetamol) de horário e podendo deixar prescrito um analgésico de ação central se houver necessidade (paracetamol + codeína ou Tramadol. 37 ANATOMIA E FUNDAMENTOS BÁSICOS | UNIDADE II Exemplos de prescrição: Antissepsia pré-operatória: bochechos por 1 minuto de solução aquosa de digluconato de clorexidina 0,12% e antissepsia de face com solução aquosa de clorexidina 2%. Antibiótico: Amoxicilina 2g 1 hora antes do procedimento e estendendo na dose de 500mg a cada 8 horas por 7 dias caso o paciente não seja alérgico às penicilinas. Em caso de pacientes alérgicos, podemos prescrever Clindamicina 600mg 1 hora antes do procedimento e estendendo na dose de 300mg a cada 6 horas por 7 dias. Anti-inflamatórios não esteroidais: Nimesulida 100mg a cada 12 horas por 3 dias ou Diclofenaco de Sódio 50mg a cada 8 horas por 3 dias. Anti-inflamatórios esteroidais: Dexametasona 8 mg 1 hora antes do procedimento e estendendo na dose de 4 mg a cada 8 horas por 3 dias. Analgésicos de ação periférica: Dipirona Sódica 1g a cada 6 horas ou Paracetamol 750mg a cada 6 horas em caso de dor. Analgésicos de ação central (somente se necessário): Paracetamol + Codeína 30mg a cada 6 horas ou Tramadol 100mg a cada 8 horas, lembrando que, para a prescrição destes analgésicos, é necessária a realização em receitas com 2 vias (controle). (ANDRADE 2006). O pós-operatório dessa cirurgia do ponto de vista de dor é muito leve, contudo o principal evento citado é o edema. Para isso podemos, além das prescrições medicamentosas típicas, sugerir que o paciente realize compressas geladas na região a cada 3 horas. Também devemos recomendar que o paciente fique o máximo de tempo sentado durante o período de repouso, a fim de evitar a vasodilatação da região de cabeça e pescoço causada pela posição. A alimentação deve ser exclusivamentelíquida e pastosa, gelada ou fria, durante os 2 primeiros dias, sendo, após esse período, liberada a dieta semissólida e de temperatura amena. A prática de atividades físicas deve ser evitada pelos primeiros 5 dias, assim como a exposição solar. Cuidados bem conhecidos pelos cirurgiões dentistas, pois se assemelha aos de uma exodontia de terceiro molar. 38 UNIDADE IIITÉCNICAS OPERATÓRIAS Esta unidade tem como objetivo abordar e revisar os seguintes assuntos: » técnicas cirúrgicas; » cuidados pós-operatórios; » complicações. CAPÍTULO 1 Técnicas Cirúrgicas A palavra cirurgia vem do grego Kheirourgos, derivada de Kheir (mão) e Érgon (trabalho), ou seja, trabalho manual, o que não deixa de ser uma arte. Como em qualquer procedimento cirúrgico, devemos sempre ter em mente as seguintes manobras fundamentais em cirurgia: diérese, hemostasia, exérese e síntese. Diérese: a palavra diérese vem do grego que significa “dividir”, ou seja, diérese é o ato em que o cirurgião divide os tecidos, abrindo caminho para se chegar aos planos mais profundos e atingir, por meio desse primeiro passo, o objetivo da cirurgia. O exemplo de manobra de diérese na cirurgia de bichectomia é a incisão, quando ocorre o corte do tecido. Esse corte deve ser firme e contínuo, sempre com lâmina descartável, ou seja, uma lâmina para cada lado do paciente em cirurgia de bichectomia, para que possamos ter uma melhor precisão na incisão. Tendo em vista que as lâminas acabam perdendo o seu poder de corte muito precocemente, podemos utilizar a lâmina número 15, associada a um cabo de bisturi. Cortes repetidos e principalmente com lâminas sem corte aumentam a lesão tecidual e consequentemente o edema pós-operatório. O cabo de bisturi deve ser segurado como uma caneta. 39 TÉCNICAS OPERATÓRIAS | UNIDADE III Figura 19. A empunhadura correta do bisturi. Fonte: elaborada pelo autor. Divulsão: ainda dentro do campo das manobras fundamentais de diérese, a divulsão consiste no afastamento dos tecidos sem seccioná-los, por meio de tesouras ou pinças rombas, um exemplo são as tesouras curvas de Metzembau do tipo curva ou as pinças Kelly do tipo curva, as quais são as recomendadas para a manobra de divulsão nas cirurgias de bichectomia. O instrumento é penetrado fechado, dentro do tecido a ser separado, e, logo após, esse instrumento é aberto delicadamente, proporcionando a divulsão e o afastamento dos tecidos. No caso específico das cirurgias de bichectomia, utilizamos essa manobra com uma pinça Kelly do tipo curva delicadamente divulsionado os tecidos submucosos após a incisão na mucosa suprajacente, divulsionamos separando as fibras do músculo bucinador até encontrarmos o tecido gorduroso (bola de Bichat, sua extensão bucal), o qual emergirá e aflorará na cavidade bucal; continuamos divulsionando delicadamente esse tecido gorduroso separando-o dos tecidos adjacentes, como fibras musculares, sempre delicadamente e sem movimentos bruscos, até conseguirmos divulsionar todo o tecido gorduroso a ser removido. Hemostasia: a palavra hemostasia significa parar o sangue (hemo = sangue; stasis = parar). As manobras de hemostasia devem estar presentes durante todo o tempo cirúrgico fundamental, como na diérese (incisão + divulsão), na exérese do tecido (bola de Bichat) e na manobra de síntese (sutura). A hemostasia pode ser de maneira espontânea ou fisiológica, caso o paciente não possua nenhuma discrasia sanguínea 40 UNIDADE III | TÉCNICAS OPERATÓRIAS ou provocada pelo cirurgião durante o ato operatório por meio de manobras. Uma boa hemostasia sanguínea é importante porque, além de ser fundamental para a segurança do procedimento e impedir grandes perdas sanguíneas, proporciona um bom campo de visão operatório e evita a formação de hematomas que acabam atuando como meio de cultura para a proliferação de microrganismos, podendo causar infecção pós-operatória importante. Manobras de compressão vão desde uma boa compressão com gaze no caso de vasos de pequeno calibre, pinçagem do vaso com pinça hemostática após a sua devida identificação, podendo fazer uma ligadura desse vaso ou sutura em massa, sempre tomando todo o cuidado para não lesarmos o ducto da glândula parótida durante essas manobras. Uma boa anestesia local associada a um vasoconstritor adrenérgico com adrenalina 1.200.000 ou 1.100.000 ajuda bastante, além de um bom controle anestésico e analgésico transoperatório, assim como uma boa hemostasia. É importante lembrar sempre no uso racional dos anestésicos locais. Por se tratar de uma cirurgia totalmente eletiva e não de caráter de urgência, devemos nos preocupar com a questão de saúde geral do paciente, além de realizar uma boa anamnese direcionada a saber se o paciente possui alguma doença hematológica que possa corroborar com um aumento do tempo de sangramento ou até mesmo a incapacidade de uma hemostasia, podendo ter riscos até de o paciente desenvolver um choque hipovolêmico, caso esse sangramento não seja cessado e também saber se o paciente toma algum medicamento que possa interferir no sangramento no trans e pós-operatório, tais como anticoagulantes e antiagregantes plaquetários. Nesse caso, devemos solicitar avaliação médica pré-operatória, e pacientes que possuam um risco cirúrgico intermediário e alto devem ser excluídos desse procedimento, de preferência. Pode-se também solicitar exames hematológicos pré-operatórios, tais como hemograma, e alguns exames que fazem parte dos exames denominados como coagulograma, principalmente o tempo de protombrina (TP), exame que avalia os fatores da via extrínseca da cascata de coagulação, e o exame tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA). Exérese: após obter um bom acesso cirúrgico do corpo adiposo de Bichat, por meio de manobras de diérese (incisão e divulsão e manobras de hemostasia), remove-se a estrutura de interesse. Assim que identificado o corpo adiposo de Bichat com seu caráter móvel, amarelo forte e encapsulado, a sua porção anterior deve ser imediatamente pinçada com uma pinça de Allis ou Halsted. Após a preensão da estrutura, são realizadas diversas divulsões ao redor da cápsula da gordura de Bichat; e com uma tração leve a estrutura deve ser puxada. Após completa exposição da gordura bucal, ela deve ser “liberada” das suas junções e fibras mais posteriores, com a separação desses tecidos 41 TÉCNICAS OPERATÓRIAS | UNIDADE III fibrosos. Retira-se aproximadamente 95% da gordura, mantendo a sua porção mais posterior, que é a adesão do processo bucal da bola de Bichat ao ligamento zigomático posterior. Síntese: a etapa final de um procedimento cirúrgico consiste em manobras que objetivam uma aproximação dos tecidos separados durante a diérese, a fim de que possa ter um favorecimento para a reparação tecidual deste tecido. Nesse caso, como o procedimento é exclusivamente realizado em tecidos moles, a manobra de síntese é realizada por sutura. Devemos utilizar fios agulhados; um bom porta-agulha, de preferência com pontas de vídea, podendo ser um porta agulha do tipo Mayo-Hegar; uma boa pinça de auxílio para sutura, como a pinça do tipo Adson com dente ou pinça do tipo Dietrich; além de uma boa tesoura para cortar os pontos aos cuidados do cirurgião auxiliar na cirurgia. O número de pontos deve ser o suficiente para obter um bom fechamento da ferida da mucosa, não é necessário suturas de planos profundos neste tipo de cirurgia de Bichectomia, apenas alguns pontos na mucosa incisada e de preferência suturas do tipo “ponto simples e separados”. Deve-se ter o cuidado de não suturar o ducto de Stensen, ou seja, o ducto da glândula salivar da parótida, o que poderia gerar uma estenose importante nesse ducto, com obstrução e consequentemente o desenvolvimento de lesões de sialocele, que são acúmulo de saliva nos tecidos adjacentes ao tecido glandular, em que o paciente pode apresentar um quadro de aumento de volume em região de parótida e mucosa jugal. Pode haver relatos deque o volume nessa região aumenta durante o período de alimentação, principalmente após a ingestão de alimentos ácidos, tais como sucos cítricos, saladas temperadas com vinagre, entre outros, tudo isso por conta de um aumento da produção salivar ao ingerir esses tipos de alimentos. Em relação aos tipos de fios de suturas, podemos utilizar tanto fios absorvíveis, como os de origem animal, por exemplo o “Categute”, os à base de ácido glicoico, como “Vicryl®” e Monocryl, ou fios de sutura não absorvíveis, como Nylon 4.0 ou Seda 4.0, os quais devem ser removidos entre 7 e 14 dias. Reparação Tecidual O reparo nos tecidos moles pode ocorrer por primeira intenção, por segunda intenção (casos de exodontias) ou até por terceira intenção. A cicatrização por primeira intenção é aquela que ocorre nos ferimentos ou incisões onde conseguimos reposicionar as bordas da ferida. Esse tipo de cicatrização é a que almejamos ao realizarmos a sutura entre as mucosas rompidas durante o ato de diérese e onde ocorre a reepitelização mais rápida. 42 UNIDADE III | TÉCNICAS OPERATÓRIAS A cicatrização por segunda intenção é a que ocorre quando não conseguimos aproximar as bordas da ferida, e essa ferida é preenchida por tecido de granulação até que ocorra a reepitelização. Um exemplo clássico para esse tipo de cicatrização é o que ocorre durante uma exodontia de dentes molares com coroas íntegras, em que não conseguimos aproximar a mucosa gengival vestibular com a mucosa lingual/palatina e ocorre a formação de um coágulo intra-alveolar, o qual será responsável pela cicatrização de dentro para fora do alvéolo. A cicatrização por terceira intenção também conhecida como cicatrização por primeira intenção “tardia”, é a que deixa a ferida aberta propositalmente em virtude de contaminação significativa e sendo suturada num segundo momento oportuno após melhora da infecção local neste sítio (FREITAS, 2006). O reparo dos tecidos moles é composto por cinco fases: inflamatória, granulação, epitelização, fibroplasia e de contração. Fase inflamatória: a inflamação é a reação natural e fisiológica após um trauma, seja ele cirúrgico ou não. Após a lesão tecidual, nos vasos ocorrem uma vasoconstrição local e a produção de substâncias teciduais que são expostas a cascatas dos fatores de coagulação e do sistema complemento. Os mecanismos de coagulação ativam a protrombina em trombina, que converte o fibrinogênio em fibrina. Essa fibrina, então, é polimerizada em um coágulo estável. Nessa fase é que ocorre a formação de um trombo. Fase de granulação: é a fase na qual ocorre a formação do tecido de granulação, tecido de aspecto vermelho vivo consequente da migração e da divisão das células endoteliais com formação de novos capilares sanguíneos no local da ferida para que ocorra uma boa cicatrização. Fase de epitelização: ocorre a formação de um tecido epitelial imaturo. Fase de fibroplasia: é a formação propriamente do tecido cicatricial tanto superficialmente como nos casos de incisões e feridas em pele ou em tecido mucoso, incluindo tecidos profundos, muitas vezes ocorrendo um fenômeno denominado fibrose cicatricial em tecidos submucosos em cirurgias de bichectomia, que muitas vezes podem incomodar o paciente no pós-operatório. Fase da contração: é a fase em que ocorre a contração desse tecido cicatricial. Segue um exemplo de descrição cirúrgica para o procedimento de bichectomia: 43 TÉCNICAS OPERATÓRIAS | UNIDADE III Após a antissepsia de face e intraoral, realizamos a pré-anestesia, com anestésico tópico, seguida por uma boa anestesia infiltrativa na região, com anestésico associado a vasoconstritor adrenérgico, de preferência objetivando melhor hemostasia transoperatória. Devemos tomar cuidado durante a anestesia para não distendermos muito os tecidos adjacentes em mucosas jugais para não perdemos a referência do ducto de Stensen. Após a identificação da papila do orifício de saída do ducto de Stensen, com uma lâmina de bisturi número 15 ou a de preferência, desde que delicada, realizamos uma incisão horizontal em fundo de sulco vestibular de aproximadamente 1,5 cm a 2,0 cm, estendendo desde distal do primeiro pré-molar superior até a mesial do segundo molar superior ipsilateral. Uma divulsão cautelosa com um instrumento rombo, como uma tesoura de metzembaum curva ou pinça Kelly curva delicada, realizamos a divulsão da subumucosa, passando com cuidado pelo músculo bucinador até visualizar o tecido adiposo bucal, que se apresenta como uma pequena bolha de gordura (cabeça da bola de Bichat). Apreendemos delicadamente esse tecido adiposo com uma outra pinça do tipo Kelly curva delicada e continuamos realizando a sua divulsão até que a bola de Bichat fique froxa. Podemos também puxar a bola para um lado e para o outro como em um movimento pendular, e a bola de Bichat virá ensacada por uma membrana gordurosa que logo irá se desfazer. Mova a bola de Bichat e, caso escorregue, realize outro pinçamento, a bola estará presa pela sua base que fica inserida na região músculo masseter (é normal que o paciente se queixe de uma fisgada nessa hora, então você saberá que a bola de Bichat chegou ao final). Procede-se, então, com a exérese desse tecido usando tesoura ou bisturi para cortar a bola pela sua base, pois ela não cai sozinha nem sai ao puxar, ela deve ser cortada rente à base. Figura 20. Localização aproximada da bola ou bolsa de Bichat. Fonte: http://www.lipoesilicone.com.br/wp-content/uploads/2015/02/34r.jpg. 44 UNIDADE III | TÉCNICAS OPERATÓRIAS Podemos ter algum instrumento para medir o volume retirado, contudo isso é opcional. É normal que as bolas de Bichat sejam diferentes entre o lado direito e esquerdo, isso ocorre devido ao lado de trabalho e lado de balanceio durante a mastigação, em que o lado de trabalho deverá apresentar (não obrigatoriamente) uma bola de Bichat mais densa e fibrótica, enquanto o lado de balanceio uma mais macia e volumosa. Além da mastigação, outro fator que interfere no volume da bola de Bichat é o lado onde o paciente repousa durante o sono, pois o “amassamento” contínuo da bola de Bichat pode levar ao mesmo sistema de endurecimento e diminuição, como na mastigação. Suturas delicadas devem ser realizadas tomando muito cuidado para não suturar o ducto de Stensen e, consequentemente, obliterando-o. Podemos utilizar tanto fios não absorvíveis, como Seda ou Nylon 4.0, ou fios absorvíveis, como à base de ácido poliglicoico ou Categute. Terminada a sutura, devemos fazer um bom curativo compressivo em face com Tensoplast®, por exemplo, a fim de reduzirmos a presença de espaço morto na região e impedir a formação de hematomas, os quais podem ser uma fonte de grandes edemas pós-operatória e muitas vezes precisam ser drenados cirurgicamente. Terminado o procedimento, antes de liberar o paciente para casa devemos checar pelo menos mais uma vez para ver se há algum sangramento ativo oriundo do acesso cirúrgico e orientar o paciente e o acompanhante sobre todos os cuidados locais que devem ser tomados e sobre a prescrição que deve ser utilizada no pós-operatório. Figura 21. Ilustração do passo a passo cirúrgico da bichectomia. Fonte: https://www.supersorriso.com.br/bichectomia. 45 TÉCNICAS OPERATÓRIAS | UNIDADE III Figura 22. Após a incisão e divulsão observamos o afloramento do tecido adiposo. Fonte: foto cortesia da Dra. Mariana Pasculli Chagas. Figura 23. Corpo adiposo exposto em cavidade bucal. Fonte: foto cortesia da Dra. Mariana Pasculli Chagas. Figura 24. Sutura – Pós-operatório imediato. Fonte: foto cortesia da Dra. Mariana Pasculli Chagas. 46 UNIDADE III | TÉCNICAS OPERATÓRIAS Figura 25. Duas seringas do tipo Luer, alternativa para comparar o quanto de gordura foi removido de cada lado. Fonte: foto cortesia da Dra. Mariana Pasculli Chagas. A aplicação de laserterapia no pós-cirúrgico imediato tem demonstrado bons resultados na redução de edema pós-cirúrgico, trismo e dores associadas
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