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Sintomas e mudanças fisiológicas na gravidez

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MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO 7 - CFSH 
 
 
As alterações fisiológicas observadas na gestação são 
decorrentes, principalmente, de fatores hormonais e 
mecânicos, e os ajustes verificados no organismo da 
mulher devem ser considerados normais durante o 
estado gravídico, embora possam determinar 
pequenos sintomas que afetam a saúde da paciente. 
 
A fim de se compreender melhor essas modificações 
experimentadas pela gestante, diferenciam-se em 
sistêmicas e dos órgãos genitais. 
Modificações sistêmicas 
• Postura e deambulação 
Verifica-se alteração postural na gestante antes mesmo 
da expansão de volume do útero gestante. Quando a 
matriz evadida da pelve se apoia à parede abdominal, 
e as mamas, dilatadas e engrandecidas, pesam no 
tórax, o centro de gravidade desvia-se para frente, e 
todo o corpo, em compensação, projeta-se para trás. 
Involuntariamente, a atitude adotada é a de quem 
carrega objeto pesado, mantendo-o, com as duas 
mãos, à frente do abdome. Essa situação torna-se mais 
nítida quando a gestante está de pé, pois, para manter 
o equilíbrio, empina o ventre, provocando a lordose da 
coluna lombar. Amplia-se a base do polígono de 
sustentação, os pés afastam-se, e as espáduas 
projetam-se para trás. Grupamentos musculares que 
não costumam ter função nítida ou constante passam a 
atuar, estirando-se e contraindo-se, e sua fadiga 
responde pelas dores cervicais e lombares, uma queixa 
comum. 
 
A gestante, ao andar, lembra, com seus passos 
oscilantes e mais curtos, a deambulação dos gansos, a 
chamada marcha anserina. A base de sustentação 
ampliada e os ângulos aumentados entre os pés e a 
linha mediana, principalmente à direita, por conta do 
dextrodesvio uterino, conferem peculiaridades à sua 
movimentação. As articulações apresentam maior 
mobilidade durante a gestação, notadamente as 
sacroilíacas e a sínfise pubiana. Atribui-se à relaxina, 
secretada pela placenta, a frouxidão dos ligamentos, 
especialmente da sínfise pubiana, que pode alargar 
cerca de 4 mm nas primíparas e 4,5 mm nas multíparas. 
A principal resultante dessas modificações é o aumento 
da capacidade pélvica, favorecendo a disjunção 
sinfisária e os movimentos de nutação do sacro. Essa 
crescente mobilidade das articulações atua na 
mudança da postura materna e de sua marcha, como 
já relatado anteriormente. 
 
 
 
 
 
 
• Metabolismo 
Glicídico: São notáveis alterações no metabolismo 
glicídico pois 
- Há um novo consumidor de glicose (concepto) que 
demanda grandes quantidades dela, se a gestante está 
em jejum prolongado ele continua a extrair glicose nas 
mesmas quantidades em momentos de alimentação. 
- A fim de prover suprimento ininterrupto de glicose e 
de aminoácidos para o concepto, a gestante faz ajustes 
importantes: não consome mais indiscriminadamente a 
glicose e, à medida que a gravidez se desenvolve, seu 
uso periférico diminui, graças aos hormônios 
contrainsulares pela placenta. 
 
O consumo contínuo de glicose pelo concepto e seu 
rápido transporte pela placenta influenciam 
profundamente o metabolismo de carboidratos na 
gestante. 
 
Durante a gravidez registra-se aumento na resistência 
à insulina ao final do 2o trimestre (devido a grande 
quantidade de depósito de gordura), podendo chegar a 
aproximadamente 80% no termo. Níveis elevados de 
hormônio lactogênio placentário humano (hPL), 
hormônio do crescimento placentário humano (hPGH) 
e adipocinas (leptina, adiponectina, TNF-α, IL-6) estão 
todos implicados no processo. Os níveis de hPL 
elevam-se rapidamente no 1o e no 2o trimestre e 
alcançam o seu máximo nas últimas 4 semanas da 
gravidez. O efeito diabetogênico do hPL resulta na 
mobilização de lipídios na forma de ácidos graxos livres 
(AGL). Esses AGL serviriam como fonte de energia, 
poupando glicose e aminoácidos, que estarão 
disponíveis para o feto. No 3o trimestre, após a 
administração de glicose, observa-se hiperinsulinismo 
pós-prandial (devido a uma hiperglicemia), em função 
dos fatores contrainsulares. O efeito inibitório da 
insulina na lipólise é significativamente reduzido 
durante o 3o trimestre quando comparado ao de outras 
fases do ciclo gestatório. Em resumo, a gravidez 
avançada caracteriza-se por mudanças no 
metabolismo da mulher, no que se refere à preservação 
de glicose à custa do uso dos lipídios. A liberação 
excessiva de ácidos graxos também contribui para a 
redução do uso da glicose materna. 
 
Lipídico: O aumento do peso materno durante a 
gestação corresponde ao crescimento da unidade 
fetoplacentária e ao acúmulo dos seus próprios tecidos, 
MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO 7 - CFSH 
especialmente o relacionado com a elevação de lipídios 
nos depósitos de gordura. Esse fenômeno, comum na 
gravidez humana e de alguns animais, ocorre durante 
os primeiros 2/3 da gestação e é o principal responsável 
pelo acréscimo de peso materno, excluindo o 
decorrente do concepto, e parece estar diretamente 
relacionado com a hiperfagia, pois desaparece com a 
restrição alimentar. Esse aumento nos depósitos de 
gordura maternos é decorrente da lipogênese 
aumentada (primeira fase: vai da concepção até 24/26 
semana); ele corresponde à elevação na síntese de 
ácidos graxos e do glicerídio glicerol, indicando que a 
formação dos triglicerídios está exaltada. A tendência 
de acumular gordura cessa durante a segunda metade 
da gravidez, quando o metabolismo lipídico se 
transmuda para estado catabólico, em virtude de 
diversas alterações coincidentes que ocorrem no tecido 
adiposo, como: 
 
- O aumento desacelerado da atividade lipogênica 
- A atividade lipolítica torna-se exaltada talvez 
comandada pelo hPL por sua ação similar à do 
hormônio do 
crescimento. 
 
O aumento da atividade lipolítica do tecido adiposo 
eleva a liberação de AGL e de glicerol na circulação 
materna, na qual alcançam grandes concentrações no 
plasma. A transferência placentária desses dois 
produtos lipolíticos é baixa, e o fígado materno é o 
principal receptor. Após serem convertidos no fígado 
em suas respectivas formas ativas, AGL em acil-CoA e 
glicerol em glicerol-3-fosfato, eles podem ser usados 
para a esterificação, na síntese dos triglicerídios, para 
a produção de corpos cetônicos, por meio do AGL, ou 
para a formação de glicose no que concerne ao glicerol. 
Ao fim da gestação, a transferência aumentada de AGL 
e de glicerol ao fígado em decorrência da lipólise nos 
tecidos adiposos justifica a exaltada esterificação e a 
subsequente liberação hepática na forma de 
triglicerídios da lipoproteína de muito baixa densidade 
(VLDL). A síntese de corpos cetônicos torna-se 
altamente incrementada durante o final da gestação 
sob condições de jejum, e o uso desses produtos pelos 
tecidos maternos reduz o consumo de glicose, que fica 
disponível de ser transferida para o feto. Ao fim da 
gravidez, a gliconeogênese a partir do glicerol está 
aumentada, poupando aquela proveniente dos 
aminoácidos que são transportados para o feto. 
Conclui-se que o feto se beneficia dos produtos finais 
do metabolismo decorrente da atividade lipolítica do 
tecido adiposo materno. Os corpos cetônicos cruzam 
livremente a placenta e podem ser usados como 
combustível fetal ou mesmo como substratos para a 
síntese de lipídios no cérebro. Finalmente, a atividade 
lipolítica intensa do tecido adiposo durante o final da 
gestação também favorece os tecidos maternos, pois 
nesse estágio o uso periférico de glicose é bastante 
diminuído pela resistência à insulina, e os produtos 
lipolíticos – especialmente AGL e corpos cetônicos – 
podem ser empregados como combustíveis 
alternativos, poupando a glicose. 
Proteico: A concentração da maioria dos aminoácidos 
está reduzida na gravidez. As proteínas totais, embora 
aumentem em valores absolutos pela hemodiluição 
plasmática, têm concentração diminuída. As de 
albumina sofrem reduçãonítida, enquanto é menor a 
queda das gamaglobulinas e se registra ascensão dos 
teores de alfa- e betaglobulinas e de fibrinogênio. 
 
Hidroeletrolítico: Uma das alterações sistêmicas mais 
notáveis observadas na gravidez é o aumento do 
volume sanguíneo que pode aumentar de 35 a 50% dos 
valores pré-gestacionais, e promovem a retenção de 
líquido (8 a 10l). Essa alteração hidroeletrolítica é 
fundamental para que ocorra outras mudanças, como o 
débito cardíaco e o fluxo plasmático renal. 
Na mulher não grávida, um aumento agudo da volemia 
sanguínea estimula receptores de volemia e os 
barorreceptores presentes nos átrios, que assim 
liberarão o peptídio natriurético atrial que atuará 
aumentando a excreção de sódio e água e 
vasodilatação. No ciclo gravídico, foi constatado que o 
PNA está aumentado, entretanto o aumento da volemia 
é lento e dessa forma torna os receptores menos 
sensíveis ao estímulo, permitindo a ação do sistema 
renina-angiotensina-aldosterona que acumula sódio e 
água, necessários 
para expansão tecidual, dos compartimentos líquidos 
que acontecem na gravidez, da perda sanguínea no 
parto etc. A gravidez é caracterizada por um 
hiperaldosteronismo. 
Além disso, foi visto que na mulher gestante o limiar da 
sede está alterado de forma que ela sente menos 
vontade de ingerir líquido do que uma não gestante. 
Em resumo, os fatores responsáveis pela retenção de 
líquido estão descritos a seguir: 
- Retenção de sódio 
- Novo nível de osmolaridade 
- Diminuição do limiar da sede 
- Redução da pressão oncótica (coloidosmótica) 
 
As consequências da retenção de líquido são: 
- Redução na concentração de hemoglobina 
- Redução do hematócrito 
- Diminuição da concentração de albumina 
- Aumento do débito cardíaco 
- Elevação do fluxo plasmático renal (TFG) 
- Edema periférico. 
 
 
MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO 7 - CFSH 
• Sistema cardiovascular 
As alterações hemodinâmicas principais são: aumento 
do débito cardíaco e volume sanguíneo (plasma), 
redução da resistência vascular periférica e pressão 
arterial. 
A partir da 5° semana de gestação é possível notar um 
pequeno aumento da frequência cardíaca que vai 
influenciar no aumento do débito cardíaco, visto que 
DÉBITO CARDÍACO= VOLUME SISTÓLICO + 
FREQUÊNCIA CARDÍACA. Tal frequência vai ser 
aumentada progressivamente até a 28/32 semana de 
gestação, com um acréscimo de 10 a 15bpm, 
estabilizando-se até o parto. Além disso, o volume 
sistólico também vai aumentar nos dois primeiros 
trimestres de gestação (devido ao aumento 
plasmático), porém não aumenta tão inicialmente 
quanto a frequência cardíaca. Em consequência, o 
débito cardíaco se eleva de 5l por min para 7l por min. 
O débito cardíaco pode ser maior 50% que mulheres 
não grávidas. Além disso, após o parto o débito 
aumenta muito devido a descompressão dos vasos 
pélvicos. 
A partir de 20 semanas, a distensão do abdome devido 
ao útero gravídico, em posição de decúbito dorsal, pode 
comprimir a veia cava inferior e reduzir abruptamente o 
débito cardíaco, levando a uma hipotensão, podendo 
causar até desmaios. Tal situação pode ser chamada 
síndrome da hipotensão supina. Ao se adotar o 
decúbito lateral o débito cardíaco é restaurado. 
 
 
Devido ao aumento da liberação de óxido nítrico e ação 
de prostaciclinas juntamente com tromboxanos A2 
(associados a altos níveis de progesterona), vai haver 
uma diminuição da resistência vascular periférica 
(vasodilatação sistêmica constante) e assim, uma 
redução da pressão arterial, atingindo valores médios 
de 105/60 mmHg, mesmo com o aumento do volume 
sanguíneo e do débito cardíaco. Isso ocorre nos 
primeiros dois trimestres, sendo no segundo trimestre a 
maior queda da pressão, depois se estabiliza. 
Com o decorrer da gravidez, o diafragma eleva-se, 
esse deslocamento altera a posição cardíaca. Assim o 
coração se encontra desviado para cima e para 
esquerda, ligeiramente rodado para a face anterior do 
tórax. 
- Aumento da frequência cardíaca (10 a 20%) 
- Aumento do volume sistólico (10%) 
- Aumento do débito cardíaco(40 a 50%) 
- Diminuição da pressão arterial média (10%) 
- Diminuição da resistência vascular periférica (35%). 
• Sistema sanguíneo 
Devido a um grande aumento do líquido plasmático 
(cerca de 40%), seus fatores circulantes sofrem uma 
hemodiluição, principalmente as hemácias, isso ocorre 
já no primeiro trimestre. Embora haja o aumento da 
produção delas na gravidez, a quantidade de líquido 
consegue diluir e diminuir a concentração dela no 
sangue. Assim os índices hematológicos tendem a 
diminuir: hematócrito, hemoglobina, contagem de 
hemácias. 
A hemoglobina sai de 13g/dl para 11g/dl no primeiro 
trimestre e 10,5g/dl nos dois últimos trimestres. Assim, 
para suprir suas necessidades e as do feto a gestante 
necessita ingerir maior quantidade de ferro. 
Ao contrário das hemácias, os leucócitos têm a sua 
concentração ampliada na gestação, podendo 
alcançar, no termo, até 20 mil/mm3. A concentração de 
plaquetas exibe, por outro lado, pequeno decréscimo 
(250 para 210 mil/mm3, valores médios). Registra-se, 
inclusive, trombocitopenia gestacional, no 3o trimestre, 
com níveis de 80 a 150 mil/mm3. 
 
Também ocorrem alterações importantes na 
coagulação sanguínea durante a gravidez e, nesse 
contexto, elas são caracterizadas por estado de 
hipercoagulabilidade. Ocorre aumento significante de 
diversos fatores da coagulação, notadamente do 
fibrinogênio, e redução da atividade fibrinolítica. Essas 
modificações são responsáveis pela hemostasia 
fisiológica ao tempo da separação da placenta. 
 
Diminuição: do número de hemácias, da concentração 
de hemoglobina e de hematócrito 
Aumento: de leucócitos e da concentração de 
fibrinogênio. 
 
• Sistema urinário 
Modificações anatômicas 
Os rins deslocam-se para cima pelo aumento do 
volume uterino e aumentam em tamanho cerca de 1 cm 
em virtude do acréscimo do volume vascular renal e do 
espaço intersticial. Uma das mais significantes 
alterações do sistema urinário observadas na gravidez 
é a dilatação da sua porção superior que ocorre a partir 
de 7 semanas em até 90% das gestantes e pode 
persistir até 6 semanas do pós-parto. Considera-se que 
essa hidronefrose fisiológica resulte tanto de fatores 
hormonais quanto mecânicos. 
MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO 7 - CFSH 
O útero expandido diretamente comprime os ureteres, 
enquanto a progesterona inibe a musculatura lisa 
ureteral, determinando ureteroectasia. A dilatação 
ureteral é mais pronunciada à direita em virtude da 
dextrorrotação uterina, estando o ureter esquerdo 
relativamente protegido pela sigmoide. A dilatação do 
sistema urinário superior pode aumentar a estase 
urinária, predispondo a gestante a infecções urinárias, 
pielonefrite. 
 
No sistema urinário inferior, a anatomia da bexiga está 
distorcida pela compressão direta do útero gravídico. A 
bexiga é deslocada anteriormente, com expansão 
lateral. Além disso, os níveis circulantes elevados de 
estrogênios determinam hiperemia e congestão da 
mucosa uretral e vesical. Também há redução da 
resposta contrátil do colo vesical a estímulos alfa-
adrenérgicos e diminuição do suporte pélvico da parede 
vaginal anterior e da uretra, alterações que podem 
contribuir para a incidência elevada de incontinência 
urinária na gravidez. 
 
Modificações fisiológicas 
Com o aumento do débito cardíaco e a diminuição da 
resistência vascular sistêmica observados na gestação, 
há concomitante aumento do fluxo plasmático renal e 
da TFG, que podem estar aumentados, 
respectivamente, de 50 a 85% e 40 a 65%, quando 
comparados a valores não gravídicos. A elevação da 
TFG resulta em diminuição da creatinina plasmática, 
que alcança em média valores de 0,5 a 0,8 mg/dℓ. Isso 
causa repercussões importantes, uma vez que a 
excreção renal de determinados medicamentos pode 
estar alterada e os valores de creatinina no soro 
indicativos de insuficiência renal podem ser mais 
baixos. 
 
A concentração de ácido úrico, de 4 mg/dℓ em período 
não gravídico, cai para ≤ 3 mg/dℓ no 1o trimestre da 
gravidez, devido à ação uricosúrica dos estrogênios e 
do aumento da TFG; eleva-se depois, a partir do 3º 
trimestre, até atingir 4 a 5 mg/dℓ no termo da gestação. 
A hipercalciúria também é comum na gravidez pelo 
aumento da absorção do cálcio intestinal. Todavia, a 
taxa de formação de cálculos renais permanece 
inalterada, à medida que fatores inibidores na sua 
produção, tais como citrato, magnésio e glicoproteínas, 
também estão aumentados. A glicosúria é fisiológica na 
gravidez e se deve ao aumento da TFG que excede o 
limite da reabsorção tubular da glicose. Desse modo, 
não é indicativa de diabetes na gestação, assim como 
não serve para o seu rastreamento. Igualmente, a 
proteinúria (microalbuminúria) é fisiológica na gravidez, 
sendo normais valores de proteína na urina de até 300 
mg/dia. 
 
A despeito do enorme trabalho urinário na gravidez, o 
volume urinário não está maior. Até 80% da urina 
filtrada é absorvida nos túbulos proximais. A frequência 
urinária decorre da compressão do útero gravídico na 
bexiga. Por fim, entram em jogo os mecanismos 
compensatórios (sistema renina-angiotensina) 
responsáveis pela retenção de sódio observada na 
gravidez. 
 
• Sistema respiratório 
A expansão do volume sanguíneo e a vasodilatação da 
gravidez resultam em hiperemia e edema da mucosa 
do sistema respiratório superior. Essas alterações 
predispõem a gestante a congestão nasal, epistaxe e 
até mesmo alterações da voz. Também caracterizam a 
gravidez alterações marcantes na caixa torácica e no 
diafragma. 
 
Os diâmetros anteroposterior e transverso do tórax 
aumentam 2 cm cada um, resultando na expansão da 
circunferência torácica de 5 a 7 cm. A complacência da 
parede torácica, todavia, diminui com o evoluir da 
gestação, aumentando o trabalho da respiração. Já no 
1o trimestre da gestação o volume-minuto, produto do 
volume-corrente pela frequência respiratória, aumenta 
30 a 40%, refletindo a elevação do volume-corrente, 
pois a frequência respiratória não se altera. A expansão 
da caixa torácica e o aumento do estímulo respiratório 
criam o volume-corrente elevado. A progesterona 
parece desempenhar papel fundamental no estímulo do 
centro respiratório no sistema nervoso central. 
 
Pela elevação da cúpula do diafragma, estão 
diminuídos o volume de reserva expiratório e o volume 
residual, em cerca de 20%, o que se reflete na 
capacidade residual funcional, também reduzida em 
20%. A hiperventilação da gravidez facilita as trocas 
gasosas nos pulmões. Tanto o PO2 no ar alveolar 
quanto no sangue arterial eleva-se. O consumo de 
oxigênio aumenta de 15 a 20% para fazer frente à 
massa materno-fetal adicional e ao trabalho 
cardiorrespiratório da gestação. A já referida 
hiperventilação da gravidez ocasiona alcalose 
respiratória, com diminuição do PCO2 para menos de 
30 mmHg, embora haja modesto aumento no PO2 (101 
a 104 mmHg). A diminuição do PCO2 é compensada 
pelo aumento da excreção urinária de bicarbonato, cuja 
concentração diminui no plasma; por isso, o pH arterial 
não sofre alteração significativa (pH = 7,4), 
caracterizando a alcalose respiratória compensada. 
Cerca de 60 a 70% das gestantes livres de doença 
respiratória experimentam dispneia. Como os sintomas 
começam no 1o ou no 2o trimestre e estabilizam-se no 
3o, não é provável qualquer papel determinante do 
útero aumentado de tamanho. A dispneia parece 
decorrer da percepção da paciente à hiperventilação da 
gravidez. 
 
MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO 7 - CFSH 
O exercício acarreta aumento compensatório na 
frequência respiratória, no volume-corrente e consumo 
de oxigênio. Essa resposta adaptativa ao aumento do 
trabalho respiratório está amortecida na gestante em 
comparação a controles não gravídicos. Por isso, 
recomenda-se reduzir a intensidade do exercício 
aeróbio na gravidez. 
 
 
 
 
• Sistemadigestório 
No 1o trimestre é frequente a ocorrência de náuseas e 
vômitos (50 a 90% das gestantes), levando, em geral, 
à anorexia, embora uma quantidade equivalente de 
mulheres relate melhora no apetite e uma parcela 
considerável admita desejos por certos alimentos. A 
base fisiológica das náuseas, que tendem a ocorrer 
pela manhã, é desconhecida, embora possa estar 
relacionada com níveis crescentes de gonadotrofina 
coriônica humana (hCG) e de estrogênios. 
 
A gengivite, no ciclo gestatório, assim como fora dele, 
é consequente ao acúmulo da placa bacteriana na 
margem gengival, e se apresenta com eritema, 
sangramento e intumescimento da zona afetada, bem 
como extremo desconforto para a paciente. Quando 
muito intensas, essas alterações periodontais podem 
deflagrar parto pré-termo, o que é discutível. As 
gengivas estão comumente edemaciadas, 
hiperêmicas, e sangram com facilidade. Não se 
identificou, contudo, tendência para o aparecimento de 
cáries dentárias na gestação, nem que a hiperêmese 
gravídica e o vômito matinal, e consequente queda no 
pH bucal, aumentariam o risco de cáries. 
 
O sistema gastrintestinal (esôfago, estômago, vesícula, 
intestino) permanece atônico durante toda a gestação. 
Os fatores determinantes são hormonais, os mesmos 
que relaxam a musculatura de artérias, veias e 
ureteres. Uma consequência imediata é a alta 
incidência de pirose (a progesterona relaxa a 
musculatura lisa), combinação do relaxamento do 
esfíncter gastresofágico ao aumento de pressão intra-
abdominal, esta última condicionada pelo útero 
gravídico. A atonia do cólon explica a grande frequência 
da constipação intestinal. 
 
A vesícula fica hipotônica, distendida, com bile viscosa 
e com grande tendência de formar cálculo. 
• Sistema endócrino 
Hipófise: Essa glândula sofre hipertrofia e hiperplasia, 
pode chegar a dobrar de tamanho. A adeno-hipófise 
aumenta a produção de prolactina em cerca de 10 
vezes, para preparar as glândulas mamárias a 
produzirem leite. 
 
Tireoide: As alterações fisiológicas da tireoide na 
gravidez são consideráveis e podem ser confundidas 
com a própria doença. O volume da tireoide materna 
chega a aumentar 30% no 3o trimestre, em decorrência 
da hiperplasia e da maior vascularidade. Não se trata 
de bócio, pois esse aumento é fisiológico. Os níveis da 
tireoxina total (T4T) aumentam 1,5 vez em relação aos 
valores não gravídicos, até 16 semanas da gravidez 
(primeiro trimestre e um pouco), momento em que se 
estabilizam devido à elevação da globulina de ligação 
da tireoxina (TBG) estimulada pelos estrogênios, com 
99,7% do T4 ligados à TBG. A tireotrofina, mais 
conhecida como hormônio tireoestimulante (TSH), que 
desempenha papel central no rastreamento para o 
diagnóstico de muitos distúrbios da tireoide, apresenta 
níveis diminuídos nas primeiras 12 semanas da 
MARCELA DE CASTRO E CASTRO – MÓDULO 7 - CFSH 
gravidez em virtude da menor estimulação dos 
receptores de TSH causada pelo substancial 
quantidade de gonadotrofina coriônica humana (hCG). 
 
Após o 1o trimestre, os níveis de TSH retornam aos 
seus valores basais. O hCG elevado no 1o trimestre 
tem ação tireotrófica e estimula a produção materna da 
tireoxina livre (T4 L) que, por sua vez, inibe a secreção 
do TSH. No 2o trimestre, e em especial no 3o, os níveis 
de T4 L são significativamente mais baixos. O aumento 
da TBG concorre também para a diminuição dos 
hormônios tireoidianos livres (T4 e T3). 
 
A última série de eventos desenrola-se no metabolismo 
periférico dos hormônios da tireoide e é mais 
proeminente na segunda metade da gestação. Existem 
três enzimas deiodinases nos tecidos, nomeadas como 
tipo I, II e III. As enzimas tipo I não se modificam 
significativamente. As enzimas do tipo II, expressas na 
placenta, convertem T4 em tri-iodotironina (T3). As 
últimas (tipo III), também abundantes na placenta, 
catalisam T4 em T3 reversa (T3r). 
 
Paratireoide: O metabolismo mineral está 
sobrecarregado na gravidez em razão das novas 
demandas fetoplacentárias, que irão drenar o cálcio e 
outros elementos da economia materna para a 
formação do esqueleto fetal. Além disso, o aumento da 
TFG aumenta a excreção de cálcio. Essas alterações 
fisiológicas levam ao decrécimo de níveis séricos de 
cálcio total e não do cálcio iônico, assim não se observa 
benefício na suplementação. E o paratormônio sofre 
um decrécimo na gravidez, entretanto há uma elevação 
de Vitamina D, que aumenta a bsorção de cálcio pelo 
TGI. 
 
 
Ovários: Produção de relaxina. 
 
 
• Pele e fâneros 
Cerca de 50% das gestantes exibem estrias no abdome 
no decurso do último trimestre, por vezes encontradas 
também nos seios (estrias gravídicas ou víbices). 
Inicialmente vermelhas, mais tarde tornam-se brancas 
ou nacaradas, persistindo indelevelmente. 
 
Há aumento na pigmentação da linha alva do abdome 
inferior (linea nigra), da vulva, das aréolas mamárias e 
da face (cloasma). 
 
É comum o aparecimento de telangiectasias, 
relacionadas com os altos níveis estrogênicos. É 
provável que o hormônio melanotrófico da hipófise atue 
também sobre os melanoblastos epidérmicos, 
acentuando a pigmentação, e o sistema nervoso 
autônomo influencie a formação do pigmento nas 
gestantes. 
 
A hipertricose é um fenômeno fisiológico durante a 
gravidez (pelos na face e em outras regiões, 
crescimento mais acentuado dos cabelos), com unhas 
muito quebradiças e surgimento de eritema palmar e 
hipertrofia das glândulas sudoríparas e sebáceas. 
 
• Sistema esquelético 
As articulações, em geral, sofrem o processo de 
embebição gravídica, que nada mais é que o acúmulo 
líquido proveniente da ação sistêmica da progesterona 
e do estrógeno. Se vê como um processo adaptativo de 
aumento da mobilidade da pelve que prepara o 
organismo para a parturição. Durante a gravidez, as 
articulações da bacia óssea se apresentam com maior 
elasticidade, aumentando a capacidade pélvica e 
modificando a postura e deambulação.

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